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No Brasil
Noções gerais
O testamento[1] é um ato solene e revogável. A solenidade do ato diz respeito às
"formalidades legais", ou seja, o cumprimento das determinações previstas em lei, sob
pena de nulidade. Já a revogabilidade do ato é a possibilidade de o testador poder revogar
o testamento a qualquer tempo, modificando-o total ou parcialmente, até o momento de
sua morte. Somente as questões de ordem patrimonial podem ser revogadas (o
reconhecimento de um filho, por exemplo, não pode ser revogado).
O testamento também deve ser considerado um negócio jurídico personalíssimo, unilateral
e gratuito.
Diz-se personalíssimo devido ao fato das disposições (o conteúdo) do testamento só
poderem ser feitas pelo agente testador e mais ninguém, nem mesmo por meio de um
procurador ou representante. A lei permite, no entanto, que um terceiro assine o
testamento à rogo do testador, nos casos dos analfabetos ou impossibilitados por qualquer
motivo, desde que esta pessoa não tenha participado das disposições testamentárias (o
conteúdo do testamento), bem como não pode ser beneficiária do testamento, sob pena de
nulidade.
Desta forma, não existe a figura do "testamento conjunto" (Testamento por duas ou mais
pessoas), até mesmo por vedação expressa da lei. (art. 1.863 do Código Civil Brasileiro).
A unilateralidade do testamento se dá pelo fato dele produzir efeitos apenas com a
assinatura do testador, ou seja, apenas pela vontade de um lado do negócio jurídico,
independente da manifestação dos herdeiros testamentários. (Por exemplo, um indivíduo
pode testar, dispondo de um de seus bens para um herdeiro, externando, assim, sua
última vontade. O fato do herdeiro renunciar à herança não descaracteriza a
unilateralidade do testamento). Por este motivo, o testamento não é considerado
um contrato, pois dependeria da vontade das duas partes.
O testamento também é um negócio gratuito, pois não exige qualquer contra-prestação
dos beneficiários. A existência de encargo ou condição nas disposições testamentárias
não retira o caráter gratuito do testamento.
INTERPRETAÇÃO DE TESTAMENTOS
Os arts. 1.899, 1902 a 1.908 [2] do Código Civil Brasileiro referem-se à interpretação dos
testamentos. Em resumo, é preciso destacar que, nas cláusulas testamentárias que
possibilitem interpretações diferentes, prevalecerá a que melhor assegure a observância
da vontade do testador. Havendo disposição geral em favor dos pobres, dos
estabelecimentos particulares de caridade ou de assistência pública, entender-se-á relativa
àqueles do lugar do domicílio do testador ao tempo de sua morte, salvo se manifestar
sobre outra localidade, expressamente. O erro na designação da pessoa do herdeiro, do
legatário, ou da coisa legada anula a disposição se não se puder identificar a pessoa ou
coisa a que o testador queria referir-se, pelo contexto do testamento, por outros
documentos, ou por fatos inequívocos. Se o testamento nomear dois ou mais herdeiros,
sem discriminar a parte de cada um, a porção disponível do testador será partilhada por
igual, entre todos.
Através do processo filológico ou gramatical de hermenêutica para a interpretação
procura-se entender as expressões do estipulante, as palavras empregadas para traduzir a
intenção, implícita ou explicitamente, e revelar com clareza o intuito do testador ao fazer
uma liberalidade, o objeto da dádiva e o respectivo beneficiário. O método filológico vem a
ser a interpretação dos textos jurídicos à luz da tradição ou sentido histórico das palavras.
A filologia faz a análise e considera o sentido das palavras no tempo [3]. Carlos Roberto
Gonçalves enumera regras práticas estabelecidas pela doutrina e pela jurisprudência para
interpretação dos testamentos [4]:
Formas de testamento
As formas ordinárias (mais comuns) de testamento, são:
o testamento marítimo, regulado pelo art. 1.888 do Código Civil Brasileiro, é aquele
realizado perante a autoridade da embarcação (Capitão, Comandante ou pessoa por
ele designada) em que o testador estiver viajando, utilizando-se os procedimentos da
forma pública ou cerrada, que deverá ser registrado no livro de bordo e entregue à
autoridade administrativa no primeiro porto nacional em que a embarcação parar;
o testamento aeronáutico, regulado pelo art. 1.889 do Código Civil Brasileiro, é aquele
realizado perante a autoridade da aeronave (Comandante ou pessoa por ele
determinada) em que o testador estiver viajando, utilizando-se os procedimentos da
forma pública ou cerrada, que deverá ser registrado no livro de bordo e entregue à
autoridade administrativa no primeiro aeroporto em que a aeronave pousar;
o testamento militar, regulado pelo art. 1.893 e seguintes do Código Civil Brasileiro, é
aquele realizado por militares ou pessoas a serviço militar, e pode ser realizado, junto
com duas testemunhas: Perante o Comandante da expedição (ainda que de patente
inferior); perante o Oficial de saúde ou diretor do hospital em que o testador estiver
internado; perante o substituto imediato, no caso do testador ser o oficial de mais alta
patente. Deve ser escrito à punho próprio e apresentado de forma aberta ou cerrada. [6]
Estas modalidades excepcionais "caducam" (perdem eficácia) se o testador estivesse em
local em que pudesse testar da forma ordinária, bem como não vindo a falecer durante os
90 (noventa) dias seguintes ao testamento, em local onde se pudesse realizá-lo da forma
ordinária, com exceção do Testamento militar, desde que o oficial anote no testamento o
lugar, dia, mês e ano, em que lhe foi apresentado, assinando-o juntamente com as
testemunhas, o que lhe dará caratér oficial.
Codicilos
Ver artigo principal: codicilo
Codicilo é muito parecido com o testamento, embora não possua suas formalidades legais.
É um escrito particular, datado e assinado, em que o indivíduo pode tecer disposições
sobre seu próprio funeral, bem como destinar bens e valores de pouca monta a pessoas
indicadas ou, indistintamente a pobres, independente de testamento. É regido no Código
Civil pelo artigo 1.881 e seguintes. Se este for encontrado em invólucro fechado, seguir-se-
á o procedimento do testamento cerrado, para abertura.
Assim como o testamento, o codicilo pode ser revogado, seja por posterior codicilo ou por
testamento posterior que expressamente o revogar ou não o confirmar.
Ab intestato
Ab intestato é uma expressão latina literalmente traduzida “Por ausência de testamento”,
usada para indicar que uma pessoa faleceu sem deixar testamento. O herdeiro que o
sucedeu é denominado herdeiro "ab intestato".
Na Roma antiga era uma desonra morrer ab intestato, e tendo todo o cidadão o direito de
testar não deixava de instituir, por acto solene, o herdeiro que depois da sua morte havia
de continuar a sua pessoa e herdar os seus bens.[carece de fontes]