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Terras indígenas, segundo a legislação 

brasileira, são aquelas tradicionalmente ocupadas


pelos povos indígenas do Brasil, habitadas em caráter permanente, utilizadas para as suas
atividades produtivas, e imprescindíveis à preservação dos recursos naturais necessários
para o seu bem-estar e sua reprodução física e cultural, de acordo com seus usos,
costumes e tradições. As terras indígenas são bens da União inalienáveis e indisponíveis,
e os direitos dos índios sobre elas não caducam.
No final do século XX, com a acentuação da migração indígena às cidades
brasileiras, aldeias urbanas foram inauguradas para acolher as populações em contexto
urbano.
Historicamente os povos que primeiro viviam no Brasil sofreram uma série de abusos por
parte dos conquistadores europeus, que levaram muitos à extinção ou ao declínio
acentuado. Outros foram expulsos de suas terras, e até hoje seus descendentes não as
recuperaram. Os direitos dos índios à preservação de suas culturas originais, à posse
territorial e ao desfrute exclusivo de seus recursos são garantidos constitucionalmente,
mas na prática cotidiana a efetivação desses direitos tem se revelado muito difícil e
altamente controversa, sendo cercada de violência, corrupção, assassinatos, grilagem e
outros crimes, que têm originado inúmeros protestos tanto domésticos quanto
internacionais, bem como intermináveis disputas nas cortes de justiça e no Congresso
Nacional.
A conscientização dos índios cresce, eles adquirem mais influência política, se organizam
em grupos e associações e estão articulados em nível nacional, muitos se educam em
níveis superiores e conquistam posições de onde podem melhor defender os interesses de
seus povos, vários simpatizantes de prestígio no cenário brasileiro e internacional se
juntaram espontaneamente a eles dando-lhes apoios diversificados, e já existem muitas
terras consolidadas, mas muitas outras estão à espera de identificação e regularização, e
outras ameaças, como os problemas ecológicos e políticas conflitantes, contribuem para
piorar o quadro geral, deixando diversos povos em difíceis condições de sobrevivência.
Para grande número de observadores e autoridades, os avanços recentes, entre os quais
se inclui notável expansão na área de terras demarcadas e uma taxa ascendente de
evolução populacional após séculos de declínio constante, não estão compensando os
prejuízos para os índios em uma multiplicidade de aspectos relacionados à questão
fundiária, sendo temidos importantes retrocessos num futuro próximo.

Definição

Pinturas rupestres com milhares de anos encontradas em vários sítios arqueológicos brasileiros
atestam a antiguidade da ocupação do território pelos povos da floresta. [1][2] Aqui, um pictograma
localizado em Morro do Chapéu, na Bahia

Os juristas fazem uma distinção entre terras indígenas em sentido lato e terras indígenas
em sentido estrito. Terras indígenas, estritamente falando, seriam aquelas definidas
na Constituição de 1988, de ocupação tradicional. Em sentido lato, seriam as definidas
no Estatuto do Índio, de 1973, que declara como terras indígenas, além das últimas,
também as terras reservadas (com quatro categorias) e as terras dominiais.[3][4]
A Constituição assegura aos índios a posse das terras que habitam tradicionalmente,
independentemente de onde se localizem, não havendo espaço para contestações sobre a
viabilidade ou conveniência da demarcação tal como foi feita, [5] embora sejam comuns
situações desse tipo, como a que se desenvolveu na demarcação da Terra Indígena
Raposa Serra do Sol. Somente as terras indígenas no sentido constitucional, de ocupação
tradicional, estão sujeitas ao processo de demarcação. Já uma terra reservada é aquela
que a União destina aos índios conforme sua conveniência, podendo vir a ser discutida
judicialmente, inclusive sobre sua viabilidade e questões de segurança nacional. Possui
quatro modalidades: reserva indígena, parque indígena, colônia agrícola
indígena e território federal indígena. As terras de domínio das comunidades indígenas (ou
terras dominiais) são aquelas de propriedade, não apenas posse, dos índios, adquiridas
por compra ou doação.[3]
Segundo análise de Lívia Mara de Resende, todas essas categorias têm definição
polêmica e sua aplicação prática tem gerado muitas disputas. Há dúvidas também quanto
a saber se se aplicam às terras reservadas e às terras dominiais as normas estabelecidas
pela Constituição para aplicação nas áreas que ela definiu como indígenas (como o fato de
serem essas terras inalienáveis, indisponíveis e inusucapíveis). Também é controverso se
as regras especiais estabelecidas pelo Estatuto do Índio para as terras indígenas em
sentido lato — como o fato de serem inusucapíveis — continuariam a ser aplicáveis, visto
que as terras reservadas e as terras dominiais não são terras indígenas como definido
na Constituição.[3]

História e amparo legal


Ver artigo principal: Povos indígenas do Brasil, Direitos indígenas, História pré-
cabralina do Brasil, Colonização do Brasil, História do Brasil

O contexto da Conquista

Registro de um dos massacres a que os indígenas americanos eram comumente submetidos pelos
conquistadores europeus. Gravura de Theodor de Bry incluída na Brevíssima Relación de la
Destruyción de las Indias (1552), do padre Bartolomé de Las Casas

Os primeiros humanos a habitar o que viria a ser o Brasil chegaram àquela terra há
milhares de anos. Desde lá se enraizaram, desenvolveram diferentes e ricas culturas, e
em 1500 calcula-se que viviam ali de 2 a 5 milhões de pessoas.[6][7] Naquele ano, porém,
chegaram ao litoral conquistadores vindos da Europa, os portugueses. Os primeiros
contatos parecem ter sido amistosos, como os apresenta a Carta de Pero Vaz de
Caminha, e o auxílio prestado por algumas tribos foi fundamental para a sobrevivência de
muitas expedições e das primeiras povoações portuguesas, havendo intenso comércio e
cooperação em vários níveis. Também ocorreu que alguns portugueses ficassem
encantados com o seu modo de vida, se "indianizassem" e passassem a viver nas matas
entre eles, constituindo família e gerando descendência, ou assimilavam alguns de seus
hábitos.[8][9][10][11]
Mas em breve os verdadeiros propósitos da conquista se tornaram claros, e cada vez mais
dramáticos. Impondo seu domínio sobre todos por bem ou por mal, os portugueses fizeram
os habitantes originais da terra passarem por uma série de abusos sistemáticos, que
incluíam assassinatos em massa, tortura e estupro, afugentando sobreviventes cada vez
mais para os ermos do interior, e construindo em seu vazio uma civilização inteiramente
distinta e um vasto Estado, onde os índios eram tidos como raça mais baixa e incapaz,
designada por Deus para ser dominada pela espada e, talvez, ajudada pela cultura
portuguesa, sob o estandarte de Cristo.[7][12][13][14][15] Em que pese tanta grandeza e caridade
imbuídas em tais conceitos, eles só funcionaram geralmente em favor dos lusos. Eles
incitavam grupos indígenas rivais para que guerreassem entre si a fim de obterem
vantagens indiretas, outros foram repetidamente usados como aliados contra piratas e
invasores franceses e holandeses, e muitas aldeias foram "autorizadas" a viver apenas
para demarcar uma nova fronteira portuguesa e sobretudo defendê-la, no contexto da
expansão territorial sobre os domínios espanhóis e da pequena força militar mobilizada
para o Brasil. Praticamente toda a atual Amazônia brasileira, que ficava a oeste da Linha
de Tordesilhas, é fruto da fixação de aldeias indígenas em caráter permanente e sua
transformação em baluartes portugueses. Esses pontas-de-lança involuntários, como
os Macuxi e Wapixana de Roraima, eram chamados de "muralhas do sertão".[16][17]

Dança dos Tarairiú, óleo sobre tela de Albert Eckhout (século XVII). A Capitania de Pernambuco foi
o berço da escravidão indígena no Brasil.[18]

Um missionário com índios Tapuia aldeados, em gravura de Rugendas do início do século XIX

Combate entre milícias e indígenas, gravura de Rugendas


Os massacres de grupos recalcitrantes e hostis, como se disse, foram frequentes,
destacando-se entre outros os ocorridos na Guerra Guaranítica, na Confederação dos
Tamoios, nas revoltas potiguares e na Guerra dos Bárbaros, apesar de várias ordenações
reais e eclesiásticas condenarem os abusos, e mais uma grande população acabou sua
vida como escrava, servindo os portugueses em casa, no trabalho e nas milícias. [10][16]
[17]
 Depois de a importação de escravos africanos se tornar mais lucrativa, o interesse nos
índios como mão-de-obra diminuiu bastante, pois eram considerados rebeldes e
preguiçosos. Cessando sua maior utilidade, se tornavam antes de tudo um estorvo para
todos.[8][19][20]
Houve muitos portugueses que se horrorizaram com as atrocidades cometidas e buscaram
defendê-los,[8][10][15][21] e embora desde 1537 a Igreja Católica reconhecesse que eles eram
"verdadeiros homens",[7] na prática, durante muito tempo, os primeiros povos geralmente
foram considerados compostos de seres brutos, insensíveis aos apelos da razão, da
justiça, da fé verdadeira e dos bons sentimentos, mais próximos dos bichos do que dos
homens, e muitos duvidavam que possuíssem uma alma. Ao longo do processo de
colonização foram muitas as iniciativas dos europeus no sentido de "domesticar" os povos
nativos e descobrir neles alguma "utilidade" para o projeto colonizador, "para o
acrescentamento de Sua Alteza e do Reino", fixando-os em reduções ou em aldeias
permanentes semelhantes a vilas e assimilando-os à civilização ocidental, ensinando-lhes
a religião e os usos e costumes dos colonizadores, sempre na perspectiva de que sua
cultura era desprezível e devia ser substituída por outra mais "elevada", que lhes prometia
também a salvação espiritual e a vida eterna após a morte, sendo como páginas brancas
onde se poderia escrever à vontade, como os descreveu o Nóbrega, que no entanto foi um
de seus famosos defensores.[14][22][23][24][25] Mas nem só a violência e o descaso cobraram seu
preço: grandes populações foram dizimadas pelas doenças vindas de além-mar, como
a gripe, sarampo, coqueluche, tuberculose e varíola, contra as quais seus corpos não
tinham imunidade natural,[26] e outras, viciadas na aguardente, um destilado largamente
difundido pelos portugueses, foram devastadas pelo alcoolismo.[10]
O impacto da conquista foi profundo não só sobre os primeiros povos, como também sobre
a paisagem natural, verificando-se extenso desmatamento e outras modificações no meio
ambiente.[27][28] Na síntese do ex-presidente da Funai, Carlos Marés de Souza Filho,
"Os europeus, especialmente os portugueses e espanhóis, chegaram na América
como se estivessem praticando a expansão de suas fronteiras agrícolas. Foram
chegando, extraindo as riquezas, devastando o solo e substituindo a natureza por
outra, mais conhecida e dominada por eles. As populações locais viviam do que a
aqui tinham, comiam milho ou mandioca, produziam biju, ricas carnes de animais
nativos, aves ou peixes. Aos poucos foram introduzidas novas comidas, cabras,
carneiros, queijos e novas plantas, cana-de-açúcar, café e beterraba. A introdução
de novas essências não poupou nem mesmo as árvores e os frutos, a tal ponto de
se dizer que a natureza foi substituída".[15]
As reduções estabelecidas pelos missionários, especialmente os jesuítas, onde os
índios eram reunidos em comunidades relativamente auto-suficientes sob a proteção
dos padres e da Coroa, foram a tábua de salvação para muitos povos, que ali foram
poupados de muita barbárie, mas inúmeras reduções foram de qualquer modo
destruídas por outros colonizadores, e se discute o real valor dessa proteção enquanto
durou, já que significou ao mesmo tempo a dissolução das culturas tradicionais e a
conversão dos índios ao modo de vida europeu. [15][21][22][23][24] Atesta-o a opinião expressa
de outros de seus protetores religiosos, ainda menos lisonjeira do que a de Nóbrega,
evidenciando que, mesmo entre os que lhes eram mais benignos, subsistiam
diferenças culturais irreconciliáveis que revertiam necessariamente em seu prejuízo, a
exemplo do padre Cardiel, das reduções guaraníticas do sul, para quem "os índios
menos estúpidos tinham apenas breves intervalos de consciência", ou o célebre padre
Sepp, que atuou destacadamente na mesma região, dizendo que os reduzidos eram
"estúpidos, broncos, bronquíssimos para todos os assuntos espirituais". Não há
evidência documental de que algum padre tenha mantido amizade pessoal estreita
com qualquer índio; nenhum escritor jesuíta jamais declarou ter aprendido alguma
coisa com os povos que liderava, nem reconheceu qualquer contribuição importante
da cultura nativa para a sociedade que nascia nas reduções; antes, a tolerância para
com alguns hábitos indígenas não significava uma concordância com eles, era uma
concessão diplomática e pedagógica que com o progresso da aculturação forçada se
tornaria até desnecessária, ultrapassada pela nova realidade cultural e social que se
pretendia consolidar no futuro. [29][30] Contudo, em geral reconheciam-lhes um talento
artístico invulgar e uma profunda capacidade de devoção emocional e lealdade
pessoal.[31][32][33][34]

Primeiras leis de proteção


O capitão Bento Lourenço abrindo uma nova estrada nas florestas perto de Mucuri, gravura
de Martin Esslinger, a partir de original de Maximilian zu Wied-Neuwied, 1822

Com a instalação do governo-geral em Salvador em 1549, apareceu a primeira


regulamentação sobre os índios num Regimento que garantia proteção aos aliados da
Coroa e dava aos jesuítas voz ativa nos assuntos relacionados aos índios. [8] Em 1680
um Alvará Régio instituiu o indigenato, o reconhecimento do direito congênito e
primário dos povos nativos ao seu território tradicional. [3][12] Destarte, em todas as
concessões de terras a colonos deveria ser "reservado o direito dos índios". Porém, o
conceito de "reserva" nunca foi claro,[3] e o indigenato só se aplicava originalmente aos
índios do Pará e Maranhão.[35] Com isso o Alvará teve escasso efeito, e o resultado foi
a continuidade do avanço europeu sobre as terras indígenas. O próprio Estado
português, de onde emanou o Alvará, favorecia a exploração, ativa ou passivamente.
Por exemplo, o Diretório dos Índios, de 1757, reprimia a expressão de muitos de seus
costumes tradicionais e encaminhava o processo de secularização das reduções após
as expulsão dos jesuítas, mas proibiu a escravidão e os qualificava como súditos da
Coroa. Com base nas garantias desta lei apareceram as primeiras ações judiciais
movidas por índios contra o Estado, conseguindo vários sucessos.[8][12] Em 1755 outra
lei expandiu o indigenato para todos os índios brasileiros, [35] mas a instituição só seria
regulamentada em 1850 e nunca entrou em vigor pleno. [36]
Entrementes, os empecilhos continuavam a se multiplicar. Uma Carta Régia de 1798,
embora estendesse o estatuto de cidadão aos índios civilizados, os remeteu à
condição de vassalos e declarava órfãos os índios ainda nas selvas, que deveriam
ser tutelados pelo Estado, podendo todos ser requisitados a qualquer momento para
trabalho forçado.[7] Enquanto isso, apesar de várias tentativas por parte do governo
português de proibir a escravidão indígena, que às vezes desencadearam verdadeiras
revoltas entre a população branca, ela continuava a ser praticada, especialmente em
regiões mais remotas e pobres.[8] Outra Carta Régia, de 1801, permitiu a conquista de
novas terras aos índios nas chamadas "guerras justas", aquelas destinadas a
submeter pela força os povos recalcitrantes à dominação colonial, transformando-as
em terras devolutas.[12][23] No final do processo da colonização, estima-se que a
população indígena havia declinado para cerca de 600 mil pessoas, vivendo em
grande parte em condições de opressão e miséria. [7]
No Império a situação não melhorou. Mesmo que neste período os índios tenham
recebido mais valor no discurso oficial, sendo vistos como os
fundadores arquetípicos da nação, povos puros vivendo em harmonia com a natureza,
a ponto de os imperadores usarem um manto cerimonial com uma gola de penas de
tucano para fazer alusão aos povos da floresta como legítimos participantes de uma
nova unidade nacional, e mesmo que eles tenham recebido até uma forma de culto
mitificado por alguns intelectuais e artistas românticos — os indianistas —,[37][38][39] não
foram nem citados na Constituição de 1824,[40] ainda eram considerados incapazes
diante da Lei, cabendo ao Estado catequizá-los e civilizá-los,[15] continuavam sendo
mortos, escravizados e explorados,[7] e continuou a prática de confiná-los em pequenas
áreas no entorno de suas aldeias, que não ofereciam condições de lhes prover plena
subsistência,[12] isso quando as aldeias não eram extintas por decreto, alegando-se que
seus ocupantes já faziam parte da população brasileira. [7] Em 1850 foi aprovada a Lei
de Terras, a primeira lei que regulamentou a propriedade privada no Brasil,
[12]
 assegurando também aos índios o direito territorial reafirmando o antigo indigenato,
[41]
 mas outras leis entregavam a posse de terras tradicionais a colonos brancos se
fossem categorizadas como vagas por simples declaração pessoal dos interessados
na posse, o que só serviu de pretexto para a expulsão de comunidades inteiras para
apropriação fraudulenta de suas terras, a grilagem.[12] Além disso, nos projetos
imperiais de colonização de novas áreas com estrangeiros, como os alemães e
italianos, muitas vezes as companhias responsáveis pela administração dessas
empreitadas se valeram de pistoleiros contratados especificamente para "limpar" de
índios as áreas destinadas à nova ocupação. [7][42]
Ao inaugurar-se a República, os positivistas se mostravam muito interessados pelos
povos indígenas, vendo-os como verdadeiras nações com direito à autodeterminação,
mas em que pese a influência do Positivismo àquela época sobre a política nacional,
[7]
 na primeira Constituição da República, de 1891, novamente os índios não foram
citados, nem seus direitos territoriais foram reconhecidos, [12] embora algumas
constituições estatuais lhes outorgassem alguns direitos territoriais. [7] Pela mesma
Carta as terras devolutas, até então submetidas diretamente à União, foram entregues
aos estados. Como muitas terras indígenas estavam incluídas nesta categoria, se
criaram condições para mais grilagem incluindo em zonas de fronteira, áreas excluídas
no remanejo original das terras devolutas por questões de segurança nacional. O
governo federal só demarcava terras indígenas após entendimentos com os governos
estaduais e municipais, agravando a política de confinamento. Sem condições de
sobreviver em suas pequenas reservas, muitos índios se viram obrigados a deixá-las
para buscar sustento entre os brancos, como operários da construção ou na
agropecuária, uma mão-de-obra desqualificada e barata que podia ser maltratada e
dispensada a qualquer momento sem qualquer amparo ou garantia. [12]

Cerimônia do Kuarup, tradição imemorial no Parque do Xingu

Expedição dos irmãos Villas Boas na década de 1940, em busca de contatar os


índios Kalapalo

No início do século XX ainda havia personagens influentes, como o diretor do Museu


Paulista, Hermann von Ihering, advogando a ideia de que os índios que não se
sujeitassem à civilização deviam ser exterminados. Mas em 1907 o Brasil, pela
primeira vez, foi denunciado em um fórum internacional por massacrar seus índios.
Este foi um dos fatores que levaram o governo a criar, em 1910, o Serviço de Proteção
ao Índio, dirigido em seus primeiros tempos pelo Marechal Cândido Rondon, que era
descendente de índios, permaneceu simpático à causa indigenista e foi grande
defensor de seus direitos e dignidade. [7][15] Para ele, "os índios não devem ser tratados
como propriedade do Estado dentro de cujos limites ficam seus territórios, mas sim
como nações autônomas, com as quais queremos estabelecer relações de amizade".
[43]
 O Serviço também garantiu a posse de algumas terras tradicionais aos seus
primeiros ocupantes e as protegeu contra invasões, bem como em alguma medida
reconheceu a importância de suas culturas originais e suas instituições. No entanto,
com a promulgação em 1916 do Código Civil foi consagrado mais uma vez o estatuto
dos índios como incapazes, submetendo-os ao regime de tutela, que só cessaria
quando estivessem adaptados à civilização. Nos anos seguintes as atividades do
Serviço, na prática, embora impedissem muitos massacres que na época pareciam
iminentes, se dirigiram mais para pacificar os indígenas ainda não
contatados, aculturá-los e transformá-los em pequenos produtores rurais. [7][15]
Corrigindo a omissão da Constituição de 1891, a Constituição de 1934 e todas as
seguintes reconheceram o direito dos índios à posse das terras que habitam
tradicionalmente.[44] A partir dos anos 1940 o interesse pelos índios se tornou mais forte
entre antropólogos, sociólogos, etnólogos, historiadores, ambientalistas e filósofos, e
figuras como Darcy Ribeiro e os irmãos Villas Boas fizeram muito para dar mais
visibilidade e angariar mais respeito para eles, denunciando sua condição de opressão
e abandono e salientando a riqueza e originalidade de suas culturas. [7][13][15] A esta
altura, porém, a população total de índios havia caído para cerca de 120 mil
indivíduos, e continuava em declínio.[7] Em 1961 foi criado o Parque Nacional do Xingu,
uma vasta área de conservação natural onde vivem muitos povos nativos, que rompeu
com o paradigma anterior tendo como premissa o direito dos povos de preservarem
suas culturas em sua inteireza e autenticidade, defesos da influência da civilização
ocidental, e no ambiente natural necessário para que essas tradições se preservem
continuadamente.[12][13]

Mulheres Xavante na década de 1960

Durante o regime militar (1964-1984), outros instrumentos reforçaram a proteção,


como a Emenda Constitucional nº 1/69, que estabeleceu as terras indígenas como
patrimônio da União, afastando algumas das ameaças de esbulho mais urgentes.
Também reconheceu o direito dos índios ao usufruto exclusivo dos recursos
naturais existentes em suas terras, o seu direito de representação judicial, e declarou
a nulidade dos atos que ameaçassem a posse das terras pelos índios, invalidando os
argumentos baseados sobre supostos direitos adquiridos por outrem. Essas medidas
foram origem de grande controvérsia, sendo consideradas ameaças à propriedade
privada, num período em que o Serviço de Proteção ao Índio mal conseguia ser efetivo
em suas funções e se via alvo de inúmeras denúncias de irregularidades, omissão e
corrupção. O Serviço acabou sendo extinto em 1967, sendo substituído pela Fundação
Nacional do Índio (Funai). Tentando conter as críticas, o governo prometeu dedicar
mais atenção aos povos nativos, o que acabou levando à criação do Estatuto do Índio.
[12][45]

Por outro lado, os militares colocaram a Amazônia no centro das


atenções desenvolvimentistas na nação. Até esta altura praticamente intocada pela
civilização, passou a ser vista como importante elemento na integração brasileira, à luz
da doutrina da segurança nacional. Muitas aldeias foram removidas para projetos de
colonização, silvicultura e agropecuária, ou para a construção de infraestruturas como
estradas, linhas de energia e barragens, e muitos privados e o próprio Estado foram
autorizados a explorar em grande escala recursos naturais em suas terras. [12][45] No
meio dessa movimentação, muitos povos até então isolados ou quase isolados
passaram a entrar em contato mais assíduo com populações estranhas, surgindo
conflitos e sobretudo novas epidemias, que dizimaram muitos.[16] Sob tanta pressão,
neste período começou a se fortalecer o processo de conscientização política dos
povos indígenas, que passavam a buscar reconhecimento, respeito e empoderamento,
organizando-se em associações e iniciativas automotivadas, e entrando em contato
com movimentos sindicais, quilombolas, ligas camponesas e os sem-terra, que
sustentavam reivindicações semelhantes.[4][5]

O Estatuto do Índio

Mulher e criança Yanomami, com suas pinturas e adereços tradicionais

Índios Guarani já semi-aculturados na região das Missões


O Estatuto do Índio (Lei 6.001) entrou em vigor em 1973 e vale até hoje, pois apesar
de intensamente debatido, de estar em conflito com a última Constituição e de haver
um projeto de lei para modificá-lo, a reforma nunca foi votada. [46] O Estatuto definiu a
situação jurídica dos índios e de suas comunidades, "com o propósito de preservar a
sua cultura e integrá-los, progressiva e harmonicamente, à comunhão nacional",
considerando-os integrados "quando incorporados à comunhão nacional e
reconhecidos no pleno exercício dos direitos civis, ainda que conservem usos,
costumes e tradições característicos da sua cultura". [47]
A lei dividiu as terras em três categorias: Terras Ocupadas Tradicionalmente, Terras
Reservadas e Terras de Domínio dos Índios. As terras ocupadas tradicionalmente
(áreas indígenas) estavam definidas nas Constituições de 1967 e 1969. As Terras
Reservadas são terras destinadas pela União para usufruto dos índios, não
necessariamente as terras de ocupação tradicional. Isto assegura ao dono da terra a
indenização em caso de desapropriação. Terras de Domínio dos Índios são as terras
adquiridas por intermédio de compra e venda ou usucapião.[47][48]
Ainda segundo o Estatuto, as áreas reservadas possuem as seguintes modalidades:

 Reserva Indígena, nos moldes descritos acima;


 Colônia Agrícola Indígena, que teria uma ocupação mista entre povos indígenas
aculturados e não-índios. A ideia era conciliar os conflitos entre as reivindicações
da área indígena com os interesses dos não-índios que já ocupassem a área
indígena;
 Território Federal Indígena, que seria uma unidade administrativa subordinada à
União na qual pelo menos um terço da população seria composta por indígenas.
Esta modalidade nunca foi criada;
 Parque Indígena, inspirada na criação do Parque Nacional do Xingu, seria "área
contida em terra na posse dos índios”, associada à preservação ambiental.
O Estatuto também declarou nulos e extintos os efeitos jurídicos "dos atos de qualquer
natureza que tenham por objeto o domínio, a posse ou a ocupação das terras
habitadas pelos índios ou comunidades indígenas", mas reservou ao Estado brasileiro
o direito de intervir nessas terras em casos previstos, como por exemplo "por
imposição da segurança nacional", "para a realização de obras públicas que
interessem ao desenvolvimento nacional", ou "para exploração de riquezas do subsolo
de relevante interesse para a segurança e o desenvolvimento nacional". O que
constitui exatamente "segurança nacional" e "relevante interesse", e em quais casos
tais conceitos se aplicam judiciosamente, tem sido matéria de muita controvérsia
desde então.[3][15][47][49][50][51] Na análise de Luciana Alves de Lima,
"De forma inédita, os indígenas passaram a ser protegidos por lei específica. Mas,
embora esta lei tenha como uma de suas premissas a proteção da cultura
indígena, ela dá maior ênfase à integração dos indígenas à comunhão nacional.
O Estatuto do Índio, em seu artigo 4º, classifica os índios em isolados, em vias de
integração e integrados. Os isolados são aqueles que não tiveram contato com o
não índio ou tiveram pouco contato. Os índios em via de integração são aqueles
que vivem 'em contato intermitente ou permanente com grupos estranhos,
conservam menor ou maior parte das condições de sua vida nativa, mas aceitam
algumas práticas e modos de existência comuns aos demais setores da comunhão
nacional, da qual vão necessitando cada vez mais para o próprio sustento'. Os
integrados são aqueles que estão 'incorporados à comunhão nacional e
reconhecidos no pleno exercício dos direitos civis, ainda que conservem seus
usos, costumes e tradições característicos de sua cultura'. Esta lei regula ainda,
em seus 68 artigos, acerca da questão fundiária, patrimônio cultural, educação
bilíngue, assistência à saúde, normas penais, bem como dos bens e renda do
patrimônio indígena.[15]
A aplicação do Estatuto, porém, a despeito dos significativos avanços que a lei
trouxe, e também por causa deles, se revelou extremamente complexa e
improdutiva, entravou em enorme burocracia, e em 1988 surgiria uma norma
maior que, passando a admitir o multiculturalismo, entraria em conflito com alguns
dos seus pressupostos básicos: uma nova Constituição. Esta, por sua vez,
enfrentaria os mesmos problemas do Estatuto para sua implementação e
regulamentação no que tocava aos índios.[4][15]

A Constituição de 1988 e outros dispositivos

Índios Baré em seu meio natural, em Nova Esperança

Aldeia de índios isolados, sem contato com a civilização, no Acre

Além de declarar em seu artigo 5º que "todos são iguais perante a Lei, sem
distinções de qualquer natureza", a Constituição de 1988 consagrou (pela terceira
vez) o antigo indigenato, o princípio de que os índios são os primeiros e naturais
senhores da terra. Esta é a fonte primária e congênita de seu direito, que é
anterior a qualquer outro. Consequentemente, o direito dos índios à sua terra não
depende de reconhecimento formal.[3][13][52][36][53] Este direito foi restabelecido porque a
Constituinte, rompendo com o padrão anterior de perceber as culturas indígenas
como naturalmente destinadas a serem diluídas e homogeneizadas pela cultura
brasileira, reconheceu tanto seu valor intrínseco como a função básica da terra
tradicional para a preservação íntegra dessas culturas, expressando este
reconhecimento no próprio texto da lei em seu Capítulo VIII, "Dos Índios": "São
terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter
permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à
preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as
necessárias à sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e
tradições", anulando ao mesmo tempo quaisquer outros atos que tenham por
objeto a ocupação, o domínio e a posse dessas terras, mas ressalvados os casos
de "relevante interesse público da União".[54]
A Constituição previu ainda o direito dos índios, individualmente ou suas
comunidades e organizações, de se fazerem representar em juízo em defesa de
seus direitos e interesses, cabendo ao Ministério Público a intermediação em
todos os processos.[54] Com a aprovação do novo Código Civil em 2002, os índios
foram retirados de sua condição de tutelados, garantindo-lhes maior autonomia
jurídica, sujeita a regulamentação especial. [55] No entanto, esta regulamentação
também não progrediu.[48] Embora os índios detenham o "usufruto exclusivo das
riquezas do solo, dos rios e dos lagos" existentes em suas terras, elas constituem
patrimônio da União, e cabe ao Congresso autorizar a exploração desses recursos
por outrem, segundo regulamentação complementar e ouvidas as comunidades
afetadas, sendo-lhes assegurada participação nos resultados das explorações. [13][52]
[54][55]

A Constituição estabeleceu um prazo de cinco anos para a demarcação de todas


as terras indígenas. Contudo, isso não ocorreu, e elas encontram-se em diferentes
situações jurídicas.[52] Segundo o parecer de vários juristas eminentes, inclusive de
membros do Supremo Tribunal Federal, a Constituição não tem efeito retroativo,
invalidando reivindicações sobre terras de domínio que não estavam efetivamente
ocupadas pelos índios no momento da promulgação da lei. Esta visão, bem como
divergências sobre muitos outros aspectos, têm complicado extraordinariamente a
entrega da posse definitiva aos indígenas de suas terras tradicionais. [4][15][56] Em
contraponto, a Constituição dedicou um capítulo inteiro ao meio ambiente, o que
teria importantes repercussões para a questão das terras indígenas, que
passaram a ser vistas também como tesouros de biodiversidade e fontes
permanentes de serviços ambientais inestimáveis para todas as pessoas.
[13]
 Diversos outros dispositivos legais em anos recentes contemplaram interesses
indígenas em áreas como saúde, meio ambiente, educação, patrimônio
arqueológico e imaterial, assistência social, apoio à produção e regularização
fundiária.[57]

Exemplar da sofisticada cerâmica da Cultura Santarém, pré-cabralina. Museu Paraense


Emílio Goeldi

Neste ínterim, a situação dramática de povos indígenas em todo o mundo também


era debatida em fóruns internacionais, criando-se organismos e comissões para
abordá-la e ajudar a solucionar seus problemas. Iniciativas de amplo escopo,
como as desenvolvidas pelas Nações Unidas e suas associadas, como
a Organização Internacional do Trabalho e a Unesco, resultaram em convenções
internacionais e parâmetros reguladores das relações entre civilizados e índios,
procurando assegurar os direitos de ambos em harmonia mútua, mas protegendo
os índios particularmente por sua condição vulnerável e historicamente oprimida. [4]
[15][58]
 A Convenção nº 169 adotada na 76ª Conferência Internacional do Trabalho e
ratificada pelo Congresso em 20 de junho de 2002, garantiu aos índios direitos
mais específicos em relação à proteção de suas culturas, defendendo o
multiculturalismo. A Declaração das Nações Unidas sobre Direitos dos Povos
Indígenas, de 2007, é outro marco internacional de grande importância, reiterando
os direitos dos índios a uma vida autônoma, segura e plena, enfatizando a
necessidade de "consentimento prévio, livre e informado" em caso de uso de suas
terras por outrem, além de reconhecer a validade de instituições indígenas não
formais que regem internamente a vida das comunidades, bem como o direito à
propriedade intelectual. O documento também deu relevo à triste história de
perseguição, opressão e extermínio desses povos, e à sua importância na
conservação da natureza, urgindo pela compreensão e pelas boas relações entre
os povos indígenas e os demais segmentos da sociedade. [15][58] A Unesco, por seu
turno, entre outras medidas, aprovou em 2005 a Convenção sobre a Proteção e
Promoção da Diversidade das Expressões Culturais, incluindo em seu rol de
interesses as culturas indígenas,[59][60] e instituiu o Dia Internacional dos Povos
Indígenas do Mundo, buscando chamar a atenção de todos para o assunto. [58]

Organização do movimento indígena e síntese do


cenário atual
Ver artigo principal: Movimento indígena no Brasil

O cacique Raoni, uma das mais importantes lideranças indígenas do Brasil

Enquanto isso, a conscientização e articulação dos índios brasileiros se fortalecia


e buscava maior liberdade em relação a uma postura do governo entendida como
paternalista e assistencialista, e já considerada mais nociva do que benéfica.
Lideranças como Marçal de Souza, Ailton Krenak, Mário Juruna, Marcos
Terena e Raoni, começavam a se tornar notórias nacional e até
internacionalmente, e continuavam a se comunicar com outros movimentos
sociais, mas se encontravam ainda bastante desarticuladas entre si.[61][62][63][64][65] Para
sanar este problema, durante o Acampamento Terra Livre de 2005, foi criada
a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), agregando uma série de
associações regionais, procurando unificar a pauta de reivindicações e a política
do movimento indígena.[63] A APIB conquistou credibilidade e representatividade e
tem se notabilizado na defesa dos direitos indígenas no país. Uma de suas ações
mais notórias foi a participação na Cúpula dos Povos, realizada no Rio de Janeiro
em 2012, paralelamente à Conferência das Nações Unidas sobre
Desenvolvimento Sustentável.[66] Segundo o cientista político Bruno Lima Rocha, a
APIB "eleva o status desta luta, pois ao gerar a auto-representação, ultrapassa a
condição de tutela e delegação indireta através de entidades como o Conselho
Indigenista Missionário e as contradições permanentes na Fundação Nacional do
Índio".[63]
Igrejas, acadêmicos, ONGs e vários outros segmentos sociais nas décadas
recentes têm dedicado atenção aos índios brasileiros, e lhes têm dado significativa
ajuda em muitas de suas demandas relacionadas à questão das terras. [67] Em
2006, após intensa pressão, o governo aprovou a criação da Comissão Nacional
de Política Indigenista, subordinando-a à Funai, no intuito de "auxiliar na
articulação intersetorial do governo e proporcionar uma maior participação e
controle social indígena sobre as ações governamentais". [49]
Entretanto, como será detalhado mais adiante, mesmo com todo esse amparo
jurídico, institucional e moral, o desafio parece estar longe de ser resolvido, e o
apoio efetivo que os índios recebem da sociedade como um todo tem sido
insuficiente para assegurar os seus direitos previstos em Lei, multiplicando-se os
abusos.[50][51][68] O posicionamento do Conselho Indigenista Missionário, respeitada
organização católica de defesa da causa indigenista, vinculada à Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil, expressa sinteticamente as principais críticas:
"O extermínio dos povos indígenas continua através do confinamento de povos e
comunidades em terras insuficientes; da morosidade do governo na condução dos
procedimentos de demarcação das terras, do descaso nas áreas de saúde e
educação; da omissão do poder público diante das agressões cotidianas, da
invasão de terras por madeireiros, grileiros, fazendeiros, das violências
sistemáticas praticadas contra indígenas. Estas ameaças contra a vida desses
povos não são, portanto, menores do que foram em outros tempos de nossa
história".[68]

Demarcação

Aldeia indígena no Parque do Xingu

Ver também: Lista de terras indígenas do Brasil


A posse da sua terra é a maior reivindicação dos indígenas brasileiros. O
objetivo da demarcação é garantir materialmente o direito indígena à terra. [69] A
demarcação estabelece a extensão da área de usufruto dos índios e deve
assegurar a proteção dos limites, impedindo sua ocupação por não-índios. A
demarcação obedece a um processo sistemático, segundo o artigo 19
do Estatuto do Índio e regulado pelo Poder Executivo.[5][70] Atualmente o
procedimento é o estipulado no Decreto 1.775 de janeiro de 1996, e consta
das seguintes etapas:

 Estudos de identificação
É feito um estudo antropológico por antropólogo de competência reconhecida
pela Funai a fim de reconhecer a terra indígena por um prazo determinado. A
seguir, um grupo técnico especializado, coordenado por um antropólogo e
composto preferencialmente por técnicos da Funai, realiza estudos
complementares. Este grupo realiza análises sociológicas,
jurídicas, cartográficas, ambientais e um levantamento fundiário para definir os
limites da terra indígena. O relatório a ser entregue à Funai deve conter os
dados que constam na Portaria nº 14, de 09/01/96.[5][70]

 Aprovação da Funai
O relatório é então apresentado para apreciação da Funai. Caso haja
aprovação pelo presidente da Funai, ocorre a publicação do resumo do
relatório no Diário Oficial da União e no Diário Oficial da unidade da federação
onde se localizam as terras, em um prazo de quinze dias. O resumo também
deve ser afixado na prefeitura local.[5][70]

 Contestações
Todos os interessados podem contestar o reconhecimento da terra indígena,
desde o início do processo até 90 dias da publicação do resumo no Diário
Oficial. Para isto, encaminham à Funai suas razões e provas pertinentes. As
contestações podem querer apontar vícios no relatório ou exigir indenizações.
Após concluído o prazo de contestações, a Funai tem 60 dias para elaborar os
pareceres sobre as contestações e encaminhá-las ao Ministério da Justiça.[5][70]

 Delimitação
O ministro da justiça terá 30 dias para encaminhar uma resolução que pode
ser: declarar os limites da área e determinar a sua demarcação física;
prescrever diligências a serem cumpridas em mais 90 dias, ou desaprovar a
identificação, publicando decisão fundamentada no parágrafo 1º. do artigo 231
da Constituição.[5][70]

 Demarcação física
Em caso de declaração dos limites da área, cabe à Funai a demarcação física.
Ao Incra cabe o reassentamento da população não-índia que possa ocupar o
local.[5][70]

 Homologação
Cabe ao presidente da República a homologação da terra indígena.[5][70]

 Registro
Após a homologação, o registro das terras deve ser efetuado em 30 dias no
cartório de imóveis da comarca onde se localizam as terras e no Serviço de
Patrimônio da União.[5][70]
Após todo esse trabalhoso processo, as terras devem passar por uma série de
outras regularizações para corrigir problemas existentes, como a presença de
posseiros ou explorações indevidas de recursos naturais. Outras ações são
ainda necessárias para assegurar aos índios a preservação de suas culturas,
sua identidade social e a plena cidadania de seus indivíduos.[5]

Área e população
Mapa das terras indígenas brasileiras com dados de 2008. Em laranja, as terras
demarcadas; em verde estão aquelas em fase de demarcação, e em vermelho
escuro, as novas propostas

Ver artigo principal: Povos isolados, Povos indígenas emergentes


Ver também: Lista de povos indígenas do Brasil
Sua área total está sempre em mudança, muitas terras estão judicializadas ou
ainda em fase de identificação e delimitação. Em 2006 as terras perfaziam
125 545 870 hectares.[71] Em 2009 eram 611 áreas que ocupavam 105 672 003
ha, divididos entre terras delimitadas (33; 1,66%), declaradas (30; 7,67%),
homologadas (27; 3,40%) e regularizadas (398; 87,27%), incluindo 123 terras
em estudo, com área ainda por pesquisar e definir. [72] Em 2020 havia 120
áreas em processo de identificação, num total de 1 084 049 hectares; 43
identificadas (2 179 316 ha); 74 declaradas (7 305 639 ha) e 486 já
homologadas (106 858 319 ha). No total, 723 áreas estavam em processo de
avaliação ou já consolidadas legalmente, com uma área total de 117 427 323
ha.[73]
De acordo com a Funai, em 2017 havia também 115 registros de povos
isolados na Amazônia Legal, 28 foram confirmados, outros 86 permaneciam
em investigação.[74] Existem grupos que estão requerendo o reconhecimento
de sua condição de indígena para garantir suas terras.[75][67][49] Na Amazônia
Legal situam-se 98% das terras indígenas do país em mais de 400 áreas,
ocupando cerca de 21% da Amazônia. O restante está distribuído entre as
outras regiões.[76]
A contagem populacional no Brasil, no quesito étnico, depende da
autodeclaração das pessoas. O censo de 2010 do IBGE acusou uma
população de 817 963 pessoas que se identificavam como índios, com 315
180 vivendo em zonas urbanas e 502 783 em zonas rurais.[77] Dos 5 565
municípios brasileiros, apenas 1 085 não têm nenhuma população
autodeclarada indígena. Porém, os números podem ser enganosos. Segundo
o Instituto Socioambiental, nas provas-piloto para o último Censo foram
registrados casos em que os indígenas não parecem ter compreendido bem
as perguntas, e se identificaram como pardos ou amarelos. [78] Estão divididos
em 230 povos, respondendo por cerca de 0,47% da população total do país. O
predomínio está na região Norte, com 76,55% da população sendo de etnia
indígena.[6][79] Com uma população original no século XVI estimada de 2 a 5
milhões de pessoas, talvez mais, após registrar um declínio constante até a
década de 1980, hoje a população indígena está crescendo, embora algumas
etnias não estejam acompanhando esta tendência e se aproximem da
extinção. Sete povos tinham, na data do levantamento, menos de 40
integrantes. Historicamente muitos já foram extintos. [6][79][80][81]

Conflitos e controvérsias
Políticas públicas e legislação
O governo brasileiro deve assegurar aos índios os seus direitos previstos em
Lei. Vários ministérios são envolvidos diretamente com a questão, como o da
Justiça e o do Meio Ambiente, tendo a Funai como órgão supervisor da
aplicação das políticas públicas para o índio, assessorada por vários outros e
com a participação da sociedade.[82] Seu orçamento passou de 100 milhões de
reais em 2006 para 423,1 milhões em 2010. Foram designados muitos novos
servidores, seus salários aumentaram, foi reconhecido o cargo de indigenista,
e em anos recentes a instituição vem se desdobrando em inúmeras
atividades. Podem ser destacadas, por exemplo, a criação da Comissão
Nacional de Política Indigenista, a elaboração da Agenda dos Povos
Indígenas e dos Territórios da Cidadania Indígena e o projeto para o
novo Estatuto dos Povos Indígenas, além de serem criadas dezenas de novas
reservas.[83]

Ministro da Cultura, Juca Ferreira, participando de uma conversa com representantes


do Governo do Acre e Líderes Indígenas, 2010

Também merece nota a criação da Política Nacional de Gestão Ambiental e


Territorial de Terras Indígenas, que procura criar "estratégias integradas e
participativas com vistas ao desenvolvimento sustentável e à autonomia dos
povos indígenas".[82] Estão incluídos na Política a formação de gestores
indígenas e não-indígenas para que trabalhem cooperativamente, planos de
manejo sustentável das terras, e assessoria aos povos durante as
demarcações e nos processos de licenciamento ambiental em caso de
explorações de recursos.[82][84] Em 2013 foi criado o seu Comitê Gestor, com a
participação de representantes do governo e das comunidades. [85]
Até 2013 o governo buscou parcerias com a sociedade e a comunidade
internacional para uma melhor administração da complexa questão territorial
indigenista, implementando muitos outros programas que lhe são interligados,
entre eles de proteção contra a violência, cooperação internacional,
regularização fundiária, pesquisa científica, divulgação, promoção
da qualidade de vida, assistência médica, fomento de atividades produtivas,
proteção do patrimônio histórico, arqueológico e imaterial, combate à miséria,
educação geral e capacitação técnica.[84][85][86][87][88][89][90]
A posse de suas terras tradicionais é fundamental para os povos indígenas.
São consideradas sagradas, nelas estão sepultados seus ancestrais, nelas se
originam seus mitos, e elas sustentam toda sua cultura e o seu modo de vida,
que são a marca da identidade singular de cada povo. [5][7][15][68][91] A igualdade dos
povos indígenas diante dos outros povos, o seu direito à autodeterminação e o
seu direito à preservação das suas terras e culturas são reconhecidos
internacionalmente, e estão consagrados na Declaração das Nações Unidas
sobre os Direitos dos Povos Indígenas.[92] da qual o Brasil é signatário, [93]

Índios Pataxó fazem protesto diante do Supremo Tribunal Federal pedindo a


regularização de suas terras

Lideranças da APIB são recebidas pelo Ministro da Justiça, José Eduardo


Cardozo, e outros oficiais do governo em 16 de julho de 2012. Os índios protestam
contra a Portaria 303, considerada uma ameaça à integridade das terras indígenas

Mas apesar disto e da provisão constitucional, a demarcação das terras


indígenas brasileiras tem sido um problema crônico de ampla repercussão
social. Segundo inúmeras entidades que representam esses povos, bem
como na opinião de muitos outros simpatizantes e autoridades que ocupam
posições de prestígio na ciência, na educação, no direito, na religião e outros
setores, a política indigenista desenvolvida pelo governo nos anos recentes é
injusta, indigna e escandalosa, atacando e enfraquecendo sistematicamente
os direitos dos índios no Congresso e outras instâncias oficiais, que teriam o
dever de assegurar-lhes o cumprimento dos seus direitos constitucionais, com
isso reafirmando mais uma vez o tratamento discriminatório, negligente e
explorador que os povos nativos vêm recebendo desde os tempos coloniais. [49]
[50][51][68][94][95][96][97][98][99][100][101][102][103][104][105][106]

Entre as leis consideradas sérias ameaças à sobrevivência e à integridade


cultural dos índios, pode ser citada a Portaria 303/12, publicada por pressão
da bancada ruralista, e objetivada como uma autorização para o governo
realizar projetos em suas terras sem consulta prévia, como manda o texto
constitucional, alegando-se o relevante interesse da União. [98][107][108][109] Em 2012,
Maria Luiza Grabner, Procuradora-regional da República em São Paulo,
afirmou que os casos irregulares já se verificam em grande número: "Essa é
uma das maiores queixas dos povos indígenas. Os empreendimentos estão
acontecendo, os projetos de lei estão sendo aprovados sem que exista uma
real consulta. Muitas vezes, o que ocorre é uma comunicação, somente
informando que o projeto será realizado, mas sem que seja construído um
acordo".[97] Na apreciação da antropóloga Manuela Carneiro da Cunha, uma
das mais respeitadas estudiosas da questão indígena, "o governo rifa os
direitos indígenas", pondo em andamento "uma ofensiva sem precedentes no
Congresso contra os índios. [...] A presidente parece estar cada vez mais
refém do PMDB e do agronegócio, que se aliou aos evangélicos. Esse bloco
se opõe ferozmente à demarcação e à desintrusão (retirada de invasores) das
áreas indígenas".[50] Ela continua, dizendo:
"A legislação colonial e todas as constituições do Brasil sempre reconheceram os
direitos dos índios às suas terras. Mas uma coisa é o princípio, outra sua
aplicação. Na fábula clássica, o lobo encontra justificações sucessivas para
devorar o carneiro. [...] Estamos assistindo a um remake do Brasil passado, como
se o século XX nunca houvesse existido. Voltamos a ser exportadores
de commodities, voltamos a explorar riquezas sem consideração pelos custos
humanos e ambientais. E voltamos também ao expediente dos séculos XVI e XVII:
afirma-se o princípio, mas abrem-se exceções que o tornam inócuo. É o que tenta
fazer o Projeto de Lei 227/2012: define o relevante interesse da União com tal
latitude que as garantias constitucionais dos índios se tornam letra morta". [50]

O plenário da Câmara dos Deputados invadido pelos indígenas

Em 16 de abril de 2013, inconformados com a PEC 215, que transferia ao


Congresso Nacional os poderes para demarcar terras indígenas, centenas
de índios invadiram o plenário da Câmara dos Deputados. [110] Depois de
dois anos esperando para serem recebidas pela Presidência, em 18 de
abril mais de 700 lideranças, representando 121 povos indígenas,
expressaram sua indignação nos seguintes termos:
"Protestamos porque nossos parentes estão sendo assassinados, porque nossas
terras não são demarcadas. Pedimos uma audiência com Dilma, mas o máximo
que nos ofereceram foi uma conversa com o ministro Gilberto Carvalho e um
encontro com os demais ministros nesta sexta-feira, 19 de abril, Dia do Índio, para
o governo ter uma foto para suas propagandas (mostrando) que é preocupado com
as questões dos índios. Não, não queremos mais falar com quem não resolve
nada! Há dois anos entregamos, nós povos indígenas, durante o Acampamento
Terra Livre 2011, uma pauta de reivindicações para esses ministros e nada foi
encaminhado. De lá para cá perdemos as contas de quantas vezes em que Dilma
esteve com latifundiários, empreiteiras, mineradores, a turma das hidrelétricas. Fez
portarias e decretos para beneficiá-los e quase não demarcou e homologou terras
tradicionais nossas. Deixou sua base no Congresso Nacional entregar comissões
importantes para os ruralistas e seus aliados".[100]
A presidente encontrou-se com os índios mais tarde, e afirmou que o
Brasil é um país onde as leis são cumpridas, e garantiu que o governo
vai prosseguir na regulamentação da Convenção 169 da Organização
Internacional do Trabalho, que obriga os projetos em terras indígenas
obterem o consentimento prévio dos ocupantes, mas defende uma
solução negociada para os conflitos, considerando que além dos
indígenas, outros setores precisam ser ouvidos. [111][112][113][114] Sônia
Guajajara, representante indígena, definiu o encontro com Dilma
como "histórico", porque atendeu a um desejo antigo dos povos e
abriu a porta do diálogo, mas foi repudiada a decisão da Presidência
de mudar a consulta nas demarcações, bem como os
empreendimentos de infraestrutura em terras indígenas "sem o
consentimento livre, prévio e informado" dos índios. Eles também
exigiram ter participação ativa em todos os processos e a revogação
de instrumentos legais ofensivos e prejudiciais à sua causa, bem
como várias outras medidas, para, segundo declararam, evitar "a
extinção programada" de suas etnias que vem sendo orquestrada
pelo governo.[115]
Apesar de alguns avanços nas últimas décadas, que resultaram entre
outros benefícios no notado crescimento da população nativa e da
área de suas terras,[71] os programas governamentais mais recentes
vêm gerando vasta controvérsia e importantes retrocessos.[3][15][49][50][51][116]

Pressões do desenvolvimento
A senadora Kátia Abreu, importante líder do agronegócio, falando sobre os
problemas derivados da demarcação de terras indígenas

A oposição aos interesses dos índios é grande entre vários outros


setores da sociedade, especialmente os ligados ao desenvolvimento
econômico, que movimentam grande capital e exercem maciça
influência política.[51][68][99][100][117][118] O agronegócio é o setor que mais
recebe acusações dos indigenistas, e é um dos mais influentes na
direção dos rumos políticos e econômicos do país. Sua força está em
sua grande participação nas exportações: em 2019 respondia por
43% do total, e desde 2011 vem gerando receitas anuais acima dos
90 bilhões de dólares.[119][120] A maioria das queixas dos ruralistas
circula em torno do argumento de que os índios são poucos e suas
terras grandes demais, roubando um espaço que poderia ser usado
como área de cultivo ou pastagem para o gado, e por isso seriam um
entrave e uma ameaça para a segurança alimentar e a economia do
país,[121][122][99] mas essa alegação carece de fundamento sólido, pois
avaliações de técnicos da Embrapa e um parecer da Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência, em conjunto com a Academia
Brasileira da Ciência, afirmam que não falta terra no Brasil, o que falta
é o seu melhor aproveitamento.[122][123] Calcula-se que haja no país 340
milhões de hectares de terras agriculturáveis, sendo a metade de
pastagens. Mas pelo menos 100 milhões de hectares de pastagens
estão subaproveitados.[124][125][126] Na apreciação do Conselho Indigenista
Missionário (CIMI),
"A bancada ruralista ataca os direitos dos povos por meio de diferentes
instrumentos na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. Há mais de uma
centena de proposições legislativas contrárias aos direitos dos povos em
tramitação nas duas casas do Congresso. Dentre elas destacam-se as Propostas
de Emendas Constitucionais (PECs) 215/2000, 038/1999 e 237/2013. Os povos
indígenas sabem que os ruralistas querem fazer com a PEC 215/2000, hoje, o
mesmo que fizeram com o Código Florestal em 2012: flexibilizar os direitos dos
povos e ter nas próprias mãos o poder para não demarcar as terras indígenas no
país. [...] Demarcações paralisadas pelo Governo Federal e ruralistas no ataque
para impedir novas demarcações, rever as demarcações já realizadas e explorar
as terras demarcadas. É isso que os povos indígenas enxergam na conjuntura
política indigenista do Brasil. É contra este ataque sincronizado do Governo
Federal e do agronegócio que os povos reagem na perspectiva de que seus
direitos sejam preservados e efetivados. Uma reação, portanto, em legítima defesa
de suas existências enquanto indivíduos e povos". [51]
Outros setores econômicos também são influentes. A mineração é
uma causa de intensas disputas.[49][106][127] Segundo a Constituição,
"a pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras indígenas
só podem ser efetivados com autorização do Congresso Nacional,
ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada
participação nos resultados da lavra, na forma da lei". Mas a
matéria ainda não foi regulamentada. Em terras indígenas toda
mineração na forma de garimpo é vedada aos não-indígenas, mas
garimpeiros clandestinos são comuns. As terras dos Cinta Larga,
por exemplo, foram invadidas por 5 mil garimpeiros,
especuladores, contrabandistas e grupos organizados depois que
se descobriu serem ricas em diamantes, cassiterita e outros
minérios.[128] Um estudo do Instituto Socioambiental publicado em
abril de 2013 mostrou a pressão que a mineração impõe:
"Existem 152 terras indígenas na Amazônia potencialmente
ameaçadas por projetos de mineração. Todos os processos
minerários em terras indígenas estão suspensos, mas, se fossem
liberados, cobririam 37,6% das áreas". Tramita no Congresso o
polêmico Projeto de Lei 1.610 almejando exatamente essa
liberação. Segundo o advogado Raul Silva Telles do Vale, do
Instituto Socioambiental, as terras indígenas são muito mais
valiosas como usinas de geração de serviços ambientais do que
como campos de mineração de recursos naturais finitos.
[129]
 Impactos ambientais da mineração incluem
a poluição e assoreamento de rios, transformação do terreno
e desmatamento, e surgem também vários impactos sociais pelo
contato dos índios com populações estranhas.[128] Na avaliação de
Melissa Curi, professora da Universidade de Brasília e funcionária
da Funai,

A organização ambientalista Greenpeace fez protesto no dia do leilão


da construção da Usina de Belo Monte

"O contato próximo de pessoas que exploram minérios com comunidades


indígenas resulta sempre em prejuízo fatal para os índios, devido, principalmente,
ao estilo de vida agressivo e imediatista dos primeiros. Além da violência, ocorre a
transmissão de doenças altamente contagiosas e perigosas, como as venéreas,
a tuberculose, a malária etc [...] e a introdução de valores típicos da sociedade
dominante, como o fascínio pelo dinheiro e o que se pode adquirir com ele. Com a
introdução desses novos hábitos, o que se constata, depois de certo tempo, é a
deterioração da vida tribal, seguida da perda da identidade social e completada
pelo enquadramento cultural e social à sociedade dominante, ou seja, a passagem
de uma sociedade autônoma para uma minoria dependente". [128]
Projetos hidrelétricos que se multiplicam nos últimos anos são
outra das grandes fontes de conflito. [49][95][101] A Coordenação
das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira declarou
em carta aberta seu repúdio à política do governo de investir
em megaprojetos de energia que revertem em danos para
povos indígenas, comunidades tradicionais e o meio
ambiente, além de terem eficiência técnica duvidosa.[101] A
construção da Usina de Belo Monte se tornou o exemplo mais
notório, cercada de grande violência e polêmica, até hoje não
resolvida. As denúncias de violações de direitos humanos
chegaram à Organização dos Estados Americanos, que
solicitou explicações à Presidência da República e a
paralisação das obras. O pedido foi ignorado, e em represália
o embaixador do Brasil junto à organização foi chamado de
volta e o governo ameaçou retirar fundos de apoio. [130][131][132][133]

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