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EXERCÍCIOS DE INTERPRETAÇÃO TEXTUAL SAS

CAPÍTULO 1
Questão 1
Considere os textos para responder às questões.
Texto I
Cap. XI – O menino é pai do homem
Sim, meu pai adorava-me. Tinha-me esse amor sem mérito, que é um simples e forte
impulso da carne; amor que a razão não contrasta nem rege. Minha mãe era uma
senhora fraca, de pouco cérebro e muito coração, assaz crédula, sinceramente
piedosa, – caseira, apesar de bonita, e modesta, apesar de abastada; temente às
trovoadas e ao marido. O marido era na Terra o seu deus. Da colaboração dessas duas
criaturas nasceu a minha educação, que, se tinha alguma coisa boa, era no geral
viciosa, incompleta, e, em partes, negativa.
Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.

Texto 2
Quarta-feira, 10 de julho.
Meu pai é muito querido na família. Todos gostam dele e dizem que é muito bom
marido e um homem muito bom. Eu gosto muito disso, mas fico admirada de todo
mundo só falar que meu pai é bom marido e nunca ninguém dizer que mamãe é boa
mulher. No entanto, no fundo do meu coração, eu acho que só Nossa Senhora pode
ser melhor que mamãe.
Minha vida de menina, de Helena Morley.

Os trechos anteriores se assemelham por trazerem

a) retratos dos pais realizados por seus filhos.

b) relatos sobre a infância dos autores.

c) fatos ocorridos na vida familiar.

d) relatos sobre membros de uma mesma família.


e) fatos narrados em tom irônico pelos autores.

Questão 2
(ENEM)

O mundo revivido
Sobre esta casa e as árvores que o tempo
esqueceu de levar. Sobre o curral
de pedra e paz e de outras vacas tristes
chorando a lua e a noite sem bezerros.
Sobre a parede larga deste açude
onde outras cobras verdes se arrastavam,
e pondo o sol nos seus olhos parados
iam colhendo sua safra de sapos.
Sob as constelações do sul que a noite
armava e desarmava: as Três Marias,
o Cruzeiro distante e o Sete-Estrelo.
Sobre este mundo revivido em vão,
a lembrança de primos, de cavalos,
de silêncio perdido para sempre.

DOBAL, H. A província deserta. Rio de Janeiro: Artenova, 1974.

No processo de reconstituição do tempo vivido, o eu lírico projeta um conjunto de


imagens cujo lirismo se fundamenta no

a) inventário das memórias evocadas afetivamente.

b) reflexo da saudade no desejo de voltar à infância.


c) sentimento de inadequação com o presente vivido.

d) ressentimento com as perdas materiais e humanas.

e) lapso no fluxo temporal dos eventos trazidos à cena.

Questão 3
(ENEM)

19-11-1959

Eu a conheci da primeira vez em que estive aqui. Parece-me que é esquizofrênica,


caso crônico, doente há mais de vinte anos – não estou bem certa. Foi transferida para
a Colônia Juliano Moreira e nunca mais a vi. [...] À tarde, quando ia lá, pedia-lhe para
cantar a ária da Bohème, “Valsa da Musetta”. Dona Georgiana, recortada no meio do
pátio, cantava – e era de doer o coração. As dementes, descalças e rasgadas, paravam
em surpresa, rindo bonito em silêncio, os rostos transformados. Outras, sentadas no
chão úmido, avançavam as faces inundadas de presença – elas que eram tão distantes.
Os rostos fulgiam por instantes, irisados e indestrutíveis. Me deixava imóvel, as
lágrimas cegando-me. Dona Georgiana cantava: cheia de graça, os olhos azuis sorrindo,
aquele passado tão presente, ela que fora, ela que era, se elevando na limpidez das
notas, minhas lágrimas descendo caladas, o pátio de mulheres existindo em dor e
beleza. A beleza terrífica que Puccini não alcançou: uma mulher descalça, suja, gasta,
louca, e as notas saindo-lhe em tragicidade difícil e bela demais – para existir fora de
um hospício.

CANÇADO, M. L. Hospício é Deus. Belo Horizonte: Autêntica, 2015.

O diário da autora, como interna de hospital psiquiátrico, configura um registro


singular, fundamentado por uma percepção que

a) atenua a realidade do sofrimento por meio da música.


b) redimensiona a essência humana tocada pela sensibilidade.

c) evidencia os efeitos dos maus-tratos sobre a imagem feminina.

d) transfigura o cotidiano da internação pelo poder de se emocionar.

e) aponta para a recuperação da saúde mental graças à atividade artística.

Questão 4
(ENEM)

Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus

Do diário da catadora de papel Carolina Maria de Jesus surgiu este autêntico


exemplo de literatura-verdade, que relata o cotidiano triste e cruel da vida na favela.
Com uma linguagem simples, mas contundente e original, a autora comove o leitor
pelo realismo e pela sensibilidade na maneira de contar o que viu, viveu e sentiu
durante os anos em que morou na comunidade do Canindé, em São Paulo, com seus
três filhos.

Ao ler este relato — verdadeiro best-seller no Brasil e no exterior — você vai


acompanhar o duro dia a dia de quem não tem amanhã. E vai perceber com tristeza
que, mesmo tendo sido escrito na década de 1950, este livro jamais perdeu a sua
atualidade.

JESUS, C. M. Quarto de despejo: diário de uma favelada. São Paulo: Ática, 2007.

Identifica-se como objetivo do fragmento extraído da quarta capa do livro Quarto de


despejo

a) retomar trechos da obra.

b) resumir o enredo da obra.


c) destacar a biografia da autora.

d) analisar a linguagem da autora.

e) convencer o interlocutor a ler a obra.

Questão 5
(AFA-EPCAR)

Quarto de Despejo
“O grito da favela que tocou a consciência do mundo inteiro”

2 de MAIO de 1958. Eu não sou indolente. Há tempos que eu pretendia fazer o meu
diario. Mas eu pensava que não tinha valor e achei que era perder tempo.
…Eu fiz uma reforma para mim. Quero tratar as pessoas que eu conheço com mais
atenção. Quero enviar sorriso amavel as crianças e aos operarios. […]
3 de MAIO. …Fui na feira da Rua Carlos de Campos, catar qualquer coisa. Ganhei
bastante verdura. Mas ficou sem efeito, porque eu não tenho gordura. Os meninos
estão nervosos por não ter o que comer. […]
9 de MAIO. Eu cato papel, mas não gosto. Então eu penso: Faz de conta que estou
sonhando.
10 de MAIO. Fui na Delegacia e falei com o Tenente. Que homem amavel! Se eu
soubesse que ele era tão amavel, eu teria ido na Delegacia na primeira intimação.
[…] O Tenente interessou-se pela educação dos meus filhos. Disse-me que a favela é
um ambiente propenso, que as pessoas tem mais possibilidades de delinquir do que
tornar-se util a patria e ao país. Pensei: se ele sabe disso, porque não faz um relatorio e
envia para os politicos? O Senhor Janio Quadros, o Kubstchek, e o Dr Adhemar de
Barros? Agora falar para mim, que sou uma pobre lixeira. Não posso resolver nem as
minhas dificuldades. […] O Brasil precisa ser dirigido por uma pessoa que já passou
fome. A fome tambem é professora. Quem passa fome aprende a pensar no proximo e
nas crianças. […]
13 de MAIO. Hoje amanheceu chovendo. É um dia simpatico para mim. É o dia da
Abolição. Dia que comemoramos a libertação dos escravos. Nas prisões os negros
eram os bodes expiatorios. Mas os brancos agora são mais cultos. E não nos trata com
desprezo.

Que Deus ilumine os brancos para que os pretos sejam feliz. […] Continua
chovendo. E eu tenho só feijão e sal. A chuva está forte. Mesmo assim, mandei os
meninos para a escola. Estou escrevendo até passar a chuva para mim ir lá no Senhor
Manuel vender os ferros. Com o dinheiro dos ferros vou comprar arroz e linguiça. A
chuva passou um pouco. Vou sair. […] Eu tenho dó dos meus filhos. Quando eles vê as
coisas de comer eles brada: Viva a mamãe!. A manifestação agrada-me. Mas eu já
perdi o habito de sorrir. Dez minutos depois eles querem mais comida. Eu mandei o
João pedir um pouquinho de gordura a Dona Ida. Mandei-lhe um bilhete assim:
“Dona Ida peço-te se pode me arranjar um pouquinho de gordura, para eu fazer
sopa para os meninos. Hoje choveu e não pude catar papel. Agradeço. Carolina”
[…] Choveu, esfriou. É o inverno que chega. E no inverno a gente come mais. A Vera
começou a pedir comida. E eu não tinha. Era a reprise do espetaculo. Eu estava com
dois cruzeiros. Pretendia comprar um pouco de farinha para fazer um virado. Fui pedir
um pouco de banha a Dona Alice. Ela deu-me a banha e arroz. Era 9 horas da noite
quando comemos.
E assim no dia 13 de maio de 1958 eu lutava contra a escravatura atual – a fome!

DE JESUS, Carolina Maria. Quarto de Despejo.

Diário é um gênero textual no qual são registrados acontecimentos cotidianos com


base em uma perspectiva pessoal. A partir dessa definição é correto afirmar que, no
texto,

a) o vocabulário utilizado vai de encontro às características de relatos pessoais.

b) a linguagem utilizada foi inadequada.

c) a incorreção de alguns aspectos gramaticais ajuda a dar autenticidade a ele.

d) não há elementos suficientes que o caracterizem como um diário.


Questão 6
(PUCCAMP)

As Memórias do cárcere, de Graciliano Ramos, são um paradigma do que se pode


chamar literatura de testemunho: nem pura ficção, nem pura historiografia. O fundo
histórico é o da ditadura Vargas, mas o testemunho vive e elabora-se numa zona de
fronteira: ao percorrer essas memórias somos levados tanto a reconstituir a fisionomia
e os gestos de alguns companheiros de prisão de Graciliano, entre os quais líderes
comunistas, como a contemplar a metamorfose dessa matéria objetiva em uma prosa
una e única − a palavra do narrador.

BOSI, Alfredo. Literatura e resistência. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, p. 222. (adaptado)

Pelo que se pode deduzir do texto, sobretudo quando se considera o exemplo das
Memórias do cárcere, de Graciliano Ramos, na literatura de testemunho

a) a imaginação ficcional conduz a narrativa, alterando todos os dados da


realidade vivida.

b) o desejo de fidedignidade realista compromete a criação estilística do autor.

c) a ficção e a história acabam por se neutralizar, enfraquecendo o gênero


discursivo.

d) os recursos da narrativa de ficção servem à expressão de experiências vividas


pelo autor.

e) a função do distanciado narrador é fazer o real parecer ficcional e vice-versa.


Questão 7
(ENEM) Em junho de 1913, embarquei para a Europa a fim de me tratar num sanatório
suíço. Escolhi o de Clavadel, perto de Davos-Platz, porque a respeito dele me falara
João Luso, que ali passara um inverno com a senhora.

Mais tarde vim a saber que antes de existir no lugar um sanatório, lá estivera por
algum tempo Antônio Nobre. “Ao cair das folhas”, um de seus mais belos sonetos,
talvez o meu predileto, está datado de “Clavadel, outubro, 1895”. Fiquei na Suíça até
outubro de 1914.

BANDEIRA, M. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985.

No relato de memórias do autor, entre os recursos usados para organizar a sequência


dos eventos narrados, destaca-se a

a) construção de frases curtas a fim de conferir dinamicidade ao texto.

b) presença de advérbios de lugar para indicar a progressão dos fatos.

c) alternância de tempos do pretérito para ordenar os acontecimentos.

d) inclusão de enunciados com comentários e avaliações pessoais.

e) alusão a pessoas marcantes na trajetória de vida do escritor.

Questão 8
(UFRJ)

O que há de errado com a felicidade?

A pergunta do título pode deixar muitos leitores desconcer tados. E foi feita mesmo
para desconcertar – estimular que se faça uma pausa para pensar. Uma pausa em
quê? Em nossa busca pela felicidade – que, como muitos leitores provavelmente
concordarão, temos em mente na maior parte do tempo, preenche a maior parte de
nossas vidas, não pode nem vai abrandar a marcha, muito menos parar… pelo menos
não por mais que um instante (fugaz, sempre fugaz).
Por que é provável que essa pergunta desconcerte? Porque indagar “o que há de
errado com a felicidade?” é como perguntar o que há de quente no gelo ou de
malcheiroso numa rosa. Sendo o gelo incompatível com o calor, e a rosa com o mau
cheiro, tais perguntas presumem a viabilidade de uma coexistência inconcebível (onde
há calor, não pode haver gelo).
De fato, como poderia haver algo de errado com a felicidade? “Felicidade” não seria
sinônimo de ausência de erro? Da própria impossibi-
lidade de sua presença? Da impossibilidade de todo e qualquer erro?! […]
Nossas vidas, quer o saibamos ou não e quer o saudemos ou lamentemos, são obras
de arte. Para viver como exige a arte da vida, devemos, tal como qualquer outro tipo
de artista, estabelecer desafios que são (pelo menos no momento em que
estabelecidos) difíceis de confrontar diretamente; devemos escolher alvos que estão
(ao menos no momento da escolha) muito além de nosso alcance, e padrões de
excelência que, de modo perturbador, parecem permanecer teimosamente muito
acima de nossa capacidade (pelo menos a já atingida) de harmonizar com o que quer
que estejamos ou possamos estar fazendo. Precisamos tentar o impossível. E, sem o
apoio de um prognóstico favorável fidedigno (que dirá da certeza), só podemos
esperar que, com longo e penoso esforço, sejamos capazes de algum dia alcançar
esses padrões e atingir esses alvos, e assim mostrar que estamos à altura do desafio.
A incerteza é o hábitat natural da vida humana – ainda que a esperança de escapar
da incerteza seja o motor das atividades humanas.
Escapar da incerteza é um ingrediente fundamental, mesmo que apenas tacitamente
presumido, de todas e quaisquer imagens compósitas
da felicidade. É por isso que a felicidade “genuína, adequada e total” sempre parece
residir em algum lugar à frente: tal como o horizonte, que recua quando se tenta
chegar mais perto dele.

BAUMAN, Zygmunt. “O que há de errado com a felicidade?” In: A Arte da Vida. Rio de Janeiro: Zahar,
2009. (adaptado)

No primeiro e no terceiro parágrafos, observa-se, em relação aos demais, uma


mudança de pessoa discursiva no tratamento do conteúdo, ocorrendo o uso da

a) primeira pessoa no primeiro parágrafo e da terceira pessoa nos outros.


b) segunda pessoa no primeiro parágrafo e da terceira pessoa nos outros.

c) terceira pessoa no primeiro parágrafo e da primeira pessoa nos outros.

d) primeira pessoa no primeiro parágrafo e da segunda pessoa nos outros.

e) terceira pessoa no primeiro parágrafo e da segunda pessoa nos outros.

Questão 9
(PUC-MG) Desde criança ouvia dizer que não se deve brincar com mulher. Por favor,
me entendam. Brincar não significava, nesta advertência, fugir delas, deixar de amá-
las, de transar com elas e com a obrigação suplementar de tentar até o impossível.
‘Brincar’ era não levá-las a sério, baseados na inexistente fragilidade feminina, não
temê-las na capacidade de suas cóleras e vinganças.

CONY, Carlos Heitor, “A grande vingança”. Folha de S. Paulo, 25 set. 2005.

Considere as seguintes análises:

I. O uso da expressão “desde criança” dimensiona o fato narrado e precisa a posição


do narrador em relação ao tempo da enunciação.

II. O uso das formas verbais “ouvia dizer”, “significava” e “era” concorre para
determinar a distância, em termos temporais, entre o fato narrado e o tempo da
enunciação, que se traduz como o tempo do aqui e agora.

III. O uso da forma verbal “me entendam” marca o tempo da enunciação.

Assinale:

a) se apenas I for correta.


b) se apenas II for correta.

c) se apenas II e III forem corretas.

d) se I, II e III forem corretas.

Questão 10
(PUC-SP) O trecho a seguir é de São Bernardo, de Graciliano Ramos. Leia-o com
atenção.

O tique-taque do relógio diminui, os grilos começam a cantar. E Madalena surge no


lado de lá da mesa. Digo baixinho:
— Madalena!
A voz dela me chega aos ouvidos. Não, não é aos ouvidos. Também já não a vejo
com os olhos.
Estou encostado à mesa, as mãos cruzadas. Os objetos fundiram-se, e não enxergo
sequer a toalha branca.
— Madalena...
A voz de Madalena continua a acariciar-me. Que diz ela? Pede-me naturalmente
que mande algum dinheiro a mestre Caetano. [...] Não obstante ele ter morrido, acho
bom que vá trabalhar. Mandrião!
A toalha reaparece, mas não sei se é esta toalha sobre que tenho as mãos cruzadas
ou a que estava aqui há cinco anos.
Rumor do vento, dos sapos, dos grilos. A porta do escritório abre-se de manso, os
passos de seu Ribeiro afastam-se. Uma coruja pia na torre da igreja. Terá realmente
piado a coruja? Será a mesma que piava há dois anos? Talvez seja até o mesmo pio
daquele tempo.
Agora seu Ribeiro está conversando com d. Glória no salão. Esqueço que eles me
deixaram e que esta casa está quase deserta.

RAMOS, Graciliano, São Bernardo.


Sobre o aspecto temporal do trecho anterior é correto afirmar que

a) o tempo da enunciação, momento em que o narrador-personagem escreve,


evidencia que a objetividade é a dominante.

b) a duplicidade temporal, representada pelos tempos do enunciado e da


enunciação, confunde memória e presente, objetividade e subjetividade.

c) o tempo do enunciado, os acontecimentos que ocorreram na vida do narrador-


personagem, é que organiza a subjetividade.

d) a duplicidade temporal é decorrente da complexidade do assunto e da


onisciência do narrador-personagem que tem clareza na ordenação e na
explicação dos fatos.

e) o jogo do distanciamento e da aproximação temporal mostra fronteiras


temporais bem demarcadas com a intenção de confundir o leitor.

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