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No poema de Drummond,
a) a hierarquização dos substantivos que compõem a primeira estrofe tem a função de situar
essa família na sociedade escravagista do século XIX.
b) a repetição de um verbo de ação, em contraste com o caráter nominal dos versos, destaca a
serventia da figura feminina na organização familiar.
c) a ausência de menção direta ao homem produz um retrato reativo à família patriarcal, por
salientar o protagonismo social da mulher.
d) o modo como os elementos que compõem a terceira estrofe estão relacionados permite
inferir a prosperidade econômica familiar.
e) o enquadramento da mulher no ambiente doméstico lança luz sobre um regime social que
favorece a realização plena das potencialidades femininas.
2. (Ufrgs 2023) Leia os versos destacados de três poemas de Bagagem, de Adélia Prado.
Antes do nome
Não me importa a palavra, esta corriqueira.
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GÊNEROS LITERÁRIOS PROFESSOR ANDRÉ LUIZ
A invenção de um modo
[...]
Porque tudo que invento já foi dito
nos dois livros que eu li:
as escrituras de Deus,
as escrituras de João.
Tudo é Bíblias. Tudo é Grande Sertão.
Guia
A poesia me salvará.
[...]
No entanto, repito, a poesia me salvará.
Por ela entendo a paixão
que Ele teve por nós, morrendo na cruz.
I. A fé é uma musa poderosa, e o sujeito lírico sente-se inferior à palavra, tanto das escrituras
quanto do cotidiano.
II. O fazer poético é, para o sujeito lírico, ao mesmo tempo, sagrado e profano, corpo e espírito.
III. A metapoesia é uma temática importante na lírica de Adélia Prado.
3. (Espm 2023)
Para Antonio Candido, “A Semana da Arte Moderna [...] foi realmente o catalisador da nova
literatura, coordenando, graças ao seu dinamismo e à ousadia de alguns protagonistas, as
tendências mais vivas e capazes de renovação, na poesia, no ensaio, na música, nas artes
plásticas. (...). ”
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GÊNEROS LITERÁRIOS PROFESSOR ANDRÉ LUIZ
“As tendências mais vivas e capazes de renovação, na poesia”, apontadas por Candido, só
NÃO aparecem nos versos:
a) São Paulo! comoção de minha vida.../ Os meus amores são flores feitas de original.../
Arlequinal!...Traje de losangos...Cinza e ouro...
b) No aeródromo, o aeroplano / Subiu, triunfal, na tarde clara, / Grande e sonoro, como o
Sonho humano! [...] Da Terra que a ambição dos Paulistas povoara.
c) Assim procedo. Minha pena / Segue esta norma, / Por te servir, Deusa serena, / Serena
Forma!
d) Papai estava doente na cama e vinha um carro e um homem e o carro ficava esperando no
jardim. / Levaram-me para uma casa velha que fazia doces e nos mudamos/ para a sala do
quintal onde tinha uma figueira na janela. (...)
e) Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos. / A vida inteira que podia ter sido e que não
foi. / Tosse, tosse, tosse.
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enlevada: atraída, fascinada.
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Mergulhei numa comprida manhã de inverno. O açude apojado, a roça verde, amarela
e vermelha, os caminhos estreitos mudados em riachos, ficaram-me na alma. Depois veio a
seca. Árvores pelaram-se, bichos morreram, o sol cresceu, bebeu as águas, e ventos mornos
espalharam na terra queimada uma poeira cinzenta. Olhando-me por dentro, percebo com
desgosto a segunda paisagem. Devastação, calcinação. Nesta vida lenta sinto-me coagido
entre duas situações contraditórias — uma longa noite, um dia imenso e enervante, favorável à
modorra. Frio e calor, trevas densas e claridades ofuscantes.
Naquele tempo a escuridão se ia dissipando, vagarosa. Acordei, reuni pedaços de
pessoas e de coisas, pedaços de mim mesmo que boiavam no passado confuso, articulei tudo,
criei o meu pequeno mundo incongruente. Às vezes as peças se deslocavam — e surgiam
estranhas mudanças. Os objetos se tornavam irreconhecíveis, e a humanidade, feita de
indivíduos que me atormentavam e indivíduos que não me atormentavam, perdia os
característicos.
Bem e mal ainda não existiam, faltava razão para que nos afligissem com pancadas e
gritos. Contudo as pancadas e os gritos figuravam na ordem dos acontecimentos, partiam
sempre de seres determinados, como a chuva e o sol vinham do céu. E o céu era terrível, e os
donos da casa eram fortes. Ora, sucedia que a minha mãe abrandava de repente e meu pai,
silencioso, explosivo, resolvia contar-me histórias. Admirava-me, aceitava a lei nova, ingênuo,
admitia que a natureza se houvesse modificado. Fechava-se o doce parêntese — e isso me
desorientava.
(Infância, 2020.)
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Roberto Schwarz. A viravolta machadiana. Novos estudos Cebrap, Paulo, nº 69, p, 21, jul.
2004.
7. (Uerr 2023) O género e a forma artística da obra de Machado de Assis a que o texto
referência são, respectivamente,
a) narrativo e crônica.
b) lírico e soneto.
c) narrativo e conto.
d) narrativo e romance.
e) dramático e comédia.
8. (Ufu 2022) ROSA — Eu, Reverendíssimo Senhor, sou uma pobre mulher. Ai, estou muito
cansada...
CARLOS — Pois sente-se, senhora. (À parte:) Quem será?
ROSA, sentando-se — Eu chamo-me Rosa. Há uma hora que cheguei do Ceará no vapor
Paquete do Norte.
CARLOS — Deixou aquilo por lá tranquilo?
ROSA — Muito tranquilo, Reverendíssimo. Houve apenas no mês passado vinte e cinco
mortes.
CARLOS — S. Brás! Vinte e cinco mortes! E chama a isso tranquilidade?
ROSA — Se Vossa Reverendíssima soubesse o que por lá vai, não se admiraria. Mas, meu
senhor, isto são cousas que nos não pertencem; deixe lá morrer quem morre, que ninguém se
importa com isso. Vossa Reverendíssima é cá da casa?
CARLOS — Sim senhora.
PENA, Martins. O Noviço. Disponível em: <dominiopublico.gov.br>. Acesso em: 28 set. 2022.
No dia seguinte, à hora em que saía o gado, estava eu debruçado à varanda quando vi o cafuzo que
preparava o animal viajeiro:
– Raimundinho, como vai ele?...
De longe apontou a palhoça.
– Sim.
O braço caiu-lhe, olhou-me algum tempo comovido; depois, saltando para o animal, levou o polegar à
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boca fazendo estalar a unha nos dentes: “Às quatro da manhã... Atirei um verso e disse, para bulir com
ele: Pega, velho! Não respondeu. Tio Firmo, mesmo velho e doente, não era homem para deixar um verso
no chão... Fui ver, coitado!... estava morto. E deu de esporas para que eu não lhe visse as lágrimas.
NETTO, C. In: MARCHEZAN, L. G. (Org.). O conto regionalista. São Paulo: Martins Fontes, 2009.
10. (Enem PPL 2022) Duas castas de considerações fez de si para consigo o cauto
Conselheiro. Primeiramente foi saltar-lhe ao nariz a evidência de que ministro não visita
empregado público, ainda que in extremis, mesmo a uma braça, ou duas, acima do chapéu do
amanuense mais bisonho. Também não visita escritor enfermo por ser escritor, e por estar
enfermo. Seriam trabalhos, ambos, a que não se daria um ministro, nem sempre ocupado das
cousas, altas ou baixas, do Estado.
O tempo ministerial não se vai perdulariamente, não se faz em farinhas. Os titulares esquivam-
se até a suspirar, que os suspiros implicam o desperdício de minutos se o suspiro é de
minutos, além de permitirem ilações perigosas sobre a estabilidade do ministro, quando não do
próprio gabinete.
A segunda ponderação remeteu-o à certeza de que terminantemente chegavam ao cabo seus
dias; e de que as esperanças eram aéreas, atado agora à cama até que o encerrassem na
urna, como um voto eleitoral frio.
MARANHÃO, H. Memorial do fim: a morte de Machado de Assis. São Paulo: Marco Zero, 1991.
O texto relata o momento em que, no leito de morte, Machado de Assis recebe a visita do
Barão do Rio Branco, ministro de Estado. Criando a cena, o narrador obtém expressividade ao
a) representar com fidelidade os fatos históricos.
b) caracterizar a situação com profundidade dramática.
c) explorar a sensibilidade dos personagens envolvidos.
d) assumir a perspectiva irônica e o estilo narrativo do personagem.
e) recorrer a metáforas sutis e comparações de sentido filosófico.
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