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DIREITO CIVIL I

TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL

AULA 3

PESSOAS NATURAIS

Da Personalidade e da Capacidade

A pessoa natural adquire a personalidade civil (aptidão


para adquirir direitos e contrair obrigações) com o nascimento,
porém nem sempre ela é plenamente capaz para realizar todos
os atos da vida civil (ex: casar, vender um imóvel e etc.). Dessa
forma, entenda o seguinte sobre a capacidade:

Capacidade:

 Capacidade de direito (de gozo; personalidade


civil; personalidade jurídica): Ocorre com o nascimento
com vida. -> ilimitada, pois todos que nascem com vida
têm
 Capacidade de fato (de exercício): capacidade
de exercer sozinho atos da vida civil (em regra aos 18) -
> limitada, pois nem todos têm
 Capacidade civil (plena)= capacidade
de direito + capacidade de fato

Assim, apesar de alguma divergência Doutrinária, o


Código Civil adotou a Teoria Natalista para o início da
personalidade, ou seja, a personalidade começa com o
nascimento com vida.

Art. 2o A personalidade civil da


pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a
salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.

A ressalva do artigo (mas a lei põe a salvo, desde a


concepção, os direitos do nascituro) permite, por exemplo, que
o nascituro (o bebê no ventre da mãe) possa receber uma
doação ou tenha direito a sucessão hereditária.
Apenas reforçando, fique atento, pois os examinadores
entendem como sinônimos as seguintes expressões:

Personalidade civil = Personalidade


jurídica = Personalidade

Absolutamente incapaz X relativamente incapaz

Duas definições que despencam em prova!!!

Os absolutamente incapazes não podem exercer


pessoalmente os atos da vida civil, devendo ser
representados (em regra, pelos pais), a falta de representação
gera nulidade do ato;

Já os relativamente incapazes poderão praticar atos


da vida civil (manifestam sua vontade!) assistidos pelos seus
representantes legais, a falta de assistência
acarreta anulabilidade do ato.
Vejamos as hipóteses:

Absolutamente incapazes (Art. 3): menores de 16 anos

Só existe uma hipótese de absolutamente incapazes,


os menores de 16 anos. Decore isso!

Relativamente incapaz (Art. 4):

 os maiores de 16 e menores de 18 anos: Trata-se de um


critério meramente erário.
 os ébrios habituais e os viciados em tóxico: São os
alcoólatras e dependentes químicos.
 aqueles que, por causa transitória ou permanente, não
puderem exprimir sua vontade: Pessoa que por doença,
por exemplo, não conseguir exprimir sua vontade. Atente-
se ao caso de deficiência, ela deve impedir a manifestação
da vontade para que o sujeito seja considerado
relativamente incapaz.
 os pródigos: Aqueles que estão delapidando seu
patrimônio, trata-se de um desvio de personalidade.
Fim da incapacidade

Temos como regra que a menoridade cessa aos 18


anos, assim a pessoa fica habilitada a praticar todos os atos da
vida civil, conforme o artigo 5, porém existem outras hipóteses,
assim vejamos:

Cessação da Incapacidade:

 Maioridade: ao completar 18 anos


 Cessação das causas de incapacidade: Ex: alcoólatra
após passar por tratamento
 Emancipação: Ocorre uma antecipação da capacidade
plena (antes dos 18 anos)

Nesse sentido, o Código Civil trouxe as possibilidades de


emancipação:

Art. 5 Parágrafo único. Cessará, para os menores,


a incapacidade:
I – pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do
outro, mediante instrumento público, independentemente de
homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor,
se o menor tiver 16 anos completos;

II – pelo casamento;

III – pelo exercício de emprego público efetivo;

IV – pela colação de grau em curso de ensino superior;

V – pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência


de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor
com 16 anos completos tenha economia própria.

Fim da personalidade

O fim da personalidade ocorrerá em regra com a morte


(real), porém vejamos as hipóteses:

 Morte real: Pressupõe um corpo (morte encefálica)


 Morte Civil: A pessoa viva é tratada como morta . Regra
não mais aplicada, apesar de existir alguns resquícios (ex:
CC, Art. 1.816)
 Morte presumida: Não há corpo – Pode correr de duas
formas:
Com decretação de ausência (CC, Art. 6)
Sem decretação de ausência (CC, Art. 7)

Assim, vejamos o que dispõe o Código Civil sobre a morte


presumida:

Art. 6o A existência da pessoa natural termina com


a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes,
nos casos em que a lei autoriza a abertura de
sucessão definitiva*.

*Veremos à frente as regras de sucessão.

Art. 7o Pode ser declarada a morte


presumida, sem decretação de ausência:

I – se for extremamente provável a morte de quem estava


em perigo de vida;

II – se alguém, desaparecido em
campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até 2
anos após o término da guerra.
§ único. A declaração da morte presumida, nesses
casos, somente poderá ser requerida depois de esgotadas
as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data
provável do falecimento.

Comoriência

Imagine que em um acidente de carro um casal (João e


Maria) faleça, caso não seja possível detectar quem morreu
primeiro, considera-se que os dois morrem no mesmo momento.
A princípio essa regra não parece tão relevante, mas seu efeito
pode sim alterar muitas coisas, pois não há transferência de
bens entre comorientes.

Art. 8o Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma


ocasião, não se podendo averiguar se algum
dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-
ão simultaneamente mortos.

Voltando ao nosso exemplo, imagine que João e Maria


tinham um irmão cada um e não tinham herdeiros, os efeitos
serão o seguinte:
 Comoriência -> Cada irmão receberá 50% dos bens.

 João morreu primeiro -> Maria passaria a ter 100% dos


bens, com sua morte posteriormente, seu irmão receberia
100% dos bens, ficando o irmão de João sem nenhum
bem.

Obs. As questões, muitas vezes, tentam confundir o candidato


dizendo que uma das partes tinha doença, era idoso e etc., nada
disso é relevante. Caso não dê para averiguar a ordem,
considere a morte simultânea.

Da Ausência

A ausência ocorre com o desaparecimento da pessoa de


seu domicílio sem deixar notícias ou sem deixar representantes
(procurador) para administrar seus bens.

Obviamente que esse acontecimento poderá gerar


“problemas”, pois provavelmente o ausente tem bens, parentes
e etc., assim, o CC tratou de regular o procedimento de
ausência, que ocorrerá em um processo judicial composto de
três fases:
 1ª Fase – Curadoria de ausentes (Art. 22 a 25)
 2ª Fase – Sucessão provisória (Art. 26 a 36)
 3ª Fase – Sucessão definitiva (37 a 39)

Da Curadoria dos Bens do Ausente

Caso o juiz reconheça o desaparecimento (deve ser


provado pelo MP ou interessado), declarará a ausência e
nomeará um curador, que administrará os bens pelo período de
1 ou 3 anos.

Art. 22. Desaparecendo uma pessoa do seu


domicílio sem dela haver notícia, se não houver
deixado representante ou procurador a quem caiba
administrar-lhe os bens, o juiz, a requerimento de qualquer
interessado ou do Ministério Público, declarará a ausência,
e nomear-lhe-á curador.

O Código nos apresenta uma ordem de preferência para a


escolha do curador.
Art. 25. O cônjuge do ausente, sempre que não esteja
separado judicialmente, ou de fato por mais de 2 anos antes
da declaração da ausência, será o seu legítimo curador.

§ 1o Em falta do cônjuge, a curadoria dos bens do ausente


incumbe aos pais ou aos descendentes, nesta ordem, não
havendo impedimento que os iniba de exercer o cargo.

§ 2o Entre os descendentes, os mais próximos precedem os


mais remotos.

Da Sucessão Provisória

Após decorrido o prazo (1 ou 3 anos), os interessados (art.


27) poderão requerer a abertura da sucessão provisória.

Art. 26. Decorrido um ano da arrecadação dos bens do


ausente, ou, se ele deixou representante ou procurador, em
se passando 3 anos, poderão os interessados requerer que
se declare a ausência e se abra provisoriamente a
sucessão.
O efeito principal da sentença é que após 180 dias da
publicação, caso o ausente não reapareça, será dado o início do
processo de inventário.

Art. 28. A sentença que determinar a abertura da


sucessão provisória só produzirá efeito 180
dias depois de publicada pela imprensa; mas, logo que
passe em julgado, proceder-se-á à abertura do testamento,
se houver, e ao inventário e partilha dos bens, como se o
ausente fosse falecido.

Assim, a ausência passa a ser presumida, cessando a


curatela dos bens e sendo realizada a partilha dos bens aos
herdeiros. Atente-se que com exceção aos ascendentes, os
descendentes e o cônjuge (Art. 30, §2º), os demais herdeiros
deverão prestar garantia para se imitirem na posse.

Art. 30. Os herdeiros, para se imitirem na posse dos


bens do ausente, darão garantias da restituição deles,
mediante penhores ou hipotecas equivalentes aos quinhões
respectivos.
§ 2o Os ascendentes, os descendentes e o cônjuge,
uma vez provada a sua qualidade de
herdeiros, poderão, independentemente de garantia, entrar
na posse dos bens do ausente.

Efeitos da sucessão provisória

Reforço que nessa fase os herdeiros ainda não são


proprietários, mas somente posseiros, dessa forma eles não
poderão alienar os bens, salvo por ordem judicial.

Art. 31. Os imóveis do ausente só se


poderão alienar, não sendo por desapropriação,
ou hipotecar, quando o ordene o juiz, para lhes evitar a
ruína.

Os descendentes, ascendentes ou cônjuge sucessores


(herdeiros necessários) aproveitarão os frutos e rendimentos
dos bens (ex: aluguel) de forma integral, enquanto os demais
sucessores apenas metade.
Art. 33.
O descendente, ascendente ou cônjuge que for sucessor
provisório do ausente, fará seus todos os frutos e
rendimentos dos bens que a este couberem; os outros
sucessores, porém, deverão capitalizar metade desses
frutos e rendimentos, segundo o disposto no art. 29, de
acordo com o representante do Ministério Público, e prestar
anualmente contas ao juiz competente.

Obviamente que se o ausente reaparecer, os sucessores


não mais farão jus aos frutos e rendimentos.

Art. 36. Se o ausente aparecer, ou se lhe provar a


existência, depois de estabelecida a posse
provisória, cessarão para logo as vantagens dos
sucessores nela imitidos, ficando, todavia, obrigados a tomar
as medidas assecuratórias precisas, até a entrega dos bens a
seu dono.
Da Sucessão Definitiva

Após 10 anos, em regra, da sentença de abertura de


sucessão provisória, sem que o ausente aparece, poderão os
interessados requerer a sucessão definitiva. Nesse momento
será declarada a morte presumida.

Art. 37. 10 anos depois de passada em julgado


a sentença que concede a abertura da sucessão
provisória, poderão os interessados requerer a sucessão
definitiva e o levantamento das cauções prestadas.

Como consequência os herdeiros passam a ter


proprietário resolúvel dos bens.

A proprietário é resolúvel porque ainda há a possibilidade


de o ausente aparecer, seguiremos o seguinte:

 Ausente aparecer em até 10 anos da sucessão


definitiva -> Terá direito aos bens, mas no estado que se
encontrarem.
 Ausente aparecer após 10 anos da sucessão
definitiva -> Não terá mais direitos aos bens.

Art. 39. Regressando o ausente nos 10 anos


seguintes à abertura da sucessão definitiva, ou algum
de seus descendentes ou ascendentes, aquele ou
estes haverão só os bens existentes no estado em
que se acharem, os sub-rogados em seu
lugar, ou o preço que os herdeiros e demais
interessados houverem recebido pelos bens alienados
depois daquele tempo.

§ único. Se, nos 10 anos a que se refere este artigo,


o ausente não regressar,
e nenhum interessado promover a sucessão definitiva,
os bens arrecadados passarão ao domínio do
Município ou do Distrito Federal, se localizados nas
respectivas circunscrições, incorporando-se ao domínio
da União, quando situados em território federal.
Resumindo as fases da ausência

Para finalizar o artigo sobre as pessoas naturais, vejamos


de forma bem resumida as fases da ausência.

1ª Fase – Curadoria de ausentes (Art. 22 a 25): O curador


administra os bens durante 1 ano (sem represente) ou 3 anos
(com represente).

2ª Fase – Sucessão provisória (Art. 26 a 36): Durante 10 anos,


os herdeiros se imitem na posse (após edital de 180 dias).

3ª Fase – Sucessão definitiva (37 a 39): Declara-se a morte


presumida, assim os herdeiros adquirem a propriedade. Nos 10
primeiros anos de forma resolúvel e após de forma definitiva.

Para facilitar a compreensão, vejamos um esquema


apresentado pelo Professor Paulo H M Sousa.
ATÉ MAIS...

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