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EXERCÍCIOS REALISMO, NATURALISMO E PARNASIANISMO – PROF.

ANDRÉ ARAÚJO – GABARITO – 9º. ANO

TEXTO 1

O cortiço
(fragmento)

Fechou-se um entra-e-sai de marimbondos defronte daquelas cem casinhas


ameaçadas pelo fogo. Homens e mulheres corriam de cá para lá com os tarecos ao ombro,
numa balbúrdia de doidos. O pátio e a rua enchiam-se agora de camas velhas e colchões
espocados. Ninguém se conhecia naquela zumba de gritos sem nexo, e choro de crianças
esmagadas, e pragas arrancadas pela dor e pelo desespero. Da casa do Barão saíam
clamores apopléticos; ouviam-se os guinchos de Zulmira que se espolinhava com um
ataque. E começou a aparecer água. Quem a trouxe? Ninguém sabia dizê-lo; mas viam-se
baldes e baldes que se despejavam sobre as chamas.
Os sinos da vizinhança começaram a badalar.
E tudo era um clamor.
A Bruxa surgiu à janela da sua casa, como à boca de uma fornalha acesa. Estava
horrível; nunca fora tão bruxa. O seu moreno trigueiro, de cabocla velha, reluzia que nem
metal em brasa; a sua crina preta, desgrenhada, escorrida e abundante como as das éguas
selvagens, dava-lhe um caráter fantástico de fúria saída do inferno. E ela ria-se, ébria de
satisfação, sem sentir as queimaduras e as feridas, vitoriosa no meio daquela orgia de fogo,
com que ultimamente vivia a sonhar em segredo a sua alma extravagante de maluca.
Ia atirar-se cá para fora, quando se ouviu estalar o madeiramento da casa incendiada, que
abateu rapidamente, sepultando a louca num montão de brasas.
(Aluísio Azevedo. O cortiço)

1. Em O cortiço, o caráter naturalista da obra faz com que o narrador se posicione em


terceira pessoa, onisciente e onipresente, preocupado em oferecer uma visão crítico-
analítica dos fatos. A sugestão de que o narrador é testemunha pessoal e muito próxima dos
acontecimentos narrados aparece de modo mais direto e explícito em:
(A) Fechou-se um entra-e-sai de marimbondos defronte daquelas cem casinhas ameaçadas
pelo fogo.
(B) Ninguém sabia dizê-lo; mas viam-se baldes e baldes que se despejavam sobre as
chamas.
(C) Da casa do Barão saíam clamores apopléticos...
(D) A Bruxa surgiu à janela da sua casa, como à boca de uma fornalha acesa.
(E) Ia atirar-se cá para fora, quando se ouviu estalar o madeiramento da casa
incendiada...

2. O caráter naturalista nessa obra de Aluísio Azevedo oferece, de maneira figurada, um


retrato de nosso país, no final do século XIX. Põe em evidência a competição dos mais
fortes, entre si, e estes, esmagando as camadas de baixo, compostas de brancos pobres,
mestiços e escravos africanos. No ambiente de degradação de um cortiço, o autor expõe um
quadro tenso de misérias materiais e humanas. No fragmento, há várias outras
características do Naturalismo. Aponte a alternativa em que as duas características
apresentadas são corretas.
(A) Exploração do comportamento anormal e dos instintos baixos; enfoque da vida e
dos fatos sociais contemporâneos ao escritor.
(B) Visão subjetivista dada pelo foco narrativo; tensão conflitiva entre o ser humano e o
meio ambiente.
(C) Preferência pelos temas do passado, propiciando uma visão objetiva dos fatos; crítica
aos valores burgueses e predileção pelos mais pobres.
(D) A onisciência do narrador imprime-lhe o papel de criador, e se confunde com a idéia de
Deus; utilização de preciosismos vocabulares, para enfatizar o distanciamento entre a
enunciação e os fatos enunciados.
(E) Exploração de um tema em que o ser humano é aviltado pelo mais forte; predominância
de elementos anticientíficos, para ajustar a narração ao ambiente degradante dos
personagens.

3. Releia o fragmento de O cortiço, com especial atenção aos dois trechos a seguir.
I-Ninguém se conhecia naquela zumba de gritos sem nexo, e choro de crianças
esmagadas, e pragas arrancadas pela dor e pelo desespero. (...)

II-E começou a aparecer água. Quem a trouxe? Ninguém sabia dizê-lo; mas viam-se
baldes e baldes que se despejavam sobre as chamas.

No fragmento, rico em efeitos descritivos e soluções literárias que configuram imagens


plásticas no espírito do leitor, Aluísio Azevedo apresenta características psicológicas de
comportamento comunitário. Aponte a alternativa que explicita o que os dois trechos têm
em comum.
(A) Preocupação de um em relação à tragédia do outro, no primeiro trecho, e preocupação
de poucos em relação à tragédia comum, no segundo trecho.
(B) Desprezo de uns pelos outros, no primeiro trecho, e desprezo de todos por si próprios,
no segundo trecho.
(C) Angústia de um não poder ajudar o outro, no primeiro trecho, e angústia de não se
conhecer o outro, por quem se é ajudado, no segundo trecho.
(D) Desespero que se expressa por murmúrios, no primeiro trecho, e desespero que se
expressa por apatia, no segundo trecho.
(E) Anonimato da confusão e do “salve-se quem puder”, no primeiro trecho, e
anonimato da cooperação e do “todos por todos”, no segundo trecho.

4. No período: “ Da casa do barão saíam clamores apopléticos; ouviam-se os guinchos de


Zulmira que se espolinhava com um ataque”. Identifique o valor semântico da segunda e da
terceira orações:
R= O VALOR SEMÂNTICO DAS ORAÇÕES EQUIVALEM A ANIMALIZAÇÃO
DOS PERSONAGENS, CARACTERÍSTICA TÍPICA DO NATURALISMO.

TEXTO 2

Fanático pela novidade do automóvel, o jornalista José do Patrocínio foi dos


primeiros na cidade do Rio de Janeiro a ter um. Muito amigo do poeta Olavo Bilac com
quem partilhava essa paixão, emprestou, ainda que relutantemente, o carro ao companheiro.
Entretanto o ilustre poeta jamais havia dirigido. Recebeu minuciosas instruções do
proprietário do veículo, mas foi em vão. Colidiu com uma árvore na primeira curva,
transformando o automóvel em sucata. Patrocínio ficou inconsolável, mas Bilac gabava-se
de ser responsável pela primeira ocorrência de acidente de trânsito no país...
Revista Discutindo Literatura, nº 4, ano I, São Paulo, Escala
Educacional.

5. Olavo Bilac é o símbolo do Parnasianismo no Brasil. Tal movimento defendia o lema


Arte pela Arte. Defina esse princípio.

A MARCA DA ARTE PELA ARTE ESTÁ RELACIONADA A VALORIZAÇÃO


ESTÉTICA, A FORMA EM DETRIMENTO DO CONTEÚDO. MAIS VALE UM
POEMA QUE VALORIZA A BELEZA ESTÉTICA E A FORMA DO QUE O
CONTEÚDO.

O CONTEÚDO DAS QUESTÕES 06 A 20 NÃO IRÃO SER ABORDADAS NA


AVALIAÇÃO GLOBAL (AG) DA 4º. ETAPA.
6. “A narrativa machadiana em Dom Casmurro e Memórias póstumas de Brás
Cubas obedece à tradição da narrativa linear, de acordo com a passagem do tempo no reló-
gio, pela qual o leitor observa a evolução da vida dos personagens, desde o nascimento ou a
idade tenra, até a velhice, passando antes pela juventude, idade madura e morte.”

Concorde ou não com esse comentário, mas justifique sua resposta.

Óbito do autor
Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto
é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar
seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método:
a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para
quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais
novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no intróito, mas no cabo:
diferença radical entre este livro e o Pentateuco.
Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de
1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e
prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério
por onze amigos. Onze amigos! Verdade é que não houve cartas nem anúncios. Acresce
que chovia - peneirava - uma chuvinha miúda, triste e constante, tão constante e tão triste,
que levou um daqueles fiéis da última hora a intercalar esta engenhosa idéia no discurso
que proferiu à beira de minha cova: - "Vós, que o conhecestes, meus senhores, vós podeis
dizer comigo que a natureza parece estar chorando a perda irreparável de um dos mais
belos caracteres que têm honrado a humanidade. Este ar sombrio, estas gotas do céu,
aquelas nuvens escuras que cobrem o azul como um crepe funéreo, tudo isso é a dor crua e
má que lhe rói à natureza as mais íntimas entranhas; tudo isso é um sublime louvor ao
nosso ilustre finado". ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás
Cubas. São Paulo, Abril Cultural, 1978. P. 15.
Glossário - campa: sepulcro; galante: garboso, gracioso.

6. Explique porque se pode dizer que esse trecho é metalinguístico.

7. Explicite um trecho em que se encontre a famosa “ironia machadiana”.

8. Em que pessoa é narrado o texto?

9. Quem é o narrador?

10. Ao dizer “Onze amigos!”, o narrador mostra que é pequeno o número de pessoas com
que se pode realmente contar. Isso revela uma certa atitude do narrador diante da amizade e
das relações interpessoais. Que atitude é essa?
11. Qual a diferença que se pode estabelecer entre “autor defunto” e “defunto autor”?

12. (FUVEST - Adaptada) Imagine que você tenha uma prova do livro Memórias
póstumas de Brás Cubas e que não tenha entendido a seguinte metáfora “a campa foi
outro berço”. Xavier, seu amigo de longa data, leu e interpretou muito bem, segundo o
professor, o texto.
Sendo assim, demonstre a interpretação dada por Xavier para a metáfora “a campa foi outro
berço”.

13. (ENEM) No trecho a seguir, o narrador, ao descrever a personagem, critica sutilmente


um outro estilo de época: o Romantismo.
Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos; era talvez a mais atrevida
criatura de nossa raça e, com certeza, a mais voluntariosa. Não digo que já lhe coubesse a
primazia da beleza, entre as mocinhas do tempo, porque isto não é romance, em que o
autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas; mas também não digo
que lhe maculasse o rosto nenhuma sarda ou espinha, não. Era bonita, fresca, saía das
mãos da natureza cheia daquele feitiço, precário e eterno, que o indivíduo passa a outro
indivíduo, para os fins secretos da criação.
ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Jackson, 57.

A frase do texto em que se percebe a crítica do narrador ao Romantismo está transcrita na


alternativa:
a) “... o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas ...”
b) “... era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça ...”
c) “Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno,
...”
d) “Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos ...”
e) “... o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação.”

14. Quincas Borba, personagem criado por Machado de Assis, era autor de Humanitas,
filosofia única, eterna, comum, indivisível e indestrutível, que pregava a eterna luta do
homem pela sobrevivência, ressaltando o predomínio dos mais espertos.
Existe uma máxima sobre a qual ele resume suas explanações sobre essa filosofia. Assinale-
a.

a) Devagar se vai ao longe.


b) Ao vencedor, as batatas.
c) Quem tudo quer tudo perde.
d) O essencial é invisível para os olhos.
e) Não se jogam pérolas aos porcos.

AUXILIARES

Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se
poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto que o uso vulgar
seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método:
a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para
quem a campa foi outro berço; o segundo é que o escrito ficaria assim mais galante e mais
novo.
Memórias póstumas de Brás Cubas – Machado de Assis
15. Essa é a abertura do famoso romance de Machado de Assis. Dentro desse contexto, já
dá para se ver o tipo de narrativa que será explorada. Assinale a alternativa correta a esse
respeito.

a) A narrativa decorre de forma cronologicamente correta, de acordo com a passagem do


tempo: infância, juventude, maturidade e velhice.
b) A linearidade das ações apresenta cenas de suspense, dado o comportamento inusitado
dos personagens.
c) Não há como prever o final da narrativa, já que seu enredo é, propositadamente,
complicado.
d) A ação terá, como cenário, os diversos centros cosmopolitas do mundo.
e) O autor usa o recurso do flashback devido a sua intenção de iniciar o romance pelo
“fim”.

16. Em relação à questão anterior, infere-se que a linguagem dispõe de um recurso


enriquecedor: a disposição das palavras no espaço frasal. Sendo assim, que tipo de leitura
pode-se fazer dessas duas expressões: “autor defunto” e “defunto autor”?

a) A colocação da palavra defunto após a palavra autor leva-nos a pensar que o segundo
elemento está em fase final de carreira.
b) Defunto autor remete à ideia de que a pessoa irá escrever suas memórias dentro de um
cemitério.
c) Ambas as expressões transmitem a mesma ideia, com iguais valores semânticos.
d) A expressão defunto autor aparece de forma metaforizada, original, privilegiando uma
nova forma de narração autobiográfica.
e) Ambas as construções não têm expressão na obra biográfica de Machado de Assis.

17. Considerando o que você já leu e/ou viu sobre o livro Memórias póstumas de Brás
Cubas e atentando ainda para as considerações que Brás Cubas faz no trecho lido quanto à
maneira de começar a escrever seu livro, responda: Brás Cubas contou sua história pelo
“uso vulgar” ou ele fez de forma diferente?
Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos. Meu pai logo
que teve aragem dos quinze contos sobressaltou-se deveras; achou que o caso excedia as
raias de um capricho juvenil.
— Dessa vez, disse ele, vais para Europa, vais cursar uma Universidade, provavelmente
Coimbra, quero-te homem sério e não arruador e não gatuno.
E como eu fizesse um gesto de espanto:
— Gatuno, sim senhor, não é outra coisa um filho que me faz isso.
Machado de Assis – Memórias póstumas de Brás Cubas
18. De acordo com essa passagem da obra, pode-se antecipar a visão que Machado de Assis
tinha sobre as pessoas e sobre a sociedade. A esse respeito, assinale a alternativa correta.

a) O amor é fruto de interesse e compõe o pilar das instituições hipócritas.


b) O amor, se sincero, supera todas as barreiras, inclusive as financeiras.
c) O caráter autoritarista moldava as relações familiares, principalmente entre pai e filho.
d) Havia medo de que a marginalidade envolvesse os jovens daquela época.
e) O amor era glorificado e apontado como o único caminho para redimir as pessoas.

19. Com efeito, um dia de manhã, estando a passear na chácara, pendurou-me uma ideia
no trapézio que eu tinha no cérebro. Uma vez pendurada, entrou a bracejar, a pernear, a
fazer as mais arrojadas cabriolas de volatim, que é possível crer. Eu deixei-me estar a
contemplá-la. Súbito, deu um grande salto, estendeu os braços e as pernas, até tomar a
forma de um X: decifra-me ou devoro-te.
Memórias póstumas de Brás Cubas – Machado de Assis

Sobre o texto mostrado, pode-se dizer que:


a) o autor faz uma abordagem superficial da situação.
b) o autor preocupa-se com os detalhes, por meio de minuciosa descrição.
c) o autor dá relevância a outras circunstâncias, negligenciando o foco do assunto.
d) o autor não mostra preocupação com o discernimento do leitor, pois apenas sugere
situações.
e) contempla a si próprio, num ritual egocêntrico e narcisista.

Capítulo III
O emplasto
Com efeito, um dia de manhã, estando a passear na chácara, pendurou-se-me uma ideia
no trapézio que eu tinha no cérebro. Uma vez pendurada, entrou a bracejar, a pernear, a
fazer as mais arrojadas cabriolas de volatim, que é possível crer. Eu deixei-me estar a
contemplá-la. Súbito, deu um grande salto, estendeu os braços e as pernas, até formar um
X: decifra-me ou devoro-te.
Essa ideia era nada menos que a invenção de um medicamento sublime, um emplasto
anti-hipocondríaco, destinado a aliviar a nossa melancólica humanidade. Na petição de
privilégio que então redigi, chamei a atenção do governo para esse resultado,
verdadeiramente cristão. (...)
Machado de Assis – Memórias póstumas de Brás Cubas
20. Relativamente ao trecho lido, responda em que tipo de foco narrativo ele está es-
truturado?

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