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GÊNEROS LITERÁRIOS PROFESSOR ANDRÉ LUIZ

1. (Fuvest 2023) FAMÍLIA

Três meninos e duas meninas,


sendo uma ainda de colo.
A cozinheira preta, a copeira mulata,
o papagaio, o gato, o cachorro,
as galinhas gordas no palmo de horta
e a mulher que trata de tudo.

A espreguiçadeira, a cama, a gangorra,


o cigarro, o trabalho, a reza,
a goiabada na sobremesa de domingo,
o palito nos dentes contentes,
o gramofone rouco toda noite
e a mulher que trata de tudo.

O agiota, o leiteiro, o turco,


o médico uma vez por mês,
o bilhete todas as semanas
branco! mas a esperança sempre verde.
A mulher que trata de tudo
e a felicidade.

Carlos Drummond de Andrade. Alguma poesia.

No poema de Drummond,
a) a hierarquização dos substantivos que compõem a primeira estrofe tem a função de situar
essa família na sociedade escravagista do século XIX.
b) a repetição de um verbo de ação, em contraste com o caráter nominal dos versos, destaca a
serventia da figura feminina na organização familiar.
c) a ausência de menção direta ao homem produz um retrato reativo à família patriarcal, por
salientar o protagonismo social da mulher.
d) o modo como os elementos que compõem a terceira estrofe estão relacionados permite
inferir a prosperidade econômica familiar.
e) o enquadramento da mulher no ambiente doméstico lança luz sobre um regime social que
favorece a realização plena das potencialidades femininas.

2. (Ufrgs 2023) Leia os versos destacados de três poemas de Bagagem, de Adélia Prado.

Antes do nome
Não me importa a palavra, esta corriqueira.

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Quero é o esplêndido caos de onde emerge


a sintaxe,
[...]
Quem entender a linguagem entende Deus
cujo filho é Verbo. Morre quem entender.

A invenção de um modo
[...]
Porque tudo que invento já foi dito
nos dois livros que eu li:
as escrituras de Deus,
as escrituras de João.
Tudo é Bíblias. Tudo é Grande Sertão.

Guia
A poesia me salvará.
[...]
No entanto, repito, a poesia me salvará.
Por ela entendo a paixão
que Ele teve por nós, morrendo na cruz.

Considere as seguintes afirmações sobre os poemas.

I. A fé é uma musa poderosa, e o sujeito lírico sente-se inferior à palavra, tanto das escrituras
quanto do cotidiano.
II. O fazer poético é, para o sujeito lírico, ao mesmo tempo, sagrado e profano, corpo e espírito.
III. A metapoesia é uma temática importante na lírica de Adélia Prado.

Quais estão corretas?


a) Apenas I.
b) Apenas III.
c) Apenas I e II.
d) Apenas II e III.
e) I, II e III.

3. (Espm 2023)

Para Antonio Candido, “A Semana da Arte Moderna [...] foi realmente o catalisador da nova
literatura, coordenando, graças ao seu dinamismo e à ousadia de alguns protagonistas, as
tendências mais vivas e capazes de renovação, na poesia, no ensaio, na música, nas artes
plásticas. (...). ”

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“As tendências mais vivas e capazes de renovação, na poesia”, apontadas por Candido, só
NÃO aparecem nos versos:
a) São Paulo! comoção de minha vida.../ Os meus amores são flores feitas de original.../
Arlequinal!...Traje de losangos...Cinza e ouro...
b) No aeródromo, o aeroplano / Subiu, triunfal, na tarde clara, / Grande e sonoro, como o
Sonho humano! [...] Da Terra que a ambição dos Paulistas povoara.
c) Assim procedo. Minha pena / Segue esta norma, / Por te servir, Deusa serena, / Serena
Forma!
d) Papai estava doente na cama e vinha um carro e um homem e o carro ficava esperando no
jardim. / Levaram-me para uma casa velha que fazia doces e nos mudamos/ para a sala do
quintal onde tinha uma figueira na janela. (...)
e) Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos. / A vida inteira que podia ter sido e que não
foi. / Tosse, tosse, tosse.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Soneto de Luís de Camões.

Qual tem a borboleta por costume,


que, enlevada1 na luz da acesa vela,
dando vai voltas mil, até que nela
se queima agora, agora se consome,

tal eu correndo vou ao vivo lume


desses olhos gentis, Aónia bela;
e abraso-me, por mais que com cautela
livrar-me a parte racional presume.

Conheço o muito a que se atreve a vista,


o quanto se levanta o pensamento,
o como vou morrendo claramente;

porém, não quer Amor que lhe resista,


nem a minha alma o quer; que em tal tormento,
qual em glória maior, está contente.

(Luís de Camões. Sonetos, 1942.)

1
enlevada: atraída, fascinada.

4. (Fcmscsp 2023) No soneto, o eu lírico


a) compara-se a uma borboleta e os olhos de Aónia a uma vela acesa.
b) compara Aónia a uma borboleta e os olhos dela a uma vela acesa.
c) compara-se a um vivo lume e Aónia a uma borboleta.
d) compara Aónia a uma borboleta e os olhos dela à luz de uma vela acesa.
e) compara-se a um vivo lume e Aónia a uma vela acesa.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Certidão de óbito

Os ossos de nossos antepassados


colhem as nossas perenes lágrimas
pelos mortos de hoje.

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Os olhos de nossos antepassados,


negras estrelas tingidas de sangue,
elevam-se das profundezas do tempo
cuidando de nossa dolorida memória.

A terra está coberta de valas


e a qualquer descuido da vida
a morte é certa.

A bala não erra o alvo, no escuro


um corpo negro bambeia e dança.
A certidão de óbito, os antigos sabem,
veio lavrada desde os negreiros.

EVARISTO, Conceição. Poemas da recordação e outros movimentos. Ed. Rio de Janeiro:


Malê, 2017, p. 17.

5. (Uece 2023) Sobre o eu lírico do texto, é correto afirmar que


a) mostra a violência contra o negro historicamente perpetuada no Brasil.
b) enaltece o passado escravizador brasileiro.
c) apresenta um enaltecimento ao homem branco brasileiro.
d) explora a censura que o negro sofreu na época da escravização no Brasil.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Leia um trecho da obra Infância, de Graciliano Ramos.

Mergulhei numa comprida manhã de inverno. O açude apojado, a roça verde, amarela
e vermelha, os caminhos estreitos mudados em riachos, ficaram-me na alma. Depois veio a
seca. Árvores pelaram-se, bichos morreram, o sol cresceu, bebeu as águas, e ventos mornos
espalharam na terra queimada uma poeira cinzenta. Olhando-me por dentro, percebo com
desgosto a segunda paisagem. Devastação, calcinação. Nesta vida lenta sinto-me coagido
entre duas situações contraditórias — uma longa noite, um dia imenso e enervante, favorável à
modorra. Frio e calor, trevas densas e claridades ofuscantes.
Naquele tempo a escuridão se ia dissipando, vagarosa. Acordei, reuni pedaços de
pessoas e de coisas, pedaços de mim mesmo que boiavam no passado confuso, articulei tudo,
criei o meu pequeno mundo incongruente. Às vezes as peças se deslocavam — e surgiam
estranhas mudanças. Os objetos se tornavam irreconhecíveis, e a humanidade, feita de
indivíduos que me atormentavam e indivíduos que não me atormentavam, perdia os
característicos.
Bem e mal ainda não existiam, faltava razão para que nos afligissem com pancadas e
gritos. Contudo as pancadas e os gritos figuravam na ordem dos acontecimentos, partiam
sempre de seres determinados, como a chuva e o sol vinham do céu. E o céu era terrível, e os
donos da casa eram fortes. Ora, sucedia que a minha mãe abrandava de repente e meu pai,
silencioso, explosivo, resolvia contar-me histórias. Admirava-me, aceitava a lei nova, ingênuo,
admitia que a natureza se houvesse modificado. Fechava-se o doce parêntese — e isso me
desorientava.

(Infância, 2020.)

6. (Uea-sis 3 2023) Um traço bastante característico de Infância presente nesse trecho é:


a) o caráter meramente ficcional dos acontecimentos.
b) o caráter nebuloso da memória.
c) o caráter impessoal das descrições do passado.
d) o caráter rígido da lembrança.
e) o caráter meramente autobiográfico dos acontecimentos.

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TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Até as Memórias Póstumas de Brás Cubas — a obra da viravolta machadiana —, o romance
brasileiro era narrado por um compatriota digno de aplauso, a quem a beleza de nossas praias
e florestas, a graça das mocinhas e dos costumes sem esquecer os progressos estupendos do
Rio de Janeiro, desatavam a fala. Além de artista, a pessoa que direta ou indiretamente gabava
o país era um aliado na campanha cívica pela identidade e a cultura nacionais.
Já o narrador das Memórias Póstumas é outro tipo: desprovido de credibilidade (uma vez que
se apresenta na impossível condição de defunto), Brás Cubas é acintoso, parcial, intrometido,
de uma inconstância absurda, dado a mistificações e insinuações indignas, capaz de baixezas
contra as personagens e o leitor, além de ser notavelmente culto — uma espécie de padrão de
elegância — e escrever a melhor prosa da praça. A disparidade interna é desconcertante,
problemática em alto grau, compondo uma figura inadequada ao acordo nacional precedente.

Roberto Schwarz. A viravolta machadiana. Novos estudos Cebrap, Paulo, nº 69, p, 21, jul.
2004.

7. (Uerr 2023) O género e a forma artística da obra de Machado de Assis a que o texto
referência são, respectivamente,
a) narrativo e crônica.
b) lírico e soneto.
c) narrativo e conto.
d) narrativo e romance.
e) dramático e comédia.

8. (Ufu 2022) ROSA — Eu, Reverendíssimo Senhor, sou uma pobre mulher. Ai, estou muito
cansada...
CARLOS — Pois sente-se, senhora. (À parte:) Quem será?
ROSA, sentando-se — Eu chamo-me Rosa. Há uma hora que cheguei do Ceará no vapor
Paquete do Norte.
CARLOS — Deixou aquilo por lá tranquilo?
ROSA — Muito tranquilo, Reverendíssimo. Houve apenas no mês passado vinte e cinco
mortes.
CARLOS — S. Brás! Vinte e cinco mortes! E chama a isso tranquilidade?
ROSA — Se Vossa Reverendíssima soubesse o que por lá vai, não se admiraria. Mas, meu
senhor, isto são cousas que nos não pertencem; deixe lá morrer quem morre, que ninguém se
importa com isso. Vossa Reverendíssima é cá da casa?
CARLOS — Sim senhora.

PENA, Martins. O Noviço. Disponível em: <dominiopublico.gov.br>. Acesso em: 28 set. 2022.

Assinale o recurso dramatúrgico que NÃO se encontra no texto acima.


a) Peripécia.
b) Aparte teatral.
c) Hipérbole cômica.
d) Rubrica

9. (Enem 2022) Firmo, o vaqueiro

No dia seguinte, à hora em que saía o gado, estava eu debruçado à varanda quando vi o cafuzo que
preparava o animal viajeiro:
– Raimundinho, como vai ele?...
De longe apontou a palhoça.
– Sim.
O braço caiu-lhe, olhou-me algum tempo comovido; depois, saltando para o animal, levou o polegar à

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boca fazendo estalar a unha nos dentes: “Às quatro da manhã... Atirei um verso e disse, para bulir com
ele: Pega, velho! Não respondeu. Tio Firmo, mesmo velho e doente, não era homem para deixar um verso
no chão... Fui ver, coitado!... estava morto. E deu de esporas para que eu não lhe visse as lágrimas.

NETTO, C. In: MARCHEZAN, L. G. (Org.). O conto regionalista. São Paulo: Martins Fontes, 2009.

A passagem registra um momento em que a expressividade lírica é reforçada pela


a) plasticidade da imagem do rebanho reunido.
b) sugestão da firmeza do sertanejo ao arrear o cavalo.
c) situação de pobreza encontrada nos sertões brasileiros.
d) afetividade demonstrada ao noticiar a morte do cantador.
e) preocupação do vaqueiro em demostrar sua virilidade.

10. (Enem PPL 2022) Duas castas de considerações fez de si para consigo o cauto
Conselheiro. Primeiramente foi saltar-lhe ao nariz a evidência de que ministro não visita
empregado público, ainda que in extremis, mesmo a uma braça, ou duas, acima do chapéu do
amanuense mais bisonho. Também não visita escritor enfermo por ser escritor, e por estar
enfermo. Seriam trabalhos, ambos, a que não se daria um ministro, nem sempre ocupado das
cousas, altas ou baixas, do Estado.
O tempo ministerial não se vai perdulariamente, não se faz em farinhas. Os titulares esquivam-
se até a suspirar, que os suspiros implicam o desperdício de minutos se o suspiro é de
minutos, além de permitirem ilações perigosas sobre a estabilidade do ministro, quando não do
próprio gabinete.
A segunda ponderação remeteu-o à certeza de que terminantemente chegavam ao cabo seus
dias; e de que as esperanças eram aéreas, atado agora à cama até que o encerrassem na
urna, como um voto eleitoral frio.

MARANHÃO, H. Memorial do fim: a morte de Machado de Assis. São Paulo: Marco Zero, 1991.

O texto relata o momento em que, no leito de morte, Machado de Assis recebe a visita do
Barão do Rio Branco, ministro de Estado. Criando a cena, o narrador obtém expressividade ao
a) representar com fidelidade os fatos históricos.
b) caracterizar a situação com profundidade dramática.
c) explorar a sensibilidade dos personagens envolvidos.
d) assumir a perspectiva irônica e o estilo narrativo do personagem.
e) recorrer a metáforas sutis e comparações de sentido filosófico.

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