Você está na página 1de 4

ESTUDO DIRIGIDO 2

Literatura brasileira – 1º bimestre – 2º ano – 2023

Texto I
Ideias Íntimas

VII

Em frente do meu leito, em negro quadro,


A minha amante dorme. É uma estampa
De bela adormecida. A rósea face
Parece em visos de um amor lascivo
De fogos vagabundos acender-se...
E como a nívea mão recata o seio...
Oh! quantas vezes, ideal mimoso,
Não encheste minh’alma de ventura,
Quando louco, sedento e arquejante
Meus tristes lábios imprimi ardentes
No poento vidro que te guarda o sono!

Álvares de Azevedo

Vocabulário:
Lascivo: que ou o que se inclina aos prazeres do sexo, à sensualidade, à voluptuosidade; libidinoso, lúbrico.
Nívea: branca
Rósea: rosada

1. No poema, o eu lírico observa a imagem da mulher, bem como a admira. Nessa perspectiva, explique, de
acordo com as ideias da lira, de que modo o sujeito lírico se envolve com a mulher amada, levando em
consideração a relação existente entre o amante e o ser amado. Em sua resposta, apresente a face de
Azevedo presente no poema.

Texto II
Navio negreiro
IV
I
Era um sonho dantesco... o tombadilho
‘Stamos em pleno mar... Dois infinitos Que das luzernas avermelha o brilho.
Ali se estreitam num abraço insano, Em sangue a se banhar.
Azuis, dourados, plácidos, sublimes... Tinir de ferros... estalar de açoite...
Qual dos dous é o céu? qual o oceano?... Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...
(...) Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
III Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
Desce do espaço imenso, ó águia do oceano! No turbilhão de espectros arrastadas,
Desce mais ... inda mais... não pode olhar humano Em ânsia e mágoa vãs!
Como o teu mergulhar no brigue voador! E ri-se a orquestra irônica, estridente...
Mas que vejo eu aí... Que quadro d’amarguras! E da ronda fantástica a serpente
É canto funeral! ... Que tétricas figuras! ... Faz doudas espirais ...
Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que Se o velho arqueja, se no chão resvala,
horror! Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...
“Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Presa nos elos de uma só cadeia, Fazei-os mais dançar!...”
A multidão faminta cambaleia, E ri-se a orquestra irônica, estridente. . .
E chora e dança ali! E da ronda fantástica a serpente
Um de raiva delira, outro enlouquece, Faz doudas espirais...
Outro, que martírios embrutece, Qual um sonho dantesco as sombras voam!...
Cantando, geme e ri! Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
No entanto o capitão manda a manobra, E ri-se Satanás! ...
Tão puro sobre o mar, (...)
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:

Castro Alves

Vocabulário:
Arqueja – respirar com dificuldade.
Brigue – navio de dois mastros com velas redondas e cestos.
Dantesco – relativo a Dante, poeta italiano.
Doudas – doidas.
Dous – dois.
Espectro – fantasma, espírito.
Insano – louco, demente.
Luzerna – luz muito intensa, clarão
Plácido – sereno, tranquilo.
Resvalar – escorregar.
Rijo – rígido.
Tétrica – rígida, severa.
Tombadilho – superestrutura erguida na popa de um navio.
Turbilhão – movimento rápido, circular, redemoinho.

2. Considerando a terceira geração da poesia romântica brasileira e a leitura dos trechos selecionados acima
do poema “Navio negreiro”, responda aos itens “a” e “b” a seguir.
a) Apresente os recursos expressivos que exemplificam o tom grandiloquente do texto.
b) Há, no poema, uma referência ao mundo cristão em “Meu Deus! Meu Deus!”. Há, ainda, a
representação da natureza por meio das imagens do mar e do céu, espaços grandiosos pelos quais
Alves nutria apreço. Diante disso, é correto afirmar que a confluência entre a referência cristã e a
natureza revelam um aspecto panteísta no texto? Justifique sua resposta.

Texto III

Marieta

Como o gênio da noite, que desata


o véu de rendas sobre a espada nua,
ela solta os cabelos... bate a lua
nas alvas dobras de um lençol de prata.
O seio virginal que a mão recata,
embalde o prende a mão... cresce, flutua...
Sonha a moça ao relento... Além na rua
preludia um violão na serenata.
Furtivos passos morrem no lajedo...
Resvala a escada do balcão discreta...
matam lábios os beijos em segredo...
Afoga-me os suspiros, Marieta!
Oh surpresa! Oh! Palor! Oh! Pranto! Oh! Medo!
Ai! Noites de Romeu e Julieta!...

Castro Alves

2
Vocabulário:
Desatar – desmanchar, desfazer;
Embalde – em vão;
Furtivo – rápido;
Lajedo – piso revestido por lajes;
Palor – palidez;
Preludiar – tocar composição que serve para introduzir as demais a
serem reproduzidas;
Relento – sereno.

Com base na leitura do poema Marieta, de Castro Alves, bem como nos múltiplos aspectos a ele relacionados,
julgue os itens a seguir em (C), para certo, e (E) para errado.

C E O poema “Marieta” inova no que tange à representação da mulher no Romantismo. A figura feminina
é retratada de forma concreta e lasciva, diferentemente da imagem construída pelos poetas românticos
da 2ª geração.
C E Infere-se do poema que, apesar de o eu lírico ter contato físico com a mulher amada, não há
concretização de relação amorosa entre os dois.
C E O uso do vocativo Marieta (v. 12) e as evocações presentes no segundo terceto marcam a ocorrência
de apóstrofe no poema.
C E Assim como ocorre em “Boa noite”, “Marieta” constrói a figura feminina a partir de uma visão idealizada
de pureza.
C E “Marieta” aproxima-se das temáticas retratadas na poesia lírica de Fagundes Varela pois os poetas
estão, temporalmente, situados na mesma geração romântica.

3. No século XIX, o romance histórico no Brasil acompanha o sentimento de urgência da afirmação de uma
literatura nacional e contribui, por sua vez, para a independência literária, fazendo parte de um programa
geracional de criação do romance brasileiro. Diante disso, julgue os itens seguintes.

C E As características próprias do gênero – a reconstituição histórica, o retrato de tradições e costumes,


a criação de um herói que se integra numa conjuntura de realização dos valores pátrios, o empenho
identificativo e a colaboração exigida aos leitores – constituem o fundo ideal para o florescimento de
uma literatura nacional própria.
C E A aliança entre memória, história, cultura e literatura de que vive o romance histórico serve no Brasil
para criar um forte sentimento de autonomia e diferença em relação ao “outro”, o português.
C E José de Alencar, escritor romântico, produziu “Guerra dos Mascates” e “As minas de prata”, dois
romances históricos cujo caráter verossímil se afasta dos acontecimentos históricos brasileiros. O
objetivo do autor era o de exaltar o índio, herói nacional, e, por isso, modificou bruscamente os fatos
narrados nesses textos.
C E “Guerra dos Mascates” é considerado pelo crítico literário Antônio Cândido um “Roman à clef”, ou seja,
um um romance com uma chave, em que os personagens e acontecimentos reais aparecem
caracterizados sob uma ótica de nomes fictícios, aspecto, de fato, presente na obra referenciada.

4. Acerca da prosa indianista de José de Alencar, julgue os itens que se seguem.

C E Na procura e estabelecimento da personalidade nacional, José de Alencar leva em alguns textos a


história para o campo do intemporal e do mítico, ficcionalizando as origens do Brasil a partir do
encontro entre o herói português e o índio, gravando-se na memória coletiva, no consciente e
inconsciente do povo brasileiro.
C E Em “Iracema”, percebe-se que Alencar busca a construção de um típico enredo romântico em que há
um amor impossível entre o indígena e a mulher europeia.
C E “O Guarani”, primeiro romance indianista de Alencar, delimita a imagem de um índio europeizado, o
qual vive em contato com os brancos. Peri, por amar Cecília, sacrifica sua vida pela filha do fidalgo
português, embora ambos, ao fim do enredo, sigam juntos, metaforizando a pacífica fusão entre as
culturas indígena e portuguesa, característica do povo brasileiro.

3
C E “Ubirajara” é o único romance de Alencar que representa o índio sob uma ótica de não influência
europeia. Neste texto, Jaguarê torna-se o “senhor da lança” após passar por um ritual de
amadurecimento.
C E É notória a presença de itens lexicais de natureza tupi nos romances de Alencar, já que o autor,
visando à construção de uma real identidade nacional, materializou o componente cultural indígena na
linguagem de seus textos.
C E Do processo do encontro entre raças não deveria surgir o Brasil, já que o povo brasileiro deveria se
livrar totalmente das influências das gloriosas tradições do povo luso.

5. Leia o texto a seguir para responder ao que se pede nos itens “a” e “b”.

“Se o romance histórico alencariano acompanha, tornando-se até um dos principais motores, do processo de
diferenciação da literatura brasileira, levantam-se questões ligadas com as formas encontradas para atingir a sua
originalidade e autenticidade: a passagem da visão do passado como período colonial português para a ideia do
passado como conjunto de feitos e tradições constituintes do Brasil; o papel da história nos vários romances; a
criação literária de um herói e heroína nacionais através de um percurso de valorização do herói como herdeiro dos
valores portugueses à construção e mitificação de um herói nacional; o tratamento estético-literário de ambientes
naturais e sociais do Brasil; a criação de um imaginário nacional feito de paisagens, figuras e acções; o uso literário
de uma língua própria; a reconstrução do passado como reflexão interventiva

Procura-se, desta forma, redimensionar o romance alencariano no processo de autonomia do romance


brasileiro, considerando o seu papel como iniciador de uma nova tradição literária, traçando as linhas inovadoras
através das quais o autor cria essa mesma tradição.”

PAOLINELLI, Luísa Marinho Antunes. O romance histórico de José de Alencar. Funchal, 2004.

a) A partir do que discute a autora, disserte acerca do conceito de “verossimilhança” presente nos romances
históricos de José de Alencar. Conjugue, à sua resposta, as características principais da prosa romântica
brasileira.
b) Sabe-se que, além do indígena, Alencar entende o elemento português como relevante para a formação
da cultura nacional. Diante disso, seu herói, em conjunto com o índio, é também o português povoador,
parte genética da sociedade cuja identidade estava sendo gestada no momento romântico. Explique essa
afirmação, relacionando, à sua resposta, ao menos, duas obras desse escritor.

6. O texto a seguir foi escrito por José de Alencar. Considere-o para responder à questão 6.

“Naturalmente suporá que o poeta lhe vai apresentar uma cena grandiosa, um desses quadros majestosos em
que a força, a coragem e o heroísmo é realçado por essa poesia primitiva e natural, que, na frase de Chateaubriand,
assemelha os selvagens a heróis de Homero.

Sem dúvida pensará, que essa luta gigantesca que deve acabar pelo extermínio de uma raça e pela conquista
de um país, há de começar por um desses fatos que preludiam os grandes acontecimentos que servem de prólogo
às revoluções de um povo, às épocas históricas de uma nação.”

José de Alencar em Iracema.

José de Alencar se propõe a um desafio: a construção de um projeto literário que vise à construção da identidade
de um povo e de sua nação. O autor acredita que a narrativa do encontro entre brancos e indígenas é tema
grandioso e deve ser apresentado de maneira heróica e grandiloquente. Acerca disso, disserte sobre o indianismo
de Alencar, apresentando, em sua resposta, a influência cristã observada em “O Guarani”.

Você também pode gostar