Você está na página 1de 5

DIREITO DAS SUCESSÕES

NOTA DE AULA 3

Prof.ª MS: CAROLINA VASQUES SAMPAIO

VOCAÇÃO HEREDITÁRIA

Todo ser humano tem capacidade de direito, pelo fato de que a personalidade jurídica é
um atributo inerente à sua condição.

Quando podem atuar pessoalmente para a prática dos atos da vida civil, possuem,
também, capacidade de fato ou exercício.

Reunidos os dois atributos, fala-se em capacidade civil plena.

Ocorre que nem toda pessoa capaz possui legitimidade para a prática de determinado ato
jurídico.

A legitimação se traduz uma capacidade específica.

Logo, a legitimação consiste em averiguar se uma pessoa, perante determinada situação


jurídica, tem ou não capacidade para estabelece-la. É uma forma específica de capacidade
para determinados atos da vida civil.

No âmbito do direito sucessório, para se inserir na relação jurídica hereditária, o sujeito


deve ter legitimidade sucessória passiva para receber a herança.

Nem é toda pessoa, pois, que pode ser chamada a suceder.

Testamenti factio passiva – legitimidade ou capacidade específica para ser herdeiro.

Testamenti factio ativa – legitimidade ou capacidade específica para elaborar o


testamento.

O artigo 1798 do CC traz a regra geral: aplicável tanto para a sucessão legítima como
testamentária. Quem tem legitimidade para suceder? As pessoas nascidas ou já
concebidas na abertura da sucessão – ao tempo da morte do autor da herança, para receber
parte ou todo o patrimônio deixado pelo falecido.

Obs: hipóteses de legitimidade especial no caso de sucessão testamentária:

1. Filhos ainda não concebidos de pessoa indicada pelo testador (prole


eventual).

Artigo 1799, I, CC.

O autor da herança, no testamento, pode beneficiar filho ainda não concebido de pessoa
indicada pelo testador.

Nascituro é diferente de prole eventual.

O nascituro pode se beneficiar da herança, mas é ente já concebido, mas não nascido e
com vida ultrauterina.

A prole eventual é no caso daqueles que nem foram concebidos ainda.

Nesse caso, poderão ter especial legitimidade sucessória, se, por meio de testamento, o
autor da herança indica-los como beneficiários e desde que seu genitor esteja vivo ao
tempo da morte do autor da herança.

Com o seu nascimento, o direito sucessório se consolida, cabendo, logicamente, ao seu


representante legal, o encargo de gerir o interesse do incapaz até que atinja a capacidade
civil plena, momento em que poderá pessoalmente assumir a administração do seu
próprio patrimônio.

E se a prole eventual não for concebida? Artigo 1800 CC, §4 º.

Se decorridos dois anos após a abertura da sucessão, não for concebido o herdeiro
esperado, os bens reservados, salvo disposição contrária do testador, caberão aos
herdeiros legítimos.

O herdeiro esperado não precisa ter nascido no prazo de dois anos, mas sim, apenas, ter
sido concebido.

Após o seu nascimento com vida, consolidará o seu direito, herdando os bens reservados.

Não vindo a nascer vivo (natimorto), a hipótese é de entrega dos bens ao monte
partilhável.
Diferente também é o caso de nascer com vida e depois falecer, nesse caso, consolidará
os direitos sucessórios, transmitindo-os aos seus próprios sucessores.

A prole eventual pode derivar de outro vínculo que não seja o biológico? Por exemplo
adoção ou socioafetividade?

Se o testador, deixar a herança ou legado à prole eventual de terceira pessoa,


especificamente vedar a possibilidade da adoção, sua vontade deve ser respeitada, por
força da autonomia existencial. Porém, sendo omisso, em respeito ao princípio da
igualdade entre os filhos, será possível.

Ou seja, o testador deve expressamente querer excluir os filhos que não forem biológicos.

Como fica a legitimidade sucessória do embrião?

O que fazer diante das situações decorrentes de inseminação artificial homóloga ou


heteróloga realizada após o falecimento do autor da herança?

Se for no prazo de dois anos, não há dúvida de que o embrião concebido em laboratório
e posteriormente implantado no útero materno terá o direito sucessório.

Mas caso seja após o prazo de dois anos, a criança será filha do falecido, que autorizou
previamente a fecundação, mas não poderá ser considerada herdeira, pois a concepção se
deu fora do prazo.

O embrião preservado em laboratório, concebido antes da morte do testador ou durante o


prazo de dois anos, a contar da abertura da sucessão, não foi implantando no útero
materno, poderá ser beneficiado pela deixa testamentária?

Ele foi concebido, mas não foi implantado.

Duas correntes:

 Não seria possível em razão da segurança jurídica.


 Seria possível apenas para sucessão testamentária.

Não há entendimento pacificado ainda.

2. Pessoas jurídicas

Também tem legitimidade para figurar como beneficiárias de testamento as pessoas


jurídicas em geral.
Nada impede que o testador deixe parte de sua herança ou toda dela, caso não tenha
herdeiros necessários, para uma associação de apoio a crianças carentes ou para uma
igreja.

Obs: sociedades irregulares ou de fato não tem atributo para figurarem na sucessão
testamentária, assim também como os entes despersonalizados, mas que possuem
capacidade processual.

Fundações:

Resultam da afetação de um patrimônio por testamento ou escritura pública, que faz o seu
instituidor, especificando o fim para o qual se destina.

A fundação nada mais é do que uma massa patrimonial a que se outorga personalidade
jurídica.

Escolhidos os bens para a formação da fundação, já pode ser instituída por testamento ou
escritura pública.

Existem duas formas de instituir uma fundação: direta (quando o próprio instituidor o faz,
pessoalmente, inclusive cuidando da elaboração do estatuto) ou fiduciária (quando
terceiro é responsável pela organização da entidade).

Se o estatuto não for elaborado no prazo pelo instituidor, ou não havendo prazo, em 180
dias, caberá ao MP.

Os dirigentes de fundações podem ser remunerados.

Quem aprova os estatutos das fundações é o órgão do MP com recurso ao juiz competente
caso haja divergência.

O interessado deverá submeter o estatuto ao MP que verificará se foram observadas as


regras para a fundação e se os bens são suficientes para o que ela se destina. Não havendo
impedimento, o MP aprovará o Estatuto.

A fundação só será constituída com a inscrição dos seus atos constitutivos no Cartório de
Registro Civil das Pessoas Jurídicas.

Obs: a Fundação não apenas é beneficiada pela dotação patrimonial prevista no


testamento, mas, também, pode ser criada ou constituída pelo mesmo ato de disposição
de ultima vontade.
Ou seja, a fundação já pode existir e ser beneficiada pelo testamento ou ela pode ser criada
via testamento que afeta bens para sua constituição e funcionamento.

Quem está impedido de suceder:

O artigo 1801 trata das hipóteses de algumas pessoas que estão impedidas de serem
nomeadas herdeiras ou legatárias, ou seja, não possuem legitimidade sucessória passiva.

 A pessoa que escreveu, digitou ou datilografou o testamento a pedido do testador


nem o seu cônjuge, companheiro, ascendente e irmão. O autor da herança, não
pode, por exemplo, deixar parte da sua herança para a sua enfermeira que
escreveu, a seu rogo, o testamento, nem ao filho e ao marido dela.
 As testemunhas do testamento
 O concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa sua, estiver separado de
fato do cônjuge há mais de 5 anos.
 O tabelião civil ou militar, ou o comandante ou escrivão, perante quem se fizer,
assim como o que fizer ou aprovar o testamento

Se uma dessas pessoas for beneficiada em testamento, haverá nulidade absoluta da


disposição testamentária.

Vocação hereditária de animais e coisas:

Não é permitido no Brasil.

Semoventes e coisas não tem personalidade jurídica, muito menos, vocação hereditária.

O que se pode fazer é o estabelecimento de ônus para determinados herdeiros em


disposições testamentárias, para que se realizem o encargo, por exemplo, de cuidar de
determinado animal, enquanto ele viver.

Você também pode gostar