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10345 - PROCESSO DE

INVENTÁRIO

25h MÓNICA ROCHA


P. INVENTÁRIO
FONTES: – Código Civil, livro V, Direito das Sucessões (+ livro I,
Parte Geral)
– Constituição da República Portuguesa (p. ex., artigos 13.º, 36.º e
62.º)
– Código de Processo Civil (p. ex., artigos 938.º a 940.º)
– Código do Notariado (p. ex., artigos 82.º a 88.º, 106.º a 115.º)
– Código do Registo Civil (p. ex., artigos 201.º-A a 201.º-R)
– Código do Registo Predial – Processo de Inventário (vide, em
particular, Lei n.º 117/2019, de 13 de Setembro)
- DECOPROTESTE
PROCESSO DE INVENTÁRIO
Qual a função de um processo de inventário?
O processo de inventário cumpre, entre outras, as seguintes funções:
•Fazer cessar a comunhão hereditária e proceder à partilha de bens;
•Relacionar os bens que constituem objeto de sucessão e servir de base à
eventual liquidação da herança, sempre que não haja que realizar a partilha
da herança;
•Partilhar bens em consequência da justificação da ausência;
•Partilhar bens comuns do casal.
PROCESSO DE INVENTÁRIO
QUEM FICA COMO CABEÇA-DE-CASAL?
A administração da herança deixada pelo falecido é efetuada pelo cabeça-de-casal,
até que os bens sejam partilhados. A pessoa chamada a assumir esta função será
definida de acordo com a seguinte ordem
PROCESSO DE INVENTÁRIO
QUEM FICA COMO CABEÇA-DE-CASAL?
•o cônjuge sobrevivo não separado judicialmente de pessoas e bens, se for herdeiro
ou tiver direito a metade dos bens do casal (meação);
•-se existir testamento, o testamenteiro, salvo declaração do falecido em contrário;
•-os parentes, desde que herdeiros legais. A atribuição é feita ao mais próximo (filho,
por exemplo). E, entre os mais próximos, ao que vivia com o falecido há, pelo
menos, um ano;
•-os herdeiros testamentários, ou seja, aqueles que são abrangidos pelo testamento,
sendo dada preferência ao mais beneficiado e, em caso de igualdade, ao mais velho.
PROCESSO DE INVENTÁRIO
QUEM FICA COMO CABEÇA-DE-CASAL?
•Se nenhum dos herdeiros quiser esta responsabilidade, é possível entregar a
administração da herança a outra pessoa (mesmo que não seja herdeiro). Para tal,
tem de haver acordo de todos os interessados. Na falta de acordo, a escolha pode ser
feita pelos tribunais. Só em condições especiais o herdeiro designado poderá recusar
o cargo. Por exemplo, se tiver mais de 70 anos; se tiver uma doença que
impossibilite tais funções; ou se a função de cabeça-de-casal for incompatível com o
exercício de um cargo público.
PROCESSO DE INVENTÁRIO
QUEM FICA COMO CABEÇA-DE-CASAL?
Caso um herdeiro se sinta lesado com a atuação do cabeça-de-casal e pretenda
afastá-lo, poderá propor o seu afastamento, desde que comprove que ele:
•ocultou bens ou doações feitas pelo falecido e/ou indicou doações ou encargos
inexistentes;
•administrou o património hereditário sem prudência nem zelo;
•se, no âmbito do inventário, não cumpriu os deveres impostos por lei;
•se revelar incompetente para o exercício do cargo.
PROCESSO DE INVENTÁRIO
CERTIDÃO DE ÓBITO EM PAPEL OU VERSÃO ONLINE
A certidão de óbito comprova o falecimento, a data, a hora e o local onde o mesmo
ocorreu. Qualquer pessoa pode requerê-la. É possível pedir uma certidão de óbito em
papel ou online. No primeiro caso, o pedido é feito numa
Conservatória do Registo Civil, numa Loja de Cidadão pode requerer uma versão
online da certidão. O pedido é feito na plataforma Civil Online
P. INVENTÁRIO

Herdeiros Legitimários
Existem alguns herdeiros, chamados legitimários, a quem cabe, por força da lei, uma porção
de bens de que não se pode dispor livremente (em testamento). A essa porção de bens
chamamos “legítima”.

São herdeiros legitimários – e, portanto, com direito à legítima – o cônjuge (que não tenha
renunciado a essa qualidade), os descendentes (filhos, netos, etc) e os ascendentes (pais, avós,
etc), pela ordem prevista na lei
P. INVENTÁRIO

A legítima, a porção de bens de que não se pode dispor (em testamento), é variável consoante os
herdeiros legitimários que existam.

Assim, se ao falecido apenas sobreviver o cônjuge e não existam descendentes (filhos, netos) ou
ascendentes (pais, avós) a legítima é de metade da herança. EX
Se, porém, sobreviverem filhos e cônjuge, a legítima já será de 2/3 da herança. EX
Se ao falecido não sobreviver o cônjuge, os herdeiros legitimários serão os seus descendentes e,
nesse caso, a legítima destes será de metade da herança (um filho) ou de dois terços (dois ou
mais filhos).

A legítima do cônjuge e dos ascendentes – a ter em conta, portanto, nos casos em que não
existem descendentes – é de 2/3 da herança.
Enfim, caso não sobrevivam cônjuge ou descendentes, os ascendentes serão os únicos herdeiros
legitimários. Nesse caso, a sua legítima será de metade ou de 1/3 da herança, consoante se trate
dos pais ou avós/bisavós/etc.
PROCESSO DE INVENTÁRIO
QUEM É HERDEIRO?
É também o meio adequado para
reconhecer uma dívida,
substituir um testamento anterior,
perfilhar ou deserdar e nomear um tutor para um filho menor (substituto dos pais, caso
estes morram),
fixar legados
ou
indicar substitutos para os herdeiros, caso estes não possam ou não queiram aceitar a
herança
PROCESSO DE INVENTÁRIO
QUEM É HERDEIRO?
O mais comum é não haver testamento e os bens serem divididos pelos herdeiros
definidos pela lei, por esta ordem: cônjuge e descendentes, cônjuge e ascendentes,
irmãos e seus descendentes, outros parentes na linha colateral até ao 4.º grau e o
Estado.

Dentro de cada classe, os parentes mais próximos têm prioridade. Ou seja, os pais
excluem os avós; os filhos afastam os netos e os parentes de 3.º grau impedem os de 4.º
grau de receber algum bem. No entanto, se o falecido tinha vários filhos, no caso de um
deles já ter morrido, os netos que sejam seus filhos herdam a parte que seria do seu
progenitor. Se não sobreviver nenhum parente até ao 4.º grau da linha colateral (primo,
sobrinho-neto), a herança vai para o Estado
PROCESSO DE INVENTÁRIO
PROCESSO DE INVENTÁRIO
Para beneficiar outras pessoas, deverá fazer um testamento. Outra possibilidade é a
utilização de uma convenção antenupcial, que, como o nome indica, é feita antes do
casamento. Nesta, os futuros cônjuges também podem renunciar reciprocamente à
herança do outro. Mas pode não ser livre de distribuir os bens a seu bel-prazer. A lei
protege o cônjuge, os ascendentes e os descendentes (herdeiros legitimários),
garantindo-lhes uma quota do património. Trata-se da “quota indisponível” ou
“legítima”, parte da herança que foge à livre disposição do seu titular, e que varia
consoante os herdeiros.
PROCESSO DE INVENTÁRIO
Para calcular esta quota, há que ter em conta o valor dos bens na data do óbito e dos
doados, as despesas sujeitas a colação (correspondem às doações feitas em vida a
descendentes que sejam herdeiros – e somente a eles – sendo somadas ao quinhão da
pessoa em causa) e as dívidas da herança.

O capital proveniente de um seguro de vida é exceção a estas regras, pois qualquer


pessoa pode ser beneficiária. É até possível que esse capital ultrapasse o valor do
património deixado em herança.
PROCESSO DE INVENTÁRIO
Apurados todos os herdeiros, o cabeça-de-casal deve proceder à
habilitação de herdeiros num cartório notarial ou Balcão de Heranças, Espaço
Óbito ou Plataforma de Atendimento à Distância. Serve para identificar os
herdeiros do falecido sem a qual não é possível fazer a partilha da herança. Só quem
consta da habilitação de herdeiros tem direito a parte da herança.
P. INVENTÁRIO
Dívidas
Ninguém é obrigado a aceitar uma herança, mas, se a aceitar, tem de recebê-la por
inteiro, incluindo eventuais dívidas. Ainda assim, as dívidas do falecido só têm de
ser pagas até se esgotar o valor correspondente ao da herança, mas cabe ao herdeiro
provar que já não há mais bens para saldá-las. Por isso, poderá ser interessante
proceder a uma aceitação a benefício de inventário: só respondem pelas dívidas os
bens que constem do inventário.
P. INVENTÁRIO JUDICIAL
Assim, o processo de inventário passa a ter, no essencial, as seguintes fases processuais:
1. Fase dos articulados, com a relação de bens a partilhar e declaração de compromisso de
honra.
2. Oposição, impugnação e reclamação–artigo1104.º.
3. Despacho de saneamento, forma à partilha e agendamento da conferência de interessados–
artigo1110.º.
4. Conferência de interessados, em que os interessados conhecem a quota ideal que lhes cabe
na partilha, com as licitações na própria conferência, em caso de desacordo – artigo 1111.º A
avaliação dos bens só tem lugar na conferência de interessados e previamente à abertura das
licitações – artigo 1114.º. Licitações a ter lugar na conferência de interessados–artigo1113.º
5. Mapa de partilha e sentença homologatória–artigos 1120.ºa1122.º
P. INVENTÁRIO
Se, após o falecimento, um herdeiro passou a utilizar os bens do falecido como se
fossem seus ou a residir na casa dele, entende-se que aceitou a herança. Trata-se da
“aceitação tácita”. Mas esta também pode ser “expressa”, quando o beneficiário
declara por escrito que é essa a sua intenção. Para tal, basta enviar uma carta ao
cabeça-de-casal. Este direito de aceitar ou repudiar os bens caduca dez anos após
ter conhecimento de que é beneficiário da herança.
P. INVENTÁRIO
Já se o herdeiro quiser repudiar a herança, deve fazê-lo sempre por escrito e
seguindo as regras para a alienação da herança. Por outras palavras, se a herança
contiver bens imóveis, deve fazê-lo por escritura pública ou documento particular
autenticado. O cônjuge do herdeiro tem de dar o consentimento, exceto se forem
casados no regime de separação de bens. Do documento de repúdio deve constar se
tem ou não descendentes. Estes podem querer aceitar a herança. Se os descendentes
forem menores, os pais devem pedir autorização ao Ministério Público para repudiar.
Para os bens móveis, basta assinar um documento particular. Recusada a herança, o
quinhão vago será disputado pelos restantes herdeiros, privilegiando-se o “direito de
representação”. Se, por exemplo, o pai repudiou a herança do avô, o neto é chamado
a aceitá-l
P. INVENTÁRIO
Já se o herdeiro quiser repudiar a herança, deve fazê-lo sempre por escrito e
seguindo as regras para a alienação da herança. Por outras palavras, se a herança
contiver bens imóveis, deve fazê-lo por escritura pública ou documento particular
autenticado. O cônjuge do herdeiro tem de dar o consentimento, exceto se forem
casados no regime de separação de bens. Do documento de repúdio deve constar se
tem ou não descendentes. Estes podem querer aceitar a herança. Se os descendentes
forem menores, os pais devem pedir autorização ao Ministério Público para repudiar.
Para os bens móveis, basta assinar um documento particular. Recusada a herança, o
quinhão vago será disputado pelos restantes herdeiros, privilegiando-se o “direito de
representação”. Se, por exemplo, o pai repudiou a herança do avô, o neto é chamado
a aceitá-la
P. INVENTÁRIO
RELAÇÃO DE BENS NAS FINANÇAS
O cabeça-de-casal tem até ao final do terceiro mês após a morte do familiar para
participar a ocorrência ao serviço de Finanças
Deverá apresentar a certidão de óbito e os documentos de identificação da pessoa
falecida (cartão de cidadão ou bilhete de identidade e número de contribuinte), bem
como o cartão de cidadão (ou bilhete de identidade e número de contribuinte) do
cabeça-de-casal, assim como o nome completo e o número de contribuinte de cada
um dos herdeiros. Se existir um testamento ou uma escritura de doação, estes terão
de ser também apresentados. Simultaneamente, deve ser entregue o anexo 1, com
uma listagem dos bens do falecido (relação de bens) e o respetivo valor. Conforme
os bens da herança, poderá ser necessário apresentar outros documentos.
P. INVENTÁRIO
COMO FUNCIONA A PARTILHA DE BENS
A partilha dos bens pode ser pedida por qualquer herdeiro. Se houver acordo entre
todos, basta dirigirem-se a um cartório notarial ou ao Balcão de Heranças. Não
havendo acordo, não sendo possível contar com a participação de, pelo menos, um
dos herdeiros ou ainda em caso de incapacidade de um deles, procede-se ao
inventário dos bens, que pode avançar num cartório notarial ou num tribunal. É
necessário apresentar a certidão de óbito e a relação dos bens, bem como identificar
todos os herdeiros. Também quando existam herdeiros menores, é natural que o
Ministério Público, para salvaguarda dos interesses destes, requeira a abertura de
inventário
P. INVENTÁRIO
COMO SE PROCESSA O INVENTÁRIO?
Qualquer um dos interessados pode dar início ao processo de inventário. Aqueles,
por regra, são os herdeiros, mas também pode ser, por exemplo, um credor. Em
processos relativamente simples, nos quais haja “apenas” desacordo quanto à
distribuição dos bens ou seja necessário apurar o que constitui a herança, é
indiferente optar pelo notário ou pelo tribunal, até porque o processo é idêntico. A
decisão cabe a quem iniciar o processo. Mas só alguns notários prestam este serviço.
Ao contrário do que sucedia até 2020, não é imperativo dirigir-se a cartórios do local
onde ocorreu o falecimento: o processo pode desenvolver-se, por exemplo, na área
de residência da maioria dos interessados ou onde se encontre a maior parte dos bens
imóveis. Já o tribunal tem de ser o do local do óbito.
P. INVENTÁRIO
Quais as formalidades para iniciar o processo?
O requerimento inicial deve identificar o falecido e indicar a sua última residência, a data e o
lugar do óbito. Se for apresentado pelo cabeça-de-casal, este deverá apresentar provas de que
lhe está atribuída uma tal função – por exemplo, o facto de ser cônjuge ou filho mais velho –
e juntar um compromisso de honra do seu “fiel exercício”, com assinatura reconhecida.
O requerimento deve ainda ser acompanhado da lista de herdeiros – e de documentos a
comprovar que o são (por exemplo, certidões de nascimento) –, com indicação dos
respetivos cônjuges e dos regimes de bens dos casamentos. A certidão de óbito do
proprietário dos bens, eventuais escrituras de doação, testamentos e convenções antenupciais
que contenham disposições relacionadas com a sucessão também devem fazer parte do
processo. O mesmo acontece com a relação dos bens sujeitos a inventário, se existir, e
respetivos valores, dos créditos e das dívidas da herança. Estes devem ser descritos em
separado, com identificação dos devedores e dos credores.
P. INVENTÁRIO
Quais as formalidades para iniciar o processo?
Caso o requerente não seja o cabeça-de-casal, deve identificar quem tem essa
responsabilidade, além de preencher o requerimento, fornecer os dados do falecido e
acrescentar o máximo dos elementos já referidos. O processo é, depois, apreciado
pelo juiz ou pelo notário, que verifica eventuais falhas e solicita a respetiva correção.
P. INVENTÁRIO
Quais as formalidades para iniciar o processo?
Quando tudo estiver conforme, os interessados diretos na partilha da herança e, se
necessário, o Ministério Público são informados da abertura do processo. Quando o
requerimento não tenha sido entregue pelo cabeça-de-casal, este é informado de que,
no prazo de 30 dias, deve confirmar, corrigir ou completar os dados do processo. Se
não o puder fazer, tem de justificar e pode pedir a prorrogação do prazo.
P. INVENTÁRIO
Quando o acordo não é possível
Existem várias opções. Na conferência de interessados, pode iniciar-se um processo
de licitação dos bens entre os herdeiros. Cada um apresenta propostas (à semelhança
de um leilão) para o que lhe interessa, ganhando a oferta mais alta. Este é o valor que
entra nas contas: se a pessoa tiver direito a 5 mil euros e oferecer 7 mil por uma
propriedade, terá de devolver 2 mil à herança.
P. INVENTÁRIO
Se, ainda assim, a questão não ficar resolvida, passa-se ao sorteio. Finalizados os
procedimentos, os interessados são notificados para, no prazo de 20 dias,
apresentarem propostas de mapa de partilha, com a parte que cabe a cada um.
Havendo divergências entre os diversos mapas enviados, o juiz ou o notário acertam
as agulhas, de acordo com o que ficou decidido, e elabora-se o mapa definitivo. Os
interessados são informados, podendo ainda reclamar. Decididas todas as questões,
concretiza-se a partilha, através de uma sentença do tribunal, que, claro, pode ser
alvo de recurso. Se algum dos herdeiros pretender receber o que lhe cabe antes de
encerrado o processo de inventário, poderá ter de prestar uma caução.
P. INVENTÁRIO
E os bens doados?
Não é possível em vida procurar alterar as regras sucessórias, oferecendo, por
exemplo, bens a um dos filhos, de forma a beneficiá-lo em relação aos demais. A lei
obriga a que o montante correspondente a doações feitas a descendentes, e somente
a eles, seja somado ao quinhão da pessoa em causa (a chamada “colação”). Se o total
prejudicar a quota dos restantes herdeiros legitimários, poderá ser reduzido. Assim,
presume-se que o falecido pretendia apenas adiantar-lhe uma parte dos bens e não
beneficiá-lo em detrimento dos outros herdeiros.
P. INVENTÁRIO
FIM

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