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Literatura Brasileira

Movimento literário que se desenvolve na poesia no século XVIII, de acordo com os


princípios neoclássicos. Numa época marcada pelo racionalismo e pela visão científica do mundo
inaugurada pelo iluminismo, o arcadismo defende uma literatura mais simples, objetiva, descritiva e
espontânea, que se opõe à emoção, à religiosidade e ao exagero do barroco, considerado confuso
e rebuscado. A idéia de que toda beleza está na natureza e a idealização da vida no campo e do
homem simples fazem do arcadismo um movimento nostálgico diante da revolução industrial e da
urbanização que começam a acontecer em parte da Europa.

O nome do movimento deve-se a um grupo que em 1690 funda em Roma uma


sociedade literária batizada de Arcádia e chama seus integrantes de pastores. Na mitologia grega,
Arcádia é uma região onde poetas e pastores vivem de amor e poesia. Em 1756 surge a Arcádia
Lusitana, em Portugal, inspirada na de Roma.O autor de maior destaque é Manuel Maria Barbosa
du Bocage (1765-1805).

Os poemas árcades exibem linguagem clara e seguem métricas definidas. São


comuns estruturas populares como os rondós, os madrigais e as redondilhas maior e menor. Na
temática predominam os temas bucólicos e amorosos.

1. ARCADISMO NO BRASIL
Com o arcadismo desenvolve-se no país a primeira produção literária adaptada à
realidade brasileira. A literatura começa a afastar-se dos modelos portugueses, ao descrever as
paisagens locais e criticar a situação política do país. Surgem vários autores em Vila Rica, Minas
Gerais, capital cultural e centro de riqueza na época. Grande parte dos escritores está ligada à
Inconfidência Mineira. Embora não cheguem a criar um grupo nos moldes das Arcádias,
constituem a primeira geração literária brasileira.

A transição do barroco para o arcadismo no país se dá com a publicação, em 1768, do


livro Obras Poéticas, de Cláudio Manuel da Costa (1729-1789). Entre os árcades destacam-se,
ainda, o português que vive no Brasil Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810), autor de Marília de
Dirceu e Cartas Chilenas; Basílio da Gama (1741-1795), autor de O Uraguai; e Silva Alvarenga
(1749-1814), autor de Glaura. Apesar do engajamento pessoal, a produção literária desses autores
não está a serviço da política. O gênero predomina até o início do século XIX, quando surge o
romantismo.

1.1 Renascimento
Explosão de criações artísticas, literárias e científicas inspiradas na Antiguidade
Clássica greco-romana, por isso chamada Renascimento. Marca a Europa de 1330 a 1530 e tem
como centro irradiador a Itália. O homem renascentista acredita que tudo se explica pela razão e
pela ciência. Traço marcante do Renascimento, o humanismo tem por base o neoplatonismo, que
exalta os valores humanos e dá nova dimensão ao homem. Choca-se, assim, com os dogmas e
proibições da Igreja Católica, critica o mundo medieval e enfrenta a Inquisição . A concentração de
riqueza nas mãos de comerciantes e banqueiros faz com que burgueses, como os Medici de
Florença, se tornem grandes mecenas. O movimento expande-se a partir de 1460, com a fundação
de academias, bibliotecas e teatros em Roma, Florença, Nápoles, Paris e Londres.

O racionalismo e a preocupação com o homem e a natureza estimulam a pesquisa


científica. O polonês Nicolau Copérnico (1473-1543) fundamenta a tese do Sol como centro do
Universo. Paracelso (1493-1541), da Suíça, estuda as drogas medicinais . O médico inglês William
Harvey (1578-1657) revela o mecanismo completo da circulação sanguínea. O alemão Johannes
Kepler (1571-1630) aperfeiçoa o telescópio. O italiano Galileu Galilei (1564-1642) desenvolve
métodos científicos de análise e comprovação experimental. A pólvora começa a ser usada como
arma de guerra. A imprensa de letras metálicas móveis é inventada em 1448 pelo alemão Johann
Gutenberg (1400-1468).

1.2. Literatura no Brasil


As primeiras manifestações das letras no Brasil colonial são textos informativos, que
visam a conquista do território e a expansão da fé católica. Dependente de Portugal, esse tipo de
literatura inicia-se em 1500, com a Carta de Pero Vaz de Caminha (1450-1500) sobre a terra
recém-descoberta. Seguem-se os tratados dos cronistas portugueses, como Pero de Magalhães
Gandavo, autor de Tratado da Terra do Brasil, e Gabriel Soares de Sousa (1540?-1591), de
Tratado Descritivo do Brasil. Entre os poemas, sermões e peças religiosas escritos pelos jesuítas
para a catequese dos índios, a partir de 1549, destacam-se os textos dos padres José de Anchieta
(1534-1597), autor de “Poema à Virgem”, e Manuel da Nóbrega (1517-1570), que escreve Diálogo
sobre a Conversão do Gentio.

1.2.1 Barroco
O marco inicial do barroco no Brasil é a publicação, em 1601, de Prosopopéia, poema
épico de Bento Teixeira (1561-1600) sobre a conquista de Pernambuco. Destacam-se também os
sermões, como os do padre Antônio Vieira (1608-1697). Poemas de Manuel Botelho de Oliveira
(1636-1711) e do frei Manuel de Santa Maria Itaparica (1704-1768) celebram as belezas e os
recursos naturais da colônia. A obra do poeta baiano Gregório de Matos (1636?-1696), que vai do
religioso ao satírico e ao erótico, é a mais importante produzida no Brasil no período.

No início do século XVIII, as academias difundem o gosto pelas letras e realizam


trabalhos de pesquisa histórica. As mais importantes são a dos Esquecidos, em Salvador
(1724/25), e as dos Felizes (1736-1740) e dos Seletos (1752-1754), no Rio de Janeiro.

1.2.2 Arcadismo

Em 1768, a publicação de Obras Poéticas, de Cláudio Manuel da Costa (1729-1789),


é considerada o marco inicial do arcadismo. O movimento tenta adequar as propostas do
neoclassicismo europeu às condições de vida brasileira e produz uma poesia lírica e bucólica. Um
dos principais nomes é Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810), autor de Marília de Dirceu e Cartas
Chilenas.

1.2.3. Romantismo
O marco inicial do romantismo brasileiro é a publicação de Suspiros Poéticos e
Saudades (1836), de Gonçalves de Magalhães (1811-1882). O movimento, de caráter nacionalista,
valoriza a natureza, a história e a língua brasileiras. O ideal da pureza amorosa é contraposto às
convenções sociais. O primeiro grande romântico brasileiro é Gonçalves Dias (1823-1864). No
poema I-Juca Pirama, inova ao substituir o ancestral português pelo índio. Álvares de Azevedo
(1831-1852), autor de Lira dos Vinte Anos, é um dos representantes do ultra-romantismo,
caracterizado pela poesia egocêntrica, sentimental e pessimista. Na prosa, destacam-se Joaquim
Manuel de Macedo (1820-1882), autor de A Moreninha, e José de Alencar (1829-1877). Em sua
obra trata da temática indianista (O Guarani e Iracema ), urbana (Lucíola) e regionalista (O
Gaúcho). A poesia social é praticada por Castro Alves (1847-1871), autor de O Navio Negreiro e
Espumas Flutuantes, de inspiração abolicionista, e por Sousândrade (1833-1902), autor do Guesa.
O anti-sentimentalismo e o estilo irônico aparecem em Manuel Antônio de Almeida (1831-1861),
que escreve Memórias de um Sargento de Milícias. Bernardo Guimarães (1825-1884), autor de A
Escrava Isaura, e Alfredo de Taunay (1843-1899), de Inocência, orientam-se para o regionalismo,
que enfoca costumes e tradições do interior brasileiro.

1.2.4. Realismo
As transformações político-sociais do 2º Reinado, o desenvolvimento das cidades e o
crescimento da população urbana impulsionam a crise do romantismo. Considerado o marco inicial
do realismo brasileiro, Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), de Machado de Assis (1839-
1908), faz uma análise crítica da sociedade da época. Na linha de indagação psicológica está O
Ateneu (1888), de Raul Pompéia (1863-1895), que trata do relacionamento entre alunos e
professores num repressivo colégio interno. Sob a influência do naturalismo, que considera o
comportamento humano o resultado da influência da hereditariedade e do meio ambiente, Aluísio
Azevedo (1857-1913) escreve O Cortiço (1890).

1.2.5. Parnasianismo
Ao rejeitar o sentimentalismo romântico e as preocupações sociais, o parnasianismo
propõe uma poesia de preocupação formal. Alberto de Oliveira (1857-1937), autor de Meridionais,
e Raimundo Correa (1859-1911), de Sinfonias, buscam correção métrica, vocabulário raro e rimas
exóticas. A obra de Olavo Bilac (1865-1918), autor de Via Láctea, é a mais representativa do
movimento.

1.2.6. Simbolismo
A publicação de Broquéis e Missal (1893), de Cruz e Sousa (1861-1898), inaugura o
simbolismo, que se caracteriza por uma poesia mística, espiritual, e pela preferência por ritmos
musicais. Destacam-se os poetas Alphonsus de Guimaraens (1870-1921), autor de Câmara
Ardente, e Augusto dos Anjos (1884-1914), que trabalha a temática da morte e da decomposição
da matéria.

1.2.7. Pré-modernismo
No início do século XX, fase de consolidação da república e de expansão cultural,
alguns escritores passam a expressar uma visão crítica dos problemas socioeconômicos
brasileiros e antecipam uma das tendências mais marcantes do modernismo. Por essa razão, são
considerados pré-modernos. Lima Barreto (1881-1922) faz uma caricatura do nacionalismo e da
pobreza dos subúrbios cariocas. Euclides da Cunha (1866-1909), em Os Sertões , revela a
situação miserável do sertanejo nordestino. Monteiro Lobato (1882-1948), além de ficção (Urupês)
e ensaios, escreve o ciclo do Sítio do Pica-Pau Amarelo , o maior conjunto de literatura infantil já
escrito no Brasil.

1.2.8. Modernismo
No Brasil, o termo identifica o movimento desencadeado pela Semana de Arte
Moderna de 1922. Em 13, 15 e 17 de fevereiro daquele ano, conferências, recitais de música,
coreografias, declamações de poesia e exposição de quadros, realizados no Teatro Municipal de
São Paulo, apresentam ao público as novas tendências da arte e da literatura do país. Os
idealizadores da Semana rejeitam a arte do século XIX e as influências estrangeiras do passado.
Defendem a absorção de algumas tendências estéticas internacionais para que elas se mesclem
com a cultura nacional, originando uma arte vinculada à realidade brasileira. O evento escandaliza
público e críticos.

A partir da Semana de Arte Moderna surgem vários grupos e movimentos,


radicalizando ou opondo-se a seus princípios básicos. O escritor Oswald de Andrade (1890-1954)
e a artista plástica Tarsila do Amaral (1886-1973) lançam em 1924 o Manifesto Pau-Brasil, que
enfatiza a necessidade de criar uma arte baseada nas características do povo brasileiro, com
absorção crítica da modernidade européia. Em 1928, eles levam ao extremo essas idéias com o
Manifesto Antropofágico, que propõe “devorar” influências e valores estrangeiros para impor o
caráter brasileiro à arte e à Literatura. No mesmo ano, como efeito das idéias modernistas, o
sociólogo e escritor Gilberto Freyre (1900-1987) lança o Manifesto Regionalista. Por outro caminho,
politicamente mais conservador, segue o grupo da Anta, liderado pelo escritor Menotti del Picchia
(1892-1988) e pelo poeta Cassiano Ricardo (1895-1974). Num movimento chamado de verde-
amarelismo, fecham-se às vanguardas européias e aderem a idéias políticas que prenunciam o
integralismo , versão brasileira do fascismo.

A divulgação das teorias vanguardistas européias é feita, em 1922, pela Semana de


Arte Moderna, marco inicial do modernismo brasileiro. Esta fase representa uma ruptura com o
passado literário parnasiano e um resgate de tradições tipicamente brasileiras.

Com a chamada Geração de 22, instalam-se, na literatura brasileira, o verso livre, a


prosa experimental e uma exploração criativa do folclore, da tradição oral e da linguagem coloquial.
Os principais autores são Mário de Andrade (1893-1945) , que escreve Paulicéia Desvairada e
Macunaíma , Oswald de Andrade (1890-1954), autor de Memórias Sentimentais de João Miramar,
e Manuel Bandeira (1886-1968), de Ritmo Dissoluto. A esse núcleo juntam-se, a partir de 1930,
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) , autor de Alguma Poesia , Mário Quintana (1906-) , de
A Rua do Catavento , e Jorge de Lima (1895-1953), de Poemas Negros, entre outros.

Posteriormente, com a geração que surge em 30, há uma fase de grande tensão
ideológica e de abordagem da Literatura como instrumento de conhecimento e modificação da
realidade. O regionalismo amplia sua temática. Paisagens e personagens são regionais, mas são
usados para abordar assuntos de interesse universal. Surgem novos nomes, como José Américo
de Almeida , (1887-1980) autor de A Bagaceira , Érico Verissimo (1905-1975), da trilogia O Tempo
e o Vento, Jorge Amado (1912-), de Capitães da Areia , Rachel de Queiroz (1910-) , autora de O
Quinze, José Lins do Rego (1901-1957), de Menino de Engenho, e Graciliano Ramos (1892-1953),
que escreve São Bernardo e Vidas Secas. Numa linha mais intimista estão poetas como Cecília
Meireles (1901-1964), autora de Vaga Música, Vinícius de Moraes (1913-1980) , de Poemas,
Sonetos e Baladas , Augusto Frederico Schmidt (1906-1995), de Desaparição da Amada, e
Henriqueta Lisboa (1904-1985), que escreve A Face Lívida.

Em reação à politização da fase anterior, os poetas da geração de 45 recuperam o


parnasianismo, como Lêdo Ivo (1924-), autor de Acontecimento do Soneto. João Cabral de Melo
Neto (1920-) , de Morte e Vida Severina, destaca-se pela inventividade verbal e pelo engajamento
político. Na prosa, os nomes mais importantes são Guimarães Rosa (1908-1967) , autor de
Sagarana e Grande Sertão: Veredas , e Clarice Lispector (1920-1977), de Perto do Coração
Selvagem. de Barros (1916-).

2. BIOGRAFIAS DE AUTORES
2.1. Adolfo Caminha
Adolfo Caminha (1867-1897) foi um dos poucos escritores naturalistas brasileiros.
Órfão de mãe aos 10 anos, muda-se para o RJ onde passa a residir com um tio materno. Aos 13
matricula-se na escola naval, de onde sai guarda-marinha em 1885. Passa a viajar na Marinha e
em 1888 serve no Ceará, onde ajuda a fundar o Centro Republicano e participa da vida intelectual
da cidade. Nesse ano e no seguinte é envolvido num escândalo de adultério e é expulso da
Armada. Retira-se da vida social, mas continua a participar da vida literária. Em 1891 muda-se
para o RJ, onde se dedica ao jornalismo e literatura, escrevendo algumas das obras-primas do
Naturalismo como A Normalista e Bom-Crioulo.

"Seguia-se o terceiro preso, um latagão de negro, muito alto e corpulento, figura


colossal de cafre, desafiando, com um formidável sistema de músculos , a morbidez patológica de
toda uma geração decadente e enervada, e cuja presença ali, naquela ocasião, despertava grande
interesse e viva curiosidade: era o Amaro, gajeiro da proa, - o Bom-Crioulo na gíria de bordo."
Bom-Crioulo

"Aleixo passava nos braços de dois marinheiros, levado como um fardo, o corpo mole,
a cabeça pendida para trás, roxo, os olhos imóveis, a boca entreaberta. O azul-escuro da camisa e
a calça branca tinham grandes nódoas vermelhas. O pescoço estava envolvido num chumaço de
panos. Os braços caíam-lhe, sem vida, inertes, bambos, numa frouxidão de membros mutilados."
Bom-Crioulo

2.2. Aluísio de Azevedo


Aluísio Trancredo Gonçalves de Azevedo nasceu em são Luís (MA) no ano de 1857,e
morreu em Buenos Aires, onde exercia o cargo de agente consular, e 1913.
Obrigado por razões econômicas a escrever sob encomenda, foi um dos poucos
escritores que viveu apenas de sua produção literária, durante vários anos. Sua obra é numerosa
(compreende mais de 10 romances, peças de teatro, contos e artigos de jornais), porém é bastante
irregular quanto ao valor.

É considerado o escritor mais tipicamente naturalista de nossa literatura, destacando-


se, de toda sua obra, os romances O mulato (1881), Casa de pensão(1884) e O cortiço (1890).

A presença marcante das idéias científicas da época a respeito da influência decisiva


da hereditariedade e do meio ambiente no comportamento humano, tornando o homem um produto
direto de sua constituição psicofisiológica e das pressões sociais, caracteriza as obras de Aluísio
Azevedo.

Revelando influências do escritor português Eça de Queirós, Aluísio Azevedo assume


um pocição crítica de denúncia à corrupção moral e à hipocrisia da burguesia e do clero,
chamando a atenção para problemas sociais, numa atitude polêmica, bem ao molde do espirito
combativo da época.

2.3. José de Alencar


Escritor cearense (1829-1877). José Martiniano de Alencar é um dos principais
autores de romances regionalistas brasileiros. Entre 1845 e 1850, cursa Direito em São Paulo e
Olinda. Ainda estudante, publica os primeiros trabalhos literários na revista Ensaios Literários
(1847/48). Nesse período, escreve uma novela histórica, Os Contrabandistas, queimada por
brincadeira por um companheiro de quarto. Trabalha como advogado e jornalista. Em 1854,
escreve crônicas no Correio Mercantil e é redator no Diário do Rio de Janeiro. No Diário, envolve-
se em polêmicas sobre a língua portuguesa e lança os primeiros “romancetes” – Cinco Minutos
(1856) e A Viuvinha (1857) –, pequenos romances publicados em capítulos no jornal. Torna-se
famoso com O Guarani, também de 1857. Entre 1861 e 1877, é eleito deputado geral pelo Ceará
por quatro legislaturas. Ocupa a Pasta da Justiça no ministério conservador do Visconde de
Itaboraí (1868-1870). Escreve cerca de oito peças de teatro e 20 romances. Entre os históricos
estão O Guarani, Iracema (1865) e A Guerra dos Mascates (1873). A obra regionalista inclui O
Gaúcho (1870) e O Sertanejo (1875). O principal marco dos romances de temática urbana é
Senhora (1875). Em 1877, viaja à Europa para se tratar de tuberculose, mas morre da doença no
mesmo ano, no Rio de Janeiro.

2.4. Justiniano de Serpa


A pobre criança que tangia para abastecer os mercados de fortaleza, como forma de
ajudar o pai no sustento da família, talvez como sonhasse que um dia poderia exercer importante
papel na política cearense. Apesar de origem humilde, Justiniano de Serpa conseguiu forma-se em
Direito, destacar-se como orador nos movimentos abolicionista e republicano, ser eleito deputado
federal e nomeado governador do Ceará para o período de 1920 a 1924. Durante seu governo
(mais democrático do que os movimentos anteriores), deu especial atenção ao problema
educacional e incentivou as manifestações artísticas/intelectuais, sendo responsável pelo
reflorescimento da Academia Cearense de letras.

Desde a infância, Justiniano de Serpa teve a vida marcada pela miséria e luta pela
sobrevivência. Nascido em Aquiraz, em 6 de janeiro de 1852, começou bem cedo a ajudar o pai no
trabalho diário, tangendo animais de carga para abastecimentos mercados de Fortaleza e
Cascavel. Enquanto seguias pelas trilhas montado em jumento, procurava sempre estudar a
cartilha, onde aprendeu a ler. Desta forma, ao transferir-se para a capital do Estado, já tinha
alguma instrução, adquirida a duras penas.

O filho de Manuel da Costa Marçal começou a desenvolver suas aptidões na imprensa


local, demonstrando vocação para ofício. Seguindo a maioria dos que desejavam aprimorar-se no
conhecimento acadêmico matriculou-se na Faculdade de Direito de Recife, onde se bacharelou em
1888. Na época, Justiniano de Serpa já tinha sido eleito deputado do Ceará pelo partido
conservador, em mais de uma legislatura, no período de 1882 a 1889. A sua fama foi resultado da
participação no movimento abolicionista e depois republicano, quando a sociedade cearense não
mais permitia a exploração violenta dos negros.

Em 1886, decidiu-se afastar-se da política local, transferindo-se para Manaus,


prosseguindo as atividades jornalísticas nas publicações “Rio Negro” e “Federação”. Professor de
Liceu, diretor da biblioteca da Amazonas, Procurador da República, Justiniano de Serpa demostrou
a mesma disposição para o trabalho em terra estranha. Dois anos depois, passou a morar em
Belém. Nesta cidade, continuou no magistério e na advocacia. Vice-diretor da Faculdade de Direito
do Pará, foi eleito deputado federal em 1906, tendo mandado renovado até 1919. Neste ano foi
indicado para substituir, no governo do Ceará, João Tomé.

Justiniano de Serpa, como deputado federal pelo Pará, projetou-se ainda mais. Desta
vez, em termos nacionais. Isto devido ao trabalho como jurista, desenvolvido quando presidia a
Comissão dos 21, responsável pela elaboração do Código civil Brasileiro, baseando no projeto de
Clóvis Beviláqua. No contato diário como políticos e governantes, acumulou amizades que
ajudaram a ascensão ao governo cearense. Parsifal Barroso, no livro “Uma história político do
Ceará. – 1889-1954”(edições BNB, 1984), lembra a ajuda recebida:
Antônio Carlos Ribeiro de Andrada e Epitácio Pessoa se tornaram seus grandes e
veros admiradores a esse tempo, e quando o admirável paraibano foi alçado à Presidência da
República, a permanente crise da política cearense facilitou a preferência do nome do jurista
Justiniano de Serpa, para sucessão do presidente João Tomé de Sabóia e Silva. Parsifal Barroso
diz que Justiniano de Serpa era orador influente, que através do improviso conquistava a
admiração pública: “Ao longo de sua vida, respeitado governador cearense demonstrou
crescentemente se dotado de extraordinário poder de vontade, fator principal de suas vitórias
político-partidárias, pois teve de enfrentar uma forte oposição, chefiada pelo admirável homem
público que foi o Senador Manoel do Nascimento Fernandes Távora”. Observa que ao assumir o
governador do Ceará, em 12 de julho de 1920, encontrou o Estado sofrendo ainda das
conseqüências da seca o ano anterior, apesar dos efeitos terem sido atenuados pela primeira vez,
graças à obras federais determinadas por Epitácio Pessoa.

Há uma particularidade – ressalta Parsifal Barroso – que marca o governo Serpa,


através de uma série de atentados e crimes políticos, ocorridos notadamente em Lavras, Aurora,
Juazeiro, Milagres, Tauá, e Quixaramubim. Parece-me que essas perturbações de ordem pública
não devem ser atribuídas à franqueza político-administrativas do Presidente Justiniano de Serpa,
mas podem ser decorrentes de anteriores dissidência entre famílias adversárias, que logo se
aproveitaram do novo alto nível do governo, procurando medir forças ao virem à tona seus antigos
ódios. As reminiscências do coronelismo político no Ceará, não obstante o esforço de seus
governantes, sempre se manifestaram com relativa facilidade, e o Presidente Justiniano de Serpa
foi uma vítima do próprio desconhecimentos dessas virulentas manifestações do patriarcalismo
rural.

Afirma ainda que ele “desenvolveu esforços para aproximar as duas facções do antigo
Partido Conservador – acionista e marretas -, e soube conclamar e dirigir o situacionismo
cearense, face a sucessão presidencial, tudo fazendo para a vitória alcançada pelos candidatos
Arthur as Silva Bernardes e Urbano Santos da Costa Araújo, como sucessores do notável
presidente Epitácio Pessoa”. Garante também que Justiniano de Serpa até foi lembrado para a
vice-presidência da República, pois Bernardes queria contemplar em sua chapa um nome
nordestino. No entanto outras forças políticas optaram por Urbano Santos.

Parsifal Barroso refere-se finalmente à “honradez do Presidente configurada na


pobreza final de sua benemérita vida”. Depois de sua morte, conta que a família ficou em estado
de penúria, e as contas dos médicos que o trataram somente vieram a ser resgatadas pelo seu
sucessor, o Presidente Ildefonso Albano. O governador Serpa, não há que negar, abriu um hiato
promissor na história política do Ceará, através de várias iniciativas inovadoras e mordenizadoras.
Pena é que Justiniano somente tenha podido servir ao Ceará, já no fim de sua laboriosa vida, mas
ainda assim muito fez pela gente cearense”.

Raimundo Girão, em “pequena história do Ceará”, qualifica de governo-marco o de


Justiniano, “verdadeiro primado da inteligência e das renovações democráticas”. E demonstra com
exemplos tal opinião: “A reforma da Constituição Estadual, com a proibição das reeleições
remuneradas – são bem o traço do espírito liberal do governante inspirador direto daquela reforma,
estratificada na nova Carta de 4 de novembro de 1921. Complementando-a promulgou a Lei de
organização judiciária e os Códigos de Processo Civil e Processo Criminal”. E continua: - A
constituição pública é outro índice da sua visão arejada , pondo rigorosamente, acima das
conveniências dos partidos, os interesses do ensino primário. Chamou para reorganizá-lo um
técnico alheio a essas conveniências, o paulista professor Manuel Bergstrom Lourenço Filho, que
resolveu, de todo, velhos hábitos para instituir uma ordem de coisas menos formalísticas e
literárias, antes mais prática e coerente” - Culto e talentoso – afirma Girão – o Dr. Serpa aproximou
os intelectuais ao seu redor mecênico. No Palácio do Governo, oferecendo-lhes a estimulação
imprescindível que permitiu o reflorescer da Academia Cearense de Letras, então letárgica e muito
desfalcada de seus membros. Foi ele que oficializou a Bandeira do Ceará, com o Dec. N.º 1.971.
de 25 de agosto de 1922, valendo-se de uma idéia de comerciante João Tibúrcio Albano, que
imaginara o pavilhão cearense aproveitando as linhas do nacional.

Patrono da Academia N.º 22, AC de Letras, Justiniano (quem foi também seu
fundador, 1894) publicou diversos trabalhos, entre os quais “Oscilações” (poesia, 1883) “O nosso
meio Literário”(1896) e questões de Direito e Legislação”(1920). Na Poesia, quase sempre
condoreira, ele não obteve o mesmo sucesso de sua atuação parlamentar e governamental.
Sânzio de Azevedo, em “Literatura Cearense” (Academia Cearense de Letras, 1976), assim
manifesta sua opinião: -Justiniano de Serpa, se não poder ser considerado um poeta de fôlego de
vôo alto ( ele mesmo renegaria sua obra poética), era excelente orador, o que em matéria de
poesia condoreira, quase equivalia à mesma coisa, já que o objetivo primordial era atingir à
eloqüência a fim de arrebatar os auditórios.

O poema “Bravos, por exemplo foi dedicado especialmente à sociedade das


Cearenses Libertadoras, entidade que se batia pela libertação dos escravos, reunindo nomes do
porte de Maria Tomásia. Este trabalho poético foi declamado em praça pública, sob aplausos e
delírio do povo.

Em 12 de junho de 1923, devido a problemas com a saúde, transferi o governador


Ildefonso Albano, primeiro vice-presidente do Estado. No Rio de Janeiro, depois de muito padecer,
Justiniano de Serpa morreu em 1º de agosto de 1923. Em homenagem foi erguido um busto em
bronze na praça Figueira de Melo. E a Escola Normal recebeu o nome do homem de origem
simples que atingiu o mais alto posto do Estado vencendo os obstáculos da miséria e as tradição
política da famílias cearenses

2.5. Rodolfo Teófilo


Nasceu na Bahia em 6 de maio de 1853, batizou-se na Igreja do Rosário em 11 de
outubro. Filho do Médico Marco José Teófilo e Antônia Josefina Sarmento Teófilo; iniciou o curso
de medicina na Bahia, abandonando-o volta para Fortaleza onde montou uma Farmácia. Homem
forte, reto e combativo, político, cronista histórico, romancista regionalista e poeta. Entre suas
obras estão: poesias, crônicas, história, ciência, ficção e diversas outras; participou da campanha
de vacinação no inicio do século XX, aplicando a vacina contra varíola fabricada por ele a partir do
aprendizado feito em Salvador e utilizando os bezerros de sua fazenda em Pajuçara. Farmacêutico
formado, ele praticamente sozinho, sem apoio de nenhum governo ou instituição, vacinou boa
parte da população de Fortaleza contra a varíola a partir do ano de 1904, erradicando a doença da
cidade, na época com mais de setenta mil habitantes. Pertenceu ao Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro, ao Instituto do Ceará e a Academia Cearense de Letras na qual é Patrono da Cadeira
N.11 33. Em 1883, recebeu do Imperador D. Pedro 11 o Diploma da Ordem da Rosa pelos
relevantes serviços prestados à humanidade. Faleceu a dois de julho de 1932 em Fortaleza na sua
casa no Boulevard do Cauípe, hoje Avenida da Universidade. Era casado com Antônia Cabral de
Melo, filha do Comendador Antônio Cabral de Melo e Henriqueta Hermínia, não tiveram filhos. Hoje
é nome de um bairro em Fortaleza. Sua casa foi demolida em 1985 para dar lugar a um prédio de
apartamentos.

3. GÊNEROS LITERÁRIOS
3. 1. Gênero lírico
O gênero lírico caracteriza-se pela existência de uma "VOZ LÍRICA" (eu-lírico ou
sujeito lírico) que expressa suas emoções ou reflexões pessoais.

No gênero lírico, predomina o tempo presente. O sujeito lírico procura expressar com
palavras o que está sentindo ou pensando naquele exato momento.

No gênero lírico, o mundo focalizado é o mundo interior, subjetivo, o mundo das


emoções pessoais.

Também caracteriza o gênero lírico um trabalho artístico com as palavras mais


acentuado por parte do poeta. A seleção cuidadosa das palavras e sua organização no texto
privilegiam efeitos sonoros, rítmicos e semânticos, em detrimento da seqüência ou organização
lógica das idéias.

3.2. Gênero narrativo


O gênero narrativo caracteriza-se pela existência de um "NARRADOR" que conta
"estórias" ocorridas no mundo concreto com ele e/ou outros personagens.

No gênero narrativo, predomina o tempo passado. O narrador só pode narrar uma


ação que já tenha ocorrido.

No gênero narrativo, o mundo focalizado é o mundo externo, objetivo, o mundo das


ações concretas.

Os principais elementos da narrativa são:

3.2.1. Narrador
O narrador é aquele encarregado de relatar as ações ao leitor. Ele pode ser do tipo
participante ou personagem (1ª pessoa), quando narra ações das quais ele também participa, ou
pode ser do tipo não participante ou externo (3ª pessoa), quando narra ações de outras
personagens, sem sua participação efetiva nos fatos. O narrador, de acordo com a visão que
apresenta dos fatos, pode ainda ser classificado como observador (quando se limita a narrar fatos
ou conclusões extraídas a partir de uma observação externa das personagens e das ações) ou
onisciente (quando penetra no mundo subjetivo das personagens ou narra fatos que não poderia
saber pela simples observação externa).

3.2.2. Ações
São os fatos ou acontecimentos do mundo objetivo que compõem uma narração.

3.2.3. Personagens
São os agentes e/ou pacientes das ações narradas. Dividem-se em personagens
principais (quando estão mais presentes na narrativa, caracterizando o núcleo central da trama) e
personagens secundárias (cuja participação na trama é menos constante ou efetiva).

3.2.4 Espaço
É o local físico onde se desenvolvem as ações das personagens. (OBS: Existe um tipo
de narrativa chamada de psicológica, onde o espaço principal não é físico, mas constituído pelo
mundo subjetivo do narrador. Nesse caso, dizemos que predomina o espaço psicológico.)
3.2.5 Tempo
Como já foi observado, o tempo da narrativa é sempre o passado em relação ao
narrador. Mas existe ainda o tempo de duração das ações cometidas ou sofridas pelas
personagens, que é chamado de tempo cronológico. (tempo medido pelo relógio) Nem sempre é
possível determinar com exatidão o tempo de duração das ações de uma narrativa. Quando o
narrador privilegia uma narrativa psicológica, podemos ter ,como tempo predominante, o tempo
psicológico.

3.3 Gênero dramático


Nos textos pertencentes ao gênero dramático não existe um narrador, como no
gênero narrativo, ou um sujeito lírico, como no gênero lírico. Essas funções são assumidas pelas
personagens que representam, encenam, dramatizam suas ações e emoções. Na verdade, o texto
dramático não é produzido para a simples leitura, mas para a dramatização em um palco, onde
atores representam as personagens e seus dramas. Em termos práticos, o gênero dramático se
caracteriza pela sua estrutura em forma de diálogo entre as personagens.

Observação 1: Geralmente, os textos apresentam características dos três gêneros


literários e a sua classificação se faz pela característica predominante. Na literatura moderna, a
mistura de gêneros é muito comum. Um exemplo disso são os textos de Guimarães Rosa, onde a
mistura de características do gênero narrativo com características do gênero lírico é tão acentuada
que a crítica literária os classifica de "prosa poética".

Observação 2: Alguns autores ainda consideram a existência de um quarto gênero


literário, o épico. Na verdade, o gênero épico caiu em desuso na modernidade. Ele foi muito usado
na literatura clássica antiga e renascentista e se caracteriza como uma narrativa feita em versos
(geralmente com métrica e rima regulares) de aventuras grandiosas envolvendo os deuses da
mitologia greco-romana e heróis poderosos. O maior exemplo de obra pertencente a este gênero
em língua portuguesa é "Os Lusíadas", de Luís de Camões.

Este texto foi produzido com o objetivo específico de fornecer um painel esquemático
e simplificado dos gêneros literários para alunos de cursos pré-vestibulares. Sendo assim, apenas
os aspectos mais relevantes para esse objetivo foram abordados. (Prof. Altemir)
Literatura Brasileira
Movimento literário que se desenvolve na poesia no século XVIII, de acordo com os
princípios neoclássicos. Numa época marcada pelo racionalismo e pela visão científica do mundo
inaugurada pelo iluminismo, o arcadismo defende uma literatura mais simples, objetiva, descritiva e
espontânea, que se opõe à emoção, à religiosidade e ao exagero do barroco, considerado confuso
e rebuscado. A idéia de que toda beleza está na natureza e a idealização da vida no campo e do
homem simples fazem do arcadismo um movimento nostálgico diante da revolução industrial e da
urbanização que começam a acontecer em parte da Europa.

O nome do movimento deve-se a um grupo que em 1690 funda em Roma uma


sociedade literária batizada de Arcádia e chama seus integrantes de pastores. Na mitologia grega,
Arcádia é uma região onde poetas e pastores vivem de amor e poesia. Em 1756 surge a Arcádia
Lusitana, em Portugal, inspirada na de Roma.O autor de maior destaque é Manuel Maria Barbosa
du Bocage (1765-1805).

Os poemas árcades exibem linguagem clara e seguem métricas definidas. São


comuns estruturas populares como os rondós, os madrigais e as redondilhas maior e menor. Na
temática predominam os temas bucólicos e amorosos.

1. ARCADISMO NO BRASIL
Com o arcadismo desenvolve-se no país a primeira produção literária adaptada à
realidade brasileira. A literatura começa a afastar-se dos modelos portugueses, ao descrever as
paisagens locais e criticar a situação política do país. Surgem vários autores em Vila Rica, Minas
Gerais, capital cultural e centro de riqueza na época. Grande parte dos escritores está ligada à
Inconfidência Mineira. Embora não cheguem a criar um grupo nos moldes das Arcádias,
constituem a primeira geração literária brasileira.

A transição do barroco para o arcadismo no país se dá com a publicação, em 1768, do


livro Obras Poéticas, de Cláudio Manuel da Costa (1729-1789). Entre os árcades destacam-se,
ainda, o português que vive no Brasil Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810), autor de Marília de
Dirceu e Cartas Chilenas; Basílio da Gama (1741-1795), autor de O Uraguai; e Silva Alvarenga
(1749-1814), autor de Glaura. Apesar do engajamento pessoal, a produção literária desses autores
não está a serviço da política. O gênero predomina até o início do século XIX, quando surge o
romantismo.

1.1 Renascimento
Explosão de criações artísticas, literárias e científicas inspiradas na Antiguidade
Clássica greco-romana, por isso chamada Renascimento. Marca a Europa de 1330 a 1530 e tem
como centro irradiador a Itália. O homem renascentista acredita que tudo se explica pela razão e
pela ciência. Traço marcante do Renascimento, o humanismo tem por base o neoplatonismo, que
exalta os valores humanos e dá nova dimensão ao homem. Choca-se, assim, com os dogmas e
proibições da Igreja Católica, critica o mundo medieval e enfrenta a Inquisição . A concentração de
riqueza nas mãos de comerciantes e banqueiros faz com que burgueses, como os Medici de
Florença, se tornem grandes mecenas. O movimento expande-se a partir de 1460, com a fundação
de academias, bibliotecas e teatros em Roma, Florença, Nápoles, Paris e Londres.

O racionalismo e a preocupação com o homem e a natureza estimulam a pesquisa


científica. O polonês Nicolau Copérnico (1473-1543) fundamenta a tese do Sol como centro do
Universo. Paracelso (1493-1541), da Suíça, estuda as drogas medicinais . O médico inglês William
Harvey (1578-1657) revela o mecanismo completo da circulação sanguínea. O alemão Johannes
Kepler (1571-1630) aperfeiçoa o telescópio. O italiano Galileu Galilei (1564-1642) desenvolve
métodos científicos de análise e comprovação experimental. A pólvora começa a ser usada como
arma de guerra. A imprensa de letras metálicas móveis é inventada em 1448 pelo alemão Johann
Gutenberg (1400-1468).

1.2. Literatura no Brasil


As primeiras manifestações das letras no Brasil colonial são textos informativos, que
visam a conquista do território e a expansão da fé católica. Dependente de Portugal, esse tipo de
literatura inicia-se em 1500, com a Carta de Pero Vaz de Caminha (1450-1500) sobre a terra
recém-descoberta. Seguem-se os tratados dos cronistas portugueses, como Pero de Magalhães
Gandavo, autor de Tratado da Terra do Brasil, e Gabriel Soares de Sousa (1540?-1591), de
Tratado Descritivo do Brasil. Entre os poemas, sermões e peças religiosas escritos pelos jesuítas
para a catequese dos índios, a partir de 1549, destacam-se os textos dos padres José de Anchieta
(1534-1597), autor de “Poema à Virgem”, e Manuel da Nóbrega (1517-1570), que escreve Diálogo
sobre a Conversão do Gentio.

1.2.1 Barroco
O marco inicial do barroco no Brasil é a publicação, em 1601, de Prosopopéia, poema
épico de Bento Teixeira (1561-1600) sobre a conquista de Pernambuco. Destacam-se também os
sermões, como os do padre Antônio Vieira (1608-1697). Poemas de Manuel Botelho de Oliveira
(1636-1711) e do frei Manuel de Santa Maria Itaparica (1704-1768) celebram as belezas e os
recursos naturais da colônia. A obra do poeta baiano Gregório de Matos (1636?-1696), que vai do
religioso ao satírico e ao erótico, é a mais importante produzida no Brasil no período.

No início do século XVIII, as academias difundem o gosto pelas letras e realizam


trabalhos de pesquisa histórica. As mais importantes são a dos Esquecidos, em Salvador
(1724/25), e as dos Felizes (1736-1740) e dos Seletos (1752-1754), no Rio de Janeiro.

1.2.2 Arcadismo

Em 1768, a publicação de Obras Poéticas, de Cláudio Manuel da Costa (1729-1789),


é considerada o marco inicial do arcadismo. O movimento tenta adequar as propostas do
neoclassicismo europeu às condições de vida brasileira e produz uma poesia lírica e bucólica. Um
dos principais nomes é Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810), autor de Marília de Dirceu e Cartas
Chilenas.

1.2.3. Romantismo
O marco inicial do romantismo brasileiro é a publicação de Suspiros Poéticos e
Saudades (1836), de Gonçalves de Magalhães (1811-1882). O movimento, de caráter nacionalista,
valoriza a natureza, a história e a língua brasileiras. O ideal da pureza amorosa é contraposto às
convenções sociais. O primeiro grande romântico brasileiro é Gonçalves Dias (1823-1864). No
poema I-Juca Pirama, inova ao substituir o ancestral português pelo índio. Álvares de Azevedo
(1831-1852), autor de Lira dos Vinte Anos, é um dos representantes do ultra-romantismo,
caracterizado pela poesia egocêntrica, sentimental e pessimista. Na prosa, destacam-se Joaquim
Manuel de Macedo (1820-1882), autor de A Moreninha, e José de Alencar (1829-1877). Em sua
obra trata da temática indianista (O Guarani e Iracema ), urbana (Lucíola) e regionalista (O
Gaúcho). A poesia social é praticada por Castro Alves (1847-1871), autor de O Navio Negreiro e
Espumas Flutuantes, de inspiração abolicionista, e por Sousândrade (1833-1902), autor do Guesa.
O anti-sentimentalismo e o estilo irônico aparecem em Manuel Antônio de Almeida (1831-1861),
que escreve Memórias de um Sargento de Milícias. Bernardo Guimarães (1825-1884), autor de A
Escrava Isaura, e Alfredo de Taunay (1843-1899), de Inocência, orientam-se para o regionalismo,
que enfoca costumes e tradições do interior brasileiro.

1.2.4. Realismo
As transformações político-sociais do 2º Reinado, o desenvolvimento das cidades e o
crescimento da população urbana impulsionam a crise do romantismo. Considerado o marco inicial
do realismo brasileiro, Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), de Machado de Assis (1839-
1908), faz uma análise crítica da sociedade da época. Na linha de indagação psicológica está O
Ateneu (1888), de Raul Pompéia (1863-1895), que trata do relacionamento entre alunos e
professores num repressivo colégio interno. Sob a influência do naturalismo, que considera o
comportamento humano o resultado da influência da hereditariedade e do meio ambiente, Aluísio
Azevedo (1857-1913) escreve O Cortiço (1890).

1.2.5. Parnasianismo
Ao rejeitar o sentimentalismo romântico e as preocupações sociais, o parnasianismo
propõe uma poesia de preocupação formal. Alberto de Oliveira (1857-1937), autor de Meridionais,
e Raimundo Correa (1859-1911), de Sinfonias, buscam correção métrica, vocabulário raro e rimas
exóticas. A obra de Olavo Bilac (1865-1918), autor de Via Láctea, é a mais representativa do
movimento.

1.2.6. Simbolismo
A publicação de Broquéis e Missal (1893), de Cruz e Sousa (1861-1898), inaugura o
simbolismo, que se caracteriza por uma poesia mística, espiritual, e pela preferência por ritmos
musicais. Destacam-se os poetas Alphonsus de Guimaraens (1870-1921), autor de Câmara
Ardente, e Augusto dos Anjos (1884-1914), que trabalha a temática da morte e da decomposição
da matéria.

1.2.7. Pré-modernismo
No início do século XX, fase de consolidação da república e de expansão cultural,
alguns escritores passam a expressar uma visão crítica dos problemas socioeconômicos
brasileiros e antecipam uma das tendências mais marcantes do modernismo. Por essa razão, são
considerados pré-modernos. Lima Barreto (1881-1922) faz uma caricatura do nacionalismo e da
pobreza dos subúrbios cariocas. Euclides da Cunha (1866-1909), em Os Sertões , revela a
situação miserável do sertanejo nordestino. Monteiro Lobato (1882-1948), além de ficção (Urupês)
e ensaios, escreve o ciclo do Sítio do Pica-Pau Amarelo , o maior conjunto de literatura infantil já
escrito no Brasil.

1.2.8. Modernismo
No Brasil, o termo identifica o movimento desencadeado pela Semana de Arte
Moderna de 1922. Em 13, 15 e 17 de fevereiro daquele ano, conferências, recitais de música,
coreografias, declamações de poesia e exposição de quadros, realizados no Teatro Municipal de
São Paulo, apresentam ao público as novas tendências da arte e da literatura do país. Os
idealizadores da Semana rejeitam a arte do século XIX e as influências estrangeiras do passado.
Defendem a absorção de algumas tendências estéticas internacionais para que elas se mesclem
com a cultura nacional, originando uma arte vinculada à realidade brasileira. O evento escandaliza
público e críticos.

A partir da Semana de Arte Moderna surgem vários grupos e movimentos,


radicalizando ou opondo-se a seus princípios básicos. O escritor Oswald de Andrade (1890-1954)
e a artista plástica Tarsila do Amaral (1886-1973) lançam em 1924 o Manifesto Pau-Brasil, que
enfatiza a necessidade de criar uma arte baseada nas características do povo brasileiro, com
absorção crítica da modernidade européia. Em 1928, eles levam ao extremo essas idéias com o
Manifesto Antropofágico, que propõe “devorar” influências e valores estrangeiros para impor o
caráter brasileiro à arte e à Literatura. No mesmo ano, como efeito das idéias modernistas, o
sociólogo e escritor Gilberto Freyre (1900-1987) lança o Manifesto Regionalista. Por outro caminho,
politicamente mais conservador, segue o grupo da Anta, liderado pelo escritor Menotti del Picchia
(1892-1988) e pelo poeta Cassiano Ricardo (1895-1974). Num movimento chamado de verde-
amarelismo, fecham-se às vanguardas européias e aderem a idéias políticas que prenunciam o
integralismo , versão brasileira do fascismo.

A divulgação das teorias vanguardistas européias é feita, em 1922, pela Semana de


Arte Moderna, marco inicial do modernismo brasileiro. Esta fase representa uma ruptura com o
passado literário parnasiano e um resgate de tradições tipicamente brasileiras.

Com a chamada Geração de 22, instalam-se, na literatura brasileira, o verso livre, a


prosa experimental e uma exploração criativa do folclore, da tradição oral e da linguagem coloquial.
Os principais autores são Mário de Andrade (1893-1945) , que escreve Paulicéia Desvairada e
Macunaíma , Oswald de Andrade (1890-1954), autor de Memórias Sentimentais de João Miramar,
e Manuel Bandeira (1886-1968), de Ritmo Dissoluto. A esse núcleo juntam-se, a partir de 1930,
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) , autor de Alguma Poesia , Mário Quintana (1906-) , de
A Rua do Catavento , e Jorge de Lima (1895-1953), de Poemas Negros, entre outros.

Posteriormente, com a geração que surge em 30, há uma fase de grande tensão
ideológica e de abordagem da Literatura como instrumento de conhecimento e modificação da
realidade. O regionalismo amplia sua temática. Paisagens e personagens são regionais, mas são
usados para abordar assuntos de interesse universal. Surgem novos nomes, como José Américo
de Almeida , (1887-1980) autor de A Bagaceira , Érico Verissimo (1905-1975), da trilogia O Tempo
e o Vento, Jorge Amado (1912-), de Capitães da Areia , Rachel de Queiroz (1910-) , autora de O
Quinze, José Lins do Rego (1901-1957), de Menino de Engenho, e Graciliano Ramos (1892-1953),
que escreve São Bernardo e Vidas Secas. Numa linha mais intimista estão poetas como Cecília
Meireles (1901-1964), autora de Vaga Música, Vinícius de Moraes (1913-1980) , de Poemas,
Sonetos e Baladas , Augusto Frederico Schmidt (1906-1995), de Desaparição da Amada, e
Henriqueta Lisboa (1904-1985), que escreve A Face Lívida.

Em reação à politização da fase anterior, os poetas da geração de 45 recuperam o


parnasianismo, como Lêdo Ivo (1924-), autor de Acontecimento do Soneto. João Cabral de Melo
Neto (1920-) , de Morte e Vida Severina, destaca-se pela inventividade verbal e pelo engajamento
político. Na prosa, os nomes mais importantes são Guimarães Rosa (1908-1967) , autor de
Sagarana e Grande Sertão: Veredas , e Clarice Lispector (1920-1977), de Perto do Coração
Selvagem. de Barros (1916-).

2. BIOGRAFIAS DE AUTORES
2.1. Adolfo Caminha
Adolfo Caminha (1867-1897) foi um dos poucos escritores naturalistas brasileiros.
Órfão de mãe aos 10 anos, muda-se para o RJ onde passa a residir com um tio materno. Aos 13
matricula-se na escola naval, de onde sai guarda-marinha em 1885. Passa a viajar na Marinha e
em 1888 serve no Ceará, onde ajuda a fundar o Centro Republicano e participa da vida intelectual
da cidade. Nesse ano e no seguinte é envolvido num escândalo de adultério e é expulso da
Armada. Retira-se da vida social, mas continua a participar da vida literária. Em 1891 muda-se
para o RJ, onde se dedica ao jornalismo e literatura, escrevendo algumas das obras-primas do
Naturalismo como A Normalista e Bom-Crioulo.

"Seguia-se o terceiro preso, um latagão de negro, muito alto e corpulento, figura


colossal de cafre, desafiando, com um formidável sistema de músculos , a morbidez patológica de
toda uma geração decadente e enervada, e cuja presença ali, naquela ocasião, despertava grande
interesse e viva curiosidade: era o Amaro, gajeiro da proa, - o Bom-Crioulo na gíria de bordo."
Bom-Crioulo

"Aleixo passava nos braços de dois marinheiros, levado como um fardo, o corpo mole,
a cabeça pendida para trás, roxo, os olhos imóveis, a boca entreaberta. O azul-escuro da camisa e
a calça branca tinham grandes nódoas vermelhas. O pescoço estava envolvido num chumaço de
panos. Os braços caíam-lhe, sem vida, inertes, bambos, numa frouxidão de membros mutilados."
Bom-Crioulo

2.2. Aluísio de Azevedo


Aluísio Trancredo Gonçalves de Azevedo nasceu em são Luís (MA) no ano de 1857,e
morreu em Buenos Aires, onde exercia o cargo de agente consular, e 1913.
Obrigado por razões econômicas a escrever sob encomenda, foi um dos poucos
escritores que viveu apenas de sua produção literária, durante vários anos. Sua obra é numerosa
(compreende mais de 10 romances, peças de teatro, contos e artigos de jornais), porém é bastante
irregular quanto ao valor.

É considerado o escritor mais tipicamente naturalista de nossa literatura, destacando-


se, de toda sua obra, os romances O mulato (1881), Casa de pensão(1884) e O cortiço (1890).

A presença marcante das idéias científicas da época a respeito da influência decisiva


da hereditariedade e do meio ambiente no comportamento humano, tornando o homem um produto
direto de sua constituição psicofisiológica e das pressões sociais, caracteriza as obras de Aluísio
Azevedo.

Revelando influências do escritor português Eça de Queirós, Aluísio Azevedo assume


um pocição crítica de denúncia à corrupção moral e à hipocrisia da burguesia e do clero,
chamando a atenção para problemas sociais, numa atitude polêmica, bem ao molde do espirito
combativo da época.

2.3. José de Alencar


Escritor cearense (1829-1877). José Martiniano de Alencar é um dos principais
autores de romances regionalistas brasileiros. Entre 1845 e 1850, cursa Direito em São Paulo e
Olinda. Ainda estudante, publica os primeiros trabalhos literários na revista Ensaios Literários
(1847/48). Nesse período, escreve uma novela histórica, Os Contrabandistas, queimada por
brincadeira por um companheiro de quarto. Trabalha como advogado e jornalista. Em 1854,
escreve crônicas no Correio Mercantil e é redator no Diário do Rio de Janeiro. No Diário, envolve-
se em polêmicas sobre a língua portuguesa e lança os primeiros “romancetes” – Cinco Minutos
(1856) e A Viuvinha (1857) –, pequenos romances publicados em capítulos no jornal. Torna-se
famoso com O Guarani, também de 1857. Entre 1861 e 1877, é eleito deputado geral pelo Ceará
por quatro legislaturas. Ocupa a Pasta da Justiça no ministério conservador do Visconde de
Itaboraí (1868-1870). Escreve cerca de oito peças de teatro e 20 romances. Entre os históricos
estão O Guarani, Iracema (1865) e A Guerra dos Mascates (1873). A obra regionalista inclui O
Gaúcho (1870) e O Sertanejo (1875). O principal marco dos romances de temática urbana é
Senhora (1875). Em 1877, viaja à Europa para se tratar de tuberculose, mas morre da doença no
mesmo ano, no Rio de Janeiro.

2.4. Justiniano de Serpa


A pobre criança que tangia para abastecer os mercados de fortaleza, como forma de
ajudar o pai no sustento da família, talvez como sonhasse que um dia poderia exercer importante
papel na política cearense. Apesar de origem humilde, Justiniano de Serpa conseguiu forma-se em
Direito, destacar-se como orador nos movimentos abolicionista e republicano, ser eleito deputado
federal e nomeado governador do Ceará para o período de 1920 a 1924. Durante seu governo
(mais democrático do que os movimentos anteriores), deu especial atenção ao problema
educacional e incentivou as manifestações artísticas/intelectuais, sendo responsável pelo
reflorescimento da Academia Cearense de letras.

Desde a infância, Justiniano de Serpa teve a vida marcada pela miséria e luta pela
sobrevivência. Nascido em Aquiraz, em 6 de janeiro de 1852, começou bem cedo a ajudar o pai no
trabalho diário, tangendo animais de carga para abastecimentos mercados de Fortaleza e
Cascavel. Enquanto seguias pelas trilhas montado em jumento, procurava sempre estudar a
cartilha, onde aprendeu a ler. Desta forma, ao transferir-se para a capital do Estado, já tinha
alguma instrução, adquirida a duras penas.

O filho de Manuel da Costa Marçal começou a desenvolver suas aptidões na imprensa


local, demonstrando vocação para ofício. Seguindo a maioria dos que desejavam aprimorar-se no
conhecimento acadêmico matriculou-se na Faculdade de Direito de Recife, onde se bacharelou em
1888. Na época, Justiniano de Serpa já tinha sido eleito deputado do Ceará pelo partido
conservador, em mais de uma legislatura, no período de 1882 a 1889. A sua fama foi resultado da
participação no movimento abolicionista e depois republicano, quando a sociedade cearense não
mais permitia a exploração violenta dos negros.

Em 1886, decidiu-se afastar-se da política local, transferindo-se para Manaus,


prosseguindo as atividades jornalísticas nas publicações “Rio Negro” e “Federação”. Professor de
Liceu, diretor da biblioteca da Amazonas, Procurador da República, Justiniano de Serpa demostrou
a mesma disposição para o trabalho em terra estranha. Dois anos depois, passou a morar em
Belém. Nesta cidade, continuou no magistério e na advocacia. Vice-diretor da Faculdade de Direito
do Pará, foi eleito deputado federal em 1906, tendo mandado renovado até 1919. Neste ano foi
indicado para substituir, no governo do Ceará, João Tomé.

Justiniano de Serpa, como deputado federal pelo Pará, projetou-se ainda mais. Desta
vez, em termos nacionais. Isto devido ao trabalho como jurista, desenvolvido quando presidia a
Comissão dos 21, responsável pela elaboração do Código civil Brasileiro, baseando no projeto de
Clóvis Beviláqua. No contato diário como políticos e governantes, acumulou amizades que
ajudaram a ascensão ao governo cearense. Parsifal Barroso, no livro “Uma história político do
Ceará. – 1889-1954”(edições BNB, 1984), lembra a ajuda recebida:
Antônio Carlos Ribeiro de Andrada e Epitácio Pessoa se tornaram seus grandes e
veros admiradores a esse tempo, e quando o admirável paraibano foi alçado à Presidência da
República, a permanente crise da política cearense facilitou a preferência do nome do jurista
Justiniano de Serpa, para sucessão do presidente João Tomé de Sabóia e Silva. Parsifal Barroso
diz que Justiniano de Serpa era orador influente, que através do improviso conquistava a
admiração pública: “Ao longo de sua vida, respeitado governador cearense demonstrou
crescentemente se dotado de extraordinário poder de vontade, fator principal de suas vitórias
político-partidárias, pois teve de enfrentar uma forte oposição, chefiada pelo admirável homem
público que foi o Senador Manoel do Nascimento Fernandes Távora”. Observa que ao assumir o
governador do Ceará, em 12 de julho de 1920, encontrou o Estado sofrendo ainda das
conseqüências da seca o ano anterior, apesar dos efeitos terem sido atenuados pela primeira vez,
graças à obras federais determinadas por Epitácio Pessoa.

Há uma particularidade – ressalta Parsifal Barroso – que marca o governo Serpa,


através de uma série de atentados e crimes políticos, ocorridos notadamente em Lavras, Aurora,
Juazeiro, Milagres, Tauá, e Quixaramubim. Parece-me que essas perturbações de ordem pública
não devem ser atribuídas à franqueza político-administrativas do Presidente Justiniano de Serpa,
mas podem ser decorrentes de anteriores dissidência entre famílias adversárias, que logo se
aproveitaram do novo alto nível do governo, procurando medir forças ao virem à tona seus antigos
ódios. As reminiscências do coronelismo político no Ceará, não obstante o esforço de seus
governantes, sempre se manifestaram com relativa facilidade, e o Presidente Justiniano de Serpa
foi uma vítima do próprio desconhecimentos dessas virulentas manifestações do patriarcalismo
rural.

Afirma ainda que ele “desenvolveu esforços para aproximar as duas facções do antigo
Partido Conservador – acionista e marretas -, e soube conclamar e dirigir o situacionismo
cearense, face a sucessão presidencial, tudo fazendo para a vitória alcançada pelos candidatos
Arthur as Silva Bernardes e Urbano Santos da Costa Araújo, como sucessores do notável
presidente Epitácio Pessoa”. Garante também que Justiniano de Serpa até foi lembrado para a
vice-presidência da República, pois Bernardes queria contemplar em sua chapa um nome
nordestino. No entanto outras forças políticas optaram por Urbano Santos.

Parsifal Barroso refere-se finalmente à “honradez do Presidente configurada na


pobreza final de sua benemérita vida”. Depois de sua morte, conta que a família ficou em estado
de penúria, e as contas dos médicos que o trataram somente vieram a ser resgatadas pelo seu
sucessor, o Presidente Ildefonso Albano. O governador Serpa, não há que negar, abriu um hiato
promissor na história política do Ceará, através de várias iniciativas inovadoras e mordenizadoras.
Pena é que Justiniano somente tenha podido servir ao Ceará, já no fim de sua laboriosa vida, mas
ainda assim muito fez pela gente cearense”.

Raimundo Girão, em “pequena história do Ceará”, qualifica de governo-marco o de


Justiniano, “verdadeiro primado da inteligência e das renovações democráticas”. E demonstra com
exemplos tal opinião: “A reforma da Constituição Estadual, com a proibição das reeleições
remuneradas – são bem o traço do espírito liberal do governante inspirador direto daquela reforma,
estratificada na nova Carta de 4 de novembro de 1921. Complementando-a promulgou a Lei de
organização judiciária e os Códigos de Processo Civil e Processo Criminal”. E continua: - A
constituição pública é outro índice da sua visão arejada , pondo rigorosamente, acima das
conveniências dos partidos, os interesses do ensino primário. Chamou para reorganizá-lo um
técnico alheio a essas conveniências, o paulista professor Manuel Bergstrom Lourenço Filho, que
resolveu, de todo, velhos hábitos para instituir uma ordem de coisas menos formalísticas e
literárias, antes mais prática e coerente” - Culto e talentoso – afirma Girão – o Dr. Serpa aproximou
os intelectuais ao seu redor mecênico. No Palácio do Governo, oferecendo-lhes a estimulação
imprescindível que permitiu o reflorescer da Academia Cearense de Letras, então letárgica e muito
desfalcada de seus membros. Foi ele que oficializou a Bandeira do Ceará, com o Dec. N.º 1.971.
de 25 de agosto de 1922, valendo-se de uma idéia de comerciante João Tibúrcio Albano, que
imaginara o pavilhão cearense aproveitando as linhas do nacional.

Patrono da Academia N.º 22, AC de Letras, Justiniano (quem foi também seu
fundador, 1894) publicou diversos trabalhos, entre os quais “Oscilações” (poesia, 1883) “O nosso
meio Literário”(1896) e questões de Direito e Legislação”(1920). Na Poesia, quase sempre
condoreira, ele não obteve o mesmo sucesso de sua atuação parlamentar e governamental.
Sânzio de Azevedo, em “Literatura Cearense” (Academia Cearense de Letras, 1976), assim
manifesta sua opinião: -Justiniano de Serpa, se não poder ser considerado um poeta de fôlego de
vôo alto ( ele mesmo renegaria sua obra poética), era excelente orador, o que em matéria de
poesia condoreira, quase equivalia à mesma coisa, já que o objetivo primordial era atingir à
eloqüência a fim de arrebatar os auditórios.

O poema “Bravos, por exemplo foi dedicado especialmente à sociedade das


Cearenses Libertadoras, entidade que se batia pela libertação dos escravos, reunindo nomes do
porte de Maria Tomásia. Este trabalho poético foi declamado em praça pública, sob aplausos e
delírio do povo.

Em 12 de junho de 1923, devido a problemas com a saúde, transferi o governador


Ildefonso Albano, primeiro vice-presidente do Estado. No Rio de Janeiro, depois de muito padecer,
Justiniano de Serpa morreu em 1º de agosto de 1923. Em homenagem foi erguido um busto em
bronze na praça Figueira de Melo. E a Escola Normal recebeu o nome do homem de origem
simples que atingiu o mais alto posto do Estado vencendo os obstáculos da miséria e as tradição
política da famílias cearenses

2.5. Rodolfo Teófilo


Nasceu na Bahia em 6 de maio de 1853, batizou-se na Igreja do Rosário em 11 de
outubro. Filho do Médico Marco José Teófilo e Antônia Josefina Sarmento Teófilo; iniciou o curso
de medicina na Bahia, abandonando-o volta para Fortaleza onde montou uma Farmácia. Homem
forte, reto e combativo, político, cronista histórico, romancista regionalista e poeta. Entre suas
obras estão: poesias, crônicas, história, ciência, ficção e diversas outras; participou da campanha
de vacinação no inicio do século XX, aplicando a vacina contra varíola fabricada por ele a partir do
aprendizado feito em Salvador e utilizando os bezerros de sua fazenda em Pajuçara. Farmacêutico
formado, ele praticamente sozinho, sem apoio de nenhum governo ou instituição, vacinou boa
parte da população de Fortaleza contra a varíola a partir do ano de 1904, erradicando a doença da
cidade, na época com mais de setenta mil habitantes. Pertenceu ao Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro, ao Instituto do Ceará e a Academia Cearense de Letras na qual é Patrono da Cadeira
N.11 33. Em 1883, recebeu do Imperador D. Pedro 11 o Diploma da Ordem da Rosa pelos
relevantes serviços prestados à humanidade. Faleceu a dois de julho de 1932 em Fortaleza na sua
casa no Boulevard do Cauípe, hoje Avenida da Universidade. Era casado com Antônia Cabral de
Melo, filha do Comendador Antônio Cabral de Melo e Henriqueta Hermínia, não tiveram filhos. Hoje
é nome de um bairro em Fortaleza. Sua casa foi demolida em 1985 para dar lugar a um prédio de
apartamentos.

3. GÊNEROS LITERÁRIOS
3. 1. Gênero lírico
O gênero lírico caracteriza-se pela existência de uma "VOZ LÍRICA" (eu-lírico ou
sujeito lírico) que expressa suas emoções ou reflexões pessoais.

No gênero lírico, predomina o tempo presente. O sujeito lírico procura expressar com
palavras o que está sentindo ou pensando naquele exato momento.

No gênero lírico, o mundo focalizado é o mundo interior, subjetivo, o mundo das


emoções pessoais.

Também caracteriza o gênero lírico um trabalho artístico com as palavras mais


acentuado por parte do poeta. A seleção cuidadosa das palavras e sua organização no texto
privilegiam efeitos sonoros, rítmicos e semânticos, em detrimento da seqüência ou organização
lógica das idéias.

3.2. Gênero narrativo


O gênero narrativo caracteriza-se pela existência de um "NARRADOR" que conta
"estórias" ocorridas no mundo concreto com ele e/ou outros personagens.

No gênero narrativo, predomina o tempo passado. O narrador só pode narrar uma


ação que já tenha ocorrido.

No gênero narrativo, o mundo focalizado é o mundo externo, objetivo, o mundo das


ações concretas.

Os principais elementos da narrativa são:

3.2.1. Narrador
O narrador é aquele encarregado de relatar as ações ao leitor. Ele pode ser do tipo
participante ou personagem (1ª pessoa), quando narra ações das quais ele também participa, ou
pode ser do tipo não participante ou externo (3ª pessoa), quando narra ações de outras
personagens, sem sua participação efetiva nos fatos. O narrador, de acordo com a visão que
apresenta dos fatos, pode ainda ser classificado como observador (quando se limita a narrar fatos
ou conclusões extraídas a partir de uma observação externa das personagens e das ações) ou
onisciente (quando penetra no mundo subjetivo das personagens ou narra fatos que não poderia
saber pela simples observação externa).

3.2.2. Ações
São os fatos ou acontecimentos do mundo objetivo que compõem uma narração.

3.2.3. Personagens
São os agentes e/ou pacientes das ações narradas. Dividem-se em personagens
principais (quando estão mais presentes na narrativa, caracterizando o núcleo central da trama) e
personagens secundárias (cuja participação na trama é menos constante ou efetiva).

3.2.4 Espaço
É o local físico onde se desenvolvem as ações das personagens. (OBS: Existe um tipo
de narrativa chamada de psicológica, onde o espaço principal não é físico, mas constituído pelo
mundo subjetivo do narrador. Nesse caso, dizemos que predomina o espaço psicológico.)
3.2.5 Tempo
Como já foi observado, o tempo da narrativa é sempre o passado em relação ao
narrador. Mas existe ainda o tempo de duração das ações cometidas ou sofridas pelas
personagens, que é chamado de tempo cronológico. (tempo medido pelo relógio) Nem sempre é
possível determinar com exatidão o tempo de duração das ações de uma narrativa. Quando o
narrador privilegia uma narrativa psicológica, podemos ter ,como tempo predominante, o tempo
psicológico.

3.3 Gênero dramático


Nos textos pertencentes ao gênero dramático não existe um narrador, como no
gênero narrativo, ou um sujeito lírico, como no gênero lírico. Essas funções são assumidas pelas
personagens que representam, encenam, dramatizam suas ações e emoções. Na verdade, o texto
dramático não é produzido para a simples leitura, mas para a dramatização em um palco, onde
atores representam as personagens e seus dramas. Em termos práticos, o gênero dramático se
caracteriza pela sua estrutura em forma de diálogo entre as personagens.

Observação 1: Geralmente, os textos apresentam características dos três gêneros


literários e a sua classificação se faz pela característica predominante. Na literatura moderna, a
mistura de gêneros é muito comum. Um exemplo disso são os textos de Guimarães Rosa, onde a
mistura de características do gênero narrativo com características do gênero lírico é tão acentuada
que a crítica literária os classifica de "prosa poética".

Observação 2: Alguns autores ainda consideram a existência de um quarto gênero


literário, o épico. Na verdade, o gênero épico caiu em desuso na modernidade. Ele foi muito usado
na literatura clássica antiga e renascentista e se caracteriza como uma narrativa feita em versos
(geralmente com métrica e rima regulares) de aventuras grandiosas envolvendo os deuses da
mitologia greco-romana e heróis poderosos. O maior exemplo de obra pertencente a este gênero
em língua portuguesa é "Os Lusíadas", de Luís de Camões.

Este texto foi produzido com o objetivo específico de fornecer um painel esquemático
e simplificado dos gêneros literários para alunos de cursos pré-vestibulares. Sendo assim, apenas
os aspectos mais relevantes para esse objetivo foram abordados. (Prof. Altemir)

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