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O Navio Negreiro é um poema escrito por Castro Alves, um dos autores mais conhecidos e

prestigiados da literatura brasileira. Foi escrito em 1868, em São Paulo, quase vinte anos após a Lei Áurea
(1850).
O Navio Negreiro tem como subtítulo “Tragédia do Mar” e canta em poemas a história das
embarcações que transportavam os escravos arrancados de suas terras e eram trazidos para o Brasil e
vendidos como escravos.

O poema
O Navio Negreiro está dentro do grande poema épico “Os Escravos”. É dividido em seis poemas
com metrificação diversificada, aspecto que provoca na poesia um efeito de unificação entre forma e
conteúdo.

O Navio Negreiro – Parte I


Na primeira parte, Castro Alves descreve o ambiente tranquilo do mar. São poemas que cantam a
beleza do ventos, do céu, do mar. O poeta descreve essa parte como uma cena de amor, observando com
simpatia a travessia.

Fragmentos do poema

‘Stamos em pleno mar… Doudo no espaço


Brinca o luar — dourada borboleta;
E as vagas após ele correm… cansam
Como turba de infantes inquieta.
‘Stamos em pleno mar… Do firmamento
Os astros saltam como espumas de ouro…
O mar em troca acende as ardentias,
— Constelações do líquido tesouro…
[…]
Albatroz! águia do oceano,
Tu que dormes das nuvens entre as gazas,
Sacode as penas, Leviathan do espaço, Albatroz!
Albatroz! dá-me estas asas.

O Navio Negreiro – Parte II


Na segunda parte são descritos os tripulantes/marinheiros do navio de diversas nacionalidades
como bravos, corajosos, nobres. Marinheiros que também contemplam a beleza do mar, do vento, de tudo
que ele falara no poema anterior.

Fragmentos do Poema

Que importa do nauta o berço, Os marinheiros Helenos,


Donde é filho, qual seu lar? Que a vaga jônia criou,
Ama a cadência do verso Belos piratas morenos
Que lhe ensina o velho mar! Cantai! que a Do mar que Ulisses cortou,
morte é divina! Homens que Fídias talhara,
Resvala o brigue à bolina Vão cantando em noite clara
Como golfinho veloz. Versos que Homero gemeu …
Presa ao mastro da mezena Nautas de todas as plagas,
Saudosa bandeira acena Vós sabeis achar nas vagas
As vagas que deixa após. As melodias do céu! …
[…]
O Navio Negreiro – Parte III
Nessa parte o poeta apresenta a denúncia ao tráfico. Ele começa a se aproximar e olhar para dentro
do navio e perceber que não há beleza, não é um canto de poesia, mas que há homens, mulheres e
crianças negras sendo maltratadas e chicoteadas. Um canto triste em um espetáculo fúnebre.

O poema

Desce do espaço imenso, ó águia do oceano!


Desce mais … inda mais… não pode olhar humano
Como o teu mergulhar no brigue voador!
Mas que vejo eu aí… Que quadro d’amarguras!
É canto funeral! … Que tétricas figuras! …
Que cena infame e vil… Meu Deus! Meu Deus! Que horror!

O Navio Negreiro – Parte IV


A partir de então, Castro Alves começa a detalhar esse povo negro que está dentro do navio
sofrendo crueldades e castigos. Homens, mulheres e crianças acorrentados uns aos outros, enquanto são
chicoteados. Cenas com crianças esqueléticas implorando por comida e mulheres nuas, enquanto
obedeciam o dono do chicote que os açoitavam.

Fragmentos do poema

Era um sonho dantesco… o tombadilho E ri-se a orquestra irônica, estridente. . .


Que das luzernas avermelha o brilho. E da ronda fantástica a serpente
Em sangue a se banhar. Faz doudas espirais…
Tinir de ferros… estalar de açoite… Qual um sonho dantesco as sombras
Legiões de homens negros como a noite, voam!…
Horrendos a dançar… Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
[…] E ri-se Satanás!…

O Navio Negreiro – Parte V


É o maior de todos. Nele, o poeta começa a questionar o porquê daquela situação, e não acredita
no grande disparate que há do topo do navio para o seu interior. Castro Alves questiona Deus e clama para
que o navio seja destruído pela natureza e acabe com aquele horror.

Ele mostra sua indignação perante tamanha atrocidade, e imagina a liberdade que os negros
tinham em sua terra, antes de serem arrancados de lá. A cena é tão cruel, que no poema ele se questiona
se não estaria a delirar.

Fragmentos do poema

Senhor Deus dos desgraçados! […]


Dizei-me vós, Senhor Deus! Senhor Deus dos desgraçados!
Se é loucura… se é verdade Dizei-me vós, Senhor Deus,
Tanto horror perante os céus?! Se eu deliro… ou se é verdade
Ó mar, por que não apagas Tanto horror perante os céus?!…
Co’a esponja de tuas vagas Ó mar, por que não apagas
De teu manto este borrão?… Co’a esponja de tuas vagas
Astros! noites! tempestades! Do teu manto este borrão?
Rolai das imensidades! Astros! noites! tempestades!
Varrei os mares, tufão! Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão! …

O Navio Negreiro – Parte VI


O poeta conclui sua obra questionando os responsáveis por tal barbárie, revelando a nacionalidade
deles pela bandeira que hasteava o navio. Bandeira brasileira, que deveria ressaltar a liberdade e a
esperança do país, agora era marcada pela escravidão.

Antes não era importante a bandeira (os responsáveis), enquanto contemplação da beleza rodeada
no topo do navio, mas agora era essencial saber para compreender quem está por traz de tamanha
crueldade. Ele invoca como “heróis do Novo Mundo” (sic) para acabar com o tráfico de escravos.

O poema

Existe um povo que a bandeira empresta


P’ra cobrir tanta infâmia e cobardia!…
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!…
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa… chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto! …

Auriverde pendão de minha terra,


Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança…
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!…

Fatalidade atroz que a mente esmaga!


Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais! … Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!

Sobre Castro Alves


O “poeta dos escravos”, como era conhecido Castro Alves, nasceu em Muritiba, Bahia, em 14 de
março de 1847, vindo a falecer precocemente aos 24 anos, após lutar desde os 16 anos contra a
tuberculose. O Navio Negreiro é considerado por muitos um dos poemas mais bonitos da língua
portuguesa.

Em obras como “O Navio Negreiro”, Castro Alves era um defensor da causa abolicionista e defendia
a igualdade entre os homens. Inspirado pela poesia de Victor Hugo, o “poeta dos escravos” tinha um olhar
com teor mais social, da liberdade.

Castro Alves era chamado de “único poeta social do Brasil”. O poema "O Navio Negreiro" atingiu a
fama e ganhou reconhecimento pela crítica social relacionada a escravidão.
Navio Negreiro e o contexto histórico
O Navio Negreiro é um poema que pertence ao Romantismo no Brasil. Castro Alves e suas obras
fazem parte da terceira geração romântica, também conhecida como geração Condor.

No poema “O Navio Negreiro” há aspectos da geração do Romantismo (subjetividade, identidade


nacional, ideal de um herói romantizado) e aspectos pré-realistas (crítica e crença na ciência).

Nesse poema fica o reflexo do aprofundamento dos poetas dessa geração com as questões sociais,
que em seguida seriam bastantes rebatidas no Realismo.

Por isso, esse período (romantismo) é considerado uma preparação para o realismo, e obras como
“O Navio Negreiro” colaboraram nessa transição.

O Navio Negreiro está sob domínio público. Faça o download e boa leitura.
LIMA, Cleane. O Navio Negreiro; Guia Estudo. Disponível em https://www.guiaestudo.com.br/o-
navio-negreiro >. Acesso em 28 de outubro de 2019 às 14:32

"Brasil, de amor eterno seja símbolo


O lábaro que ostentas estrelado,
E diga o verde-louro dessa flâmula
- 'Paz no futuro e glória no passado'."

Explicação: "Lábaro" se refere à bandeira, que possui 27 estrelas, representando as


unidades federativas. Já "verde-louro" é uma das tonalidades do verde, igual à penugem
do papagaio, e "flâmula" também significa bandeira.

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