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com a cultura nacional, originando uma arte vinculada à realidade brasileira.

O evento escandaliza
público e críticos.

A partir da Semana de Arte Moderna surgem vários grupos e movimentos,


radicalizando ou opondo-se a seus princípios básicos. O escritor Oswald de Andrade (1890-1954)
e a artista plástica Tarsila do Amaral (1886-1973) lançam em 1924 o Manifesto Pau-Brasil, que
enfatiza a necessidade de criar uma arte baseada nas características do povo brasileiro, com
absorção crítica da modernidade européia. Em 1928, eles levam ao extremo essas idéias com o
Manifesto Antropofágico, que propõe “devorar” influências e valores estrangeiros para impor o
caráter brasileiro à arte e à Literatura. No mesmo ano, como efeito das idéias modernistas, o
sociólogo e escritor Gilberto Freyre (1900-1987) lança o Manifesto Regionalista. Por outro caminho,
politicamente mais conservador, segue o grupo da Anta, liderado pelo escritor Menotti del Picchia
(1892-1988) e pelo poeta Cassiano Ricardo (1895-1974). Num movimento chamado de verde-
amarelismo, fecham-se às vanguardas européias e aderem a idéias políticas que prenunciam o
integralismo , versão brasileira do fascismo.

A divulgação das teorias vanguardistas européias é feita, em 1922, pela Semana de


Arte Moderna, marco inicial do modernismo brasileiro. Esta fase representa uma ruptura com o
passado literário parnasiano e um resgate de tradições tipicamente brasileiras.

Com a chamada Geração de 22, instalam-se, na literatura brasileira, o verso livre, a


prosa experimental e uma exploração criativa do folclore, da tradição oral e da linguagem coloquial.
Os principais autores são Mário de Andrade (1893-1945) , que escreve Paulicéia Desvairada e
Macunaíma , Oswald de Andrade (1890-1954), autor de Memórias Sentimentais de João Miramar,
e Manuel Bandeira (1886-1968), de Ritmo Dissoluto. A esse núcleo juntam-se, a partir de 1930,
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) , autor de Alguma Poesia , Mário Quintana (1906-) , de
A Rua do Catavento , e Jorge de Lima (1895-1953), de Poemas Negros, entre outros.

Posteriormente, com a geração que surge em 30, há uma fase de grande tensão
ideológica e de abordagem da Literatura como instrumento de conhecimento e modificação da
realidade. O regionalismo amplia sua temática. Paisagens e personagens são regionais, mas são
usados para abordar assuntos de interesse universal. Surgem novos nomes, como José Américo
de Almeida , (1887-1980) autor de A Bagaceira , Érico Verissimo (1905-1975), da trilogia O Tempo
e o Vento, Jorge Amado (1912-), de Capitães da Areia , Rachel de Queiroz (1910-) , autora de O
Quinze, José Lins do Rego (1901-1957), de Menino de Engenho, e Graciliano Ramos (1892-1953),
que escreve São Bernardo e Vidas Secas. Numa linha mais intimista estão poetas como Cecília
Meireles (1901-1964), autora de Vaga Música, Vinícius de Moraes (1913-1980) , de Poemas,
Sonetos e Baladas , Augusto Frederico Schmidt (1906-1995), de Desaparição da Amada, e
Henriqueta Lisboa (1904-1985), que escreve A Face Lívida.

Em reação à politização da fase anterior, os poetas da geração de 45 recuperam o


parnasianismo, como Lêdo Ivo (1924-), autor de Acontecimento do Soneto. João Cabral de Melo
Neto (1920-) , de Morte e Vida Severina, destaca-se pela inventividade verbal e pelo engajamento
político. Na prosa, os nomes mais importantes são Guimarães Rosa (1908-1967) , autor de
Sagarana e Grande Sertão: Veredas , e Clarice Lispector (1920-1977), de Perto do Coração
Selvagem. de Barros (1916-).

2. BIOGRAFIAS DE AUTORES
2.1. Adolfo Caminha
Adolfo Caminha (1867-1897) foi um dos poucos escritores naturalistas brasileiros.
Órfão de mãe aos 10 anos, muda-se para o RJ onde passa a residir com um tio materno. Aos 13
matricula-se na escola naval, de onde sai guarda-marinha em 1885. Passa a viajar na Marinha e
em 1888 serve no Ceará, onde ajuda a fundar o Centro Republicano e participa da vida intelectual
da cidade. Nesse ano e no seguinte é envolvido num escândalo de adultério e é expulso da
Armada. Retira-se da vida social, mas continua a participar da vida literária. Em 1891 muda-se
para o RJ, onde se dedica ao jornalismo e literatura, escrevendo algumas das obras-primas do
Naturalismo como A Normalista e Bom-Crioulo.

"Seguia-se o terceiro preso, um latagão de negro, muito alto e corpulento, figura


colossal de cafre, desafiando, com um formidável sistema de músculos , a morbidez patológica de
toda uma geração decadente e enervada, e cuja presença ali, naquela ocasião, despertava grande
interesse e viva curiosidade: era o Amaro, gajeiro da proa, - o Bom-Crioulo na gíria de bordo."
Bom-Crioulo

"Aleixo passava nos braços de dois marinheiros, levado como um fardo, o corpo mole,
a cabeça pendida para trás, roxo, os olhos imóveis, a boca entreaberta. O azul-escuro da camisa e
a calça branca tinham grandes nódoas vermelhas. O pescoço estava envolvido num chumaço de
panos. Os braços caíam-lhe, sem vida, inertes, bambos, numa frouxidão de membros mutilados."
Bom-Crioulo

2.2. Aluísio de Azevedo


Aluísio Trancredo Gonçalves de Azevedo nasceu em são Luís (MA) no ano de 1857,e
morreu em Buenos Aires, onde exercia o cargo de agente consular, e 1913.
Antônio Carlos Ribeiro de Andrada e Epitácio Pessoa se tornaram seus grandes e
veros admiradores a esse tempo, e quando o admirável paraibano foi alçado à Presidência da
República, a permanente crise da política cearense facilitou a preferência do nome do jurista
Justiniano de Serpa, para sucessão do presidente João Tomé de Sabóia e Silva. Parsifal Barroso
diz que Justiniano de Serpa era orador influente, que através do improviso conquistava a
admiração pública: “Ao longo de sua vida, respeitado governador cearense demonstrou
crescentemente se dotado de extraordinário poder de vontade, fator principal de suas vitórias
político-partidárias, pois teve de enfrentar uma forte oposição, chefiada pelo admirável homem
público que foi o Senador Manoel do Nascimento Fernandes Távora”. Observa que ao assumir o
governador do Ceará, em 12 de julho de 1920, encontrou o Estado sofrendo ainda das
conseqüências da seca o ano anterior, apesar dos efeitos terem sido atenuados pela primeira vez,
graças à obras federais determinadas por Epitácio Pessoa.

Há uma particularidade – ressalta Parsifal Barroso – que marca o governo Serpa,


através de uma série de atentados e crimes políticos, ocorridos notadamente em Lavras, Aurora,
Juazeiro, Milagres, Tauá, e Quixaramubim. Parece-me que essas perturbações de ordem pública
não devem ser atribuídas à franqueza político-administrativas do Presidente Justiniano de Serpa,
mas podem ser decorrentes de anteriores dissidência entre famílias adversárias, que logo se
aproveitaram do novo alto nível do governo, procurando medir forças ao virem à tona seus antigos
ódios. As reminiscências do coronelismo político no Ceará, não obstante o esforço de seus
governantes, sempre se manifestaram com relativa facilidade, e o Presidente Justiniano de Serpa
foi uma vítima do próprio desconhecimentos dessas virulentas manifestações do patriarcalismo
rural.

Afirma ainda que ele “desenvolveu esforços para aproximar as duas facções do antigo
Partido Conservador – acionista e marretas -, e soube conclamar e dirigir o situacionismo
cearense, face a sucessão presidencial, tudo fazendo para a vitória alcançada pelos candidatos
Arthur as Silva Bernardes e Urbano Santos da Costa Araújo, como sucessores do notável
presidente Epitácio Pessoa”. Garante também que Justiniano de Serpa até foi lembrado para a
vice-presidência da República, pois Bernardes queria contemplar em sua chapa um nome
nordestino. No entanto outras forças políticas optaram por Urbano Santos.

Parsifal Barroso refere-se finalmente à “honradez do Presidente configurada na


pobreza final de sua benemérita vida”. Depois de sua morte, conta que a família ficou em estado
de penúria, e as contas dos médicos que o trataram somente vieram a ser resgatadas pelo seu
sucessor, o Presidente Ildefonso Albano. O governador Serpa, não há que negar, abriu um hiato
promissor na história política do Ceará, através de várias iniciativas inovadoras e mordenizadoras.
Pena é que Justiniano somente tenha podido servir ao Ceará, já no fim de sua laboriosa vida, mas
ainda assim muito fez pela gente cearense”.

Raimundo Girão, em “pequena história do Ceará”, qualifica de governo-marco o de


Justiniano, “verdadeiro primado da inteligência e das renovações democráticas”. E demonstra com
exemplos tal opinião: “A reforma da Constituição Estadual, com a proibição das reeleições
remuneradas – são bem o traço do espírito liberal do governante inspirador direto daquela reforma,
estratificada na nova Carta de 4 de novembro de 1921. Complementando-a promulgou a Lei de
organização judiciária e os Códigos de Processo Civil e Processo Criminal”. E continua: - A
constituição pública é outro índice da sua visão arejada , pondo rigorosamente, acima das
conveniências dos partidos, os interesses do ensino primário. Chamou para reorganizá-lo um
técnico alheio a essas conveniências, o paulista professor Manuel Bergstrom Lourenço Filho, que
resolveu, de todo, velhos hábitos para instituir uma ordem de coisas menos formalísticas e
literárias, antes mais prática e coerente” - Culto e talentoso – afirma Girão – o Dr. Serpa aproximou
os intelectuais ao seu redor mecênico. No Palácio do Governo, oferecendo-lhes a estimulação
imprescindível que permitiu o reflorescer da Academia Cearense de Letras, então letárgica e muito
desfalcada de seus membros. Foi ele que oficializou a Bandeira do Ceará, com o Dec. N.º 1.971.
de 25 de agosto de 1922, valendo-se de uma idéia de comerciante João Tibúrcio Albano, que
imaginara o pavilhão cearense aproveitando as linhas do nacional.

Patrono da Academia N.º 22, AC de Letras, Justiniano (quem foi também seu
fundador, 1894) publicou diversos trabalhos, entre os quais “Oscilações” (poesia, 1883) “O nosso
meio Literário”(1896) e questões de Direito e Legislação”(1920). Na Poesia, quase sempre
condoreira, ele não obteve o mesmo sucesso de sua atuação parlamentar e governamental.
Sânzio de Azevedo, em “Literatura Cearense” (Academia Cearense de Letras, 1976), assim
manifesta sua opinião: -Justiniano de Serpa, se não poder ser considerado um poeta de fôlego de
vôo alto ( ele mesmo renegaria sua obra poética), era excelente orador, o que em matéria de
poesia condoreira, quase equivalia à mesma coisa, já que o objetivo primordial era atingir à
eloqüência a fim de arrebatar os auditórios.

O poema “Bravos, por exemplo foi dedicado especialmente à sociedade das


Cearenses Libertadoras, entidade que se batia pela libertação dos escravos, reunindo nomes do
porte de Maria Tomásia. Este trabalho poético foi declamado em praça pública, sob aplausos e
delírio do povo.

Em 12 de junho de 1923, devido a problemas com a saúde, transferi o governador


Ildefonso Albano, primeiro vice-presidente do Estado. No Rio de Janeiro, depois de muito padecer,
Justiniano de Serpa morreu em 1º de agosto de 1923. Em homenagem foi erguido um busto em
com a cultura nacional, originando uma arte vinculada à realidade brasileira. O evento escandaliza
público e críticos.

A partir da Semana de Arte Moderna surgem vários grupos e movimentos,


radicalizando ou opondo-se a seus princípios básicos. O escritor Oswald de Andrade (1890-1954)
e a artista plástica Tarsila do Amaral (1886-1973) lançam em 1924 o Manifesto Pau-Brasil, que
enfatiza a necessidade de criar uma arte baseada nas características do povo brasileiro, com
absorção crítica da modernidade européia. Em 1928, eles levam ao extremo essas idéias com o
Manifesto Antropofágico, que propõe “devorar” influências e valores estrangeiros para impor o
caráter brasileiro à arte e à Literatura. No mesmo ano, como efeito das idéias modernistas, o
sociólogo e escritor Gilberto Freyre (1900-1987) lança o Manifesto Regionalista. Por outro caminho,
politicamente mais conservador, segue o grupo da Anta, liderado pelo escritor Menotti del Picchia
(1892-1988) e pelo poeta Cassiano Ricardo (1895-1974). Num movimento chamado de verde-
amarelismo, fecham-se às vanguardas européias e aderem a idéias políticas que prenunciam o
integralismo , versão brasileira do fascismo.

A divulgação das teorias vanguardistas européias é feita, em 1922, pela Semana de


Arte Moderna, marco inicial do modernismo brasileiro. Esta fase representa uma ruptura com o
passado literário parnasiano e um resgate de tradições tipicamente brasileiras.

Com a chamada Geração de 22, instalam-se, na literatura brasileira, o verso livre, a


prosa experimental e uma exploração criativa do folclore, da tradição oral e da linguagem coloquial.
Os principais autores são Mário de Andrade (1893-1945) , que escreve Paulicéia Desvairada e
Macunaíma , Oswald de Andrade (1890-1954), autor de Memórias Sentimentais de João Miramar,
e Manuel Bandeira (1886-1968), de Ritmo Dissoluto. A esse núcleo juntam-se, a partir de 1930,
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) , autor de Alguma Poesia , Mário Quintana (1906-) , de
A Rua do Catavento , e Jorge de Lima (1895-1953), de Poemas Negros, entre outros.

Posteriormente, com a geração que surge em 30, há uma fase de grande tensão
ideológica e de abordagem da Literatura como instrumento de conhecimento e modificação da
realidade. O regionalismo amplia sua temática. Paisagens e personagens são regionais, mas são
usados para abordar assuntos de interesse universal. Surgem novos nomes, como José Américo
de Almeida , (1887-1980) autor de A Bagaceira , Érico Verissimo (1905-1975), da trilogia O Tempo
e o Vento, Jorge Amado (1912-), de Capitães da Areia , Rachel de Queiroz (1910-) , autora de O
Quinze, José Lins do Rego (1901-1957), de Menino de Engenho, e Graciliano Ramos (1892-1953),
que escreve São Bernardo e Vidas Secas. Numa linha mais intimista estão poetas como Cecília
Meireles (1901-1964), autora de Vaga Música, Vinícius de Moraes (1913-1980) , de Poemas,
Sonetos e Baladas , Augusto Frederico Schmidt (1906-1995), de Desaparição da Amada, e
Henriqueta Lisboa (1904-1985), que escreve A Face Lívida.

Em reação à politização da fase anterior, os poetas da geração de 45 recuperam o


parnasianismo, como Lêdo Ivo (1924-), autor de Acontecimento do Soneto. João Cabral de Melo
Neto (1920-) , de Morte e Vida Severina, destaca-se pela inventividade verbal e pelo engajamento
político. Na prosa, os nomes mais importantes são Guimarães Rosa (1908-1967) , autor de
Sagarana e Grande Sertão: Veredas , e Clarice Lispector (1920-1977), de Perto do Coração
Selvagem. de Barros (1916-).

2. BIOGRAFIAS DE AUTORES
2.1. Adolfo Caminha
Adolfo Caminha (1867-1897) foi um dos poucos escritores naturalistas brasileiros.
Órfão de mãe aos 10 anos, muda-se para o RJ onde passa a residir com um tio materno. Aos 13
matricula-se na escola naval, de onde sai guarda-marinha em 1885. Passa a viajar na Marinha e
em 1888 serve no Ceará, onde ajuda a fundar o Centro Republicano e participa da vida intelectual
da cidade. Nesse ano e no seguinte é envolvido num escândalo de adultério e é expulso da
Armada. Retira-se da vida social, mas continua a participar da vida literária. Em 1891 muda-se
para o RJ, onde se dedica ao jornalismo e literatura, escrevendo algumas das obras-primas do
Naturalismo como A Normalista e Bom-Crioulo.

"Seguia-se o terceiro preso, um latagão de negro, muito alto e corpulento, figura


colossal de cafre, desafiando, com um formidável sistema de músculos , a morbidez patológica de
toda uma geração decadente e enervada, e cuja presença ali, naquela ocasião, despertava grande
interesse e viva curiosidade: era o Amaro, gajeiro da proa, - o Bom-Crioulo na gíria de bordo."
Bom-Crioulo

"Aleixo passava nos braços de dois marinheiros, levado como um fardo, o corpo mole,
a cabeça pendida para trás, roxo, os olhos imóveis, a boca entreaberta. O azul-escuro da camisa e
a calça branca tinham grandes nódoas vermelhas. O pescoço estava envolvido num chumaço de
panos. Os braços caíam-lhe, sem vida, inertes, bambos, numa frouxidão de membros mutilados."
Bom-Crioulo

2.2. Aluísio de Azevedo


Aluísio Trancredo Gonçalves de Azevedo nasceu em são Luís (MA) no ano de 1857,e
morreu em Buenos Aires, onde exercia o cargo de agente consular, e 1913.
Antônio Carlos Ribeiro de Andrada e Epitácio Pessoa se tornaram seus grandes e
veros admiradores a esse tempo, e quando o admirável paraibano foi alçado à Presidência da
República, a permanente crise da política cearense facilitou a preferência do nome do jurista
Justiniano de Serpa, para sucessão do presidente João Tomé de Sabóia e Silva. Parsifal Barroso
diz que Justiniano de Serpa era orador influente, que através do improviso conquistava a
admiração pública: “Ao longo de sua vida, respeitado governador cearense demonstrou
crescentemente se dotado de extraordinário poder de vontade, fator principal de suas vitórias
político-partidárias, pois teve de enfrentar uma forte oposição, chefiada pelo admirável homem
público que foi o Senador Manoel do Nascimento Fernandes Távora”. Observa que ao assumir o
governador do Ceará, em 12 de julho de 1920, encontrou o Estado sofrendo ainda das
conseqüências da seca o ano anterior, apesar dos efeitos terem sido atenuados pela primeira vez,
graças à obras federais determinadas por Epitácio Pessoa.

Há uma particularidade – ressalta Parsifal Barroso – que marca o governo Serpa,


através de uma série de atentados e crimes políticos, ocorridos notadamente em Lavras, Aurora,
Juazeiro, Milagres, Tauá, e Quixaramubim. Parece-me que essas perturbações de ordem pública
não devem ser atribuídas à franqueza político-administrativas do Presidente Justiniano de Serpa,
mas podem ser decorrentes de anteriores dissidência entre famílias adversárias, que logo se
aproveitaram do novo alto nível do governo, procurando medir forças ao virem à tona seus antigos
ódios. As reminiscências do coronelismo político no Ceará, não obstante o esforço de seus
governantes, sempre se manifestaram com relativa facilidade, e o Presidente Justiniano de Serpa
foi uma vítima do próprio desconhecimentos dessas virulentas manifestações do patriarcalismo
rural.

Afirma ainda que ele “desenvolveu esforços para aproximar as duas facções do antigo
Partido Conservador – acionista e marretas -, e soube conclamar e dirigir o situacionismo
cearense, face a sucessão presidencial, tudo fazendo para a vitória alcançada pelos candidatos
Arthur as Silva Bernardes e Urbano Santos da Costa Araújo, como sucessores do notável
presidente Epitácio Pessoa”. Garante também que Justiniano de Serpa até foi lembrado para a
vice-presidência da República, pois Bernardes queria contemplar em sua chapa um nome
nordestino. No entanto outras forças políticas optaram por Urbano Santos.

Parsifal Barroso refere-se finalmente à “honradez do Presidente configurada na


pobreza final de sua benemérita vida”. Depois de sua morte, conta que a família ficou em estado
de penúria, e as contas dos médicos que o trataram somente vieram a ser resgatadas pelo seu
sucessor, o Presidente Ildefonso Albano. O governador Serpa, não há que negar, abriu um hiato
promissor na história política do Ceará, através de várias iniciativas inovadoras e mordenizadoras.
Pena é que Justiniano somente tenha podido servir ao Ceará, já no fim de sua laboriosa vida, mas
ainda assim muito fez pela gente cearense”.

Raimundo Girão, em “pequena história do Ceará”, qualifica de governo-marco o de


Justiniano, “verdadeiro primado da inteligência e das renovações democráticas”. E demonstra com
exemplos tal opinião: “A reforma da Constituição Estadual, com a proibição das reeleições
remuneradas – são bem o traço do espírito liberal do governante inspirador direto daquela reforma,
estratificada na nova Carta de 4 de novembro de 1921. Complementando-a promulgou a Lei de
organização judiciária e os Códigos de Processo Civil e Processo Criminal”. E continua: - A
constituição pública é outro índice da sua visão arejada , pondo rigorosamente, acima das
conveniências dos partidos, os interesses do ensino primário. Chamou para reorganizá-lo um
técnico alheio a essas conveniências, o paulista professor Manuel Bergstrom Lourenço Filho, que
resolveu, de todo, velhos hábitos para instituir uma ordem de coisas menos formalísticas e
literárias, antes mais prática e coerente” - Culto e talentoso – afirma Girão – o Dr. Serpa aproximou
os intelectuais ao seu redor mecênico. No Palácio do Governo, oferecendo-lhes a estimulação
imprescindível que permitiu o reflorescer da Academia Cearense de Letras, então letárgica e muito
desfalcada de seus membros. Foi ele que oficializou a Bandeira do Ceará, com o Dec. N.º 1.971.
de 25 de agosto de 1922, valendo-se de uma idéia de comerciante João Tibúrcio Albano, que
imaginara o pavilhão cearense aproveitando as linhas do nacional.

Patrono da Academia N.º 22, AC de Letras, Justiniano (quem foi também seu
fundador, 1894) publicou diversos trabalhos, entre os quais “Oscilações” (poesia, 1883) “O nosso
meio Literário”(1896) e questões de Direito e Legislação”(1920). Na Poesia, quase sempre
condoreira, ele não obteve o mesmo sucesso de sua atuação parlamentar e governamental.
Sânzio de Azevedo, em “Literatura Cearense” (Academia Cearense de Letras, 1976), assim
manifesta sua opinião: -Justiniano de Serpa, se não poder ser considerado um poeta de fôlego de
vôo alto ( ele mesmo renegaria sua obra poética), era excelente orador, o que em matéria de
poesia condoreira, quase equivalia à mesma coisa, já que o objetivo primordial era atingir à
eloqüência a fim de arrebatar os auditórios.

O poema “Bravos, por exemplo foi dedicado especialmente à sociedade das


Cearenses Libertadoras, entidade que se batia pela libertação dos escravos, reunindo nomes do
porte de Maria Tomásia. Este trabalho poético foi declamado em praça pública, sob aplausos e
delírio do povo.

Em 12 de junho de 1923, devido a problemas com a saúde, transferi o governador


Ildefonso Albano, primeiro vice-presidente do Estado. No Rio de Janeiro, depois de muito padecer,
Justiniano de Serpa morreu em 1º de agosto de 1923. Em homenagem foi erguido um busto em

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