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Sucessão em geral

A sucessão pode ser realizada inter vivos ou mortis causa (entre pessoas vivas ou em razão da
morte), sendo que suceder é transmitir algo a alguém. Por isso, o adquirente sucede o
alienante quando compra uma casa.

O direito das sucessões, porém, se preocupa apenas com a segunda hipótese. Trata-se da
sucessão que se inicia com um evento muito específico, futuro, certo quanto à ocorrência, mas
incerto quanto ao momento: a morte.

Atente, pois só podemos falar em algum efeito sobre a herança após a mortes do de cujus. A
morte depende de comprovação, que se dá, em regra, com o atestado de óbito, ou,
excepcionalmente, com a presunção de morte ou a ausência.

A abertura da sucessão, pela regra da saisine, se dá com a morte. Ou seja, abertura da


sucessão é um sinônimo de morte; morreu, abriu a sucessão. Se alguém morre em
08/08/2008, a sucessão se abre precisamente nessa data. Ou seja, não importa quando os
familiares farão o inventário; importa a data da morte!

No caso de ausência, a saisine se aplica apenas quando houver a abertura da sucessão


definitiva, momento no qual se presume a morte do ausente. Já no caso da presunção de
morte direta, a saisine se aplica no momento no qual faz a presunção, judicialmente.

O foro competente para os procedimentos que envolvem a transmissão patrimonial é, então,


o do último domicílio do falecido. Se o falecido não tinha domicílio será aberto um foro para se
determinar a situação dos bens.

A herança será transmitida aos herdeiros legítimos, se não houver testamento, ou se for
caduco ou nulo. Porém, o art. 1.789 do Código Civil estabelece que se houver herdeiros
necessários – forçados ou reservatórios –, o testador só poderá dispor da metade da herança.

Herança e administração

A herança é uma massa patrimonial, que compreende direitos e obrigações do defunto e se


transmite aos seus sucessores. Ela é considerada bem indivisível e imóvel. O inventário é o
procedimento pelo qual se transmite a herança, sendo que deve ser iniciado em 2 meses,
contados da abertura da sucessão.
Pelo princípio da saisine, a herança se transmite automaticamente aos herdeiros, mas, como
ela é indivisível, quem a administra? O CC/02 estabelece que, até o compromisso do
inventariante, a administração da herança caberá, em ordem, sucessivamente:

1- Ao cônjuge ou companheiro;
2- Ao herdeiro que estiver na posse e administração dos bens, e, se houver mais de um
nessas condições, ao mais velho;
3- Ao testamenteiro;
4- A pessoa de confiança do juiz, na falta ou escusa das indicadas nos incisos
antecedentes, ou quando tiverem de ser afastadas por motivo grave levado ao
conhecimento do juiz.

Vocação hereditária

Quem pode, legitimamente, suceder outrem? Há os herdeiros necessários (descendentes,


ascendentes, cônjuge e companheiro) e os herdeiros facultativos (colaterais até o quatro
grau).

Mas somente eles são considerados sucessíveis? Não. É possível estabelecer a sucessão a
outras pessoas, que não as contempladas acima. O Código Civil, passa, então, a regular quem
pode suceder.

São sucessores, também:

1- As pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura da sucessão;


2- Os filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas
estas ao abrir-se a sucessão;
3- As pessoas jurídicas;
4- As pessoas jurídicas, cuja organização for determinada pelo testador sob forma de
fundação;

Existem, também, as pessoas que não podem ser nomeadas herdeiras nem legatárias. Se,
mesmo com a proibição, forem nomeadas, são nulas as disposições testamentárias em favor
de pessoas não legitimadas a suceder. São ilegítimos a suceder:

1- A pessoa que, a rogo, escreveu o testamento, nem o seu cônjuge ou companheiro,


ou os seus ascendentes e irmãos;
2- As testemunhas do testamento;
3- O concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa sua, estiver separado de
fato do cônjuge há mais de 5 anos;
4- O tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão, perante quem se fizer,
assim como o que fizer ou aprovar o testamento.

Aceitação e renúncia da herança

Abre-se a sucessão e os herdeiros, então, têm duas escolhas: aceitar ou renunciar à herança,
sendo que nenhuma das duas podem ser feitas parcialmente ou a termo, mas, sim,
integralmente. Se aceitar, torna-se definitiva a transmissão da herança ao herdeiro, desde a
abertura da sucessão. Se renunciar, a transmissão tem-se por não verificada.

Tanto a aceitação quanto a renúncia da herança são atos irrevogáveis. Se o herdeiro falecer,
renunciando à herança, seus descendentes não terão direito à herança do avô, mesmo que a
quisessem à época do falecimento do avô e mesmo tendo protestado com o pai, já que a
renúncia é ato personalíssimo. Por isso, ninguém pode suceder, representando herdeiro
renunciante. Se, porém, ele for o único legítimo da sua classe, ou se todos os outros da mesma
classe renunciarem a herança, poderão os filhos vir à sucessão, por direito próprio, e por
cabeça.

A renúncia da herança, por sua vez, deve constar expressamente de instrumento público ou
termo judicial, não podendo ser feita por instrumento particular ou verbalmente. Como se
considera a herança um bem imóvel, se o herdeiro for casado, precisa ele de autorização do
cônjuge para renunciar, salvo se for casado no regime da separação de bens

Renunciando, a parte do renunciante acresce à dos outros herdeiros da mesma classe e, sendo
ele o único desta, devolve-se aos da subsequente. Exemplo: Se seu pai morre e você renuncia
à herança, vai ela aos seus irmãos. Se você não tem irmãos (herdeiro único desta classe,
portanto), passa-se à próxima classe. Qual é a próxima classe? Os ascendentes. Falecido seu
pai, e renunciando você à herança, seus avós herdariam. E se você tem filhos? Quando há um
único herdeiro numa classe e ele renunciar ou se todos os outros da mesma classe
renunciarem à herança, podem os filhos deles vir à sucessão, por direito próprio, e por cabeça.
Assim, se você é filho único e renuncia à herança, seus dois filhos herdam, por cabeça, metade
cada um.

Exclusão da sucessão
Temos duas formas de excluir um sucessor da transmissão mortis causa. De um lado, há a
exclusão da herança por declaração de indignidade de herdeiros e legatários, que sempre
depende de decisão judicial. De outro, existe a deserdação, aplicável somente aos herdeiros
necessários, a partir do testamento.

Haverá a exclusão, por indignidade, do herdeiro ou legatário nos casos previstos em lei. A
indignidade, porém, dependerá sempre de decisão judicial declaratória. Quando isso ocorrerá?

1- Houverem sido autores, coautores ou participes de homicídio doloso, ou tentativa,


contra a pessoa de cuja sucessão se tratar, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou
descendente;
2- Houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da herança ou incorrerem em
crime contra a sua honra, ou de seu cônjuge ou companheiro.
3- Por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou obstarem o autor da herança de
dispor livremente de seus bens por ato de última vontade.

Obs.1: Haverá a exclusão, por indignidade, do herdeiro ou legatário nos casos previstos em lei.
A indignidade, porém, dependerá sempre de decisão judicial declaratória. Quanto isso
ocorrerá?

Obs.2: Os efeitos da exclusão são pessoais, preservando os direitos dos herdeiros do herdeiro
excluído. Assim, os descendentes do herdeiro excluído sucedem, como se ele morto fosse
antes da abertura da sucessão. Se os netos do falecido são menores, não poderá o pai ser o
curador, como normalmente ocorre, nem poderá perceber aluguéis do imóvel do falecido ou
receber tais valores, caso os netos do falecido morram durante o inventário.

A Deserdação ocorre quando o testador por algum motivo priva um herdeiro necessário de
seus bens, inclusive de suas legítimas (parte da herança que cabe ao herdeiro), por meio de
cláusula testamentária. Autorizam a deserdação dos descendentes por seus ascendentes:

1- Ofensa física;
2- Injuria grave;
3- Relações ilícitas com a madrasta ou com o padrasto;
4- Desamparo do ascendente em alienação mental ou grave enfermidade;
5- Homicídio doloso, consumado ou tentado, contra o ascendente, seu
cônjuge/companheiro, ascendente ou descendente;
6- Acusação caluniosa em juízo contra o falecido ou se cometer crime contra a honra do
morto ou de seu cônjuge/companheiro;
7- Impedimento ao autor da herança de dispor livremente de seus bens por testamento,
mediante violência ou meios fraudulentos.

Herança jacente

O que acontece se a pessoa morre sem deixar testamento e sem deixar herdeiros legítimos ou
notórios? Ou se, tendo herdeiros, eles renunciam à herança? Essa é a chamada herança
jacente, a herança sem dono.

Os bens da herança, depois de arrecadados, ficarão sob a guarda e administração de um


curador, até a sua entrega ao sucessor devidamente habilitado ou à declaração de sua
vacância. Para buscar eventuais herdeiros, mesmo depois da arrecadação e da finalização do
inventário, são expedidos editais e, decorrido um ano de sua primeira publicação, sem que
haja herdeiro habilitado, será a herança declarada vacante, ou seja, vazia.

Assim, herança vacante não se confunde com herança jacente. Jacente é a herança sem dono;
vacante é a herança jacente cuja sucessão hereditária não foi possível, e os bens, vagos, vão ao
domínio do Estado. 2 A herança vacante tem de ter sido, em regra, anteriormente jacente,
mas a herança jacente pode não se transformar em vacante.

Obs.1: o Código Civil estabelece que quando todos os chamados a suceder renunciarem à
herança, será esta desde logo declarada vacante. Nesse caso, a jacância e a vacância ocorrem
no mesmo momento, no mesmo ato.

Obs.2: Obviamente, se o morto possuía dívidas, os credores têm o direito de pedir o


pagamento das dívidas reconhecidas, nos limites das forças da herança, seja mediante ação de
cobrança, seja habilitando-se no inventário. Lembre-se de que os herdeiros (sejam necessários,
sejam colaterais), ou o Estado (na herança jacente), respondem sempre pelas dívidas do
morto, ou seja, herdam-se dívidas!

Obs.3: Sem herdeiros habilitados – necessários ou colaterais – e decretada a vacância,


decorridos 5 anos da abertura da sucessão, os bens arrecadados passarão ao domínio do
Município/DF ou União. No entanto, atente, pois mesmo depois da vacância os herdeiros
necessários podem, nesse prazo de 5 anos, ainda requerer a herança, via petição de herança,
mas não os colaterais. Ou seja, os parentes colaterais, herdeiros facultativos, declarada a
vacância, perdem o direito hereditário.

Sucessão legítima
A sucessão legítima ocorre por classes, ou seja, há uma ordem legal daqueles que serão
chamados a receber e não será chamada a classe seguinte, se houver herdeiro da classe
anterior. São chamados, nessa ordem:

• Os descendentes, em concorrência com o companheiro ou cônjuge sobrevivente, a não ser


que esse tenha se casado com o falecido no regime de comunhão universal, separação
obrigatória de bens ou, se por comunhão parcial, o falecido não deixou bens particulares;

• Os ascendentes, em concorrência com o cônjuge/companheiro;

• Os colaterais.

Obs.: o cônjuge ou companheiro concorre com os ascendentes em qualquer caso, mas com os
descendentes, será preciso analisar o regime de bens de casamento. Trata-se de opção
legislativa.

Regimes em que o cônjuge ou companheiro herda em concorrência com os descendentes:


•Comunhão parcial de bens, concorre apenas quanto aos bens particulares deixados pelo
falecido
•Separação convencional de bens
•Participação final nos aquestos
Regimes em que o cônjuge ou companheiro não herda em concorrência com os
descendentes:
•Comunhão parcial de bens, se o falecido não deixou bens particulares
•Comunhão universal de bens
•Separação legal/obrigatória de bens
O cônjuge sobrevivente que não estava separado judicialmente ou de fato há mais de dois
anos terá seu direito sucessório reconhecido. Se a separação de fato ocorreu há mais de dois
anos, porque a convivência se tornou impossível sem culpa do cônjuge sobrevivente, ele
também terá direito sucessório. O cônjuge sobrevivente será assegurado também direito real
de habitação do imóvel da família, se for o único bem imóvel dessa natureza na herança.

Quando o cônjuge concorre com os descendentes, iremos ter duas situações:

• Cônjuge concorre com descendentes que também são seus (ex.: seus filhos, netos): o
cônjuge deve receber, pelo menos, ¼ da herança e o restante é dividido entre os
descendentes;
• Cônjuge concorre com descendentes exclusivos do falecido (ex.: filhos apenas do falecido):
todos recebem quinhões iguais.
E na sucessão híbrida, aquela em que o cônjuge concorre com filhos comuns (dele e do
falecido) e exclusivos do falecido? A questão ainda é polêmica! A corrente majoritária manda
prestigiar os filhos, dividindo os quinhões em partes iguais entre todos (sem essa reserva de ¼,
portanto).

No caso de concorrência entre ascendentes e cônjuges, independentemente o regime de bens


do casamento, temos o seguinte:

• Na concorrência entre cônjuge/companheiro e ascendente em primeiro grau (pai e mãe), o


cônjuge tem direito a 1/3 da herança;

• Na concorrência entre cônjuge/companheiro e ascendente de outro grau (como avós), o


cônjuge tem direito à metade da herança.

No caso de ausência de ascendentes e descendentes, ao cônjuge/companheiro se dará a


sucessão por inteiro, independentemente do regime de bens do casamento.

DA SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA

Pelo testamento, o testador exerce sua autonomia privada, manifestando suas últimas
vontades. Trata-se de negócio jurídico unilateral, gratuito, formal e causa mortis.

O testador deve ser pessoa capaz e o testamento não pode atingir a legítima dos herdeiros
necessários (que corresponde à metade do patrimônio do testador). Ademais, o testamento
pode conter disposições de caráter não patrimonial, como a criação de uma fundação.

O testamento é um ato personalíssimo e pode ser alterado (revogado) a qualquer momento.


Se o testador reconhece filhos em seu testamento, entretanto, essa cláusula é irrevogável.

Os absolutamente incapazes (menores de 16), os relativamente incapazes e os que não


tiverem discernimento pleno não podem testar. O maior de 16 anos que, embora
relativamente incapaz, pode testar. Da mesma forma, o pródigo pode testar, uma vez que ele
está impedido de praticar atos de disposição patrimonial em vida apenas.

Obs.: A lei fixa o prazo decadencial de 5 anos para impugnação da validade do testamento,
contado de seu registro.

DAS ESPÉCIES DE TESTAMENTO

A lei proíbe o testamento comum/conjuntivo, que é o celebrado por mais de uma pessoa em
um só instrumento, ainda que seja: (i) simultâneo, beneficiando os testadores uma terceira
pessoa; (ii) recíproco, beneficiando os testadores uns aos outros; (iii) correspectivo,
beneficiando os testadores uns aos outros na mesma proporção.
Ademais, confira os tipos de testamentos ordinários, que passaremos a estudar:

I - o público; O testamento público é o lavrado perante Tabelião de Notas ou seu substituto e,


por isso, é o mais seguro. Os cegos, a propósito, só podem fazer o testamento público.

II - o cerrado; O testamento cerrado ou místico é assim chamado porque seu conteúdo


permanece em segredo até a morte do testador. Essa modalidade pode ser feita em língua
nacional ou estrangeira, pelo testador ou por outra pessoa, a seu pedido. Ademais, apenas
quem saiba ler pode fazer o testamento cerrado, como o surdo-mudo que saiba ler.

III - o particular; O testamento particular, por sua vez, pode ser escrito de próprio punho ou
por processo mecânico. Se escrito de próprio punho, deve ser lido e assinado por quem o
escreveu, na presença de 3 testemunhas, sob pena de ser inválido. Poderá ser feito em língua
estrangeira, se as testemunhas a compreenderem. Excepcionalmente, o testamento particular
poderá ser feito de próprio punho e assinado pelo testador, mas sem a presença de
testemunhas e será confirmado, a critério do juiz. Ex.: se o testador está internado em UTI.

O CC previu ainda 3 tipos de testamentos especiais: o marítimo; o aeronáutico; e o militar.

O testamento marítimo ou aeronáutico é feito por aquele que está em viagem, a bordo de
navio ou aeronave. Importa notar que ele pode caducar (ficar sem validade), se o testador não
morrer na viagem, nem em 90 dias de seu desembarque, caso em que poderia testar de forma
ordinária. Ademais, também não valerá o testamento marítimo se, no curso da viagem, era
possível desembarcar e fazer o testamento ordinário. O testamento militar é o feito por militar
ou por outras pessoas que também estão a serviço das Forças Armadas em campanha, dentro
ou fora do país, bem como em praça sitiada ou com comunicações interrompidas. Pode ser
aberto ou cerrado. O testamento militar caduca se o testador ficar 90 dias seguidos em local
em que possa testar de forma ordinária.

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