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O trabalho indígena no Brasil

As formas de exploração e de resistência


As populações indígenas foram
indispensáveis ao projeto de colonização
 “Os europeus necessitavam dos índios para a viabilidade dos
seus empreendimentos, tanto na defesa quanto no fornecimento
de alimentos, de informações imprescindíveis à vida em uma
terra desconhecida e de trabalho para a construção de fortes e
habitações” (GARCIA, 2014, p. 318)

 “(...) a alternativa mais viável e racional para a exploração


econômica do Novo Mundo não podia, absolutamente,
prescindir dos povos indígenas: através de relações de aliança
e/ou conflitos, os europeus buscavam obter deles as terras, os
alimentos e o trabalho, necessários aos seus empreendimentos
coloniais” (ALMEIDA, 2013, p. 87)
A história da colonização como uma história da
expansão de fronteira: Guerra e tutela
A escravidão na historiografia
 Reconhecimento da escravidão como pilar do sistema
colonial

 Ampliação das abordagens: do escravo-coisa ao escravo-


sujeito

 Atestação do desconhecimento da escravidão indígena até


a década de 1990
A importância da escravidão indígena
 Os “negros da terra” e o “remédio” da colonização: defesa militar e
mão de obra
 “As pessoas que no Brasil querem viver, tanto que se fazem moradores da
terra, por pobres que sejam, se cada um alcançar dous pares ou meia dúzia de
escravos (que pode um por outro custar pouco mais ou menos até dez
cruzados) logo tem remédio para sua sustentação; porque uns lhe pescam e
caçam, outros lhe fazem mantimentos e fazenda e assim pouco a pouco
enriquecem os homens e vivem honradamente na terra com mais descanso
que neste Reino, porque os mesmos escravos índios da terra buscam de
comer pera si e pera os senhores, e desta maneira não fazem os homens
despesa com seus escravos em mantimentos nem com suas pessoas” (Pero
Magalhães Gândavo, 1576)
 Consequências da escravidão indígena: depopulação, desestruturação
e conflitos
 “o maior mal que fazem [aos índios] é os de ter como cativos. A causa maior
da guerra aí está” (Padre Navarro, Porto Seguro, 1550)
A permanência da escravidão indígena
 “Senhor o que só digo é que carece muito aquelas
capitanias deste mesmo gentio quer liberto quer cativo
porque sem eles nem vossa majestade terá minas nem
nenhum outro fruto daquelas terras por ser tal a
propriedade daquela gente que o que não tem gentio para
o servir vive como gentio sem casa mais que de palha sem
cama mais que uma rede sem ofício nem fábrica mais que
canos, linhas, anzóis e flechas, armas com que vivem para
se sustentarem” (Battolomeu Lopes de Carvalho, séc.
XVII)
Os primeiros estudos: a instituição
fracassada
 Gilberto Freire e a inferioridade cultural dos índios

 Caio Prado Júnior e a ineficiência produtiva dos índios

 Sérgio Buarque de Holanda e a não adaptação ao trabalho


metódico
Estudos contestatórios
 Marchant (Do escambo à escravidão, 1942): perspectiva
econômica, identificação das relações de trabalho e índio-
objeto

 Hemming (Ouro Vermelho, 1978): visão de totalidade,


descrição do processo de mudança das relações e pessimismo

 Schwartz (Segredos Internos, 1988): escravidão enquanto


instituição forte, acumulação de capital e índio-objeto

 John Monteiro (Negros da terra, 1994): nova história


indígena, modalidades da escravidão e protagonismo indígena
A legalização da escravidão indígena
 Guerra Justa: “As causas legítimas de guerra justa
seriam a recusa à conversão ou o impedimento da
propagação da fé católica, a prática de hostilidade
contra os vassalos e aliados dos portugueses e a
quebra de pactos celebrados” (PERRONE-MOISES,
1992, p. 129)

 Resgate: “Também podem ser escravos homens que


não sendo inimigos, mas sendo cativos de outros
índios, forem comprados ou resgatados para serem
salvos” (PERRONE-MOISES, 1992, p. 129)
A violência da Guerra Justa
• “Neste tempo veio recado ao Governado Geral como o gentio
topenequin da Capitania dos Ilhéus se alevantara e tinha mortos muitos
cristãos e distroidos e queimados todos os engenhos dasuquares e os
moradores estavão serquados e não comião jaa senão laranjas (...) Nos
Ilhéus fui a pé dar em uma aldeia que estava sete léguas da vila em um
alto pequeno toda cercada d’água ao redor d’alagoas e as passamos
com muito trabalho e ante manhã duas horas dei n’aldeia e a destroi e
matei todos os que quizeram resistir e a vinda vim queimando e
destroindo todas as aldeias que ficaram atraz” (Relatório da Guerra
Justa comandada por Mem de Sá, 1560)
• “Quem poderá contar os gestos heroicos do Chefe / à frente dos
soldados, na imensa mata! Cento e sessenta / aldeias incendiadas, mil
casas arruinadas / pela chama devoradora, assolando os campos, / com
suas riquezas, passado tudo ao fio da espada” (José de Anchieta, De
Gestis Mendi de Saa, 1563)
Um exemplo de guerra justa na Bahia
Havendo sido presentes a Sua Alteza Real, o Que será recompensado com um soldo anual
Príncipe Nosso Senhor, as graves queixas sobre as aquele comandante que em um ano
invasões que diariamente estão praticando os índios mostrar haver apreendido maior número
(...) ordeno: desta espécie de índios e não ter
Que logo que a citação o permitir, faça as entradas que acontecido no seu distrito inserção
julgar mais convenientes em todo o Distrito entre Vila alguma,, da qual resultar-se algum dano
Viçosa e o Rio Cumurixatiba, seguindo este diretamente aos habitantes;
a Lagoa Grande pelo lado norte do Monte Pascoal, Que faço expedir as competentes ordens às
câmaras das vilas de alcobaça, prado e
Que nomeie para Comandante de cada Bandeira as
viçosa para prestarem o auxílio que for
pessoas que julgar mais capazes de bem
pedido pelos comandantes na ocasião das
desempenharem os seus deveres e de se haverem com
entradas feitas nos respectivos distritos;
boa conduta e prudência que lhes recomendo na Finalmente, que todas as terras habitadas
passagem de Povoações sejam habitantes do País ou pelos índios e que lhes forem apreendidas
de índios já civilizados; sejam isentas de direitos e de dízima, por
Que sejam considerados como prisioneiros de guerra todos dez anos, a favor daquele que lhes der
os Índios que forem encontrados em armas na mão e uma cultura permanente.
sejam entregues ao respectivo Comandante para o seu Salvador, 18 de julho de 1808. Conde da ponte
serviço, por dez anos, e enquanto mostrarem conservar
a natural ferocidade e antropofagia;
Resgate em cena
O resgate e a desorganização social
Tupi
 “Por mais esforços que fizéssemos, porém,
nossos intérpretes só conseguiram resgatar
parte dos prisioneiros. Que isso não era do
agrado dos vencedores percebi-o pela compra
de uma mulher com seu filho de dois anos, que
me custaram quase três francos em
mercadorias. Disse-me então o vendedor: “Não
sei o que vai acontecer no futuro, depois que Pai
Colá [Villegaignon] chegou aqui já não comemos
nem a metade de nossos prisioneiros”.
 Jean de Léry, Viagem à Terra do Brasil, 1578.
O trabalho indígena além da escravidão:
as missões jesuíticas
 “Deles dependerá o sustento dos moradores, tanto no trabalho das
roças, produzindo gêneros de primeiras necessidades, quanto no
trabalho nas plantações dos colonizadores” (PERRONE-MOISES,
1992, p. 119)

 “Serão eles, também, os principais defensores da colônia, constituindo


o grosso dos contingentes de tropas de guerras contra os inimigos
tanto indígenas quanto europeus” (PERRONE-MOISES, 1992, p. 119)

 “O aldeamento é a realização do projeto colonial, pois garante a


conversão, a ocupação do território, sua defesa e uma constante
reserva de Mão de obra para o desenvolvimento econômico da
colônia” (PERRONE-MOISES, 1992, p. 121)
A ressocialização nos aldeamentos
Cotidiano, conversão e trabalho
A escravidão indígena disfarçada: os
aldeamentos particulares
 Uma outra forma de escravizar: “Assumindo o papel de administradores
particulares dos índios – considerados como incapazes de administrar a si mesmos –
os colonos produziram um artifício no qual se apropriaram do direito de exercer
pleno controle sobre a pessoa e a propriedade dos mesmos sem qiue isso fosse
caracterizado juridicamente como escravidão” (Monteiro, 1994, p. 137)
 Um argumento filantrópico: “(...) se ao depois [de reduzir o índios] nos servimos
deles para as nossas lavouras, nenhuma injustiça lhes fazemos, pois tanto é para o
sustentarmos a eles e seus filhos como a nós e os nossos; e isto bem longe de os
cativar, antes se lhes faz um irremunarável serviço em os ensinar a saberem lavrar,
plantar, colher e trabalhar” (Domingos Jorge Velho, durante a campanha contra
Palmares, séc. XVII)
 Administrados como bens: “Declaro que eu tenho algumas peças do gentio do
Brasil as quais por lei de Sua Majestade são forras e livres e eu por tais as deixo e
declaro e lhes peço perdão de alguma força ou injustiça que lhes haja feito e de lhes
não ter pago seu serviço como era obrigado e lhes pelo por amr de Deus e pelo que
lhes queiram todos juntos ficar e servir a minha mulher (Testamento de Lourenço de
Siqueira, século XVIII)
As formas de resistência indígena
 As guerras e rebeliões

 As fugas e a formação das comunidades de fugitivos

 As ações de liberdade

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