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Introdução:
Para análise da história do tráfico de negros escravizados entre a África e o Rio de Janeiro
durante os séculos XVIII e XIX, que foi um dos maiores portos do mundo, com a chegada de
aproximadamente dois milhões de indivíduos escravizados, será realizado um campo - da
disciplina Geografia da População - que propõe pensar e entender como se deu essa dinâmica
de deslocamento forçado: A diáspora Africana no Rio de Janeiro.
A Pequena África, território onde o campo será realizado, inclui a zona portuária e uma parte
da área central da cidade que vai do Cais do Valongo até o Campo de Santana, atual Praça da
República, incluindo a Praça Onze. A enorme quantidade de pessoas de culturas distintas
acabou por construir, na região do Valongo, onde se estabeleceu o complexo econômico da
escravidão, incluindo os mercados, os hospitais e os cemitérios, um fervoroso território de
reivindicação e resistência cultural. Nesse território, que depois se estenderia até a Praça
Onze, os terreiros (comunidades litúrgicas culturais de base africana), a atuação de mulheres
e as formas de sociabilidade das ruas, das casas e cortiços, compunham o ambiente no qual,
posteriormente, surgirá o samba. Portanto, a realização do campo neste território é de extrema
relevância, pois foi um lugar de resistência dos negros que eram comercializados, e hoje, é
um local de construção da memória e reafirmação dos pretos no território fluminense.
Objetivos do Campo:
● Porto Maravilha
Projeto desenvolvido pelo prefeito Eduardo Paes, no contexto das Olimpíadas de
2016, sediada na cidade do Rio de Janeiro, que objetivou uma série de transformações
urbanísticas, em termos infraestruturais e paisagísticos no centro da cidade do Rio de
Janeiro.
1. Principais transformações:
● Elevado da Perimetral demolido;
● 70 km de vias reurbanizadas e 650.000 m² de calçadas refeitas
● 700 km de redes de infraestrutura urbanas reconstruídas (água, esgoto, drenagem);
● 17 km de novas ciclovias;
● 15.000 árvores;
● Transformações urbanísticas no Píer Mauá e requalificação dos armazéns portuários.
2. Objetivos:
● “Revitalização/requalificação” das áreas centrais;
● Criação de um novo circuito turístico no Rio de Janeiro;
● Ampliação das áreas de valorização imobiliária do centro do Rio de Janeiro;
● Criação de empreendimentos imobiliários para a atração de empresas;
3. Consequências:
Especulação imobiliária;
● Remoções populacionais;
● Mudança no perfil socioeconômico da população residente;
● Refuncionalização.
Ocupada desde 1608 por negros e estabelecendo uma função associada ao porto da
cidade, surge a Pedra do Sal, lugar de grande importância para a memória negra na cidade do
Rio de Janeiro.
A toponímia encontra-se associada ao constante desembarque do sal nesta área da
cidade, destinado principalmente a conserva de carne e carregado por africanos escravizados.
A necessidade de subida na pedra lisa para descarregar o sal, levou a construção de degraus
sobre a rocha, facilitando o trabalho existente.
A partir da segunda metade do século XIX, com a ampliação das atividades portuárias
na cidade do Rio de Janeiro, sobretudo devido à transformação desta para capital político-
administrativa do reino, e com a decadência econômica sofrida na antiga capital Salvador, os
fluxos de migrantes negros, vindos da Bahia para a cidade do Rio de Janeiro, levaram a uma
maior ocupação desta área da cidade por este grupo social. Estivadores se reuniam no local
para cantar e dançar, o que fez com que surgissem na Pedra do Sal, os primeiros ranchos
carnavalescos, afoxés e rodas de samba, além de ter se configurado enquanto espaço para
despachos e oferendas relacionadas às religiões afro-brasileiras.
“Diversos baianos, mineiros e fluminenses que chegavam à cidade do Rio de Janeiro
tinham o local como referência de trabalho em função dos laços de solidariedade familiares e
religiosos ali oferecidos”. Carmem Teixeira da Conceição, tia Carmem, filha de africanos e
com mais de 100 anos, na década de 1980, deu o seguinte depoimento a Roberto Moura:
“Tinha na Pedra do Sal, lá na Saúde, ali que era uma casa de baianos e africanos,
quando chegavam da África ou Bahia. Da casa deles se via o navio, aí já tinha o sinal de que
vinha chegando gente de lá. [...] Era uma bandeira branca, sinal de Oxalá, avisando que vinha
chegando gente.”
(FAZER CITAÇÃO)
A pedra do Sal tornou-se um monumento histórico e religioso tombado desde 1984 pelo
Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (INEPAC), e alguns descendentes da última
geração de negros escravizados ainda moradores na região em volta da Pedra do Sal são
admitidos ainda hoje como remanescentes de Quilombo e lutam pela valorização e
preservação de um passado de conflito e resistência que marca tal território. Atualmente, a
Pedra do Sal ainda é frequentada, em sua maioria, pela população negra, por existir o
sentimento de pertencimento ligado ao local, que pode ser considerado um quilombo urbano
onde acontecem ainda rodas de samba, e eventos ligados à memória e cultura afro brasileira.
● Histórico
A partir do final do século XVIII, após cumprirem quarentena em ilhas da Baía de
Guanabara e serem liberados para tornarem-se negociáveis, os negros africanos que
conseguissem sobreviver às terríveis condições da viagem do Atlântico, finalmente
aportavam no cais do Valongo, construído na região periférica da cidade, majoritariamente
ocupada pelas elites brancas.
Mercado no Valongo
Figura 3: Rua do Valongo, como consta na placa afixada na casa, no alto à esquerda, com seus
armazéns de escravos. Valongo, ou mercado de escravos no Rio. Desenho de Augustus Earle, gravura
de Edward Finden, 1824. Fonte: LIMA, T. 2016.
Florentino (2014) aponta que a reprodução da hierarquia social, bem como da escravidão
enquanto eixo central da economia era dependente do tráfico negreiro, tanto porque a
população cativa não atendia à demanda da escravidão, quanto porque, do ponto de vista
demográfico, esta população se caracterizava por uma tendência à diminuição absoluta ao
longo do tempo. O autor aponta ainda que entre o ano de 1790 e o fim do tráfico legal, em
1830, o porto do Rio de Janeiro recebeu cerca de 697.945 africanos, conforme explicitado na
abaixo.
7º Praça da Harmonia
A praça da harmonia está localizada no Centro do Rio, Zona Portuária, no bairro da Saúde,
um dos mais significativos lugares de memória da tradição afro-brasileira no Rio de janeiro.
Neste mesmo local, durante o século XIX, também funcionou o Mercado da Harmonia que
tinha como objetivo a venda e exposição de produtos e ao longo do tempo, o mercado foi
destinado em moradias populares. Com a criação de novos cortiços nesta área provindos do
mercado, a administração do prefeito Barata Ribeiro, que foi marcada pelo enfrentamento dos
cortiços, pois representavam doenças, desordem e brigas. Segundo Chalhoub (1996:16) sua
destruição “marcou o início da erradicação dos cortiços cariocas”, processo que deu início ao
surgimento das primeiras favelas do Rio de Janeiro. Portanto, em prol de uma higienização
pública acabar com o mercado também era algo legítimo. Processo que ocorreu no governo
do Prefeito Pereira Passos, e posteriormente, no lugar do Mercado, a Praça da Harmonia foi
construída.
A praça também foi um espaço de extrema importância durante a República Velha, Revolta
da Vacina, que foi uma movimentação da população em reação à campanha de vacinação
obrigatória e às reformas urbanas que demoliam suas habitações.
Segundo Cláudio Honorato, a memória dos moradores mais antigos ainda guarda as histórias
de ocupações da Praça como um local de encontro dos moradores e, desde os anos 1930, dos
ensaios e desfiles de blocos de carnaval, como o Rancho da saúde, e o Vizinha Faladeira.
Em 2009 com o projeto Porto Maravilha, houve uma proposta de revitalização da praça com
intervenções urbanas, recuperação do jardim, melhoria na iluminação e reforma da quarta.
Também foi instalada uma estação do VLT para melhor integrá-la aos outros pontos da
cidade. Atualmente, o local é ocupado por diversos grupos que promovem eventos culturais
para manter a memória do espaço que historicamente é ligado à resistência das camadas mais
pobres da cidade, como os negros, capoeiristas, sambistas, estivadores e moradores dos
“cortiços”.
Referências: