Nathana Zanatto e Tamara de Paula O que é? O Samba de Roda é considerado um Patrimônio Cultural Imaterial, que pode ser classificado como um conjunto de conhecimentos relacionado a vivência de determinada comunidade. Segundo a Conversão, o patrimônio imaterial pode ser definido como as praticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas. Esse patrimônio é transmitido de geração em geração.’ Uma pesquisa publicada em um dossiê para o Iphan também fundamentou a candidatura do samba de roda à III Proclamação das Obras-Primas do Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade, título que foi outorgado pela Unesco em 2005. Desde então o Iphan tem acompanhado a elaboração e a implantação do Plano de Salvaguarda do samba de roda, com o objetivo de apoiar e fomentar ações de valorização dos sambadores e sambadeiras da Bahia e a melhoria das condições que propiciam a continuidade deste valioso bem cultural. O Samba de Roda baiano é uma forma de preservação da cultura transmitida pelos negros africanos escravizados no Brasil. É uma variante musical mais tradicional do samba com traços culturais trazidos pelos portugueses. Formado de expressão musical, coreográfica, poética, o samba de roda permeia atividades econômicas, religiosas e lúcidas, particularmente no contexto cultural do Recôncavo Baiano. O estilo musical tradicional afro-brasileiro e associado a dança, que por sua vez está associada a capoeira. Apresenta inúmeras variações que parecem estar relacionadas com aspectos ecológicos, históricos e socioeconômicos das diferentes regiões do Estado. Onde se localiza? Originário do estado brasileiro da Bahia, ele é especialmente forte e mais conhecido e praticado na região do recôncavo, pela formação política, social, econômica, culturais e artísticas. A faixa da terra que contorna a baía de Todos os Santos, onde se encontram 21 municípios. Porém o samba pode acontecer em qualquer lugar, seu desempenho tem caráter inclusivo, por isso o ritmo se espalhou por várias partes do país, sobretudo Pernambuco e Rio de Janeiro. Recôncavo Baiano Delimitar o recôncavo baiano não é tarefa fácil ainda que use o oceano como fronteira. Mesmo porque, quando se diz Recôncavo Baiano, está se falando muito mais de um conceito histórico que de uma unidade fisiológica. Histórico do bem / contexto histórico nacional O Recôncavo é uma invenção histórica e uma configuração cultural que nasceu da aventura de alguns portugueses, e de muitos africanos e indígenas. Por isso, trata-se de uma unidade regional que foi concebida e é situada por dentro da história dos engenhos de cana, da escravidão e da indústria açucareira no Brasil. Assim que os portugueses chegaram, perceberam que a baía era um porto seguro, por suas pequenas ilhas e os recifes dificultarem a entrada de navios inimigos, sendo possível a transição de pequenas embarcações e propícias para os primeiros engenhos de cana-de-açúcar, paróquias e vilas, tornando Salvador e Cachoeira os dois principais centros metropolitanos da região, polos integradores do circuito comercial, político e cultural que a colonização portuguesa inaugurou. No ritmo dos engenhos de açúcar o Recôncavo foi se formando, e foram surgindo e crescendo os núcleos urbanos, fazendo funcionar uma rede pela qual transitavam produtos e pessoas ocupadas com o comércio. Dessa rede tem sido subtraído e acrescentado, ao longo de tantos séculos, um considerável número de cidades, deixando hoje o Recôncavo com 21 municípios, mas todos eles enfrentam hoje, contudo, uma grave situação de degradação ambiental. No Paraguaçu foi construída a barragem de Pedra do Cavalo que, se garante o abastecimento regular de água potável para várias comunidades, prejudicando a pesca e a mariscagem, que são importantes e tradicionais fontes de renda para as populações locais. Infelizmente o Recôncavo, além da degradação ambiental, também se encontra a pobreza generalizada e a desigualdade social. Para alguns, o Recôncavo é sinônimo de “região cronicamente pobre, entretanto dotada do fascínio de ser a principal detentora da tradição cultural da sociedade escravista” (Pedrão, 1998:219). Mas nem sempre foi assim. Por um longo tempo a riqueza dos donos de terras e escravos saltavam aos olhos. Logo que se instalaram no Recôncavo os colonizadores descobriram as virtudes do solo de massapê, predominante na região. O massapê e o clima tropical se prestavam bem para o cultivo em larga escala da cana-de-açúcar. Após a dizimação de muitos indígenas e a escravização ou expulsão de outros tantos, os portugueses se apossaram dos melhores terrenos, fazendo-se donos de pessoas e riquezas. Embora os negócios do açúcar estivessem sempre à mercê do mercado internacional, as vendas garantiram fortuna e prestígio aos grandes proprietários locais. Criou-se ali, assim, uma economia sustentada pelas lavouras do fumo, da cana-de-açúcar e pelo trabalho de negros escravizados. Associada à lavoura canavieira, a indústria do tabaco também floresceu no Recôncavo baiano. Com a decadência da produção da cana-de-açúcar e do fumo, e o empobrecimento regional que se seguiu, ficaram ainda mais reduzidas as oportunidades de sobrevivência. Assim, teve lugar uma outra forma de expansão do Recôncavo: a migração. Foram muitos os trabalhadores, em sua maioria negros, que abandonaram as velhas cidades para se estabelecerem em povoados e vilas menores, em busca de melhores condições de vida. Com isso, o Recôncavo foi expandido para dentro de si mesmo. Entretanto, foi graças a esse processo migratório que hoje é possível perceber certa unidade cultural na região. Mesmo em povoados e cidades distantes entre si, podem ser observadas práticas e tradições similares, a exemplo do samba de roda. Nos anos 1950, a extração de petróleo, recém- descoberto na região, prometia encerrar a dormência econômica que durou por 100 anos o Recôncavo. Tal promessa foi cumprida apenas em parte, e mesmo os limitados benefícios dados a população têm sido distribuídos de modo bastante desigual. A presença africana foi e continua a ser, uma marca da cultura do lugar. Eram negros os homens, mulheres e crianças que cuidavam dos canaviais, faziam os engenhos funcionarem, mantinham toda a infraestrutura necessária e ainda promoviam magníficos batuques. O Recôncavo é uma invenção histórica e uma configuração cultural que nasceu da aventura de alguns portugueses, e de muitos africanos e indígenas. Por isso, trata-se de uma unidade regional que foi concebida e é situada por dentro da história dos engenhos de cana, da escravidão e da indústria açucareira no Brasil. Assim que os portugueses chegaram, perceberam que a baía era um porto seguro, e as terras em seu entorno eram propícias para que os primeiros núcleos colonizadores. As pequenas ilhas e os recifes dificultavam a entrada de navios inimigos, mas para quem conhecia bem os caminhos do mar e dos rios era possível transitar em médias e pequenas embarcações. Resguardados do Atlântico, ergueram-se no Recôncavo engenhos de cana-de-açúcar, paróquias e vilas. A elas se seguiram várias outras e, assim, no final do século XVIII, as margens do rio Paraguaçu – até onde ele se fazia navegável – já estavam relativamente povoadas. Ainda naquele século, Salvador e Cachoeira já eram os dois principais centros metropolitanos da região, polos integradores do circuito comercial, político e cultural que a colonização portuguesa inaugurou. No ritmo dos engenhos de açúcar o Recôncavo foi se formando, e foram surgindo e crescendo os núcleos urbanos, fazendo funcionar uma rede pela qual transitavam produtos e pessoas ocupadas com o comércio. Na segunda metade do século XIX foram abertas as primeiras fábricas de charutos. No período, a região amargava uma grave e irreversível crise econômica e, para muitas trabalhadoras – visto ser esta uma indústria de predominância feminina – ser empregada na feitura dos charutos era uma oportunidade ímpar. Com a decadência da produção da cana-de-açúcar e do fumo, e o empobrecimento regional que se seguiu, ficaram ainda mais reduzidas e precárias as oportunidades de sobrevivência. Assim, teve lugar uma outra forma de expansão do Recôncavo: a migração. Foram muitos os trabalhadores, em sua esmagadora maioria negros, que abandonaram as velhas cidades de Santo Amaro, Cachoeira, São Félix e São Francisco do Conde para se estabelecerem em povoados e vilas menores, em busca de melhores condições de vida. Com isso, o Recôncavo foi expandido para dentro de si mesmo. É muito corriqueiro encontrar na região famílias espalhadas por diversas cidades: o resultado de inúmeras tentativas de se viver melhor. Entretanto, também é preciso acentuar que foi graças a esse processo migratório que hoje é possível perceber certa unidade cultural na região. Mesmo em povoados e cidades distantes entre si, podem ser observadas práticas e tradições similares, a exemplo do samba de roda. Nos anos 1950, a extração de petróleo, recém-descoberto na região, prometia encerrar a letargia econômica que nos 100 anos anteriores cobrira boa parte do Recôncavo. Tal promessa foi cumprida apenas em parte, e mesmo os limitados benefícios resultantes para a população local têm sido distribuídos regionalmente de modo bastante desigual. Cidades como Catu, Candeias e São Francisco do Conde cresceram vertiginosamente com a produção petrolífera, enquanto antigos e importantes centros urbanos, a exemplo de Cachoeira, Santo Amaro e Maragogipe, continuam ao largo das novas benesses extraídas do solo. Por sua vez, a recriação das tradições culturais locais está relacionada a este duplo movimento: o acelerado desenvolvimento de alguns centros urbanos fundamentais no mapa cultural da região, e a secular paralisia econômica de cidades não menos importantes. A despeito da disritmia inter-regional, a presença africana e afro-descendente foi, e continua a ser, uma marca da cultura do lugar. Eram negros os homens, mulheres e crianças que cuidavam dos canaviais, faziam os engenhos funcionarem, mantinham toda a infraestrutura necessária para o bem viver de seus senhores... e ainda promoviam magníficos batuques. Características Gerais O samba de roda, desde antigos relatos, traz como suporte determinante tradições culturais transmitidas por africanos escravizados no Estado da Bahia. Essas tradições se mesclaram de maneira singular a traços culturais trazidos pelos portugueses, como os instrumentos mencionados acima, e à própria língua portuguesa e elementos de suas formas poéticas. Tal mescla, assim como outras mais recentes, não exclui o fato de que o samba de roda foi e é essencialmente uma forma de expressão de brasileiros afrodescendentes, que se reconhecem como tais. No Recôncavo Baiano, o samba sem dúvidas tem Em sua definição mínima, o samba de roda constitui- uma posição espacial. É significante a ligação que o se de grupo de pessoas para “performance” de um samba consegue entre todas as faixas etárias e entre repertório musical e coreógrafo cujo os participantes os sexos, como também o fato que formas de samba dispostos em círculo ou formato aproximado, presente são ligadas, de uma outra maneira, a quase todas as possível de instrumentos musicais como o pandeiro, espécies culturais importantes, e que têm um papel prato-e-faca e a viola. Os tocadores ficam juntos importante nas demais datas festivas, sejam eles fazendo parte do círculo e os outros presentes religiosas, rituais ou de outra natureza. acompanham com palmas e cantos. Esta posição especial faz também do samba de roda a forma mais comum e tradicional de o povo baiano festejar em seu dia-a-dia. O samba de roda pode acontecer dentro de casa ou ao ar livre, em um bar, uma praça ou um terreiro de candomblé. Seu desempenho tem caráter inclusivo, ou seja, todos os presentes, mesmo os que ali estejam pela primeira vez, são em princípio instados a participar, cantando as respostas corais, batendo palmas no ritmo e até mesmo dançando no meio da roda caso a ocasião se apresente. Os cantos são estróficos e silábicos em língua Os dois tipos podem portuguesa e a coreografia, sempre feita dentro da roda e seu gesto mais típico é o chamado miudinho. Embora homens possam dançar, há clara acontecer com ou sem viola, predominância de mulheres na dança enquanto nos mas é no samba de chula que instrumentos há a predominância de homens. Há inúmeras modalidades de samba de roda no a viola é mais fundamental. Recôncavo, a primeira corresponde a uma categoria nativa bastante generalizada no Recôncavo e em Isso se deve também a que, Salvador , conhecida como samba corrido, e o segundo permite aproximar, por alguns traços comuns, sambas neste tipo de samba, quando diferentes, na região de Santo Amaro e municípios uma sambadeira entra na vizinhos:, chamado de samba chula. As principais diferenças entre o samba corrido e o roda, as vozes se calam e samba chula se referem às relações entre músicas e dança, e podem ser resumidas em dois pontos passa a caber à viola. principais. Primeiro no samba chula, a dança e o canto Um dos mais importantes nunca acontecem ao mesmo tempo, enquanto o samba corrido, ao contrário, a dança, canto e toques cantores de samba de acontecem simultaneamente. Segundo: no samba chula no meio da roda; enquanto no samba corrido podem cachoeira, o falecido Dedão sambar uma ou várias pessoas ao mesmo tempo no meio da roda. Pode-se dizer que no samba corrido os (Augusto Passos da Costa, eventos tendem a ser agregados, e no samba chula mais separados. 1944 – 2004) As pessoas que fazem samba de roda tocam os instrumentos ‘disponíveis’. Esta relação é utilizada para que se perceba a complexidade das relações entre, por um lado, a maneira como a participação dos instrumentos no samba de roda é conceituada pelos músicos, e por outro, a maneira como é posta em prática. Na verdade é perfeitamente possível fazer samba de roda sem instrumentos, apenas cantando, batendo palmas e eventualmente batendo ritmos nos objetos que estiverem à mão. Mas o samba de roda possui um dos seus mais nobres instrumentos: o prato-e-faca. E no caso do samba chula, o instrumento mais importante é a viola. Prato – e – Faca Ao contrário dos outros instrumentos citados, o prato-e-faca é tocado predominantemente por mulheres. Isto pode se dever à relação tradicionalmente privilegiada, no Recôncavo, entre mulheres e o mundo da cozinha. Outra peculiaridade da tocadora de prato-e-faca é que ela, regra geral, toca de pé, e não necessariamente numa posição próxima à do conjunto dos tocadores. No Recôncavo, quem detêm a arte e ciência da viola são de parecer que é o “primeiro dos instrumentos”. A viola é o primeiro no sentido de admitir-se ser o mais antigo. O jesuíta José de Anchieta escreveu, no século XVI, que os meninos índios “fazem as suas danças à portuguesa, com tamboris e violas”. Esta antiguidade, ao lado da associação com os primeiros senhores portugueses, contribui por si para o sentir-se que é o primeiro dentre os instrumentos. Afirma-se ser o mais nobre e histórico, o mais brasileiro . Na Bahia, tanto no sertão como, de maneira particular, no Recôncavo, a viola acompanha a dança e o canto. O violeiro não só fornece um fundo rítmico aos que dançam, como é encorajado a desafiá-los a acompanhar com os pés a destreza rítmica dos dedos do executante. Um “toque” básico é constantemente repetido, mas há dentro desse padrão uma urdidura em ornamentação e ritmo de considerável complexidade. O conjunto instrumental consiste de várias violas, eventualmente de outros instrumentos de corda e instrumentos de percussão. O machete tem de comprimento cerca de 76 centímetros, com o bojo superior de aproximadamente 17 centímetros em diâmetro, o inferior de cerca de 22 cm, e a cintura de mais ou menos 12cm. A viola de três-quartos tem comprimento de 89,5cm, o bojo superior de 20cm, o inferior de 29,5 cm, e a cintura de 15cm. A altura da caixa de ressonância, tanto do machete como da três-quartos, é de cerca de 6cm. A regra do machete tem o comprimento de cerca de 18cm e a de três- quartos cerca de 23 cm, dividida por dez trastos de bronze ou de cobre, espaçados de modo que produzam intervalos, grosso modo, de segundas menores. Uma denominação coletiva no Recôncavo para esses instrumentos é “viola de dez cordas”. O machete, assim como a três-quartos, possui dez cordas de metal em cinco pares. A posição para a execução da viola é semelhante à do violão. É importante notar que, regra geral, as mulheres batem palmas suaves durante a chula cantada para não atrapalhar os cantadores, ou mesmo, em vez de bater palmas, esfregam suavemente em movimentos circulares as palmas das mãos. Quando então a chula termina, todas começam a bater as palmas – ou tabuinhas – com entusiasmo. O compasso do samba é “dois por quarto”, seu ritmo se faze em torno de dois tempos, ou duas pulsações principais, correspondente, por exemplo, aos passos de alguém que se dispusesse simplesmente a caminhar em sintonia com o samba. Ao término de seu solo, a sambadeira dá a umbigada na próxima, que irá então por sua vez corre a roda. A umbigada é muitas vezes quase imperceptível, e pode também ser tocada por outro gesto indicativo da escolha, como erguer os braços na frente do outro, ou simplesmente lançar um olhar. As pessoas se vestem com roupas do cotidiano para trabalhar ou passear. Mas nota-se que para as sambadeiras a saia ampla, comprida, franzida na cintura e rodada, é boa para a expressão corporal. A imagem do corpo das sambadeiras em movimento simultâneos, sacudindo os ombros, girando e segurando a saia rodada, produz no espectador uma sensação estética de vitalidade e bem-estar. História do Samba A primeira menção documentada da palavra samba no Brasil data de 1838, em Pernambuco. Entre esta data e meados dos anos 1920, há registro de atividades musicais coreografadas chamadas de samba em vários pontos do Brasil. No inicio dos anos 1930, nascem no Rio de Janeiro as primeiras escolas de samba. Elas iram modificar profundamente o estilo do samba carioca que, a partir de então, e num breve lapso de tempo, chegará a todo o país e assumirá o posto de símbolo musical nacional. Mas a enorme popularidade deste samba não impediu que, em diferentes pontos do país, continuassem existindo sambas locais, oriundos de tradições às vezes centenárias, e com maior ou menor capacidade de adaptar-se às transformações históricas. É o caso do samba rural paulista, do samba de coco pernambucano e com outro nome, o tambor de crioula maranhense. É o caso também do samba de roda baiano, que tem uma importância singular, é o berço reconhecido do samba brasileiro. A magnitude do valor do samba de roda como bem cultural reside em seu conjunto. Ele é dança, é música, é poesia, é inclusive teatro e é, não menos importante, participação: a alegria máxima do samba reside em fazer parte dele, em sambar. Para significativas parcelas do povo do Recôncavo, o samba de roda se reveste indubitavelmente de um valor excepcional. A pratica do samba de roda sofreu considerável declínio no curso do século XX. Um dos fatores que contribuiu para isso foi a decadência econômica do recôncavo que, embora iniciada no século XIX, ainda aumentou, entre outras razões, devido à construção, nos anos 1970, da rodovia unindo Salvador a Feira de Santana. Esta rodovia passa na fronteira norte do Recôncavo e tornou-se a via preferida para o fluxo de produtos agrícolas do interior do Estado em direção a capital. Assim, o comercio, as feiras e o ir-e-vir de embarcações nos rios do Recôncavo foram reduzidos consideravelmente, o que agravou a estagnação econômica e acentuou o êxodo da população para a capital do estado e para o sul do país. Outro fator que vem contribuindo para o enfraquecimento de uma das modalidades mais valorizadas de samba de roda, o samba chula, é o quase completo desaparecimento do instrumento mais apropriado para sua performance: as violas de samba, especificamente o machete, pequena viola de cinco ordens. O ultimo artesão conhecido de violas de samba, Clarindo dos Santos, morreu em 1980. A recuperação do saber-fazer violas machetes, e a preservação e desenvolvimento do que resta do saber tocá-las é urgente e por só já justificaria a importância de ações afirmativas de valorização do samba de roda. A transmissão dos saberes envolvidos na realização do samba de roda vem sendo feita por meio da observação e da imitação. As crianças observam e escutam o samba de roda desde a mais baixa idade. A partir de 4 ou 5 anos, ou mesmo bem antes, elas começam a imitar a dança, as palmas e os toques rítmicos e a partir de 8 ou 10 anos já participam da roda de forma ativa e consciente. O papel da família parece ser bastante importante no estímulo e nas oportunidades de observação do samba. Peculiaridades Tradição milenar no Recôncavo Baiano, a Também conhecida como Umbigada – porque cada manifestação concorre, inclusive, ao título de Obra- participante, ao sair da roda, convida um novo para a Prima do Patrimônio Oral e Imaterial da dança dando-lhe uma “umbigada” -, a manifestação Humanidade. Presente no trabalho de renomados típica do Recôncavo tem destaque nas cidades de Cipó, compositores baianos - Dorival Caymmi, João Candeias e Cachoeira durante os festejos juninos e da Gilberto, Caetano Veloso -, esse misto de música, Boa Morte. Em São Félix, Muritiba, Conceição do dança, poesia e festa se revela de duas formas Almeida e Santo Amaro, o samba de roda é destaque na características: o samba chula e o samba corrido. A festa de Nossa Senhora da Purificação. São Francisco do chula, uma forma de poesia, é declamada pelo solista, Conde, Feira de Santana, Itacaré e, novamente, enquanto o grupo escuta atento, só se rendendo aos Conceição do Almeida celebram o samba de raiz na encantos da dança após o término do festa de Dois de Julho. pronunciamento, quando um participante por vez adentra o meio da roda ao som da batucada regida por palmas. Já no corrido, o samba toma conta da roda ao mesmo tempo em que dois solistas e o coral se alternam no canto. A roda, que dá nome ao gênero, é comum aos dois tipos mencionados. A palavra não deve ser tomada num sentido excessivamente literal. A forma real de disposição dos participantes pode ser antes a de um semicírculo, ou mesmo, a depender do espaço onde acontece o samba, assemelhar-se a um quadrado ou a uma elipse. Como no caso da famosa Távola Redonda, a alusão ao formato circular pode aqui ter relação com certa igualdade formal dos participantes, estando todos à mesma distância do centro e desfrutando do recíproco direito de – respeitadas as regras do jogo – sambar por alguns minutos no meio do contorno desenhado pelos assistentes. A roda é, no entanto, polarizada pelo ponto onde se agrupam os músicos. De certa forma, todos os presentes em um samba de roda são músicos, pois todos, em princípio, batem palmas e cantam as respostas.
O samba de roda pode ser visto também como
arena privilegiada para um diálogo altamente codificado entre homens e mulheres. O erotismo é um componente estrutural do samba, expresso não só pelos corpos dos participantes, mas também pelas mais variadas interjeições e comentários, inclusive aqueles relativos aos conflitos por ciúmes. De maneira geral, considera-se que no samba de roda e, como de hábito com mais rigor no samba chula, o papel típico do homem é tocar, enquanto o da mulher é sambar. O samba de roda acontece em algumas festas em especiais, como no final de setembro acontece a festa dos santos Cosme e Damião que também é conhecida como Caruru de Cosme, nesta festa possui uma tradição que as crianças comem primeiras em grupos de sete, pois os santo Cosme e Damião são considerados protetores, depois tem as reza coletivas e o samba de roda encerra. O samba de roda também está presente nos cultos caboclos, nas festas de candomblés do rito nagô ou angola. Fica claro como o samba de roda está presente nas tradições das cidades do Recôncavo. Grau de proteção: O dossiê de Registro do samba de roda do Recôncavo baiano como a ser realizado em 2004, em Recife/PE em Salvador/BA e também no Recôncavo da Bahia, que foi feita por toda uma equipe e foi supervisionado pela técnica do IPHAN, para que fosse possível que o samba de roda fosse considerado um bem. Uma equipe montada começou a mapear o samba nos municípios vizinhos (21 municípios consta no registro) e assim foram identificando as particularidades e os pontos comuns. Além de toda uma pesquisa em campo, foi necessário aponderar as pesquisas através de livros, artigos, internet. Através de todas as pesquisas realizadas, concluiu-se que o samba de roda era responsável pelas principais referenciais culturais, artísticas e possuí grande importância na formação política, social e econômica no Estado da Bahia. Em meados de 1920, foi quando surgiram registros de atividades musicais e coreográficas chamas de várias, mas isso acontece em alguns pontos específicos do Brasil como: Bahia, Ceará, Pernambuco, São Paulo, Rio de Janeiro. Mas aos poucos o samba foi se evoluindo, em 1930 surgiram no Rio de Janeiro as primeiras escolas de samba, mas aos poucos o samba foi criando características específicas locais. O samba de roda como bem cultural é por todo seu conjunto, é música, é poesia, é dança. O Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural (que atua junto com o IPHAN) aprovou o Registro de samba de roda do Recôncavo baiano em 30 de setembro de 2004 que concedeu a expressão musical, poética e coreografia o título de Patrimônio Cultural do Brasil. E 25 de novembro de 2005 foi proclamado pela UNESCO, com Obra-Prima do Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade. Na certidão consta que o samba de roda está presente em todo o estado da Bahia e tem destaque principalmente na região do Recôncavo, o samba de roda traz tradições culturais transmitidas por africanos escravizados e seus descendentes que se mescla com a herança herdado do negro-africano e também com a cultura dos portugueses. Estando associado as festas tradicionais que acontece durante ao ano e mas o samba de roda também está associada com a diversão coletiva. Na certidão também mostra que o samba está dividido em samba chula que acontece na região de Cachoeira e o samba corrido. O título do patrimônio cultural do Brasil terá uma revalidação em 2014, dez ano após ter sido registrado. Para o registro continuar sendo válido é necessário que aja uma nova avaliação, um projeto foi implantado para que as raízes do samba de roda continuassem e fosse passando de geração para geração sem perder suas principais características. Os principais colaboradores desse projetos são os idosos da região e contribuem e com isso o projeto também tem o objetivo de expandir também para a região. Para a pesquisa que foi realizada para conseguir o registro, deixou algumas lacunas, para renovação uma nova pesquisa está sendo realizada e está sendo mais aprofundada em alguns pontos com alguns outros tipos de sambas como o samba de coco, samba de bate baú, samba de estivador que são variações do samba de roda. Toda está pesquisa que está sendo feita deverá estar em um Centro que será implantado em alguma das cidades que faz parte do Recôncavo, todo este material poderá ser consultados pelos sambista e por toda a população. Além dos tipos de samba, as diferentes danças, os instrumentos e o canto. Salvaguarda do Samba de Roda Um novo projeto será criado, a Oficina de Fase 3: 2006 – 2008 Luteria Tradicional Clarindo dos Santos que Será os anos das conclusões dos projetos, o Centro ainda não tem um local definido, que para a de Referência do Samba de Roda e da Oficina Luteria revitalização das violas artesanais ela tem Tradicional Clarindo dos Santos além dos outros objetivo de fazer à recuperação das violas de projetos que possuem. samba, capacitar artesãos e confeccionar de Fase 4: 2008-2009 outros instrumentos. Fase 1: 2004 e 2005 Vai ser a etapa da finalização da implantação da oficina e do centro, será feita a avaliação do plano Dá ênfase em alguns pontos da pesquisa já desenvolvido e qual o impacto que está sendo para o realizada e focar nas lacunas deixadas, reforçando samba de roda. também saber tocar e do saber fazer a viola que é um ponto fraco. Fase 2: 2005 e 2006 Nesta segunda etapa será o início da realização das ações previstas que é a implantação do Centro de Referência do Samba de Roda e da Oficina de Luteria Tradicional Clarindo dos Santos. Terá o apoio também aos sambas-mirins, a aquisição e a duplicação dos acervos, a realização de seminários de acompanhamento do Plano, a publicação de livros, CDs e vídeo sobre o samba de roda, entre outros projetos.