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Mineração, Diversificação e

Integração
Auri Sacra Fames
Séculos XVI-XVII: a busca infrutífera por ouro.
Promessas de mercês para estimular as descobertas.
A intensificação dos esforços nas décadas de 1680-
90, em razão dos problemas nas finanças régias.
A sede global por metais preciosos.
C. 1693-5: a descoberta pelos paulistas.
O primeiro gold rush moderno: a intensa imigração.
As disputas entre paulistas e estrangeiros pelo
controle das minas e do poder local e a difícil
afirmação do poder régio.
O Incentivo Régio
Se bem que muitas investigações já tenham sido feitas para
descobrimento das minas, das quais se diz existirem, que todas,
porém, não corresponderam às esperanças, principalmente ao
tempo do governador D. Afonso Furtado de Mendonça, contudo não
deveis negligenciar de prosseguir nestas descobertas, e como as
mercês e prêmios sempre animaram os homens a dedicar-se às
empresas mais difíceis, prometereis em meu nome carta de nobreza
e uma das três ordens militares àquelas pessoas que, de livre
vontade, tencionem fazer descobertas de ouro e prata. Os quais,
descobrindo uma mina rica, esta pertencerá ao inventor que pagará
o quinto ao Real Tesouro, como já foi dito. Sem embargo, me reservo
determinar se uma mina é rica e se o inventor merece as
recompensas prometidas. No caso que se apresentem pessoas que
desejam me prestar serviços, deveis animá-las, fazendo-lhes
esperanças de mercês que se podem esperar da minha
generosidade, sem que contudo lhes indiqueis quais sejam.
D. Pedro II, Carta Régia a Antônio Paes de Sande, 1694.
A migração para as Minas
A sede insaciável do ouro estimulou a tantos a deixarem
suas terras e a meterem-se por caminhos tão ásperos
como são os das minas, que dificultosamente se poderá
dar conta do número de pessoas que atualmente lá
estão. Cada ano, vem nas frotas quantidades de
portugueses e estrangeiros, para passarem às minas.
Das cidades, vilas e recôncavos e sertões do Brasil, vão
brancos, pardos e pretos, e muitos índios, de que os
paulistas se servem. A mistura é de toda a condição de
pessoas: homens e mulheres, moços e velhos, pobres e
ricos, nobres e plebeus, seculares e clérigos, e
religiosos de diversos institutos, muitos dos quais não
têm no Brasil convento nem casa.
ANTONIL, André João. “Das pessoas que andam nas
minas e tiram ouro dos ribeiros”, Cultura e opulência
do Brasil, 1711.
Reivindicações dos Descobridores
Que as terras do território das minas de
Cataguases, assim campos como matos lavradios,
de direito pertenciam aos paulistas, para as
possuírem por datas de Sua Majestade ou de
donatários, porquanto eles foram os que
conquistaram e descobriram minas de ouro que de
presente se lavram, o que é notório e patente, o que
tudo fizeram à custa de suas vidas e fazendas, sem
dispêndio algum da fazenda real, e que seria
grande injustiça concederem as ditas terras aos
moradores do Rio de Janeiro, que nunca tiveram
parte tanto na conquista como no descobrimento.
Representação dos Paulistas, 1700.
Um “herói” torto
[Os paulistas] têm deixado em várias ocasiões,
suspeitosa a sua fidelidade, na pouca
obediência com que observam as leis de Vossa
Majestade e ser gente por sua natureza
absoluta e varia e a maior parte dela criminosa,
e sobretudo amantíssima da liberdade, em que
se conservam há tantos anos quantos têm de
criação a mesma vila.
D. João de Lencastro, Carta ao Rei, 1700.
O Teor Violento da Vida
[Está] tudo tão inundado que se está hoje
matando mais gente que carne nos talhos, e
tudo tão cheio de ladrões e ainda pelas
estradas a alta de uma correção que só
amante de um rei divino ou humano movido do
zelo dos seus vassalos poderá recusar esta
máquina de insultos, roubos e ações notáveis.
Baltazar de Godói Moreira, carta a Artur de Sá
e Meneses, 1705.
A Fragilidade Monárquica
Pareceu ao Conselho que atendendo o tempo
presente se deve dissimular com o castigo que
mereciam aqueles moradores de São Paulo
assistentes nas minas, além de ser notória a
liberdade com que vivem, e visto como
obedecem aos ministros de Vossa Majestade
se deve suspender o manda-los lá, pois não
tem coação para administrar justiça.
Conselho Ultramarino, Parecer, 1705.
O Ouro das Minas
Caráter territorialmente expansivo da economia colonial e da
mineração: avanço para Goiás e Mato Groso.
Até c. 1750: constante crescimento da produção.
A pesada fiscalidade régia e o esplendor joanino.
C. 1720: início da exploração de diamantes, comunicada à
Coroa em 1729, e a partir daí crescentemente controlada.
Inserção em redes globais.
Menor investimento inicial e estrutura produtiva menos
concentrada do que no litoral açucareiro, apesar da
desigualdade e da onipresença da pobreza.
Múltiplos caminhos de contrabando como parte essencial do
sistema colonial.
O aumento da demanda por produtos europeus e o papel de
Portugal como entreposto de mercadorias europeias.
Financiou o ouro brasileiro fábricas na Inglaterra? Não, mas
contribuiu para o desenvolvimento do capitalismo.
O Contrabando Onipresente
Se o superintendente que Vossa Majestade
mandou para evitar os descaminhos os
cometia, sendo de tão boa opinião, que farão
os que se mandam porque o pedem?
Conselheiro Francisco Dantas Pereira, arbítrio
sobre o rendimento dos quintos, 1705.
Ingleses,
Franceses e
Salvador em
meio à Paz
de Utrecht
Uma falsa prosperidade?
Apesar das torrentes de ouro que chegam da
América, nunca Portugal foi tão pobre, porque
na época de nossa maior fortuna os
estrangeiros levaram tudo de nós.
Secretário de Estado de Portugal, carta ao
Marquês de Angeja, vice-rei do Brasil, 1717.
Redes Internacionais
A descoberta dos diamantes nas minas dos
Brasis acabou momentaneamente com o
comércio com as Índias Orientais, mas não
prejudicou o mercado londrino, por causa da
vantagem que a Inglaterra tem sobre seus
vizinhos no comércio com Lisboa, de modo que
a maior parte dos diamantes que vêm dos
Brasis acabaram indo para Londres, de onde
são distribuídos para o resto da Europa.
Lorde Tyrawly, Carta para o Duque de
Newcastle, 1732.
Integração Comercial e
Diversificação Produtiva
As Minas como eixo da economia colonial:
disponibilidade de ouro, alto poder de compra e grande
população. Resultado: maior integração econômica.
Inflação e expansão comercial.
O Rio de Janeiro como porto preferencial e o gradual
deslocamento econômico para o centro-sul.
O fortalecimento de redes comerciais imperiais e
transimperiais.
A consolidação de uma vigorosa economia escravista
de abastecimento interno e a expansão das pequenas
propriedades: importância do campesinato e trabalho
familiar numa sociedade escravista.
A persistência do açúcar e a expansão do tabaco.
O mercado interno nas Minas
Sendo a terra que dá ouro esterilíssima de tudo que se há de mister
para a vida humana, e não menos estéril a maior parte dos caminhos
das minas, não se pode crer o que padeceram ao princípio os
mineiros por falta de mantimentos, achando-se não poucos mortos
com uma espiga de milho na mão, sem terem outro sustento. Porém
tanto se viu a abundância do ouro, que se tirava, e a largueza com
que se pagava tudo o que lá ia; logo se fizeram estalagens e logo
começaram os mercadores a mandar às minas o melhor que chega
nos navios do reino, e de outras partes, assim de mantimentos,
como de regalo; e de pomposo para se vestirem, além de mil
bugiarias de França, que lá também foram dar. E a este respeito, de
todas as partes do Brasil se começou a enviar tudo o que dá a terra,
com lucro não somente grande, mas excessivo. E não havendo nas
minas outra moeda mais que ouro em pó; o menos que se podia, e
dava por qualquer coisa, eram oitavas. Daqui se seguiu mandarem-
se às Minas Gerais as boiadas de Paranaguá, e as do Rio das
Velhas, as boiadas dos campos da Bahia e tudo mais que os
moradores imaginavam poderia apetecer-se, de qualquer gênero de
coisas naturais, e industriais, adventícias, e próprias.
ANTONIL, André João. Cultura e Opulência do Brasil, 1711
Africanos Escravizados transportados para o Brasil, 1561-1810
O Tráfico de Africanos e a
Ascensão do Rio
CE7095709al

CE7045704al

CE6985698al

CE6935693al

CE6875687al

Bahia
Rio de Janeiro
CE6825682al

CE6765676al

CE6715671al

CE6655665al

CE6605660al
CE6645664al CE6655665al CE6655665al
Exportação de açúcar e tabaco
da Bahia, 1698-1765

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