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1. Mas seu olhar verde, inconfundível, impressionante, iluminava com sua luz misteriosa as sombrias
arcadas superciliares, que pareciam queimadas por ela, dizia logo a sua origem cruzada e decantada
através das misérias e dos orgulhos de homens de aventura, contadores de histórias fantásticas, e de
mulheres caladas e sofredoras, que acompanhavam os maridos e amantes através das matas
intermináveis, expostas às febres, às feras, às cobras do sertão indecifrável, ameaçador e sem fim, que
elas percorriam com a ambição única de um “pouso” onde pudessem viver, por alguns dias, a vida
ilusória de família e de lar, sempre no encalço dos homens, enfebrados pela procura do ouro e do
diamante.
2. O problema central do método narrativo diz respeito à relação do autor com a sua obra. Em uma
peça teatral, o autor é ausente; ele desapareceu por trás dela. Mas o poeta épico conta a história como
contador profissional, incluindo os seus comentários no poema e dando à narrativa propriamente dita
(distinta do diálogo) o seu próprio estilo.
O romancista pode, similarmente, contar uma história sem afirmar que testemunhou ou participou do
que narra. Pode escrever na terceira pessoa, como “autor onisciente”. Esse é, sem dúvida, o modo
tradicional e “natural” de narração. O autor está presente, ao lado da sua obra, como o palestrante cuja
exposição acompanha o projetor de slides ou o filme documentário.
WELLEK, René; WARREN, Austin. Teoria da Literatura e Metodologia dos Estudos Literários. São Paulo:
Martins Fontes, 2001. p. 301.
4. Caso pluvioso
Considerando-se a exploração das palavras “maria” e “chuvosíssima” no poema, conclui-se que tal
recurso expressivo é um(a)
a) registro social típico de variedades regionais.
b) variante particular presente na oralidade.
c) inovação lexical singularizante da linguagem literária.
d) marca de informalidade característica do texto literário.
e) traço linguístico exclusivo da linguagem poética.
5. Canção
MEIRELES, C. In: SECCHIN, A. C. (Org.). Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
Na composição do poema, o tom elegíaco e solene manifesta uma concepção de lirismo fundada na
a) contradição entre a vontade da espera pelo ser amado e o desejo de fuga.
b) expressão do desencanto diante da impossibilidade da realização amorosa.
c) associação de imagens díspares indicativas de esperança no amor futuro.
d) recusa à aceitação da impermanência do sentimento pela pessoa amada.
e) consciência da inutilidade do amor em relação à inevitabilidade da morte.
6. Leia o texto:
A denúncia de uma crise de sentido na educação não é algo novo e exclusivo do momento
histórico em que vivemos. Podemos dizer que a crítica ao modelo educacional e à função social da
escola se constitui à medida que a própria educação se institucionaliza, incorporando a responsabilidade
de ser um processo sistemático e intencional de formação humana.
[...]
A reflexão sobre o sentido da educação adentra o século XX. A crítica se aprofunda e há
insatisfação tanto das correntes mais liberais quanto das mais marxistas. [...] As mudanças sociais
acentuaram os problemas estruturais da instituição escola. No Brasil, por exemplo, em meados dos anos
50, apenas 30% da população brasileira vivia nas cidades. A pressão das camadas médias pelo aumento
do acesso e da permanência na escola ampliou-se consideravelmente neste período, dada a relação
estabelecida entre a escolarização e o direito à cidadania.
(ROCHA, J. Design thinking na formação de professores: novos olhares para os desafios da educação. In:
Metodologias ativas para uma educação inovadora. Porto Alegre: Penso, 2018, p.154.)
O excerto apresenta, brevemente, uma crítica ao modelo vigente da educação na sociedade brasileira
nos anos 1950.
Assinale a alternativa em que o trecho literário retrata uma situação semelhante à abordada no texto.
a) “E ele, Clarimundo, o homem do relógio, o escravo fiel das horas, que fez nos seus quarenta e oito
anos de vida? Preparou espíritos, estudou e compreendeu Einstein, escreveu artigos para jornais,
notas sobre filosofia, matemática, física e astronomia recreativa...”, Érico Veríssimo, Caminhos
Cruzados.
b) “As primas já estão se acostumando no Colégio, mas Luisinha está se queixando de dor no estômago
e nós a achamos mais magra. Diante disso eu insisti com mamãe para trazê-la para casa para
consultar com Dr. Teles. A Superiora quis fazer dúvida e disse que não era preciso trazer Luisinha
porque o médico podia ir ao Colégio como vai sempre ver outras meninas.”, Helena Morley, Minha
Vida de Menina.
c) “Fabiano estava contente e acreditava nessa terra, porque não sabia como ela era nem onde era.
Repetia docilmente as palavras de sinha Vitória, as palavras que sinha Vitória murmurava porque
tinha confiança nele. E andavam para o sul, metidos naquele sonho. Uma cidade grande, cheia de
pessoas fortes. Os meninos em escolas, aprendendo coisas difíceis e necessárias.”, Graciliano Ramos,
Vidas Secas.
d) “Dirigi-me a alguns amigos, e quase todos consentiram de boa vontade em contribuir para o
desenvolvimento das letras nacionais. Padre Silvestre ficaria com a parte moral e as citações latinas;
João Nogueira aceitou a pontuação, a ortografia e a sintaxe; prometi ao Arquimedes a composição
tipográfica; para a composição literária convidei Lúcio Gomes de Azevedo Gondim, redator e diretor
do Cruzeiro.”, Graciliano Ramos, São Bernardo.
e) “Na segunda-feira, voltou o menino armado com a sua competente pasta a tiracolo, a sua lousa de
escrever e o seu tinteiro de chifre; o padrinho o acompanhou até a porta. Logo nesse dia portou-se
de tal maneira que o mestre não se pôde dispensar de lhe dar quatro bolos, o que lhe fez perder toda
a folia com que entrara: declarou desde esse instante guerra viva à escola.”, Manuel Antônio de
Almeida, Memórias de um Sargento de Milícias.
7. Certa vez minha mãe surrou-me com uma corda nodosa que me pintou as costas de manchas
sangrentas. Moído, virando a cabeça com dificuldade, eu distinguia nas costelas grandes lanhos
vermelhos. Deitaram-me, enrolaram-me em panos molhados com água de sal – e houve uma discussão
na família. Minha avó, que nos visitava, condenou o procedimento da filha e esta afligiu-se. Irritada,
ferira-me à toa, sem querer. Não guardei ódio a minha mãe: o culpado era o nó.
Resposta da questão 1:
[E]
O narrador descreve os olhos de Maria Rita perscrutando o seu fluxo de consciência, em que apareciam
memórias de um tempo em que “mulheres caladas e sofredoras... acompanhavam os maridos e
amantes através das matas intermináveis”, “no encalço dos homens, enfebrados pela procura do ouro e
do diamante”. Assim, o narrador estabelece correlações que refletem a marca de antigos sofrimentos
no fluxo de consciência, como transcrito em [E].
Resposta da questão 2:
[D]
[A] No gênero autobiográfico, existe coincidência entre autor e narrador, propriedade discursiva
importante na autobiografia.
[B] Nem sempre o narrador onisciente é imparcial, quando se trata de narrador onisciente intruso, pois,
ao mesmo tempo em que narra a história, critica os personagens e insere juízos de valor sobre
algumas ações. Ou ainda como narrador onisciente múltiplo, quando influencia o leitor para que este
tome alguma posição.
[C] Embora os gêneros literários sejam classificados como narrativo, lírico e dramático, o texto épico-
lírico implica características da epopeia (narrativa de um feito heroico) e da lírica. Ou seja, resulta da
fusão de elementos épicos com uma componente lírica, capaz de exprimir os sentimentos ou os
pensamentos íntimos do "eu". "Mensagem" de Fernando Pessoa, é um dos melhores exemplos de
texto épico-lírico, em que o relato histórico dá lugar à visão subjetiva e introspetiva dos
acontecimentos que contêm valores míticos e simbólicos.
Assim, é correta a opção [D], pois o gênero dramático caracteriza-se pela ausência do narrador ou do eu
lírico, com consequente afastamento do autor que entrega o decorrer da ação diretamente aos
personagens.
Resposta da questão 3:
[C]
Na frase transcrita em [C], o segmento “mas e os quebrados, que ela comprara antes?” (4º parágrafo)
pode reproduzir a fala de qualquer personagem envolvida na cena ou o discurso indireto com que o
narrador relata os fatos, estratégia típica do discurso indireto livre como mencionado no enunciado.
Resposta da questão 4:
[C]
Em “Caso pluvioso”, Carlos Drummond de Andrade cria diversas palavras com as quais desenvolve a
trama da chuva para expressar as sensações perturbadoras que o assaltavam. O termo metafórico
“maria”, identificação da mulher com a chuva, e o uso do superlativo em “chuvosíssima”, com
importante valor expressivo para a atmosfera hiperbólica do poema, constituem, assim, recursos
poéticos com o qual o poeta pode expressar, de forma singular, os seus sentimentos. Ou seja, trata-se
de inovação lexical singularizante da linguagem literária, como se afirma em [C].
Resposta da questão 5:
[B]
Resposta da questão 6:
[C]
[A] Incorreto. O trecho destacado salienta o comportamento do professor, sem criticar problemas
estruturais da educação.
[B] Incorreto. O trecho ilustra o desconforto da aluna, sem mencionar problemas estruturais da
educação.
[C] Correto. O trecho em questão ilustra a passagem “relação estabelecida entre a escolarização e o
direito à cidadania.”.
[D] Incorreto. O trecho destacado mostra a organização das matérias a serem lecionadas em uma escola
rural, sem tocar nos aspectos relevantes do texto apresentado.
[E] Incorreto. O trecho citado indica o comportamento do aluno, sem que sejam abordados problemas
estruturais da educação.
Resposta da questão 7:
[B]
No excerto de “Infância”, observa-se que o autor executa um processo memorialístico que oscila entre o
passado e o presente, num jogo entre um narrador que lembra e analisa o recordado e a personagem-
menino que se localiza no enunciado. O relato com termos verbais no pretérito perfeito do indicativo
(“surrou-me”, “me pintou”, “Deitaram-me”, “enrolaram-me”) é interrompido por digressões com verbos
no gerúndio e pretérito imperfeito do indicativo (“virando”, “distinguia”) que transmitem ideia de
continuidade e duração no momento em que estão sendo enunciados. Assim, é correta a opção [B].