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CAPÍTULO 1
Questão 1
Considere os textos para responder às questões.
Texto I
Cap. XI – O menino é pai do homem
Sim, meu pai adorava-me. Tinha-me esse amor sem mérito, que é um simples e forte
impulso da carne; amor que a razão não contrasta nem rege. Minha mãe era uma
senhora fraca, de pouco cérebro e muito coração, assaz crédula, sinceramente
piedosa, – caseira, apesar de bonita, e modesta, apesar de abastada; temente às
trovoadas e ao marido. O marido era na Terra o seu deus. Da colaboração dessas duas
criaturas nasceu a minha educação, que, se tinha alguma coisa boa, era no geral
viciosa, incompleta, e, em partes, negativa.
Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.
Texto 2
Quarta-feira, 10 de julho.
Meu pai é muito querido na família. Todos gostam dele e dizem que é muito bom
marido e um homem muito bom. Eu gosto muito disso, mas fico admirada de todo
mundo só falar que meu pai é bom marido e nunca ninguém dizer que mamãe é boa
mulher. No entanto, no fundo do meu coração, eu acho que só Nossa Senhora pode
ser melhor que mamãe.
Minha vida de menina, de Helena Morley.
Questão 2
(ENEM)
O mundo revivido
Sobre esta casa e as árvores que o tempo
esqueceu de levar. Sobre o curral
de pedra e paz e de outras vacas tristes
chorando a lua e a noite sem bezerros.
Sobre a parede larga deste açude
onde outras cobras verdes se arrastavam,
e pondo o sol nos seus olhos parados
iam colhendo sua safra de sapos.
Sob as constelações do sul que a noite
armava e desarmava: as Três Marias,
o Cruzeiro distante e o Sete-Estrelo.
Sobre este mundo revivido em vão,
a lembrança de primos, de cavalos,
de silêncio perdido para sempre.
Questão 3
(ENEM)
19-11-1959
Questão 4
(ENEM)
JESUS, C. M. Quarto de despejo: diário de uma favelada. São Paulo: Ática, 2007.
Questão 5
(AFA-EPCAR)
Quarto de Despejo
“O grito da favela que tocou a consciência do mundo inteiro”
2 de MAIO de 1958. Eu não sou indolente. Há tempos que eu pretendia fazer o meu
diario. Mas eu pensava que não tinha valor e achei que era perder tempo.
…Eu fiz uma reforma para mim. Quero tratar as pessoas que eu conheço com mais
atenção. Quero enviar sorriso amavel as crianças e aos operarios. […]
3 de MAIO. …Fui na feira da Rua Carlos de Campos, catar qualquer coisa. Ganhei
bastante verdura. Mas ficou sem efeito, porque eu não tenho gordura. Os meninos
estão nervosos por não ter o que comer. […]
9 de MAIO. Eu cato papel, mas não gosto. Então eu penso: Faz de conta que estou
sonhando.
10 de MAIO. Fui na Delegacia e falei com o Tenente. Que homem amavel! Se eu
soubesse que ele era tão amavel, eu teria ido na Delegacia na primeira intimação.
[…] O Tenente interessou-se pela educação dos meus filhos. Disse-me que a favela é
um ambiente propenso, que as pessoas tem mais possibilidades de delinquir do que
tornar-se util a patria e ao país. Pensei: se ele sabe disso, porque não faz um relatorio e
envia para os politicos? O Senhor Janio Quadros, o Kubstchek, e o Dr Adhemar de
Barros? Agora falar para mim, que sou uma pobre lixeira. Não posso resolver nem as
minhas dificuldades. […] O Brasil precisa ser dirigido por uma pessoa que já passou
fome. A fome tambem é professora. Quem passa fome aprende a pensar no proximo e
nas crianças. […]
13 de MAIO. Hoje amanheceu chovendo. É um dia simpatico para mim. É o dia da
Abolição. Dia que comemoramos a libertação dos escravos. Nas prisões os negros
eram os bodes expiatorios. Mas os brancos agora são mais cultos. E não nos trata com
desprezo.
Que Deus ilumine os brancos para que os pretos sejam feliz. […] Continua
chovendo. E eu tenho só feijão e sal. A chuva está forte. Mesmo assim, mandei os
meninos para a escola. Estou escrevendo até passar a chuva para mim ir lá no Senhor
Manuel vender os ferros. Com o dinheiro dos ferros vou comprar arroz e linguiça. A
chuva passou um pouco. Vou sair. […] Eu tenho dó dos meus filhos. Quando eles vê as
coisas de comer eles brada: Viva a mamãe!. A manifestação agrada-me. Mas eu já
perdi o habito de sorrir. Dez minutos depois eles querem mais comida. Eu mandei o
João pedir um pouquinho de gordura a Dona Ida. Mandei-lhe um bilhete assim:
“Dona Ida peço-te se pode me arranjar um pouquinho de gordura, para eu fazer
sopa para os meninos. Hoje choveu e não pude catar papel. Agradeço. Carolina”
[…] Choveu, esfriou. É o inverno que chega. E no inverno a gente come mais. A Vera
começou a pedir comida. E eu não tinha. Era a reprise do espetaculo. Eu estava com
dois cruzeiros. Pretendia comprar um pouco de farinha para fazer um virado. Fui pedir
um pouco de banha a Dona Alice. Ela deu-me a banha e arroz. Era 9 horas da noite
quando comemos.
E assim no dia 13 de maio de 1958 eu lutava contra a escravatura atual – a fome!
BOSI, Alfredo. Literatura e resistência. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, p. 222. (adaptado)
Pelo que se pode deduzir do texto, sobretudo quando se considera o exemplo das
Memórias do cárcere, de Graciliano Ramos, na literatura de testemunho
Mais tarde vim a saber que antes de existir no lugar um sanatório, lá estivera por
algum tempo Antônio Nobre. “Ao cair das folhas”, um de seus mais belos sonetos,
talvez o meu predileto, está datado de “Clavadel, outubro, 1895”. Fiquei na Suíça até
outubro de 1914.
Questão 8
(UFRJ)
A pergunta do título pode deixar muitos leitores desconcer tados. E foi feita mesmo
para desconcertar – estimular que se faça uma pausa para pensar. Uma pausa em
quê? Em nossa busca pela felicidade – que, como muitos leitores provavelmente
concordarão, temos em mente na maior parte do tempo, preenche a maior parte de
nossas vidas, não pode nem vai abrandar a marcha, muito menos parar… pelo menos
não por mais que um instante (fugaz, sempre fugaz).
Por que é provável que essa pergunta desconcerte? Porque indagar “o que há de
errado com a felicidade?” é como perguntar o que há de quente no gelo ou de
malcheiroso numa rosa. Sendo o gelo incompatível com o calor, e a rosa com o mau
cheiro, tais perguntas presumem a viabilidade de uma coexistência inconcebível (onde
há calor, não pode haver gelo).
De fato, como poderia haver algo de errado com a felicidade? “Felicidade” não seria
sinônimo de ausência de erro? Da própria impossibi-
lidade de sua presença? Da impossibilidade de todo e qualquer erro?! […]
Nossas vidas, quer o saibamos ou não e quer o saudemos ou lamentemos, são obras
de arte. Para viver como exige a arte da vida, devemos, tal como qualquer outro tipo
de artista, estabelecer desafios que são (pelo menos no momento em que
estabelecidos) difíceis de confrontar diretamente; devemos escolher alvos que estão
(ao menos no momento da escolha) muito além de nosso alcance, e padrões de
excelência que, de modo perturbador, parecem permanecer teimosamente muito
acima de nossa capacidade (pelo menos a já atingida) de harmonizar com o que quer
que estejamos ou possamos estar fazendo. Precisamos tentar o impossível. E, sem o
apoio de um prognóstico favorável fidedigno (que dirá da certeza), só podemos
esperar que, com longo e penoso esforço, sejamos capazes de algum dia alcançar
esses padrões e atingir esses alvos, e assim mostrar que estamos à altura do desafio.
A incerteza é o hábitat natural da vida humana – ainda que a esperança de escapar
da incerteza seja o motor das atividades humanas.
Escapar da incerteza é um ingrediente fundamental, mesmo que apenas tacitamente
presumido, de todas e quaisquer imagens compósitas
da felicidade. É por isso que a felicidade “genuína, adequada e total” sempre parece
residir em algum lugar à frente: tal como o horizonte, que recua quando se tenta
chegar mais perto dele.
BAUMAN, Zygmunt. “O que há de errado com a felicidade?” In: A Arte da Vida. Rio de Janeiro: Zahar,
2009. (adaptado)
Questão 9
(PUC-MG) Desde criança ouvia dizer que não se deve brincar com mulher. Por favor,
me entendam. Brincar não significava, nesta advertência, fugir delas, deixar de amá-
las, de transar com elas e com a obrigação suplementar de tentar até o impossível.
‘Brincar’ era não levá-las a sério, baseados na inexistente fragilidade feminina, não
temê-las na capacidade de suas cóleras e vinganças.
II. O uso das formas verbais “ouvia dizer”, “significava” e “era” concorre para
determinar a distância, em termos temporais, entre o fato narrado e o tempo da
enunciação, que se traduz como o tempo do aqui e agora.
Assinale:
Questão 10
(PUC-SP) O trecho a seguir é de São Bernardo, de Graciliano Ramos. Leia-o com
atenção.