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Direito Civil I – P1

1. Direito Civil/Conceito/Sujeitos de Direito

O Direito Civil é uma disciplina que cuida das relações jurídicas envolvendo família, contrato e propriedade.
Regula, também, questões existenciais e patrimoniais das pessoas, como, por exemplo, o direito a imagem.
Direito Civil I começa a estudar a parte da Teoria Geral que está na parte geral do Código Civil.

Nosso código concede atributos a pessoas que são denominadas sujeitos de direito, são elas: a pessoa natural
e a pessoa jurídica.

2. Estudo da pessoa natural

O Código Civil concede o primeiro atributo no art. 1º CC quando diz que a pessoa natural possui
personalidade jurídica ou civil (sinônimos).

OBS: Quando o Código Civil modifica a nomenclatura de pessoa física para pessoa natural, reconhece-se
direitos relacionados a sua dignidade.

A personalidade jurídica ou civil é a aptidão que a pessoa possui para adquirir direitos e obrigações na
ordem civil.

Há controvérsias no estudo do Direito Civil em relação ao momento da aquisição da personalidade jurídica


(art. 2º CC). São três as correntes que discutem isso:

A. Natalista (majoritária) – os defensores da corrente natalista dizem que só há aquisição de


personalidade jurídica após o nascimento com vida.
B. Concepcionista – O fato de o Código Civil não ser claro sobre a época de concepção de
personalidade jurídica, gerou a corrente concepcionista. Para entender essa corrente é necessário
entender o conceito de nascituro que, por sua vez, significa: o ser já concebido, mas que ainda se
encontra no ventre materno na expectativa de nascer com vida. Então, a corrente concepcionista
defende que o nascituro já possui personalidade jurídica.
C. Personalidade condicional – A corrente da personalidade condicional (muito pouco discutida)
entende que o nascituro já tem personalidade, mas ela só será confirmada se houver nascimento com
vida.

3. Capacidade

O gênero de capacidade se divide em duas espécies: capacidade de direito ou de gozo e capacidade de


exercício ou de fato. É importante aqui diferenciar capacidade de exercício de legitimação/legitimidade. A
legitimação é, por exemplo, poder de vender algo desde que seja sua propriedade. As vezes se tem
capacidade, mas não tem legitimidade. Legitimação é a característica exigida para a prática de determinado
ato jurídico, por exemplo, ser proprietário do bem para vendê-lo ou ser um dos cônjuges para se requerer o
divórcio.

O professor Caio Mário define capacidade como medida da personalidade.

A capacidade de direito/gozo é uma decorrência da personalidade, isto é, é ter direitos e obrigações a partir
de adquirida a personalidade e que todos terão durante toda a vida.

Já a capacidade de exercício/fato é a possibilidade de exercer por si só, ou seja, sem representante nem
assistente, os atos da vida civil (qualquer tipo de contrato). Essa capacidade nem todo mundo possui ou pode
vir a possuir, além de algumas pessoas poderem vir a perdê-la (interdição).
4. Incapacidade (arts. 3º e 4º CC)

A incapacidade também é um gênero que se divide em duas espécies: Incapacidade absoluta e incapacidade
relativa. No sistema jurídico há dois graus de incapacidade que, por sua vez, é uma medida de proteção para
a pessoa que ainda não alcançou, perdeu ou teve reduzido seu discernimento.

Para definir discernimento deve-se ter um critério. As pessoas possuem discernimento quando podem
responder sobre os próprios atos. O Código Civil atual entende que a pessoa com 18 anos ou mais tem
discernimento suficiente. Em outras situações em que não há um critério de idade deve-se passar por um
processo.

A. Incapacidade Absoluta (art. 3º CC) – O código diz que o absolutamente incapaz está proibido de
praticar pessoalmente os atos da vida civil. Contudo, essa pessoa continua tendo direitos. Ela não
poderá praticar esses atos por si só, mas deve ser representada. O mecanismo de suprimento (auxílio)
da capacidade absoluta é a representação.
São considerados absolutamente incapazes aqueles que não tem discernimento, e são eles:
I – Menores de 16 anos (menores impúberes);
II – Aqueles que não têm o necessário discernimento (para isso é necessário a passagem por um
processo regular de interdição);
III – Aqueles que, ainda que temporariamente, não consigam exprimir sua vontade (ex:
inconsciência). Normalmente é algo temporário, mas se prolongando será necessário um processo de
interdição. Nesse momento temporário são familiares presentes que respondem por esse indivíduo.

B. Incapacidade Relativa (art. 4º CC) – A incapacidade relativa tem o caráter de ser menos grave, isto
é, há discernimento, mas não total. Os relativamente incapazes são assistidos e não representados
(como na incapacidade absoluta), podendo participar da vida civil e ter sua opinião considerada.
Contudo, precisam de uma ratificação do assistente. Portanto, os relativamente incapazes são
incapazes de realizar certos atos ou da maneira de realizar/exercê-los.
São relativamente incapazes:
I – maiores de 16 anos (menor púbere) e menores de 18 anos. É pertinente aqui fazer uma
observação: esse segmento pode exercer a função de procuradores (art. 666 CC), contudo não podem
responder como uma pessoa capaz responderia a um processo. E também podem realizar um
testamento (art. 1860, § único CC). Para esses atos eles não precisam ser assistidos;
II – Usuários de drogas ou alcoólatras quando, comprovadamente, esse estado contribui para a
alteração de discernimento do indivíduo. Neste caso é necessário passar por um processo regular de
interdição para ser declarado relativamente incapaz;
III – Os excepcionais (deficientes) sem o desenvolvimento mental completo. Neste caso pode ser
alguém que nasceu com algum tipo de doença e, por isso, não desenvolveu discernimento completo
ou, ao longo da vida, teve alguma doença que prejudicou seu discernimento. Se este indivíduo será
julgado como relativamente ou absolutamente incapaz depende de um processo regular de interdição
no qual o juiz irá julgar dependendo do caso;
IV – Pródigo, ou seja, aquele que tem problemas de discernimento relacionado a administração das
finanças e do patrimônio, o que pode levá-lo a gastar tudo o que tem e, até mesmo, dilapidar (acabar)
com o patrimônio da própria família. A interdição do pródigo diz respeito somente a questões
patrimoniais/finanças e também depende de um processo regular de interdição. Antes do processo
são considerados capazes.

OBS1: a condição do indígena é regulada pelo estatuto do índio.


OBS2: o art. 9º CC diz que os a interdição por incapacidade absoluta ou relativa deve ser registrada em
registro público. E o art. 10º CC diz que será feita averbação em registro público caso a sentença de
interdição por incapacidade absoluta ou relativa seja anulada.

5. Capacidade Civil Plena (art. 5º CC)

A capacidade civil plena, em sua definição, é a capacidade de a pessoa realizar sozinha todos os atos da vida
civil. Atingimos a capacidade civil plena aos 18 (dezoito) anos ou a partir da emancipação. A emancipação,
por sua vez, é a antecipação da capacidade de exercício antes da idade legal. Há três hipóteses de praticar a
capacidade civil antes dos 18 anos.

6. Emancipação Voluntária, por outorga ou por concessão dos pais

A emancipação não é a antecipação do alcance da idade de dezoito anos, pois o indivíduo que for
emancipado ainda não poderá realizar alguns atos da vida civil que possuem como requisito a idade e outros
atos como beber, dirigir e etc.

A. Emancipação Voluntária

Base legal: Art. 5º §único, I, 1ª parte.

A emancipação voluntária é uma decisão dos pais, já que o menor não tem o direito de exigir ser
emancipado.

Esse tipo de emancipação deveria ser feito quando os pais (no código civil de 2002 não se fala mais somente
na figura do pai), ou outros tipos de pais, ou também na falta de um deles um somente falar, desejarem
realizar o ato de emancipação do filho por vontade dos pais por chegarem a conclusão que seu descendente
já possui o discernimento de uma pessoa de 18 anos. A ideia é que os pais conversem com seus filhos para
realizarem e ver se é necessária a emancipação, contudo nem sempre o menor é ouvido.

São requisitos necessários para a emancipação voluntária:

I - O indivíduo tem que ter no mínimo 16 anos;

II - Escritura pública no cartório de notas (o ato deve ser feito da maneira mais segura possível);

III - Manifestação e concordância de ambos os pais

OBS: exceções quanto ao terceiro requisito (quando será aceita a manifestação de apenas um dos pais): (i)
falecimento de um dos pais; (ii) quando só há registro no dome de um pai; (iii) ausência declarada pelo juiz
(desaparecimento sem saber o que aconteceu); (iv) destituição do poder familiar; (v) se um dos pais for
declarado absolutamente incapaz ou relativamente incapaz (interditados).

A emancipação voluntária só produz efeitos civis; com a emancipação pode-se praticar todos os atos da vida
civil com exceção daqueles que exigem idade. A Emancipação não tem efeitos penais. O fato de o indivíduo
ser emancipado não faz com que seja imputável de crime e o indivíduo continua a responder de acordo com
o ECA.

Não há possibilidade de revogação da Emancipação. Contudo, se o emancipado buscar provar na justiça que
esse ato emancipatório foi feito de má-fé, como, para que os pais pudessem fugir de seus deveres parentais
pode ocorrer a anulação da emancipação.
OBS1: O STJ, atualmente, tem o entendimento de que a emancipação voluntária, por si só, não afasta a
responsabilidade dos pais, pois há um caso de solidariedade passiva. Por esse entendimento, os pais
continuam a responder civilmente (patrimonialmente) pelos atos dos filhos menores emancipados.

OBS2: Quando cessa o poder de família cessa também o dever de alimentos.

B. Emancipação Judicial

Base Legal: Art. 5º § único, I, 2ª parte.

A emancipação judicial pode ser feita nas hipóteses em que o menor de idade está sob tutela. Vamos,
portanto, estar diante das figuras do tutor e do jovem a ser chamando de tutelado, tutelando ou pupilo. O
menor de idade fica sob tutela apenas até os 18 anos ou sua emancipação.

São hipóteses para tutela: (i) ambos os pais falecidos; (ii) ambos os pais declarados ausentes pelo juiz; (iii)
ambos os pais serem destituídos do poder familiar; (iv) um dos pais falecidos e outro não constando em
registro. Ou seja, sempre que não há a figura de nenhum dos pais.

OBS: o fato de os familiares estarem presos não significa perder o poder familiar, mas esses pais possuem
seus direitos políticos suspensos, a não ser que seja um crime contra o menor (filho).

São requisitos para a emancipação (a ideia é que o tutor não possa ter a mesma liberdade para emancipar
como os pais, pois seria muito perigoso se o tutor fosse ao cartório emancipar):

I – O menor deve ter 16 anos completos no mínimo;

II – O tutor deve ser ouvido;

III – O Ministério Público emitirá seu parecer (vai oferecer sua oitiva/opinião como defensor dos incapazes
e, então, ver se o incapaz possui o necessário discernimento – essa opinião não vincula o juiz);

IV – O juiz proferirá uma sentença.

C. Emancipação Legal

Base Legal: Art. 5º § único, II a V.

A Emancipação Legal é assim chamada porque se a pessoa preencher qualquer dos requisitos previstos nos
incisos II a V do parágrafo único do art. 5º do Código Civil estará automaticamente emancipada.

São requisitos para a Emancipação Legal:

I – Casamento (ver artigos 1517 e 1520 CC).

Ambos os pais podem autorizar que os filhos se casem antes dos 18 anos. O casamento, como ato da vida
civil, só poderia ser realizado aos 18 anos. Não é a autorização dos pais que emancipa, mas o casamento
civil válido.

Art. 1517: traz a chamada idade núbil (idade que o legislador considera que homens e mulheres estão
biologicamente aptos para o casamento); trata-se do casamento civil válido.

OBS: se um pai somente quiser pode-se recorrer a uma ação.

Art. 1520: A emancipação, em caráter de regra, tem como requisito o adolescente estar na idade dos 16 anos.
Assim, mesmo para se casar (uma das formas de emancipação legal), o indivíduo deve ter 16 anos. Neste
caso, é importante observar que, não obstante você estar tendo a autorização dos pais para a emancipação, o
que emancipará o jovem é o casamento, não a autorização. Tendo a regra sido esclarecida, partamos para a
análise da exceção. A exceção à regra descrita acima, isto é, um jovem ser emancipado apenas a partir dos
16 anos, é unicamente a do artigo 1520 do Código Civil. O artigo em questão abre a possibilidade, tendo
como finalidade “proteger a construção da família”, dentre outras, abre exceção para que, qualquer jovem,
seja menino ou menina, abaixo de 16 anos, possa ser emancipado pela via legal do casamento, uma vez com
o consentimento dos pais, se for caso de gravidez. Ou seja, se alguém, com 13 anos engravida do namorado
de 14 anos, eles podem se casar, salvo sem autorização dos pais, e, por conseguinte, serão emancipados.
Essa, portanto, é a exceção à regra: a única hipótese de emancipação em geral prescrita pelo legislador,
tendo em vista que houve essa opção legislativa de se proteger a família e o desenvolvimento do beb~e,
antes da idade padrão de 16 anos.

II – exercício em emprego público efetivo (nesse caso é quase impossível, pois o código dos servidores diz
ser necessária a idade de 18 anos);

III – colar grau em estabelecimento de nível superior (faculdade ou técnico com status de nível de terceiro
grau);

IV – ter 16 anos, ter emprego ou comércio e, em razão deles (trabalho ou comércio) ter independência
financeira (esses requisitos devem vir juntos).

7. Extinção da Personalidade (art. 6º CC)

O tema de extinção da personalidade se subdivide nos temas:

- Morte real

- Morte presumida sem declaração de ausência (art. 7º CC e art. 88 da lei nº6015/73)

- Morte presumida com declaração de ausência (art. 22 ao 39 CC)

- Comoriência (Art. 8º CC)

OBS: nome técnico para falecido no direito: “de cujus”

O Código civil começa falando sobre a questão da morte, pois a morte provoca mudanças jurídicas
importantes naqueles que ficam regulados pelo direito civil e processual civil. Existem situações que
precisam de regulamentação, pois nem sempre a morte é real. O direito civil precisa se preparar para aquelas
situações em que não é possível encontrar ou reconhecer o corpo ou simplesmente a pessoa sumir.

A. Morte Real

Ocorre quando é possível encontrar e reconhecer o corpo para que seja dado o atestado de óbito.

B. Morte Presumida

Se uma pessoa está desaparecida levará um tempo grande para ter a morte declarada. Sem o processo de
ausência é mais fácil, pois há indícios de onde a pessoa estava/está.

B.1 Morte Presumida sem processo de ausência

Segundo o Art. 7º do Código Civil, pode ser declarada morte presumida sem decretação de ausência, isto é,
quando sabemos o que pode ter acontecido com a pessoa (há notícias), nas seguintes hipóteses:
1ª HIPÓTESE:

 Art. 7º, I: caso seja extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida (ex:
sequestro); a pessoa desapareceu, mas houve notícias.
 Art. 88 da Lei 6015/73: vai mais ao ponto das situações de catástrofe; quando provada a presença da
pessoa em local de catástrofe e não for possível achar o cadáver para exame.

É para isso que existem listas e testemunhas. Se a pessoa reaparece a declaração é anulada e a certidão de
nascimento volta a valer e, com isso, a pessoa retoma a vida na medida do possível. A família tem que
requerer a morte presumida, mas os benefícios governamentais, a despeito disso, são cancelados.

2ª HIPÓTESE:

 Art. 7º, II: se alguém desaparecido em campanha (militar) ou feito prisioneiro, não for encontrado
em até dois anos após o término da guerra.

Há, nesse caso, um programa em ter uma declaração oficial de termino de guerra e, ainda, ter dois anos a
mais para serem esperados. No caso do prisioneiro, não é necessário ser um militar.

B.2 Morte Presumida com processo de ausência (art. 22 ao 39 CC)

Há três fases no processo de ausência:

1º curadoria dos bens do ausente (art. 22 ao 25 CC);

2º sucessão provisória (art. 26 ao 36 CC);

3º sucessão definitiva (art. 37 ao 39 CC).

OBS: há mais uma situação de morte presumida que são os desaparecidos políticos, regulada por uma lei
federal.

Definição da situação de ausência: quando a pessoa desaparece de seu domicílio. É a situação de


desaparecimento de uma pessoa do local em que ela fixou seu domicílio, ou seja, o lugar que ela escolheu
para permanecer com a intenção de ficar definitivamente. Na situação de ausência a “primeira luz que
acende” é no lugar que você deveria ser encontrado. As pessoas não sabem o que aconteceu com o
desaparecido.

São requisitos para que possa propor uma ação de ausência:

I – Desaparecimento da pessoa de seu domicílio;

II – Total falta de notícias; e

III – Falta de procurador que possa administrar os bens do ausente. Nesse caso não é que a família do
ausente não pode requerer um processo de ausência. A questão é o tempo mínimo que deve ser esperado
entre uma situação e outra. Os artigos 22 a 26 dispõem, sistematicamente, em suma, que há duas opções para
o início de um processo de ausência: 1 ano de curadoria dos bens, não tendo procurador sido deixado, e 3
anos com a presença do procurador. Isso posto, a função da primeira fase, como o próprio nome diz, é a de
administração dos bens e levantamento deles, ver o que o ausente tem como patrimônio, pois ele ainda pode
voltar, os bens devem ser cuidados como se ele ainda estivesse aqui. Dito isso, a aplicação prática da
diferença entre esses tempos (1 ano sem procurador e 3 anos com) é a fase de sucessão provisória, não
começando o processo na fase inicial, pois há presunção absoluta por parte do legislador de que a finalidade
da primeira fase já foi cumprida pelo procurador deixado. Já no caso de não ter sido deixado procurador,
inicia-se o processo de ausência pela curadoria e é na primeira fase que será nomeado um curador para os
bens. Nesse caso, espera-se um ano, já tendo sido iniciado o processo de ausência.

OBS: não há prazo definido para a ação de ausência; há a necessidade de buscar alguns documentos para o
requerimento e isso leva tempo. Além disso, a família pode não requerer.

Dentre as três fases, na primeira, há uma preocupação muito grande com a pessoa do ausente e seus bens.
Nas últimas a preocupação maior volta-se para os sobreviventes (familiares). Quando há procurador pode-se
pular diretamente para a segunda fase.

Estudo das fases de ausência:

1ª FASE: Curadoria dos bens do ausente

OBS: Familiares, sócios, credores e o ministério público são exemplos de pessoas que podem entrar com o
requerimento do processo de ausência.

Nessa fase, primeiramente, nomeia-se um curador que tem o dever de administrar os bens do ausente. Isso
está previsto no art. 25 CC.

Diz o código que, normalmente, o curador é o cônjuge. O código não fez disposição sobre companheiro
(união estável), mas, por analogia, deveria ter o mesmo valor, pois em termos de arranjo familiar há o
mesmo sentido, desde que não estejam separados (divorciados) judicialmente. Na falta do cônjuge, a
curadoria compete aos pais ou descendentes. No caso de não haver ninguém o juiz nomeará alguém de sua
confiança.

A partir dessa nomeação, esse curador deve fazer uma arrecadação (listar) os bens do ausente e anexar, para
o juiz, comprovantes do que o ausente deixou como se fosse um inventário dos bens (catalogar), pois em
caso da volta do ausente ele teria o direito de recebê-los.

O juiz determinará que se publiquem editais no Diário Oficial de dois em dois meses em um período de um
ano dando ciência ao ausente de que sua ausência foi decretada e conclamando que ele volte sob pena de lei.
A ideia aqui é, de alguma maneira, dar ciência ao ausente de que sua vida será modificada.

Essa fase, não necessariamente, levará um ano, pois pode demorar a arrecadar os bens e também em relação
a ação do juiz. Mas o mínimo que essa fase durará é um ano.

2ª FASE: Sucessão provisória

Caso o ausente não tivesse deixado procurador a fase de sucessão provisória poderia ser aberta após um ano
da arrecadação dos bens do ausente.

Caso o ausente tenha deixado procurador, entende-se que três anos após o desaparecimento do indivíduo é o
suficiente para cuidar dos bens dele e, assim, após esses três anos requerer a ausência entrando diretamente
na fase de sucessão provisória.

Na fase de sucessão provisória não há efeitos pessoais, ou seja, quem é casado continua casado a não ser que
seja requerido o divórcio. No caso de uma união estável deve-se entrar, primeiramente, com o processo de
reconhecimento dessa união e, posteriormente, com o processo de dissolução.

O inventário e eventual testamento são abertos pelo juiz, como se o ausente estivesse falecido, embora nesta
fase ainda não ocorra a presunção de morte. O juiz transmitirá a posse dos bens para os herdeiros e, então os
descendentes, ascendentes e o cônjuge poderão gastar os rendimentos provenientes de tais bens como, por
exemplo: alugueis, rendimentos de aplicações financeiras, dentre outros. Os demais herdeiros, como, os
testamentários ou os irmãos, tios, sobrinhos e primos do ausente devem capitalizar metade.

OBS1: Posse X Propriedade – posse é quando alguém pode usufruir do objeto e de seus rendimentos;
propriedade é, além dos benefícios da posse, poder vender, doar ou emprestar.

OBS2: os bens imóveis podem ser vendidos, caso ordene o juiz, para evitar ruína.

Caso a pessoa não volte, a fase dura, normalmente, em torno de 10 (dez) anos. Caso o ausente volte no
período desses 10 anos e ficar comprovado que sua ausência se deu de forma voluntária e injustificada, a
sanção que o ausente sofrerá é perder o direito a metade dos rendimentos que estavam capitalizados.
Civilmente, no que diz respeito a patrimônio, a sansão é essa.

Retornando nesse prazo de 10 anos, o ausente terá direito a todos os bens que lhe pertencerem, com exceção
do que já foi dito acima.

O Código Civil não prevê nenhum motivo para a venda de bens para o caso da família estar passando
necessidade financeira. Apenas prevê, no artigo 31, a venda de bens imóveis para evitar ruína do próprio
bem. Sendo assim, se a família necessitar será necessário um argumento constitucional valendo-se do
princípio da dignidade da pessoa humana para requerer ao juiz a venda de um bem para resguardar o mínimo
para a família sobreviver.

(informação sobre venda de bens móveis no email gmail da turma – completar)

3ª FASE: Sucessão definitiva

A sucessão definitiva é onde finalmente quer se chegar com o requerimento do processo de ausência. Essa
terceira fase possui duas possibilidades em que ela pode se requerida:

I – 10 anos após a abertura da sucessão provisória (decorrência normal do processo);

II – O Código Civil abre uma exceção em caso de idade. Caso a pessoa tenha desparecido com 80 anos de
idade ou mais e nos últimos cinco anos não houve notícias. Pensa-se na sobrevida média do brasileiro. Se a
pessoa despareceu com 80 anos e somente antes dos últimos cinco anos houve notícias sobre ela, pode-se
entrar direto na terceira fase do processo de ausência.

São efeitos dessa fase:

I – Efeitos pessoais: morte presumida do ausente; caso o cônjuge não tenha se divorciado há o estado de
viuvez do cônjuge.

II – Efeitos patrimoniais: pagamento dos credores e a partilha dos bens entre os herdeiros, isto é, os
herdeiros recebem a propriedade dos bens. Assim sendo, poderão dispor de tais bens como quiserem.

OBS1: essa fase dura mais de 10 anos.

OBS2: O vocábulo “resolver”, para o direito civil, significa finalizar/extinguir.

Caso o ausente volte nesse período de 10 (dez) anos, em termos patrimoniais, ele terá direito a receber os
bens no estado em que eles se encontrarem ou aqueles que foram sub-rogados (substituídos) em seu lugar.
Isso ocorre, pois os herdeiros só teriam direito a posse desses bens se o ausente tivesse morrido. Nesses 10
anos da fase de sucessão definitiva, a propriedade dos bens dos herdeiros é resolúvel, pois se o ausente
voltar nesse período de 10 anos terá direito a receber de volta os seus bens ou aqueles que foram substituídos
no lugar deles. Porém, após esses 10 anos da terceira fase o processo está resolvido e, sendo assim, se o
ausente voltasse ficaria tudo da forma como está.

8. Comoriência (Art. 8ºCC).

Noções Introdutórias para o Estudo de Comoriência:

 Premoriência: quem morreu primeiro em uma situação.


 Comoriência: soluciona situações em que não dá para saber quem morreu primeiro.

Estudar esse conceito importa, pois o Brasil adota o princípio de Saisine que diz que a herança é transmitida
no exato instante do falecimento.

Também é necessário saber a ordem que o Código Civil estabelece para o recebimento da herança, isto é,
ordem de vocação hereditária.

1º Descendentes + Cônjuge; 2º Ascendentes + Cônjuge; 3º Cônjuge; 4º Parentes Colaterais (irmãos,


sobrinhos, primos)

A cada um desses será dado um percentual determinado por lei, não sendo possível deixar em testamento
mais de 50% dos bens para ninguém. Uma classe exclui a outra, isto é, se não houver descendentes, a
herança será transmitida aos ascendentes e assim em diante. Nesse estudo só há interesse se as pessoas
forem parentes ou parte da família, isto é, um vínculo sucessório ou seguro de vida.

Comoriência de Fato:

As vezes é possível dizer quem morreu primeiro, mas nem sempre. A Comoriência vai surgir como solução
para quando não é possível quem morreu primeiro, ou seja, é a presunção de morte simultânea de duas ou
mais pessoas no mesmo período de tempo, mas não necessariamente no mesmo evento. Exemplo: pode
ocorrer que o filho esteja em um desastre aéreo e o pai em um acidente de carro na mesma hora.

A Comoriência é uma ficção do legislador para solucionar os casos em que não é possível provar, por
nenhum meio, como, por provas periciais ou testemunhais, quem faleceu primeiro (qual pré-morreu ao
outro).

O efeito prático da comoriência é, se a herança é transmitida no exato instante da morte, e no caso dos
comorientes a presunção legal é de que eles faleceram ao mesmo tempo, não haver transmição de herança
entre os comorientes.

Exemplo: o casal falece em um acidente sem deixar filhos ou pais vivos. Cada um deixou um irmão. Como
ficaria a herança? Depende.

1. Em caso de premoriência do marido: se o marido faleceu primeiro é transmitida a herança para a


esposa. A esposa, segundos depois, vem a falecer. A herança vai 100% para o irmão da mulher.
2. Em caso de premoriência da mulher: a herança é transmitida para o marido que, horas depois, falece.
A herança vai 100% para o irmão do homem.
3. A tese da comoriência: vai presumir a morte simultânea e, com isso, a herança será dividida entre
50% para o irmão de um e 50% para o irmão de outro.

9. Pessoa Jurídica – Art. 40 a 69 CC


 Pessoas jurídicas de direito público dividem-se em externo e interno.
 Pessoas jurídicas de direito privado: associações, fundações, sociedades, organizações religiosas,
partidos políticos, “empresas” individuais de responsabilidade limitada (EIRELI).
Nessa parte do curso estuda-se o segundo objeto de direitos e obrigações, já que já vimos a pessoa natural. A
pessoa jurídica surgiu, pois há o desejo de alguns indivíduos de constituir algo que dure além da vida.
Quando se constitui uma pessoa jurídica (ou pessoa moral) facilita a organização de atividades, nem sempre
lucrativas. É preciso, portanto, ter uma vontade de se associar.

Os itens elencados acima mostram que não é só em Direito Civil que se estuda a pessoa jurídica. A
separação entre direito público e privado já foi muito estanque, mas hoje há muitas correntes que os
definem. Por exemplo, alguns definem o Direito Público como uma instituição que lida com o bem estar
coletivo (ex: direito penal e constitucional). Hoje as áreas dialogam, mas as pessoas jurídicas de direito
público são constituídas por lei e as de direito privado por vontade. As pessoas jurídicas de direito público
esterno são estudadas na disciplina de Direito Internacional Público (DIP) e um exemplo são organizações
internacionais e países. Os entes de direito público privado são estudados em Constitucional e
Administrativo e, são, por exemplo, autarquias.

As pessoas jurídicas de direito privado serão melhor estudas posteriormente, mas ainda são objeto do Direito
Civil as associações, fundações e sociedades.

Conceito de Pessoa Jurídica: Pessoa jurídica é o conjunto de pessoas ou o conjunto de bens, e até mesmo
uma única pessoa (EIRELI) diferente das pessoas e dos bens que a compõe, e possuem vários atributos
jurídicos próprios se for regularmente registrada tornando-se então sujeito de direitos e obrigações e
podendo praticar atos civis.

Momento da aquisição da personalidade jurídica (Art. 45 CC): para ser adquirir a personalidade jurídica é
preciso cumprir um item no artigo 45 do Código Civil. A teoria que o código adotou é a teoria da realidade
técnica.

OBS: ato constitutivo = contrato social = estatuto social + ata da assembleia que o aprovou.

A lei informa que o ato constitutivo deve trazer o nome, objetivo, fundadores, atividade fim, entre outros.
Ou seja, deve trazer informações básicas indispensáveis para que a pessoa jurídica possa ser registrada.
Deve-se saber quem pode assinar pela pessoa jurídica.

A pessoa jurídica passa a ter personalidade jurídica a partir do registro dos atos constitutivos no órgão
competente. O primeiro a registrar o nome terá a proteção. É o registro que confere personalidade jurídica e
a teoria da realidade técnica diz que a pessoa jurídica só existe tecnicamente.

Efeitos da aquisição da personalidade jurídica: nome jurídico protegido a nível estadual; passa a ter
domicílio próprio; passa a ter número de identificação próprio; passa a ter patrimônio próprio e
responsabilidade própria, pois é a pessoa jurídica que deve responder por suas obrigações e não os seus
componentes.

Diferença entre sociedades, associações e fundações:

Tipo de Pessoa Jurídica Principais Características Tipo de Ato Constitutivo Órgão Competente para
Registro
Associação - Reunião de pessoas; Estatuto social. R.C.P.J.
- Não pode ter finalidade
econômica.
Fundação Particular - Reunião de bens Estatuto social R.C.P.J.
livres; decorrente de escritura
- Pode ser instituída por pública.
ato “inter vivos” ou
“causa mortis”;
- O Ministério Público é
o fiscal das fundações;
- Não pode ter fim
lucrativo.

Sociedade (OBS: não - Regra: reunião de Depende: S/A – Junta comercial


está regulada na parte pessoas (exceção: S/A – Estatuto Social.
geral do Código Civil). EIRELI). Sociedade de Advogados
- Deve ter finalidade LTDA – Contrato social. - OAB
lucrativa (ver artigo 981
CC)

A. Associação

A associação está prevista no Código Civil a partir do artigo 53 e o próprio artigo diz o que a associação
pode ter.

A associação precisa ser uma reunião de pessoas para realizar uma atividade que não seja econômica,
significa que ao final de cada balanço financeiro, se por acaso houve lucro, esse lucro não pode ser repartido
entre os associados. Esse lucro deve ser investido na própria associação. Além disso, não ter finalidade
lucrativa não significa que a associação não possa cobrar pelos seus serviços. O que não pode haver, como
dito anteriormente, é a repartição de lucros entre os seus integrantes.

Por exemplo, muitos estudam em associações (como PUC-RJ e Aliança Francesa) e pagam mensalidade,
pois há a necessidade de pagar custos. Cobrar por seus serviços não significa ter lucro. As associações
também podem viver de doação ou patrocínio. Contudo, se houver lucro deve ser investido na própria
associação, podendo haver denuncias quando essa característica for quebrada. Caso for verificado fraude, os
associados podem ser responsabilizados.

O estatuto social diz: nome, domicílio, fundadores e outras características. Além de qual a atividade que essa
associação desempenhará que, por sua vez, deve estar de acordo com a linha do Código Civil. Há no estatuto
social tudo o que o Código Civil precisa saber para a constituição de uma associação e é no RCPJ que se
registra uma associação.

B. Fundação Particular

A fundação não é uma reunião de pessoas, mas sim de bens que podem ser móveis, imóveis ou até dinheiro.
A fundação tem como característica, também, ser instituída e não constituída. A fundação é a única pessoa
jurídica que poder ser instituída por testamento, além de em vida. Em testamento há a possibilidade de
deixar bens para instituir uma sociedade.

A fundação é instituída por escritura pública quando em vida ou em testamento. Os bens precisam Ester
livres e desembaraçados de qualquer ônus, como, não podem estar em garantia de dívida. A fundação
também não pode ter fins lucrativos.

Sem o controle do Ministério Público poderia haver lavagem de dinheiro. Pelo art. 66 é o Ministério Público
que deve fiscalizar as fundações. Uma pessoa só consegue registrar uma fundação e fazer alterações com
aprovação do Ministério Público. O MP deve ver se os bens dotados para a instituição estão sendo utilizados
para os fins da fundação. A fundação, por fim, é regulada por meio de um estatuto social que, se aprovada
pelo Ministério Público, é registrada no RCPJ.

C. Sociedades
As sociedades deveriam ser uma reunião de pessoas, mas com a vinda da EIRELI e da subsidiária integral
pode haver a constituição de uma sociedade por apenas uma única pessoa.

É importante atentar para o fato de que para constituir uma pessoa jurídica é necessário ter “afectio
societatis”, isto é, a vontade de se unir.

As associações, por regra, têm uma finalidade lucrativa. A repartição depende do tipo de sociedade: LTDA
ou S/A, o que limita a responsabilidade dos sócios ou acionistas podendo haver fatias iguais ou desiguais. O
máximo que se pode perder é o que se investiu, caso não haja problemas graves.

Se uma pessoa deseja investir a pessoa jurídica certa é a sociedade, pois há uma limitação da
responsabilidade. Ela pode e deve partilhar resultados para os sócios (positivos ou negativos). Constituir
uma sociedade com um sócio possuindo 99% e outro 1% não é ilegal, mas pode ser entendido como uma
pessoa jurídica aparente.

OBS: no caso da LTDA são dois sócios.

O tipo de ato constitutivo depende do tipo de sociedade: LTDA – Contrato social / S/A – Estatuto. O órgão
de registro também depende: sociedade de advogados – OAB / S/A – junta comercial.

Representação da pessoa jurídica: quem torna presente a pessoa jurídica é o órgão de administração (Art. 46,
III). Se a pessoa jurídica for processada ela será o réu. É possível no ato constitutivo da sociedade limitar o
poder do administrador. Se atuar fora dos limites não é a sociedade que irá se responsabilizar.

Extinção da pessoa jurídica: A extinção da pessoa jurídica deve se dar da mesma forma que ela começou, ou
seja, dando-se baixa dos atos constitutivos e da ata de assembleia de encerramento no mesmo registro em
que houve a aquisição de personalidade. Isso só será feito quando a pessoa jurídica fechar as contas dela,
pois pode acontecer a dissolução irregular. A pessoa natural ou jurídica quando sai de alguma dessas figuras
jurídicas fica implicada por dois anos a partir da dissolução dessa figura jurídica. Por isso, se não houver
formalização, esse prazo não começa a contar. Se formalizado, o ex-membro pode ser chamado até dois
anos após sua saída para explicar fatos que ocorreram antes de sua saída.

Desconsideração da Personalidade Jurídica (teoria do levantamento do véu corporativo/ “disoregard


doctrine”/ Teoria da Penetração) – Art. 50 CC

O art. 50 traz a teoria da desconsideração da personalidade jurídica que, por sua vez, vai de encontro ao que
aprendemos sobre dissociação patrimonial. Contudo, essa teoria existe, pois muitas pessoas se utilizam do
“véu da corporação” para outras finalidades gerando, dessa forma, a confusão de patrimônios e levando ao
prejuízo de credores (desde o funcionário que não recebe até contratantes).

Portanto, a desconsideração da personalidade jurídica tem a finalidade de ingressar no patrimônio dos sócios
quando em um determinado processo a pessoa jurídica não possui bens. Dessa forma, penetra-se no
patrimônio dos sócios, o que nunca aconteceria se não tivesse ocorrido algum ato fraudulento.

Então, sabemos que com a aquisição de personalidade jurídica um de seus principais efeitos é a separação
patrimonial entre os bens dos componentes da pessoa jurídica e os bens da própria pessoa jurídica. Contudo,
pode ocorrer uma exceção a essa proteção e, assim, surge a teoria da desconsideração da personalidade
jurídica que tem o objetivo que, a requerimento do juiz, deixe-se de considerar, momentaneamente e
somente naquele processo, a existência de personalidade jurídica para responsabilizar patrimonialmente os
sócios.

OBS: apesar de estar prevista no art. 50 CC, alguns autores dizem que está prevista, também, no art. 28 do
Código de Defesa do Consumidor, ou na Lei de Crimes Ambientais, ou também na Lei do Conselho
Administrativo de defesa econômica. Mas ainda não sabemos o que é a relação de consumo. Chama-se
atenção para isso, pois a desconsideração da personalidade jurídica no Código de Defesa do Consumidor é
muito facilitada (o que não acontece no Código Civil), isto é, é uma grande exceção a desconsideração da
personalidade. Então, por exemplo, o Código de Defesa do Consumidor não exige requerimento da parte,
mas do Código Civil exige.

É importante grifar no conceito da desconsideração da personalidade jurídica que é uma desconsideração


momentânea, isto é, o juiz deixa de considerar, na prática, e chama ao processo os acionistas e o que se quer,
verdadeiramente, é romper de maneira momentânea e somente naquele processo, além disso, o nosso código
civil exige que seja feito a requerimento do interessado, e somente por causa desse ato, se deixará de
considerar a personalidade jurídica como se fossem fechados os olhos para o véu da corporação daquela
pessoa jurídica e, portanto, atingirá os bens pessoais dos sócios que, em regra, não seriam atingidos em
virtude do véu corporativo (registro da pessoa jurídica no órgão competente e sua aquisição de
personalidade). Desconsideração, entretanto, não implica na extinção da personalidade jurídica.

Critérios para que ocorra a desconsideração da personalidade:

Nós temos duas correntes que dialogam diferente sobre os requisitos que devem ser comprovados para que
ocorra a desconsideração da personalidade jurídica.

Contudo, ela sempre vai ocorrer por decisão judicial que é feita a requerimento de alguém. O objetivo final é
que o credor receba o que lhe é de direito.

Remissão: Art. 50  Art. 187 (abuso do direito)

As teorias são:

 Teoria Maior (majoritária no STJ – tribunal q eu vai julgar em última instância essa questão – e
também no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro): para a teoria maior é indispensável a
comprovação de fraude ou de abuso da personalidade jurídica por meio do desfio da finalidade a que
ela se destina ou da confusão patrimonial (entre sócios e pessoa jurídica).

 Teoria Menor: basta que se comprove o prejuízo do credor. Ela é muito utilizada na justiça do
trabalho, pois tem o princípio do indúbio pró operário, pois como se comprova que eu não recebi
(prova diabólica)? É muito mais fácil para o trabalhador provar que ele pagou.

 Desconsideração invertida / Desconsideração ao inverso: a teoria recebe esse nome, pois na


desconsideração clássica o objetivo é desconsiderar a personalidade para atingir os bens pessoais dos
sócios. Mas na Desconsideração ao Inverso o objetivo é desconsiderar a personalidade para que seja
retirado do patrimônio da pessoa jurídica bens que estão indevidamente registrados em seu nome.
Exemplo: é muito comum uma pessoa muito materialista e, as vezes visando um futuro divórcio, ao
adquirir um bem, ao invés de esse bem ser adquirido em nome da pessoa (e, normalmente, uma
pessoa que é sócio majoritário de uma pessoa jurídica) adquire o bem em nome da pessoa jurídica e
passa longe do patrimônio do casal. Na desconsideração invertida levanta-se o véu corporativo para
retirar do patrimônio da pessoa jurídica bens que não deveriam estar registrados em nome dela.

Portanto, na desconsideração clássica, tanto na teoria maior quanto na teoria menor, há uma preocupação
jurídica quando a pessoa jurídica causou uma dívida ao credor. A desconsideração invertida ocorre quando
essa confusão patrimonial partiu da pessoa física e transpassou para a pessoa jurídica. Lembrando que essa
pessoa física/natural é o sócio (normalmente majoritário, pois há uma maior facilidade em fazer esse tipo de
fraude).

10. Domicílio

Base legal: Art. 70 ao 78 CC

Conceito: O art. 70 é importante de ser lido, pois ele não é muito fácil de ser interpretado. O artigo diz o
seguinte: “O domicílio da pessoa natural é o local em que ela estabelece sua residência com ânimo
definitivo”. Esse “ânimo” pode ser entendido como vontade/intenção de permanecer definitivamente
naquele local. Domicílio, portanto, é aquele lugar para o qual você volta sempre.

O conceito de Domicílio tem um elemento objetivo, que é o local da residência. Mas não basta isso para ser
considerado domicílio. Há o elemento subjetivo (tudo o que é subjetivo está ligado ao sujeito e o sujeito
possui um sentimento que é a intenção de permanecer definitivamente naquele lugar), que é, também, o
lugar onde o indivíduo possui suas amizades, banco, trabalho, etc. Nesse sentido é que a doutrina quer dizer
ser o centro jurídico da vida da pessoa. Então, precisa ser o local da residência somado a intenção de
permanecer definitivamente. Chama-se atenção para a intenção, pois o domicílio pode mudar.

O domicílio de uma pessoa possui inúmeras funções que vão desde o critério para definir qual tribunal tem a
competência para julgar determinada causa até as inúmeras razões pelas quais alguém necessita ser
encontrado. Por exemplo, para cobrança de impostos, intimações judiciais, cobranças de dívidas,
testemunhar, servir nas eleições e até mesmo para ser jurado no Tribunal do Júri, dentre outras
possibilidades. Sendo assim, o domicílio é o local onde a pessoa poder ser encontrada porque faz dele o
centro da sua vida jurídica, ou seja, não é apenas a sua residência, que significa somente o local de
habitação, há um elemento a mais que é a intenção de permanecer definitivamente. Ex: se eu biajo eu tenho
residência em um hotel, mas eu não tenho domicílio, pois os meus interesses estão em outro local.

Espécies de Domicílio:

 Domicílio Voluntário (Art. 70): nem todo mundo pode ter; os incapazes (absoluta ou relativamente)
não podem ter domicílio voluntário, pois não tem capacidade de exercício. É aquele livremente
escolhido pelo seu titular.

 Domicílio Necessário ou Legal (Art. 76): é o domicílio imposto por lei. O art. 76 informa quem tem
domicílio imposto por lei: o incapaz, servidor público, militar, marítimo e o preso. Algumas delas
podem ter outro domicílio.

 Domicílio Contratual (Art. 78): é o tipo de domicílio que pode ser inserido nos contratos escritos
para eleger o local em que eventuais discussões sobre direitos e deveres do contrato possam ser
julgados (foro de eleição).

Conclusão do Estudo de Domicílio:

 Domicílio Profissional (Art. 72): o local profissional também é considerado domicílio, mas somente
em relação às questões de profissão. Como regra, por exemplo, um oficial de justiça não pode levar
uma intimação ao local de trabalho da pessoa, mas, excepcionalmente, pode ocorrer. Esse tipo de
domicílio não é um domicílio necessário. É o local que a pessoa exerce sua profissão, mas só pode
ser assim considerado, em qualquer situação, nos atos relacionados ao seu ofício.
 Domicílio Aparente (Art. 73): domicílio aparente é o tipo de domicílio criado pelo legislador para as
pessoas que não têm paradeiro certo. Ex: circenses e ciganos. A solução que o Código Civil dá é que
o domicílio de tais pessoas será o local onde elas puderem ser encontradas (o que na prática não é
muito fácil).

 Pluralidade de Domicílios (Art. 71): No Brasil é admitido que a pessoa tenha mais de um domicílio.
É possível que uma pessoa tenha vários domicílios, desde que ocorra uma das duas situações a
seguir: (i) alguém tem dois ou mais lugares de residência onde efetivamente viva e possa ser
encontrada; (ii) alguém que tem domicílio imposto por lei, mas que a própria lei autorize que tenha
domicílio voluntário.

 Mudança de Domicílio (Art. 74): o código dá as diretrizes para como mudar de domicílio
voluntariamente, isto é, ocorre pelo simples fato da pessoa mudar sua residência e transformá-la no
centro da sua vida jurídica demonstrando que é nesse local que ela deseja viver e permanecer
definitivamente.

 Domicílio da Pessoa Jurídica (Art. 75): o código fala, no art. 75, sobre uma dupla possibilidade, que
são, (i) concede às pessoas jurídicas o direito de eleger o domicílio nos seus estatutos ou atos
constitutivos; (ii) no entanto, se não elegerem o domicílio dessas pessoas, será considerado o local
onde funcionarem suas diretorias ou administrações (direito privado).

11. Direitos da Personalidade

Base legal: Art. 11 ao 21 e Art. 52 do Código Civil; Lei 9434/97

Base Constitucional: Art. 5º, X.

Conceito: Direitos da personalidade são direitos criados para resguardar a dignidade da pessoa humana.

Características: Foram criados, muitas vezes, para proteger o homem dele mesmo, como também de outras
pessoas. O que pode levar a sua própria destruição ou a destruição de outras pessoas (nesse ponto o código
não ajuda muito). São características:

 São Absolutos: significa que os direitos da personalidade são oponíveis “erga omnes” a todos. Todos
devem obediência aos direitos da personalidade. Inclusive o próprio Estado;

 São Inatos: as pessoas possuem o direito da personalidade pelo simples fato de existirem. Inatos ao
ser humano.

 São Extrapatrimoniais: nenhum direito da personalidade é suscetível à valoração econômica, como,


atribuir valor a vida. No entanto, não inviabiliza um requerimento de danos morais e/ou patrimoniais
caso ocorra a violação de qualquer desses direitos e/ou ocorra dano para a vítima ou os familiares da
vítima (quando a vítima sofre dano, mas por ricochete foi sentido pelos familiares). A possibilidade
de cobrar valores está previsto no Art. 5º, X da Constituição Federal, e a Súmula 37 do STJ permite
pedir danos morais e materiais.

 São Irrenunciáveis: são irrenunciáveis da mesma amaneira que são intransmissíveis, pois cada pessoa
possui os seus próprios direitos e o ordenamento não permite a renúncia deles. No entanto, alguns
direitos da personalidade admitem cessão temporária de forma gratuita ou onerosa, como: doação de
sangue. Não é possível ceder sua imagem de forma vitalícia, pois isso é uma renuncia a ela. Pode-se
fazer de maneira temporária.

 São imprescritíveis: a imprescrição tem a ver com o seu não exercício ao longo do tempo não faz
com que o seu titular deixe de ter a pretensão de invocar qualquer dos direitos que ele possui sempre
que desejar. Contudo, se o direito for violado a vítima tem o prazo de 3 (três) anos para requerer
perdas e danos (reparação civil) Art. 11  206, §3º, V CC.

OBS: Em relação a pessoa jurídica dispõem os artigos:

Art. 11  Art. 52 – aplica-se no que couber a pessoa jurídica a proteção dos direitos da personalidade.

Crítica: o art. 52 não deveria existir porque, no entendimento da escola de direito civil – constitucional, os
direitos que foram criados para tutelar a dignidade humana não deveriam ser aplicáveis a pessoas jurídicas.
Só pessoas naturais deveriam ter essa proteção.

Art. 11  Sumula 227 STJ – “a pessoa jurídica pode sofrer danos morais”. Se esses direitos forem violados,
cabe a pessoa jurídica requerer dano moral.

Crítica: só há esse posicionamento para pessoas jurídicas com fins lucrativos. Quando há violação da
imagem ou do nome de uma sociedade, o dano que se apresenta é material na modalidade de lucros
cessantes, isto é, o que ocorre é uma frustração na expectativa de lucros futuros. O que a corrente diz é que
se o nome é violado, as pessoas deixarão de comprar nesses lugares e então não há dano moral, mas
material.

11.1 Direito ao Corpo

Base Legal: Art. 13, Art. 14 e Art. 15.

O art. 13 do Código Civil dispõe sobre qual é o limite que cada pessoa tem em relação ao seu próprio corpo.
O Código diz que, salvo exigência médica, é proibido permanentemente dispor de partes do próprio corpo.
Esse artigo é uma demonstração de que o código civil tenta proteger o indivíduo dele mesmo.

Atos de disposição do próprio corpo: Art. 13 CC  Lei 9434/97

O artigo 13 do Código Civil proíbe a disposição do próprio corpo se: (i) diminuir permanentemente a
integridade física; (ii) contrariar os bons costumes. Exceção: exigência médica.

Em relação aos atos de disposição do corpo em vida o Código Civil remete a lei especial 9434 – Art. 9º que
permite a disposição em caso de órgãos duplos ou partes de órgãos ou ainda tecidos que não impeça o
doador de continuar vivendo sem comprometimento das suas aptidões vitais e saúde mental, que não impeça
o organismo do doador de continuar vivendo nem cause mutilação ou deformação inaceitável.

Se ficássemos presos ao artigo não poderíamos dispor de partes do próprio corpo que não se regeneram
como rins. Ele fala salvo exigência média, não para quem está doando, mas para quem precisa da doação.

OBS: questão dos “wanna be’s” (pessoas que querem se amputar – portadores de aptemnofilia) e transexuais
(distúrbio de disforia de gênero) são casos de pessoas que dispõem de partes do corpo que diminuem
permanentemente a integridade física. Quanto às pessoas trans, a cirurgia de mudança de sexo só é possível
por causa do distúrbio de disforia de gênero (considerada uma doença mental). No caso dos “wanna be’s”, a
legislação brasileira não permite, mas em um caso de um médico escocês, ele alegou amputar pacientes por
questão de necessidade médica mental.

As principais questões que ficam na questão de “dano permanente” é a questão dos portadores de
aptemnofilia e dos transexuais. Em relação aos trans essa questão já é regulada no Brasil a partir de
acompanhamento multidisciplinar durante dois anos e, após isso, a mudança de sexo.

A questão dos bons costumes tenta versar sobre modificações corporais e que, as vezes, para se tornar um
“homem lagarto”, por exemplo, precisa dispor de partes do próprio corpo. A grande dificuldade nessa
questão é: o que é bom costume? Esse conceito é muito mutável.

OBS: atos de disposição do próprio corpo em vida (o que pode ser objeto de transplante em vida): sangue,
medula, partes do corpo que se regeneram, como fígado e órgãos duplos desde que não comprometa a
aptidão física do doador e não cause mutilação ou deformação a pessoa doadora.

Questão de disposição do próprio corpo post-morten:

Em relação a questão da doação presumida: ninguém pode lhe obrigar a doar e a doação pode ser revogada a
qualquer momento. Hoje o Art. 4º da Lei 9434 e também o art. 14 do Código Civil regulam essa questão. As
doações, segundo o artigo 4º do Código Civil devem ser somente de modo altruístico ou para fins
científicos. Já o artigo 4º da Lei 9434 diz que quem decide é a família. Contudo, o código civil veio em 2002
(posteriormente a essa lei), porém, ainda, essa lei é especial o que prevaleceria.

Essa questão de antinomia é resolvida da seguinte maneira: A Lei 9344/97 prevê em seu art. 4º que quem
decide pela doação dos órgãos do falecido é o cônjuge ou qualquer parente maior de idade obedecendo-se a
seguinte ordem: parentes em linha reta, ou seja, aqueles que descendem uns dos outros (pais, avós, filhos,
netos, etc.) ou irmãos que são parentes colaterais em 2º grau, eis que não descendem uns dos outros, mas
possuem um ancestral em comum. No entanto, sobreveio o código civil de 2002 que trouxe em seu art. 14 a
possibilidade da pessoa dispor do próprio corpo após a morte para fins científicos ou altruísticos sem fins
lucrativos podendo revogar essa autorização a qualquer tempo. Deu-se, portanto, um conflito de leis. A
corrente majoritária na doutrina entende que deve prevalecer o art. 14 do CC e somente utilizar o art. 4º da
Lei 9434/97 na hipótese de não existir de não existir manifestação expressa do doador em vida. Na prática,
porém, os médicos consultam a família (porque morto não processa). Além disso, a família decidirá caso a
pessoa não tenha descrito nada em vida.

Remissão: art. 14  ver enunciado 277 da V jornada de direito civil do CJF.

Princípio do Consentimento Informado: o Artigo 15 do Código Civil traz um princípio implícito que é o
princípio do consentimento informado, pois diz que o ser humano não pode ser suposto a procedimento
médico que lhe impõe risco de vida sem seu consentimento, ainda que, sem o tratamento, tenha risco de
morrer. Para decidir isso você tem que estar informado, assim assinando um termo de consentimento. Se não
foi informado, o seu consentimento não é livre e é isso que o art. 15 quer garantir.

11.2 Direito ao Nome:

Base Legal: Art. 16 ao 19.

Cabe aqui o direito ao nome da pessoa natural, jurídica ou pseudônimo. O nome é um modo de
individualizar a pessoa na sociedade, assim como o estado civil e o domicílio. Portanto, é possível distinguir
a pessoa de várias formas, mas o nome é um sinal importantíssimo.

Partes do nome:
 Prenome: sinal que identifica a pessoa (ex: Camila). Poder ser simples ou composto.
 Patronímico/Nome de Família/Sobrenome: é o sinal que identifica a procedência familiar da pessoa
(Ex: Figueiredo). Como diz o código, cada pessoa tem direito ao nome e sobrenome (pelo menos um
sobrenome).
 Agnome: é utilizado para diferenciar pessoas da mesma família com o mesmo nome. Ex: João
Mendes Moura e João Mendes Moura Júnior (júnior, no caso, é agnome, como filho, neto, 1º, 2º).

É possível modificar o nome. A regra é da imutabilidade por segurança jurídica (contratos), mas essa regra
não é absoluta, isto é, é uma regra relativa. Há situações nas quais podemos mudar o prenome e o
sobrenome. Contudo, há um prazo para mudar o prenome (1 ano após a maioridade, ou seja, até os 19 anos).
Depois desse prazo, só por motivo justo e excepcional comprovado perante o Ministério Público e juiz de
direito. Já o sobrenome não tem prazo. A base legal para mudança de prenome é: Art. 56 da lei 6015/73.

Possibilidades de Mudança:

A. Evidente erro gráfico  possível para prenome e sobrenome


B. Adoção  o prenome é uma possibilidade de mudança (só se os adotantes quiserem), mas o
sobrenome é mudado com certeza (recebe o sobrenome dos pais adotivos);
C. Participação de proteção a testemunha  deve ser feita para prenome e sobrenome;
D. Nome que exponha o portador ao ridículo  somente para prenome
E. Se for comprovado que o pai ou a mãe abandonou a criança afetivamente (decisão judicial)  pode
ser retirado o sobrenome do pai ou da mãe.
F. Casamento ou união estável  é possível a mudança de sobrenome (das duas partes do casal);
G. Divórcio  pode retirar o sobrenome de casado;
H. Há possibilidade de inserir o sobrenome da madrasta ou do padrasto no sobrenome da criança;
passou a ser possível, pois muitas crianças adotam essa figura como parte da família, contudo a
filiação continua a mesma. Base legal: Lei 11924/2009 que incluiu o art. 57, §8º, da Lei 6015.
I. Após 1998 passou a ser possível substituir o prenome por apelido público notório, isto é, por um
nome que você seja conhecido (não precisa ser famoso).

Essas hipóteses não são taxativas, há outras situações que podem ocorrer e que podem ser objeto de
mudança de nome. Basta ser analisado pelo judiciário.

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