Você está na página 1de 9

Sebenta português 12 ano

Cesário Verde

Nasceu em Lisboa, a
25 de fevereiro de
1855, na baixa
pombalina, no seio de
uma família
burguesa dedicada
ao comércio de
ferragens.

Dividiu a sua infância entre a cidade, onde o pai tinha uma loja de ferragens e o
campo, em Linda-a-Pastora, exportando as maçãs que produziam.

Em 1857, a febre amarela atingir Lisboa, dizimando muitas pessoas. Saíram da


cidade e foram viver para o campo, situação retratada no poema «Nós»:

Foi quando em dois verões, seguidamente, a Febre


E o Cólera também andaram na cidade,
Que esta população, com um terror de lebre,
Fugiu da capital como da tempestade.
Ora, meu pai, depois das nossas vidas salvas
(Até então nós só tivéramos sarampo),
Tanto nos viu crescer entre uns montões de malvas
que ele ganhou por isso um grande amor ao campo!
Se acaso o conta, ainda a fronte se lhe enruga:

O que se ouvia sempre era o dobrar dos sinos;


Mesmo no nosso prédio, os outros inquilinos
Morreram todos. Nós salvamo-nos na fuga.
Na parte mercantil, foco da epidemia,
Um pânico! Nem um navio entrava a barra,
A alfândega parou, nenhuma loja abria,
E os turbulentos cais cessaram a algazarra.
Pela manhã, em vez dos trens dos batizados,
Rodavam sem cessar as seges dos enterros.
Que triste a sucessão dos armazéns fechados!
[…]

Liliana Vieira Conde 1


Sebenta português 12 ano

Durante 1874, publicou alguns poemas em várias revistas e jornais, que passaram
despercebidos ao público em geral, tendo sido também criticados pela elite
intelectual da época.

Em 1884 foi atacado pela tuberculose e morreu a 19 de julho de 1887, tendo sido
sepultado no Cemitério dos Prazeres.

As suas poesias foram reunidas e publicadas postumamente em 1887, pelo seu


amigo Silva Pinto em O Livro de Cesário Verde.

O poema seguinte de Alberto Caeiro caracteriza muito bem o seu perfil poético:

Ao entardecer, debruçado pela janela,


E sabendo de soslaio que há campos em frente.
Leio até me arderem os olhos
O livro de Cesário Verde.

Que pena que tenho dele! Ele era um camponês


Que andava preso em liberdade pela cidade.
Mas o modo como olhava para as casas,
E o modo como reparava nas ruas,
E a maneira como dava pelas coisas,
É o de quem olha para árvores,
E de quem desce os olhos pela estrada por onde vai andando
E anda a reparar nas flores que há pelos campos...

Por isso ele tinha aquela grande tristeza


Que ele nunca disse bem que tinha,
Mas andava na cidade como quem anda no campo
E triste como esmagar flores em livros
E pôr plantas em jarros...

“O Guardador de Rebanhos”. In Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa.

✓ Características poéticas:
o primazia pelo verso e recusa da prosa;
o carácter sensorial conseguido pela combinação de sensações
visuais, gustativas, cinestésicas, olfativas e auditivas – sinestesias;
o deambulação pela cidade, como observador acidental:
▪ o seu deambular (errância pelos espaços da cidade)
constante pela cidade, as suas estadias no campo, a sua

Liliana Vieira Conde 2


Sebenta português 12 ano

experiência de comerciante e de agricultor tornar-se-ão as


temáticas estruturantes das sua poética;
▪ está consciente de que o real é quem o inspira e preocupa:
“A mim o que me rodeia é o que me preocupa”;
▪ andando pela cidade, deambulando por espaços físicos,
capta o real exterior, interpretando-o e recriando-o com
alguma nitidez, numa atitude de captação do real pelos
sentidos, com predominância dos dados obtidos pela visão:
cor, luz, recorte, formas e movimento;
▪ capta a realidade como se fosse um poeta-repórter, um
poeta-pintor, construindo poesia como quem pinta um
quadro impressionista (jogo de cores, luzes, sombras, sem
contornos).

o A cidade e os tipos sociais


▪ preocupado com o que o rodeia, simpatiza com as classes
oprimidas, identifica-se com os mais pobres, revolta-se
contra a sociedade pela miséria social, e é solidário com
todos aqueles que são vítimas de injustiças sociais;
▪ capta a vida nos bairros burgueses e proletários, a venda de
produtos pelas ruas, a construção de edifícios, a
pavimentação das ruas, o descarregar de navios, os
trabalhos agrícolas e as lides domésticas;

▪ Binómio cidade/campo:
• há quem defenda este tema como o principal na sua
poesia;
• a cidade, sufocante, doente, nauseabunda, palco de
dor e devassidão, mas o símbolo do progresso e do
desenvolvimento, acarta com ela todos os males; esta

Liliana Vieira Conde 3


Sebenta português 12 ano

situação leva, algumas vezes, o poeta a desejar a


evasão;
• a cidade tens aspetos positivos quando as mulheres
do povo surgem, transmitindo saúde e energia,
quando os trabalhadores a invadem, os padeiros, a
flauta ecoa na cidade;
• o campo surge metaforizado com energia, vida,
saúde, aquele local onde se recuperam as forças,
como um digno mito de Anteu, que recuperava a sua
força ao tocar o solo, e que inspira à criação poética;
• é no campo que o amor é idílico, verdadeiro, sincero
e livre;
• no campo surgem também as dificuldades do
trabalho árduo, o fracasso das colheitas, a
concorrência estrangeira, as adversidades
meteorológicas, bem como a doença e a morte.

▪ A mulher do campo e a mulher da cidade:


• deambulando pelos vários espaços, ele oferece-nos
uma galeria de figuras femininas, de diferentes
classes sociais, com individualidade própria;
• a mulher da cidade é burguesa, fria, que conduz ao
sofrimento amoroso, uma vez que é sedutora; é
distante, perigosa e dominadora. Esta é a mulher-
demónio que personifica a morte, a destruição;
• a mulher da cidade também compreende aquela que
é vitimizada socialmente, como são o caso das
varinas, da engomadeira (personificação da doença
que se desenvolve na cidade) e das vendedoras;

Liliana Vieira Conde 4


Sebenta português 12 ano

• a mulher do campo é viril, forte, autêntica, surge


associada ao calor e ao sol, carregando a pureza do
campo;
• a mulher do campo é simples, discreta, frágil, dócil,
aquela que permite o amor verdadeiro e puro; é a
mulher-anjo, símbolo da redenção.

o Linguagem:
▪ prosaísmo: poetização de realidades concretas; o quotidiano
é um motivo poético; focalização do exterior através do
interior do sujeito poético;
▪ preferência pelas quadras em versos decassilábicos ou
alexandrinos;
▪ sinestesias;
▪ metáforas;
▪ comparação;
▪ hipálage;
▪ assíndeto;
▪ vocabulário objetivo;
▪ imagens extremamente visuais;
▪ estrutura narrativa dos poemas;
▪ pormenor descritivo, muitas vezes recorrendo aos
contrastes;
▪ jogo do real e do irreal;
▪ diminutivos;
▪ verbos no presente com caráter durativo;
▪ advérbios expressivos, adjetivos múltiplos;
▪ anteposição do verbo ao sujeito;
▪ empréstimos;
▪ encavalgamento do verso.

Liliana Vieira Conde 5


Sebenta português 12 ano

Exercícios

Avé-Maria E num cardume negro, hercúleas,


galhofeiras,
Nas nossas ruas, ao anoitecer, Correndo com firmeza, assomam as
Há tal soturnidade, há tal melancolia, varinas.
Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia
Despertam-me um desejo absurdo de Vêm sacudindo as ancas opulentas!
sofrer. Seus troncos varonis recordam-me
pilastras;
O céu parece baixo e de neblina, E algumas, à cabeça, embalam nas canastras
O gás extravasado enjoa-me, perturba-me; Os filhos que depois naufragam nas
E os edifícios, com as chaminés, e a turba tormentas.
Toldam-se duma cor monótona e londrina.
Descalças! Nas descargas de carvão,
Batem os carros de aluguer, ao fundo, Desde manhã à noite, a bordo das fragatas;
Levando à via-férrea os que se vão. Felizes! E apinham-se num bairro aonde miam
Ocorrem-me em revista, exposições, países: gatas,
Madrid, Paris, Berlim, Sampetersburgo, o E o peixe podre gera os focos de infeção!
mundo!

Semelham-se a gaiolas, com viveiros,


___________
As edificações somente emadeiradas:
Como morcegos, ao cair das badaladas,
Saltam de viga em viga, os mestres Num Bairro Moderno
carpinteiros.
Dez horas da manhã; os transparentes
Matizam uma casa apalaçada;
Voltam os calafates, aos magotes,
Pelos jardins estancam-se as nascentes,
De jaquetão ao ombro, enfarruscados,
E fere a vista, com brancuras quentes,
secos,
A larga rua macadamizada.
Embrenho-me a cismar, por boqueirões, por
becos,
Rez-de-chaussée repousam sossegados,
Ou erro pelos cais a que se atracam botes.
Abriram-se, nalguns, as persianas,
E dum ou doutro, em quartos estucados,
E evoco, então, as crónicas navais:
Ou entre a rama dos papéis pintados,
Mouros, baixéis, heróis, tudo ressuscitado
Reluzem, num almoço, as porcelanas.
Luta Camões no Sul, salvando um livro a
nado!
Como é saudável ter o seu conchego,
Singram soberbas naus que eu não verei
E a sua vida fácil! Eu descia,
jamais!
Sem muita pressa, para o meu emprego,
Aonde agora quase sempre chego
E o fim da tarde inspira-me; e incomoda!
Com as tonturas duma apoplexia.
De um couraçado inglês vogam os
escaleres;
E rota, pequenina, azafamada,
E em terra num tinido de louças e talheres
Notei de costas uma rapariga,
Flamejam, ao jantar, alguns hotéis da moda.
Que no xadrez marmóreo duma escada,
Como um retalho da horta aglomerada
Num trem de praça arengam dois dentistas;
Pousara, ajoelhando, a sua giga.
Um trôpego arlequim braceja numas andas;
Os querubins do lar flutuam nas varandas;
E eu, apesar do sol, examinei-a.
Às portas, em cabelo, enfadam-se os
Pôs-se de pé, ressoam-lhe os tamancos;
lojistas!
E abre-se-lhe o algodão azul da meia,
Se ela se curva, esguelhada, feia,
Vazam-se os arsenais e as oficinas;
E pendurando os seus bracinhos brancos.
Reluz, viscoso, o rio, apressam-se as
obreiras;

Liliana Vieira Conde 6


Sebenta português 12 ano

Do patamar responde-lhe um criado: Voltando-se, gritou-me, prazenteira:


"Se te convém, despacha; não converses. "Não passa mais ninguém!... Se me
Eu não dou mais." É muito descansado, ajudasse?!..."
Atira um cobre lívido, oxidado,
Que vem bater nas faces duns alperces. Eu acerquei-me dela, sem desprezo;
E, pelas duas asas a quebrar,
Subitamente - que visão de artista! - Nós levantamos todo aquele peso
Se eu transformasse os simples vegetais, Que ao chão de pedra resistia preso,
À luz do Sol, o intenso colorista, Com um enorme esforço muscular.
Num ser humano que se mova e exista
Cheio de belas proporções carnais?! "Muito obrigada! Deus lhe dê saúde!"
E recebi, naquela despedida,
Bóiam aromas, fumos de cozinha; As forças, a alegria, a plenitude,
Com o cabaz às costas, e vergando, Que brotam dum excesso de virtude
Sobem padeiros, claros de farinha; Ou duma digestão desconhecida.
E às portas, uma ou outra campainha
Toca, frenética, de vez em quando. E enquanto sigo para o lado oposto,
E ao longe rodam umas carruagens,
E eu recompunha, por anatomia, A pobre, afasta-se, ao calor de agosto,
Um novo corpo orgânico, aos bocados. Descolorida nas maçãs do rosto,
Achava os tons e as formas. Descobria E sem quadris na saia de ramagens.
Uma cabeça numa melancia,
E nuns repolhos seios injetados. Um pequerrucho rega a trepadeira
Duma janela azul; e, com o ralo
As azeitonas, que nos dão o azeite, Do regador, parece que joeira
Negras e unidas, entre verdes folhos, Ou que borrifa estrelas; e a poeira
São tranças dum cabelo que se ajeite; Que eleva nuvens alvas a incensá-lo.
E os nabos - ossos nus, da cor do leite,
E os cachos de uvas - os rosários de olhos. Chegam do gigo emanações sadias,
Ouço um canário - que infantil chilrada!
Há colos, ombros, bocas, um semblante Lidam ménages entre as gelosias,
Nas posições de certos frutos. E entre E o sol estende, pelas frontarias,
As hortaliças, túmido, fragrante, Seus raios de laranja destilada.
Como alguém que tudo aquilo jante,
Surge um melão, que lembrou um ventre. E pitoresca e audaz, na sua chita,
O peito erguido, os pulsos nas ilhargas,
E, como um feto, enfim, que se dilate, Duma desgraça alegre que me incita,
Vi nos legumes carnes tentadoras, Ela apregoa, magra, enfezadita,
Sangue na ginja vívida, escarlate, As suas couves repolhudas, largas.
Bons corações pulsando no tomate
E dedos hirtos, rubros, nas cenouras. E, como as grossas pernas dum gigante,
Sem tronco, mas atléticas, inteiras,
O Sol dourava o céu. E a regateira, Carregam sobre a pobre caminhante,
Como vendera a sua fresca alface Sobre a verdura rústica, abundante,
E dera o ramo de hortelã que cheira, Duas frugais abóboras carneiras.

1. Comprove, com excertos do texto, que o poeta dá primazia ao


deambulismo na sua poesia, captando a realidade com os sentidos.
2. Nestes dois poemas surgem personagens do campo. Mostre como o poeta
as caracteriza e as valoriza.

Liliana Vieira Conde 7


Sebenta português 12 ano

3. A verdura e a fruta do campo ganham vida através de um recurso


expressivo. Identifique-o e explique a sua função expressiva.

De Tarde E nas lajes campais do cemitério.

Naquele «pic-nic» de burguesas, Talvez já se apagassem as miragens


Houve uma coisa simplesmente bela, Do tempo em que eu vivia nos teus seios,
E que, sem ter história nem grandezas, Quando as aves cantando entre as
Em todo o caso dava uma aguarela. ramagens
O teu nome diziam nos gorjeios.
Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas, Quando, à brisa outoniça, como um manto,
A um granzoal azul de grão-de-bico Os teus cabelos de âmbar, desmanchados,
Um ramalhete rubro de papoulas. Se prendiam nas folhas dum acanto,
Ou nos bicos agrestes dos silvados.
Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o sol se via; E eu ia desprendê-los, como um pajem
E houve talhadas de melão, damascos, Que a cauda solevasse aos teus vestidos,
E pão de ló molhado em malvasia. E ouvia murmurar à doce aragem
Uns delírios de amor, entristecidos.
Mas, todo púrpuro, a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas, Quando eu via, invejoso, mas sem queixas,
Era o supremo encanto da merenda Pousarem 'borboletas doidejantes
O ramalhete rubro das papoulas. Nas tuas formosíssimas madeixas,
Daquela cor das messes lourejantes.
______________________
E no pomar, nós dois, ombro com ombro,
Setentrional Caminhávamos sós e de mãos dadas,
Beijando os nossos rostos sem assombro,
Talvez já te não lembres, triste Helena, E colorindo as faces desbotadas.
Dos passeios que dávamos sozinhos,
À tardinha, naquela terra amena, Quando Helena, bebíamos, curvados,
No tempo da colheita dos bons vinhos. As águas nos ribeiros remansosos,
E, nas sombras, olhando os céus amados
Talvez já te não lembres, pesarosa, Contávamos os astros luminosos.
Da casinha caiada em que moramos,
Nem do adro da ermida silenciosa, Quando, uma noite, em êxtases caímos
Onde nós tantas vezes conversamos. Ao sentir o chorar dalgumas fontes,
E os cânticos das rãs que sobre os limos
Talvez já te esquecesses, ó bonina, Quebravam a solidão dos altos montes.
Que viveste no campo só comigo,
Que te osculei a boca purpurina, E assentados nos rudes escabelos,
E que fui o teu sol e o teu abrigo. Sob os arcos de murta e sobre as relvas,
Longamente sonhamos sonhos belos,
Que fugiste comigo da Babel, Sentindo a fresquidão das verdes selvas.
Mulher como não há nem na Circássia,
Que bebemos, nós dois, do mesmo fel, Quando ao nascer da aurora, unidos
E regamos com prantos uma acácia. ambos
Num amor grande como um mar sem
Talvez já te não lembres com desgosto praias
Daquelas brancas noites de mistério, Ouvíamos os meigos ditirambos
Em que a Lua sorria no teu rosto Que os rouxinóis teciam nas olaias.

Liliana Vieira Conde 8


Sebenta português 12 ano

E, afastados da aldeia e dos casais, Esqueceste-te, sim, meu sonho querido,


Eu contigo, abraçado como as heras, Que o nosso belo e lúcido passado
Escondidos nas ondas dos trigais. Foi um único abraço comprimido,
Devolvia-te os beijos que me deras. Foi um beijo, por meses, prolongado.

Quando, se havia lama no caminho, E foste sepultar-te, ó serafim,


Eu te levava ao colo sobre a greda, No claustro das Fiéis emparedadas,
E o teu corpo nevado como arminho Escondeste o teu rosto de marfim
Pesava menos que um papel de seda. No véu negro das freiras resignadas.

Talvez já te esquecesses dos poemetos, E eu passo tão calado como a Morte


Revoltos como os bailes do Cassino, Nesta velha cidade tão sombria,
E daqueles byrônicos sonetos Chorando aflitamente a minha sorte
Que eu gravei no teu peito alabastrino. E prelibando o cálix da agonia,

De tudo certamente te esqueceste, E, tristíssima Helena, com verdade,


Porque tudo no mundo morre e muda, Se pudera na terra achar suplícios,
E agora és triste e só como um cipreste, Eu também me faria gordo frade
E como a campa jazes fria e muda. E cobriria a carne de cilícios.

1. Tendo em atenção estes dois últimos poemas, caraterize os dois tipos de


mulher em Cesário Verde.
2. Comprove que o impressionismo e as sinestesias que surgem ao seu
serviço são uma característica da poesia de Cesário Verde. Justifique com
exemplos do texto.
3. Comprove o caráter de deambulismo ao longo dos poemas.

Liliana Vieira Conde 9

Você também pode gostar