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FACULDADES INTEGRADAS CAMPOGRANDENSES - FIC

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL UNIFICADA CAMPOGRANDENSES - FEUC


GRADUAÇÃO EM LICENCIATURA DE HISTÓRIA

JÔNATAS ALVES VIEIRA MAT.: 20010358

TRABALHO AVALIATIVO AV I
DINÂMICA URBANA DO RIO DE JANEIRO NO PERÍODO COLONIAL.

RIO DE JANEIRO – RJ
2023-2
O Rio de Janeiro foi fundado em 1565 pelos portugueses e inicialmente
tinha como objetivo ser um posto estratégico de defesa contra as invasões
estrangeiras e ataques de piratas. Passados os anos e através da chegada da
Família Real ao Brasil, em 1808, estabelecendo sua gestão no Rio; a elevação do
Brasil à condição de Reino Unido em 1815, concentrou-se a administração do
"mundo" português na cidade; o processo de Independência do Brasil, que
assegurou a unidade nacional e o governo central no Rio.
Além disso, a criação do Município Neutro (também em 1815) marcou a
separação política da cidade da Província Fluminense, situação que perdurou pela
República e só cessou com a transferência da capital para Brasília, no Planalto
Central, em 1960. Somente em 1975, com a fusão do Estado da Guanabara com o
Estado do Rio, foi oficialmente restabelecido o recorte territorial anterior à criação
do Município Neutro.
O Rio de Janeiro se tornou o principal ponto de escoamento da prata
proveniente do Potosí e do ouro das Gerais graças à presença da Baía da
Guanabara, que oferecia um ancoradouro seguro para os navios à vela, uma
necessidade crucial na época.
A cidade, protegida por uma rede de fortificações, tais como o Forte de
Copacabana e a Fortaleza de Santa Cruz da Barra (fotografias respectivamente na
ordem após o parágrafo abaixo) estrategicamente localizadas na entrada, impediu
a ação de corsários e invasões; adicionalmente, a facilidade de acesso ao interior
em direção ao Rio da Prata e às Gerais contribuiu para seu destaque como um
local seguro para o transporte de riquezas minerais, o lucrativo comércio de
escravos e a importação de produtos, tornando seu porto a principal porta de
acesso à África, às Índias e à Europa.
Forte de Copacabana

Fortaleza de Santa Cruz da Barra

O porto, onde ocorriam o tráfico de escravos e importantes transações


comerciais, foi o ponto de partida das transformações da cidade. A partir dele,
riqueza e diversas culturas se espalharam, alterando o cenário geográfico nas
proximidades da baía e em direção ao interior.
No período colonial, a atuação dos ourives e influentes comerciantes
desempenhou um papel significativo nas questões econômicas e políticas; a
pequena e crescente burguesia, juntamente com os proprietários das grandes
fazendas (como a família Sá), representava os interesses da Coroa, além da
influência e riqueza da Igreja.
O Rio enfrentou sérios problemas devido à escassez de água, o que teve
um impacto decisivo na distribuição da população: os mais ricos se dirigiam às
fontes de água, estabelecendo-se em chácaras nas áreas elevadas; os mais
pobres se concentravam no centro, em torno dos chafarizes, em condições de
higiene precárias.

Chafariz da Carioca- importante fonte de abastecimento de água.

A posição estratégica em relação às demais cidades da colônia oferecia uma


combinação ideal: um porto seguro (a baía), acesso ao Rio da Prata e às minas de ouro
das Gerais; isso reconfigurou o fluxo de riqueza da colônia, centralizando o comércio
português no Rio. Esse influxo de capital chamou a atenção de Portugal e do mundo. A
Corte Portuguesa enviou seus representantes legítimos para reprimir o contrabando e
controlar o comércio exterior, cuja centralização no Rio facilitava o controle português
sobre as riquezas da colônia; uma infraestrutura eficiente foi estabelecida para a
fiscalização.
A cidade foi agraciada com várias construções, como edifícios para a
administração, um sistema de transporte/porto eficaz, um sistema de abastecimento de
água eficiente e espaços públicos. A presença da Corte Portuguesa no Brasil
desempenhou um papel crucial. Com ela, chegou um contingente que transformou a
cidade de uma vila colonial em uma cidade "cosmopolita"; vários órgãos foram criados,
como o Banco do Brasil e a força policial, entre outros. A renda per capita teve um grande
salto, e as atividades econômicas e sociais se diversificaram. Houve melhorias na
infraestrutura, como iluminação pública, e mudanças na educação: escolas, instituições
de ensino superior e bibliotecas foram estabelecidas. A cena cultural passou por uma
revolução com a abertura de teatros para atender ao refinado gosto da corte. No cenário
popular, a música, especialmente o lundu e a modinha, destacou-se, fruto da
miscigenação no processo de formação do povo brasileiro, deixando uma marca indelével
na cultura.
Na Independência, em 1822, o Rio manteve-se como a sede do Império, o
epicentro das decisões políticas, econômicas e militares. A cidade viu um crescente
influxo de imigrantes europeus, franceses e ingleses, que influenciaram a vida cotidiana
dos cariocas. A República foi proclamada no Rio em 1889, mantendo-se a cidade como o
centro das decisões políticas até 1960, quando a capital foi transferida para o Planalto
Central.

Correio Braziliense informando que o Príncipe Regente Dom João iria transferir a
capital para o interior do Brasil.
Manchete anunciando a saída da capital do Brasil do estado da Guanabara

O Rio assumiu uma posição incontestável como a capital do país, reconhecida


nacional e internacionalmente como a "porta" de entrada para o Brasil, devido à sua
história rica que moldou o perfil do povo brasileiro, sua politização, costumes, tradições e
crenças; tornou-se um centro de disseminação da cultura nacional.

Sua vocação como capital resultou da soma de mudanças ocorridas; o poder


concentrou-se na cidade, trazendo consigo estruturas e infraestruturas. Posteriormente,
um processo migratório enriqueceu ainda mais a cidade com sua força de trabalho e
cultura.
No Rio, um dialeto peculiar se desenvolveu, com características notáveis, refletindo
as interações sociais e socioculturais. O conjunto de símbolos desse dialeto inclui gírias,
calões e jargões regionais, que são realidades completamente distintas usadas como
instrumentos de verificação na história social e sociocultural.
O plano sociocultural, devido à sua capacidade de aproximar a visão científica da
realidade completa e à sua influência em nossa vida cotidiana, é o mais importante. O
segundo mais importante, talvez, seja o socioeconômico, pelas mesmas razões e pela
necessidade contínua de sobrevivência. Um exemplo notável disso é o clássico legado
deixado por 'Lampião', que criou um legado duradouro que se espalhou pelo nordeste do
Brasil desde o início do século XX até os dias atuais, influenciando tanto áreas urbanas
quanto rurais em todo o país.
O dicionário Aurélio define gíria como a linguagem característica de muitos grupos
de excluídos sociais que a usam para não serem compreendidos por outras pessoas -
especialmente as autoridades policiais, no caso de criminosos -, podendo servir como um
verdadeiro código secreto. Seguindo o conceito do professor Benedicto Silva ("as
palavras são apresentadas de maneira diferenciada, separadas e identificadas com
segmentos sociais distintos"), podemos afirmar que o dialeto é uma derivação do grego
Dialektos (Paoli, 1974; Foracchi, s.d.), que originalmente designava todos os sistemas
linguísticos usados para expressar um determinado gênero literário, sem deixar de ser a
língua de comunicação cotidiana. No entanto, na linguagem moderna, a gíria engloba
todas as formas de língua que têm sistemas lexicais, sintáticos e fonéticos (Cardoso,
1972) diferentes da língua da qual derivam. Contudo, eles ainda compartilham traços de
sua afinidade mútua, já que a língua e o dialeto pertencem à mesma família linguística.
O calão é de particular interesse, pois permite identificar a dinâmica entre grupos
sociais. Segundo o professor Benedito Silva, o calão é associado à diferenciação social,
ao aumento do número de grupos e à impessoalidade e autonomia das relações sociais
(Berlink, 1977, p. 11-4). Estava amplamente presente entre o que era considerado
marginalidade urbana, em suas práticas de comunicação e interação, e carregava (ainda
carrega) elementos fundamentais de identidade.
Esses elementos são identitários em sua conformação como um corpo social e
sociocultural. Não temos informações completas que permitam verificar a diferenciação
intergrupal por meio dos calões usados pela marginalidade do século XIX no Rio de
Janeiro. Sabemos que a língua é o veículo básico para disseminar o conhecimento,
moldar e promover o comportamento de uma determinada sociedade. Em termos de
disseminação, a língua nos permite ver mais, pois nos permite perceber a dinâmica
interna de um grupo específico. Classifica hierarquicamente e esclarece as relações de
poder dentro desse grupo. Torna possível extrair o perfil de sua dinâmica social e
comportamental. Pela língua, é possível identificar até mesmo a etnicidade de um grupo
(Lyotard, 1988). Ao observarmos a marginalidade e/ou a condição de exclusão social e
sociocultural dos afrodescendentes no Rio de Janeiro a partir da segunda metade do
século XIX, buscamos compreender sua existência e comportamento por meio de seus
símbolos compartilhados, revelando, na medida do possível, seu conhecimento singular,
que lhes conferia poder e garantia seu espaço e identidade, tanto individualmente quanto
em grupo. Em resumo, esse conhecimento era formado por um conjunto de sinais
distintivos que serviam como um escudo contra possíveis intrusos, principalmente a
polícia.
A reconstrução das concepções mentais desses dois grupos é de suma
importância e ao examinar a relação entre os afrodescendentes excluídos e os cidadãos
de classe média do Rio de Janeiro, podemos notar conflitos de comportamento e um
relacionamento conflituoso que possivelmente esconde falsas representações de ambos
os lados.
A ascensão social dos afrodescendentes em um cenário pós-escravidão, em
confronto com o tradicionalismo lusodescendente colonial/imperial, representa um
desafio, especialmente quando a força repressiva do Estado é levada em consideração -
algo que teria sido difícil de conceber em épocas passadas. Conflitos recentes parecem
se opor às práticas policiais às dos antigos capoeiras. Acreditamos que o Rio de Janeiro
vivenciou, no final do século XIX, seu período mais complexo de interações sociais
urbanas.
Foi um momento na história sociocultural do Rio que deve ser investigado como o
início da construção de um comportamento de liberdade para os escravizados que
habitavam o espaço urbano.
REFERÊNCIAS

BICALHO, M. F. A cidade e o Império: O Rio de Janeiro no século XVIII. Rio de Janeiro:


Civilização BRASILEIRA, 2003.

EDMUNDO, LUÍS. O Rio de Janeiro no tempo dos vice-reis-1763-1808- Brasília : Senado


Federal, Conselho Editorial, 2000.

https://www.youtube.com/watch?v=pJgEtWNCejQ
PEREIRA PASSOS- A REFORMA URBANA DO RIO DE JANEIRO

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