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VILA MIMOSA - Vila de amores, Vidas em d…

VILA MIMOSA - Vila de amores, Vidas em dores.

A tão famosa Vila Mimosa é nada menos que a maior e


o mais antigo centro do meretrício do país e passagem
obrigatória da malandragem antiga, sendo que no
mesmo existem relatos sobre a passagem de dois
dos mais famosos malandros da Quimbanda : Seu Zé
Pilintra e Miguel Camisa Preta.
Entender este lugar é entender como a Lapa funciona
e como este "antro" funcionou durante décadas não
só como o reduto da malandragem carioca, mas
como a resistência de um povo sofrido que durante as
épocas de perseguição à Umbanda, à Quimbanda e ao
Candomblé acolheram muitos Sacerdotes afros.
Paremos de julgar e avaliemos sem temor o "Reino do
sexo " da antiga capital brasileira.
Durante o processo de fuga da Europa, devido as
perseguições impostas por Napoleão Bonaparte, a
família Imperial da Coroa Portuguesa veio aportar no
Rio de Janeiro e como consequência, várias pessoas
foram obrigadas a "se retirar" de suas casas para
poderem assim "abrigar" a família Imperial.
O problema em si, é que o Rio de Janeiro na época
não era uma mega-metrópole como nos dias de hoje,
estava mais para vilarejo do que para capital. Seu
cais não tinha infraestrutura alguma, piorou o sistema
urbano de moradias e de saneamento básico.
O asco da Real Família Portuguesa foi imediato e a
indignação tomou conta de todo o séquito imperial
(com Dom João VI não veio só seus familiares , mas
todo o séquito imperial, composto de 21 mil pessoas,
desde Marqueses, Duques até empregados) e o que
fazer com esse povo todo ? provisoriamente ele
simplesmente divulgou um decreto onde todos os
moradores e servidores da !Coroa Imperial residentes
naquela cidade eram deliberadamente "convocados"
a "ajudarem" a corte portuguesa e assim deliberada‐
mente a deixarem suas residências só com os panos
e sacos de roupa e se mandarem dali (o decreto foi
promulgado às 6h da manhã e os moradores tinham o
prazo até as 15h da tarde para saírem).

Com isso feito, o povão foi pro olho da rua enquanto


os Reais (inclusive camareiras e amantes da família
imperial iriam ali residir).
Muitos foram morar nos mangues (no antigo Rio de
Janeiro manguezais era o que não faltava) , outros
nas beiras das praias e outros no interior das matas
infestadas de muriçocas, cobras e onças.
Com o passar do tempo (cerca de dois anos depois)
os povoados nesses mangues e orlas de praias
(estas eram repudiadas pelo povo europeu, eles
odiavam água, tomar banho...piorou) foram sendo
sistematicamente e desordenadamente povoados de
portugueses pobres, mulatos e escravos fugidos.
Com a cidade crescendo, outra coisa foi começando
também...a criminalidade sexual , infligida pelos
europeus contra as mulheres da colônia.
Afim de parar com isso (a coisa tava de tal modo sem
controle que estupradores europeus não estavam
mais sendo presos, mas capados ou mortos pelos
moradores da colônia).
Dom João VI institualizou a permissividade da
existência da Casa da Luz vermelha nos arredores
da Praia de Copacabana, na Gamboa e fechava os
olhos para a prostituição que começava a crescer em
volta do paço imperial.
Estas mulheres eram feias, desdentadas e na sua
grande maioria negras ou mulatas, coisa bem atrativa
para o jovem demonão, o tarado do paço imperial
que amava estuprar negrinhas e depois bater nelas, e
que ninguém tinha coragem de bater de frente, pois
este se tratava do não menos Dom Pedro I, filho do
Imperador Dom João VI.
Vindo de Portugal também um comerciante esperto,
novo e mulherengo logo se fez de amigo do jovem
demonão, e viu na desgraça do povo um meio de
ganhar um dinheiro, e assim pegando um dinheirinho
emprestado com seu amigo real, investiu e trouxe
da Europa prostitutas Polonesas e Francesas de
olhos verdes e azuis para agradar a corte portuguesa,
e assim ganhar um dinheirinho a mais com as
"novidades" vindas da Europa.

Com o passar do tempo, esta instituição que


ficava nas proximidades do paço imperial , foi por
medidas de respeito aos bons costumes e da moral
institualizada pelos Padres, devidamente transferida
para as imediações da região do Estácio, uma região
de ruas lamacentas na época e cheia de comércio,
localizada bem no centro da cidade.
Com isso as Francesinhas e Polonesas se agruparam
com mulatas, negras e índias, fora o contigente de
meninas que chegavam da Bahia, Pernambuco e
Alagoas, que cada dia mais engrossavam as fileiras da
prostituição na Capital brasileira.
Até então esta área denominada como Zona vermelha,
era cheia de bordéis e consequentemente de crimes e
histórias de dor e de revolta.
Com as reclamações dos "senhores da moral e dos
bons costumes" voltando a lhe importunar, foi acon‐
selhado pelo melhor amigo de Dom Pedro II, o então
rapaz novinho porém com tino político formidável, o
então quase desconhecido advogado e lutador de es‐
padas inveterado e sobretudo mulherengo e membro
quase que diário deste lugar, José Bonifácio de An‐
drade e Silva a transferir outra vez este "antro de maus
costumes" para um lugar distante do centro da cidade.
Nesta época as prostitutas de origem européia eram
denominadas Messalinas , enquanto as nascidas
na colônia eram denominadas Caboclas, e cada
uma um lugar para ficar.
As Messalinas em bordéis de luxo e as Caboclas em
bordéis de choupana...as negras era na rua mesmo.
Com isso a população "de bem" ficava exposta
e por isso de novo a prostituição teve que ser
arrebanhada para outras paisagens menos na cara
do povão e com isso Dom João VI institualizou a
criação da Cidade Nova.

O nome "Cidade Nova" tem registros que remontam ao


período do reinado de D. João VI.
Até o início do século XIX a região era um alagadiço
que servia de rota de passagem entre o Centro e as
zonas rurais da Tijuca e São Cristóvão. Com os aterros
feitos com a intenção de melhorar esta travessia,
surgiu o projeto de impulsionar o crescimento da
cidade para a área, vindo daí o nome.
A Cidade Nova passou a ser caracteristicamente
um bairro proletário, de pequenas casas operárias.
Nele, localizava-se a antiga praça 11 de Julho, que
seria destruída com as obras de abertura da Avenida
Presidente Vargas.
Com o passar do tempo, outra área foi crescendo
vertiginosamente...esta área que no início era rural,
começava a abrigar nordestinos, negros alforreados e
sobretudo cultos africanos.
Estes por sua vez, eram severamente perseguidos
pela monarquia de princípios católicos e assim sendo,
os trabalhos de encruzilhadas, cemitérios, campinas,
matas eram feitos nesta região da Cidade Nova.
Muitos yawos ou recém iniciados nos cultos afro
brasileiros trabalhavam como comerciantes nesta área
e tinham contatos com as prostitutas de lá.
Com a criminalidade aumentando , estas prostitutas ,
abandonadas pelas suas famílias, rejeitadas pela
sociedade e impossibilitadas de frequentarem as
igrejas, voltaram-se para os cultos afros, onde uma de‐
terminada entidade começava a ganhar uma atenção
dessas mulheres sofridas...esta entidade as entendia,
não as julgava e melhor, as ajudava carinhosamente.
Estas entidades eram as POMBAGIRAS.

Com o crescimento da cidade do Rio de Janeiro , no‐


vos bairros foram crescendo e sendo "institualizados",
dentre eles, Santa Teresa, Lapa e a Cidade Nova.
Mas o que os três tinham em comum: pobres,
imigrantes nordestinos e mulheres.
Com a subsequente onda de crescimento
demográfico na cidade e com poucas ou nenhuma
chance de possibilidade de adquirirem um emprego,
muitas destas mulheres optaram pelo dinheiro fácil.
Mas será que era tão fácil assim ? Não, não o era na
verdade. Tinham que suportar doenças venéreas,
pouco dinheiro , gravidez indesejada e pra piorar, po‐
diam esperar a violêcia...ou dos clientes ou da polícia,
que além de bater nelas tomava o dinheiro todo.
Neste meio , surgiu a necessidade de alguém que as
amparassem, que as defendessem desses infortúnios
e é aí que surge a figura mítica de um mulato quase
negro, alto, valente e sobretudo com uma fama de
cultuador dos ancestrais e mestre em capoeira,
o famoso Zé Pilintra.
Este senhor, que virou lendas nestes três bairros, fazia
sua "ronda" nestes três bairros, defendia as prostitutas
e por elas era amado e reverenciado, e com isso,
apesar de ter muitas histórias do mesmo nos Arcos da
Lapa, o mesmo era frequentador assíduo deste lugar e
até hoje la é cultuado em todos os bares, prostíbulos e
raro é não ver uma imagem sua por lá.
Lá Zé Pilintra não pede...ele manda.
Lá ele não mora...lá ele reina absoluto e
incontestavelmente como o Patrono da Vila Mimosa.

Durante quase todo o século XX o Rio de Janeiro


comportou em sua região central, conhecida como
Cidade Nova, uma vasta área onde o baixo meretrício
floresceu e perdurou. A Zona do Mangue, como era
chamado aquele conjunto de ruelas e casas que
se estendia às margens do canal, estava próxima
das estações dos trens da Central do Brasil e da
Leopoldina, e ligava-se ao Cais do porto pelo bairro
vizinho da Gamboa.
Além disso, abrigava em seu perímetro pequenos
alojamentos, cortiços, pensões e "casas de zungu"
que propiciavam o acolhimento dos trabalhadores
que por ali passavam em suas rotinas cotidianas ou
na chegada à cidade. A palavra zungu provém da
língua kimbundo (nzungu) que quer dizer confusão, e
assim eram denominadas as zonas de meretrício das
camadas menos favorecidas.
Cada casa de zungu possui as mesmas características
de ter em seus interiores vários cômodos ou
quartinhos como denominamos hoje, onde , não
só serviam para fazer sexo, mas sobretudo servia
como esconderijo para os malandros poderem fugir
do assédio da polícia.
Existiam na época instaladas neste zungus cerca de
50 mil prostitutas, sendo que Polacas, Francesas e
Polonesas depois de ficarem à mingua e deixando de
ser "novidades" iam pra estes zungus e contabilizavam
cerca de 10 mil entre as décadas de 20 e 30.
Precisamente pela razão de sua localização e
pelo grande número de pessoas que concentrava,
instalaram-se nos limites do Mangue duas instituições
disciplinares responsáveis por destinar à aquela área a
função capital de um cordão sanitário.
A primeira delas foi o Hospital São Francisco de Assis,
em 1922, que passou a funcionar no antigo prédio do
primeiro asilo de mendigos da cidade.
Dois anos antes de abrirem as
portas como hospital destinado ao tratamento de
doenças venéreas, o governo da antiga capital da
República já havia mandado retirar as prostitutas que
faziam o trottoir em outros bairros centrais, obrigan‐
do-as a permanecerem nos lupanares do Mangue
durante a visita do Rei e da Rainha da Bélgica à cidade.
A segunda instituição disciplinar
instalada na região foi o 13º. Distrito de Polícia, o
qual mantinha em seus arquivos um fichário com
o nome de todas as mulheres que trabalhavam
nos bordéis locais.

Durante o período compreendido entre 1900 à 1920 ,


o Rio de Janeiro era a capital do Brasil, fato que con‐
tinuaria até a construção de Brasília e a transferência
como capital do Brasil...até então os grandes senhores
Barões do café e os Mandatários do leite , que
formariam até o final dos anos 30 a dinastia do café
com leite , praticamente mandavam em tudo no Brasil,
mas estes tinham um defeito e ao mesmo tempo um
ponto fraco...as mulheres deste citado meretrício.
Durante esta época, muitas mulheres foram
beneficiadas tornando-se amantes incondicionais
e até mesmo esposas destes grandes senhores do
dinheiro e do poder político.
Isso pode ser aparentemente irrelevante para nós,
mas na verdade não o é ...muitas dessas mulheres
também eram amantes de Delegados e durante
este período as religiosidades afro religiosas eram
demasiadamente perseguidas e reprimidas pelo crime
de atentado ao pudor e aos bons costumes e muitos
Sacerdotes afros apanharam literalmente no pau de
arara ou eram deportados para a penitenciária e de
lá raramente saíam vivos.
E nada melhor pra mudar a cabeça de um homem
do que uma mulher, especialmente que estas na sua
grande maioria eram iniciadas nas religiosidades
afro brasileiras (Umbanda , Quimbanda, Candomblé,
etc...) e estas interviram nisso e graças a isso muitas
casas de asé foram salvas de serem fechadas e
de seus zeladores acabarem mortos, graças ao
famoso asé de pernas.

O fato ainda se perpendicularia ainda mais, pois duas


eram filhas de santo de dois zeladores que viriam a
lutar muito pelas religiosidades afros...uma era Mãe
Ciata , Quimbandeira, jongueira e Mãe de santo do
Candomblé, que era vendedora informal de acarajés
na praça da bandeira, que apoiou as manifestações
afro musicais do nordeste que se infundiriam
para sempre na cultura brasileira, pois esta levava
músicos para sua casa e nos fundos da sua casa,
prostitutas, malandros , políticos, jornalistas e estes
músicos iriam construir a maior manifestação cultural
deste país...o Samba !
Outro era Feliciano Sower, o detestável e temido
Quimbandeiro, Kabulista e Pai de Santo da nação
Ketu , que todos do país temiam...caladão, sisudo
e sobretudo, intragável.
Este senhor era tão temido pelos seus feitiços que a
polícia passava a léguas de distância do seu bairro e
mesmo assim se isto sequer cheirasse a perseguição,
as consequências eram funestas.
Até mesmo após a sua morte, foi lembrado por
personalidades dos cultos afros como Mãe
Senhora, Agenor Miranda , Joãozinho da Goméia,
Mãe Menininha do Gantois e principalmente Zélio
Fernandino de Morais que em vida o conheceu e que
por este foi defendido diversas vezes nos conselhos
internos de Pais de santo por causa deste ter criado
a Umbanda (coisa muito mal vista na época não
só por Kardecistas, mas sobretudo por praticantes
dogmáticos da antiga macumba carioca, jongueiros,
candomblecistas e quimbandeiros) e isso geralmente
acabava em morte. Coisa que não aconteceu à Zélio
e tão pouco aos seus iniciados que foram protegidos
sempre por este senhor.
Hoje vejo muitos Umbandistas falando mal de
Quimbandeiros e Candomblecistas, mas a Umbanda
deve muito à senhores como este.

Durante esta época veremos a ascensão e criação


dos grandes cassinos, principalmente o da Urca e a
ascensão política de Getúlio Vargas.
Mas enquanto isso, o sofrimento do povão
continuava , mas eis que outro malandro surge para
defender este povo...negro, alto, bebedor inveterado
de cerveja, frequentador dos bares da baixada da
Lapa, devoto de Zé Pilintra e feito na Quimbanda. Este
senhor era frequentador assíduo desse prostíbulo e à
ele e a seus comerciantes defendia, este senhor era
nada menos que Miguel Camisa Preta, um malandro
que de tão estimado e amado, ficou conhecido como
o defensor e sucessor de Zé Pilintra e nas rodas do
submundo era por deveras respeitado.
Pessoas como Noel Rosa e Manuel Bandeira o
conheceram e por ele foram defendidas.
Para alívio desse povo, Getúlio Vargas ficou doente
e este procurando médicos e não melhorando
foi levado à casa de uma Mãe de santo que o
recepcionou com carinho e amor, e onde havia sido
perseguida esta lhe estendeu as mãos quando muitos
queriam a morte deste.
Este foi socorrido e amparado , foi limpo no ritual de
sararieie, teve seu exú assentado e fez borí, e com isso
respeitava carinhosamente aquele asé. Se trata do Asé
Opo Afonjá, no Rio de Janeiro.
Esta senhora lhe mostrou a validade dos ritos afro
brasileiros e este, enternecido, institualizou a lei
constitucional de amparo às religiosidades afro
brasileiras, o que possibilitaria a licenciatura e criação
de terreiros mediante alvará municipal e da delegacia
de bons costumes.
Muitos terreiros foram abertos nesta época graças à
intervenção dessa senhora.
Esta senhora possuía três médiuns...duas trabalhavam
no meretrício e um atuava como vendedor ambulante
de cocadas e cigarros nas imediações. E uma dessas
era amante do segurança de Getúlio Vargas e que
o levou a este terreiro, este era nada menos que
Gregório Fortunato, o famoso anjo negro.

Um dos filhos de Getúlio Vargas era mulherengo


pra cacete e por uma prostituta desse meretrício se
apaixonou perdidamente e a tirou da prostituição.
Além de prostituta, a mesma era mulata, coisa
detestável aos olhos do jornalista e político adversário
de Getúlio Vargas e que estava prestes a destruir a
carreira de Vargas por causa disso.
Gregório Fortunato quando soube disso ficou
possesso e chamou um amigo pra acabar com o
fofoqueiro metido e armou uma tocaia contra Carlos
Lacerda (o jornalista) mas infelizmente deu errado
e o tiro acabou acertando um oficial da aeronáutica
que andava com Lacerda. Resultado : o crime que
teve motivações passionais virou catapultada para a
derrota política de Getúlio Vargas na política brasileira
e que culminou na sua morte.
Posteriormente o povo brasileiro choraria a perda
do "pai dos pobres".
Logo depois, entre os períodos de 50 e 60 os cassinos
ganharam uma ascensão elevada e a degradação
do "mangue" (antes a zona não era conhecida como
vila mimosa mas como zona do mangue), que
com a transferência da capital do Brasil do Rio de
Janeiro para Brasília diminuiu em muito o prestígio
desse meretrício.

Mas se vocês acham que durante o período de 1930


à 1960 ficou largado às moscas e sem um protetor,
malandro e boêmio...estão muito enganados.
Elas, as prostitutas, tiveram outro malandro, de
gênio instável e sobretudo desbocado (amava
falar palavrões), mas um fato era curioso...ele
era homossexual.
Este malandro teve nas suas costas a morte de 100
policiais (83 na zona do meretrício do mangue e o
restante na Lapa) abusadinhos que gostavam de
bater em prostitutas ou de querer dar na cara de
iniciados nas religiosidades afro brasileiras (ele era
iniciado na antiga macumba carioca , era devoto de Zé
Pilintra, Maria Padilha e Ogum) e ficou conhecido por
arrumar mais de 3000 brigas com golpes de capoeira
e navalha afiadíssima.
Morava com uma prostituta da zona do mangue na
antiga Lapa boêmia e foi preso diversas vezes na
penitenciária de Ilha grande.
Quer fosse na Lapa, na zona do mangue ou nos
bares de Santa Teresa, lá estava João Francisco dos
Santos, nordestino, pobre, analfabeto, cultuador de
uma religiosidade afro e sobretudo, homossexual.
Lá era Rei e Rainha, Santo e Diaba...assim era o
famoso Madame Satã.

Durante a época de 70 a prostituição e a malandragem


carioca passaram a ser caracterizadamente
deturpadas.
A prostituição passou a ser encarada como algo usado
pela maioria pobre e casas de doenças venéreas e a
malandragem a ser confundida com criminalidade.
Resultado: começaram as perseguições impostas pela
ditadura e uma das primeiras coisas que tentaram
fazer foi a criação de um muro feito de papel, isso
mesmo, de papelão. E assim, supostamente esconder
a zona do meretrício com a zona militar brasileira,
onde as duas residem desde a época de Dom João VI.
O fato em si, é que a lapa, o bairro de Santa Teresa
e a zona do mangue sofreram perseguições cruéis
e incessantes, sendo assim...vários músicos,
Umbandistas, Quimbandeiros, Malandros, Sambistas e
tantos outros praticamente sumiram nesta época.
Outros como Dicró, Agepê e tantos outros ficaram e
ajudavam os mais perseguidos.
Com o tempo e com o fim da ditadura, a Lapa boêmia
voltou através de documentários e artigos jornalísticos
a ser alvo de defesa de supostos defensores da
malandragem carioca e assim consequentemente o
bairro de Santa Teresa também começou a ser visto
de outros parâmetros, tendo inclusive sua arquitetura
nomeada como patrimônio nacional.

Mas a zona do mangue não foi esquecida...com o


tempo foi fundada uma associação das prostitutas e
estas denominaram a antiga zona do mangue como
Vila Mimosa (uma forma de homenagear uma antiga
prostituta da região e que um dia fora amante do
famoso malandro Miguel Camisa Preta).
Esta vila até hoje esta de pé com seus 70 puteiros
(cada puteiro tem cerca de 10 quartos) , funcionando
24 horas por dia em todos os dias da semana,
formando atrizes pornôs (pra quem não sabe muitas
atrizes do pornô nacional saíram de lá) e atendendo
diariamente cerca de 7000 pessoas.
Vila de amores secretos...vidas em dores
amargas...assim é a Vila Mimosa, assim é uma parte
escondida da história afro religiosa carioca que muitos
tem medo ou hipocrisia de falar.
Vila Mimosa, vila protegida por Pombagiras
e por Malandros.
- Entre as personalidades conhecidas que transitavam
por lá estão o pintor Di Cavalcanti e os músicos
Dicró, Mr. Catra e Cartola. Manuel bandeira ,
Duque de Caxias , etc..
- A Vila Mimosa é a maior zona de prostituição
do mundo.
- Instituições importantes como OAB e FAETEC são
parceiras da Vila Mimosa.
- A Vila começou a diminuir quando o prefeito Pereira
Passos iniciou seu projeto de modernização da
cidade, no início do século XX. A partir daí, uma série
de outros acontecimentos foram colaborando para
que a Vila mudasse definitivamente de lugar: as
transformações sanitárias promovidas por Oswaldo
Cruz e a construção do Metrô, do teleporto e da sede
do Governo municipal.
- Cerca de 95% das prostitutas são adeptas das
religiosidades afros...todas são devotas de Zé Pilintra
e cada estabelecimento tem uma imagem dele e/ou
de uma determinada Pombagira.
- Todo ano há um concurso de beleza para escolher
uma Miss entre as prostitutas que trabalham na Vila
Mimosa. O nome desse concurso é "Gatinha Mimosa".
- Apesar do lugar ser conhecido como zona de
prostituição de baixo meretrício, ou seja, de garotas de
programa e clientes pobres, a Vila Mimosa movimenta
por mês R$1 milhão de reais.
- Há mais de 15 anos não são constatados casos
de HIV na Vila Mimosa.
- O projeto da nova Vila Mimosa, já batizado de "Cidade
das Meninas" pelas prostitutas, é dividido em dois
complexos com cinco módulos, num total de 1.825
metros quadrados. Há espaços para teatro, desfiles
de moda, salas para cursos profissionalizantes,
creche para 50 crianças, estacionamento para 70
carros, posto de saúde e escritórios. Foi desenhado
pelo arquiteto Guilherme Rodrigues Ripardo, que se
inspirou em obras de Oscar Niemeyer.
A parte estrutural, sem contar com o terreno, está
orçada, no mínimo, em R$ 3 milhões.
Última modificação: 03:43

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