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Falar sobre herança é tocar em um assunto extremamente

delicado, pois o tema está ligado ao falecimento de um ente


familiar. O período, mesmo sendo de dor e luto, requer atenção
dos familiares porque existem processos burocráticos com
relação aos bens do falecido.
O destino da herança deixada por alguém depende de vários
fatores como a configuração familiar no momento da morte e a
existência de testamento. Para entender quem fica com os bens
da pessoa que morreu, é necessário observar uma série de
regras e exceções.

Nesse artigo explicarei o que é herança, partilha de bens, quem


são os herdeiros legítimos, os herdeiros necessários e os
herdeiros testamentários.

1. O que é herança?
2. Quem são os herdeiros?
3. O que é a partilha de bens?
4. O que é inventário?
5. Os regimes de bens e a herança
6. Qual a diferença entre testamento e inventário?
7. Partilha de bens aos filhos
8. Partilha dos bens aos netos, bisnetos, trinetos e
tataranetos
9. Partilha de bens aos pais
10. Partilha de bens aos avós, bisavós, trisavós e
tataravós
11.Partilha de bens aos Irmãos, sobrinhos, tios, tios-
avós e primos
12. Como saber se o falecido deixou testamento?
13. Como saber se o falecido deixou testamento?
14. O que pode acontecer se não for feito o inventário?
15. Quem pode ser deserdado?
16. O que acontece se o ente estava endividado?
17. O que é planejamento sucessório?
Conclusão

1. O que é herança?
Recebe o nome de herança o conjunto de bens (e aí entram
também os investimentos), patrimônios, direitos e obrigações
deixados por uma pessoa falecida aos seus herdeiros.

2. Quem são os herdeiros?


Por herdeiros entende-se tanto os legítimos quanto os que
foram indicados como beneficiários em
testamento (testamentários). O Código Civil esclarece:
- Herdeiros legítimos (chamados também de
necessários)
Os herdeiros legítimos são, segundo o art. 1829, do Código
Civil:
I – os descendentes, que concorrem com o cônjuge
sobrevivente na herança, salvo se casado este com o falecido no
regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória
de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da
comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens
particulares;
II – os ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
III – ao cônjuge sobrevivente;
IV – aos colaterais.
Pensando em uma árvore genealógica, ascendentes são os
pais, avós, bisavós, trisavós do de cujus. Ou seja, os parentes
que vieram antes do próprio.
- Descendentes são os filhos, netos e bisnetos.
- Cônjuge sobrevivente é o marido ou esposa do de cujus.
Neste ponto, é importante ressaltar que o casamento deve estar
válido na data da morte do titular dos bens. Ou seja, o divórcio
ou separação de fato extinguem o matrimônio e, portanto, não
gera direitos sucessórios.
- O companheiro ou companheira sobrevivente é com
quem o de cujus vivia em união estável. Há direito sucessório
nos casos de uniões estáveis, desde que comprovado que o
casal convivia até a data da morte do de cujus.
Estes herdeiros têm direito a 50% do patrimônio do de
cujus, cada um com sua quota-parte, segundo as disposições
legais.
Por isso, existindo herdeiros necessários, se houver
testamento, o testador não poderá dispor sobre a divisão de
mais de 50% do patrimônio, pois atinge a parte legítima
- Herdeiros facultativos (colaterais)
Os herdeiros colaterais ou facultativos são aqueles que terão
direito somente no caso de não existirem os herdeiros
anteriores, segundo a ordem de vocação hereditária. São os
parentes de até 4º grau (irmãos, tios, sobrinhos e primos).

- Herdeiros testamentários (legatários)


São os que recebem o patrimônio, ou uma parte dele, pela
vontade do falecido firmada em testamento (isto é, por livre e
espontânea vontade do legatário).

Qualquer pessoa pode criar um testamento em vida dispondo


como será a divisão dos bens, definindo quem são os legatários
e quais os bens especificamente de direito, já que não há
percentual sobre o patrimônio, respeitada a legítima, conforme
já explicamos.

Existem algumas vedações para a nomeação do legatário na lei,


ou seja, não podem ser legatários:

Art. 1.801. Não podem ser nomeados herdeiros nem


legatários:
I – a pessoa que, a rogo, escreveu o testamento, nem o seu
cônjuge ou companheiro, ou os seus ascendentes e irmãos;
II – as testemunhas do testamento;
III – o concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa
sua, estiver separado de fato do cônjuge há mais de cinco anos;
IV – o tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão,
perante quem se fizer, assim como o que fizer ou aprovar o
testamento.
O nome “legatário” se dá porque a pessoa recebe um legado
de outrem por meio de testamento.
Para os casos em que não haja, legalmente, um testamento
reconhecido, os filhos e companheiros passam a ser
os herdeiros naturais. Já na ausência de cônjuge, filhos e
netos, ficam com a partilha dos bens os irmãos ou familiares.
Um herdeiro pode ter direito à herança por inteiro, ou a uma
parte dos bens. Na ocasião de haver mais de um herdeiro, deve
existir o procedimento chamado de partilha de bens.

3. O que é a partilha de bens?


A partilha de bens é quando a herança é dividida entre
herdeiros ou pessoas de direito. O processo se dá a partir das
análises do testamento e do inventário.

4. O que é inventário?
Inventário é um procedimento Judicial ou Extrajudicial com a
finalidade de transferir a propriedade do falecido (de cujus)
para os que ficaram vivos (herdeiros), fazendo um
levantamento de tudo o que ele possuía, a fim de que a divisão
entre os seus sucessores seja igualitária.
Existem dois tipos de inventários, Inventário Judicial e
Inventário Extrajudicial.
Inventário Extrajudicial é o inventário realizado
no cartório, por meio de escritura pública, desde que todos os
envolvidos sejam capazes, concordes e devidamente
representados por advogado.
Não pode haver testamento, caso contrário, o inventário deverá
ser realizado pelas vias judiciais. Este inventário poderá ser
realizado em qualquer cartório de notas, independente do
domicílio das partes, do óbito e dos bens.

O Inventário Judicial, por sua vez, é o inventário que ocorre


por meio de processo judicial.
Essa é a modalidade obrigatória de inventários nos casos nos
quais houver menores ou incapazes, discordância quanto à
partilha dos bens, algum envolvido não estiver devidamente
representado ou, ainda, quando o falecido houver deixado
testamento.

Havendo testamento, serão abertas duas ações judiciais: uma


para reconhecer o testamento e outra para realizar o processo
de inventário em si.

5. Os regimes de bens e a herança


Comunhão Universal
Se o falecido foi casado no regime de comunhão universal,
todos os seus bens e de seu cônjuge pertencem aos dois,
indistintamente.

Para fins de herança, o viúvo terá direito a 50% do patrimônio


deixado pelo falecido, mas não a título de herança, e sim como
sua meação.

Esta diferenciação é muito importante. O cônjuge


sobrevivente, no regime da comunhão universal, não é
herdeiro, mas sim meeiro, o que significa que ele já é
proprietário de 50% do patrimônio, não havendo o que se falar
em herança.

Comunhão Parcial
Se o falecido foi casado em regime de comunhão parcial, será
necessário, antes de tudo, verificar quais são seus bens
particulares e quais os seus bens em comunhão.

Em relação aos bens adquiridos antes do casamento –


particulares – o cônjuge sobrevivente terá participação como
herdeiro, juntamente com os descendentes.

Por outro lado, em relação àqueles bens adquiridos após o


casamento, a regra será exatamente a mesma aplicada à
comunhão universal, explicada acima, de modo que o viúvo (a)
permanecerá com 50% deles, a título de meeiro – e não
herdeiro.

Separação Total ou Separação Obrigatória


A separação total é o regime em que o casal, de livre vontade,
opta pela separação de bens, o viúvo é herdeiro e dividirá a
herança juntamente com os descendentes.

Por outro lado, a separação obrigatória é o regime imposto pela


lei, de acordo com algumas situações no momento do
casamento. A mais comum é quando um dos noivos tem mais
de 70 anos.

Se o falecido era casado em regime de separação obrigatória,


em regra, o viúvo (a) terá direito à meação, isto é, titularizará
50% do patrimônio adquirido após o casamento, e,
consequentemente, não participará do restante, como
herdeiro.

Inclusive, dissemos “em regra”, porque é necessária a prova do


esforço comum na aquisição do patrimônio. Porém, o esforço
comum, neste caso, é quase que presumido, pois aceita-se não
apenas a ajuda financeira, mas também moral e psicológica.

Desta forma, pode-se afirmar que as regras para a separação


obrigatória são semelhantes àquelas aplicadas à comunhão
parcial.

União estável
O STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu que não existe
diferença de herança para pessoas casadas ou em união estável.
Assim, toda a explicação acima se aplica de forma idêntica para
companheiros em união estável, de acordo com o regime
escolhido.
6. Qual a diferença entre testamento e
inventário?
É necessário, antes de tudo, definir o que é testamento e o
que é inventário para explicitar a diferença desses dois
institutos.
Testamento pode ser entendido como a manifestação de
vontade de uma pessoa viva acerca do seu patrimônio, ou seja,
uma manifestação de vontade sobre como ela quer dispor do
seu patrimônio.
Por outro lado, Inventário é a apuração dos bens de uma
pessoa após o seu falecimento. Esse processo é necessário para
posterior partilha de bens entre os herdeiros.

7. Partilha de bens aos filhos


Os filhos nunca ficam de fora da herança, exceto se forem
deserdados ou considerados indignos (veja mais no tópico
"quem pode ser deserdado", mais abaixo).

Eles podem ter de dividir a herança com o cônjuge,


dependendo do regime de bens do casal, conforme explicado
acima. Em alguns casos, netos e bisnetos também podem
participar da divisão junto com os filhos (entenda melhor no
tópico seguinte).

A divisão da herança entre os filhos é igualitária (salvo se a


pessoa que morrer privilegiar um deles no testamento,
respeitado o limite de 50% do patrimônio total). Não existe
mais diferenciação entre filhos concebidos dentro ou fora do
casamento.
Também tem direito à herança o filho já concebido, que
nasce depois que a pessoa morre. Se a gestação for
interrompida ou o bebê nascer sem vida, não é levado em conta
na divisão da herança.
É preciso lembrar que o dono dos bens pode fazer o testamento
e deixar metade de seu patrimônio para quem quiser, mesmo
que não sejam filhos. A prioridade dos filhos é para a parte
que sobrar, se houver testamento.
8. Partilha dos bens aos netos, bisnetos,
trinetos e tataranetos
Para outros descendentes diretos (netos, bisnetos, trinetos
tataranetos), existe o direito de representação. Isso significa
que eles podem ficar com a parte da herança que caberia a um
filho da pessoa que deixou herança.

Esse direito de representação se estende sem limite entre


descendentes diretos, como bisnetos, trinetos e tataranetos.

9. Partilha de bens aos pais


Os pais só têm direito à herança se a pessoa falecida não
deixar descendentes (filhos, netos, bisnetos, trinetos e
tataranetos). Eles têm que dividir parte do patrimônio com o
cônjuge do falecido, independente do regime de bens que o
casal mantinha.

10. Partilha de bens aos avós, bisavós,


trisavós e tataravós
Só têm direito à herança se a pessoa que morreu não deixou:

 Descendentes diretos (filhos, netos, bisnetos, trinetos e


tataranetos);
 Pais;
 Marido, esposa, companheiro ou companheira.
Nesse caso, não existe direito de representação. Assim, o
ascendente mais próximo exclui os mais distantes. Por
exemplo: uma avó vai excluir um bisavô da herança (exceto se
o bisavô estiver contemplado no testamento, dentro dos 50%
que podem ser destinados livremente).
11. Partilha de bens aos Irmãos, sobrinhos,
tios, tios-avós e primos
Esses são os principais parentes colaterais
considerados herdeiros facultativos. Se não forem
contemplados no testamento, só terão direito à herança
caso não esteja vivo nenhum dos outros familiares
listados acima.
Diferentemente dos herdeiros necessários, os herdeiros
facultativos podem ser excluídos no testamento pela simples
vontade do dono do patrimônio.

12. Partilha de bens com testamento


Neste caso, será preciso fazer um inventário, pois metade do
patrimônio do falecido fica disponível para os herdeiros legais.
Explicando: o testamento tem efeito sobre 50% da herança,
enquanto os outros 50% vão para o cônjuge e descendentes. Ou
seja, só se pode testar 50% da herança.

13. Como saber se o falecido deixou


testamento?
Caso a família não tenha certeza se o falecido deixou
testamento registrado, dever-se-á retirar uma certidão
no CENSEC (Central Notarial de Serviços Eletrônicos
Compartilhados). Essa pesquisa realizará uma busca em
todos os cartórios do país, verificando a existência ou não de
testamento registrado.

14. O que pode acontecer se não for feito


o inventário?
Este é um ponto extremamente relevante: as consequências da
não abertura de inventário após falecimento de uma pessoa.
Um dos grandes problemas da não abertura do inventário é
que os herdeiros não poderão usufruir livremente dos bens
deixados pelo falecido. Em outras palavras, os herdeiros não
poderão vender, alugar, transferir ou realizar
qualquer outro tipo de negócio jurídico com os bens
do falecido até que seja feita a partilha.
Além disso, o cônjuge sobrevivente, ou seja, o/a viúvo (a), sem
que haja a abertura do inventário e a posterior partilha dos
bens, fica impedido de contrair novo casamento legalmente.

15. Quem pode ser deserdado?


A lei prevê casos em que o próprio dono do patrimônio pode
excluir herdeiros necessários. Isso só é permitido por meio do
testamento, com indicação expressa da causa. Para deserdar
descendentes (filhos, netos e bisnetos), o dono do patrimônio
pode alegar:

As hipóteses de deserdação encontram-se elencadas nos


artigos 1.814, 1.962 e 1.963 do Código Civil:
 autoria, co-autoria ou participação de homicídio doloso,
ou tentativa deste, contra a pessoa de cuja sucessão se
tratar, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou
descendente;
 acusação caluniosa em juízo o autor da herança ou
incorrerem em crime contra a sua honra, ou de seu
cônjuge ou companheiro;
 por violência ou meios fraudulentos, haja a inibição ou
óbice a que o autor da herança disponha livremente de
seus bens por ato de última vontade;
 ofensa física;
 injúria grave;
 relações ilícitas com a madrasta ou com o padrasto;
 relações ilícitas com a mulher ou companheira do filho ou
a do neto, ou com o marido ou companheiro da filha ou o
da neta;
 desamparo do ascendente em alienação mental ou grave
enfermidade;
 desamparo do filho ou neto com deficiência mental ou
grave enfermidade.

16. O que acontece se o ente estava


endividado?
O Código Civil esclarece que, em caso de o falecido ter deixado
dívidas, o patrimônio deverá ser usado para pagar os credores.
Pode haver três situações.

Na primeira, é quando a dívida é menor do que o volume


de bens. Nesse caso, parte da herança vai para quitação das
dívidas e o restante é dividido entre os herdeiros.
Na segunda, é quando dívida e patrimônio se
equivalem. Em situações assim, existe quitação da dívida e os
herdeiros não terão herança.
Já quando a dívida é maior que o patrimônio do falecido, os
familiares podem renunciar à herança, a qual será disputada
entre credores.
Como não existe a obrigatoriedade de a família renunciar ao
inventário, uma opção é seguir o processo de partilha
normalmente e realizar o pagamento dos credores de acordo
com o limite dos bens existentes.

O restante da dívida também não é herdada: os


familiares não precisam se responsabilizar por quitar valores
que ultrapassem o patrimônio deixado pela pessoa.

17. O que é planejamento sucessório?


O planejamento sucessório é um instrumento jurídico que
tem como objetivo organizar a transferência de bens e
patrimônios de uma pessoa, ainda viva, aos seus herdeiros.
A ideia é atuar de modo antecipado para prevenir problemas
como conflito familiar, dispor os bens conforme o desejo do
titular e reduzir custos com o ITCMD (Imposto sobre
Transmissão Causa Mortis e Doação).

Ao realizar um planejamento sucessório, o ideal é contratar


advogados especializados no assunto para que seja feita uma
análise da maneira mais eficiente de realizar a sucessão.

Algumas das maneiras mais comuns são:

 Testamento.
 Doação do patrimônio em vida.
 Holding Familiar.
 Planos de Previdência Privada.
 Conta Conjunta.
 Fundos Imobiliários.
 Seguro de vida.

Conclusão
Vimos o que é herança, partilha de bens, quem são os herdeiros
e meeiros, o que é inventário e o que é um planejamento
sucessório.

No próximo artigo falarei especificamente sobre planejamento


sucessório e sua importância.

Até breve. Abraços!

Tatiane Oliveira da Silva - Advogada OAB/RS 73088


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