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DIREITO CIVIL – PARTE GERAL

DAS PESSOAS instituto da curatela tem por destino a proteção de pessoas, e


TÍTULO I não de coisas.
DAS PESSOAS NATURAIS O nascituro possui inclusive capacidade sucessória.
CAPÍTULO I Capacidade de fato. Pessoas absolutamente incapazes
DA PERSONALIDADE E DA CAPACIDADE Art. 3o São absolutamente incapazes de exercer
Noção de pessoa. Personalidade. Capacidade de direito pessoalmente os atos da vida civil:
Art. 1o Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem I - os menores de dezesseis anos;
civil. II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não
Diferenças entre pessoa jurídica e natural: tiverem o necessário discernimento para a prática desses
• Na pessoa natural a personalidade é uma realidade de atos;
direito que não pode desconhecer, enquanto que na pessoa III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem
jurídica a personalidade é fruto de uma criação do exprimir sua vontade.
ordenamento jurídico em atendimento a determinadas Possuem a plena capacidade de fato os maiores de
realidades sociais e necessidades econômicas. dezoito anos, mas também é possível antes dos dezoito,
• A pessoa natural tem existência independentemente através da emancipação, que será vista mais adiante.
de norma, enquanto que a pessoa jurídica necessita de A regra é a capacidade de fato, a exceção é a
previsão legal para ter existência. incapacidade.
• A pessoa física possui existência independente de A diferença que se dá entre a incapacidade absoluta
registro pois sua personalidade inicia-se desde o nascimento do artigo 3º e a incapacidade relativa do artigo 4º é
ou desde a concepção, conforme a corrente doutrinária quantitativa e não qualitativa.
adotada, enquanto que a pessoa jurídica tem existência legal A incapacidade é criada com a finalidade de proteger
após o seu registro. as pessoas que se encontrem nas hipóteses previstas na lei de
Capacidade de direitos é aptidão para ser titular de direitos e incapacidade. O nosso direito criou o sistema protetivo da
obrigações, todo ser humano a possui. incapacidade.
Capacidade de fato é a aptidão de praticar pessoalmente os O artigo 104 I exige para a validade do ato que o
atos da vida civil, nem todas a pessoas possuem. agente seja capaz e como conseqüência o artigo 166 I taxa de
Legitimação é a faculdade que alguém possui em relação a nulo o negócio jurídico praticado pelo absolutamente incapaz.
determinados bens. Capacidade de Direito. Suprimento da incapacidade
Início da personalidade. Os direitos do nascituro de fato → O ordenamento jurídico cria um sistema para que
Art. 2o A personalidade civil da pessoa começa do nascimento ele possa atuar no mundo jurídico, esse sistema consiste em
com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos atribuir a alguém, com capacidade plena de agir, a prática de
do nascituro. atos que não podem validamente, ser praticados pelo incapaz.
O nascimento se dá quando ocorre a separação do A isso se denomina representação.
feto do ventre materno é o início da vida extra-uterina, A incapacidade dos menores de dezesseis anos
geralmente coincidindo, segundo a medicina legal e a maioria reflete-se na sua capacidade negocial, sendo certo que possui
da doutrina, com o início da respiração pulmonar. uma certa autonomia para agir. Apesar de se considerar nulo
Este artigo não diz que é nascimento com vida, nos os atos praticados pelo menor de 16, não se anula
envia, portanto, a noção técnica de nascimento com vida que é completamente seu poder de agir em seu interesse, como
o início da respiração pulmonar. decorrência da sua própria personalidade, bem como na
O momento da aquisição da capacidade de direitos ou prática de atos de pequeno valor. Nos temos como se fosse
da capacidade jurídica, ou ainda, da personalidade coincide uma autorização implícita de seus representantes para
com o momento da capacidade respiratória. celebrar contratos de compra e venda de produtos de pequeno
O Novo Código afirma que a personalidade do ser valor em seu favor.
humano começa do nascimento com vida, a corrente mais
tradicional diz que a personalidade começa desde a concepção. Absolutamente incapaz e responsabilidade civil → A
Se nos não reconhecermos personalidade ao nascituro, como incapacidade do menor de dezesseis anos não o exime em tese
pressuposto da capacidade de direito, como afirmar que ele de responder pelos danos causados. O código estabelece uma
possui direitos que devem ser postos a salvo pela lei? Até responsabilidade subsidiaria, artigo 928:
porque somente as pessoas podem ser titulares de direitos, Art. 928. O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se
jamais coisas, animais... as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de
O nascituro pode ser reconhecido, estabelecendo-se, fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes.
assim, uma relação jurídica de filiação. Parágrafo único. A indenização prevista neste artigo, que
Art. 1.779. Dar-se-á curador ao nascituro, se o pai falecer deverá ser eqüitativa, não terá lugar se privar do necessário o
estando grávida a mulher, e não tendo o poder familiar. O incapaz ou as pessoas que dele dependem.

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O atual sistema é diferente do sistema do Código desenvolvimento mental completo, deverá ser enquadrado no
passado, neste somente os menores relativamente incapazes inciso IV do artigo 4º.
respondiam pelos atos ilícitos em que fossem culpados. Causa não definitiva, mas duradoura → É necessário
Absolutamente incapazes, Prescrição → Artigos que apesar de não diagnosticada como definitiva, a causa que
correspondentes: provoque a impossibilidade de manifestação de vontade
Art. 198. Também não corre a prescrição: apresente um caráter duradouro, evidentemente, cessada
I - contra os incapazes de que trata o art. 3o; esta causa, cessa também a incapacidade, com o levantamento
Art. 206. Prescreve: da interdição decretada.
§ 2o Em dois anos, a pretensão para haver prestações As pessoas designadas nos incisos II e III deste
alimentares, a partir da data em que se vencerem. artigo estão sujeitas a curatela. Os legitimados para requerer
Pela regra do artigo 198, mesmo no caso do artigo a interdição estão no artigo 1768 e 1769:
206 §2º a prescrição não corre. Art. 1.768. A interdição deve ser promovida:
Absolutamente incapazes, mútuo → I - pelos pais ou tutores;
Art. 588. O mútuo feito a pessoa menor, sem prévia II - pelo cônjuge, ou por qualquer parente;
autorização daquele sob cuja guarda estiver, não pode ser III - pelo Ministério Público.
reavido nem do mutuário, nem de seus fiadores. Art. 1.769. O Ministério Público só promoverá interdição:
Art. 589. Cessa a disposição do artigo antecedente: I - em caso de doença mental grave;
I - se a pessoa, de cuja autorização necessitava o mutuário II - se não existir ou não promover a interdição alguma das
para contrair o empréstimo, o ratificar posteriormente; pessoas designadas nos incisos I e II do artigo antecedente;
II - se o menor, estando ausente essa pessoa, se viu obrigado III - se, existindo, forem incapazes as pessoas mencionadas
a contrair o empréstimo para os seus alimentos habituais; no inciso antecedente.
III - se o menor tiver bens ganhos com o seu trabalho. Mas, É necessário que haja uma ação para ocorrer a
em tal caso, a execução do credor não lhes poderá ultrapassar interdição, o requerimento de levantamento da interdição
as forças; deverá ser formulado perante o mesmo juízo onde ocorreu a
IV - se o empréstimo reverteu em benefício do menor; interdição, fazendo-se a prova de que não mais subsiste a
V - se o menor obteve o empréstimo maliciosamente. causa determinante da interdição, a doença. Este pedido
Absolutamente Incapazes, contrato de jogo ou aposta poderá ser feito pelo próprio interditado e será apensado aos
– O nosso Código reconhece o contrato de jogo ou aposta, mas autos. Se o juiz conceder o levantamento da interdição, o
prevê que as dívidas ou apostas não obrigam o pagamento, mesmo deverá ser averbado no Registro Civil de Pessoas
entretanto, não se pode recobrar a quantia que Naturais.
voluntariamente se pagou, salvo se foi ganha por dolo ou se o Capacidade de fato. Pessoas relativamente incapazes
perdente é menor ou interdito, artigo 814. É uma exceção ao Art. 4o São incapazes, relativamente a certos atos, ou à
princípio de que as obrigações naturais, quando pagas, não maneira de os exercer:
admitem devolução. I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;
Absolutamente incapazes, obrigação anulada → Art. II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por
181. Ninguém pode reclamar o que, por uma obrigação anulada, deficiência mental, tenham o discernimento reduzido;
pagou a um incapaz, se não provar que reverteu em proveito III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo;
dele a importância paga. IV - os pródigos.
Absolutamente incapazes, partilha → Art. 2.016. Será Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por
sempre judicial a partilha, se os herdeiros divergirem, assim legislação especial.
como se algum deles for incapaz. Incapacidade do Inciso I – Idade → O Leoni é da
O maior de dezoito anos só será considerado incapaz opinião que o NCC tivesse considerado como relativamente
em havendo sentença que o declare. incapazes os menores entre 12 e 18 anos, como fez no ECA.
No caso dos absolutamente incapazes do artigo 3º, As compras e vendas de pequeno valor, efetuados
II, não basta a simples existência de doença ou deficiência pelo relativamente incapaz, presumem-se autorizadas pelos
mental, é necessário que alem disso fique demonstrado que seus representantes legais. O nosso ordenamento estabelece
tais estados patológicos determinem a falta do necessário atos jurídicos especiais que podem ser praticados pelos
discernimento para a prática de atos da vida civil. Com isso é menores relativamente incapazes:
possível que uma pessoa seja portadora de enfermidade • Podem ser mandatários, mas o mandante não tem ação
mental, ou de alguma espécie de retardamento mental e não contra ele senão de conformidade com as regras gerais,
venha a ser considerada absolutamente incapaz, pois apesar aplicáveis as obrigações contraídas pelos menores, artigo 666.
disso ainda possui o necessário discernimento para a prática • Podem testar, artigo 1960, p.único.
de atos da vida civil. • Podem ser testemunha, artigo 228, I.
No inciso III do artigo 3º se enquadram os surdos e • Podem casar com dezesseis anos desde que tenham o
mudos, se entretanto este simplesmente não possui o consentimento dos pais, artigo 1517.

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• Podem celebrar contrato de trabalho. • Prodigalidade.


• Podem comerciar. • Existência dos legitimados enumerados no artigo
• Podem votar. 1.768.
Capacidade extranegocial e responsabilidade civil → A • Declaração da incapacidade por sentença.
incapacidade do menor de dezesseis anos não o exime em tese Embora a lei não nos de um conceito de prodigalidade,
de responder pelos danos causados. O código estabelece uma podemos afirmar que ela pressupõe uma conduta, e não um
responsabilidade subsidiaria, artigo 928: simples ato isolado. Legitimados para requerer a interdição
Art. 928. O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se por prodigalidade:
as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de Art. 1.768. A interdição deve ser promovida:
fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes. I - pelos pais ou tutores;
Parágrafo único. A indenização prevista neste artigo, que II - pelo cônjuge, ou por qualquer parente;
deverá ser eqüitativa, não terá lugar se privar do necessário oIII - pelo Ministério Público.
incapaz ou as pessoas que dele dependem. Art. 1.769. O Ministério Público só promoverá interdição:
Conflito entre o representante e o menor I - em caso de doença mental grave;
relativamente incapaz. Anulabilidade → Caso o ato a ser II - se não existir ou não promover a interdição alguma das
praticado pelo menor entre em conflito com o dos seus pessoas designadas nos incisos I e II do artigo antecedente;
representantes legais, a lei determina que lhe seja dado um III - se, existindo, forem incapazes as pessoas mencionadas
curador especial, artigo 1692. Se o negocio tiver sido no inciso antecedente.
realizado será anulável só do conflito tinha ou devia ter O Leoni entende que o Código fez errado em dar
conhecimento a parte contratante, artigo 119. legitimidade a qualquer parente, para ele o melhor seria que os
Art. 119. É anulável o negócio concluído pelo representante em legitimados fossem exclusivamente aqueles que, em tese,
conflito de interesses com o representado, se tal fato era ou teriam dever de alimentar para com o pródigo: ascendentes,
devia ser do conhecimento de quem com aquele tratou. descendentes, cônjuge e irmão.
Parágrafo único. É de cento e oitenta dias, a contar da É a sentença de interdição do pródigo que estabelece
conclusão do negócio ou da cessação da incapacidade, o prazo o título constitutivo da sua condição de relativamente incapaz,
de decadência para pleitear-se a anulação prevista neste determinando a nomeação de um curador.
artigo. Efeitos da Prodigalidade:
i. Mudança no estado da pessoa para relativamente
Os ébrios habituais, os viciados em tóxicos e os incapaz, ficando o mesmo sujeito à curatela.
deficientes mentais: Art. 1.782. A interdição do pródigo só o privará de, sem
O uso de bebida alcoólica, de drogas ou a mera curador, emprestar, transigir, dar quitação, alienar, hipotecar,
deficiência mental, por si só, não determina a incapacidade demandar ou ser demandado, e praticar, em geral, os atos que
relativa de seu portador, é necessário ainda que se verifique não sejam de mera administração.
que em virtude dessas causas a pessoa possuía o Os demais atos da vida civil podem ser praticados
discernimento reduzido para os atos da vida civil. validamente pelo pródigo, por exemplo é ele quem autoriza os
filhos a se casarem.
Para que haja a internação nos casos analisados, é necessário:
a) Prova de que se trata de ébrio, toxicômano ou Sanção, Anulabilidade, Atos praticados pelos relativamente
deficiente incapazes:
b) Que tais atos determinam no sujeito um O inciso I do artigo 171 taxa de anulável o negocio
discernimento reduzido para os atos da vida civil jurídico, por incapacidade relativa do agente, esse efeito
→ A velhice por si só não é considerada fator determinante consiste em restituir as partes ao estão em que se achavam,
de incapacidade. e, não sendo possível a restituição, a indenizá-las com o
equivalente.
Excepcionais → Surdos-mudos que podem aqui ser
enquadrados, tenham discernimento reduzido ou ausência de Capacidade de Direito. Suprimento da incapacidade de fato →
discernimento, como relativamente incapaz. O ordenamento jurídico cria um sistema para que ele possa
atuar no mundo jurídico, esse sistema consiste em atribuir a
Prodigalidade → Pródigo é aquele que não sabe administrar alguém, com capacidade plena de agir, a prática de atos que
sua fazenda de maneira ordenada, levando à dilapidação dos não podem validamente, ser praticados pelo incapaz. A isso se
seus bens em prejuízo do cônjuge e dos herdeiros denomina assistência.
necessários. A interdição por prodigalidade visa proteger, não
a pessoa do pródigo, mas o patrimônio do cônjuge e dos Relativamente Incapazes, Prescrição → Contra eles corre a
herdeiros legítimos, descendentes e ascendentes. prescrição, só que os mesmos terão ação regressiva contra os
Requisitos da prodigalidade:

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seus assistentes, que derem causa à prescrição, ou não a irrevogável, mas poderá vir a ser anulada, se ficar
alegaram oportunamente. demonstrado, que foi praticada em fraude a lei. A
emancipação voluntária não constitui um direito do menor, o
Relativamente Incapazes, contrato de jogo ou aposta – O filho não pode exigir que os genitores o emancipem.
nosso Código reconhece o contrato de jogo ou aposta, mas ii. Emancipação Legal – Casos dos incisos II a V deste
prevê que as dívidas ou apostas não obrigam o pagamento, artigo.
entretanto, não se pode recobrar a quantia que a. Emancipação pelo casamento → É possível
voluntariamente se pagou, salvo se foi ganha por dolo ou se o neste caso que se emancipe antes dos dezesseis anos. Há
perdente é menor ou interdito, artigo 814. É uma exceção ao uniformidade no entendimento no que diz respeito à
princípio de que as obrigações naturais, quando pagas, não separação, ao divorcio e à anulação. Nesse caso, entende a
admitem devolução. doutrina pátria que permanecem os menores na condição de
emancipados, não voltando à condição de relativamente
Relativamente Absolutamente incapazes, partilha → Art. incapazes.
2.016. Será sempre judicial a partilha, se os herdeiros Se for casamento putativo parece que o melhor entendimento
divergirem, assim como se algum deles for incapaz. em relação ao cônjuge inocente é que prevaleça os efeitos da
emancipação. Mas o casamento nulo não tem o poder de
Fim da menoridade. Emancipação voluntária e legal emancipar. A emancipação pressupõe casamento valido.
Art. 5o A menoridade cessa aos dezoito anos completos, A união estável não leva a emancipação, por dois motivos: o
quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da casamento pressupõe a autorização do menor de dezoito anos
vida civil. e também porque a norma referente a emancipação deve ser
Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade: interpretada restritivamente, já que constitui exceção ao
I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, princípio geral de que a plena capacidade só se adquire aos
mediante instrumento público, independentemente de dezoito anos completos.
homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, b. Emancipação pelo exercício de emprego público efetivo –
se o menor tiver dezesseis anos completos; Não emancipa o cargo exercido em paraestatal ou em
II - pelo casamento; autarquia.
III - pelo exercício de emprego público efetivo; c. Emancipação pela colação de grau em curso de ensino
IV - pela colação de grau em curso de ensino superior; superior
V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência d. Emancipação pelo estabelecimento civil ou comercial,
de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com economia própria.
com dezesseis anos completos tenha economia própria. e. Emancipação pela existência de relação de emprego,
Emancipação → Visa atribuir à pessoa com menos de com economia própria – Há de ser emprego com vinculo
dezoito anos a plena capacidade de exercício, e, como empregatício ou atividade autônoma que lhe garanta a própria
conseqüência, o jovem, mesmo sendo menor dezoito anos, já subsistência (economia própria), ainda que inferior ao padrão
pode e deve responder tanto por seus atos negociais como que tinha sob o poder familiar.
extranegociais. Ocorre como uma equiparação, nos seus
efeitos, à maioridade civil, embora não seja a mesma coisa. Fim da Personalidade. Morte. Morte Presumida
Existe duas modalidades de emancipação: Art. 6o A existência da pessoa natural termina com a morte;
i. Voluntária – Inciso I do artigo 5º - Concedida pelos presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei
pais e por sentença do juiz no caso de o menor esta sob autoriza a abertura de sucessão definitiva.
tutela, a lei exige que o menor tenha dezesseis anos A morte extingue os direitos inerentes à própria
cumpridos. O NCC é expresso em falar que não necessita de pessoa, tais como as obrigações personalíssimas. As
homologação judicial quando a emancipação for concedida obrigações patrimoniais que não sejam personalíssimas
pelos pais. Em caso de divergência entre os pais a respeito da subsistem mesmo após a morte do devedor, transmitindo-se
emancipação do filho, caberá ao juiz decidir se esta, aos seus sucessores.
efetivamente, atende aos interesses do menor ou não. No âmbito do direito de família, com a morte, rompe-
Somente o genitor que estiver no exercício do poder familiar se:
que poderá conceder a emancipação, aquele que estiver • Vinculo do casamento
suspenso ou destituído não poderá. O NCC exige que se faça a • Morte dos pais extingue o poder familiar
emancipação concedida pelos pais mediante instrumento • O usufruto extingue-se pela morte do usufrutuário
público, o código passado era omisso, a doutrina considera isso • O contrato de locação de serviços acaba com a morte
um retrocesso, tendo em vista que o reconhecimento de filho de uma das partes
que constitui fato de maior relevância social pode ser feito • Cessa o mandato pela morte de uma das partes
por escrito particular, então porque também não poderia ser • Em que pese a obrigação do fiador passar aos
por escrito particular a emancipação do filho. A emancipação é herdeiros, a responsabilidade da fiança se limita ao tempo

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decorrido até a morte do fiador, e não pode ultrapassar as II - a emancipação por outorga dos pais ou por sentença do
forças da herança juiz;
Atualmente, não mais se admite a denominada morte civil, que III - a interdição por incapacidade absoluta ou relativa;
consistia na perda de todos os direitos políticos e civis, IV - a sentença declaratória de ausência e de morte
apesar de a pessoa estar viva. presumida.
A prova do falecimento cabe a quem alega. Caso o casamento seja celebrado, a ausência de
Morte Presumida → Quanto aos ausentes, nos casos em que a lavratura do seu registro no livro próprio não acarreta a
lei autoriza a abertura da sucessão definitiva. nulidade ou anulabilidade do mesmo que, apesar disso, é válido.

Morte Presumida. Casos. Registro Público. Averbação.


Art. 7o Pode ser declarada a morte presumida, sem Art. 10. Far-se-á averbação em registro público:
decretação de ausência: I - das sentenças que decretarem a nulidade ou anulação do
I - se for extremamente provável a morte de quem estava em casamento, o divórcio, a separação judicial e o
perigo de vida; restabelecimento da sociedade conjugal;
II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito II - dos atos judiciais ou extrajudiciais que declararem ou
prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término reconhecerem a filiação; Também devem ser averbados aos
da guerra. atos de reconhecimento de filho, quer seja reconhecimento
Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses voluntário, quer seja reconhecimento coativo, através da ação
casos, somente poderá ser requerida depois de esgotadas as de investigação de paternidade. O reconhecimento voluntário
buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data do filho é ato jurídico irrevogável e pode ser efetuado de
provável do falecimento. acordo com as normas do artigo 1609.
Comoriência III - dos atos judiciais ou extrajudiciais de adoção. Deve se
Art. 8o Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma fazer uma interpretação restritiva, uma vez que o legislador
ocasião, não se podendo averiguar se algum dos comorientes disse mais do que deveria ter dito, uma vez que não cabe mais
precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos. na sistemática do nosso código a adoção por meio de escritura
O efeito da comoriência faz-se refletir no direito pública, uma vez que hoje as adoções devem respeitar o
sucessório, quando falece no mesmo acidente duas pessoas princípio do devido processo legal com intervenção do
que seriam herdeiras entre si. Ocorrendo a comoriência, não Ministério Público.
se dá a transmissão de direitos hereditários entre os
comorientes, chamando-se à sucessão os sucessores de cada CAPÍTULO II
comoriente. DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE
Comoriência entre pai e filho. Indaga-se caso existam Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da
outros filhos do avo, os herdeiros do filho comoriente personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não
herdarão ou não? podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária.
1. Corrente - Aplicando-se a rigor a regra da Natureza Jurídica → Trata-se direitos subjetivos.
comoriência, os netos, os filhos do filho comoriente, não O direito subjetivo é a possibilidade de atuação legal, isto é,
herdariam, pois como não haveria transmissão do avô uma faculdade ou conjunto de faculdades vinculados à decisão
comoriente para o filho seus netos nada herdariam, visto que do seu titular, na defesa de seus interesses, dentro do
os representantes herdam aquilo que herdaria o representado autorizado pelas normas e nos limites do exercício fundado na
se vivo fosse. boa-fé. Os direitos da personalidade são: Absolutos –
2. Corrente – A melhor corrente sustenta o contrário da Propriedade e direitos da personalidade são oponíveis erga
primeira – Os netos herdarão do avô, por cabeça, caso seu omnes.
venha a morrer depois do avô. Herdarão do avô ainda por Características:
representação, se o seu pai vier a falecer antes do avô. A • Direitos Inatos – Nascem com os indivíduos,
melhor interpretação é de afastar os efeitos da comoriência, pertencem a sua natureza, uma vez que os direitos da
isto e, não-transmissão de direitos hereditários entre os personalidade surgem juntamente com o aparecimento da
comorientes. Nesse caso, os netos herdarão por personalidade. Daí a proteção do nascituro punindo-se o crime
representação, se não concorrerem com os outros filhos do aborto ou a proibição da manipulação genética do embrião,
avô comoriente. salvo por motivos terapêuticos. Eles são inatos porque
atribuem a todas as pessoas.
• Vitalícios – Duram a vida inteira da pessoa, são
Registro Público. Registro. protegidos durante toda a vida da pessoa e até mesmo após a
Art. 9o Serão registrados em registro público: morte da pessoa se protege os direitos da personalidade,
I - os nascimentos, casamentos e óbitos; como se verifica no caso de ofensa a pessoa falecida.

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• Absolutos – Se opõem erga omnes. Os direitos O nosso código estabelece que a existência da pessoa
subjetivos absolutos, como o direito de propriedade e os humana termina com a morte, mas tal fato não impede que a
direitos personalíssimos, como se fazem valer perante todos proteção contra a ofensa aos direitos da personalidade,
os que têm um dever geral de abstenção, não estão eles principalmente no que diz respeito aos direitos morais do
inseridos, como é obvio em relação jurídica. E pode-se indagar autor e à ofensa da honra, seja devidamente tutelada mesmo
donde deriva esse dever geral de abstenção. Deriva do após a morte da pessoa. O que persiste após a morte da
ordenamento jurídico, criando para todos o dever jurídico de pessoa é proteção dos direitos da personalidade e não a
não lesar esses direitos. Mas é evidente que no momento em personalidade da pessoa humana. Embora o parágrafo único
que alguém especificamente lesa um direito subjetivo não tenha incluído os companheiros como legitimados, a melhor
absoluto, seja o direito de propriedade, seja um direito de doutrina entende que os mesmos devem ser incluídos como
personalidade, aí sim, surge uma relação jurídica entre o legitimados.
titular do direito subjetivo absoluto e o ofensor.
• Relativamente Indisponíveis – No que diz respeito a Disposição do próprio corpo. Limites.
sua disponibilidade, esta não é absoluta, e tal disponibilidade
Art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de
varia conforme o direito de personalidade que esteja em disposição do próprio corpo, quando importar diminuição
questão. Exemplo: Ninguém pode ser fotografado sem roupa e permanente da integridade física, ou contrariar os bons
ter as suas fotos publicadas sem autorização, mas nada costumes.
impede que esta pessoa concorde e tenha as suas fotos Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será admitido
publicadas. O limite da disponibilidade reside no para fins de transplante, na forma estabelecida em lei
posicionamento da Ascensão, quando afirma, a nosso ver especial.
acertadamente, que os limites entre a disponibilidade e A disposição dos órgãos, tecidos ou partes do corpo
indisponibilidade são encontrados nos princípios de ordem deve ser necessariamente gratuita.
pública. No caso do sangue, esperma e óvulos não é necessário
• Extrapatrimoniais – É certo que a vida e a honra de que a sua retirada se faça por médicos especializados em
uma pessoa não podem ser avaliadas monetariamente. Tal transplantes, nem em hospitais reconhecidamente idôneos e
fato, porém não impede que quando lesados esses direitos devidamente cadastrados para este fim, essa doação de
dêem origem ao pedido de reparação pelo da sofrido. O gametas nunca poderá ter caráter lucrativo ou comercial.
critério para fixação do dano é de caráter punitivo, visando Transplante é o ato médico que transfere para o
evitar que o agressor venha a praticar novas violações a corpo do receptor tecido, órgão ou parte do corpo humano.
direitos da personalidade. Com isso a pena pecuniária deve Doação de órgãos e tecidos: Considera-se doador a pessoa
variar de acordo com o poder econômico do ofensor. maior e capaz, apta a fazer doação em vida ou post mortem de
• Intransmissíveis – Não são transmissíveis em vida e tecido, órgão ou parte do seu corpo, com fins de transplante e
nem em morte, com a morte não se transmite a honra, nem a terapêutico.
liberdade... nesse caso, o que pode ocorrer é atribuir Quando se tratar de disposição de órgão humano de ser vivo,
legitimidade aos parentes ou cônjuges para demandar a o mesmo terá que ser duplo e que a sua retirada na impeça o
reparação pela ofensa a pessoa falecida. Não se trata de organismo do doador de continuar vivendo sim risco para a sua
afirmar que a personalidade subsiste depois da morte, o que integridade e não represente grave comprometimento de sua
subsiste é a sua proteção. saúde e funções vitais.
• Objeto Interior Mudança de Sexo → Como se trata de ação que visa à
alteração do estado individual, não se tratando de ação que
Proteção dos direitos da personalidade. Proteção post vise tão só à mera retificação de Registro Civil, assim deve
mortem. tramitar perante o juízo de família.
Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a Como tais cirurgias visam necessariamente a
direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem castração, em tese, estariam vedadas pela norma do artigo 13,
prejuízo de outras sanções previstas em lei. visto que importam em diminuição permanente da integridade
Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação física. A melhor doutrina entende que a jurisprudência poderá
para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge construir a interpretação no sentido de possibilitar tais
sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral cirurgias, caso haja recomendação médica, para que possamos
até o quarto grau. utilizar a interpretação do artigo 13.
Permitindo também que a proteção aos direitos da
personalíssimos se faça através de medidas preventivas. O Doação de órgãos ou tecidos post mortem. Limites
que se visa proteger sempre é a dignidade da pessoa humana. Art. 14. É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a
O nosso ordenamento jurídico protege não somente a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte,
vida extra-uterina mas também a vida intra-uterina, cabendo, para depois da morte.
como certa, a reparação pelo dano causado ao nascituro.

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Parágrafo único. O ato de disposição pode ser livremente Atualmente diante da redação do artigo 227, §6º da
revogado a qualquer tempo. Constituição é perfeitamente possível que o filho reconhecido
Tem que se respeitar dois requisitos: a finalidade pelo pai, que já se encontra registrado pela mãe, pode adotar
contida no caput e que a mesma seja gratuita. somente os patronímicos paternos, inteligência do princípio da
isonomia entre os filhos, havidos ou não do casamento.
Tratamento médico. Cirurgia. Consentimento informado Como o nome é um direito da personalidade, tem por
Art. 15. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com característica a imprescritibilidade, com isso, caso a sentença
risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica. não tenha determinado o acréscimo dos apelidos paternos, o
A lei faculta ao particular decidir se quer ou não filho poderá a qualquer tempo pleitear a adoção por via
submeter-se a tratamento ou a cirurgia que implique risco de própria.
vida, o mesmo deverá ser informado antes. Abre-se uma
exceção a esta regra quando houver urgência. Proteção do nome
Art. 17. O nome da pessoa não pode ser empregado por
Nome. Elementos outrem em publicações ou representações que a exponham ao
Art. 16. Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos desprezo público, ainda quando não haja intenção difamatória.
o prenome e o sobrenome. Aplica-se esse artigo no caso de que um banco ou uma
Natureza Jurídica: instituição financeira vem a inscrever, indevidamente, o nome
1. Corrente – Direito de propriedade. do cliente no Serasa, vindo assim a expor o seu titular ao
2. Corrente – Instituição de polícia desprezo, visto que perde com a referida inscrição no
3. Corrente – Direito da personalidade → Corrente cadastro dos inadimplentes de crédito.
adotada pelos autores atuais.
Lei do Registro Público - Art. 56. O interessado, no primeiro Uso indevido do nome em propaganda comercial
ano após ter atingido a maioridade civil, poderá, pessoalmente Art. 18. Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em
ou por procurador bastante, alterar o nome, desde que não propaganda comercial.
prejudique os apelidos de família, averbando-se a alteração
que será publicada pela imprensa. Proteção do pseudônimo
Art. 19. O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da
Lei do Registro Público - Art. 58. O prenome será definitivo, proteção que se dá ao nome.
admitindo-se, todavia, a sua substituição por apelidos públicos
notórios. Escritos. Palavras. Imagem
Parágrafo único. A substituição do prenome será ainda Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à
admitida em razão de fundada coação ou ameaça decorrente administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a
da colaboração com a apuração de crime, por determinação, divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a
em sentença, de juiz competente, ouvido o Ministério Público. publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma
Como se pode verificar o princípio geral é o da imutabilidade pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem
do prenome de acordo com o caput, mas a melhor doutrina prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra,
entende continua sendo possível essa mudança quando o a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins
prenome expor o seu titular ao ridículo, bem como quando comerciais.
houver erro de grafia. Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são
Há ainda a hipótese de mudança de nome no caso da partes legítimas para requerer essa proteção o cônjuge, os
separação judicial com atribuição de culpa, de acordo com a ascendentes ou os descendentes.
redação do artigo 1578. A proteção contida neste artigo encontra limites:
Art. 1.578. O cônjuge declarado culpado na ação de separação i. A própria manifestação de vontade do interessado
judicial perde o direito de usar o sobrenome do outro, desde autorizando a divulgação, exposição ou utilização dos escritos
que expressamente requerido pelo cônjuge inocente e se a da palavra ou da sua imagem.
alteração não acarretar: ii. Se a divulgação, exposição ou utilização dos escritos,
I - evidente prejuízo para a sua identificação; da palavra ou da sua imagem forem necessárias à
II - manifesta distinção entre o seu nome de família e o dos administração ou à manutenção da ordem pública. Ex. O
filhos havidos da união dissolvida; retrato do criminoso fugitivo pode ser exposto em lugares
III - dano grave reconhecido na decisão judicial. públicos, visando à sua localização e conseqüente prisão.
§ 1o O cônjuge inocente na ação de separação judicial poderá Cabe as instituições financeiras manter sigilo acerca de
renunciar, a qualquer momento, ao direito de usar o qualquer informação ou documentação pertinente à
sobrenome do outro. movimentação ativa e passiva do correntista / contribuinte,
§ 2o Nos demais casos caberá a opção pela conservação do bem como dos serviços a ele prestados. Apenas o Judiciário,
nome de casado.

UFRJ - FACC 7
DIREITO CIVIL – PARTE GERAL

por um de seus órgãos, pode eximir as instituições financeiras A declaração de ausência não autoriza o cônjuge do ausente a
do dever de segredo em relação às matérias arroladas em lei. contrair matrimonio. A hipótese de morte presumida prevista
O direito a imagem vinculada à preservação da intimidade dá no artigo 6º do Código Civil só se refere, quanto aos ausentes,
origem, em caso de sua violação por terceiros, a basicamente nos casos em que a lei autorizar a abertura de sucessão
três efeitos: definitiva. Antes da abertura da sucessão definitiva o cônjuge
i. Obtenção da reparação pelos danos causados. do ausente se pretender casar-se com outra pessoa deverá
ii. Punição criminal, uma vez incida algum tipo penal primeiro obter o divorcio, citando o ausente por edital, a fim
dos crimes contra a honra. de obter o rompimento do vínculo do casamento.
iii. Os direitos patrimoniais que possam Este artigo atribuiu legitimidade a qualquer pessoa para
corresponder à pessoa cuja imagem se reproduz nas hipóteses requerer a declaração de ausência, exemplo é o do credor.
em que esta seja explorada comercialmente. Após a declaração de ausência o juiz deverá nomear um
As pessoas públicas não podem invocar o mandamento curador para o ausente. O Novo Código Civil não comete mais a
constitucional que protege a imagem, impedir a sua publicação impropriedade de colocar o ausente no rol dos absolutamente
pelos meios de comunicação, salvo se tais publicações violarem incapazes. O ausente na verdade é uma pessoa capaz, podendo
valores elementares da dignidade da pessoa ou da intimidade praticar todos os atos da vida civil, a curatela é para os bens
desta. do ausente e não para a sua pessoa.
A autorização do uso da imagem de uma pessoa não impede
que esta a qualquer momento revogue esse direito, claro que Ausente com procurador nomeado
estará obrigado a reparar os danos causados em virtude da Art. 23. Também se declarará a ausência, e se nomeará
sua revogação. curador, quando o ausente deixar mandatário que não queira
“a imagem é emanação da própria pessoa e, pois, de elementos ou não possa exercer ou continuar o mandato, ou se os seus
visíveis que integram a personalidade humana, de caracteres poderes forem insuficientes.
físicos que individualizam a pessoa. A reprodução da imagem,
conseqüentemente, somente pode ser autorizada pela pessoa a Poderes e obrigações do curador do ausente. Fixação Judicial
quem pertence, não compelindo indagar-se a publicação Art. 24. O juiz, que nomear o curador, fixar-lhe-á os poderes
produziu ou não dano moral, ou se constitui causa de e obrigações, conforme as circunstâncias, observando, no que
enriquecimento ilícito” for aplicável, o disposto a respeito dos tutores e curadores.
Os poderes contidos neste artigo são os poderes
jurídicos, esses poderes conferidos a ele são para ele agir no
interesse da preservação dos bens do ausente e não no
Vida privada. Intimidade. Proteção preventiva e repressiva interesse próprio.
Art. 21. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz,
a requerimento do interessado, adotará as providências Legitimados para exercer a curatela dos bens do ausente
necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a esta
Art. 25. O cônjuge do ausente, sempre que não esteja
norma. separado judicialmente, ou de fato por mais de dois anos
antes da declaração da ausência, será o seu legítimo curador.
CAPÍTULO III § 1o Em falta do cônjuge, a curadoria dos bens do ausente
DA AUSÊNCIA incumbe aos pais ou aos descendentes, nesta ordem, não
Seção I havendo impedimento que os iniba de exercer o cargo.
Da Curadoria dos Bens do Ausente § 2o Entre os descendentes, os mais próximos precedem os
Art. 22. Desaparecendo uma pessoa do seu domicílio sem dela mais remotos.
haver notícia, se não houver deixado representante ou § 3o Na falta das pessoas mencionadas, compete ao juiz a
procurador a quem caiba administrar-lhe os bens, o juiz, a escolha do curador.
requerimento de qualquer interessado ou do Ministério
Público, declarará a ausência, e nomear-lhe-á curador. Seção II
Existem três fases da ausência: Da Sucessão Provisória
a) A sua declaração Requisitos para a abertura da sucessão provisória
b) A sucessão provisória Art. 26. Decorrido um ano da arrecadação dos bens do
c) Sucessão definitiva ausente, ou, se ele deixou representante ou procurador, em se
Declaração de Ausência passando três anos, poderão os interessados requerer que se
A lei exige dois requisitos: declare a ausência e se abra provisoriamente a sucessão.
a) Que não se tenham notícias do ausente. Temos duas hipóteses no texto:
b) Que ele não tenha deixado representante ou • aquela em que o ausente não deixou
procurador, a quem toque administrar-lhe os bens. procurado basta esperar um ano, o texto disse mais do que
devia, uma vez que não se pede a declaração de ausência, mas

UFRJ - FACC 8
DIREITO CIVIL – PARTE GERAL

sim a abertura da sucessão provisória, até porque com esta representante, sem que qualquer dos legitimados requeiram a
cessa a curadoria. abertura da sucessão provisória, passa o Ministério Público a
• Quando o mesmo não deixou procurador, ter legitimidade para tal, da mesma forma o §2º do artigo
decorridos dois anos da arrecadação dos bens do ausente, 1.163 do Código de Processo Civil.
pode os interessados requererem a abertura da sucessão § 2o Não comparecendo herdeiro ou interessado para
provisória. requerer o inventário até trinta dias depois de passar em
→ O novo código acertadamente reduziu os prazos pela julgado a sentença que mandar abrir a sucessão provisória,
metade. proceder-se-á à arrecadação dos bens do ausente pela forma
Os interessados para requerer a abertura da estabelecida nos arts. 1.819 a 1.823. Os bens serão
sucessão provisória: cônjuge separado ou não judicialmente, arrecadados como herança jacente. É a hipótese de a
herdeiros presumidos os legítimos ou os testamentários, os abertura da sucessão provisória ter sido requerida pelo
que tiverem sobre os bens do ausente direitos pendentes da Ministério Público nos termos do parágrafo anterior.
sua morte e os credores de obrigações vencidas e não-pagas, A referida sentença só produzirá efeitos após cento
artigo 27. e oitenta dias depois de publicada pela sentença.

Legitimados para o requerimento de abertura da sucessão Bens sujeitos a deterioração ou extravio. Conservação
provisória Art. 29. Antes da partilha, o juiz, quando julgar conveniente,
Art. 27. Para o efeito previsto no artigo anterior, somente se ordenará a conversão dos bens móveis, sujeitos a
consideram interessados: deterioração ou a extravio, em imóveis ou em títulos
I - o cônjuge não separado judicialmente; garantidos pela União.
II - os herdeiros presumidos, legítimos ou testamentários; Trata-se na verdade de norma imperativa para o
III - os que tiverem sobre os bens do ausente direito magistrado, isto é, havendo perigo de deterioração ou
dependente de sua morte; extravio não tem o juiz a faculdade de não convertê-los em
IV - os credores de obrigações vencidas e não pagas. imóveis ou em títulos garantidos pela União.
Se o mesmo estiver separado de fato há mais de dois
anos, poderá ainda assim pleitear a abertura da sucessão Imissão na posse dos bens do ausente. Garantias
provisória? Art. 1.830. Somente é reconhecido direito Art. 30. Os herdeiros, para se imitirem na posse dos bens do
sucessório ao cônjuge sobrevivente se, ao tempo da morte do ausente, darão garantias da restituição deles, mediante
outro, não estavam separados judicialmente, nem separados penhores ou hipotecas equivalentes aos quinhões respectivos.
de fato há mais de dois anos, salvo prova, neste caso, de que § 1o Aquele que tiver direito à posse provisória, mas não puder
essa convivência se tornara impossível sem culpa do prestar a garantia exigida neste artigo, será excluído,
sobrevivente. mantendo-se os bens que lhe deviam caber sob a
No caso do inciso III deste artigo, podemos administração do curador, ou de outro herdeiro designado
exemplificar com o caso do doador que pode estipular que os pelo juiz, e que preste essa garantia. Nessa hipótese pode o
bens doados voltem ao seu patrimônio, se sobreviver o herdeiro excluído pleitear o recebimento da metade dos
donatário, artigo 527. rendimentos do quinhão que lhe tocaria.
O Ministério Público também pode requerer a § 2o Os ascendentes, os descendentes e o cônjuge, uma vez
sucessão provisória se os interessados não a requererem no provada a sua qualidade de herdeiros, poderão,
prazo do artigo 26, conforme deixa claro o 1º do artigo 28 do independentemente de garantia, entrar na posse dos bens do
Código Civil. ausente.
O artigo procura preservar os direitos do ausente na
Efeitos da sentença de abertura da sucessão provisória. hipótese de seu retorno.
Legitimidade do Ministério Público. Ausência de Herdeiro ou
interessados Representação do ausente na fase da sucessão provisória
Art. 28. A sentença que determinar a abertura da sucessão Art. 31. Os imóveis do ausente só se poderão alienar, não
provisória só produzirá efeito cento e oitenta dias depois de sendo por desapropriação, ou hipotecar, quando o ordene o
publicada pela imprensa; mas, logo que passe em julgado, juiz, para lhes evitar a ruína.
proceder-se-á à abertura do testamento, se houver, e ao A regra é que os imóveis do ausente não poderão ser
inventário e partilha dos bens, como se o ausente fosse alienados na fase da sucessão provisória, nos temos duas
falecido. exceções:
§ 1o Findo o prazo a que se refere o art. 26, e não havendo • Desapropriação
interessados na sucessão provisória, cumpre ao Ministério • Em cão de ruína
Público requerê-la ao juízo competente. O prazo a que refere → Essa regra vale tanto para os imóveis que já pertenciam ao
esse artigo é de um ano se o ausente não deixou ausente como para os imóveis que já pertenciam ao ausente
representante ou dois anos, caso tenha deixado

UFRJ - FACC 9
DIREITO CIVIL – PARTE GERAL

como para os imóveis que surgiram oriundos da venda de c) Transmite-se a herança do falecido os herdeiros, que
moveis nos temos do artigo 29 do Código Civil. o eram àquele tempo, artigos 1.784 e 1.798 do Código Civil.
→ Essa alienação deverá seguir o rito contido nos artigos
1.113 a 1.119 do Código de Processo Civil que determina que nãoRetorno do ausente. Efeitos
será aceito lanço que, em segunda praça ou leilão, ofereça Art. 36. Se o ausente aparecer, ou se lhe provar a existência,
preço vil. depois de estabelecida a posse provisória, cessarão para logo
as vantagens dos sucessores nela imitidos, ficando, todavia,
obrigados a tomar as medidas assecuratórias precisas, até a
entrega dos bens a seu dono.
Representação do ausente na fase da sucessão provisória Com o retorno do ausente termina a sucessão
Art. 32. Empossados nos bens, os sucessores provisórios provisória como deixa claro a primeira parte do caput do
ficarão representando ativa e passivamente o ausente, de artigo 1.167 do Código de Processo Civil. Deverão os herdeiros
modo que contra eles correrão as ações pendentes e as que de devolver ao ausente não somente os seus bens, bem como os
futuro àquele forem movidas. que forem sub-rogados, caso não mais existam. Deverão ser
Por força da sucessão provisória cessa a curadoria do devolvidos ao ausente os frutos e rendimento capitalizados
ausente. Aqui deve-se aplicar aos herdeiros provisórios o nos termos do artigo 33 do Código Civil.
princípio do benefício do inventário segundo o qual o herdeiro
não responde por encargos superiores às forças da herança. Seção III
Da Sucessão Definitiva
Frutos e rendimentos dos bens Sucessão Definitiva. Efeitos
Art. 33. O descendente, ascendente ou cônjuge que for Art. 37. Dez anos depois de passada em julgado a sentença
sucessor provisório do ausente, fará seus todos os frutos e que concede a abertura da sucessão provisória, poderão os
rendimentos dos bens que a este couberem; os outros interessados requerer a sucessão definitiva e o levantamento
sucessores, porém, deverão capitalizar metade desses frutos das cauções prestadas.
e rendimentos, segundo o disposto no art. 29, de acordo com o Efeitos da sucessão definitiva:
representante do Ministério Público, e prestar anualmente • Levantamento, por parte do herdeiro, das
contas ao juiz competente. cauções prestadas.
Parágrafo único. Se o ausente aparecer, e ficar provado que a • Aquisição, por parte do herdeiro, de
ausência foi voluntária e injustificada, perderá ele, em favor propriedade resolúvel sob os bens adquiridos.
do sucessor, sua parte nos frutos e rendimentos. A lei neste • Passam a poder utilizar os frutos e
parágrafo único pune a ausência involuntária e injustificada. rendimentos como lhes aprouver.
• Herdeiros necessários – Farão seus todos os • Como titulares de propriedade resolúvel
frutos dos bens que lhe couberem. podem alienar os bens recebidos de maneira onerosa ou
• Colaterais – Deverão capitalizar metade gratuita.
desses frutos e rendimentos em imóveis ou em títulos
garantidos pela União. Essa capitalização tem por finalidade Ausente com oitenta anos. Sucessão definitiva
garantir a devolução dos bens do ausente em caso de seu Art. 38. Pode-se requerer a sucessão definitiva, também,
retorno. provando-se que o ausente conta oitenta anos de idade, e que
de cinco datam as últimas notícias dele.
Direito do excluído da posse provisória O prazo de cinco anos começa a ser contado depois
Art. 34. O excluído, segundo o art. 30, da posse provisória que o agente completa oitenta anos.
poderá, justificando falta de meios, requerer lhe seja
entregue metade dos rendimentos do quinhão que lhe tocaria. Regresso do ausente após a abertura da sucessão definitiva.
Efeitos
Prova da data da morte do ausente Art. 39. Regressando o ausente nos dez anos seguintes à
Art. 35. Se durante a posse provisória se provar a época abertura da sucessão definitiva, ou algum de seus
exata do falecimento do ausente, considerar-se-á, nessa data, descendentes ou ascendentes, aquele ou estes haverão só os
aberta a sucessão em favor dos herdeiros, que o eram àquele bens existentes no estado em que se acharem, os sub-rogados
tempo. em seu lugar, ou o preço que os herdeiros e demais
Nesse caso temos os seguintes efeitos: interessados houverem recebido pelos bens alienados depois
a) Cessa a sucessão provisória e converte-se em daquele tempo.
definitiva, artigo 167 I do Código de Processo Civil. Parágrafo único. Se, nos dez anos a que se refere este artigo,
b) Considera-se aberta à sucessão em favor dos o ausente não regressar, e nenhum interessado promover a
herdeiros nesta data. sucessão definitiva, os bens arrecadados passarão ao domínio
do Município ou do Distrito Federal, se localizados nas

UFRJ - FACC 10
DIREITO CIVIL – PARTE GERAL

respectivas circunscrições, incorporando-se ao domínio da União – É a pessoa jurídica de direito público com capacidade
União, quando situados em território federal. política, dotada no campo interno de autonomia e no campo
Efeitos do retorno dos ausentes: externo de soberania.
• Receberão somente os bens existentes no Estados – São as organizações jurídicas da coletividades
estado em que se acharem regionais para o exercício, em caráter autônomo, da parcela
• Receberão os bens sub-rogados em seu lugar de soberania que lhes é deferida pela Constituição Federal.
• Receberão o preço que os herdeiros e demais
interessados houverem recebido pelos bens alienados depois Pessoas jurídicas de direito externo
daquele tempo Art. 42. São pessoas jurídicas de direito público externo os
Estados estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas
TÍTULO II pelo direito internacional público.
DAS PESSOAS JURÍDICAS
CAPÍTULO I Responsabilidade Civil
DISPOSIÇÕES GERAIS Art. 43. As pessoas jurídicas de direito público interno são
Classificação das pessoas jurídicas civilmente responsáveis por atos dos seus agentes que nessa
Art. 40. As pessoas jurídicas são de direito público, interno qualidade causem danos a terceiros, ressalvado direito
ou externo, e de direito privado. regressivo contra os causadores do dano, se houver, por parte
Pessoa Jurídica: É o conjunto de pessoas ou patrimônio destes, culpa ou dolo.
afetado a um determinado fim, a que o Direito atribui como Incide a responsabilidade objetiva tanto em relação
centro de imputação de direitos e obrigações, reconhecendo às pessoas jurídicas de direito público como em relação às
possuir um patrimônio distinto de seus membros, que persegue pessoas jurídicas de direito privado, desde que exerçam uma
determinados fins. atividade pública.
As pessoas jurídicas têm personalidade jurídica e, O Novo Código optou pela responsabilidade objetiva
como conseqüência, capacidade de direito e de fato. O Novo do estado pelos atos praticados por seu agente. O que se
Código não repetiu a redação contida no artigo 20 do CC/16 discute é sobre qual teoria ela adotou:
“as pessoas jurídicas têm existência distinta da dos seus • Teoria do Risco Administrativo – O estado responde
membros”. Embora o NCC não tenha repetido a norma pelo fato do serviço, independentemente de culpa, isto é,
mencionada, nos podemos usar por analogia a norma contida no basta ao lesado provar a relação de causalidade entre o fato
artigo 2º do NCC que diz que toda pessoa é capaz de direitos do serviço e a lesão sofrida para que seja imputado ao Estado
e deveres na ordem civil, como o texto não se refere mais a o dever de indenizar. Esta teoria admite que o Estado pleiteie
todo homem, mas sim à pessoa, o que permite aplicar esta a exclusão do dever de indenizar se demonstrar: culpa
norma para afirmar a capacidade de direito das pessoas exclusiva da vítima, culpa exclusiva de terceiro e caso fortuito
jurídicas. Portanto, é de se repudiar as teorias negatórias da ou força maior.
personalidade jurídica das pessoas jurídicas, bem como a • Teoria do Risco Integral – O estado responde desde
teoria da ficção das pessoas jurídicas. que demonstrado o nexo de causalidade, não sendo possível à
O artigo em comento nos dá os seguintes tipos de exclusão dos motivos aceitos pela teoria do risco
pessoas jurídicas: administrativo.
• Pessoa Jurídica de Direito Externo → Na visão do Leoni o Estado adotou a teoria do risco
• Pessoa Jurídica de Direito Interno administrativo.
▪ Pessoas jurídicas de direito público → Já está pacificado que os danos sofridos pelo preso dentro
▪ Pessoas jurídicas de direito privado de dependência policial determinam a responsabilidade civil do
Estado.
Pessoas jurídicas de direito público interno
Art. 41. São pessoas jurídicas de direito público interno: Pessoas Jurídicas de Direito Privado
I - a União; Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado:
II - os Estados, o Distrito Federal e os Territórios; I - as associações;
III - os Municípios; II - as sociedades;
IV - as autarquias, inclusive as associações públicas; (Redação III - as fundações.
dada pela Lei nº 11.107, de 2005) IV - as organizações religiosas;
V - as demais entidades de caráter público criadas por lei. V - os partidos políticos.
Parágrafo único. Salvo disposição em contrário, as pessoas § 1o São livres a criação, a organização, a estruturação interna
jurídicas de direito público, a que se tenha dado estrutura de e o funcionamento das organizações religiosas, sendo vedado
direito privado, regem-se, no que couber, quanto ao seu ao poder público negar-lhes reconhecimento ou registro dos
funcionamento, pelas normas deste Código. atos constitutivos e necessários ao seu funcionamento.

UFRJ - FACC 11
DIREITO CIVIL – PARTE GERAL

§ 2o As disposições concernentes às associações aplicam-se Como resultado da atribuição à pessoa jurídica tanto
subsidiariamente às sociedades que são objeto do Livro II da de capacidade de direito como de capacidade negocial, nota-se
Parte Especial deste Código. que ela possui responsabilidade contratual. A pessoa jurídica
§ 3o Os partidos políticos serão organizados e funcionarão responde por seus próprios atos no mundo jurídico. Motivos
conforme o disposto em lei específica. desta responsabilidade contratual:
i. É conseqüência direta da atribuição da
capacidade para adquirir direitos e contrair obrigações a
responsabilidade contratual.
Existência legal das pessoas jurídicas. Ato constitutivo. ii. Possibilita a pessoa jurídica trafegar no mundo
Decadência dos negócios. Se assim não fosse os terceiros não iriam
Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de negociar com a pessoa jurídica, uma vez que estes na maioria
direito privado com a inscrição do ato constitutivo no das vezes contratam sabendo que é o patrimônio da pessoa
respectivo registro, precedida, quando necessário, de jurídica que irá responder.
autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se Situações que podem ocorrer:
no registro todas as alterações por que passar o ato i. O órgão, o diretor ou mandatário da pessoa
constitutivo. jurídica agiram dentro dos limites do mandato previsto no
Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular a estatuto ou na procuração em caso de representação
constituição das pessoas jurídicas de direito privado, por voluntária. A pessoa jurídica responde civilmente perante os
defeito do ato respectivo, contado o prazo da publicação de terceiros.
sua inscrição no registro. ii. O órgão, o diretor ou mandatário agiram fora dos
Para adquirir personalidade, as pessoas jurídicas limites do mandato previsto no estatuto ou na procuração
exigem do grupo de pessoas (sociedades e associações) ou do outorgada. Em princípio a pessoa jurídica não responde, caso
fundador (fundações) um ato constitutivo. Este ato varia ela tenha enriquecido em decorrência deste ato, deverá
conforme o tipo de pessoa jurídica: responder nos limites do proveito que obteve, a fim de evitar
• Sociedades civis – Contrato de sociedade o enriquecimento sem causa.
• Associações – Manifestação de vontade a. O terceiro não sabia
expressa no estatuto, que pode materializar-se mediante b. O terceiro sabia → A sociedade não irá
instrumento público ou particular, sempre sujeito a registro. responder, salvo se a mesma tivesse se comprometido a
• Fundação – Escritura pública ou por ratificar os atos em questão.
testamento
Administração coletiva. Quorum para as decisões. Decadência
Conteúdo do registro Art. 48. Se a pessoa jurídica tiver administração coletiva, as
Art. 46. O registro declarará: decisões se tomarão pela maioria de votos dos presentes,
I - a denominação, os fins, a sede, o tempo de duração e o salvo se o ato constitutivo dispuser de modo diverso.
fundo social, quando houver; Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular as
II - o nome e a individualização dos fundadores ou decisões a que se refere este artigo, quando violarem a lei ou
instituidores, e dos diretores; estatuto, ou forem eivadas de erro, dolo, simulação ou fraude.
III - o modo por que se administra e representa, ativa e Se o ato constitutivo for omisso a regra geral é de
passivamente, judicial e extrajudicialmente; que as decisões devem ser tomadas pela maioria de votos dos
IV - se o ato constitutivo é reformável no tocante à presentes.
administração, e de que modo;
V - se os membros respondem, ou não, subsidiariamente, pelas Nomeação de administrador provisório
obrigações sociais; Art. 49. Se a administração da pessoa jurídica vier a faltar, o
VI - as condições de extinção da pessoa jurídica e o destino juiz, a requerimento de qualquer interessado, nomear-lhe-á
do seu patrimônio, nesse caso. administrador provisório.
A jurisprudência tem se pronunciado reiteradamente A norma atribui legitimidade para requerer a
no sentido da proteção do nome da pessoa jurídica. nomeação de administrador provisório a qualquer interessado,
Sempre há a necessidade de ter a pessoa jurídica um isto é, membros da pessoa jurídica. O artigo 1.051 p.único
fim que deve ser lícito. também prevê a hipótese de nomeação de administrador
provisório na sociedade em comandita simples.
Responsabilidade contratual da pessoa jurídica. Atos dos
administradores Desconsideração da personalidade jurídica
Art. 47. Obrigam a pessoa jurídica os atos dos Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica,
administradores, exercidos nos limites de seus poderes caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão
definidos no ato constitutivo. patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou

UFRJ - FACC 12
DIREITO CIVIL – PARTE GERAL

do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, III - a deliberação dos sócios, por maioria absoluta, na
que os efeitos de certas e determinadas relações de sociedade de prazo indeterminado;
obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos IV - a falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no
administradores ou sócios da pessoa jurídica. prazo de cento e oitenta dias;
A pessoa jurídica possui personalidade jurídica V - a extinção, na forma da lei, de autorização para funcionar.
distinta da dos seus membros. Assim não se confunde o
patrimônio desta com o de seus membros. Ocorre que foi se Direitos da personalidade das pessoas jurídicas
notando que algumas pessoas se valiam das pessoas jurídicas Art. 52. Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a
para praticas obscuras, visando lesar terceiros. Diante disso proteção dos direitos da personalidade.
surgiu a necessidade de relatividade da pessoa jurídica, a fim Os direitos da personalidade inerentes ao ser
de possibilitar, em determinados casos, que se procurasse a humano, por obvio não cabem a pessoa jurídica. A doutrina e
verdadeira situação para se fazer justiça. jurisprudência e este artigo vem reconhecendo que deve se
A desconsideração se dará em relação a determinado estender os direitos da personalidade ligados à boa-fama da
fato ou fatos graves que demonstrem exercício irregular, o pessoa jurídica à proteção pelo ordenamento jurídico, da
qual se consubstanciaria em obter finalidade distinta daquela pessoa jurídica. Diante disso se reconhece o direito de a
para qual a pessoa jurídica foi criada. pessoa jurídica demandar indenização por ofensa à sua honra
A desconsideração é um remédio jurídico mediante o objetiva...
qual resulta possível prescindir da forma de sociedade ou
associação com que se haja revestido um grupo de pessoas e CAPÍTULO II
bens, negando sua existência autônoma como sujeito de DAS ASSOCIAÇÕES
direito frente a uma situação jurídica particular. Constituição e finalidade não econômica
Requisitos para a desconsideração: Art. 53. Constituem-se as associações pela união de pessoas
• Abuso da personalidade jurídica. que se organizem para fins não econômicos.
▪ Desvio de finalidade Parágrafo único. Não há, entre os associados, direitos e
▪ Confusão patrimonial obrigações recíprocos.
• Requerimento da parte ou ministério público, A sua principal característica que a diferencia das
quando lhe couber intervir no processo. sociedades é que aquelas não possuem fins econômicos.
• Decisão judicial.
Efeitos da desconsideração: Conteúdo do ato constitutivo das associações
Esta não se da em relação a todo e qualquer ato da Art. 54. Sob pena de nulidade, o estatuto das associações
pessoa jurídica, mas tão-somente em relação a certas e conterá:
determinadas relações obrigacionais, as quais se referiu o I - a denominação, os fins e a sede da associação;
requerimento da parte ou do Ministério Público e que deve ser II - os requisitos para a admissão, demissão e exclusão dos
especificadas pelo juiz quando da decisão. Em relação às associados;
obrigações cobertas pela decisão judicial, seus efeitos serão III - os direitos e deveres dos associados;
estendidos aos bens particulares dos administradores ou IV - as fontes de recursos para sua manutenção;
sócios da pessoas jurídicas. V – o modo de constituição e de funcionamento dos órgãos
deliberativos; (Redação dada pela Lei nº 11.127, de 2005)
Extinção da pessoa jurídica VI - as condições para a alteração das disposições
Art. 51. Nos casos de dissolução da pessoa jurídica ou cassada estatutárias e para a dissolução.
a autorização para seu funcionamento, ela subsistirá para os VII – a forma de gestão administrativa e de aprovação das
fins de liquidação, até que esta se conclua. respectivas contas. (Incluído pela Lei nº 11.127, de 2005)
§ 1o Far-se-á, no registro onde a pessoa jurídica estiver
inscrita, a averbação de sua dissolução. Isonomia dos associados. Categorias especiais
§ 2o As disposições para a liquidação das sociedades aplicam- Art. 55. Os associados devem ter iguais direitos, mas o
se, no que couber, às demais pessoas jurídicas de direito estatuto poderá instituir categorias com vantagens especiais.
privado. Este artigo consagra o princípio da isonomia entre os
o
§ 3 Encerrada a liquidação, promover-se-á o cancelamento da associados, mas nada impede que o estatuto preveja vantagens
inscrição da pessoa jurídica. especiais para determinadas categorias de sócios, tais
Art. 1.033. Dissolve-se a sociedade quando ocorrer: Este categorias só podem existir se estiverem previstas
artigo traz os casos de dissolução da pessoa jurídica. expressamente no estatuto da associação.
I - o vencimento do prazo de duração, salvo se, vencido este e
sem oposição de sócio, não entrar a sociedade em liquidação, Intransmissibilidade da qualidade de associado. Transferência
caso em que se prorrogará por tempo indeterminado; de quota. Efeitos
II - o consenso unânime dos sócios;

UFRJ - FACC 13
DIREITO CIVIL – PARTE GERAL

Art. 56. A qualidade de associado é intransmissível, se o do remanescente referida neste artigo, receber em
estatuto não dispuser o contrário. restituição, atualizado o respectivo valor, as contribuições que
Parágrafo único. Se o associado for titular de quota ou fração tiverem prestado ao patrimônio da associação.
ideal do patrimônio da associação, a transferência daquela não § 2o Não existindo no Município, no Estado, no Distrito
importará, de per si, na atribuição da qualidade de associado Federal ou no Território, em que a associação tiver sede,
ao adquirente ou ao herdeiro, salvo disposição diversa do instituição nas condições indicadas neste artigo, o que
estatuto. remanescer do seu patrimônio se devolverá à Fazenda do
Parágrafo único.(Revogado pela Lei nº 11.127, de 2005) Estado, do Distrito Federal ou da União.
A regra geral é a intransmissibilidade da qualidade de Qual o destino do remanescente do patrimônio liquido da
sócio, mas nada impede que o estatuto disponha de modo associação?
contrário. 1. Lugar – Deve-se reduzir dele o
correspondente às quotas ou frações ideais nos termos do
artigo 56 deste código.
Exclusão do associado. Recurso 2. Lugar – Deve-se verificar se o estatuto ou
Art. 57. A exclusão do associado só é admissível havendo deliberação dos associados previu a restituição aos associados
justa causa, assim reconhecida em procedimento que assegure da contribuição que tiverem prestado ao patrimônio da
direito de defesa e de recurso, nos termos previstos no associação, atualizando o respectivo valor.
estatuto. (Redação dada pela Lei nº 11.127, de 2005) 3. Lugar – Deve-se verificar qual a destinação
do remanescente
Intangibilidade dos direitos dos associados i.Estatuto prevê que o remanescente será destinado à entidade
Art. 58. Nenhum associado poderá ser impedido de exercer de fins não econômicos designada no estatuto.
direito ou função que lhe tenha sido legitimamente conferido,
ii.Omissão do estatuto haverá a deliberação dos associados, à
a não ser nos casos e pela forma previstos na lei ou no
instituição municipal, estadual ou federal, de fins idênticos ou
estatuto.
semelhantes.

Competência privativa da assembléia geral


Art. 59. Compete privativamente à assembléia geral: (Redação
CAPÍTULO III
dada pela Lei nº 11.127, de 2005)
DAS FUNDAÇÕES
I – destituir os administradores; (Redação dada pela Lei nº
Constituição de fundação. Formas
11.127, de 2005)
Art. 62. Para criar uma fundação, o seu instituidor fará, por
II – alterar o estatuto. (Redação dada pela Lei nº 11.127, de
escritura pública ou testamento, dotação especial de bens
2005)
livres, especificando o fim a que se destina, e declarando, se
Parágrafo único. Para as deliberações a que se referem os
quiser, a maneira de administrá-la.
incisos I e II deste artigo é exigido deliberação da
Parágrafo único. A fundação somente poderá constituir-se
assembléia especialmente convocada para esse fim, cujo
para fins religiosos, morais, culturais ou de assistência.
quorum será o estabelecido no estatuto, bem como os
Art. 2.031. As associações, sociedades e fundações,
critérios de eleição dos administradores. (Redação dada pela
constituídas na forma das leis anteriores, terão o prazo de 2
Lei nº 11.127, de 2005)
(dois) anos para se adaptar às disposições deste Código, a
partir de sua vigência igual prazo é concedido aos
Convocação da assembléia geral
empresários. Adaptação das fundações constituídas antes do
Art. 60. A convocação dos órgãos deliberativos far-se-á na
novo Código Civil.
forma do estatuto, garantido a 1/5 (um quinto) dos associados
Insuficiência dos bens afetados. Efeitos
o direito de promovê-la. (Redação dada pela Lei nº 11.127, de
Art. 63. Quando insuficientes para constituir a fundação, os
2005)
bens a ela destinados serão, se de outro modo não dispuser o
instituidor, incorporados em outra fundação que se proponha a
Destino dos bens das associações. Dissolução
fim igual ou semelhante.
Art. 61. Dissolvida a associação, o remanescente do seu
São pessoas jurídicas que giram em torno de um
patrimônio líquido, depois de deduzidas, se for o caso, as
patrimônio afetado. Esse é o elemento que mais se destaca
quotas ou frações ideais referidas no parágrafo único do art.
nas fundações, embora também possuam o elemento pessoas,
56, será destinado à entidade de fins não econômicos
qual seja os seus órgãos dirigentes.
designada no estatuto, ou, omisso este, por deliberação dos
associados, à instituição municipal, estadual ou federal, de
Transferência de propriedade dos bens afetados
fins idênticos ou semelhantes.
Art. 64. Constituída a fundação por negócio jurídico entre
§ 1o Por cláusula do estatuto ou, no seu silêncio, por
vivos, o instituidor é obrigado a transferir-lhe a propriedade,
deliberação dos associados, podem estes, antes da destinação

UFRJ - FACC 14
DIREITO CIVIL – PARTE GERAL

ou outro direito real, sobre os bens dotados, e, se não o fizer, requererão que se dê ciência à minoria vencida para impugná-
serão registrados, em nome dela, por mandado judicial. la, se quiser, em dez dias.
Obrigação para o instituidor fazer a transmissão de
propriedade ou outro direito real para a fundação a ser Art. 69. Tornando-se ilícita, impossível ou inútil à finalidade a
criada. Caso o instituidor não faça essa transmissão os bens que visa a fundação, ou vencido o prazo de sua existência, o
afetados serão registrados no nome da fundação por mandato órgão do Ministério Público, ou qualquer interessado, lhe
judicial. promoverá a extinção, incorporando-se o seu patrimônio, salvo
disposição em contrário no ato constitutivo, ou no estatuto,
Elaboração dos estatutos da fundação em outra fundação, designada pelo juiz, que se proponha a fim
Art. 65. Aqueles a quem o instituidor cometer a aplicação do igual ou semelhante.
patrimônio, em tendo ciência do encargo, formularão logo, de Se houver previsão, o patrimônio deve seguir a
acordo com as suas bases (art. 62), o estatuto da fundação destinação prevista no ato de instituição (escritura pública ou
projetada, submetendo-o, em seguida, à aprovação da testamento) ou caso não esteja previsto, na forma que
autoridade competente, com recurso ao juiz. dispuser o estatuto da fundação. E se não houver previsão do
Parágrafo único. Se o estatuto não for elaborado no prazo ato de instituição nem no estatuto? O artigo determina que o
assinado pelo instituidor, ou, não havendo prazo, em cento e patrimônio da fundação extinta deve ser incorporado em
oitenta dias, a incumbência caberá ao Ministério Público. outra fundação, designada pelo juiz, que se proponha a fim
Os legitimados para a elaboração dos estatutos de igual ou semelhante.
uma fundação:
• As pessoas incumbidas pelo instituidor de TÍTULO III
aplicar os bens afetados na finalidade por ele especificada no Do Domicílio
ato da instituição. Noção de domicílio
• O Ministério Público na hipótese de o Art. 70. O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela
estatuto não ter sido elaborado no prazo previsto pelo estabelece a sua residência com ânimo definitivo.
instituidor, ou não o prevendo, no prazo de cento e oitenta É um ato de autonomia privada.
dias. Domicilio é o lugar em que a pessoa fixa o centro
Apesar de apresentada a elaboração do estatuto pode ocorrer principal de seus negócios e interesses.
do Ministério Público não aprovar o mesmo, neste caso os Classificação do Domicílio:
interessados poderão promover a ação cabível para obter o → Quanto a sua origem
provimento judicial. E dessa decisão do juiz de primeiro grau, • Voluntário – Estabelecido em virtude de manifestação
como obvio, cabe recurso para o Tribunal. de vontade da pessoa
• Necessário ou Legal – É o que decorre diretamente
Fiscalização das fundações. Atribuição do Ministério Público da lei; é o domicílio dos incapazes.
Art. 66. Velará pelas fundações o Ministério Público do Estado → Quanto a sua extensão
onde situadas. • Geral – É o domicílio voluntário ou legal que se destina
§ 1o Se funcionarem no Distrito Federal, ou em Território, aos atos da vida civil, que constitui o centro de negócios e
caberá o encargo ao Ministério Público Federal. interesses de uma pessoa.
§ 2o Se estenderem a atividade por mais de um Estado, • Profissional – É o lugar onde a pessoa exercita a sua
caberá o encargo, em cada um deles, ao respectivo Ministério profissão, em relação às relações concernentes à mesma.
Público. • Especial ou negocial – É aquele estabelecido em um
contrato para dirimir as questões dele decorrentes, ou ainda,
Alteração do estatuto da fundação. Requisitos para uma determinada relação jurídica, como o domicílio
Art. 67. Para que se possa alterar o estatuto da fundação é eleitoral.
mister que a reforma:
I - seja deliberada por dois terços dos competentes para Características do Domicílio: Temos um elemento material,
gerir e representar a fundação; objetivo, isto é, o estabelecimento de atividades ou residência
II - não contrarie ou desvirtue o fim desta; em um determinado lugar. O outro elemento é o subjetivo que
III - seja aprovada pelo órgão do Ministério Público, e, caso tem haver com o animus.
este a denegue, poderá o juiz supri-la, a requerimento do Sendo o domicílio uma manifestação de autonomia de
interessado. vontade, exige-se para sua eleição a capacidade da pessoa,
pois os incapazes não podem estabelecer domicílio voluntário,
Ciência da minoria. Impugnação já que seu domicílio decorre diretamente da lei.
Art. 68. Quando a alteração não houver sido aprovada por Podemos concluir que o domicílio de uma pessoa não
votação unânime, os administradores da fundação, ao será determinado só pela vontade da pessoa, se não vier
submeterem o estatuto ao órgão do Ministério Público,

UFRJ - FACC 15
DIREITO CIVIL – PARTE GERAL

acompanhado do elemento objetivo exigido pela lei, qual seja, Presume-se a mudança de domicílio, quando a pessoa
o estabelecimento da sua residência habitual. passa a concentrar seus negócios e interesse em lugar diverso
do originário. Não se exige para tanto, qualquer ato em
Natureza Jurídica do Domicílio: particular por parte do interessado na mudança. Diante da
i. Relação Jurídica presunção de que o domicílio muda com a transferência da
ii. Negócio Jurídico residência, podemos tirar duas conclusões:
iii. Ato jurídico em sentido estrito – Adotamos essa i. Se houve mudança de domicílio, sem, entretanto,
posição, tendo vista que não é fruto exclusivo da manifestação ter ocorrido simultaneamente a mudança de residência, em
de vontade, mas a voluntariedade na sua constituição ou na sua face da presunção de que no lugar da residência a pessoa tem
transferência deve adequar-se ao requisito previamente seu domicílio, cabe ao interessado o ônus de demonstrar a
previsto na lei, qual seja o estabelecimento de residência com transferência de domicílio.
animo definitivo. ii. Se houve mudança de domicílio juntamente com a
Diferença entre domicílio, residência e moradia: A diferença mudança de residência, nesse lugar presume-se o novo
entre eles está no conteúdo do elemento subjetivo, na domicílio da pessoa, cabendo ao terceiro o ônus de
diferença da finalidade do animus e na diferença do elemento demonstrar que o domicílio não foi transferido do lugar de
material. Moradia eventual na habitação; moradia permanente origem.
na residência e centro de sua vida jurídica no domicílio.
A pessoa pode, por exemplo, residir na cidade de Pessoa jurídica domicílio
Petrópolis e ter o centro de seus negócios e interesses na Art. 75. Quanto às pessoas jurídicas, o domicílio é:
cidade do Rio de Janeiro. Em Petrópolis, possui sua residência,I - da União, o Distrito Federal;
enquanto tem o domicílio no Rio de Janeiro. O que existe é II - dos Estados e Territórios, as respectivas capitais;
uma presunção de que onde a pessoa fixa sua residência tem o III - do Município, o lugar onde funcione a administração
seu domicílio. Cabe a própria pessoa demonstrar o contrário. municipal;
Presume-se que, quando se muda de residência, também se IV - das demais pessoas jurídicas, o lugar onde funcionarem
muda de domicílio, salvo prova em contrário por parte do as respectivas diretorias e administrações, ou onde elegerem
interessado. domicílio especial no seu estatuto ou atos constitutivos.
§ 1o Tendo a pessoa jurídica diversos estabelecimentos em
Multiplicidade de domicílios. Pessoa natural lugares diferentes, cada um deles será considerado domicílio
Art. 71. Se, porém, a pessoa natural tiver diversas para os atos nele praticados. Tal norma visa proteger os
residências, onde, alternadamente, viva, considerar-se-á terceiros que negociam com a pessoa jurídica.
domicílio seu qualquer delas. § 2o Se a administração, ou diretoria, tiver a sede no
estrangeiro, haver-se-á por domicílio da pessoa jurídica, no
tocante às obrigações contraídas por cada uma das suas
Domicílio Profissional agências, o lugar do estabelecimento, sito no Brasil, a que ela
Art. 72. É também domicílio da pessoa natural, quanto às corresponder.
relações concernentes à profissão, o lugar onde esta é
exercida. Domicílio necessário
Parágrafo único. Se a pessoa exercitar profissão em lugares Art. 76. Têm domicílio necessário o incapaz, o servidor
diversos, cada um deles constituirá domicílio para as relações público, o militar, o marítimo e o preso.
que lhe corresponderem. Parágrafo único. O domicílio do incapaz é o do seu
O domicílio diz respeito tão-somente às relações representante ou assistente; o do servidor público, o lugar em
jurídicas concernentes à profissão da pessoa natural. que exercer permanentemente suas funções; o do militar,
onde servir, e, sendo da Marinha ou da Aeronáutica, a sede do
Ausência de residência habitual comando a que se encontrar imediatamente subordinado; o do
Art. 73. Ter-se-á por domicílio da pessoa natural, que não marítimo, onde o navio estiver matriculado; e o do preso, o
tenha residência habitual, o lugar onde for encontrada. lugar em que cumprir a sentença.
Pode acontecer de se tratando de menor os seus pais
Mudança de domicílio tenham se separado judicialmente, o seu domicílio neste caso
Art. 74. Muda-se o domicílio, transferindo a residência, com a será o do genitor com que ele esteja vivendo, isto é, aquele
intenção manifesta de o mudar. que detém a guarda deste menor. É obvio que só há de se
Parágrafo único. A prova da intenção resultará do que imputar o domicílio do menor como o do seu genitor, se este
declarar a pessoa às municipalidades dos lugares, que deixa, e estiver em pleno exercício do poder familiar.
para onde vai, ou, se tais declarações não fizer, da própria
mudança, com as circunstâncias que a acompanharem.

UFRJ - FACC 16
DIREITO CIVIL – PARTE GERAL

Agente diplomático ao estatuto das coisas imóveis, quando incorporados ao solo,


Art. 77. O agente diplomático do Brasil, que, citado no trata-os como se fossem imóveis.
estrangeiro, alegar extraterritorialidade sem designar onde → Imóveis por acessão intelectual ou por destinação do
tem, no país, o seu domicílio, poderá ser demandado no proprietário, tudo quanto no imóvel o proprietário mantiver
Distrito Federal ou no último ponto do território brasileiro intencionalmente empregado em sua exploração industrial,
onde o teve. aformoseamento ou comodidade, não mais foi prevista no NCC.
Essa hipótese é tratada agora no artigo 93 ao tratar das
Domicílio negocial ou contratual pertenças: Art. 93. São pertenças os bens que, não
Art. 78. Nos contratos escritos, poderão os contratantes constituindo partes integrantes, se destinam, de modo
especificar domicílio onde se exercitem e cumpram os direitos duradouro, ao uso, ao serviço ou ao aformoseamento de outro.
e obrigações deles resultantes. Mas isso não indica que sejam considerados imóveis por
Requisitos do domicílio negocial ou contratual: acessão intelectual, ao contrário o tratamento dado às
i. Adote a forma escrita, não é necessário que seja pertenças é de acessório que não segue o principal como deixa
por escritura pública. claro o artigo 94, salvo se expressamente previsto no negócio
ii. Tem que ser expresso tem que ser realizado com jurídico ou nas circunstancias do caso.
a concordância de ambas as partes, e não fruto da vontade Art. 94. Os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem
unilateral de qualquer delas. principal não abrangem as pertenças, salvo se o contrário
→ Este domicílio visa determinar onde se realizarão e resultar da lei, da manifestação de vontade, ou das
cumprirão os direitos e obrigações resultantes do contrato. circunstâncias do caso.
Caso não haja acordo sobre o foro se aplica a regra do artigo Regime jurídico dos imóveis – OS bens moveis
327 do Código Civil. recebem do Direito Pátrio um tratamento mais protetivo do
Art. 327. Efetuar-se-á o pagamento no domicílio do devedor, que o dado aos bens moveis, como em diversas partes do
salvo se as partes convencionarem diversamente, ou se o código deixa isso claro.
contrário resultar da lei, da natureza da obrigação ou das
circunstâncias. Imóveis. Por definição legal
Parágrafo único. Designados dois ou mais lugares, cabe ao Art. 80. Consideram-se imóveis para os efeitos legais:
credor escolher entre eles. I - os direitos reais sobre imóveis e as ações que os
Art. 328. Se o pagamento consistir na tradição de um imóvel, asseguram;
ou em prestações relativas a imóvel, far-se-á no lugar onde II - o direito à sucessão aberta.
situado o bem. • Imóveis por definição legal
▪ Usufruto, o uso, habitação, a
enfiteuse, a anticrese, a servidão predial, inclusive o penhor
LIVRO II agrícola, e as ações que os asseguram.
DOS BENS ▪ As apólices da divida pública
TÍTULO ÚNICO oneradas com a cláusula de inalienabilidade.
Das Diferentes Classes de Bens ▪ O direito à sucessão aberta.
CAPÍTULO I
Dos Bens Considerados em Si Mesmos Imobilização de determinados bens
Seção I Art. 81. Não perdem o caráter de imóveis:
Dos Bens Imóveis I - as edificações que, separadas do solo, mas conservando a
Imóveis. Noção sua unidade, forem removidas para outro local;
Art. 79. São bens imóveis o solo e tudo quanto se lhe II - os materiais provisoriamente separados de um prédio,
incorporar natural ou artificialmente. para nele se reempregarem.
O Novo Código Civil faz a seguinte classificação de Observe-se que a norma leva em conta a intenção do
bens imóveis: proprietário, no sentido de reempregar os bens descritos no
• Por natureza – O solo com a sua superfície, os seus imóvel, pois, se não tiver essa intenção os referidos bens
acessórios e adjacências naturais, compreendendo as arvores serão moveis como deixa claro o artigo 84 deste código.
e frutos pendentes, o espaço aéreo e o subsolo.
• Por acessão física – Tudo quanto o homem incorporar Seção II
permanente ao solo, como a semente lançada a terra, os Dos Bens Móveis
edifícios e construções, de modo que se não possa retirar sem Noção de bem móvel
destruição, modificação, fratura ou dano. Nos temos aqui uma Art. 82. São móveis os bens suscetíveis de movimento próprio,
ficção, pois como é obvio as sementes e os materiais de ou de remoção por força alheia, sem alteração da substância
construção são coisas moveis, mas a lei, a fim de submetê-los ou da destinação econômico-social.
Temos aqui duas espécies de bens móveis:

UFRJ - FACC 17
DIREITO CIVIL – PARTE GERAL

• Semoventes – São os animais, se movem por Varias são as normas que tomam por base essa
força própria. classificação:
• Moveis propriamente ditos – São as coisas i. Mútuo é empréstimo de coisas fungíveis, e, como
inanimadas que podem se transferir de um lugar para o outro conseqüência, o mutuário é obrigado a restituir ao mutuante o
sem dano. que dele recebeu em coisa do mesmo gênero, qualidade e
Obs. Temos ainda os moveis por antecipação que são aqueles quantidade, artigo 586 do Código Civil.
que estão naturalmente incorporados ao imóvel, como as ii. O depósito de coisas fungíveis, em que o
arvores, por exemplo, mas se destinam à alienação. É o caso de depositário se obrigue a restituir objetos do mesmo gênero,
arvores para corte de lenha. qualidade e quantidade, regular-se-á pelo disposto acerca do
Obs. Os moveis por determinação legal estão previstos no mútuo, artigo 645 do Código Civil.
artigo 83. iii. Compensação efetua-se entre dívidas liquidas,
vencidas e de coisas fungíveis, artigo 369 do Código Civil.
Moveis por determinação legal
Art. 83. Consideram-se móveis para os efeitos legais: Bem consumível. Noção
I - as energias que tenham valor econômico; Art. 86. São consumíveis os bens móveis cujo uso importa
II - os direitos reais sobre objetos móveis e as ações destruição imediata da própria substância, sendo também
correspondentes; considerados tais os destinados à alienação.
III - os direitos pessoais de caráter patrimonial e respectivas Duas são as espécies de bens consumíveis:
ações. • Consumíveis propriamente ditos – São os
alimentos, dinheiro...
Moveis por natureza. Materiais de construção • Consumíveis por destinação – São os livros
Art. 84. Os materiais destinados a alguma construção, em uma livraria, que são bens naturalmente inconsumíveis,
enquanto não forem empregados, conservam sua qualidade de visto que o seu uso não importa a destruição, mas são assim
móveis; readquirem essa qualidade os provenientes da considerados pelo Direito em face do seu destino para a
demolição de algum prédio. alienação.
Aqui nos temos que vale a vontade do proprietário, → Bens inconsumíveis são aqueles cujo uso não importa
exigindo-se que não tenha ele a intenção de reempregar os destruição imediata da própria substancia, como, por exemplo,
materiais de construção no imóvel. Efetivamente se tiver a o automóvel, o livro, a mesa etc.
intenção de reempregá-los no imóvel, incide a regra do artigo Normalmente os bens fungíveis são consumíveis, como
81, não perdendo os materiais de construção o caráter de é o caso dos alimentos, do dinheiro. Mas podemos ter bens
imóveis. Concluindo: fungíveis que são inconsumíveis, por exemplo, certos produtos
i. Os materiais de construção como tijolos, janelas produzidos em sério, como livros, carros etc.
e etc., quando separados de um prédio, podem, do ponto de
vista jurídico receber o tratamento dado às coisas moveis ou
imóveis; Seção IV
ii. Serão regidos pelo estatuto das coisas imóveis, Dos Bens Divisíveis
se o proprietário manifestar a intenção de reerguer o prédio; Bens divisíveis. Noção
iii. Serão regidos pelo estatuto das coisas moveis, se Art. 87. Bens divisíveis são os que se podem fracionar sem
não houver essa intenção. alteração na sua substância, diminuição considerável de valor,
ou prejuízo do uso a que se destinam.

Seção III Espécie de bens indivisíveis


Dos Bens Fungíveis e Consumíveis Art. 88. Os bens naturalmente divisíveis podem tornar-se
Bem fungível. Noção indivisíveis por determinação da lei ou por vontade das partes.
Art. 85. São fungíveis os móveis que podem substituir-se por O nosso código estabelece três modalidades de bens
outros da mesma espécie, qualidade e quantidade. indivisíveis:
Fungíveis são os que podem ser substituídos e não- i. Material – Coisas que não podem se partir sem
fungíveis os que não podem substituir-se por outros da mesma alteração da sua substancia. É o caso de um animal, um cavalo,
espécie, qualidade e quantidade. Essa diferença toma por exemplo.
importância no caso de destruição da coisa, pois, se for bem ii. Legal – Refere-se às coisas que embora
fungível, pode ser substituído por outro da mesma espécie, naturalmente divisíveis, se consideram indivisíveis por
qualidade e quantidade. Já se for infungível, como não pode determinação legal. Assim, as ações de uma Sociedade
ser substituído por outro da mesma espécie, deságua na Anônima.
indenização pelo seu valor.

UFRJ - FACC 18
DIREITO CIVIL – PARTE GERAL

iii. Convencional - Prende-se as coisas que embora o Líquido – Sentido mais estrito de patrimônio
naturalmente divisíveis, se consideração indivisíveis por é a soma dos direitos depois de abatidas às dívidas. E desta
convenção das partes. noção que se retira à noção de insolvência.
Conteúdo do Patrimônio: Neste se incluem tanto os bens
Seção V materiais como imateriais. Não são os bens moveis e imóveis
Dos Bens Singulares e Coletivos que fazem parte do patrimônio, mas sim os direitos sobre os
Bens singulares. Noção mesmos que constituem o conteúdo do patrimônio. Só fazem
Art. 89. São singulares os bens que, embora reunidos, se parte do patrimônio as relações jurídicas de cunho
consideram de per si, independentemente dos demais. patrimonial, isto é, de avaliação pecuniária. Não se exige que
Singulares quando, embora reunidas, se consideram se trate de direitos adquiridos, uma vez que também integram
per si se, independentemente das demais. Coletivas ou o patrimônio os direitos em formação, como por exemplo, os
universais quando se encaram agregadas em todo. direitos sob condição suspensiva, o direito de aceitar a oferta
de um contrato, o direito de adquirir por usucapião.
Considerações acerca do patrimônio:
Universalidade de fato • Não integram o patrimônio o potencial de
Art. 90. Constitui universalidade de fato a pluralidade de bens trabalho de uma pessoa, mas evidentemente que os salários
singulares que, pertinentes à mesma pessoa, tenham integram;
destinação unitária. • Certas oportunidades ou expectativas, como
Parágrafo único. Os bens que formam essa universalidade por exemplo, vir a ser herdeiro de um parente rico, não
podem ser objeto de relações jurídicas próprias. integram o patrimônio;
A universalidade é constituída de bens singulares que • Também não se incluem o patrimônio as
possuem uma destinação unitária, exemplo é uma biblioteca. relações jurídicas de caráter pessoal ou familiar;
→ Para a consideração de patrimônio não importa a forma pelo
Universalidade de direito qual esses direitos foram adquiridos, quer dizer, se foram
Art. 91. Constitui universalidade de direito o complexo de obtidos licita ou ilicitamente.
relações jurídicas, de uma pessoa, dotadas de valor Característica do Patrimônio:
econômico. • Legalidade – Ele não é uma realidade fática,
Assim, o patrimônio, a herança, a massa falida etc. mas sim uma construção jurídica.
Vamos tecer breves comentários sobre o Patrimônio, • Unidade – O patrimônio é um todo lógico que
uma vez que este tem grande relevância jurídica, o patrimônio possibilita apreender a pluralidade de relações ativas e
é o complexo de relações jurídicas de uma pessoa, dotado de passivas.
valor econômico. Nos temos duas acepções para patrimônio: • Plasticidade – O patrimônio no decorrer de
• Global – Constitui-se de todas as relações jurídicas sua vida aumenta ou diminui, é dotado de plasticidade.
de uma pessoa jurídica, inclui-se tanto os direitos, os • Intransmissibilidade – É possível a alienação
créditos, como as obrigações, os débitos, mas deve se lembrar dos bens que integram o patrimônio, mas não a sua alienação,
que só entram as relações jurídicas de cunho patrimonial ou de enquanto patrimônio, tomado na sua unidade, pelo em princípio
avaliação econômica. É dessa noção de patrimônio que o nos atos inter vivos. Aqui surge a primeira objeção uma vez
Direito se vale para afirmar que com a morte da pessoa seu que a lei diz que no casso de sucessão mortis causa transmite-
patrimônio se transmite aos herdeiros, pois os herdeiros não se aos herdeiros todo o patrimônio do de cujus. Na penhora
sucedem somente nos créditos do de cujus, mas nas suas nos não a temos recaindo sobre o patrimônio em si, mas sobre
relações jurídicas de cunho patrimonial, quer naquelas em que os bens que o compõem. Mas a própria lei traz algumas
ele assumia uma posição jurídica ativa, quer nas em que hipóteses em que se transmite o patrimônio por ato inter
assumia uma posição jurídica passiva. Afinal, a morte não é vivos, trata-se dos casos de incorporação e fusão previstos na
causa de extinção de obrigações, salvo nas obrigações lei das sociedades anônimas.
personalíssimas. → O patrimônio tem como função primordial servir de
• Ativo – Admite uma subdivisão: garantia aos credores do seu titular.
o Bruto – Diz respeito a todas as relações Art. 391. Pelo inadimplemento das obrigações respondem
jurídicas em que o sujeito assume uma posição jurídica ativa. todos os bens do devedor. Esse artigo deve ser interpretado
Nesta está o ativo global da pessoa. É a soma de todos os restritivamente, uma vez que o ordenamento jurídico traz
direitos de cunho econômico de uma pessoa. Nessa noção, casos em que os bens não são respondem:
abstrai-se o lado passivo do patrimônio, as dividas. Alguns Art. 648. Não estão sujeitos à execução os bens que a lei
autores incluem na noção de patrimônio bruto os débitos. É considera impenhoráveis ou inalienáveis.
dessa noção que o direito diz que o patrimônio de uma pessoa Art. 649. São absolutamente impenhoráveis:
responde por suas dívidas. I - os bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário,
não sujeitos à execução;

UFRJ - FACC 19
DIREITO CIVIL – PARTE GERAL

II - as provisões de alimento e de combustível, necessárias à resultar da lei, da manifestação de vontade, ou das


manutenção do devedor e de sua família durante 1 (um) mês; circunstâncias do caso.
III - o anel nupcial e os retratos de família; Exemplo de casos em que as pertenças abrangem o
IV - os vencimentos dos magistrados, dos professores e dos bem principal:
funcionários públicos, o soldo e os salários, salvo para Art. 1.712. O bem de família consistirá em prédio residencial
pagamento de prestação alimentícia; urbano ou rural, com suas pertenças e acessórios,
V - os equipamentos dos militares; destinando-se em ambos os casos a domicílio familiar, e
Vl - os livros, as máquinas, os utensílios e os instrumentos, poderá abranger valores mobiliários, cuja renda será aplicada
necessários ou úteis ao exercício de qualquer profissão; na conservação do imóvel e no sustento da família.
Vll - as pensões, as tenças ou os montepios, percebidos dos
cofres públicos, ou de institutos de previdência, bem como os Frutos e produtos
provenientes de liberalidade de terceiro, quando destinados Art. 95. Apesar de ainda não separados do bem principal, os
ao sustento do devedor ou da sua família; frutos e produtos podem ser objeto de negócio jurídico.
Vlll - os materiais necessários para obras em andamento, salvo Frutos são os bens provenientes, periodicamente, de
se estas forem penhoradas; outro bem, sem lhe alterar a substancia. Classificação dos
IX - o seguro de vida; frutos:
X - o imóvel rural, até um modulo, desde que este seja o único - Origem
de que disponha o devedor, ressalvada a hipoteca para fins de • Naturais – Surgem da força orgânica do bem, sem a
financiamento agropecuário. (Inciso acrescentado pela Lei intervenção do homem. Ex. Leite advindo da cria dos animais.
nº 7.513, de 9.7.1986) • Industriais – Resultam da intervenção do homem,
Art. 650. Podem ser penhorados, à falta de outros bens: como o cultivo de terras, os frutos...
I - os frutos e os rendimentos dos bens inalienáveis, salvo se • Civis – Provenientes do uso e gozo da coisa concedida
destinados a alimentos de incapazes, bem como de mulher a outro, rendimentos obtidos com a utilização da coisa por
viúva, solteira, desquitada, ou de pessoas idosas; outrem, exemplo é o aluguel.
II - as imagens e os objetos do culto religioso, sendo de - Vinculação com o bem principal
grande valor. • Pendentes – Ainda se encontram unidos ao bem que
produziu
• Percebidos ou colhidos – Se encontram separados do
CAPÍTULO II bem que os produziu, dizem respeito tanto aos bens civis
Dos Bens Reciprocamente Considerados quanto aos industriais.
Bem principal e acessório. Noção • Estantes – Se encontram separados do bem que os
Art. 92. Principal é o bem que existe sobre si, abstrata ou produziu, mas se encontram ainda armazenados em depósito
concretamente; acessório, aquele cuja existência supõe a do para venda.
principal. • Percipiendos – Deveriam ter sido percebidos, mas não
Temos a máxima de que o acessório segue a sorte do foram.
principal. • Consumidos – Já foram utilizados pelo possuidor.

Pertenças. Noção Características dos frutos:


Art. 93. São pertenças os bens que, não constituindo partes o Periodicidade
integrantes, se destinam, de modo duradouro, ao uso, ao o Conservação da substancia da coisa principal
serviço ou ao aformoseamento de outro. o Observância do destino da coisa
Coisas que tem por destino servir de modo o Acessoriedade
permanente à finalidade econômica de outro bem, isto é, que o Separabilidade
têm uma função auxiliar do bem a que se destinam. Produtos – São as utilidades que se retiram de um bem,
Características: diminuindo-lhe a quantidade, porque, diversamente dos frutos,
i. Serem coisas moveis não se reproduzem periodicidade.
ii. Não constituírem partes integrantes A diferença entre frutos e produtos reside exatamente no
iii. Ter adequada relação espacial com o bem caráter da periodicidade dos frutos, que não existe nos
principal produtos, os quais com a sua extração diminuem a quantidade
iv. Possuírem destino duradouro do bem principal.

Independência do bem principal em relação às pertenças Benfeitorias. Voluptuárias, úteis e necessárias


Art. 94. Os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem Art. 96. As benfeitorias podem ser voluptuárias, úteis ou
principal não abrangem as pertenças, salvo se o contrário necessárias.

UFRJ - FACC 20
DIREITO CIVIL – PARTE GERAL

§ 1o São voluptuárias as de mero deleite ou recreio, que não Art. 454. Se as benfeitorias abonadas ao que sofreu a evicção
aumentam o uso habitual do bem, ainda que o tornem mais tiverem sido feitas pelo alienante, o valor delas será levado
agradável ou sejam de elevado valor. em conta na restituição devida.
§ 2o São úteis as que aumentam ou facilitam o uso do bem. Art. 578. Salvo disposição em contrário, o locatário goza do
§ 3o São necessárias as que têm por fim conservar o bem ou direito de retenção, no caso de benfeitorias necessárias, ou
evitar que se deteriore. no de benfeitorias úteis, se estas houverem sido feitas com
Benfeitorias são as obras ou despesas que se fazem expresso consentimento do locador.
num móvel ou num imóvel, para conservá-lo, melhorá-lo ou
simplesmente, embelezá-lo. Melhoramentos sem intervenção do proprietário
Relevância jurídica das benfeitorias – A finalidade e, Art. 97. Não se consideram benfeitorias os melhoramentos ou
se classificar as benfeitorias é que o ordenamento jurídico acréscimos sobrevindos ao bem sem a intervenção do
atribui-lhes efeitos diversos conforme a sua natureza, proprietário, possuidor ou detentor.
vejamos: As benfeitorias devem provir de melhoramentos
• Âmbito do direito de família: efetuados pela intervenção do homem.
Art. 1.660. Entram na comunhão:
IV - as benfeitorias em bens particulares de cada cônjuge;
• Efeitos da posse: CAPÍTULO III
Art. 1.219. O possuidor de boa-fé tem direito à indenização Dos Bens Públicos
das benfeitorias necessárias e úteis, bem como, quanto às Bens públicos. Bens particulares
voluptuárias, se não lhe forem pagas, a levantá-las, quando o Art. 98. São públicos os bens do domínio nacional
puder sem detrimento da coisa, e poderá exercer o direito de pertencentes às pessoas jurídicas de direito público interno;
retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis. todos os outros são particulares, seja qual for a pessoa a que
Art. 1.220. Ao possuidor de má-fé serão ressarcidas somente pertencerem.
as benfeitorias necessárias; não lhe assiste o direito de O estado não possui com relação aos bens públicos, o
retenção pela importância destas, nem o de levantar as poder de usá-los com exclusividade, visto que seu uso é comum
voluptuárias. a todos, nem possui a faculdade de dispor deles como
Art. 1.221. As benfeitorias compensam-se com os danos, e só particular em relação aos bens que dos quais é titular.
obrigam ao ressarcimento se ao tempo da evicção ainda Os bens dominicais se apresentam um estado aos
existirem. bens particulares, podendo ser alienados mediante
Art. 1.222. O reivindicante, obrigado a indenizar as determinadas condições.
benfeitorias ao possuidor de má-fé, tem o direito de optar Afetação – Instituto do direito administrativo mediante o
entre o seu valor atual e o seu custo; ao possuidor de boa-fé qual o Estado, de maneira solene, declara que o bem é parte
indenizará pelo valor atual. integrante do domínio público. É a destinação da coisa ao uso
• Em relação as deveres e direitos do público.
condomínio: Desafetação – A operação inversa da acima é o fato ou
Art. 1.322. Quando a coisa for indivisível, e os consortes não manifestação do poder público mediante o qual o bem público
quiserem adjudicá-la a um só, indenizando os outros, será é subtraído à dominialidade estatal para incorporar-se ao
vendida e repartido o apurado, preferindo-se, na venda, em domínio privado do Estado ou do particular.
condições iguais de oferta, o condômino ao estranho, e entre Ambos os institutos acima podem ser dar de forma
os condôminos aquele que tiver na coisa benfeitorias mais expressa ou tácita, o que é inaceitável é a desafetação pelo
valiosas, e, não as havendo, o de quinhão maior. não-uso, ainda que prolongado.
Parágrafo único. Se nenhum dos condôminos tem benfeitorias
na coisa comum e participam todos do condomínio em partes Bens de uso comum. Bens de uso especial. Bens dominicais
iguais, realizar-se-á licitação entre estranhos e, antes de Art. 99. São bens públicos:
adjudicada a coisa àquele que ofereceu maior lanço, proceder- I - os de uso comum do povo, tais como rios, mares, estradas,
se-á à licitação entre os condôminos, a fim de que a coisa seja ruas e praças;
adjudicada a quem afinal oferecer melhor lanço, preferindo, II - os de uso especial, tais como edifícios ou terrenos
em condições iguais, o condômino ao estranho. destinados a serviço ou estabelecimento da administração
• Direito Obrigacional → Na evicção ao prever federal, estadual, territorial ou municipal, inclusive os de suas
que as benfeitorias necessárias ou úteis, não abonadas ao que autarquias;
sofreu evicção, serão pagas pelo alienante, artigo 453 do III - os dominicais, que constituem o patrimônio das pessoas
Código Civil. jurídicas de direito público, como objeto de direito pessoal, ou
Art. 453. As benfeitorias necessárias ou úteis, não abonadas real, de cada uma dessas entidades.
ao que sofreu a evicção, serão pagas pelo alienante. Parágrafo único. Não dispondo a lei em contrário, consideram-
se dominicais os bens pertencentes às pessoas jurídicas de

UFRJ - FACC 21
DIREITO CIVIL – PARTE GERAL

direito público a que se tenha dado estrutura de direito • O testamento antes da morte do testador é
privado. um testamento válido, mas ineficaz; igualmente o negócio
Bens de uso especial e de uso comum possuem jurídico sob condição suspensiva é negócio jurídico válido, mas
determinadas características: igualmente ineficaz.
• Inalienabilidade – Não impede que o estado Elementos do Negócio Jurídico:
venda os frutos provenientes desses bens. i. Manifestação de vontade – Exteriorização da vontade
• Imprescritibilidade – Os bens públicos não das partes.
podem ser usucapidos. ii. Sujeitos – Podemos ter um só sujeito nos negócios
• Uso gratuito unilaterais. Os sujeitos do negocio jurídico podem ser pessoas
físicas ou naturais e jurídicas ou coletivas. Exige-se que o
Bens dominicais. Alienação sujeito que celebra um negocio jurídico um requisito para a
Art. 100. Os bens públicos de uso comum do povo e os de uso validade do mesmo, qual seja a capacidade de exercício ou
especial são inalienáveis, enquanto conservarem a sua capacidade negocial, também denominada capacidade de fato.
qualificação, na forma que a lei determinar. Vale lembrar que através da emancipação a pessoa pode
possuir capacidade negocial antes dos dezoito anos. A falta de
Bens públicos. Usucapião. Inadmissibilidade capacidade do sujeito pode acarretar duas coisas:
Art. 101. Os bens públicos dominicais podem ser alienados, a. Nulidade absoluta se o negocio for celebrado
observadas as exigências da lei. por absolutamente incapaz.
b. Anulável se o negocio for celebrado por
Bens públicos. Uso gratuito ou retribuído pessoa relativamente incapaz.
Art. 102. Os bens públicos não estão sujeitos a usucapião. iii. Objeto – Podem ser fatos ou os bens, o objeto tem
que apresentar os seguintes requisitos:
Bens públicos. Uso gratuito ou retribuído a. Possibilidade – A possibilidade material ou
Art. 103. O uso comum dos bens públicos pode ser gratuito ou jurídica.
retribuído, conforme for estabelecido legalmente pela b. Licitude – O ato tem que ser lícito, o artigo
entidade a cuja administração pertencerem. 166, II diz que é nulo o ato jurídico quando for ilícito o seu
objeto. Vale ressaltar que não somente os casos de ilicitude
propriamente dita, como também os casos em que o
LIVRO III ordenamento jurídico inadmite a realização de negócios
Dos Fatos Jurídicos jurídicos sobre determinados objetos. O artigo 166, II
TÍTULO I abrange:
Do Negócio Jurídico i.Os juridicamente impossíveis – Coisas que estão fora do
CAPÍTULO I comércio, assim o bem de família convencional não pode ser
Disposições Gerais objeto de negocio jurídico; bens públicos de uso comum do
Elementos do negócio jurídico povo; bens gravados com a clausula de inalienabilidade,
Art. 104. A validade do negócio jurídico requer: incomunicabilidade e impenhorabilidade. Art. 426. Não pode
I - agente capaz; ser objeto de contrato a herança de pessoa viva.
II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável; ii.Os lícitos propriamente ditos – Venda de maconha.
III - forma prescrita ou não defesa em lei. iii.Os contrários aos bons costumes
Negócio jurídico é o ato através do qual osiv.Os contrários à boa-fé
particulares regulamentam seus interesses, estabelecendo v.Os que prejudiquem a terceiros
preceitos ou regras jurídicas, nas suas relações com os outros O Código admite que o objeto seja indeterminado, desde que
planos. se possa determinar. O objeto deve ser determinado no
O plano de validade pressupõe o da existência. Só momento da execução da obrigação, podendo ser
podemos discutir se um negócio é válido ou inválido, se o indeterminado, quando da formação do vínculo obrigacional,
temos como existente. Pressupostos de validade: desde que seja possível sua determinação, quando do
i. Aos sujeitos que o celebram cumprimento. O objeto deve ser determinável sob pena de
ii. Ao seu objeto nulidade.
iii. À sua forma Patrimoniabilidade – O objeto do contrato deve possuir
Devemos considerar que o plano da validade não está significado econômico. Alguns autores não colocam como
necessariamente vinculado ao plano da eficácia. Existe negócio requisito do objeto do negocio jurídico.
jurídico válido, que pode ser eficaz ou ineficaz. Exemplos: iv. Forma – Meio pelo qual se manifesta à vontade. O ato
• Casamento de pessoas maiores, capazes e tem que ter a forma prescrita ou não defesa em lei.
desimpedidas, é um negócio jurídico válido e eficaz. Mas o
casamento putativo é um casamento nulo, porém eficaz. Incapacidade relativa. Exceção pessoal

UFRJ - FACC 22
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Art. 105. A incapacidade relativa de uma das partes não pode Art. 110. A manifestação de vontade subsiste ainda que o seu
ser invocada pela outra em benefício próprio, nem aproveita autor haja feito a reserva mental de não querer o que
aos co-interessados capazes, salvo se, neste caso, for manifestou, salvo se dela o destinatário tinha conhecimento.
indivisível o objeto do direito ou da obrigação comum. A divergência entre a vontade interna e a declaração
A incapacidade relativa esta elencada entre as causas de vontade é chamada como declaração de vontade
de anulabilidade do negócio jurídico como se pode verificar no imperfeita. Temos duas correntes sobre o tema:
inciso I do artigo 171. Como é caso de anulabilidade não se • Corrente dos Voluntaristas – Deve
trata de ofensa à ordem pública. prevalecer sempre à vontade interna.
• Corrente Objetiva – Deve prevalecer à
Impossibilidade inicial e relativa declaração sobre a vontade íntima.
Art. 106. A impossibilidade inicial do objeto não invalida o → A melhor solução é a conjugação dessas duas correntes.
negócio jurídico se for relativa, ou se cessar antes de Uma vez que a adoção incondicionada de qualquer das duas
realizada a condição a que ele estiver subordinado. posições de forma isolada levaria a injustiça e a insegurança
A impossibilidade pode ser originaria ou inicial ou social.
superveniente. A impossibilidade pode ser ainda relativa ou Da combinação dos princípios da confiança e da auto-
absoluta. A impossibilidade também pode ser permanente ou responsabilidade podemos concluir que o declarante fica
temporária. vinculado à declaração emitida como se a vontade declarada
A impossibilidade para frustrar o negócio jurídico há coincidisse com a vontade interna, se a divergência entre a
de ser absoluta e não simplesmente relativa. vontade interna e a vontade declarada puder ser atribuída à
A possibilidade do objeto deve existir no momento da negligencia do autor da declaração, isto é, se ele poderia ter
execução do negocio jurídico, isto é no momento do evitado, usando da diligencia comum que exigia as
cumprimento da obrigação. O tratamento aqui é diverso da circunstancias concretas do caso, e, como conseqüência, os
capacidade do sujeito que deve existir no momento da destinatários acreditaram, razoavelmente, em seu valor e
formação do negócio jurídico. eficácia.
Conclui-se que a impossibilidade para determinar a Art. 112. Nas declarações de vontade se atenderá mais à
nulidade do negócio jurídico deve ser originária, absoluta e intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da
permanente. linguagem. Esse artigo demonstra que nos buscamos a
conciliação entre a vontade interna e a declaração de vontade.
Negocio jurídico. Liberdade de forma E é assim por dois motivos:
Art. 107. A validade da declaração de vontade não dependerá i. Dificuldade de se analisar o verdadeiro conteúdo
de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir. da vontade de foro íntimo da pessoa.
O negocio jurídico pode ser verbal ou escrita, esta ii. Tal pesquisa implicaria grande insegurança social,
por sua vez pode ser por instrumento público ou particular. podendo a qualquer momento os negócios jurídicos serem
anulados por não corresponderem à vontade interna do
Forma essencial. Escritura pública. Casos declarante.
Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública
é essencial à validade dos negócios jurídicos que visem à Silêncio. Efeitos
constituição, transferência, modificação ou renúncia de Art. 111. O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias
direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes ou os usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de
o maior salário mínimo vigente no País. vontade expressa.
A escritura pública tem por finalidade dar maior Em relação ao silêncio como manifestação de vontade,
publicidade ao negócio realizado, bem como proteger a nos temos três correntes:
manifestação de vontade das partes. 1. Corrente – Deve prevalecer o princípio de quem cala
consente.
Negocio jurídico. Forma essencial 2. Corrente- Quem cala nem afirma e nem nega.
Art. 109. No negócio jurídico celebrado com a cláusula de não 3. Corrente – Reconhece o silêncio como manifestação
valer sem instrumento público, este é da substância do ato. de vontade, desde que atendidos os seguintes requisitos:
A forma é elemento essencial para a validade do a. A relação jurídica travada entre duas
negócio jurídico, nos termos do inciso III do artigo 104, como pessoas seja daquela em que normalmente se manifesta
conseqüência, o seu não atendimento leva à nulidade do expressamente.
negócio celebrado nos termos do artigo 166, IV do Código b. Que o sujeito tenha podido se manifestar e
Civil. não o fez.
c. Atendendo-se sempre ao princípio da boa-fé.
Reserva mental Na visão do Leoni cabe estabelecer a regra geral de que o
silêncio não significa manifestação de vontade, tampouco

UFRJ - FACC 23
DIREITO CIVIL – PARTE GERAL

consentimento. O silêncio para ser considerado como do mesmo no sentido de tentar dar mais efeito ao negócio
manifestação de vontade, deve atender aos seguintes jurídico.
requisitos: Elementos de interpretação do negócio jurídico:
a. Que diante das circunstancias e dos usos do local a. Gramatical
onde foi celebrado o negócio jurídico se conclua esse efeito b. Sistemático
(anuência) do silêncio. c. Histórico
b. Que na hipótese não seja exigida para a validade do d. Finalístico
negócio celebrado a declaração de vontade expressa. Interpretação segundo o negócio jurídico:
a. Autentica – Feita pelas próprias partes.
Interpretação dos negócios jurídicos b. Judicial – Efetuado pelo juiz no caso concreto, vincula
Art. 112. Nas declarações de vontade se atenderá mais à as partes no caso concreto.
intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da c. Doutrinária – Não vincula as partes.
linguagem.
Interpretação do negócio jurídico é o processo Boa-fé objetiva
através do qual se procura determinar os efeitos dos Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados
preceitos ou regras jurídicas estabelecidas pelas partes em conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração.
determinado negócio jurídico. A boa-fé pode ser enfocada em dois pontos:
É através da interpretação do negócio jurídico que se • Subjetivo – Procura-se indagar sobre a
irão conhecer seus verdadeiros efeitos. intenção do sujeito com a conduta praticada no comércio
Na interpretação das normas o interprete limita-se a jurídico. Você vê o estado psicológico do sujeito que pratica o
libertar-se das duvidas e obscuridade porventura nela ato no tráfico, isto quer dizer, se agiu efetivamente movido
contidas, e, como conseqüência, procede a uma interpretação por erro ou na crença de estar em conformidade com o
objetiva, diferente da tarefa do interprete do negócio ordenamento jurídico.
jurídico que visa alem de eliminar procurar evitar as dúvidas e • Objetivo – Você também procura verificar a
obscuridades do negócio jurídico, ele deverá procurar a conduta do agente, mas levando em conta, agora, se ela se
vontade das partes contratantes, sendo portanto uma ajusta às regras normalmente admitidas segundo os princípios
interpretação tanto subjetiva quanto objetiva. da honestidade e da retidão do agir. É um critério de
A interpretação da lei procura desvendar o alcance valoração objetiva para julgar se uma conduta alcança o tipo
de normas e preceitos abstratos, a interpretação do negócio exigível.
jurídico busca o alcance e os efeitos dos preceitos e regra Obs. Como corolário máximo da boa-fé temos que interpretar
concretas estabelecidas pela parte no negócio jurídico. às clausulas obscuras de um negocio jurídico contra a parte
Embora nos tenhamos algumas diferenças entre a que deu margem a obscuridade.
interpretação da lei e a do negocio jurídico, não se tem como → O artigo 113 deve ser interpretado conjuntamente com os
negar que os mesmos têm estreita analogia entre a três artigos abaixo:
interpretação das normas e do negócio jurídico. Art. 112. Nas declarações de vontade se atenderá mais à
A interpretação do negócio jurídico tem por intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da
finalidade reconstruir o pensamento e a vontade das partes, a linguagem.
fim atribuir sentido às declarações do contratante. Nesse Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito
sentido a interpretação tem por finalidade indagar a concreta que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos
intenção dos contratantes e também a tarefa de atribuição de pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons
sentido a declaração. costumes.
Tipos de Interpretação: Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na
a. Subjetiva – Busca se interpretar a vontade das conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de
partes. probidade e boa-fé.
b. Objetiva – Deve se averiguar os critérios objetivos, Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e
independente do que os declarantes quiseram, o sentido das nos limites da função social do contrato.
declarações.
Princípio da interpretação dos negócios jurídicos: Negócios benéficos. Renúncia. Interpretação
a. Boa-fé Art. 114. Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia
b. Conduta posterior das partes interpretam-se estritamente.
c. A favor do devedor e em determinados casos a favor Em caso de dúvida sobre a interpretação de
da parte mais fraca determinada cláusula, deve-se dar o sentido menos gravoso
d. Conservação dos negócios jurídicos → Deve-se para o disponente. O mesmo critério não prevalece para os
interpretar não só o negocio jurídico, mas também as cláusulas negócios onerosos, em que, por força da onerosidade para

UFRJ - FACC 24
DIREITO CIVIL – PARTE GERAL

ambas as partes, deve-se interpretar de modo a conduzir ao A procuração é um negócio abstrato que tem por
equilíbrio das prestações. destinatário o terceiro. Pode ser que haja subjacente um
Os negócios mortis causa (testamento) apresentam outro negócio jurídico, como o mandato, a locação de serviços,
duas características: são gratuitos, não exigindo a empreitada, a sociedade e etc.
contraprestação do beneficiado; além disso, procura-se, na
medida do possível, atender à vontade do testador. Art. 1.899.
Quando a cláusula testamentária for suscetível de Representação Legal x Representação Voluntária
interpretações diferentes, prevalecerá a que melhor assegure - Representação legal decorre da lei, ela pode ser incluída
a observância da vontade do testador. Apesar desse artigo como uma classe de representação. A única diferença
nos também temos o artigo: Art. 1.903. O erro na designação substancial entre a representação legal e a voluntária é que na
da pessoa do herdeiro, do legatário, ou da coisa legada anula a legal a sua origem decorre diretamente da lei, enquanto que na
disposição, salvo se, pelo contexto do testamento, por outros voluntária ou convencional resulta da manifestação de vontade
documentos, ou por fatos inequívocos, se puder identificar a do representado.
pessoa ou coisa a que o testador queria referir-se. As diferenças entre a representação legal e
A declaração de vontade do autor da herança não voluntária diz respeito a função de cada um delas, uma vez que
está destinada ao comércio jurídico, não existindo, portanto, a voluntária é estabelecida com o fim de possibilitar a
conflito de interesses. O intérprete deve procurar extrair multiplicação de atuação jurídica do mandatário, mediante a
honestamente a verdadeira vontade do autor da herança atividade alheia, por sua vez a representação legal apesar de
através do documento, sem valer-se de uma palavra ou visar igualmente aos interesses do representado, não tem por
expressão equivocas para desvirtuá-la. fundamento multiplicação de suas possibilidades, mas sim
Contrato de adesão ou cláusulas predispostas – São suprir a sua incapacidade de agir, atribuindo-lhe um
os contratos onde uma das partes fixa unilateralmente todas representante enquanto dure a incapacidade.
as cláusulas contratuais, normalmente apresentadas já Na representação legal, além de decorrer
impressas ao outro contratante (o aderente), restando-lhe ou diretamente da lei, e não da vontade do interessado, é a
aceitá-las ou não contratar, a interpretação deve ser, em própria lei que estabelece a extensão dos poderes do
princípio, em favor do contratante que adere. representante. Características da representação legal:
a. Suas hipóteses de incidência estão tipificadas na lei, não
CAPÍTULO II cabendo fora dos casos previstos na legislação.
Da Representação b. O representante não depende da vontade do
Representação. Poderes representado, podendo até exercê-la contra a vontade do
Art. 115. Os poderes de representação conferem-se por lei ou representado.
pelo interessado. c. Os poderes de representação são concedidos pelo
Representação é o instituto pelo qual uma pessoa representado, mas previstos expressamente em lei.
(representante) emite ou recebe manifestação de vontade d. O adquirente adquire os poderes de representação, o
negocial em nome e por conta de outra pessoa representante os adquire em decorrência do poder ou do
(representando), a fim de que os efeitos do negócio celebrado cargo (poder familiar, tutela, curatela) e normalmente
repercutam na esfera jurídica deste último. extingue-se com o término do cargo.
O poder de representação é a faculdade ou poder e. A capacidade do representante é exigida para a o
jurídico do representante de produzir efeitos jurídicos na exercício do poder ou do cargo.
esfera jurídica do representado, com resultados para este,
mediante a conclusão dos negócios jurídicos em seu nome. Efeitos da representação em relação ao representado. Limites
Na relação representativa, analisam-se os efeitos da Art. 116. A manifestação de vontade pelo representante, nos
relação estabelecida entre representado e representante, limites de seus poderes, produz efeitos em relação ao
seus direitos e obrigações. No poder de representação representado.
procura-se analisar exatamente o poder do representante de
exercitar um direito alheio, ou dito de outro modo, o poder Aquele que negocia com o representante de alguém
atribuído ao representante de através de atos idôneos, deve verificar se esse possui poderes para realizar o negócio
produzir efeitos na relação jurídica alheia. O poder de pretendido, pois somente é que estará vinculado o
representação centra-se na outorga ao representante de representado.
faculdade de gerir assuntos do dominus ou representado.
Podemos dizer que a fonte do poder de Representante. Negócio consigo mesmo. Anulabilidade
representação é a procuração, negócio jurídico unilateral, Art. 117. Salvo se o permitir a lei ou o representado, é
enquanto a fonte da relação representativa é o mandato, anulável o negócio jurídico que o representante, no seu
negocio jurídico bilateral. interesse ou por conta de outrem, celebrar consigo mesmo.

UFRJ - FACC 25
DIREITO CIVIL – PARTE GERAL

Parágrafo único. Para esse efeito, tem-se como celebrado pelo conhecimento, o negócio é válido cabendo ao representado
representante o negócio realizado por aquele em quem os demandar perdas e danos em face do representante.
poderes houverem sido substabelecidos.
Contrato consigo mesmo é aquele em que o Requisitos e os efeitos da representação
representante celebra um negocio em que o representado fica Art. 120. Os requisitos e os efeitos da representação legal
obrigado com ele representante ou com alguém que também é são os estabelecidos nas normas respectivas; os da
representado pelo mesmo representante. Essa última hipótese representação voluntária são os da Parte Especial deste
denomina-se dupla representação. Código.
A norma em apreço traz a regra geral e duas Requisitos:
exceções: a. Atuação em nome de outrem
• Regra geral – Não é permitido ao representante, no b. Para a prática de atos negociais
seu interesse ou por conta de outrem, celebrar negócio c. Incidência dos efeitos jurídicos do negócio
jurídico consigo mesmo. Caso venha a fazê-lo o negócio é celebrado na esfera jurídica do representado
anulável. → Normalmente os efeitos jurídicos do negócio realizado
• Exceções – Será permitido se a lei autorizar o se o incidirão sobre a esfera jurídica do representado, e não do
representado autorizar. A permissão do representado é representante. Dissemos normalmente, porque há hipóteses
presumida em duas hipóteses: em que o representante pratica atos negociais, mas que irão
o Quando o negócio é celebrado no interesse do influir em sua própria esfera jurídica, quando estão se
representado. denomina representação indireta.
o Quando o negócio celebrado é usual no tráfico
jurídico, artigo 113 “usos do lugar de sua celebração”. CAPÍTULO III
São exemplos de contrato consigo mesmo permitidos pelo Da Condição, do Termo e do Encargo
ordenamento jurídico pátrio: Noção de condição
• A denominada procuração em causa própria. Art. 121. Considera-se condição a cláusula que, derivando
• Compra de bens, por parte do mandatário, de bens exclusivamente da vontade das partes, subordina o efeito do
que estava encarregado de vender, súmula 165 do STF: negócio jurídico a evento futuro e incerto.
STF Súmula nº 165 Condição é a cláusula acessória, inserida em um
A venda realizada diretamente pelo mandante ao mandatário negócio jurídico, pela manifestação de vontade das partes,
não é atingida pela nulidade. que subordina os efeitos do negócio celebrado a um
acontecimento futuro e incerto. Vale lembrar que a cláusula é
Obrigação do mandante acessória porque pode ou não ser inserida em um negócio
Art. 118. O representante é obrigado a provar às pessoas, com jurídico, mas a acessoriedade é tão-somente até o momento
quem tratar em nome do representado, a sua qualidade e a de formação do negócio jurídico, após ela passa a ser
extensão de seus poderes, sob pena de, não o fazendo, elemento constitutivo do negócio celebrado, e, como
responder pelos atos que a estes excederem. conseqüência, deve ser observada.
A condição pode ser estabelecida em negócios
Conflito de interesses entre representante e representado. jurídicos inter vivos, quer mortis causa.
Anulabilidade. Prazo decadencial Requisitos da condição:
Art. 119. É anulável o negócio concluído pelo representante em i. Voluntariedade – Se a condição derivar da lei ela
conflito de interesses com o representado, se tal fato era ou será denominada conditio iuris.
devia ser do conhecimento de quem com aquele tratou. ii. Determinação – As partes devem de início
Parágrafo único. É de cento e oitenta dias, a contar da determinar qual o acontecimento futuro e incerto que
conclusão do negócio ou da cessação da incapacidade, o prazo subordina os efeitos do negócio celebrado.
de decadência para pleitear-se a anulação prevista neste iii. Futuridade – Não podemos ser pressupostos da
artigo. condição os acontecimentos presentes ou passados, ainda que
O simples conflito de interesses entre o os ignore a parte a sua realização.
representante e o representado não levará à anulabilidade do iv. Incerteza – A condição é um evento futuro e
negócio celebrado com a outra parte. É necessário que a outra incerto. Com relação a morte nos temos que ela como regra é
parte tenha conhecimento da existência do conflito de um termo, isto é um acontecimento futuro e certo,
interesses entre o representante e o representado. Conclui-se entretanto, a morte pode ser estabelecida como condição se
que é pressuposto para a anulação do negócio que a parte que as partes condicionarem o tempo da morte.
negocia com o representante tenha ou pudesse ter pelas v. Possibilidade
circunstâncias, conhecimento do conflito de interesses entre vi. Licitude
o representante e o representado. Caso não tenha

UFRJ - FACC 26
DIREITO CIVIL – PARTE GERAL

consistente num fato ilícito, como no caso de Pedro se


Negócios jurídicos que não admitem condição → Podem ser comprometer a fazer uma doação para Paulo se este não
classificados em: praticar determinado ato ilícito.
a. Negócios incondicionais por expressa determinação Obs. A melhor doutrina entende que a condição de não casar,
legal – Entre os diversos contidos na lei, vale citar: quer se referindo a determinada pessoa quer sendo genérica é
Art. 1.613. São ineficazes a condição e o termo apostos ao ato de ser repudia pois ofende, a nosso sentir, o princípio da
de reconhecimento do filho. dignidade da pessoa humana, previsto na Constituição da
Art. 1.808. Não se pode aceitar ou renunciar a herança em República.
parte, sob condição ou a termo. Condições causais → São aquelas apostas em um negócio
§ 1o O herdeiro, a quem se testarem legados, pode aceitá-los, jurídico cujo evento condicionante é estranho à vontade das
renunciando a herança; ou, aceitando-a, repudiá-los. partes.
§ 2o O herdeiro, chamado, na mesma sucessão, a mais de um Condições potestativas → São aquelas apostas a um negócio
quinhão hereditário, sob títulos sucessórios diversos, pode cujo evento condicionante resulta de um ato de uma das
livremente deliberar quanto aos quinhões que aceita e aos que partes. Não são válidas. Esta se divide em:
renuncia. i. Arbitrária – É aquele cujo evento condicional
b. Negócios incondicionais sem expressa determinação depende de um simples querer do interessado. Exemplo: João
legal → Existem em maior quantidade dos que os que advêm da se compromete a pagar uma quantia para Pedro se quiser.
lei: Acarreta a nulidade do negócio jurídico.
i. Direitos da personalidade ii. Não-arbitrária – O evento condicionante depende
ii. Casamento exclusivamente de um querer arbitrário do interessado, mas
iii. Direitos e deveres dos cônjuges que, para realizá-lo, necessita exercitar alguma tarefa que lhe
iv. Poder familiar exige um esforço ou sacrifício.
v. Emancipação → Vale ressaltar que é admissível na condição resolutiva a
vi. Tutela e curatela potestativa arbitrária, bem como se o negócio jurídico ficar
vii. Pactos antenupciais subordinado à vontade do credor ou do adquirente. Exemplo
viii. Separação judicial e divórcio de condições potestativas admitidas no Código Civil:
ix. Legitima dos herdeiros Art. 420. Se no contrato for estipulado o direito de
x. Aceitação testamentária arrependimento para qualquer das partes, as arras ou sinal
xi. Compensação terão função unicamente indenizatória. Neste caso, quem as
xii. Letra de câmbio deu perdê-las-á em benefício da outra parte; e quem as
Conseqüências da condição aposta em negócios incondicionais: recebeu devolvê-las-á, mais o equivalente. Em ambos os casos
Os negócios jurídicos puros do Direito de Família, segundo não haverá direito a indenização suplementar.
pensamento da doutrina majoritária, não podem subordinar Art. 505. O vendedor de coisa imóvel pode reservar-se o
seus efeitos a uma condição. A oponibilidade de condição ao direito de recobrá-la no prazo máximo de decadência de três
negócio jurídico familiar puro poderá tanto acarretar a anos, restituindo o preço recebido e reembolsando as
nulidade do ato como ter-se simplesmente como não-escrita. despesas do comprador, inclusive as que, durante o período de
O mesmo ocorre com os demais negócios incondicionais. resgate, se efetuaram com a sua autorização escrita, ou para
a realização de benfeitorias necessárias
Condições lícitas. Condições proibidas Art. 509. A venda feita a contento do comprador entende-se
Art. 122. São lícitas, em geral, todas as condições não realizada sob condição suspensiva, ainda que a coisa lhe tenha
contrárias à lei, à ordem pública ou aos bons costumes; entre sido entregue; e não se reputará perfeita, enquanto o
as condições defesas se incluem as que privarem de todo adquirente não manifestar seu agrado.
efeito o negócio jurídico, ou o sujeitarem ao puro arbítrio de Art. 513. A preempção, ou preferência, impõe ao comprador a
uma das partes. obrigação de oferecer ao vendedor a coisa que aquele vai
Esse artigo veda essas condições: vender, ou dar em pagamento, para que este use de seu direito
i. Condições ilícitas contrárias à lei, à ordem de prelação na compra, tanto por tanto.
pública e aos bons costumes. Condições mistas → São aquelas apostas a um negocio jurídico
ii. Condições que privarem de todo efeito o negócio cujo evento condicionante resulta em parte da vontade de um
celebrado, condições perplexas ocorrem quando o evento dos sujeitos em parte de um acontecimento natural ou de
condicionante consiste em um acontecimento ou fato que está terceiro.
em contradição com a subsistência do efeito pretendido.
iii. Condições que sujeitarem o negócio ao puro Condições que invalidam os negócios jurídicos a elas
arbítrio de uma das partes, potestativas puras. subordinados
→ A doutrina portuguesa entende que se a condição servir de Art. 123. Invalidam os negócios jurídicos que lhes são
contra-estímulo à prática de ato ilícito, será válida, ainda que subordinados:

UFRJ - FACC 27
DIREITO CIVIL – PARTE GERAL

I - as condições física ou juridicamente impossíveis, quando o Caso se tratar de coisa não-fungível, o


suspensivas; implemento da condição só produzirá qualquer efeito em
II - as condições ilícitas, ou de fazer coisa ilícita; relação a terceiros, se estes forem possuidores de má-fé.
III - as condições incompreensíveis ou contraditórias. o Em se tratando de bem imóvel, os efeitos só
Se a condição for juridicamente impossível podemos começam a ter eficácia da data em que se houver transcrito
ter duas conseqüências conforme se trata de: ou inscrito no registro público o instrumento que contiver a
• Condição suspensiva e juridicamente condição.
impossível determina a nulidade do negócio jurídico, o negócio Obs. Caso a condição seja falha tem-se como não existido o
é nulo. negócio jurídico. Tudo o que houver sido instituído sobre o
• condição resolutiva e juridicamente bem desaparece. Deve-se ter em conta que os atos de
impossível é tida como não escrita, o negócio é tido como disposição praticados pelo credor enquanto pendente a
válido e puro. condição ficam, no caso de ser falha a condição, sem nenhum
As condições ilícitas sempre anulam o negócio jurídico. efeito, ocorrendo exatamente o contrário em relação aos atos
Condições fisicamente impossíveis são aquelas que contrariam praticados pelo devedor.
a ordem lógica das coisas. Costuma-se se dizer que não há
condição propriamente dita, uma vez que não há incerteza, Disposição de coisa sob condição suspensiva. Efeitos
mas sim certeza da impossibilidade de se verificar a condição Art. 126. Se alguém dispuser de uma coisa sob condição
estipulada. Tanto nos atos inter vivos como causa mortis suspensiva, e, pendente esta, fizer quanto àquela novas
determina a invalidade do negócio jurídico, o negócio é invalido disposições, estas não terão valor, realizada a condição, se
e não produz os seus efeitos. Se for condição resolutiva com ela forem incompatíveis.
fisicamente impossível, por já se ter adquirido e constituído o Exemplo de nova condição compatível: João doa o
direito, subsiste, tendo-se a condição como não-escrita. Jose o usufruto de um imóvel se ele passar no vestibular, só
que antes do implemento da condição ele aliena o imóvel, a
Condições impossíveis, quando resolutiva. Efeitos condição continua válida.
Art. 124. Têm-se por inexistentes as condições impossíveis,
quando resolutivas, e as de não fazer coisa impossível. Condição resolutiva. Efeitos
Art. 127. Se for resolutiva a condição, enquanto esta se não
Condição suspensiva. Efeitos realizar, vigorará o negócio jurídico, podendo exercer-se
Art. 125. Subordinando-se a eficácia do negócio jurídico à desde a conclusão deste o direito por ele estabelecido.
condição suspensiva, enquanto esta se não verificar, não se
terá adquirido o direito, a que ele visa. Condição resolutiva. Efeitos de sua incidência.
Enquanto pende a condição suspensiva, devem-se Art. 128. Sobrevindo a condição resolutiva, extingue-se, para
distinguir os efeitos no campo dos direitos de crédito e no todos os efeitos, o direito a que ela se opõe; mas, se aposta a
campo dos direitos reais. um negócio de execução continuada ou periódica, a sua
Há uma grande discussão se a verificação da condição realização, salvo disposição em contrário, não tem eficácia
suspensiva produz efeitos retroativos ou não. Vejamos os quanto aos atos já praticados, desde que compatíveis com a
efeitos do implemento das condições suspensivas: natureza da condição pendente e conforme aos ditames de
• Entre as próprias partes boa-fé.
o Só depois de realizada a condição, os efeitos Se a condição resolutiva for falha tem-se a mesma
do contrato condicional devem se manifestar, salvo se foi como inexistente sendo o negócio considerado, desde a sua
estipulada a execução provisória. conclusão como puro e simples.
o O devedor deve como regra restituir os
frutos percebidos, bem como o credor deve pagar os juros do
preço estipulado no contrato, salvo estipulação em contrário.
o O credor deve reembolsar o devedor das Condição maliciosamente obstada ou provocada pelo
despesas feitas, bem como das benfeitorias necessárias. interessado
o O adquirente, cumprida a condição, recebe a Art. 129. Reputa-se verificada, quanto aos efeitos jurídicos, a
coisa que é objeto da obrigação com todas as acessões que se condição cujo implemento for maliciosamente obstado pela
lhe incorporaram no período de pendência. parte a quem desfavorecer, considerando-se, ao contrário,
• Em relação a terceiros não verificada a condição maliciosamente levada a efeito por
o No caso de coisas fungíveis não se admite aquele a quem aproveita o seu implemento.
que o cumprimento da condição seja capaz de produzir, em Primeira parte da norma é quando a parte
relação a terceiros, qualquer efeito retroativo. desfavorecida pelo implemento da condição impede
maliciosamente o implemento da condição, sem qualquer razão
de direito, a condição será considerada como realizada para

UFRJ - FACC 28
DIREITO CIVIL – PARTE GERAL

todos os efeitos; essa hipótese é chamada pela doutrina de Art. 133. Nos testamentos, presume-se o prazo em favor do
implemento fictício da condição. Já a segunda parte é o herdeiro, e, nos contratos, em proveito do devedor, salvo,
inverso da primeira é quando a parte que tinha proveito do quanto a esses, se do teor do instrumento, ou das
implemento da condição força intencionalmente o implemento circunstâncias, resultar que se estabeleceu a benefício do
da mesma, a condição será considerada como não realizada. credor, ou de ambos os contratantes.
Apesar de a regra ser a favor do devedor, nos temos
Direito eventual. Efeitos casos em que o próprio ordenamento dispõe de forma
Art. 130. Ao titular do direito eventual, nos casos de condição contrária.
suspensiva ou resolutiva, é permitido praticar os atos Art. 333. Ao credor assistirá o direito de cobrar a dívida
destinados a conservá-lo. antes de vencido o prazo estipulado no contrato ou marcado
neste Código:
Termo inicial. Efeitos I - no caso de falência do devedor, ou de concurso de
Art. 131. O termo inicial suspende o exercício, mas não a credores;
aquisição do direito. II - se os bens, hipotecados ou empenhados, forem
Termo: É a cláusula acessória inserida em um negócio jurídico penhorados em execução por outro credor;
pela manifestação de vontade de uma das partes, que III - se cessarem, ou se se tornarem insuficientes, as
subordina os efeitos do negócio celebrado a um acontecimento garantias do débito, fidejussórias, ou reais, e o devedor,
futuro e certo. O termo é o acontecimento ou momento futuro intimado, se negar a reforçá-las.
e certo que determina o início ou término da eficácia do Parágrafo único. Nos casos deste artigo, se houver, no débito,
negócio jurídico celebrado. solidariedade passiva, não se reputará vencido quanto aos
Espécies de termo: outros devedores solventes.
• Expresso – É aposto em negócios jurídicos
em que, se não o contivessem, aplicar-se-ia a primeira parte Cumprimento imediato dos negócios jurídicos. Termo tácito.
do 134, isto é, seriam exeqüíveis desde logo. Regra de benefício
• Tácito – É o que emerge da natureza da Art. 134. Os negócios jurídicos entre vivos, sem prazo, são
relação jurídica ou das circunstâncias ou características do exeqüíveis desde logo, salvo se a execução tiver de ser feita
negócio celebrado. em lugar diverso ou depender de tempo.
• Certo ou determinado
• Incerto ou indeterminado Termo inicial e final. Regras das condições suspensivas e
• Essencial – É aquele em que não se permite o resolutivas
cumprimento fora do termo acordado, por não mais interessar Art. 135. Ao termo inicial e final aplicam-se, no que couber, as
ou carecer de interesse. Exemplo: Costureiro que não entrega disposições relativas à condição suspensiva e resolutiva.
o vestido da noiva no dia do casamento. Termo inicial – É aquele que suspende a eficácia do negócio
• Não-essencial – Ao contrário do essencial, é celebrado (dies a quo). No termo inicial somente após a sua
aquele que admite o cumprimento após o seu vencimento. incidência o negócio jurídico celebrado começa a ter eficácia,
isto é, somente após o termo passa a existir a exigibilidade.
Regras de contagem dos prazos Termo Final – É aquele que determina o término da eficácia do
Art. 132. Salvo disposição legal ou convencional em contrário, negócio celebrado.
computam-se os prazos, excluído o dia do começo, e incluído o Semelhanças entre Termo e Condição:
do vencimento. • São frutos da autonomia privada
§ 1o Se o dia do vencimento cair em feriado, considerar-se-á • Cláusulas acidentais nos negócios celebrados
prorrogado o prazo até o seguinte dia útil. • Subordinam os efeitos do negócio jurídico a
§ 2o Meado considera-se, em qualquer mês, o seu décimo um evento futuro
quinto dia. • Podem ser suspensivos ou resolutivos
§ 3o Os prazos de meses e anos expiram no dia de igual Diferenças entre Termo e Condição:
número do de início, ou no imediato, se faltar exata • Condição se subordina a evento futuro e
correspondência. incerto, enquanto o termo se subordina a evento futuro e
§ 4o Os prazos fixados por hora contar-se-ão de minuto a certo.
minuto. • No negócio sob condição suspensiva o direito
Prazo é o espaço de tempo entre a manifestação de só nasce com o seu implemento, até então nos só temos uma
vontade e o seu implemento. Tais regras podem ser afastadas expectativa de direito. No termo o direito nasce desde o
pela vontade dos particulares. momento da manifestação de vontade, ficando suspensa
somente a sua execução.
Prazo nos testamentos e nos contratos. Regras do benefício • Condição subordinada ao se, ao passo que o
termo esta subordinado ao quando.

UFRJ - FACC 29
DIREITO CIVIL – PARTE GERAL

• O pagamento efetuado antes do implemento substância da natureza do negócio jurídico, do seu objeto ou
da condição é considerado um indevido. da pessoa com quem se negocia.
Aplicação das normas relativas às condições suspensivas e Requisitos do erro:
resolutivas: • Deve ser substancial
No caso de termo inicial impossível, o negócio jurídico • Deve ser escusável – Deve se adotar um
será considerado inválido; mas se for o caso de termo final critério objetivo ou subjetivo na verificação da escusabilidade
impossível será considerado como não-escrito, sendo o negócio ou não do erro. Temo duas correntes:
celebrado como válido e puro. ▪ Objetivo – O erro é escusável
Encargo. Efeitos quando nele incide o homem de diligencia média.
Art. 136. O encargo não suspende a aquisição nem o exercício ▪ Subjetivista – Deve-se levar em
do direito, salvo quando expressamente imposto no negócio conta o indivíduo concreto que incidiu em erro em face das
jurídico, pelo disponente, como condição suspensiva. circunstâncias.
Encargo é a cláusula inserida em um negócio jurídico, → O nosso Código não prevê que o erro tenha que ser
pela manifestação de vontade daquele que faz uma escusável, mas a doutrina amplamente majoritária entende que
liberalidade, impondo ao beneficiado uma prestação em favor ele é um requisito do erro, uma vez que se isso não fosse
do disponente ou de terceiro. respeitado nos estaríamos diante de uma grande insegurança
Encargo X Condição social.
• O encargo não suspende a aquisição nem o • Deve ser perceptível pela outra parte
exercício do direito, salvo quando expressamente imposto no Erro como vício da vontade – O fundamento do erro como vício
ato pelo disponente. A condição por sua vez cria apenas uma da vontade determinante da anulação do negócio jurídico
mera expectativa de direito até o seu implemento. encontra fundamento na conciliação entre a teoria da vontade
• A condição pode ser estabelecida tanto em e a teoria da declaração. O erro serve como fundamento ao
negócios onerosos como nos gratuitos, o encargo apenas nos princípio de que ninguém deve ficar vinculado a um negócio
negócios gratuitos. jurídico, se sua vontade não se formou livre e
• O encargo autoriza o disponente ou espontaneamente. Mas, para seu reconhecimento, como causa
beneficiado a exigir o seu cumprimento, sendo coercitivo o determinante de anulação do negócio celebrado, deve-se
que não ocorre com a condição que não pode ser exigida. valorar o comportamento do declarante e da outra parte.
Regime do encargo: Trata-se de cláusula acessória à aquisição Se o outro contratante não podia perceber, diante
do direito, aplicando-se a regra de que o acessório segue o das circunstancias, que o declarante estava em erro, e
principal. portanto, estava de boa-fé, não se anulará o negócio
Conseqüência do descumprimento do encargo: celebrado.
• Disponente - Art. 555. A doação pode ser
revogada por ingratidão do donatário, ou por inexecução do Erro substancial. Hipóteses
encargo. A ação prescreve em um ano. Art. 139. O erro é substancial quando:
• Beneficiado – Somente pode pleitear o I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da
cumprimento dele. O beneficiado pode pleitear o seu declaração, ou a alguma das qualidades a ele essenciais;
cumprimento, mas não a sua resolução. II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa
a quem se refira a declaração de vontade, desde que tenha
Encargo ilícito ou impossível. Efeitos influído nesta de modo relevante; Exemplo: Contrata um
Art. 137. Considera-se não escrito o encargo ilícito ou pintor achando que o mesmo era famoso, quando na verdade
impossível, salvo se constituir o motivo determinante da não era.
liberalidade, caso em que se invalida o negócio jurídico. III - sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da
lei, for o motivo único ou principal do negócio jurídico.
CAPÍTULO IV O erro, sendo um fato, deve ser provado. Os meios de
Dos Defeitos do Negócio Jurídico prova são os em geral admitidos em direito. Quem alega o erro
Seção I é que tem que prová-lo.
Do Erro ou Ignorância Efeitos do erro: O negócio jurídico celebrado, apesar do erro,
Erro. Requisitos e efeitos produz todos os seus efeitos até a anulação dele. O primeiro
Art. 138. São anuláveis os negócios jurídicos, quando as efeito do erro é ser causa de anulação do negócio jurídico, que
declarações de vontade emanarem de erro substancial que pode ser ratificado pelas partes.
poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em
face das circunstâncias do negócio. Falso motivo. Efeitos
Erro é o conhecimento falso sobre a substância da Art. 140. O falso motivo só vicia a declaração de vontade
natureza do negócio jurídico, do seu objeto ou da pessoa com quando expresso como razão determinante.
quem se negocia. Ignorância é o desconhecimento sobre a

UFRJ - FACC 30
DIREITO CIVIL – PARTE GERAL

Em princípio, os motivos que levam alguém a celebrar negócio jurídico decorrente do dolo. Mas isso não impede que
negócios jurídicos são irrelevantes, ficando limitados ao foro tal negócio seja ratificado pelas partes, artigo 172.
íntimo da pessoa. Entretanto, se as partes estabeleceram a
causa como fator determinante do negócio ou se a estipularam Dolo acidental. Efeitos
sob forma de condição, então ela poderá influenciar o negócio Art. 146. O dolo acidental só obriga à satisfação das perdas e
jurídico, vindo a acarretar a sua anulação. danos, e é acidental quando, a seu despeito, o negócio seria
realizado, embora por outro modo.
Transmissão errônea da vontade - Dolo principal – É aquele determinante do negócio jurídico
Art. 141. A transmissão errônea da vontade por meios celebrado, isto é, a vítima não teria concluído o negócio ou o
interpostos é anulável nos mesmos casos em que o é a celebraria em condições essencialmente diferentes, se não
declaração direta. houvesse incidido em dolo o outro contratante.
Esse erro deve decorrer do acaso ou de algum - Dolo acidental – É aquele em que os meios empregados pelo
equivoco, não se aplicando a norma quando o mensageiro não tem o poder de alterar o consentimento da vítima, que de
intencionalmente declara algo diverso do que lhe foi confiado. qualquer maneira teria celebrado o negócio jurídico, apenas de
maneira diversa.
Erro na indicação de pessoa ou coisa - Dolus bônus – Diz respeito às manobras correntemente
Art. 142. O erro de indicação da pessoa ou da coisa, a que se empregadas no comércio. Assim, a publicidade tem
referir a declaração de vontade, não viciará o negócio quando, desenvolvido de modo extraordinário suas manobras, não-
por seu contexto e pelas circunstâncias, se puder identificar a dolosas, chegando à linha divisória da honestidade. Os elogios
coisa ou pessoa cogitada. exagerados sobre a qualidade do produto, conhecidos como
propaganda.
Erro de cálculo - Dolus malus – É o artifício, a maquinação determinante do
Art. 143. O erro de cálculo apenas autoriza a retificação da engano da outra parte, com idoneidade para tanto.
declaração de vontade.
Dolo por omissão
Princípio da conservação do negócio jurídico Art. 147. Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio
Art. 144. O erro não prejudica a validade do negócio jurídico intencional de uma das partes a respeito de fato ou qualidade
quando a pessoa, a quem a manifestação de vontade se dirige, que a outra parte haja ignorado, constitui omissão dolosa,
se oferecer para executá-la na conformidade da vontade real provando-se que sem ela o negócio não se teria celebrado.
do manifestante. A conduta dolosa pode manifestar-se através de atos
positivos, como afirmação de qualidades inexistentes ou
Seção II reticência dolosa. É o denominado dolo negativo, neste o seu
Do Dolo autor silencia sobre fatos ou circunstancias cujo
Dolo efeitos. Requisitos conhecimento levaria a outra parte a desistir da celebração
Art. 145. São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando do negócio jurídico. O engano se produz por meio de uma
este for a sua causa. omissão. Também se exige que a omissão dolosa tenha sido a
Dolo é toda ação ou omissão intencional, através de causa determinante da realização do negócio jurídico.
ardil ou manobras fraudulentas, que induz a pessoa com quem
se celebra um negócio jurídico em erro ou engano, visando a Dolo de terceiro. Efeitos
causar-lhe prejuízo em beneficio próprio ou de terceiro. Art. 148. Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo
Requisitos do dolo: de terceiro, se a parte a quem aproveite dele tivesse ou
i. Intenção de enganar o outro contratante. devesse ter conhecimento; em caso contrário, ainda que
ii. Induzir o outro contratante em erro ou engano. subsista o negócio jurídico, o terceiro responderá por todas
iii. Causar prejuízo ao outro contratante. as perdas e danos da parte a quem ludibriou.
iv. Angariar benefício para o seu autor ou terceiro – A regra é que o dolo de terceiro não anula o negócio
O nosso código não prevê como requisito do dolo, mas a jurídico. Admite-se tão somente que o lesado demande perdas
doutrina pátria o considera. e danos contra o terceiro. Mas, se uma das partes teve o
v. Que o dolo tenha sido causa determinante da conhecimento ou autuou como cúmplice do terceiro, o dolo
realização do negócio jurídico. deste também determina a anulação do negócio celebrado.
Prova do dolo – A prova do dolo incumbe à vítima do engano Em se tratando de negócio jurídico unilateral, o dolo
doloso, pois não se presume. de terceiro sempre acarreta a anulação do negócio jurídico.
O dolo pode ser alegado pelo lesando tanto em ação
visando à anulação do negócio celebrado, como por meio de Dolo do representante
exceção. Ninguém pode renunciar ao direito de anular um Art. 149. O dolo do representante legal de uma das partes só
obriga o representado a responder civilmente até a

UFRJ - FACC 31
DIREITO CIVIL – PARTE GERAL

importância do proveito que teve; se, porém, o dolo for do ▪ Pessoa da família da vítima – Basta
representante convencional, o representado responderá provar-se a ameaça.
solidariamente com ele por perdas e danos. ▪ Pessoa que não seja da família –
Conforme se observa com a analise do artigo, o Alem da prova da ameaça, o temor fundado, que, nessa
legislador deu tratamento diverso conforme se trate de hipótese, não se presume.
representação convencional ou legal. Obs. É possível que a ameaça incida sobre o próprio coator, na
• Legal – Só obriga o representado a hipótese deste ameaçar cometer suicídio se o paciente
responder civilmente até a importância do proveito que teve. celebrar determinado negocio jurídico.
• Convencional – O representando responderá • Intensidade da ameaça deve ser suficiente
solidariamente com ele pelas perdas e danos, decorre da culpa para vergar a vítima – O Código passado exigia que o temor
in eligendo. objeto da ameaça fosse igual ao negócio jurídico celebrado,
→ Tem razão em ser assim, uma vez que no caso do felizmente o Novo Código Civil não exigiu isso. Aqui é adotado
representante legal o representando não tem o poder de o critério da razoabilidade.
influenciar na escolha do mesmo, diverso do que ocorre no
caso da representação convencional. Critério para se aferir a coação
Art. 152. No apreciar a coação, ter-se-ão em conta o sexo, a
Dolo biliteral. Efeitos idade, a condição, a saúde, o temperamento do paciente e
Art. 150. Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma todas as demais circunstâncias que possam influir na
pode alegá-lo para anular o negócio, ou reclamar indenização. gravidade dela.
Ocorre uma espécie de compensação, temos aqui
aquela máxima de que ninguém pode se beneficiar de sua Causas de exclusão da coação
própria torpeza. Art. 153. Não se considera coação a ameaça do exercício
Seção III normal de um direito, nem o simples temor reverencial.
Da Coação • Exercício normal de um direito – A coação
Coação. Requisito e efeitos deve se referir a uma ameaça injusta. Portanto a ameaça de
Art. 151. A coação, para viciar a declaração da vontade, há de direito não constitui nem poderia constituir um vício do
ser tal que incuta ao paciente fundado temor de dano iminente consentimento.
e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens. • Temor reverencial
Parágrafo único. Se disser respeito a pessoa não pertencente Requisitos do abuso de direito:
à família do paciente, o juiz, com base nas circunstâncias, • Uso do direito de uma maneira objetiva ou
decidirá se houve coação. externamente legal.
Coação é um dos vícios do consentimento que consiste • Dano a um interesse não protegido por uma
no exercício de uma ameaça injusta sobre uma pessoa, para específica prerrogativa jurídica.
persuadi-la a celebrar um negócio jurídico que não celebraria • Imoralidade ou o caráter anti-social do dano,
ou, pelo menos, celebrá-lo-ia em condições diferentes, se não manifestado em forma subjetiva ou em forma objetiva.
estivesse sob o temor da ameaça. → O abuso de direito dá margem ao pedido de indenização, a
- Coação física determina a falta, a ausência do fim de reparar os danos sofridos, bem como ao pedido de
consentimento. Determina a nulidade do negócio. anulabilidade do negócio jurídico.
- Coação moral determina um consentimento viciado em
virtude da ameaça. Ocasiona a sua anulação. Coação exercida por terceiro com conhecimento da parte que
Requisitos: a aproveita. Efeitos
• Ser a causa do negócio jurídico – Segundo Art. 154. Vicia o negócio jurídico a coação exercida por
alguns autores não basta o liame, o nexo entre a ameaça e a terceiro, se dela tivesse ou devesse ter conhecimento a parte
manifestação de vontade, exigindo-se ainda que o temor na a que aproveite, e esta responderá solidariamente com aquele
tenha desaparecido ao tempo do negócio nem se atenuado por perdas e danos.
sensivelmente. A parte a que aproveita a coação tiver conhecimento,
• Ser grave irá responder solidariamente com o terceiro.
• Ser injusta – A ameaça há de ser um mal
injusto.
• Atual ou eminente – Pode ser futura, desde Coação exercida por terceiro sem o conhecimento da parte a
que incutido na vítima o temor de mal inelutável. que aproveita. Efeitos
• Recair sobre a pessoa da vítima, sua família Art. 155. Subsistirá o negócio jurídico, se a coação decorrer
ou de outras pessoas, ou de seus bens – A prova da coação de terceiro, sem que a parte a que aproveite dela tivesse ou
será diferente dependo do tipo de pessoa: devesse ter conhecimento; mas o autor da coação responderá
por todas as perdas e danos que houver causado ao coacto.

UFRJ - FACC 32
DIREITO CIVIL – PARTE GERAL

O negocio subsistirá com razão, uma vez que as pela outra parte; na lesão o sujeito submete-se em virtude de
partes agiram com boa-fé; necessidade econômica ou inexperiência. No estado de perigo
o sujeito assume obrigação excessivamente onerosa, enquanto
que na lesão o mesmo se obriga à prestação manifestamente
Seção IV desproporcional ao valor da prestação oposta.
Do Estado de Perigo
Estado de necessidade. Noção. Efeitos e requisitos Seção V
Art. 156. Configura-se o estado de perigo quando alguém, Da Lesão
premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua Lesão. Noção. Requisitos e efeitos
família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente
obrigação excessivamente onerosa. necessidade, ou por inexperiência, se obriga à prestação
Parágrafo único. Tratando-se de pessoa não pertencente à manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta.
família do declarante, o juiz decidirá segundo as § 1o Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os
circunstâncias. valores vigentes ao tempo em que foi celebrado o negócio
Não há de se confundir o estado de necessidade com jurídico.
o estado de perigo, uma vez que o primeiro é causa excludente § 2o Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido
de ilicitude tanto no direito civil como no direito penal. O suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar
segundo é vício do consentimento que determina a anulação do com a redução do proveito.
negócio celebrado. Hipóteses de estado de perigo dadas pela Elementos da Lesão:
doutrina: • Objetivos:
- Depósitos em dinheiro que os hospitais exigem, para que o ▪ Desproporção entre as prestações
paciente possa ser atendido numa emergência. Não há que se confundir o mau negócio com a lesão!!!
- Sujeito que assaltado por ladrões oferece recompensa para ▪ Ao momento de sua verificação – É o
quem lhe salve da violência. momento da celebração do negócio jurídico.
- Sujeito que se encontra afundando em um barco e que • Subjetivos
oferece uma quantia exorbitante ao seu salvador. ▪ À vítima
Requisitos: ▪ Ao lesante → Deve se aproveitar da
• Estado de necessidade desgraça alheia, é o denominado dolo de aproveitamento, viola
• Perigo de dano atual ou iminente o princípio da boa-fé.
• Perigo de dano grave – Há necessidade de O lesado deve se encontrar numa situação que não lhe
que o declarante tenha a consciência ou a crença de que está permita adotar outra atitude e rechaçar o acordo que lhe é
em perigo. Quando inexistir perigo concreto, mas o declarante substancialmente desfavorável.
acredita estar em perigo (putatividade), incide a figura do Não se deve confundir a inexperiência do lesado com
estado de perigo. Se a pessoa não tiver consciência do perigo, o erro. Na lesão não se exige, como acontece no erro, que
não há que se falar em estado de necessidade. incida sobre elementos essenciais do negócio ou da outra
• Perigo de dano sobre a pessoa do declarante, pessoa com que se contrata, também não há necessidade de
de sua família ou de outras pessoas configuração do elemento objetivo, isto é, a visível
• Conhecimento do perigo pela outra parte – É desproporcionalidade entre as prestações.
o denominado dolo de aproveitamento, o outro contratante se Nada impede que uma pessoa jurídica que esteja
aproveita da situação da vítima, age com má-fé. passando por dificuldades venha a ser vítima lesão ou estado
• Assunção de obrigação excessivamente de necessidade.
onerosa – Embora o código não preveja, a doutrina diz que Efeitos da Lesão:
deve se aplicar por analogia o artigo 157 §2º, com isso nada O negócio é anulável, artigo 171, II. Mas nada impede
impede que o juiz venha a salvar o negócio celebrado, evitando que de acordo com o artigo 172 as partes venham a ratificar
assim enriquecimento ilícito por parte do declarante que negócio anulável.
obteve a prestação do serviço. Seção VI
Estado de perigo X Coação: Da Fraude Contra Credores
- Estado de perigo o perigo que atormenta a vítima não foi Fraudes contra credores. Transmissão gratuita de bens.
criado pela outra parte, com a intenção de extorquir desta a Remissão. Legitimados para revocatória.
manifestação de vontade de celebrar o negócio sob as Art. 158. Os negócios de transmissão gratuita de bens ou
condições exigidas, não há a intenção de coagir, o perigo remissão de dívida, se os praticar o devedor já insolvente, ou
decorre de fatos externos ao negócio jurídico celebrado. por eles reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, poderão
Estado de perigo X Lesão ser anulados pelos credores quirografários, como lesivos dos
- Estado de perigo o sujeito submete-se para salvar-se ou seus direitos.
pessoa de sua família ou terceiro de grave dano conhecido

UFRJ - FACC 33
DIREITO CIVIL – PARTE GERAL

§ 1o Igual direito assiste aos credores cuja garantia se tornar • Que não tenha pago o preço
insuficiente. • Que o preço corresponda aproximadamente
§ 2o Só os credores que já o eram ao tempo daqueles atos ao corrente
podem pleitear a anulação deles. • Que efetue o depósito do preço em juízo
Fraude contra credores é todo ato de disposição, a • Que promova a citação por edital de todos os
título gratuito ou oneroso, pelo qual o devedor deteriora a interessados
própria situação patrimonial, de modo que, em conseqüência de → O terceiro pode:
tais atos, o remanescente de seu patrimônio não possa mais i. Devolver o objeto comprado
exercer a sua função de garantia patrimonial. ii. Depositar o preço, nos termos do artigo 160
Nos atos de alienação gratuita se exige apenas o
elemento objetivo do prejuízo causado aos credores pelo Legitimados passivos para a ação revocatória
estado de insolvencia do devedor. Não se exige o consilium Art. 161. A ação, nos casos dos arts. 158 e 159, poderá ser
fraudis a lei se satisfaz com o eventus damni. Também não se intentada contra o devedor insolvente, a pessoa que com ele
exige que o terceiro adquirente tenha conhecimento da celebrou a estipulação considerada fraudulenta, ou terceiros
insolvência do devedor. Cabendo ao credor demonstrar que o adquirentes que hajam procedido de má-fé.
devedor, quando praticou o ato de alienação gratuita, já se Uma leitura apressada deste artigo nos dá a idéia de
encontrava insolvente, ou que, em virtude dela, ficou reduzido que a ação poderia ser proposta em face do devedor
à insolvência. insolvente ou dos terceiros adquirentes, o que é errado, o que
Remissão de dívidas: A hipótese é de falta de legitimação e temos é um litisconsórcio passivo necessário entre o devedor
não de capacidade. O devedor, ainda que insolvente, não é e o terceiro que com ele celebrou o negócio jurídico, bem
pessoa incapaz; o que lhe falta é legitimação para alienar seus como os subadquirentes que tenham agido de má-fé.
bens, ainda que gratuitamente.
Ação revocatória ou pauliana → Visa a tornar ineficazes os Pagamento de dívida não vencida
atos praticados em fraude contra credores. Com tal Art. 162. O credor quirografário, que receber do devedor
declaração o credor poderá satisfazer seu crédito sobre os insolvente o pagamento da dívida ainda não vencida, ficará
bens que foram objeto da ação pauliana. Tal ação não visa obrigado a repor, em proveito do acervo sobre que se tenha
anular os atos, uma vez que os mesmos são válidos, mão tão só de efetuar o concurso de credores, aquilo que recebeu.
declará-los ineficazes, conclui-se isso uma vez que com o fim Requisitos estão grifados.
da ação os bens não voltam para o patrimônio do devedor,
como deveria acontecer se a ação fosse efetivamente de Garantias e dívidas oferecidas pelo devedor insolvente
anulação de negócio jurídico. Art. 163. Presumem-se fraudatórias dos direitos dos outros
A doutrina mais moderna vê como possível se credores as garantias de dívidas que o devedor insolvente
demonstrado o consilium fraudis visando a prejudicar crédito tiver dado a algum credor.
futuro, a propositura da ação pauliana pelo titular desse Esse artigo procura manter a igualdade entre os
crédito. credores quirografários sobre os bens do devedor comum.
A norma permite que através da ação pauliana se
Fraude contra credores. Contratos onerosos pretenda tornar ineficaz a garantia oferecida pelo devedor
Art. 159. Serão igualmente anuláveis os contratos onerosos do insolvente a um dos seus credores, no entanto subsiste o
devedor insolvente, quando a insolvência for notória, ou crédito, retornando assim o credor à condição de credor
houver motivo para ser conhecida do outro contratante. quirografário.
Requisitos:
• O ato de alienação Atos validos praticados pelo devedor insolvente
• Prejuízo para os credores Art. 164. Presumem-se, porém, de boa-fé e valem os negócios
• Conhecimento, por parte do terceiro, da ordinários indispensáveis à manutenção de estabelecimento
insolvencia do alienante mercantil, rural, ou industrial, ou à subsistência do devedor e
de sua família.
Casos de exclusão de anulação do negócio jurídico São condutas que irão beneficiar os próprios
Art. 160. Se o adquirente dos bens do devedor insolvente credores ou se referem ao princípio do respeito à dignidade
ainda não tiver pago o preço e este for, aproximadamente, o da pessoa humana.
corrente, desobrigar-se-á depositando-o em juízo, com a A enumeração deste artigo deve ser encarada como
citação de todos os interessados. sendo meramente exemplificativa, para compreender todo ato
Parágrafo único. Se inferior, o adquirente, para conservar os que vise a garantir ou conservar o patrimônio do devedor.
bens, poderá depositar o preço que lhes corresponda ao valor Vale ressaltar que os gastos devem se limitar à
real. subsistência da família.
Requisitos:

UFRJ - FACC 34
DIREITO CIVIL – PARTE GERAL

Efeitos da ação revocatória imóvel pertencente a filho menor sem autorização do juiz,
Art. 165. Anulados os negócios fraudulentos, a vantagem artigo 1691 do Código Civil.
resultante reverterá em proveito do acervo sobre que se VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa;
tenha de efetuar o concurso de credores. VII - a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a
Parágrafo único. Se esses negócios tinham por único objeto prática, sem cominar sanção.
atribuir direitos preferenciais, mediante hipoteca, penhor ou Características:
anticrese, sua invalidade importará somente na anulação da i. Decorre de norma expressa ou virtual, quando
preferência ajustada. viola normas imperativas;
Cabem as seguintes indagações: ii. Normalmente, o ato nulo não produz seus efeitos
a) A ação que julga procedente o pedido formulado na típicos, dependendo, como toda hipótese de invalidade, de
ação pauliana anula o ato praticado em fraude contra credores decisão judicial;
ou simplesmente o declara ineficaz? Se você levar em conta a iii. As causas de nulidade são contemporâneas à
letra da lei o caso seria de anulação e não ineficácia, formação do negócio jurídico
beneficiando todos os credores, inclusive aqueles que não iv. O ato nulo pode ser pronunciado de ofício pelo
participaram da ação. A doutrina mais moderna não aceita juiz, quando dele conhecer ou dos seus efeitos e as encontrar
esse entendimento, eles entendem que a declaração visa a provadas, não lhe sendo permitido suprir a nulidade, artigo
ineficácia do ato praticado em fraude contra credores e não a 168;
anulação dos referidos atos, que são, em princípio, válidos. v. A nulidade pode ser alegada por qualquer
b) Essa ineficácia diz respeito exclusivamente ao interessado, inclusive pelo Ministério Público, quando lhe
credor que demandou a ação ou beneficia os demais credores couber intervir, artigo 168;
que não participaram da ação pauliana? O Leoni se posiciona no vi. A nulidade tem eficácia erga omnes;
sentido de que essa ineficácia diz respeito tão somente em vii. Os efeitos da sentença de nulidade são
relação ao autor da ação pauliana, não beneficiando os demais retroativos, ex tunc, pois conforme dispõe o artigo 182 do
credores do devedor insolvente. Código Civil “anulado o negócio jurídico, restituir-se-ão as
Prazo decadencial da ação revocatória ou pauliana? O prazo partes ao estado em que antes dele se achavam, e não sendo
foi mantido igual ao que era no código anterior, de acordo com possível restituí-las, serão indenizadas com o equivalente;
o artigo 178, II o prazo é de quatro anos para pleitear-se a viii. O ato nulo não pode ser ratificado, primeira
anulação do negócio jurídico, contado, no caso de fraude parte do artigo 169;
contra credores, no dia em que se realizou o negócio jurídico. ix. A nulidade é perpétua, artigo 160, segunda parte.
→ O nosso ordenamento não prevê a necessidade de que se
caracterize que tenha ocorrido prejuízo, deu-se razão ao
CAPÍTULO V princípio do respeito a ordem pública.
Da Invalidade do Negócio Jurídico As características acima elencadas nem sempre estão
Casos de nulidade presentes em todos os negócios jurídicos.
Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando: Não se pode falar em nulidade de pleno direito, uma
I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz; vez que mesmo os casos elencados no artigo 168 não decorrem
II - for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto; A diretamente da lei, necessitam para o seu reconhecimento de
impossibilidade para frustrar o negócio jurídico há de ser declaração judicial. O negócio jurídico nulo enquanto não
absoluta, e não simplesmente relativa. A possibilidade do declarado por sentença judicial vive e perdura, por isso que
objeto deve existir no momento da execução do negócio nenhuma nulidade é imediata.
jurídico, isto é, no momento do cumprimento da obrigação. A Fraude a Lei X Outras figuras:
impossibilidade para determinar a nulidade do negócio jurídico i. Na fraude a lei não há ocultação, como no ato
deve ser absoluta e permanente. O objeto pode ser no simulado.
momento da conclusão do negócio jurídico indeterminável, ii. A fraude a lei é considerada como violação de
desde que na sua execução possa ser determinado. interesse público e não violação de interesses privados ou
III - o motivo determinante, comum a ambas as partes, for particulares.
ilícito; O ordenamento jurídico pune o conluio entre as partes, iii. A fraude a lei não se funda em intenção provada,
a torpeza dos contratantes cujo motivo determinante dos mas em presunções objetivas.
contratantes é ilícito. iv. Em caso de fraude a lei, a ação é de nulidade e
IV - não revestir a forma prescrita em lei; não anulabilidade.
V - for preterida alguma solenidade que a lei considere Fraude a lei X Simulação:
essencial para a sua validade; Essa causa é diversa da do Na simulação as partes pretendem aparentar um
artigo anterior, é possível que o negócio revista a forma negócio não realizado efetivamente (simulação abstrata) ou
prescrita em lei, mas deixe de cumprir uma determinada pretendem encobrir outro negócio diverso do realizado
formalidade exigida pelo ordenamento jurídico. Ex. Venda de (simulação relativa). Na fraude a lei se pretende ocultar outro

UFRJ - FACC 35
DIREITO CIVIL – PARTE GERAL

negócio, o que se pretende é a realização e efeitos do negócio iii. Finalidade de enganar terceiros – Quando se diz
efetivamente realizado, porém violando o ordenamento enganar terceiros, isso não significa, necessariamente, causar
jurídico. Mas ambas as figuras levam a nulidade do negócio prejuízos a terceiros, pois é possível negócio simulado que
celebrado, artigos 166, VI c/c 167 do Código Civil. tenha uma causa lícita, e, como conseqüência, não vise a causar
Requisitos da Fraude a Lei: danos a terceiros.
i. Que a admissão da validade do ato suponha a Fraude a lei X Simulação:
violação de uma lei. Na simulação as partes pretendem aparentar um
ii. Que a lei em que se ampara o ato não o proteja negócio não realizado efetivamente (simulação abstrata) ou
suficientemente. pretendem encobrir outro negócio diverso do realizado
Art. 549. Nula é também a doação quanto à parte que exceder (simulação relativa). Na fraude a lei se pretende ocultar outro
à de que o doador, no momento da liberalidade, poderia dispor negócio, o que se pretende é a realização e efeitos do negócio
em testamento. Esta norma proíbe a doação inoficiosa, efetivamente realizado, porém violando o ordenamento
suponha-se que o sujeito realize várias doações sucessivas, em jurídico. Mas ambas as figuras levam a nulidade do negócio
espaço de tempo relativamente pequeno, exemplo: sujeito que celebrado, artigos 166, VI c/c 167 do Código Civil.
tem patrimônio de 100, doa no primeiro mês 50, depois fica Simulação X Negócio fiduciário
com 50 e doa 20, fica com 30 passados 3 meses doa 10, ora O negócio fiduciário é um negócio sério, pois esta
em todas as doações, no momento em que foram realizadas, o fundando na teoria do duplo efeito, ao passo que na simulação
sujeito respeitou a metade disponível, mas é evidente que, há um negócio fingido (simulação relativa) ou inexistente
realizando as doações sucessivas, violou o princípio da (simulação absoluta). O negócio fiduciário se caracteriza pelas
intangibilidade da legítima pertencente aos herdeiros partes elegerem para seu efeito prático um negócio jurídico,
legitimários conforme o artigo 1845, Pedro violou a norma do cujos efeitos jurídicos, sabem elas, excedem aquele fim e o
artigo 1846, portanto agiu em fraude à lei. mesmo produz efeitos normalmente ao passo que o negócio
Efeitos da Fraude: O ato é considerado nulo, acompanhado da simulado, que encobre outro negócio real, não produz efeitos
sanção prevista na norma que se pretendia violar. Como o ato é entre as partes é nulo.
ilícito é será devida a indenização pelos danos e prejuízos Espécies de simulação:
causados. • Absoluta – As partes aparentam celebrar
Obs. Pode ser que a lei taxativamente o declarar nulo ou negócio jurídico que na verdade inexiste.
proibir-lhe a prática, sem cominar sanção: exemplo é o da • Relativa – É aquela em que as partes
doação inoficiosa e da universal, 549 e 548. aparentam celebrar negócio jurídico diverso do que na
Negócio simulado. Casos. Efeitos. Proteção aos terceiros de verdade desejam. Esta não diz respeito apenas à natureza do
boa-fé negócio jurídico, pode se referir ao valor do objeto do negócio
Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o e também quando se atribui data diversa da sua verdadeira
que se dissimulou, se válido for na substância e na forma. celebração ou quando foi celebrado entre A e B, quando na
§ 1o Haverá simulação nos negócios jurídicos quando: verdade foi celebrado entre B e C.
I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas • Inocente – As partes não visam a causar
diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou prejuízo a terceiros, não têm finalidade ilícita, era prevista no
transmitem; artigo 103 do CC/16, esta norma não foi repetida no Novo
II - contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula Código, diante desta tanto esta como a culposa determinam a
não verdadeira; nulidade do negócio jurídico simulado.
III - os instrumentos particulares forem antedatados, ou • Culposa – É aquela em que as partes visam a
pós-datados. causar prejuízo a terceiros ou violar texto da lei.
§ 2o Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face Prova da simulação → Como se trata de negócio jurídico nulo
dos contraentes do negócio jurídico simulado. podem alegar a simulação qualquer interessado ou o Ministério
O negócio simulado agora é tratado como negócio nulo Público quando lhe couber intervir, podendo, ainda, ser
e não mais como negócio anulável como o Código passado fazia. pronunciada de ofício pelo juiz. A prova irá variar de acordo
Negócio simulado é aquele em que as partes, com o tipo de simulação:
conscientemente, emitem declaração em desconformidade • Absoluta – Deve-se provar a inexistência de
com a realidade, criando a aparência de negócio inexistente ou causa, isto é, inexistência do negócio jurídico.
diverso do desejado, visando a enganar terceiros. • Relativa – O terceiro deve demonstrar que:
Requisitos: ▪ Que o negócio celebrado é outro
i. Acordo dos contratantes ▪ Que foi realizado em data diversa
ii. Desconformidade consciente entre a vontade e a ▪ Que foi celebrado por valor diverso
realidade – As partes têm consciência do caráter aparente do do que as partes atribuíram no negócio dissimulado
negócio ostensivo.

UFRJ - FACC 36
DIREITO CIVIL – PARTE GERAL

▪ Que o negócio foi celebrado entre hipóteses o negócio é nulo. No caso de fraude a lei se aplica o
as partes diversas daquelas que constam no negócio artigo 166, VI, enquanto no caso de simulação aplica-se o
dissimulado disposto no artigo 167, ambos do Código Civil.
Obs. Como os terceiros não intervieram no negócio simulado Efeitos em relação a terceiros → O artigo 167, §2º:
fica extremamente difícil fazer a prova do negócio simulado, Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos
com isso admitem-se presunções. contraentes do negócio jurídico simulado.

Artigo 227 do Novo Código Civil x Artigo 401 do Código de Legitimados ativos para a ação de nulidade. Conhecimento de
Processo Civil ofício pelo magistrado
Art. 227. Salvo os casos expressos, a prova exclusivamente Art. 168. As nulidades dos artigos antecedentes podem ser
testemunhal só se admite nos negócios jurídicos cujo valor não alegadas por qualquer interessado, ou pelo Ministério Público,
ultrapasse o décuplo do maior salário mínimo vigente no País quando lhe couber intervir.
ao tempo em que foram celebrados. Parágrafo único. As nulidades devem ser pronunciadas pelo
Parágrafo único. Qualquer que seja o valor do negócio jurídico, juiz, quando conhecer do negócio jurídico ou dos seus efeitos
a prova testemunhal é admissível como subsidiária ou e as encontrar provadas, não lhe sendo permitido supri-las,
complementar da prova por escrito. ainda que a requerimento das partes.
Art. 401. A prova exclusivamente testemunhal só se admite Características da ação de nulidade:
nos contratos cujo valor não exceda o décuplo do maior salário i. Imprescritibilidade
mínimo vigente no país, ao tempo em que foram celebrados. ii. Insanabilidade
A doutrina mais autorizada entende que o artigo 401 iii. A sentença é meramente declaratória → Ela se
encontra-se revogado pelo artigo 227. limita a reconhecer a causa determinante da nulidade, essa
Efeitos da simulação entre as partes na simulação inocente ou sentença tem efeitos ex-tunc, isto é retroativos.
culposa → A conseqüência delas é determinar a nulidade do iv. Pode ser declarada de ofício
negócio simulado, prevalecendo o dissimulado, se este for Legitimados:
válido na sua substancia e na forma. i. Qualquer interessado – O terceiro
CTN → Art. 116. Salvo disposição de lei em contrário, completamente estranho à relação não tem legitimidade para
considera-se ocorrido o fato gerador e existentes os seus propor.
efeitos: ii. O Ministério Público, quando lhe couber intervir.
I - tratando-se de situação de fato, desde o momento em que Obs. A nulidade pode ser declarada de ofício, desse modo não
o se verifiquem as circunstâncias materiais necessárias a que é necessário para o seu reconhecimento da propositura de
produza os efeitos que normalmente lhe são próprios; uma ação, podendo ela ser alegada na via de exceção e deve
II - tratando-se de situação jurídica, desde o momento em ser pronunciada de ofício pelo juiz.
que esteja definitivamente constituída, nos termos de direito
aplicável. Negocio nulo. Impossibilidade de confirmação.
Parágrafo único. A autoridade administrativa poderá Imprescritibilidade
desconsiderar atos ou negócios jurídicos praticados com a Art. 169. O negócio jurídico nulo não é suscetível de
finalidade de dissimular a ocorrência do fato gerador do confirmação, nem convalesce pelo decurso do tempo. A
tributo ou a natureza dos elementos constitutivos da doutrina critica muito esse artigo, uma vez que a sua redação
obrigação tributária, observados os procedimentos a serem vêem a gerar uma insegurança jurídica muito grande, tendo em
estabelecidos em lei ordinária. O fisco pode independente de vista que por mais de vinte anos não sofreu qualquer
demanda judicial reconhecer e declarar a nulidade do negócio impugnação venha a ser objeto de pedido de nulidade com
simulado. Desse modo temos que o negócio simulado perante o base na imprescritibilidade do negócio nulo consagrada neste
fisco é ineficaz. artigo.
Efeitos da simulação entre as partes na simulação absoluta →
As partes não tem a intenção de celebrar qualquer negócio Conversão. Requisitos
jurídico, com isso declarada a nulidade, as partes retornam ao Art. 170. Se, porém, o negócio jurídico nulo contiver os
estado anterior, esse artigo deixa claro: Art. 182. Anulado o requisitos de outro, subsistirá este quando o fim a que
negócio jurídico, restituir-se-ão as partes ao estado em que visavam as partes permitir supor que o teriam querido, se
antes dele se achavam, e, não sendo possível restituí-las, houvessem previsto a nulidade.
serão indenizadas com o equivalente. Requisitos para conversão:
Efeitos da simulação entre as partes na simulação relativa → i. Que tenha sido estipulado um negócio nulo e,
Determina a nulidade. como tal, inidôneo a produzir os seus efeitos típicos.
Efeitos entre as partes na simulação que implique fraude à lei ii. Que o negócio apesar de nulo, apresente os
→ O Novo Código não traz diferenças entre a simulação que requisitos de substancia e forma de um outro negócio jurídico
visa a ofender lei imperativa ou não, uma vez que em ambas as diverso.

UFRJ - FACC 37
DIREITO CIVIL – PARTE GERAL

iii. Que seja possível demonstrar que as partes, no ii. Transação objetiva a pôr fim a um processo ou a
momento da conclusão do negócio nulo, conscientes da evitar a sua proposição, enquanto a confirmação objetiva
nulidade, tenham desejado concluir, no seu lugar, outro validar a convenção anterior.
diverso que sabiam apto a produzir seus efeitos. iii. O reconhecimento diz respeito à prova da
obrigação, ao passo que a confirmação pressupõe o desejo de
Casos de anulabilidade reparar os defeitos que tornam o ato anulável.
Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é
anulável o negócio jurídico: Confirmação tácita. Requisitos
I - por incapacidade relativa do agente; Art. 174. É escusada a confirmação expressa, quando o
II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de negócio já foi cumprido em parte pelo devedor, ciente do vício
perigo, lesão ou fraude contra credores. que o inquinava.
O negócio anulável produz todos os seus efeitos, até Requisitos:
que seja decretada a anulabilidade dele. i. Que o negócio já tenha sido parcialmente
Características da anulabilidade: cumprido pelo devedor
i. A anulabilidade é decretada em atenção de um ii. Que esteja o devedor ciente da existência do
interesse individual vício
ii. A anulabilidade pode ser elidida pela iii. A intenção de ratificar demonstrada pelas
confirmação, artigos 172 e 174. circunstancias → Parte da doutrina não considera a intenção
iii. A anulabilidade pode ser declarada por sentença, de ratificar como requisito, somos da opinião que constitui um
primeira parte do artigo 177. dos elementos.
iv. Só os interessados podem alegar a anulabilidade,
segunda parte do artigo 177. Efeitos da confirmação
Art. 175. A confirmação expressa, ou a execução voluntária de
negócio anulável, nos termos dos arts. 172 a 174, importa a
extinção de todas as ações, ou exceções, de que contra ele
Negócio anulável. Confirmação. Proteção dos terceiros dispusesse o devedor.
Art. 172. O negócio anulável pode ser confirmado pelas
partes, salvo direito de terceiro. Princípio da conservação do negócio jurídico
O negócio jurídico anulável pode ser sanado através Art. 176. Quando a anulabilidade do ato resultar da falta de
da prescrição e da confirmação. autorização de terceiro, será validado se este a der
Confirmação X Convalidação: Esta ocorreria quando a parte posteriormente.
legitimada a propor ação de anulabilidade abre mão dela, Consagra o princípio da conservação dos negócios
enquanto a confirmação seria aquela em que o interessado jurídicos.
aprova o próprio negócio cumprido pelo seu representante sem Outorga do cônjuge:
poderes. O nosso código não faz essa diferença, referindo-se Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos
tão somente à confirmação nos artigos 172 a 175. cônjuges pode, sem autorização do outro, exceto no regime da
separação absoluta:
Confirmação expressa. Requisitos I - alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis;
Art. 173. O ato de confirmação deve conter a substância do II - pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens ou
negócio celebrado e a vontade expressa de mantê-lo. direitos;
Requisitos: III - prestar fiança ou aval;
i. Conter a substância da obrigação ratificada. IV - fazer doação, não sendo remuneratória, de bens comuns,
ii. A vontade expressa de ratificar. ou dos que possam integrar futura meação.
iii. Ser realizada após a cessação da incapacidade ou Parágrafo único. São válidas as doações nupciais feitas aos
do vício do consentimento. filhos quando casarem ou estabelecerem economia separada.
iv. Que ele não padeça, por sua, de invalidade. Art. 1.649. A falta de autorização, não suprida pelo juiz,
→ A confirmação produz efeitos retroativos, isto é, o negócio quando necessária (art. 1.647), tornará anulável o ato
passa a ser válido desde a sua formação. O negócio nulo não praticado, podendo o outro cônjuge pleitear-lhe a anulação,
pode ser confirmado. até dois anos depois de terminada a sociedade conjugal.
Confirmação X Novação X Transação X Reconhecimento: → Em qualquer dessas hipóteses, a outorga posterior
i. A novação extingue a obrigação, criando uma convalida o negócio jurídico.
nova, enquanto a confirmação não extingue a obrigação, mas, Anulabilidade efeitos
ao contrário, visa a dar-lhe vida legal. Art. 177. A anulabilidade não tem efeito antes de julgada por
sentença, nem se pronuncia de ofício; só os interessados a

UFRJ - FACC 38
DIREITO CIVIL – PARTE GERAL

podem alegar, e aproveita exclusivamente aos que a alegarem, unilateral de seu titular, produzindo efeitos sobre a outra
salvo o caso de solidariedade ou indivisibilidade. parte, o réu da ação de anulação.
Entre as partes: O negócio anulável produz seus efeitos, Obs. A decadência diferentemente da prescrição, não admite
porém pode vir a não produzi-los se, e somente se, o negócio suspensão e nem interrupção, artigo 207.
vier a ser impugnado judicialmente pela parte no interesse de Obs. Como se trata de decadência o sujeito não pode
quem a anulabilidade foi estabelecida. renunciar ao direito de demandar a ação de anulação por força
Em relação a terceiros: do artigo 209.
i. Se o terceiro adquiriu de má-fé, prevalece o Obs. O prazo do agente relativamente incapaz começa a
interesse do que pretende recuperar o bem, pois são contar do dia em que cessar a incapacidade, como é obvio não
interesses a serem protegidos em relação ao terceiro que agiu corre decadência contra os absolutamente incapazes, até
má-fé. porque o ato é nulo e não convalesce jamais.
ii. Se o terceiro adquiriu a título gratuito, ainda que
de boa-fé, deve prevalecer igualmente o direito do que Casos de anulabilidade expressa. Prazo decadencial
pretende recuperar o bem, porque é mais tênue a proteção ao Art. 179. Quando a lei dispuser que determinado ato é
terceiro do que ao titular do bem. anulável, sem estabelecer prazo para pleitear-se a anulação,
iii. Se o terceiro adquiriu a título oneroso de boa-fé será este de dois anos, a contar da data da conclusão do
o título, deve prevalecer o interesse do terceiro. ato. (termo a quo)
Ação de anulabilidade: Nemo auditur propriam turpitudinem suam allegans
i. Trata-se de sentença constitutiva, visto que não Art. 180. O menor, entre dezesseis e dezoito anos, não pode,
se limita a declarar uma situação preexistente, mas, ao para eximir-se de uma obrigação, invocar a sua idade se
contrário, modifica a situação anterior, pois o negócio que dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra parte, ou
vinha produzindo seus efeitos típicos passa, após a sentença, a se, no ato de obrigar-se, declarou-se maior.
não mais produzi-los; Trata-se da aplicação do princípio da boa-fé objetiva,
ii. Diversamente da nulidade, não pode a uma vez que ninguém pode se valer-se da sua própria torpeza.
anulabilidade ser conhecida de ofício pelo juiz, mas, ao Pagamento a incapaz. Efeitos
contrário, somente se requerida pela parte interessada, artigo Art. 181. Ninguém pode reclamar o que, por uma obrigação
177. anulada, pagou a um incapaz, se não provar que reverteu em
iii. Esta sujeita, salvo disposição em contrário, ao proveito dele a importância paga.
prazo prescricional de quatro anos, artigo 178. Tal norma protege tantos os absolutamente quanto os
Legitimados para ação de anulabilidade: Salvo disposição em relativamente incapazes. Teremos diversidade nos legitimados
contrário é somente a parte interessada na sua invalidade. O para demandar a ação de invalidação, conforme o caso:
Leoni não inclui aqui os credores com relação aos atos das • Absolutamente incapaz – Qualquer
fraude contra credores, por que considera que na fraude é interessado, inclusive o Ministério Público, podendo o
caso de ineficácia do negócio jurídico e não de anulabilidade. magistrado reconhecer de ofício. O negócio celebrado é nulo.
→ O sujeito tutelado pela norma de anulabilidade possui o • Relativamente incapaz – Somente o
arbítrio sobre a sorte dele, pois somente a ele cabe decidir se relativamente incapaz que terá legitimidade para pleitear a
o negócio prevalece ou não. anulação, não possuindo a outra parte incapacidade para tal
ato. O negócio celebrado será anulável.
Anulação de negócio jurídico. Prazo decadencial
Art. 178. É de quatro anos o prazo de decadência para Efeitos da invalidade (nulidade e anulabilidade)
pleitear-se a anulação do negócio jurídico, contado: Art. 182. Anulado o negócio jurídico, restituir-se-ão as partes
I - no caso de coação, do dia em que ela cessar; ao estado em que antes dele se achavam, e, não sendo possível
II - no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de restituí-las, serão indenizadas com o equivalente.
perigo ou lesão, do dia em que se realizou o negócio jurídico; Efeitos da nulidade
III - no de atos de incapazes, do dia em que cessar a O negócio nulo, em princípio, não produz nenhum efeito entre
incapacidade. as partes, de modo que não transfere, não modifica, nem
A decadência é a perda de um direito potestativo extingue direitos reais ou pessoais. Se o negócio nulo for
pelo seu não-exercício no prazo previsto no ordenamento cumprido, pode-se pretender a restituição da prestação
jurídico. cumprida. Trata-se da aplicação geral da regra sobre o
Direito subjetivo → Normalmente é fruto da manifestação de pagamento indevido. A nulidade pode produzir entre as partes,
vontade dos sujeitos da relação jurídica, isto é, resulta de um efeito da responsabilidade, caso não seja possível restituí-
atos bilaterais ou plurilaterais. las ao estado primitivo, de acordo com o: Art. 182. Anulado o
Direito potestativo → Este com a propositura da ação negócio jurídico, restituir-se-ão as partes ao estado em que
pleiteando a anulação do negócio jurídico, decorre de ato antes dele se achavam, e, não sendo possível restituí-las,
serão indenizadas com o equivalente.

UFRJ - FACC 39
DIREITO CIVIL – PARTE GERAL

Obs. Mas a sentença que declara o negócio nulo, se o negócio é


daqueles sujeitos a transcrição, não é oponível ao terceiro de TÍTULO II
boa-fé que adquiriu direito com base no ato transcrito Dos Atos Jurídicos Lícitos
anteriormente à transcrição da sentença judicial. Neste caso Ato jurídico. Aplicação das normas do negócio jurídico
incide a segunda parte do artigo. Art. 185. Aos atos jurídicos lícitos, que não sejam negócios
Efeitos da anulabilidade: jurídicos, aplicam-se, no que couber, as disposições do Título
Entre as partes: O negócio anulável produz seus efeitos, anterior.
porém pode vir a não produzi-los se, e somente se, o negócio
vier a ser impugnado judicialmente pela parte no interesse de TÍTULO III
quem a anulabilidade foi estabelecida. Dos Atos Ilícitos
Em relação a terceiros: Ato ilícito. Noção
iv. Se o terceiro adquiriu de má-fé, prevalece o Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária,
interesse do que pretende recuperar o bem, pois são negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a
interesses a serem protegidos em relação ao terceiro que agiu outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
má-fé. Para estabelecermos a noção de ato ilícito, devemos
v. Se o terceiro adquiriu a título gratuito, ainda que
indagar se a conduta em questão viola ou não o ordenamento
de boa-fé, deve prevalecer igualmente o direito do que jurídico. Deve o ordenamento jurídico decidir, diante de um
pretende recuperar o bem, porque é mas tênue a proteção ao dano, se o lesado deve suportar o dano sofrido, como uma
terceiro do que ao titular do bem. conseqüência inevitável de nossa organização social, ou ao
vi. Se o terceiro adquiriu a título oneroso de boa-fé contrário, deve ser ressarcido, e, em tal caso, por quem.
o título, deve prevalecer o interesse do terceiro. Ato ilícito é a conduta humana que lesiona um
interesse tutelado pelo ordenamento jurídico. Trata-se da
Invalidade do instrumento aplicação do princípio neminem laedere.
Art. 183. A invalidade do instrumento não induz a do negócio Ilícito como fonte de obrigações: Ao lado dos contratos e dos
jurídico sempre que este puder provar-se por outro meio. atos unilaterais de vontade, também constituem fonte das
Os outros meios estão no artigo 212. Cabe aqui obrigações os atos ilícitos. A obrigação que deriva do ato
ressaltar que se o instrumento for essencial à formação do ilícito é, em particular, a obrigação de ressarcir o dano
ato, a sua invalidade conseqüentemente acarretará a ocasionado pelo ato ilícito.
invalidade do negócio jurídico. Ilícito contratual e ilícito extracontratual:
Quando o ato ilícito consiste na violação do ordenamento
Princípio da conservação do negócio jurídico. Invalidade jurídico, vindo a lesionar alguém a quem não se está ligado por
parcial. Invalidade da obrigação acessória nenhuma relação jurídica obrigacional, estamos diante do
Art. 184. Respeitada a intenção das partes, a invalidade ilícito extracontratual, também denominado culpa aquiliana.
parcial de um negócio jurídico não o prejudicará na parte Já quando o ilícito pressupõe o inadimplemento de uma
válida, se esta for separável; a invalidade da obrigação obrigação decorrente de um contrato por uma das partes,
principal implica a das obrigações acessórias, mas a destas não denomina-se culpa contratual.
induz a da obrigação principal. O ponto comum entre o ilícito contratual e o
Espécies de nulidade: extracontratual é que ambos determinam a obrigação do
i. Total – O defeito atinge todo o negócio jurídico. ressarcimento.
O ilícito contratual pode ocorrer através de conduta
ii. Parcial – Contamina somente uma cláusula do
dolosa ou culposa.
negócio, permitindo que o negócio subsista. Para ver se essa
O ilícito extracontratual em alguns casos admite o dolo e em
nulidade deve ou não ser estendida a todo o negócio, deve-se
outros somente a culpa, realmente em contratos benéficos,
verificar se a parte celebraria o negócio sem a cláusula que
responde por simples culpa o contratante a quem o contrato
padece de nulidade, essa verificação deve ser feita pelo
aproveite e por dolo aquela a quem não favoreça. Entretanto,
Magistrado, ele entende que o negócio jurídico apesar da
nos contratos onerosos, responde cada uma das partes por
nulidade de determinada cláusula, pode continuar a exercer
culpa, salvo as exceções previstas em lei, artigo 392.
sua função almejada pelas partes, deve considerar o negócio
Outra distinção entre o ilícito contratual e o extracontratual
válido no ponto não coberto pela nulidade, aplicação do
diz respeito ao lucro cessante.
princípio da conservação do negócio jurídico.
Elementos do ato ilícito:
iii. Textual – Vem prevista expressamente na lei i. Conduta que viole o ordenamento jurídico – Pode ser
iv. Virtual – Sua sanção é implícita no ordenamento uma ação ou omissão.
jurídico. ii. Imputabilidade – O agente tem que ter capacidade de
→ No Direito de Família, não se admite nulidade virtual, mas entender e querer. Falta imputabilidade aos menores
tão-somente textual. absolutamente incapazes, aos doentes mentais, que, como

UFRJ - FACC 40
DIREITO CIVIL – PARTE GERAL

conseqüência, não podem ser responsáveis pelo ressarcimento causassem danos a terceiros, mesmo quando se encontrassem
dos danos ocasionalmente por ele praticados. Serão, nesses fora de sua esfera de vigilância.
casos, responsáveis, seus representantes legais. Concorrência de culpa: A culpa não decorre apenas do agente
iii. Culpabilidade – O texto do artigo 186 do Novo Código causador do dano, mas também da vítima. Art. 945. Se a
não faz referencia à culpa, o Código com isso pretendeu vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a
adequar o sistema de responsabilidade civil estabelecido nos sua indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de
artigos 927 a 954, onde são inúmeras as hipóteses de sua culpa em confronto com a do autor do dano.
responsabilidade sem culpa. Em Direito Civil culpabilidade é o iv. Dano – Não existe ato ilícito sem dano. O dano
vocábulo amplo que abrange tanto o dolo como a culpa. constitui uma lesão a um direito do lesado, isto é, ofensa a um
a. Dolo – A conduta dolosa pressupõe que o agente bem jurídico. Esse dano pode ser patrimonial ou
deseja voluntariamente violar norma do ordenamento jurídico. extrapatrimonial (dano moral).
Em direito civil o agente também deve ter a noção que com a a. Dano material, este pode ser:
sua conduta viola não só um dever jurídico, mas causa dano a i.Emergente é o prejuízo efetivamente sofrido pela vítima do
outrem. O dolo consiste na vontade livre e consciente de ato ilícito.
violar o ordenamento jurídico lesando outrem. Tipos de dolo: ii.Lucro cessante é o que a vítima deixou de ganhar em face do
i.Dolo direto – O agente quer lesionar. ato ilícito.
ii.Dolo eventual – O agente consciente das conseqüências lesivasiii.Dano direto é aquele que advém imediatamente da conduta
de sua conduta, ainda assim assume o risco de produzi-las. ilícita do agente.
b. Culpa – A conduta do agente não é querida nemiv.Dano indireto é o decorrente de circunstâncias posteriores à
desejada, mas, apesar disso, por sua negligencia, imprudência conduta que aumentam o prejuízo.
e imperícia, vem a violar norma jurídica lesando outrem. Aqui v.Previsível é aquele que poderia ser previsto na data da
também se exige, além da violação de um dever jurídico, o celebração do negócio jurídico.
dano ocasionado na vítima. A noção de culpa pressupõe semprevi.Imprevisível é quando não era possível sua previsão
a existência de um preexistente dever de agir, isto é, o antecipadamente.
agente deve encontrar-se em situação que, segundo o b. Dano moral – O ressarcimento monetário
ordenamento jurídico, deveria agir, a fim de evitar o dano. A não funciona como uma equivalência ao dano sofrido, tal que
culpa consiste na conduta humana praticada com negligência, ocorre no dano material, mas sim como um dos efeitos
imprudência ou imperícia que, violando o ordenamento jurídico, sancionatórios da norma jurídica.
venha a causar dano a outrem. Liquidação do dano – Meio através do qual se procura
Graus de Culpa: determinar o quantum devido a título de reparação pelo dano
- Lata ou grave – O agente atua de maneira incompatível com o causado.
comum dos homens. O agente atua com extrema displicência, v. Nexo de causalidade – Deve existir nexo causal entre
assumindo o risco do resultado que, embora não previsto, era a conduta ilícita (ação ou omissão) e o dano sofrido pela
plenamente previsível. vítima. Causas de interrupção do nexo de causalidade:
- Leve – A conduta do agente ocasiona dano que poderia ter a. Culpa exclusiva da vítima
sido evitado com a atenção ordinária. b. Caso fortuito ou força maior
- Levíssima – O agente somente poderia evitar o dano Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes
ocasionado, se tivesse agido com extraordinária atenção. de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se
Espécies de Culpa: houver por eles responsabilizado.
- in committendo – Através de uma ação o agente vem a causar Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se
um dano, exemplo, motorista dirigindo imprudentemente que no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou
vem a atropelar alguém. impedir.
- in omittendo – Através de uma omissão o agente vem a Ônus da Prova: É preciso se diferenciar o ilícito contratual do
causar um dano, exemplo, enfermeira que deixa de ministrar extracontratual, visto que o ordenamento jurídico dá
remédio no paciente. tratamento diverso no que diz respeito ao ônus da prova:
- in eligendo – Você atribui culpa a alguém por ter feito má • Ilícito contratual – Desde que o devedor se
escolha de representante ou preposto. encontre em mora, presume-se a culpa. Portanto cabe ao
- in vigilando – O dano se deu pela falta de fiscalização de credor demonstrar tão-somente o inadimplemento da
determinadas pessoas, como no caso de responsabilidade dos obrigação, cabendo ao devedor o ônus de demonstrar que não
genitores pelos atos lesivos causados pelos seus filhos pode cumprir com a obrigação no prazo e modo avençados por
absolutamente incapazes. caso fortuito ou força maior.
- in educando – O dano se deu por falta de educação que o • Ilícito extracontratual – Prevalece o
genitor ou responsável deveria ter-se incumbido devidamente, princípio de que cabe a vítima demonstrar a culpa do autor do
a fim de evitar que os filhos ou pessoas sob sua guarda dano, isto na responsabilidade civil fundada na culpa. Mas
temos exemplos em que o ordenamento jurídico presume a

UFRJ - FACC 41
DIREITO CIVIL – PARTE GERAL

culpa do agente cabendo a ele o ônus de demonstrar a • O abuso da nulidade por motivos formais.
existência de culpa exclusiva da vítima, o caso fortuito ou de • As emanações de gases nocivos desprendidos
força maior, é por exemplo, a responsabilidade civil dos pais da industria que venham a causar dano a pessoas ou
pelos atos dos filhos menores. propriedades vizinhas.
Efeitos do abuso de direito:
Abuso de direito. Ilícito civil De acordo com o disposto no artigo 187, constitui ato
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito ilícito, se for configurado o abuso de direito dá margem ao
que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pedido de indenização a fim de reparar os danos sofridos.
pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons Direitos que se exercem discricionariamente: Seu titular pode
costumes. exercê-lo independentemente de se verificar a intenção de
Requisitos: seu titular, escapando, assim, do abuso de direito. Em todos
i. O uso do direito subjetivo de uma maneira os casos abaixo elencados, o titular é o único juiz do dever e
objetiva ou externamente legal direito que lhe incumbem. Algum deles no direito pátrio:
ii. O dano a um interesse não protegido por uma • Direito a pedir divisão do condomínio
específica prerrogativa jurídica – O dano presente, atual, • Solicitar a partilha de uma herança
como o dano futuro, mas previsível, quando se admite a adoção • Direito de testar dentro dos limites legais
de medidas que impedem a persistência do abuso. O ônus da • De deserdar quem tenha incorrido em alguma
prova cabe àquele que alega ter o titular do direito subjetivo das causas legais
agido com abuso de direito, pois, como já dito, o abuso de
direito não se presume. Exclusão da Ilicitude
iii. O excesso dos limites impostos pelo seu fim Art. 188. Não constituem atos ilícitos:
econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular
A conduta do sujeito deve ser aparente e objetiva em de um direito reconhecido;
conformidade com a ordem jurídica, mas seus atos, na II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a
verdade ultrapassam os limites normais do exercício. O pessoa, a fim de remover perigo iminente.
excesso deve ser manifesto e evidente, pois abuso de direito Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo
não se presume, uma vez que sempre se presume que o sujeito somente quando as circunstâncias o tornarem absolutamente
agiu dentro dos limites permitidos pelo ordenamento jurídico. necessário, não excedendo os limites do indispensável para a
A configuração de atos que ultrapassem os limites normais do remoção do perigo.
exercício do direito subjetivo pode ser resultado: Casos de exclusão de ilicitude:
a. Da intenção do sujeito, mas é evidente que a. Legítima defesa
este não deve ter agido com comportamento doloso, sob pena Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando
de incidir no âmbito da responsabilidade civil pelo ato ilícito. moderadamente dos meios necessários, repele injusta
b. Pela finalidade pretendida ou obtida pelo ato. agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.
c. Pelas circunstâncias em que se realize a Aquele que se encontra em legítima defesa deve ou não
conduta positiva ou negativa. ressarcir o dano porventura ocasionado:
Obs. Figura afim do abuso de direito é a do desvio do poder, 1. Corrente – Não tem que indenizar
que consiste no vício de determinado ato administrativo 2. Corrente – Majoritária → Se a agressão ocorreu
discricionário, em virtude de ter o órgão competente agido contra o agressor não há o dever de indenizar, mas se a
com finalidade ou por motivos diversos dos visados pela lei ao agressão por qualquer motivo veio a atingir terceiro que não o
conferir-lhe caráter discricionário. Observe-se que o desvio agressor, cabe o dever de indenizar. A legítima defesa não é
de poder só se aplica aos atos administrativos discricionários. causa de exclusão do dever de indenizar.
Hipóteses de abuso de direito: Art. 930. No caso do inciso II do art. 188, se o perigo ocorrer
• A parte se recusar a cumprir a sua obrigação por culpa de terceiro, contra este terá o autor do dano ação
por faltar uma parte ínfima da obrigação, vale lembrar que o regressiva para haver a importância que tiver ressarcido ao
credor tem direito a receber a prestação devida na lesado.
integridade, na sua totalidade, apesar disso não está impedido Parágrafo único. A mesma ação competirá contra aquele em
o Judiciário de reconhecer o abuso de direito na hipótese em defesa de quem se causou o dano (art. 188, inciso I).
que o credor se negue a receber a prestação ao fundamento b. Estado de necessidade – Há unanimidade na doutrina
de que falta uma parte insignificante ou irrisória. que os danos ocasionados pelo que se encontrava em estado de
• O credor tem direito de receber a prestação necessidade devem ser indenizados.
no prazo previsto, mas nem por isso deve se omitir o tribunal Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem
de reconhecer a figura do abuso de direito quando o credor pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou
rejeitar a prestação em virtude de atraso inapreciável e que por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito
não cause prejuízos.

UFRJ - FACC 42
DIREITO CIVIL – PARTE GERAL

próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era prescrição, ou dito de outro modo, prescrição pressupõe
razoável exigir-se. pretensão que pressupõe lesão a direito subjetivo.
§ 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o Fundamento da prescrição: É a busca de certeza nas relações
dever legal de enfrentar o perigo. jurídicas em virtude de situação de fato consolidada pelo
c. Exercício regular de direito longo decurso do tempo, bem como pela necessidade de
d. Consentimento do ofendido – Não encontra-se paralisar o exercício de um direito subjetivo após anos de
elencado expressamente como causa de exclusão da ilicitude. inércia, criando assim, na coletividade a crença em sua
Só é permitida em relação aos direitos disponíveis. inexistência. A prescrição estabelece uma contradição entre a
situação de direito e a situação de fato, exemplo, a situação
TÍTULO IV de direito é que Pedro deve cinqüenta mil reais a Paulo,
Da Prescrição e da Decadência enquanto que a situação de fato é que Paulo não exige de
CAPÍTULO I Pedro a quantia devida, a prescrição vem justamente para
Da Prescrição acabar com essa contradição, o ordenamento jurídico
Seção I considera que depois de um certo tempo deve prevalecer a
Disposições Gerais situação de fato sobre a situação de direito.
Lesão. Pretensão. Prescrição Requisitos da prescrição:
Art. 189. Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a i. Existência de um direito subjetivo
qual se extingue, pela prescrição, nos prazos a que aludem os ii. Que este direito subjetivo tenha sido lesado
arts. 205 e 206. iii. Que o seu titular não tenha exercido no tempo
A doutrina divide-se afirmando que a prescrição previsto em lei a pretensão do direito material
determina a perda: → Efetivamente a prescrição só diz respeito aos direitos
a. Direito subjetivo subjetivos, pois somente estes podem ser lesados. Tanto as
b. Direito de ação faculdades jurídicas como os direitos potestativos não podem
c. Pretensão ser lesados. Logo, não são objetos de prescrição.
O direito subjetivo é a possibilidade de atuação legal, isto é, Usucapião X Prescrição → Alguns autores denominam o
uma faculdade ou um conjunto de faculdades vinculadas à usucapião como prescrição aquisitiva que se contrapõe, na
decisão do seu titular, na defesa de seus interesses, dentro visão desses autores, à prescrição extintiva, isto é prescrição
do autorizado pelas normas e nos limites do exercício fundado propriamente dita. A doutrina mais autorizada considera essa
na boa-fé. terminologia imprópria.
A faculdade jurídica é aqui analisada como expressando o A prescrição é causa de perda da pretensão do
conteúdo do direito subjetivo. É conteúdo dos direitos exercício do direito subjetivo, ao passo que o usucapião é
subjetivos, não podendo ter uma sorte diversa da do direito modo de aquisição de propriedade. O que determina a perda
subjetivo da qual fazem parte. Esse fenômeno explica o da pretensão do direito subjetivo pela prescrição é o seu não
princípio de que não há prescrição de uma faculdade, pois só exercício no prazo previsto pela lei, enquanto no usucapião a
pode ocorrer a prescrição do direito subjetivo: ou o direito causa de aquisição da propriedade pelo usucapião decorre da
subjetivo prescreveu, e, nesse caso, cessam todas as pessoa mansa e pacífica com animus domini, o que não é o não
faculdades a ele inerentes, ou o direito remanescente, e, como exercício que causa o usucapião, e sim a posse qualificada de
conseqüência, as suas faculdades, como manifestação de seu um terceiro.
conteúdo, mesmo em relação àquelas que não estão sendo Objeto da prescrição: Somente os direitos patrimoniais
exercidas. podem ser objeto de prescrição. Os direitos indisponíveis,
Direito potestativo são aqueles em que se atribuiu ao seu como os direitos da personalidade e os pessoais de família não
titular o poder de produzir, mediante sua exclusiva declaração podem ser objeto de prescrição, já que são considerados
de vontade a modificação ou extinção de uma relação jurídica, imprescritíveis. Também imprescritíveis as pretensões
com efeitos jurídicos em relação ao outro ou outros sujeitos relativas ao estado das pessoas.
da referida relação jurídica. Eles não tem como no direitos STF Súmula nº 149
subjetivos uma relação de obrigação, o seus efeitos estão É imprescritível a ação de investigação de paternidade, mas
submetidos a admitir os efeitos produzidos em decorrência da não o é a de petição de herança.
exclusiva manifestação de vontade do titular do direito Direito que merece análise destacada é o direito de
potestativo, este não podem ser lesado, e como conseqüência, propriedade, que também não se extingue pela prescrição. O
não estão sujeitos à prescrição, mas sim à decadência. direito de propriedade é um direito absoluto que não esta
O Leoni afirma que a prescrição é a perda da pretensão, e não inserido em relação jurídica. Não há no direito de propriedade
do direito subjetivo nem do direito de ação. Portanto, como uma sujeição patrimonial como no direito de crédito. Ao
somente os direitos subjetivos estão sujeitos a serem direito de propriedade não corresponde uma especifica
lesados, somente eles estão sujeitos à prescrição. Podemos sujeição patrimonial alheia, permitindo ao seu titular a
afirmar que da lesão nasce a pretensão, iniciando-se, assim, a faculdade de não utilizar-se da coisa sem que isso dê margem

UFRJ - FACC 43
DIREITO CIVIL – PARTE GERAL

à prescrição. Como se sabe, as faculdades não estão sujeitas a visão a exceção visa impedir a pretensão do autor formulada
prescrição. Entretanto se alguém vem a possuir propriedade na ação judicial, sendo, portanto, um meio de defesa do
alheia, como se dono fosse, com o passar do tempo de posse direito subjetivo.
mansa e pacífica, poderá adquirir a propriedade alheia. Mas As defesas (exceções) podem ser de caráter
ressalte-se que a perda para o antigo proprietário não processual, de caráter material ou de fundo.
decorreu de sua inércia em não usar da coisa, mas da posse As exceções processuais o demandado repele a ação
mansa e pacífica do terceiro. sem penetrar na questão de mérito, limitando-se a natureza
Diversa é a situação no direito de crédito, que, por processual.
estabelecer uma sujeição patrimonial do devedor, o seu não As exceções de fundo pretendem obter a
exercício durante determinado tempo libera o devedor improcedência do pedido do autor.
através da prescrição. As exceções podem ser dilatórias por terem um
Estatuto da prescrição: A prescrição como uma moeda efeito transitório, à medida que não impedem um novo ataque
apresenta duas faces: de um lado extingue a pretensão ao através de outra ação, exemplo, alegação de falta de
exercício de um direito subjetivo; de outro lado, libera o competência ou de litispendência.
devedor do vínculo obrigacional. A prescrição começa a correr As exceções peremptórias impedem um novo ataque,
do dia em que o direito subjetivo poderia ser exercido. visto que seus efeitos são definitivos e perpétuos.
As normas sobre prescrição não podem ser afastadas Exceção autônoma – É aquela que não pressupõe o
pela autonomia privada, por se tratar de normas de ordem exercício de uma pretensão. Pagamento da obrigação.
pública. Mas isso não impede que a parte renuncie a Exceção não-autônoma – É a que pressupõe o
prescrição. Art. 191. A renúncia da prescrição pode ser exercício de uma pretensão. Alguém recebeu uma coisa e em
expressa ou tácita, e só valerá, sendo feita, sem prejuízo de virtude de evicção veio a perder a coisa e deixou prescrever a
terceiro, depois que a prescrição se consumar; tácita é a pretensão do exercício da ação redibitória, não poderá após a
renúncia quando se presume de fatos do interessado, prescrição desta pretender, quando cobrado pelo alienante,
incompatíveis com a prescrição. exercer a exceção relativa aos defeitos ocultos da coisa
A prescrição não se opera automaticamente, com o recebida. Nesse caso, a exceção prescreve no mesmo prazo da
mero decurso do tempo. Como a prescrição não extingue o pretensão.
direito subjetivo, mas tão-somente a pretensão do seu
exercício, bem como ela não se opera automaticamente, o Renúncia da prescrição. Renuncia expressa e tácita
pagamento de débito prescrito é válido, com a conseqüente Art. 191. A renúncia da prescrição pode ser expressa ou
irrepetibilidade do pagamento efetuado. tácita, e só valerá, sendo feita, sem prejuízo de terceiro,
As faculdades como conteúdo de uma determinada depois que a prescrição se consumar; tácita é a renúncia
situação jurídica não estão sujeitas a prescrição. quando se presume de fatos do interessado, incompatíveis
A prescrição se consuma no final do ultimo dia do com a prescrição.
prazo, entretanto, quando o ultimo dia do prazo prescrional é Não se admite a renúncia previa a prescrição, isto é,
feriado, o termo final é prorrogado para o primeiro dia útil uma parte não pode ao celebrar um contrato, renunciar
automaticamente. previamente ao direito de argüir a prescrição. Entretanto o
caráter público das normas sobre a prescrição não impede o
Prescrição. Exceção devedor de renunciar à prescrição já consumada, conforme
Art. 190. A exceção prescreve no mesmo prazo em que a admitido expressamente.
pretensão. Apesar do texto se referir apenas à hipótese da
A pretensão pode ser argüida tanto através de prescrição já ter se consumado, também admite que tal
pretensão ou de exceção. Normalmente a prescrição é alegada renúncia incida quando corre o prazo prescrional, em relação
mediante exceção, mas nada impede que seja pleiteada por ao tempo decorrido, que na verdade constitui o
meio de pretensão. reconhecimento da dívida. Alias a hipótese é expressamente
Pela sistemática do Novo Código o devedor pode prevista como causa interruptiva da prescrição, de acordo
demandar a declaração da prescrição do direito subjetivo. com o artigo 202, VI:
Desse modo nos parece impróprio alguns colocarem como Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente poderá
requisito da prescrição a necessidade de o credor ajuizar a ocorrer uma vez, dar-se-á:
demanda depois de decorrido o prazo prescricional. VI - por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que
A exceção significa toda e qualquer alegação, importe reconhecimento do direito pelo devedor
formulada pelo sujeito do direito subjetivo, em defesa de seu Outro requisito diz respeito aos direitos de
direito, na posição de réu em um processo judicial. Segundo terceiros, ora pode acontecer que com a renúncia o devedor
Chiovenda a exceção constitui um direito potestativo à venha a se colocar em estado de insolvencia ou nele se
anulação da ação, ou, como queria Carnelutti, a exceção serve encontre quando renuncia, prejudicando assim seus credores,
para excluir o direito subjetivo alheio. Qualquer que seja a tal conduta caracteriza fraude contra credores, mas não

UFRJ - FACC 44
DIREITO CIVIL – PARTE GERAL

somente nesta hipótese em que renuncia à prescrição, como alegar, por exemplo, que uma dívida está prescrita, o
em qualquer hipótese que venha prejudicar terceiros ela não magistrado não pode reconhecer a prescrição de ofício;
produzirá efeitos em relação a estes. “...e só valerá, sendo Não somente o juiz pode reconhecer de ofício a
feita, sem prejuízo de terceiro...” o Leoni diz que a prescrição, como também pode o Ministério Público argüir a
hipótese não é de invalidade, mas sim da ineficácia. prescrição quando for para beneficiar a pessoa absolutamente
Requisitos a prescrição: incapaz.
i. Que seja efetuada após o decurso do prazo
prescricional ou durante seu curso, em relação ao tempo Responsabilidade dos assistentes dos relativamente
decorrido; incapazes. Responsabilidade dos representantes das pessoas
ii. Que não prejudique terceiros. jurídicas
Obs. Mesmo ocorrendo a renúncia à prescrição tal conduta Art. 195. Os relativamente incapazes e as pessoas jurídicas
não torna imprescritível a pretensão, porquanto após a têm ação contra os seus assistentes ou representantes legais,
renúncia começa a correr novo prazo prescrional. que derem causa à prescrição, ou não a alegarem
oportunamente.
Inderrogabilidade dos prazos prescricionais O artigo trata da responsabilidade dos assistentes
Art. 192. Os prazos de prescrição não podem ser alterados dos relativamente incapazes e dos administradores das
por acordo das partes. pessoas jurídicas.
O caráter público das normas sobre a prescrição não Administradores das pessoas jurídicas: O presente artigo é
impede o devedor de adimplir um débito prescrito, tampouco um reflexo do disposto no: Art. 1.011. O administrador da
renunciar a prescrição já consumada, conforme admitido sociedade deverá ter, no exercício de suas funções, o cuidado
expressamente pelo artigo anterior. Como reflexo deste e a diligência que todo homem ativo e probo costuma empregar
artigo os particulares não podem: na administração de seus próprios negócios.
i. Aumentar prazos prescricionais Art. 1.016. Os administradores respondem solidariamente
ii. Reduzir prazos prescricionais perante a sociedade e os terceiros prejudicados, por culpa no
iii. Tornar determinadas pretensões como desempenho de suas funções. Conclui-se que a
imprescritíveis responsabilidade aqui prevista é apenas a título de culpa, o
iv. Excluir alguma das causas de impedimento ou mesmo se dá com relação aos assistentes dos relativamente
suspensão de prescrição incapazes, que também só responderão se demonstrada a sua
v. Criar uma nova causa de interrupção de culpa.
prescrição A responsabilidade deste artigo decorre de duas
condutas dos representantes legais dos menores
Momento de argüição da prescrição relativamente incapazes, bem como os administradores das
Art. 193. A prescrição pode ser alegada em qualquer grau de pessoas jurídicas:
jurisdição, pela parte a quem aproveita. a. Ficaram inertes no exercício da pretensão de direito
A exceção da prescrição por força da norma do artigo material e desse modo deram causa à prescrição.
ora comentado, constitui uma exceção ao princípio geral do b. Ou quando diante de direitos subjetivos já prescritos
direito processual de que toda a matéria de defesa deve ser não a alegaram oportunamente por pretensão ou exceção.
alegada na contestação sob pena de preclusão, a teor do Obs. Ficam sem proteção os relativamente incapazes que não
artigo 300 do Código de Processo Civil. Entretanto, segundo o possuam assistentes, porque órfãos sem que lhes tenham sido
disposto no artigo 741, VI, do Código de Processo Civil, não nomeado tutor, ou os demais relativamente incapazes que não
cabe a alegação de prescrição em embargos à execução, salvo tenham curador. Nessa hipótese, não há quem se
se superveniente a sentença. responsabilizar pelos prejuízos sofridos por eles, não se
Exceções ao disposto neste artigo: admitindo também que o juiz conheça de ofício, já que a norma
i. Não se admite a alegação de prescrição na fase do artigo 194 se aplica exclusivamente aos relativamente
de liquidação de sentença incapazes.
ii. Ela não pode ser argüida em ação rescisória
iii. Em grau de recurso especial ou extraordinário a Accessio praescriptionis
prescrição somente poderá ser argüida se foi presquestionada Art. 196. A prescrição iniciada contra uma pessoa continua a
nas instancias locais. correr contra o seu sucessor.

Seção II
Art. 194. O juiz não pode suprir, de ofício, a alegação de Das Causas que Impedem ou Suspendem a Prescrição
prescrição, salvo se favorecer a absolutamente incapaz. Causas de impedimento ou suspensão da prescrição.
A prescrição não se opera de automaticamente, com o Parentesco ou situações semelhantes
mero decurso do tempo, quer dizer, se o demandado não Art. 197. Não corre a prescrição:

UFRJ - FACC 45
DIREITO CIVIL – PARTE GERAL

I - entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal; prescrição correrá normalmente, salvo se ela se encontrar em
II - entre ascendentes e descendentes, durante o poder alguma das hipóteses de impedimento ou suspensão. A
familiar; Refere-se tão-somente a pais e filhos. Essa causa presente norma visa proteger os absolutamente incapazes
também incidirá na filiação adotiva, visto que nesta também quando na condição de credores. A norma deste inciso não
incide o poder familiar. exige que o menor esteja sob o poder familiar.
III - entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou II - contra os ausentes do País em serviço público da União,
curadores, durante a tutela ou curatela. dos Estados ou dos Municípios; Quer se trate de serviço
Impedimento da prescrição: O prazo prescricional ainda não eventual ou permanente.
se iniciou e a incidência de causa impeditiva impede que ele III - contra os que se acharem servindo nas Forças Armadas,
tenha início. em tempo de guerra. A guerra aqui poderá tanto ser interna
Suspensão da prescrição: O prazo prescricional já se iniciou, quanto externa.
porém a incidência de causa suspensiva determina a
paralisação da contagem do prazo. Neste caso, cessando a Causas de impedimento. Situações de natureza técnica de
causa suspensiva continua a contagem do prazo somando-se o determinados direitos subjetivos
tempo decorrido antes da suspensão. Art. 199. Não corre igualmente a prescrição:
Interrupção da prescrição: O prazo prescrional também já se I - pendendo condição suspensiva;
iniciou, porém incidindo uma causa interruptiva elimina-se o II - não estando vencido o prazo;
prazo já decorrido e recomeça a sua contagem. III - pendendo ação de evicção. Como sabido o adquirente
Obs. O dolo e a coação não foram colocadas como causa de somente poderá demandar a referida ação depois de ter
suspensão da prescrição, outros paises colocaram nas suas sofrido a evicção, isto é, a perda da coisa para terceiro, que
legislações os mesmos como causa de suspensão da prescrição, somente ocorrerá após o trânsito em julgado da sentença de
entretanto, como entre nós não temos tal previsão a solução procedência da ação de evicção.
se encontra no reconhecimento de conduta ilícita por parte do
devedor que está a justificar perdas e danos, incluindo o valor Apuração de questão prejudicial no juízo criminal
da obrigação prescrita. Art. 200. Quando a ação se originar de fato que deva ser
Artigo 197 → I - entre os cônjuges, na constância da apurado no juízo criminal, não correrá a prescrição antes da
sociedade conjugal; Em que momento cessa tal causa de respectiva sentença definitiva.
impedimento ou suspensão? Tal causa cessa a partir da Toda vez que a decisão criminal seja prejudicial para
separação judicial. Com relação a união estável demonstrada a a decisão no cível, enquanto não transitar em julgado a
separação de fato, com rompimento da convivência dos sentença criminal não terá início o prazo prescricional. Esta
parceiros de união estável também cessa a causa impeditiva ou hipótese é de impedimento e não de suspensão. O Leoni não
suspensiva. concorda com aqueles que consideram que aqueles que
Artigo 197 → II - entre ascendentes e descendentes, entendem que no presente caso trata-se simplesmente de
durante o poder familiar; Refere-se tão-somente a pais e suspensão do termo final da prescrição. A intenção da norma é
filhos. Essa causa também incidirá na filiação adotiva, visto impedir que se inicie o prazo prescricional da pretensão no
que nesta também incide o poder familiar. Pode ocorrer no cível enquanto não julgada a ação criminal prejudicial.
caso de uma determinada obrigação entre o genitor ou o filho
e terceiro vir a ser transmitida para qualquer daqueles, Solidariedade ativa. Obrigação indivisível. Suspensão da
hipótese em que o prazo prescricional ficará suspenso prescrição
enquanto durar o poder familiar. Com a extinção do poder Art. 201. Suspensa a prescrição em favor de um dos credores
familiar se inicia ou recomeça a correr o prazo prescricional. solidários, só aproveitam os outros se a obrigação for
Em se tratando de filho absolutamente incapaz, contra ele não indivisível.
terá inicio da contagem do prazo prescricional por força do A suspensão da prescrição constitui benefício de
artigo 198, I, nesse caso a prescrição só terá início em relação ordem pessoal e não é comum a todos os credores, isto é,
aos pais, mas nunca em relação ao filho absolutamente incapaz. trata-se de um beneficio que diz respeito àquele que se
Se for filho relativamente incapaz, a contagem do prazo encontre numa das hipóteses dos artigos 197 ou 198.
prescricional terá início tanto para o filho como para os
genitores. Seção III
Das Causas que Interrompem a Prescrição
Causas de impedimento ou suspensão. Dificuldade de o credor Causas interruptivas da prescrição
fazer valer seus direitos Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente poderá
Art. 198. Também não corre a prescrição: ocorrer uma vez, dar-se-á:
I - contra os incapazes de que trata o art. 3o; A norma aqui I - por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a
visa proteger uma das partes da relação jurídica, por óbvio os citação, se o interessado a promover no prazo e na forma da
absolutamente incapazes, então caso seja este o devedor a lei processual; Conduta do credor.

UFRJ - FACC 46
DIREITO CIVIL – PARTE GERAL

Art. 219. A citação válida torna prevento o juízo, induz


litispendência e faz litigiosa a coisa; e, ainda quando ordenada Interrupção da prescrição. Obrigações divisíveis solidárias e
por juiz incompetente, constitui em mora o devedor e indivisíveis. Fiança
interrompe a prescrição. Art. 204. A interrupção da prescrição por um credor não
§ 1o A interrupção da prescrição retroagirá à data da aproveita aos outros; semelhantemente, a interrupção operada
propositura da ação. contra o co-devedor, ou seu herdeiro, não prejudica aos
§ 2o Incumbe à parte promover a citação do réu nos 10 (dez) demais coobrigados.
dias subseqüentes ao despacho que a ordenar, não ficando § 1o A interrupção por um dos credores solidários aproveita
prejudicada pela demora imputável exclusivamente ao serviço aos outros; assim como a interrupção efetuada contra o
judiciário. devedor solidário envolve os demais e seus herdeiros.
§ 3o Não sendo citado o réu, o juiz prorrogará o prazo até o § 2o A interrupção operada contra um dos herdeiros do
máximo de 90 (noventa) dias. devedor solidário não prejudica os outros herdeiros ou
§ 4o Não se efetuando a citação nos prazos mencionados nos devedores, senão quando se trate de obrigações e direitos
parágrafos antecedentes, haver-se-á por não interrompida a indivisíveis.
prescrição. § 3o A interrupção produzida contra o principal devedor
§ 5o Não se tratando de direitos patrimoniais, o juiz poderá, prejudica o fiador.
de ofício, conhecer da prescrição e decretá-la de imediato. A regra geral que prevalece nas obrigações com
§ 6o Passada em julgado a sentença, a que se refere o pluralidade de credores ou de devedores é de que a obrigação
parágrafo anterior, o escrivão comunicará ao réu o resultado é dividida em tantas partes quanto o número de credores ou
do julgamento. devedores. Desse modo, cada devedor tem direito a sua quota,
II - por protesto, nas condições do inciso antecedente; bem como cada devedor responde exclusivamente pela sua
Conduta do credor. quota. Acontece que o princípio da divisibilidade das
Art. 867. Todo aquele que desejar prevenir responsabilidade, obrigações com pluralidade de sujeitos (credores ou
prover a conservação e ressalva de seus direitos ou devedores) sofre duas exceções no direito brasileiro: a
manifestar qualquer intenção de modo formal, poderá fazer solidariedade e a indivisibilidade.
por escrito o seu protesto, em petição dirigida ao juiz, e
requerer que do mesmo se intime a quem de direito.
III - por protesto cambial; Conduta do credor. Seção IV
IV - pela apresentação do título de crédito em juízo de Dos Prazos da Prescrição
inventário ou em concurso de credores; Conduta do credor. Prazo de prescrição. Regra geral. Prescrição ordinária
V - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor; Art. 205. A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não
Conduta do credor. lhe haja fixado prazo menor.
Art. 873. Nos casos previstos em lei processar-se-á a Os prazos prescricionais devem ser interpretados em
notificação ou interpelação na conformidade dos artigos consonância com a norma contida neste artigo: Art. 2.028.
antecedentes. Serão os da lei anterior os prazos, quando reduzidos por este
VI - por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que Código, e se, na data de sua entrada em vigor, já houver
importe reconhecimento do direito pelo devedor. Conduta do transcorrido mais da metade do tempo estabelecido na lei
devedor. revogada.
Parágrafo único. A prescrição interrompida recomeça a correr
da data do ato que a interrompeu, ou do último ato do Art. 206. Prescreve:
processo para a interromper. § 1o Em um ano:
I - a pretensão dos hospedeiros ou fornecedores de víveres
Legitimados para interromper a prescrição destinados a consumo no próprio estabelecimento, para o
Art. 203. A prescrição pode ser interrompida por qualquer pagamento da hospedagem ou dos alimentos;
interessado. II - a pretensão do segurado contra o segurador, ou a deste
Legitimados: Credor, representante legal do credor e terceiro contra aquele, contado o prazo:
interessado, este é quem pode vir a sofrer na sua esfera a) para o segurado, no caso de seguro de responsabilidade
jurídica os efeitos da prescrição do credor do direito civil, da data em que é citado para responder à ação de
subjetivo lesado, exemplo, João é credor de um cinco mil de indenização proposta pelo terceiro prejudicado, ou da data
Jose, e devedor de Paulo de cinco mil, Paulo vendo que a dívida que a este indeniza, com a anuência do segurador;
esta para ser prescrita ele poderá promover a interrupção da b) quanto aos demais seguros, da ciência do fato gerador da
prescrição. pretensão;
É também o caso da seguradora que tem interesse em III - a pretensão dos tabeliães, auxiliares da justiça,
interromper a prescrição do direito do seu segurado contra o serventuários judiciais, árbitros e peritos, pela percepção de
lesante. emolumentos, custas e honorários;

UFRJ - FACC 47
DIREITO CIVIL – PARTE GERAL

IV - a pretensão contra os peritos, pela avaliação dos bens Art. 207. Salvo disposição legal em contrário, não se aplicam à
que entraram para a formação do capital de sociedade decadência as normas que impedem, suspendem ou
anônima, contado da publicação da ata da assembléia que interrompem a prescrição.
aprovar o laudo; Decadência é a perda de um direito potestativo pelo
V - a pretensão dos credores não pagos contra os sócios ou seu não exercício no prazo previsto no ordenamento jurídico.
acionistas e os liquidantes, contado o prazo da publicação da O direito potestativo confere ao seu titular o poder
ata de encerramento da liquidação da sociedade. de produzir efeitos jurídicos na esfera jurídica de outro
§ 2o Em dois anos, a pretensão para haver prestações sujeito da relação jurídica em decorrência de sua exclusiva
alimentares, a partir da data em que se vencerem. manifestação de vontade.
§ 3o Em três anos: Nota-se que uma das diferenças entre o direito
I - a pretensão relativa a aluguéis de prédios urbanos ou subjetivo e o direito potestativo consiste exatamente em que
rústicos; aquele é, normalmente, fruto de manifestação de vontade dos
II - a pretensão para receber prestações vencidas de rendas sujeitos da relação jurídica, isto é, resulta de atos bilaterais
temporárias ou vitalícias; ou plurilaterais, enquanto o direito potestativo decorre de ato
III - a pretensão para haver juros, dividendos ou quaisquer unilateral de seu titular, produzindo efeitos sobre a outra
prestações acessórias, pagáveis, em períodos não maiores de parte.
um ano, com capitalização ou sem ela; Pressupostos do direito potestativo:
IV - a pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem a. Verificação do condicionalismo justificativo (previsto
causa; na lei ou no respectivo negócio jurídico) que faz nascer o
V - a pretensão de reparação civil; direito e legitima o seu exercício;
VI - a pretensão de restituição dos lucros ou dividendos b. A validade da declaração mediante a qual se exerce o
recebidos de má-fé, correndo o prazo da data em que foi direito potestativo existente;
deliberada a distribuição; c. A observação das cautelas especiais quanto ao
VII - a pretensão contra as pessoas em seguida indicadas por exercício de direitos potestativos e, ainda, como é evidente,
violação da lei ou do estatuto, contado o prazo: das regras relativas ao abuso do direito.
a) para os fundadores, da publicação dos atos constitutivos da Os direitos potestativos podem se extinguir pelo seu efetivo
sociedade anônima; exercício ou pelo seu não-exercício. Os direitos potestativos
b) para os administradores, ou fiscais, da apresentação, aos que têm prazos previstos em lei ou no negócio jurídico para
sócios, do balanço referente ao exercício em que a violação serem exercidos, se não o forem no referido prazo,
tenha sido praticada, ou da reunião ou assembléia geral que extinguem-se.
dela deva tomar conhecimento; Classificação dos direitos potestativos:
c) para os liquidantes, da primeira assembléia semestral i. Direitos potestativos constitutivos – São aqueles
posterior à violação; em que o seu titular tem o poder de criar uma relação jurídica
VIII - a pretensão para haver o pagamento de título de por sua exclusiva manifestação de vontade. Exemplo:
crédito, a contar do vencimento, ressalvadas as disposições de Aceitação de herança.
lei especial; ii. Direitos potestativos modificativos – São aqueles
IX - a pretensão do beneficiário contra o segurador, e a do em que seu titular tem o poder de modificar uma relação
terceiro prejudicado, no caso de seguro de responsabilidade jurídica por sua exclusiva manifestação de vontade, como os
civil obrigatório. conferidos ao patrão no contrato de trabalho, denominados de
§ 4o Em quatro anos, a pretensão relativa à tutela, a contar da direitos de direção.
data da aprovação das contas. iii. Direitos potestativos extintivos – São aqueles em
§ 5o Em cinco anos: que seu titular tem o poder de extinguir uma relação jurídica
I - a pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de por exclusiva manifestação de vontade, como a revogação do
instrumento público ou particular; mandato.
II - a pretensão dos profissionais liberais em geral, Fundamento e Objeto da Decadência:
procuradores judiciais, curadores e professores pelos seus Tem por fundamento motivos de segurança social e
honorários, contado o prazo da conclusão dos serviços, da certeza nas relações jurídicas. A decadência tem por objeto
cessação dos respectivos contratos ou mandato; os direitos potestativos.
III - a pretensão do vencedor para haver do vencido o que
despendeu em juízo. Contagem do prazo na decadência:
Tem o seu início diverso da prescrição, uma vez que
CAPÍTULO II nesta o começo do prazo começa a correr a partir da lesão,
Da Decadência isto é, no momento em que nasce a pretensão de direito
Decadência. Inaplicabilidade das normas de impedimento, material. A decadência por sua vez tem início com o
suspensão e interrupção da prescrição nascimento do direito potestativo.

UFRJ - FACC 48
DIREITO CIVIL – PARTE GERAL

O prazo de decadência para o exercício do direito Decadência convencional. Necessidade de alegação


potestativo já está previsto na lei ou no negócio jurídico. Art. 211. Se a decadência for convencional, a parte a quem
aproveita pode alegá-la em qualquer grau de jurisdição, mas o
Diferença entre a prescrição e a decadência: juiz não pode suprir a alegação.
i. A prescrição tem por objeto os direitos Ora, diante do texto do presente do Código Civil, só
subjetivos, já que estes podem ser lesados, enquanto a incidirá a norma do inciso IV do artigo 295 do Código de
decadência tem por objeto os direitos potestativos. Processo Civil quando se tratar de decadência prevista em lei
ii. A prescrição tem por objeto consolidar uma e nunca quando se referir à decadência convencional.
determinada situação fática, enquanto a decadência Art. 295. A petição inicial será indeferida:
estabelece prazos para o exercício de um direito potestativo. IV - quando o juiz verificar, desde logo, a decadência ou a
iii. O início do prazo da prescrição se dá a partir da prescrição
lesão do direito subjetivo, quando nasce a pretensão de
direito material, enquanto o início da decadência se dá com o TÍTULO V
nascimento do próprio direito potestativo. Da Prova
iv. A prescrição se refere à ação condenatória, Meios de provas
enquanto que a decadência às ações constitutivas. Art. 212. Salvo o negócio a que se impõe forma especial, o
v. Os prazos de decadência não admitem a fato jurídico pode ser provado mediante:
suspensão e interrupção, diverso dos prazos de prescrição que I - confissão;
admitem. Art. 348. Há confissão, quando a parte admite a verdade de
vi. A prescrição não pode ser reconhecida de ofício um fato, contrário ao seu interesse e favorável ao adversário.
pelo juiz, salvo para beneficiar pessoa absolutamente incapaz, A confissão é judicial ou extrajudicial.
enquanto a decadência deve ser conhecida de ofício pelo juiz. Art. 349. A confissão judicial pode ser espontânea ou
provocada. Da confissão espontânea, tanto que requerida pela
Aplicação de normas da prescrição à decadência parte, se lavrará o respectivo termo nos autos; a confissão
Art. 208. Aplica-se à decadência o disposto nos arts. 195 e provocada constará do depoimento pessoal prestado pela
198, inciso I. parte.
Art. 195. Os relativamente incapazes e as pessoas jurídicas Parágrafo único. A confissão espontânea pode ser feita pela
têm ação contra os seus assistentes ou representantes legais, própria parte, ou por mandatário com poderes especiais.
que derem causa à prescrição, ou não a alegarem Art. 350. A confissão judicial faz prova contra o confitente,
oportunamente. não prejudicando, todavia, os litisconsortes.
Art. 198. Também não corre a prescrição: Parágrafo único. Nas ações que versarem sobre bens imóveis
I - contra os incapazes de que trata o art. 3o; ou direitos sobre imóveis alheios, a confissão de um cônjuge
não valerá sem a do outro.
Inadmissibilidade de renúncia à decadência legal Art. 351. Não vale como confissão a admissão, em juízo, de
Art. 209. É nula a renúncia à decadência fixada em lei. fatos relativos a direitos indisponíveis.
Não se admite a renúncia previa à decadência legal. É Art. 353. A confissão extrajudicial, feita por escrito à parte
cabível a renúncia a prazo decadencial desde que se trate de ou a quem a represente, tem a mesma eficácia probatória da
decadência convencional, isto é aquela prevista por livre judicial; feita a terceiro, ou contida em testamento, será
manifestação da vontade das partes em um negócio jurídico. livremente apreciada pelo juiz.
Deve se ressaltar que se tratando de negócio Parágrafo único. Todavia, quando feita verbalmente, só terá
anulável, mesmo tendo decorrido o prazo decadencial nada eficácia nos casos em que a lei não exija prova literal.
impede que a parte utilize o instituto da confirmação previsto Art. 354. A confissão é, de regra, indivisível, não podendo a
no artigo 172 do Código Civil. parte, que a quiser invocar como prova, aceitá-la no tópico que
a beneficiar e rejeitá-la no que Ihe for desfavorável. Cindir-
se-á, todavia, quando o confitente Ihe aduzir fatos novos,
suscetíveis de constituir fundamento de defesa de direito
Decadência legal. Conhecimento de ofício material ou de reconvenção.
Art. 210. Deve o juiz, de ofício, conhecer da decadência, Art. 343. Quando o juiz não o determinar de ofício, compete
quando estabelecida por lei. a cada parte requerer o depoimento pessoal da outra, a fim de
Outro é o regime em se tratando de decadência interrogá-la na audiência de instrução e julgamento.
convencional. Nesse caso o que prevalece é o interesse dos § 2o Se a parte intimada não comparecer, ou comparecendo,
particulares. Aqui, aplica-se o mesmo princípio da prescrição: se recusar a depor, o juiz Ihe aplicará a pena de confissão.
o juiz não pode conhecer da decadência de ofício. É II - documento;
necessário o requerimento da parte a quem ela aproveite. III - testemunha;

UFRJ - FACC 49
DIREITO CIVIL – PARTE GERAL

IV - presunção; Não se trata de meio de prova, mas sim de Desse modo, seus efeitos, como os demais atos jurídicos, não
uma ilação que se retira de um fato conhecido para concluir decorrem da vontade da parte, mas já se encontraram
pela existência de outro que se pretende provar, isto é, previamente previstos no ordenamento jurídico. O Código de
através da presunção se retira à conseqüência de um fato Processo Civil no seu artigo 350 diz que a confissão faz prova
conhecido para provar um desafio. As presunções costumam contra o contratante.
ser classificadas em: legais e de fato. As presunções legais Art. 350. A confissão judicial faz prova contra o confitente,
por sua vez se subdividem em: não prejudicando, todavia, os litisconsortes.
• Absolutas – iure et iuri – São aquelas que não Art. 352. A confissão, quando emanar de erro, dolo ou coação,
admitem prova em contrário. pode ser revogada: Este artigo do Código de Processo Civil
• Relativas – iuris tantum –Também elenca o dolo, o que o Novo Código Civil, com isso conclui-se
denominadas de simples, são aquelas que admitem prova em que este artigo está parcialmente revogado, isto é, na parte
contrário. que previa a invalidade da confissão por dolo. Alguns autores
V - perícia. tem criticado a não previsão do dolo, mas me parece que não
Art. 420. A prova pericial consiste em exame, vistoria ou estão corretos, realmente o dolo é toda ação ou omissão
avaliação. intencional, através de ardil ou manobras fraudulentas, que
Parágrafo único. O juiz indeferirá a perícia quando: induzem a pessoa com quem se celebra um negócio jurídico em
I - a prova do fato não depender do conhecimento especial de erro ou engano, visando a causar-lhe prejuízo em benefício
técnico; próprio ou de terceiro. Através da conduta dolosa o sujeito
II - for desnecessária em vista de outras provas produzidas; obtém uma declaração de vontade de outro contratante que
III - a verificação for impraticável. não seria emitida se ele incidisse em erro em virtude de dolo,
ocorre que esta confissão feita por dolo não significa
Características das provas: necessariamente que o fato confessado não corresponda a
I. Admissibilidade – Relaciona ao fato da prova ser verdade, ora se uma parte consegue que a outra confesse fato
admitida em direito, ou seja, não contrária à ordem jurídica verdadeiro por tê-la enganado tal confissão é válida. Se,
vigente. Para tanto é necessário que advenha de meio idôneo, entretanto o conflitante confessou fatos não verdadeiros, ai
capaz de garantir a ilicitude da prova a ser produzida. nós estamos diante de erro de fato que determinará a
II. Pertinência – Esta em ser a prova adequada à invalidade da confissão, nesse sentido a doutrina italiana.
demonstração dos fatos que se pretende comprovar. O Código se limita ao erro de fato, não abrangendo,
III. Concludência – No sentido de esclarecer a veracidade portanto, o erro de direito, este não dará margem à invalidade
dos fatos, solucionando a controvérsia ou esclarecendo da confissão. A confissão diz respeito a fatos.
determinadas questões. Art. 352. A confissão, quando emanar de erro, dolo ou coação,
O artigo em comento determina que os atos de forma livre pode ser revogada: Os incisos abaixo trazem o meios pelos
admitem qualquer meio de prova não contrário ao direito, a quais a impugnação a confissão poderá ser feita.
contrário sensu dos atos que demandam forma especial. I - por ação anulatória, se pendente o processo em que foi
feita;
Confissão. Irrevogabilidade. Invalidade II - por ação rescisória, depois de transitada em julgado a
Art. 213. Não tem eficácia a confissão se provém de quem não sentença, da qual constituir o único fundamento.
é capaz de dispor do direito a que se referem os fatos Parágrafo único. Cabe ao confitente o direito de propor a
confessados. ação, nos casos de que trata este artigo; mas, uma vez
Parágrafo único. Se feita a confissão por um representante, iniciada, passa aos seus herdeiros.
somente é eficaz nos limites em que este pode vincular o
representado. Documento. Escritura pública. Requisitos
É conveniente que se tenha em conta que o Art. 215. A escritura pública, lavrada em notas de tabelião, é
reconhecimento não é propriamente do direito, mas sim de documento dotado de fé pública, fazendo prova plena.
fato que irá repercutir no direito. § 1o Salvo quando exigidos por lei outros requisitos, a
Art. 116. A manifestação de vontade pelo representante, nos escritura pública deve conter:
limites de seus poderes, produz efeitos em relação ao I - data e local de sua realização;
representado. Tal regra vale tanto para a representação legal II - reconhecimento da identidade e capacidade das partes e
como para a convencional. de quantos hajam comparecido ao ato, por si, como
representantes, intervenientes ou testemunhas;
Confissão. Irrevogabilidade. Invalidade III - nome, nacionalidade, estado civil, profissão, domicílio e
Art. 214. A confissão é irrevogável, mas pode ser anulada se residência das partes e demais comparecentes, com a
decorreu de erro de fato ou de coação. indicação, quando necessário, do regime de bens do
A confissão não é negócio jurídico, mas sim ato casamento, nome do outro cônjuge e filiação;
jurídico lícito que consiste em manifestação de conhecimento.

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DIREITO CIVIL – PARTE GERAL

IV - manifestação clara da vontade das partes e dos Declarações. Declarações dispositivas e declarações
intervenientes; enunciativas
V - referência ao cumprimento das exigências legais e fiscais Art. 219. As declarações constantes de documentos assinados
inerentes à legitimidade do ato; presumem-se verdadeiras em relação aos signatários.
VI - declaração de ter sido lida na presença das partes e Parágrafo único. Não tendo relação direta, porém, com as
demais comparecentes, ou de que todos a leram; disposições principais ou com a legitimidade das partes, as
VII - assinatura das partes e dos demais comparecentes, bem declarações enunciativas não eximem os interessados em sua
como a do tabelião ou seu substituto legal, encerrando o ato. veracidade do ônus de prová-las.
§ 2o Se algum comparecente não puder ou não souber A presunção de serem verdadeiras as declarações dos
escrever, outra pessoa capaz assinará por ele, a seu rogo. seus signatários, isto é, em relação àqueles que assinam ou
§ 3o A escritura será redigida na língua nacional. subscrevem documentos. Logo há uma presunção de
§ 4o Se qualquer dos comparecentes não souber a língua veracidade, em relação aos que assinam.
nacional e o tabelião não entender o idioma em que se O parágrafo único trata das diferenças entre efeitos
expressa, deverá comparecer tradutor público para servir de conforme se trata de declarações dispositivas ou meramente
intérprete, ou, não o havendo na localidade, outra pessoa enunciativas. Este parágrafo deixa claro que somente em
capaz que, a juízo do tabelião, tenha idoneidade e relação às declarações dispositivas subsiste a presunção de
conhecimento bastantes. veracidade, as declarações meramente enunciativas não
§ 5o Se algum dos comparecentes não for conhecido do eximem os interessados em sua veracidade do ônus de prová-
tabelião, nem puder identificar-se por documento, deverão las.
participar do ato pelo menos duas testemunhas que o Declarações dispositivas – São aquelas que dizem respeito à
conheçam e atestem sua identidade. essência do negócio jurídico celebrado.
Caso não forem atendidos os requisito exigidos por Declarações meramente enunciativas – São aquelas que dizem
este artigo, a solução nos é fornecida pelo artigo 367 do respeito a fatos não essenciais ao negócio jurídico celebrado.
Código de Processo Civil:
Art. 367. O documento, feito por oficial público Anuência. Autorização. Forma
incompetente, ou sem a observância das formalidades legais, Art. 220. A anuência ou a autorização de outrem, necessária à
sendo subscrito pelas partes, tem a mesma eficácia validade de um ato, provar-se-á do mesmo modo que este, e
probatória do documento particular. constará, sempre que se possa, do próprio instrumento.
A escritura pública só se faz necessária quando a lei A anuência pode ser dada:
assim exigir para a validade de determinados negócios. i. Antes da celebração do negócio jurídico.
Entretanto nada impede que as partes ao celebrarem ii. No próprio instrumento do negócio jurídico
negócio que não se exige a escritura pública o façam por essa celebrado.
forma. iii. Após a celebração do negócio jurídico – Somente
é possível por força no disposto no: Art. 176. Quando a
Cópias dos atos judiciais. Certidões e translados. Efeitos anulabilidade do ato resultar da falta de autorização de
Art. 216. Farão a mesma prova que os originais as certidões terceiro, será validado se este a der posteriormente.
textuais de qualquer peça judicial, do protocolo das → O ideal é que seja dada no próprio instrumento do negócio,
audiências, ou de outro qualquer livro a cargo do escrivão, pois assim se evita divergências.
sendo extraídas por ele, ou sob a sua vigilância, e por ele Vale uma indagação no sentido de se saber se
subscritas, assim como os traslados de autos, quando por continua valendo o entendimento da jurisprudência que se
outro escrivão consertados. formou na vigência do Código revogado de admitir que quando
se tratasse de mandato a procuração poderia ser dada por
Tabelião e oficial de registro. Translados e certidões. Efeitos instrumento particular, mesmo quando o negócio jurídico
Art. 217. Terão a mesma força probante os traslados e as celebrado exigesse escritura pública. A resposta deve ser
certidões, extraídos por tabelião ou oficial de registro, de negativa, por força do disposto no: Art. 657. A outorga do
instrumentos ou documentos lançados em suas notas. mandato está sujeita à forma exigida por lei para o ato a ser
praticado. Não se admite mandato verbal quando o ato deva
ser celebrado por escrito.
Atos produzidos em juízo. Translados e certidões. Efeitos
Art. 218. Os traslados e as certidões considerar-se-ão Instrumento particular. Efeitos. Cessão de crédito. Prova
instrumentos públicos, se os originais se houverem produzido Art. 221. O instrumento particular, feito e assinado, ou
em juízo como prova de algum ato. somente assinado por quem esteja na livre disposição e
administração de seus bens, prova as obrigações convencionais
de qualquer valor; mas os seus efeitos, bem como os da

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DIREITO CIVIL – PARTE GERAL

cessão, não se operam, a respeito de terceiros, antes de Art. 227. Salvo os casos expressos, a prova exclusivamente
registrado no registro público. testemunhal só se admite nos negócios jurídicos cujo valor não
Parágrafo único. A prova do instrumento particular pode ultrapasse o décuplo do maior salário mínimo vigente no País
suprir-se pelas outras de caráter legal. ao tempo em que foram celebrados.
A cessão de crédito para produzir efeitos em relação Parágrafo único. Qualquer que seja o valor do negócio jurídico,
a terceiros necessita estar registrada, nesse sentido o artigo a prova testemunhal é admissível como subsidiária ou
288 do Código Civil. complementar da prova por escrito.
Art. 288. É ineficaz, em relação a terceiros, a transmissão de
um crédito, se não celebrar-se mediante instrumento público, Testemunhas. Incapazes. Impedidos. Suspeitos
ou instrumento particular revestido das solenidades do § 1o do
Art. 228. Não podem ser admitidos como testemunhas:
art. 654. I - os menores de dezesseis anos;
Art. 290. A cessão do crédito não tem eficácia em relação ao II - aqueles que, por enfermidade ou retardamento mental,
devedor, senão quando a este notificada; mas por notificado não tiverem discernimento para a prática dos atos da vida
se tem o devedor que, em escrito público ou particular, se civil;
declarou ciente da cessão feita. III - os cegos e surdos, quando a ciência do fato que se quer
provar dependa dos sentidos que lhes faltam;
Telegrama IV - o interessado no litígio, o amigo íntimo ou o inimigo
Art. 222. O telegrama, quando lhe for contestada a capital das partes;
autenticidade, faz prova mediante conferência com o original V - os cônjuges, os ascendentes, os descendentes e os
assinado. colaterais, até o terceiro grau de alguma das partes, por
consangüinidade, ou afinidade.
Cópia do documento. Impugnação. Título de crédito Parágrafo único. Para a prova de fatos que só elas conheçam,
Art. 223. A cópia fotográfica de documento, conferida por pode o juiz admitir o depoimento das pessoas a que se refere
tabelião de notas, valerá como prova de declaração da este artigo.
vontade, mas, impugnada sua autenticidade, deverá ser
exibido o original. Dispensa de depor. Segredo. Desonra. Perigo de vida
Parágrafo único. A prova não supre a ausência do título de Art. 229. Ninguém pode ser obrigado a depor sobre fato:
crédito, ou do original, nos casos em que a lei ou as I - a cujo respeito, por estado ou profissão, deva guardar
circunstâncias condicionarem o exercício do direito à sua segredo;
exibição. II - a que não possa responder sem desonra própria, de seu
cônjuge, parente em grau sucessível, ou amigo íntimo; Parente
Documento redigido em língua estrangeira. Tradução em grau sucessivo é até o quarto grau.
Art. 224. Os documentos redigidos em língua estrangeira III - que o exponha, ou às pessoas referidas no inciso
serão traduzidos para o português para ter efeitos legais no antecedente, a perigo de vida, de demanda, ou de dano
País. patrimonial imediato.

Documento em sentido amplo. Reproduções mecânicas ou


eletrônicas. Efeitos Presunções. Presunção legal. Presunção de fato
Art. 225. As reproduções fotográficas, cinematográficas, os Art. 230. As presunções, que não as legais, não se admitem
registros fonográficos e, em geral, quaisquer outras nos casos em que a lei exclui a prova testemunhal.
reproduções mecânicas ou eletrônicas de fatos ou de coisas
fazem prova plena destes, se a parte, contra quem forem Perícia. Exame medido. Recusa. Efeitos
exibidos, não lhes impugnar a exatidão. Art. 231. Aquele que se nega a submeter-se a exame médico
Escrituração dos empresários. Efeitos necessário não poderá aproveitar-se de sua recusa.
Art. 226. Os livros e fichas dos empresários e sociedades A grande polêmica aqui reside no caso do exame de
provam contra as pessoas a que pertencem, e, em seu favor, DNA nas ações de investigação de paternidade. A
quando, escriturados sem vício extrínseco ou intrínseco, jurisprudência pátria se posicionou no sentido negativo,
forem confirmados por outros subsídios. concluindo que não poderia o Judiciário obrigar o réu a
Parágrafo único. A prova resultante dos livros e fichas não é submeter-se ao exame médico.
bastante nos casos em que a lei exige escritura pública, ou O Novo Código Civil seguiu o mesmo posicionamento ao admitir
escrito particular revestido de requisitos especiais, e pode a recusa a submeter-se a exame médico necessário.
ser ilidida pela comprovação da falsidade ou inexatidão dos Você obrigar alguém a ter que se submeter ao exame
lançamentos. medido violaria o princípio constitucional do respeito da
dignidade humana.
Prova testemunhal. Admissibilidade

UFRJ - FACC 52
DIREITO CIVIL – PARTE GERAL

Nas hipóteses em que para a solução da lide seja


necessário o exame médico o ônus da prova fica a cargo do
autor. Neste caso, se o autor se negou a submeter-se a exame
médico, não poderá futuramente alegar que a insuficiência
probatória reverterá contrariamente ao autor que terá seu
pedido julgado improcedente. Na hipótese contrária, isto é,
aquela em que não cabe ao que se recusa a submeter-se ao
exame o ônus probatório, normalmente o réu (na investigação
de paternidade), não podendo o recusante pretender a
insuficiência de prova, por falta do exame, em seu favor.
Neste caso, a insuficiência probatória reverterá em desfavor
do réu, devendo o pedido ser julgado procedente.

Recusa a perícia. Presunção legal. Presunção relativa


Art. 232. A recusa à perícia médica ordenada pelo juiz poderá
suprir a prova que se pretendia obter com o exame.
Este artigo estabelece uma presunção legal. Não se
trata de ficção legal, mas sim de presunção. Temos um
presunção legal relativa, desse modo, a recusa à perícia
médica pode determinar uma decisão contrária ao recusante.
É assim porque o artigo não diz que a recusa suprirá a prova
que se pretendia obter com o exame, mas simplesmente que a
recusa poderá ser levada em conta pelo magistrado para o
efeito de suprir a prova oriunda do exame médico recusado,
diante do contexto probatório.

UFRJ - FACC 53

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