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DIREITO CIVIL: INTRODUÇÃO E

PESSOAS
PROFESSORA: ROGERIA MARIA DA SILVA MHIRDAUI

Introdução ao Direito Civil


. Fontes do Direito:
- Materiais: São os eventos históricos e sociais).
- Formal Direta/Imediata/Primária/Pura: É o Direito positivo sem si; a lei.
- Formal Indireta/Mediata/Secundária/Impura: É a excepcionalidade, suprem a falta da lei.
Algumas estão previstas no art. 4º do LINDB (analogia, costumes e os princípios), enquanto
outras provem da doutrina majoritária.
. Costumes: Objetivos (baseados na repetição) e subjetivos (baseados na convicção);
. Princípios Gerais do Direito: Ideias fundamentais do Direito;
. Analogia;
. Equidade;
. Doutrina e Jurisprudência.

. Princípios do Código Civil (CC; Lei 10.406/02)


- Princípio da Sociabilidade: O Direito coletivo está acima do Direito particular.
- Princípio da Eticidade: Valorização do ser humano, da ética; impõe justiça e boa-fé nas
relações civis (pacta sunt servanda). No contrato, tem-se que agir de boa-fé em todas as suas
fases.
- Princípio da Operabilidade: É aquele que impõe soluções viáveis, operáveis e sem grandes
dificuldades na aplicação do Direito. A regra tem que ser aplicada de modo simples.
Das Pessoas Naturais

- Personalidade: Trata-se da aptidão jurídica para exercer Direitos e contrair obrigações ou


deveres na ordem civil. Podem ter personalidade as pessoas físicas ou jurídicas.
. Art. 2º CC: “A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe
a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.”
Tem-se 15 dias para registrar o nascido, prazo sendo ampliado em até três meses para os
lugares distantes mais de 30km da sede do cartório. No caso impossibilidade dos pais de
realizarem o registro, outro indicado terá o prazo para declaração prorrogado por 45 dias, na
seguinte ordem: o parente mais próximo; os administradores de hospitais ou os médicos e
parteiras que tiverem assistido o parto; pessoa idônea da casa em que ocorrer, sendo fora
da residência da mãe (art. 50º da Lei 6.015/1973, Lei dos Registros Públicos).

. Capacidade
- Capacidade: Aptidão que a pessoa tem de adquirir e exercer Direitos. Divide-se em dois
tipos:
a) Capacidade de Direito: A pessoa adquire direitos, podendo ou não os exercer. Ganha-se
essa capacidade com o nascimento, e perde-se com a morte.
b) Capacidade de Exercício (ou de Fato): É a capacidade que tem a pessoa de exercer seu
próprio direito. Todas as pessoas têm capacidade de direito, mas nem todas possuem a
capacidade de exercício do direito.
- Incapacidade: Não estar apto ao exercício de seus direitos. Divide-se em dois tipos:
a) Absoluta (art. 3º CC): É a incapacidade que leva o sujeito a ter de ser representado, como
por exemplo, os menores de 16 anos; os que, por enfermidade ou deficiência mental, não
tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos; os que, mesmo por causa
transitória, não puderem exprimir sua vontade.
b) Relativa (art. 4º CC): São relativamente incapazes os maiores de 16 anos e menores de
18 anos; os ébrios habituais, os viciados, e os que, por deficiência mental, tenham o
discernimento reduzido (causas transitórias ou permanentes); os excepcionais, sem
desenvolvimento mental completo; os pródigos; entre outros.
- Emancipação (art. 5 CC): A menoridade cessa aos 18, quando a pessoa fica habilitada à
prática de todos os atos da vida civil. Cessará, para os menores, a incapacidade:
a) pela concessão dos pais, se o menor tiver dezesseis anos completos;
b) pelo casamento;
c) pelo exercício de emprego público efetivo;
d) pela colação de grau em curso de ensino superior;
e) pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde
que o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria.

. Da Morte:
- Extinção da Personalidade Jurídica da Pessoa Natural (art. 6 CC): A existência da pessoa
natural termina com a morte. A morte pode ser:
. Real: É a morte encefálica (paralisação das atividades cerebrais). Sua prova se dá através
de atestado de óbito, e acarreta na extinção de todos os direitos e obrigações, bem como dá
início a transmissão de património (sucessão).
. Simultânea/Comoriência (art. 8º CC): Ocorre quando dois ou mais indivíduos falecem na
mesma ocasião, não se podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outro. É
importante para alguns casos no Direito Sucessório.
. Morte Civil (art. 1.816 CC): Ocorre quando o indivíduo é excluso de receber a herança,
como se ele ‘morto’ fosse antes da abertura da sucessão. Por exemplo, se um filho tenta
matar seu pai, ele será considerado indigno, de acordo com o Código Civil.

. Morte Presumida (art. 7º CC): Ocorre quando não é possível encontrar o cadáver para
exame, e nem há testemunhas que presenciaram ou constataram a morte, mas é
extremamente provável que a mesma tenha acontecido. A morte presumida pode ser:

a) sem declaração: Se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de


vida; em caso de guerra, se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for
encontrado até 2 anos após o término da guerra; pessoas desaparecidas em razão de
participação, ou acusação de participação, em atividades políticas, no período de 2 de
setembro de 1961 a 15 de agosto de 1979 (lei 9140/95).

A declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá ser requerida depois de
esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do
falecimento.

b) com declaração: ocorre com o desaparecimento da pessoa, sem que seu paradeiro seja
conhecido. A primeira fase, nesse processo, é a curadoria dos bens ausentes (na ordem de
cônjuge, ascendente/descendente, e qualquer pessoa indicada pelo juiz). Após 1 ano em tal
situação, ou, se ele deixou representante ou procurador, tendo passado 3 anos, poderão os
interessados requerer que se declare a ausência e se abra provisoriamente a sucessão. Assim,
chega-se na segunda fase, a sucessão provisória, que dura 10 anos. A sentença que
determinar a abertura da sucessão provisória só produzirá efeito 180 dias após de publicada
pela imprensa. Então, inicia-se a última fase, que é a sucessão definitiva, quando o ausente
é presumido morto.

. Individualização da Pessoa:
- Individualização da Pessoa Natural: É a identidade da pessoa natural. Pode ser dividida em
3 aspectos:
. Nome: Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome – simples ou
composto – e o sobrenome (art. 16 CC), além da possibilidade do agnome. Com a nova lei
aprovada em 2022 (lei 14.382/22), pode-se alterar o nome mais facilmente, sem motivação,
desde que maior de idade.
Nomes idênticos (homonímia) são proibidos dentro do núcleo familiar. Por exemplo, o caso
de irmãos (gêmeos ou não), cuja regra prevê a inserção de duplo prenome quando nomes
idênticos, ou o uso do agnome quando o nome do registrando for igual ao nome de um de
seus familiares.
Quanto a proteção do nome (arts. 17 ao 19 CC): “O nome da pessoa não pode ser
empregado por outrem em publicações ou representações que a exponham ao desprezo
público, ainda quando não haja intenção difamatória; Sem autorização, não se pode usar o
nome alheio em propaganda comercial; O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza
da proteção que se dá ao nome.”
O nome não é tratado como propriedade por ser inalienável. Por tanto, considera-se como
direito de personalidade.
. Estado: Qualificação civil para produzir efeitos jurídicos.
- Político: Cidadania, nacionalidade, naturalidade.
- Físico/Individual: Idade, sexo, capacidade civil.
- Familiar: Parentesco (em linha reta, colateral ou por afinidade), situação conjugal.
. Domicílio (arts. 70 ao 78 CC): O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece
a sua residência com ânimo definitivo. Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências,
onde, alternadamente, viva, considerar-se-á domicílio seu qualquer delas. É também
domicílio da pessoa natural, quanto às relações concernentes à profissão, o lugar onde é
exercida. Se a pessoa exercitar profissão em lugares diversos, cada um deles constituirá
domicílio para as relações que lhe corresponderem. Ter-se-á por domicílio da pessoa natural,
que não tenha residência habitual, o lugar onde for encontrada. Muda-se o domicílio,
transferindo a residência, com a intenção manifesta de o mudar (a prova da intenção
resultará do que declarar a pessoa às municipalidades dos lugares, que deixa, e para onde
vai, ou, se tais declarações não fizer, da própria mudança).
Quanto às pessoas jurídicas, o domicílio é: Da União, é o Distrito Federal; dos Estados e
Territórios, as respectivas capitais; do Município, o lugar onde funcione a administração
municipal; das demais pessoas jurídicas, o lugar onde funcionarem as respectivas
administrações, ou onde elegerem domicílio especial no seu estatuto ou atos constitutivos.
Tendo a pessoa jurídica diversos estabelecimentos em lugares diferentes, cada um deles será
considerado domicílio para os atos nele praticados; E se a administração tiver a sede no
estrangeiro, haver-se-á por domicílio da pessoa jurídica, no tocante às obrigações contraídas
por cada uma das suas agências, o lugar do estabelecimento, sito no Brasil, a que ela
corresponder.
Têm domicílio necessário o incapaz (domicílio do seu representante ou assistente), o
servidor público (o lugar em que exercer permanentemente suas funções), o militar (onde
servir, e, sendo da Marinha ou da Aeronáutica, a sede do comando a que se encontrar
imediatamente subordinado), o marítimo (onde o navio estiver matriculado) e o preso (lugar
em que cumprir a sentença).
O agente diplomático do Brasil, que, citado no estrangeiro, alegar extraterritorialidade sem
designar onde tem, no país, o seu domicílio, poderá ser demandado no Distrito Federal ou
no último ponto do território brasileiro onde o teve.
Nos contratos escritos, poderão os contratantes especificar domicílio onde se exercitem e
cumpram os direitos e obrigações deles resultantes.

. Direito de Personalidade (arts. 11 ao 21 CC):


São direitos inerentes aos humanos. Foram incluídos aos poucos no ordenamento jurídico,
sendo seu marco o art. 5º da Constituição Federal.
- Características do direito da personalidade:
. É intransmissível; é absoluto; é oponível contra todos; em regra, não pode sofrer limitação;
é imprescritível; é vitalício; é extrapatrimonial; é inato do humano; em regra, é indisponível.
Sua tutela pode ser preventiva ou repressiva. É defendida a dignidade da pessoa, tanto
quanto a integridade física quanto a integridade moral.
- Disposição do próprio corpo:
. Art. 13 CC: “Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo,
quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons
costumes. O ato previsto neste artigo será admitido para fins de transplante, na forma
estabelecida em lei especial.”
. Art. 14 CC: “É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio
corpo, no todo ou em parte, para depois da morte. O ato de disposição pode ser livremente
revogado a qualquer tempo.”
. Pode haver transplante, desde que não prejudique o doador. A lei 9334/97 define mais
quanto ao assunto.
- Tratamento médico de risco:
. Art. 15 CC: “Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a
tratamento médico ou a intervenção cirúrgica.”
. O tratamento médico de risco pode ocorrer apenas com autorização (no caso de não poder
escolher, a decisão cabe a família). Visa-se sempre a proteção da integridade física e moral
da pessoa humana, e o médico deve sempre informar tudo ao paciente.
. Ninguém é forçado a fazer exame de sangue (art. 232º CC).
- Imagem:
. A imagem é o que identifica o sujeito. Abrange o retrato, voz, atributos, qualitativo social,
entre outros. Apenas é permitida a divulgação de imagem caso autorizado (art. 20º CC),
exceto em casos de necessidade para a manutenção da ordem pública.

Das Pessoas Jurídicas

- Definição: São entidades que a lei confere personalidade, capacitando-os a serem sujeitos
de direitos e obrigações.
- Natureza jurídica:
. Teoria da ficção: A PJ não existe de fato, mas sim apenas na lei (ficção legal); dela, a teoria
da ficção doutrinária (é ficção criada pela doutrina);
. Teoria da realidade: A PJ é uma realidade viva, e não mera abstração. São suas subteorias:
- da realidade objetiva/orgânica: a vontade dá vida ao organismo (fator sociológico);
- da realidade jurídica/institucionalizada: são organizações sociais destinadas a um
serviço/ofício; de uma ideia socialmente útil (fator sociológico);
- da realidade técnica: a PJ é a forma encontrada pelo direito para reconhecer a existência
de grupos de indivíduos que se unem na busca de fins determinados (teoria adotada no
direito brasileiro).
- Pressupostos de existência: Pluralidade de pessoas, uma finalidade específica, objetivo
lícito.
- Requisitos para a constituição: Vontade humana (affectio societatis), elaboração e registro
de ato constitutivo e licitude de objetivo.
. Ato Constitutivo: É o documento que formaliza a criação de uma PJ (art. 45 CC) e traz todas
as informações básicas da instituição. Também define direitos, deveres, diretrizes e outras
características do negócio. Nele, está o estatuto (associações), contrato social (sociedades) e
a escritura pública/testamento (fundações).
. Registro (art. 46-47 CC): Para sociedades empresarias, o registro é na Junta Comercial.
Para demais sociedades, é no Cartório de Registro de Pessoas Jurídicas. Para sociedades
simples de advogados, na OAB. (art. 1.150; 144 da LRP; 15 e 16, § 3º da EOAB)
. algumas podem preceder de autorização governamental (art. 45); como empresas
estrangeiras, sociedades de exploração de energia elétrica e riquezas minerais, empresas
jornalísticas, etc.
. requisitos do registro (art. 46): I - a denominação, os fins, a sede, o tempo de duração e
o fundo social, quando houver; II - o nome e a individualização dos fundadores ou
instituidores, e dos diretores; III - o modo por que se administra e representa, ativa e
passivamente, judicial e extrajudicialmente; IV - se o ato constitutivo é reformável no tocante
à administração, e de que modo; V - se os membros respondem, ou não, subsidiariamente,
pelas obrigações sociais; VI - as condições de extinção da pessoa jurídica e o destino do seu
patrimônio, nesse caso.
. Encerramento (art. 51 CC): “Nos casos de dissolução da pessoa jurídica ou cassada a
autorização para seu funcionamento, ela subsistirá para os fins de liquidação, sendo extinta
após a conclusão.” Art. 45, parágrafo único: “Decai em 3 anos o direito de anular a
constituição das pessoas jurídicas de direito privado, por defeito do ato respectivo, contado
o prazo da publicação de sua inscrição no registro.”
. Sociedade irregular ou de fato (ou não personificada): É sociedade sem registro; há uma
apresentação direta, e os sócios são os subsidiários (art. 990).
- prova de existência: é necessária a escrita dos sócios, ou qualquer provas por terceiros.
- seu registro não retroage a efeitos pretéritos.
- aplica-se subsidiariamente as normas da sociedade simples (art. 986).

- Classificação da PJ:
. Nacionalidade: Nacional ou estrangeira;
. Estrutura interna: Corporação (universitas personarum, pessoa jurídica que tem como
elemento essencial o homem; visam objetivo interno para os membros) ou fundação
(universitas bonorum, pessoa jurídica que tem como elemento essencial o patrimônio; visam
objetivo externo);
- corporações podem ser: associações, que não tem fins lucrativos, ou sociedades (simples
ou empresariais), que visam o lucro.
. Função (ou orbita de atuação): Pública (de direito interno ou externo) ou privada.

- Entes despersonalizados: Universalidade de direitos e bens em unidade, sem


personalidade jurídica, mas que possuem capacidade processual (mediante representação).
Se formam independentemente de vontade ou ato constitutivo (sem o affectio societatis).
São estes despersonalizados (art. 75, CPC): associação/sociedade irregular e outros entes
organizados sem personalidade (pelo administrador), condomínio (pelo
administrador/síndico), espolio (pelo inventariante), família, herança jacente e vacante (pelo
curador), massa falida objetiva e subjetiva (administrador judicial).
. herança jacente: quando não há herdeiros conhecidos. Herança vacante: reconhecido que
não há mais herdeiros. (arts. 1.819 a 1.823)
. massa falida objetiva: conjunto de bens do falido. Massa falida subjetiva: é a comunhão
de interesses dos credores.
. o condomínio especial (edilício ou horizontal) possui divergência doutrinária sobre ser ou
não PJ (prevalece que não; sendo, pois, ente despersonalizado; com aparente apoio da
jurisprudência); a jurisprudência admite consórcios (privados) e fundos de capitais como
entes despersonalizados (pelo administrador).
Art. 91 CC: “Constitui universalidade de direito o complexo de relações jurídicas, de uma
pessoa, dotadas de valor econômico.” Alguns bens/patrimônios (como herança
jacente/vacante, massa falida, espólio), mesmo não possuindo personalidade jurídica,
podem usufruir da capacidade processual e ter legitimidade ativa e passiva.

. Desconsideração da personalidade jurídica (ou da autonomia patrimonial da pessoa


jurídica, ou disregard doctrine):
- É o instituto que permite relativizar a autonomia da personalidade jurídica de uma PJ com
a finalidade de atribuir responsabilidade aos seus administradores e sócios. Ocorre quando
se prova fraude ou abuso de direito ou confusão patrimonial, podendo assim se levantar o
véu da pessoa jurídica para encontrar a satisfação dos credores nos bens pessoais dos sócios
e administradores; é medida extrema (interpreta-se o art. 50 restritivamente; enunciado 146,
II JDC/CNJ). A pessoa jurídica não é dissolvida, mas sim é declarada a ineficácia do ato
fraudulento.
- Art. 49-A, caput: “A pessoa jurídica não se confunde com os seus sócios, associados,
instituidores ou administradores. (Incluído pela Lei 13.874/19)”
- Teoria maior (art. 50): “Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo
desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou
do MP quando lhe couber intervir no processo, desconsiderá-la para que os efeitos de certas
e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares de
administradores ou de sócios da pessoa jurídica beneficiados direta ou indiretamente pelo
abuso.” (Redação dada pela Lei 13.874/19)
. a teoria maior considera a comprovação de fraude e abuso dos sócios.
. teoria maior objetiva: a confusão patrimonial é pressuposto necessário e suficiente. Teoria
maior subjetiva: deve haver desvio de finalidade e fraude.
§ 1º Desvio de finalidade é a utilização da pessoa jurídica com o propósito de lesar credores
e para a prática de atos ilícitos de qualquer natureza.
§ 2º Confusão patrimonial é a ausência de separação de fato entre os patrimônios,
caracterizada por: I - cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações do sócio ou do
administrador ou vice-versa; II - transferência de ativos ou de passivos sem efetivas
contraprestações, exceto os de valor proporcionalmente insignificante; e III - outros atos de
descumprimento da autonomia patrimonial.
§ 3º O disposto no caput e nos §§ 1º e 2º também se aplica à extensão das obrigações de
sócios ou de administradores à pessoa jurídica.
§ 4º A mera existência de grupo econômico sem a presença dos requisitos de que trata o
caput não autoriza a desconsideração.
§ 5º Não constitui desvio de finalidade a mera expansão ou a alteração da finalidade original
da atividade econômica específica da pessoa jurídica.
- Teoria menor (CDC, art. 28): “O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da
sociedade quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de
poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A
desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência,
encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração.
. a teoria menor considera o simples prejuízo do credor.
§ 1° (Vetado). § 2° As sociedades integrantes dos grupos societários e as sociedades
controladas, são subsidiariamente responsáveis pelas obrigações decorrentes deste código.
§ 3° As sociedades consorciadas são solidariamente responsáveis pelas obrigações
decorrentes deste código. § 4° As sociedades coligadas só responderão por culpa. § 5°
Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for, de
alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores.”
. aplica-se em situações de consumo e trabalho.
- Desconsideração inversa: É cabível a desconsideração da personalidade jurídica inversa
para alcançar bens de sócio que se valeu da pessoa jurídica para ocultar ou desviar bens
pessoais, com prejuízo a terceiros (Enunciado 283, IV JDC/CJF). Positivada nos arts. 50, § 3°,
CC e 132, § 2º, CPC.
- Código Tributário Nacional (Lei 5.172/66), art. 135: “São pessoalmente responsáveis pelos
créditos correspondentes a obrigações tributárias resultantes de atos praticados com
excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos: [...] III - os diretores,
gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito privado.”
. Súmula 430/STJ: “O inadimplemento da obrigação tributária pela sociedade não gera, por
si só, a responsabilidade solidária do sócio-gerente.” Súmula 435/STJ: “Presume-se dissolvida
irregularmente a empresa que deixar de funcionar no seu domicílio fiscal, sem comunicação
aos órgãos competentes, legitimando o redirecionamento da execução fiscal para o sócio-
gerente.”
- Sanções de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente (Lei 9.605/98): “Art. 4º Poderá
ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for obstáculo ao
ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente.”
. segue o art. 28, § 5° do CDC.
- Encerramento Irregular: A Dissolução Irregular de Sociedade é caracterizada pela
inoperância das atividades da empresa, sem que ocorra a sua baixa na junta comercial e
outras repartições competentes, ou seja, a dissolução irregular da sociedade comercial é o
abandono da empresa sem que ocorra o seu correto encerramento.
- Empresa sem Fins Lucrativos: São companhias que reúnem um grupo de pessoas em prol
do bem comum para atingir um objetivo de cunho social, cultural, filantrópico, entre outros.
Assim, essa categoria de empresa não busca o lucro financeiro ou acumulação de capital. Ela
também é suscetível à desconsideração.

. Pessoas Jurídicas de Direito Privado:


Art. 44 CC: “São pessoas jurídicas de direito privado: as associações; sociedades; fundações;
organizações religiosas; partidos políticos.”
- Associação: Consiste na união de duas ou mais pessoas para a realização de um fim moral,
social, cultural ou esportivo, mediante contribuição para a manutenção da atividade. Não
possui fins lucrativos.
. É criada pelo estatuto social que, deve conter (art. 54 CC): a denominação, os fins e a sede
da associação; os requisitos para a admissão, demissão e exclusão dos associados; os direitos
e deveres dos associados; as fontes de recursos para sua manutenção; o modo de
constituição e de funcionamento dos órgãos deliberativos; as condições para a alteração das
disposições estatutárias e para a dissolução; a forma de gestão administrativa e de aprovação
das respectivas contas.
. Art. 61 CC: “Dissolvida a associação, o remanescente do seu patrimônio líquido será
destinado à entidade de fins não econômicos designada no estatuto, ou, omisso este, por
deliberação dos associados, à instituição municipal, estadual ou federal, de fins idênticos ou
semelhantes.”
- Sociedade: Consiste na união de duas ou mais pessoas, por meio de um contrato social, no
qual os sócios se obrigam a contribuir, reciprocamente, à título de investimento, com bens
ou serviços. A sociedade visa o exercício de atividade econômica, havendo por finalidade a
partilha dos resultados; é uma associação de esforços, de pessoas na busca do lucro a ser
partilhado entre os participantes. Diferencia-se, portanto, das associações nesse quesito,
visto que essas não visam o lucro.
. Sociedade simples e empresarial: Na sociedade simples, a atividade fim é desenvolvida
pelos sócios (profissionais liberais). Já na sociedade empresária, a atividade econômica é
organizada e sua finalidade como um todo é empresarial. Segundo o art. 966, “considera-se
empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a
produção ou a circulação de bens ou de serviços.”
.Subtipos de sociedades empresárias: em nome coletivo, em comandita simples, em
comandita por ações, limitada, anônima, por ações, cooperativas.
. Registro: sociedade simples, no Cartório de Registro Civil das Pessoas Jurídicas.
Empresarial, na Junta Comercial.
. Pode ser também constituída por 1 só pessoa, como a antiga EIRELI (empresa individual
de responsabilidade limitada, extinta em 2021), SLU (sociedade limitada unipessoal) ou MEI
(microempreendedor individual).
- Fundação: É constituída por patrimônio, e não por pessoas. Constitui-se por testamento
ou escrito público. O objeto social, necessariamente, terá fins filantrópicos, de modo que se
a atividade resultar em lucro, este deverá ser convertido para a própria fundação. Seus bens
são inalienáveis, salvo casos com ordens judiciais e aprovação do Ministério Público. A
fundação deverá ser aprovada pelo Ministério Público.
. Extinção: Não está sujeita à falência, e sim à intervenção. Segundo o artigo 69, “tornando-
se ilícita, impossível ou inútil a finalidade a que visa a fundação, ou vencido o prazo de sua
existência, o Ministério Público, ou qualquer interessado, lhe promoverá a extinção,
incorporando-se o seu patrimônio, salvo disposição em contrário no ato constitutivo, ou no
estatuto, em outra fundação, designada pelo juiz, que se proponha a fim igual ou
semelhante.”
- Entidade religiosa: Constitui-se por estatuto social e não possui fins lucrativos. A
contribuição, para manutenção, em regra, dá-se pelo dízimo. Aplica-se no que couber as
normas das associações
Art. 44, § 1º: “São livres a criação, a organização, a estruturação interna e o funcionamento
das organizações religiosas, sendo vedado ao poder público negar-lhes reconhecimento ou
registro dos atos constitutivos e necessários ao seu funcionamento.”
- Partido político: Constitui-se por meio de estatuto social, devendo, também, ser registrado
no TRE e TSE. Possui fins políticos,.
Art. 1º, lei 9.096/95: “O partido político, pessoa jurídica de direito privado, destina-se a
assegurar, no interesse do regime democrático, a autenticidade do sistema representativo e
a defender os direitos fundamentais definidos na Constituição Federal.”
Art. 44 § 3º CC: “Os partidos políticos serão organizados e funcionarão conforme o disposto
em lei específica.”

. Pessoas Jurídicas de Direito Público Interno:


Art. 41 CC: “São pessoas jurídicas de direito público interno: a União; os Estados, o Distrito
Federal e os Territórios; Municípios; as autarquias, inclusive as associações públicas; as
demais entidades de caráter público criadas por lei.”

. Pessoas Jurídicas de Direito Público Externo:


Art. 42 CC: “São pessoas jurídicas de direito público externo os Estados estrangeiros e todas
as pessoas que forem regidas pelo direito internacional público.”
DIREITO CIVIL: BENS E NEGÓCIOS
JURÍDICOS
PROFESSOR: ENDERSON DANILO SANTOS DE VASCONCELOS

Bens

. Conceitos:
- Coisa ≠ Bem: Bens são valores materiais ou imateriais, enquanto as coisas são bens
materiais.
- Patrimônio: Direitos sobre os bens (possui valor econômico).
. Há ainda a esfera jurídica, que diz que bens inalienáveis (como a honra) integram o
patrimônio.
- Relação Jurídica: Ocorre entre dois ou mais sujeitos e o(s) objeto(s).

. Classificação:
. Bens em si mesmos considerados
- Moveis e imóveis:
. Imóveis (bem de raiz): Art. 79: “São bens imóveis o solo e tudo quanto se lhe incorporar
natural ou artificialmente.” Podem ser imóveis: por natureza; por acessão natural; por
acessão artificial e; por determinação legal (herança e direitos a imóveis; ver art. 80 e 81).
Portanto, a herança é alienável, de forma solene cessão de herança).
. Móveis: Art. 82: “São móveis os bens suscetíveis de movimento próprio, ou de remoção
por força alheia, sem alteração da substância ou da destinação econômico-social.” Podem
ser móveis: por natureza (dividem-se em semoventes, como animais, e propriamente ditos,
como objetos inanimados); por antecipação (bens incorporados a imóveis que podem ser
separados e convertidos em móveis, como frutos ou safras) e; por determinação legal
(energia, direitos a móveis e direitos pessoais de caráter patrimonial; ver art. 82).
- Fungíveis e infungíveis:
. Art. 85: “São fungíveis os móveis que podem substituir-se por outros da mesma espécie,
qualidade e quantidade.” Ou seja, os infungíveis são aqueles insubstituíveis, únicos. Podem
ser: por natureza; por convenção (vontade das partes, como por exemplo, o dinheiro, que é
um bem fungível, porém pode tornar-se infungível uma moeda rara para um colecionador,
um simplesmente algo comum, mas de valor pessoal).
- Consumíveis e inconsumíveis:
. Art. 86: “São consumíveis os bens móveis cujo uso importa destruição imediata da própria
substância, sendo também considerados tais os destinados à alienação.” Estes bens que ao
serem consumidos são destruídos são consumíveis de fato, e se destinados a alienação, são
consumíveis de direito. Por exemplo, os livros nas prateleiras de uma livraria são
consumíveis (juridicamente) por se destinarem à alienação, e nas estantes de uma biblioteca,
serão inconsumíveis, porque aí se acham para serem lidos e conservados.
. Usufruto só ocorre com bens inconsumíveis. Caso contrário, ocorre “usufruto impróprio”,
ou ainda “quase usufruto” (ver art. 1.392, § 1º). Além disso, um bem consumível (por
natureza) pode se tornar inconsumível por vontade das partes (por convenção), como uma
garrafa de uma bebida rara.
- Divisíveis e indivisíveis:
. Art. 87: “Bens divisíveis são os que se podem fracionar sem alteração na sua substância,
diminuição considerável de valor, ou prejuízo do uso a que se destinam.” Podem ser: por
natureza; por convenção (ver art. 1.320) e; por determinação legal (por exemplo, nos arts.
1.386, 1.421, 1.791).
. Os imóveis rurais não podem ser divididos em frações inferiores ao módulo regional (lei
6766/79, Lei do Parcelamento do Solo Urbano).
- Singulares e coletivos:
. Art. 89: “São singulares os bens que, embora reunidos, se consideram de per si ,
independentemente dos demais.”
. Bens coletivos (também chamados de Universais ou Universalidades): Podem ser
universalidade: de fato (pluralidade de bens singulares que, pertinentes à mesma pessoa,
tenham destinação unitária, mas ainda p; art. 90) e; de direito (complexo de relações
jurídicas, de uma pessoa, dotadas de valor econômico, como herança, patrimônio, etc; art.
91).
. A distinção entre a universalidade de fato e a de direito é que a primeira se apresenta como
um conjunto ligado pelo entendimento particular (decorre da vontade do titular), enquanto
a segunda decorre da lei.
. Bens reciprocamente considerados
- Bens principais e acessórios: Art. 92: “Principal é o bem que existe sobre si, abstrata ou
concretamente; acessório, aquele cuja existência supõe a do principal.” Por exemplo, a
árvore é acessória em relação ao solo. Há diversos tipos de acessórios:
. Frutos e produtos: Frutos são as utilidades que uma coisa periodicamente produz. Nascem
e renascem da coisa, sem acarretar-lhe a destruição. Podem ser: naturais (dependem da
força da natureza, como frutas e filhotes); industriais/artificiais (dependem da intervenção
do homem) e; civis (rendimentos produzidos pela coisa, como os juros e os aluguéis).
Diferentemente dos frutos, os produtos não se reproduzem periodicamente, então implicam
na diminuição de quantidade e qualidade, como metais sendo extraídos de uma mina (ver
art. 1.394). Há casos em que os produtos são considerados frutos, como no usufruto de uma
mina, onde os minerais serão considerados frutos, e não produtos (ver arts. 1.214 e 1.232)
(ver art. 176, monopólio de recursos minerais do Estado e art. 26 CF).
. Pertenças: Art. 92: “São pertenças os bens que, não constituindo partes integrantes, se
destinam, de modo duradouro, ao uso, ao serviço ou ao aformoseamento de outro.” Por
exemplo, o trator de uma fazenda ou a mobília de uma casa, que lhe são acessórios, porém,
não são partes integrantes.
Art. 94: “Os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem principal não abrangem as
pertenças, salvo se o contrário resultar da lei, da manifestação de vontade, ou das
circunstâncias do caso.” Por exemplo, na venda de um imóvel, a mobília, a princípio, não
estará inclusa. Isso vai a contrario sensu do padrão, onde o bem acessório segue o principal.
. Benfeitorias: São melhorias feitas em propriedades de terceiros. Quem deve restituir um
bem tem direito ao reembolso das despesas nele realizadas.
Art. 96: “As benfeitorias podem ser voluptuárias, úteis ou necessárias.”
Art. 453/454:“As benfeitorias necessárias ou úteis, não abonadas ao que sofreu a evicção,
serão pagas pelo alienante. Se as benfeitorias abonadas ao que sofreu a evicção tiverem sido
feitas pelo alienante, o valor delas será levado em conta na restituição devida.”
Art. 578: “Salvo disposição em contrário, o locatário goza do direito de retenção, no caso de
benfeitorias necessárias, ou no de benfeitorias úteis, se estas houverem sido feitas com
expresso consentimento do locador.”
Art. 1.219/1.220 “O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias
necessárias e úteis, bem como, quanto às voluptuárias, se não lhe forem pagas, a levantá-
las, quando o puder sem detrimento da coisa, e poderá exercer o direito de retenção pelo
valor das benfeitorias necessárias e úteis; Ao possuidor de má-fé serão ressarcidas somente
as benfeitorias necessárias [...].”
Ver também arts. 1.221 e 1.222.
. Bens públicos e privados: Quanto a sua titularidade, os bens reciprocamente considerados
podem ser públicos ou privados. Bens públicos são bens de domínio de PJ de direito público
interno. Segundo o art. 99, eles podem ser:
- Bem público de uso comum:
. Seu uso pode ser gratuito ou retribuído (oneroso; art. 103). Seu uso também pode ser
limitado. Rios, mares, estradas e praça são exemplos de bem de uso comum.
. São inalienáveis, exceto em caso de desafetação (tornar bem público de uso comum ou
especial em dominical; art. 100).
- Bem público de uso especial:
. São bens que servem ao próprio Estado, como edifícios de serviço público. Assim como
os bens públicos de uso comum, são inalienáveis.
- Bem dominicais:
. São patrimônio privado de pessoa pública, como terras devolutas, estradas de ferro,
oficinas e fazendas pertencentes ao Estado.
. São bens disponíveis e alienáveis (art. 101). A lei 8666/93 exige interesse público e
autorização legislativa para a venda ou doação, enquanto a lei 9636/98 exige autorização do
Presidente quanto a imóveis da União.
. Bens públicos não estão sujeitos a usucapião (prescrição aquisitiva), tolerando mera
detenção (art. 102; súmula 619 STJ). Na ausência da lei, os bens do domínio privado do Estado
submetem-se ao direito privado.
. Res nullius: É “coisa de ninguém”; propriedade sem dono. Apenas bens móveis possuem
essa característica. Terras devolutas são bens dominicais do Estado.

. Bem de família: É um bem que garante um mínimo existencial, um patrimônio mínimo.


Pode ele ser voluntário ou de lei.
- Bem de família voluntário:
. Pode ser criado por cônjuges ou entidade familiar de forma solene (escritura pública ou
testamento). O limite do valor do bem de família é 1/3 do patrimônio líquido (art. 1.711).
. O bem de família consistirá em prédio residencial urbano ou rural, com suas pertenças e
acessórios, destinando-se a domicílio familiar. Poderá abranger valores mobiliários, cuja
renda será aplicada na conservação do imóvel e no sustento da família (art. 1.712).
. É inalienável e impenhorável, exceto em caso de dívidas anteriores e propter rem (ou
obrigação ambulatória; basicamente, obrigação que segue a coisa).
- Bem de família legal:
. É regulado pela lei 8009/90, que “dispõe sobre a impenhorabilidade do bem de família”.
Seu artigo um define que o imóvel, seja residencial ou comercial, de casal ou entidade
familiar, não responderá por quaisquer dívidas.
. Há exceções para a impenhorabilidade (art. 3º): caso a dívida seja em razão de
financiamento do imóvel; pelo credor de pensão alimentícia; para execução de hipoteca caso
o imóvel tenha sido oferecido como garantia real ou em caso de fiança em contrato de
locação; caso o imóvel tenha sido obtido ilegalmente, e; para a execução de sentenças e
penas.
. Ordem pública: Ex officio (é uma ordem emitida a qualquer tempo por iniciativa do juiz);
Preclusão (perda do direito de manifestação no processo, seja do autor, do réu ou de
terceiros, por ausência de realização do ato processual no momento oportuno; segundo o
STJ, a preclusão consumativa atinge a alegação de impenhorabilidade do bem de família
quando houver decisão anterior acerca do tema).
. Súmulas STJ: (205): “A Lei n. 8.009/1990 aplica-se a penhora realizada antes de sua
vigência.”; (486): “É impenhorável o único imóvel residencial do devedor que esteja locado a
terceiros, desde que a renda obtida com a locação seja revertida para a subsistência ou a
moradia da sua família.”; (449): “A vaga de garagem que possui matrícula própria no registro
de imóveis não constitui bem de família para efeito de penhora.”

Fatos

- Fato: Pode ser jurídico (causa efeitos no direito) ou não jurídico.


- Fato jurídico: Pode ser natural ou humano.
- Fato jurídico natural: Independe da vontade humana. Pode ser ordinário (cotidiano, como
o tempo) ou extraordinário (caso fortuito, como terremotos ou chuvas torrenciais).
- Fato jurídico humano: Depende da vontade humana. Pode ser ilícito (art. 186; aqui há
normalmente o dever de reparar o dano) ou lícito.
- Fato jurídico humano lícito: Pode ser uma composição de interesses (negócio jurídico) ou
um ato jurídico (onde há o fato + direito + vontade + licitude, porém, a ação é individualizada).

. Classificação do negócio jurídico:


. Ele pode ser:
- Quanto à vontade: Unilateral, bilateral ou plurilaterais.
- Quanto à vantagem patrimonial: Gratuito (doação), oneroso, neutro (não se aplica a
relação, como o bem de família), ou bifronte.
- Quanto à forma: Formal (por escrito)/solene (escritura pública) ou informal.
- Quanto à pessoalidade: Impessoal ou pessoal (intuitu personae).
- Quanto ao momento: Inter vivos ou causa mortis.
- Quanto à autonomia: Principal (como a locação) ou vários/acessórios (como a fiança). A
anulação do negócio principal encerra o acessório, porém o contrário, não (vem do princípio
da gravitação jurídica, que estabelece que os bens acessórios devem ter o mesmo fim do
que tiver o bem principal).
- Quanto ao aperfeiçoamento: Pode ser consensual (formam com um simples acordo de
vontades, como a compra e venda, doação e locação) ou real (espera-se a entrega de algo,
como no comodato, mútuo, depósito e empréstimo).

. Negócio jurídico processual: É um fato jurídico voluntário, onde se reconhece ao sujeito o


poder de regular certas situações jurídicas processuais. Por exemplo, o calendário processual
(calendarização), que é um negócio jurídico processual em que os prazos dos atos
processuais futuros são agendados, sendo as datas escolhidas de comum acordo entre o juiz
e as partes.
. Negócio jurídico benéfico: É aquele em que apenas uma das pessoas obtém vantagem com
sua celebração, não existindo equilíbrio entre os benefícios e as obrigações assumidas pelas
diferentes partes. Por exemplo, o contrato de comodato ou doação. Art. 114: “Os negócios
jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente.”
. Princípio da conservação do negócio jurídico: Diz que o negócio jurídico deve buscar ser
mantido, e que deve se fundamentar na ideia da função social do negócio jurídico. Art. 421
(redação dada pela lei 13.874/19): “A liberdade contratual será exercida nos limites da
função social do contrato. [...] Nas relações contratuais privadas, prevalecerão o princípio da
intervenção mínima e a excepcionalidade da revisão contratual.”

. Estrutura do negócio jurídico:


. Estrutura/Escada ponteana: É uma teoria desenvolvida pelo jurista Pontes de Miranda
(Brasil, 1892 – 1979), que tem como objetivo estruturar os planos de formação do negócio
jurídico.
- Quanto à existência: Requer: agente; objeto; forma, e; vontade.
- Quanto à validade (art. 104): Requer: capacidade (agente capaz); liberdade (vontade
livre); adequação (forma prescrita e não defesa em lei), e; quanto ao objeto, licitude,
possibilidade e determinabilidade (objeto lícito, possível e determinável).
. Art. 107: “A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão
quando a lei expressamente a exigir.”
. Art. 109: “No negócio jurídico celebrado com a cláusula de não valer sem instrumento
público, este é da substância do ato.”
- Quanto à eficácia (efeitos): Há: condição (evento futuro e incerto; art. 121); termo (evento
futuro e certo; é basicamente a data, que compreende o termo/data inicial e final, havendo
entre eles o prazo; ver art. 131), e; encargo (um ônus, uma condição). A condição, o termo e
o encargo são os chamados elementos acidentais do negócio jurídico.
. Consequência do inadimplemento: São as consequências resultantes do não
cumprimento das obrigações.

. Condição: É um elemento acidental, futuro e incerto.


- Podem ser suspensivas (o “se”; enquanto não acontecer, não se adquire o direito; ver arts.
125 e 126) ou resolutivas (o enquanto; ver arts. 127 e 128).
- Lícita (art. 122): “São lícitas, em geral, todas as condições não contrárias à lei, à ordem
pública ou aos bons costumes; entre as condições defesas se incluem as que privarem de
todo efeito o negócio jurídico, ou o sujeitarem ao puro arbítrio de uma das partes.”
- Ilícita (art. 123, I): “Invalidam os negócios jurídicos que lhes são subordinados: As
condições física ou juridicamente impossíveis, quando suspensivas; as condições ilícitas, ou
de fazer coisa ilícita; as condições incompreensíveis ou contraditórias.”
- Pode ser possível, ou impossível. Se for impossível e suspensiva, invalida o negócio. Se for
resolutiva, ela torna-se inexistente. Art. 124: “Têm-se por inexistentes as condições
impossíveis, quando resolutivas, e as de não fazer coisa impossível.” Também é inexistente
condição resolutiva incompatível, dada no art. 128.
- Pode ainda ser uma condição causal (independe de vontade para acontecer), potestativa
(depende da vontade) ou mista (depende da vontade, bem como do acaso ou da vontade de
terceiro).
. Simplesmente potestativa: Depende da vontade das partes, sem arbítrio.
. Puramente potestativa: É aquela que sujeita o negócio ao puro arbítrio de um dos
contratantes; depende exclusivamente da vontade de uma das partes. É uma condição que
invalida o negócio jurídico, por isso, são ilícitas (art. 122).
. Promíscua: É aquela condição que inicialmente é potestativa, porém, posteriormente,
vem a perder esta característica ante a ocorrência de um fato superveniente (impossibilidade
superveniente), alheio à vontade do agente, que venha a dificultar ou impedir sua realização.

. Boa-fé objetiva: Depende da lealdade e confiança. Tem função interpretativa, integrativa e


limitativa. Possuem os chamados conceitos/figuras parcelares:
- Venire contra factum proprium. É a vedação do comportamento contraditório, baseada no
pacta sunt servanda (pactos devem ser respeitados).
- Supressio: É a omissão temporal que leva a perda de um direito.
- Surrectio: É a aquisição de um direito pelo decurso do tempo, pela expectativa, havendo
boa-fé objetiva. Por exemplo, no art. 330: “O pagamento reiteradamente feito em outro local
faz presumir renúncia do credor relativamente ao previsto no contrato.”
- Tu quoque: Situação de abuso que se verifica quando um sujeito viola uma norma jurídica
e, posteriormente, tenta tirar proveito da situação em benefício próprio. Um contratante não
pode violar uma norma, e, posteriormente, beneficiar-se dessa violação, de uma norma que
ele próprio violou (ver art. 129).
- Excepto doli.

. Da invalidade: Pode haver o negócio jurídico nulo (nulidade absoluta; onde ocorre a
declaração de nulidade; plano de existência e/ou validade, nulo de pleno direito; matéria de
ordem pública; art. 166) ou o negócio jurídico anulável (nulidade relativa/anulabilidade;
passível de ação constitutiva negativa, que é a extinção de relação jurídica; não declarável de
ofício; prazo decadencial de 4 anos, art. 178).
* Art. 166: “É nulo o negócio jurídico quando: I - celebrado por pessoa absolutamente
incapaz; II - for ilícito, impossível ou indeterminável; III - o motivo determinante, comum a
ambas as partes, for ilícito; IV - não revestir a forma prescrita em lei; V - for preterida
solenidade que a lei considere essencial para a sua validade; VI - tiver por objetivo fraudar
lei imperativa; VII - a lei o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção.” Art.
167: “É nulo o negócio jurídico simulado [...]”
* Art. 171: “Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio
jurídico: por incapacidade relativa do agente; por vício resultante de erro, dolo, coação,
estado de perigo, lesão ou fraude contra credores.” [e fraude à execução]
. Vícios e defeitos do negócio jurídico:
. Vícios de vontade/consentimento:
1. Erro/ignorância (art. 138): Ninguém induz o sujeito a erro, é ele quem tem na realidade
uma noção falsa sobre determinado objeto ou pessoa. Podem causar a anulação se for um
erro substancial/essencial (art. 139). A anulação é impossível caso seja acidental.
- Art. 140: “O falso motivo só vicia a declaração de vontade quando expresso como razão
determinante.” Ver também arts. 143 e 144.
- Do erro: Cognoscibilidade: É o conhecimento do erro, ou sua ignorância; Escusabilidade:
É o erro ser ou não perdoável.
2. Dolo (art. 145): A parte é induzida ao erro. Se for essencial (o erro é a causa do negócio),
é anulável. Se for acidental (o negócio poderia ser cumprido de outra forma), apenas é feita
a reparação dos danos (art. 146).
- Em caso de dolo de terceiro, se o beneficiado pelo dolo não tinha conhecimento dos fatos,
negócio não é anulável, mas a parte prejudicada poderá requer perdas e danos pelo terceiro
(art. 148).
- Culpa in eligendo (a empresa é responsável pelo erro do funcionário), dolus bonus (dolo
tolerável; não há gravidade suficiente para viciar à vontade, como comerciantes que
exageram as qualidades das mercadorias que estão vendendo), dolus malus (dolo que vicia
o negócio jurídico), dolo positivo (comissivo), dolo negativo (omissivo; art. 147) e dolo
bilateral/recíproco (se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para
anular o negócio, ou reclamar indenização; art. 150).
3. Coação: É a ameaça que visa forçar o negócio jurídico. A ameaça deve ter “fundado temor
de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens” (e caso seja a
pessoa não seja um familiar, o juiz julgará o caso concreto; arts. 151 e 152).
- A ameaça pode ser física (vis absoluta) ou moral (vis compulsiva), sendo que apenas a
primeira elimina completamente à vontade (nulidade) e a segunda, relativamente
(anulabilidade).
- Art. 153: “Não se considera coação a ameaça do exercício normal de um direito, nem o
simples temor reverencial.” Ver também art. 154 e 155.
4. Estado de perigo (art. 156): “Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido
da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra
parte, assume obrigação excessivamente onerosa.” Aqui, a prestação exorbitante é o
elemento objetivo, e a cognoscibilidade, subjetivo.
5. Lesão (art. 157): “Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por
inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação
oposta.” Aqui, a onerosidade excessiva é o elemento objetivo, e a inexperiência ou
necessidade, subjetivo. Na lesão, não é necessário o dolo.

. Vícios sociais: São atos contrários à boa fé ou à lei, prejudicando terceiro.


- Simulação: É a declaração enganosa da verdade, visando alcançar efeito diverso daquele
declarado no negócio jurídico, para iludir terceiros ou burlar a lei. Há um conluio para
enganar outrem.
. Há desacordo entre vontade declarada (aparência) e vontade interna (essência).
. Causa nulidade absoluta (≠ anulabilidade).
. O reconhecimento desse vício provem de ordem pública, por ofício. Não há inércia do
juiz.
. Pode seu reconhecimento ser incidental (descoberto em meio ao processo) ou por ofício.

. Art. 167: “É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido
for na substância e na forma.” Ou seja, se a simulação fora feita em algo não essencial ao
negócio, apenas essa simulação será invalidada, permanecendo o negócio em si (simulação
relativa). O negócio aparente será nulo, e o negócio dissimulado (ocultado) será válido. A
simulação relativa ocorre quando as partes pretendem realizar determinado negócio,
prejudicial a terceiro ou em fraude à lei, e, para escondê-lo ou dar-lhe aparência diversa,
realizam outro negócio. Pode ser (art. 167, § 1º): Subjetiva (aparentar conferir ou transmitir
direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se confere/transmite) ou objetiva
(contiver declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira; os instrumentos
particulares forem antedatados, ou pós-datados).
Já na simulação absoluta, as partes na realidade não realizam nenhum negócio verdadeiro.
Apenas fingem, para criar uma aparência, uma ilusão externa, sem que na verdade desejem
o ato.
. Art. 110: “A manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja feito a reserva
mental [(declaração de vontade com a intenção de não a cumprir)] de não querer o que
manifestou, salvo se dela o destinatário tinha conhecimento.” Ou seja, se a outra parte sabia
da reserva mental, equivale a simulação.

- Fraude contra credores: Acontece quando o devedor pratica atos com o objetivo de
prejudicar os direitos dos credores de receberem aquilo que lhes é garantido; é todo ato
suscetível de diminuir ou onerar o próprio patrimônio, reduzindo ou eliminando a garantia
que este representa para pagamento de suas dívidas, praticado por devedor insolvente, ou
por ele reduzido à insolvência. Ocorre a ineficácia subjetiva (ação fraudulenta para
prejudicar credores).
. Art. 158: “Os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão [(perdão)] de dívida,
se os praticar o devedor já insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, ainda quando o
ignore, poderão ser anulados pelos credores quirografários [(os que não possuem prioridade
sobre os outros; que não tem garantia real sobre a dívida)], como lesivos dos seus direitos.”
. Art. 159: “Serão igualmente anuláveis os contratos onerosos do devedor insolvente,
quando a insolvência for notória, ou houver motivo para ser conhecida do outro
contratante.” Ocorre presunção relativa.
. Art. 161: “A ação, nos casos dos arts. 158 e 159, poderá ser intentada contra o devedor
insolvente, a pessoa que com ele celebrou a estipulação considerada fraudulenta, ou
terceiros adquirentes que hajam procedido de má-fé.”
. Depende de ação anulatória (nulidade relativa), também chamada de ação
pauliana/revocatória.
. Possui prazo decadencial de 4 anos (art. 178, II).
. Requisitos/elementos:
- Elemento objetivo (eventos damni): É a própria insolvência, o ato prejudicial ao credor.
- Elemento subjetivo (consilium fraudis): É a má-fé; a intenção de prejudicar terceiro ou
a ciência de insolvência. Ocorre apenas em negócios onerosos.
. Súmula 195, STJ: “Em embargos de terceiro não se anula ato jurídico, por fraude contra
credores.” Embargo de terceiro é um procedimento disposto no CPC, que tem como objetivo
possibilitar que um terceiro, não parte do processo em questão, possa defender seus bens
que sejam indevidamente alvo de constrição dentro da demanda judicial.

- Fraude à execução: A alienação do bem será ineficaz e considerada fraude à execução se,
ao tempo da aquisição, tiver sido averbado no registro do bem eventual constrição ou
mesmo se tramitava contra o devedor ação capaz de reduzi-lo à insolvência (art. 792 CPC)
. Súmula 375, STJ: “O reconhecimento da fraude à execução depende do registro da
penhora do bem alienado ou da prova de má-fé do terceiro adquirente.”
. Ocorre a ineficácia (≠ anulabilidade) perante ao exequente (quem promove a ação; no
caso, o credor).
. Diferenças entre a fraude à execução e fraude contra credores:
- A fraude de execução é incidente do processo, regulado pelo direito público (CPC, art.
792); a fraude contra credores é defeito do negócio jurídico (vício social), disciplinado pelo
direito privado (CC, arts. 158 a 165).
- A fraude de execução pressupõe demanda em andamento, capaz de reduzir o alienante
à insolvência, sendo levada a efeito pelo devedor para lhe frustrar a execução; a fraude
contra credores caracteriza-se quando ainda não existe nenhuma ação ou execução em
andamento contra o devedor, embora possam existir protestos cambiários.
- Art. 165: “Anulados os negócios fraudulentos, a vantagem resultante reverterá em proveito
do acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores. Parágrafo único. Se esses
negócios tinham por único objeto atribuir direitos preferenciais, mediante hipoteca, penhor
ou anticrese, sua invalidade importará somente na anulação da preferência ajustada.”

. Importante:
- A malicia supre a idade. Art. 180: “O menor, entre dezesseis e dezoito anos, não pode, para
eximir-se de uma obrigação, invocar a sua idade se dolosamente a ocultou quando inquirido
pela outra parte, ou se, no ato de obrigar-se, declarou-se maior.”
- Quem paga mal, paga duas vezes. Art. 181: “Ninguém pode reclamar o que, por uma
obrigação anulada, pagou a um incapaz, se não provar que reverteu em proveito dele a
importância paga.”
- Ninguém pode se beneficiar da própria torpeza.

. Efeitos da anulação:
- São efeitos de sentença.
- Inter partes (≠ erga omnes).
- Ex tunc, retroativo (≠ ex nunc, não retroage). Art. 182: “Anulado o negócio jurídico, restituir-
se-ão as partes ao estado em que antes dele se achavam, e, não sendo possível restituí-las,
serão indenizadas com o equivalente.”

. Prescrição e decadência:
- A prescrição extingue a pretensão de usar um direito. É descrita nos arts. 189 ao 206-A. Há
a prescrição extintiva (que foi descrita) e a aquisitiva (usucapião).
. Art. 1.244: “Estende-se ao possuidor o disposto quanto ao devedor acerca das causas que
obstam, suspendem ou interrompem a prescrição, as quais também se aplicam à usucapião.”
. Actio nata: O termo inicial do prazo prescricional é a data do nascimento da pretensão
resistida, o que ocorre quando se toma ciência inequívoca do fato danoso. Pode ser objetiva,
que se relaciona com o momento em que ocorre a violação do direito e se torna exigível a
prestação, ou subjetiva, que se relaciona com o momento em que a violação de direito
subjetivo passa a ser de conhecimento da parte que poderá exigir a prestação.
. Art. 27, CDC: “Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por
fato do produto ou do serviço prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem
do prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria.”
. Prescrição Intercorrente (Art. 921): “Suspende-se a execução: III - quando não for
localizado o executado ou bens penhoráveis. § 1º Na hipótese do inciso III, o juiz suspenderá
a execução pelo prazo de 1 ano, durante o qual se suspenderá a prescrição. § 2º Decorrido o
prazo máximo de 1 ano sem que seja localizado o executado ou que sejam encontrados bens
penhoráveis, o juiz ordenará o arquivamento dos autos. § 3º Os autos serão desarquivados
para prosseguimento da execução se a qualquer tempo forem encontrados bens
penhoráveis. § 5º O juiz, depois de ouvidas as partes, no prazo de 15 (quinze) dias, poderá,
de ofício, reconhecer a prescrição no curso do processo e extingui-lo, sem ônus para as
partes.” E art. 924: “Extingue-se a execução quando: V - ocorrer a prescrição intercorrente.”
. Súmula 149, STF: “É imprescritível a ação [pretensão] de investigação de paternidade,
mas não o é a de petição de herança [que é de 10 anos].”
. Súmula 150, STF: “Prescreve a execução no mesmo prazo de prescrição da ação
[pretensão].”
. Enunciado 368, IV Jornada de Direito Civil do CJF: “O prazo para anular venda de
ascendente para descendente é decadencial de dois anos (art. 179 do CC).”
- A decadência é a extinção completa do direito. É descrita nos arts. 207 ao 211.
Art. 487, parágrafo único, CPC: “Ressalvada a hipótese do § 1º do art. 332 , a prescrição e a
decadência não serão reconhecidas sem que antes seja dada às partes oportunidade de
manifestar-se.”
Art. 240, CPC: “A citação válida, ainda quando ordenada por juízo incompetente, induz
litispendência, torna litigiosa a coisa e constitui em mora o devedor, ressalvado o disposto
nos arts. 397 e 398 do CC.
§ 1º A interrupção da prescrição, operada pelo despacho que ordena a citação, ainda que
proferido por juízo incompetente, retroagirá à data de propositura da ação.
§ 2º Incumbe ao autor adotar, no prazo de 10 (dez) dias, as providências necessárias para
viabilizar a citação, sob pena de não se aplicar o disposto no § 1º.
§ 3º A parte não será prejudicada pela demora imputável exclusivamente ao serviço
judiciário.
§ 4º O efeito retroativo a que se refere o § 1º aplica-se à decadência e aos demais prazos
extintivos previstos em lei.”
RSRJ, 43/298, STJ: “Se o direito em discussão é indivisível, a interrupção da prescrição por
um dos credores a todos aproveita.”

. Da prova (art. 212 até 232):


- Deve ser admissível (legal e aplicável ao caso), pertinente (adequada aos fatos) e
concludente (esclarecedora dos fatos controvertidos).
- O ônus da prova cabe a quem alega, mas há fatos notórios que independem de prova.
- Prova no CC: Determinação das provas, indicação do valor jurídico e condições de
admissibilidade; no CPC: o modo de constituir a prova e de produzi-la em juízo.
. Art. 212: Salvo o negócio a que se impõe forma especial, o fato jurídico pode ser provado
mediante:
I - Confissão: Art. 389, CPC: “Há confissão, judicial ou extrajudicial, quando a parte admite
a verdade de fato contrário ao seu interesse e favorável ao do adversário.” Pode ainda ser
espontânea ou provocada, expressa ou presumida.
Art. 213, CC: “Não tem eficácia a confissão se provém de quem não é capaz de dispor do
direito a que se referem os fatos confessados. Parágrafo único. Se feita a confissão por um
representante, somente é eficaz nos limites em que este pode vincular o representado.”
Art. 214: “A confissão é irrevogável, mas pode ser anulada se decorreu de erro de fato ou de
coação.”
O representante legal de incapaz não pode confessar (art. 119), mas o voluntário, pode.
II - Documento: Pode ser público ou particular (assinado pelas partes). Instrumento é criado
com a finalidade de servir como prova, se diferenciando do documento, que é seu gênero.
Certidão é a reprodução do transcrito em livro ou documento.
Art. 215: “A escritura pública, lavrada em notas de tabelião, é documento dotado de fé
pública, fazendo prova plena.
§ 5º Se algum dos comparecentes não for conhecido do tabelião, nem puder identificar-se
por documento, deverão participar do ato pelo menos duas testemunhas que o conheçam e
atestem sua identidade.”
STJ, REsp 1.438.432-GO: “A presunção do art. 215 do CC/02 implica, de um lado, a
desnecessidade de se provar os fatos contidos na escritura pública, à luz do que dispõe o art.
334, IV, do CPC, e, de outro, a inversão do ônus da prova, em desfavor de quem,
eventualmente, suscite a sua invalidade.”
STJ, REsp 1.288.552-MT: “A fé pública atribuída aos atos dos servidores estatais e aos
documentos por eles elaborados, não tem o condão de atestar a veracidade do que é tão
somente declarado, de acordo com a vontade, boa ou má-fé das partes, pois a fé pública
constitui princípio do ato registral que protege a inscrição dos direitos, não dos fatos
subjacentes a ele ligados. As declarações prestadas pelas partes ao notário [tabelião], bem
ainda o documento público por ele elaborado, possuem presunção relativa (juris tantum) de
veracidade, admitindo-se prova em contrário.”
Art. 216: “Farão a mesma prova que os originais as certidões textuais de qualquer peça
judicial, do protocolo das audiências, ou de outro qualquer livro a cargo do escrivão, sendo
extraídas por ele, ou sob a sua vigilância, e por ele subscritas, assim como os traslados de
autos, quando por outro escrivão consertados.”
Art. 217: ”Terão a mesma força probante os traslados e as certidões, extraídos por tabelião
ou oficial de registro, de instrumentos ou documentos lançados em suas notas.”
Art. 218: “Os traslados e as certidões considerar-se-ão instrumentos públicos, se os originais
se houverem produzido em juízo como prova de algum ato.”
Art. 219: “As declarações constantes de documentos assinados presumem-se verdadeiras
em relação aos signatários. Parágrafo único. Não tendo relação direta, porém, com as
disposições principais ou com a legitimidade das partes, as declarações enunciativas não
eximem os interessados em sua veracidade do ônus de prová-las.”
Art. 220: “A anuência ou a autorização de outrem, necessária à validade de um ato, provar-
se-á do mesmo modo que este, e constará, sempre que se possa, do próprio instrumento.”
Art. 221: “O instrumento particular, feito e assinado, ou somente assinado por quem esteja
na livre disposição e administração de seus bens, prova as obrigações convencionais de
qualquer valor; mas os seus efeitos, bem como os da cessão, não se operam, a respeito de
terceiros, antes de registrado no registro público. Parágrafo único. A prova do instrumento
particular pode suprir-se pelas outras de caráter legal.”
Art. 222: “O telegrama, quando lhe for contestada a autenticidade, faz prova mediante
conferência com o original assinado.”
Art. 223: “A cópia fotográfica de documento, conferida por tabelião de notas, valerá como
prova de declaração da vontade, mas, impugnada sua autenticidade, deverá ser exibido o
original. Parágrafo único. A prova não supre a ausência do título de crédito, ou do original,
nos casos em que a lei ou as circunstâncias condicionarem o exercício do direito à sua
exibição.”
Art. 224: “Os documentos redigidos em língua estrangeira serão traduzidos para o português
para ter efeitos legais no país.”
Art. 225: “As reproduções fotográficas, cinematográficas, os registros fonográficos e, em
geral, quaisquer outras reproduções mecânicas ou eletrônicas de fatos ou de coisas fazem
prova plena destes, se a parte, contra quem forem exibidos, não lhes impugnar a exatidão.”
Art. 226: “Os livros e fichas dos empresários e sociedades provam contra as pessoas a que
pertencem, e, em seu favor, quando, escriturados sem vício extrínseco ou intrínseco, forem
confirmados por outros subsídios. Parágrafo único. A prova resultante dos livros e fichas não
é bastante nos casos em que a lei exige escritura pública, ou escrito particular revestido de
requisitos especiais, e pode ser ilidida pela comprovação da falsidade ou inexatidão dos
lançamentos.”
III - Testemunha: Pode ser instrumentária (assinam o instrumento) ou judiciária (depõe em
juízo).
Art. 442, CPC: “A prova testemunhal é sempre admissível, não dispondo a lei de modo
diverso.”
Art. 444: “Nos casos em que a lei exigir prova escrita da obrigação, é admissível a prova
testemunhal quando houver começo de prova por escrito, emanado da parte contra a qual
se pretende produzir a prova.”
Art. 445: “Também se admite a prova testemunhal quando o credor não pode ou não podia,
moral ou materialmente, obter a prova escrita da obrigação, em casos como o de parentesco,
de depósito necessário ou de hospedagem em hotel ou em razão das práticas comerciais do
local onde contraída a obrigação.”
Art. 227, CC, parágrafo único: “Qualquer que seja o valor do negócio jurídico, a prova
testemunhal é admissível como subsidiária ou complementar da prova por escrito.”
Art. 228: “Não podem ser admitidos como testemunhas: I - os menores de dezesseis anos;
IV - o interessado no litígio, o amigo íntimo ou o inimigo capital das partes; V - os cônjuges,
os ascendentes, os descendentes e os colaterais, até o terceiro grau de alguma das partes,
por consanguinidade, ou afinidade.
§ 1º: Para a prova de fatos que só elas conheçam, pode o juiz admitir o depoimento das
pessoas a que se refere este artigo.
§ 2º A pessoa com deficiência poderá testemunhar em igualdade de condições com as
demais pessoas, sendo-lhe assegurados todos os recursos de tecnologia assistiva.” (ver art.
447, CPC).
IV - Presunção: É a conclusão que se extrai de um fato conhecido para chegar a um
desconhecido, enquanto o indício é meio de se chegar a uma presunção. Ex.: Art. 324: “A
entrega do título ao devedor firma a presunção do pagamento.” Pode ser presunção legal
(juris), que decorre da lei, ou comum (hominis). As legais podem ser absolutas (juris et de
jure), que não admite prova em contrário (ex.: art. 163), e as relativas (juris tantum), como
no art. 1.601.
V - Perícia: Art. 464, CPC: “A prova pericial consiste em exame, vistoria ou avaliação.”
Art. 231: “Aquele que se nega a submeter-se a exame médico necessário não poderá
aproveitar-se de sua recusa.”
Art. 232: “A recusa à perícia médica ordenada pelo juiz poderá suprir a prova que se
pretendia obter com o exame.”
Súmula 301, STJ: “Em ação investigatória, a recusa do suposto pai a submeter-se ao exame
de. DNA induz presunção juris tantum de paternidade.”

- Art. 369, CPC: “As partes têm o direito de empregar todos os meios legais, bem como os
moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, para provar a verdade dos
fatos em que se funda o pedido ou a defesa e influir eficazmente na convicção do juiz.”
DIREITO CIVIL: OBRIGAÇÕES
PROFESSOR: ENDERSON DANILO SANTOS DE VASCONCELOS

Introdução

. Direitos obrigacionais vs. reais: O direito obrigacional/pessoal é um vínculo jurídico entre


um sujeito ativo e passivo, na qual aquele exige uma prestação deste. Já o direito real é um
direito sobre uma coisa, oponível contra todos.
- Figuras hibridas (obrigações deambulatórias):
. Obrigação propter rem: É uma obrigação vinculada a coisa. É acessória ao direito real, e é
transmitida automaticamente ao novo proprietário da coisa, caso haja transferência. Ex.:
IPTU, pagamento de cota condominial, etc.
. Vide ônus real (obrigação que limita o uso e o gozo da propriedade, constituindo gravame
ou direito oponível erga omnes, como hipoteca) e a obrigação com eficácia real (obrigação
de caráter pessoal, mas devido ao seu registro, é oponível erga omnes).
* ex. de obrigação de eficácia real: REsp 1537287. “[...] 1. Não constitui ato de mera
liberalidade a promessa de doação aos filhos como condição para a realização de acordo
referente à partilha de bens em processo de separação ou divórcio dos pais, razão pela qual
pode ser exigida pelos beneficiários do respectivo ato. [...]”

. Características da obrigação:
- envolve uma relação jurídica entre credor e devedor;
- é transitória (diferente do direito real);
- consiste em uma prestação positiva (fazer) ou negativa (não fazer);
- caso haja descumprimento, autoriza o credor a se satisfazer no patrimônio do devedor.

. Elementos:
- subjetivo (sujeito ativo e passivo);
- objetivo: há o objeto imediato (o ato da prestação; o “dar”, “fazer”, “entregar”) e o mediato
(o objeto da prestação, o bem em si).
. Princípios:
- eticidade (lealdade e confiança): é a boa-fé;
- sociabilidade (função social): Art. 421: “A liberdade contratual será exercida nos limites da
função social do contrato. Parágrafo único. Nas relações contratuais privadas, prevalecerão
o princípio da intervenção mínima e a excepcionalidade da revisão contratual.” (lei
13.874/19)
* segundo teoria alemã, a obrigação deve ser vista como um processo de colaboração
contínuo.
- equivalência (ou equivalência material): busca preservar o equilíbrio de direitos e deveres
no contrato, antes, durante e após sua execução.

. Direito subjetivo e potestativo:


- o credor tem o direito subjetivo de exigir o cumprimento do devedor.
- o credor impõe/sujeita o devedor: este recebe um direito potestativo, ou seja, um direito
que não se cabe discussão, que deve ser efetivo. é um estado de sujeição.

. Fontes:
- lei, contrato, título de crédito;
- atos ilícitos e abuso de direito;
- atos unilaterais: promessa de recompensa (art. 854), gestão de negócios (art. 861),
pagamento indevido (art. 876) e enriquecimento sem causa (art. 884).

. Sinalagma na relação obrigacional:


- o credor e devedor o são entre si. por ex.: numa compra e venda, um se compromete a
entregar coisa, e outro a pagar em dinheiro, ambos sendo credores e devedores mútuos.
- há um equilíbrio (efeito gangorra), que caso quebrado pode ter seus contratos modificados
ou extintos, como nos exemplos: revisão contratual (art. 421), onerosidade excessiva (art.
478) ou ineficácia do contrato.

. Validade:
- Art. 104: “A validade do negócio jurídico requer: I - agente capaz; II - objeto lícito, possível,
determinado ou determinável; III - forma prescrita ou não defesa em lei.”
- A obrigação deve ter uma prestação economicamente apreciável.
* princípio da responsabilidade material do devedor: ele apenas pagará com seu
patrimônio, exceto na pensão alimentícia, onde pode ocorrer prisão civil (art. 528, § 7º, CPC).

. Teoria dualista alemã:


- schuld e haftung: schuld traz a ideia de dever/obrigação, o débito, e haftung traz a ideia de
responsabilidade.
- há débito sem responsabilidade (schuld sem haftung)? sim. ex.: dívida prescrita (que existe,
mas não há responsabilidade, pois não há mais pretensão).
- há responsabilidade sem débito (haftung sem schuld)? sim. ex.: fiança.

. Atos unilaterais:
São simples declarações de uma parte. Forma-se quando a contraparte assume o dever
obrigacional (≠ atos bilaterais).
1. Promessa de recompensa:
Art. 854: “Aquele que, por anúncios públicos, se comprometer a recompensar, ou gratificar,
a quem preencha certa condição, ou desempenhe certo serviço, contrai obrigação de cumprir
o prometido.”
Isso vale mesmo que a pessoa que realizar a solicitação não souber da recompensa.
Art. 856: “Antes de prestado o serviço ou preenchida a condição, pode o promitente revogar
a promessa, contanto que o faça com a mesma publicidade; se houver assinado prazo à
execução da tarefa, entender-se-á que renuncia o arbítrio de retirar, durante ele, a oferta.
Parágrafo único. O candidato de boa-fé, que houver feito despesas, terá direito a reembolso.”
Art. 857/858: “Se o ato contemplado na promessa for praticado por mais de um indivíduo,
terá direito à recompensa o que primeiro o executou. Sendo simultânea a execução, a cada
um tocará quinhão igual na recompensa; se esta não for divisível, conferir-se-á por sorteio, e
o que obtiver a coisa dará ao outro o valor de seu quinhão.”
Art. 859: “Nos concursos que se abrirem com promessa pública de recompensa, é condição
essencial, para valerem, a fixação de um prazo, observadas também as disposições dos
parágrafos seguintes. § 1º A decisão da pessoa nomeada, nos anúncios, como juiz, obriga os
interessados. § 2º Em falta de pessoa designada para julgar o mérito dos trabalhos que se
apresentarem, entender-se-á que o promitente se reservou essa função. § 3º Se os trabalhos
tiverem mérito igual, proceder-se-á de acordo com os arts. 857 e 858.”
Art. 860: “As obras premiadas, nos concursos de que trata o artigo antecedente, só ficarão
pertencendo ao promitente, se assim for estipulado na publicação da promessa.”
Art. 1.233/1.234: Quem achar coisa alheia perdida há de restituí-la ao dono. Não o
conhecendo, fará por encontrá-lo, e se não o encontrar, entregará à autoridade competente.
Aquele que restituir a coisa achada terá direito a uma recompensa não inferior a 5% do seu
valor, e à indenização pelas despesas que houver feito com a conservação e transporte da
coisa, se o dono não preferir abandoná-la. Para a recompensa, considera-se o esforço
desenvolvido pelo descobridor para encontrar o dono, as possibilidades que teria este de
encontrar a coisa e a situação econômica de ambos.

2. Gestão de negócios:
Art. 861: “Aquele que, sem autorização do interessado, intervém na gestão de negócio
alheio, dirigi-lo-á segundo o interesse e a vontade presumível de seu dono, ficando
responsável a este e às pessoas com que tratar.”
Art. 862: “Se a gestão foi iniciada contra a vontade manifesta ou presumível do interessado,
responderá o gestor até pelos casos fortuitos [...]”
Art. 873: “A ratificação pura e simples do dono do negócio retroage ao dia do começo da
gestão, e produz todos os efeitos do mandato.”

3. Pagamento indevido:
É um tipo de enriquecimento sem causa (actio de in rem verso).
Art. 876: “Todo aquele que recebeu o que lhe não era devido fica obrigado a restituir [...]”
Art. 940: “Aquele que demandar por dívida já paga, no todo ou em parte, sem ressalvar as
quantias recebidas ou pedir mais do que for devido, ficará obrigado a pagar ao devedor, no
primeiro caso, o dobro do que houver cobrado e, no segundo, o equivalente do que dele
exigir, salvo se houver prescrição.”
Art. 42, parágrafo único, CDC: “O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à
repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de
correção monetária e juros legais, salvo hipótese de engano justificável.”

4. Enriquecimento sem causa:


Requisitos:
- enriquecimento de quem recebe e empobrecimento de quem paga
- nexo de causalidade entre os fatos
- ausência de causa jurídica (contrato ou lei) para tal
- inexistência de ação específica (art. 886)
Art. 884/885: “Aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa de outrem, será obrigado
a restituir o indevidamente auferido, feita a atualização dos valores monetários. A restituição
é devida, não só quando não tenha havido causa que justifique o enriquecimento, mas
também se esta deixou de existir.
Art. 886: “Não caberá a restituição por enriquecimento, se a lei conferir ao lesado outros
meios para se ressarcir do prejuízo sofrido.”

. Classificação da prestação: Pode ser uma prestação de dar coisa (certa ou incerta), ou; fazer
(tarefa) ou não fazer (abstenção).

. Obrigação de dar coisa certa: O credor não é obrigado a receber coisa diversa, ainda que
mais valiosa. Também incide aqui o princípio da gravitação universal (art. 233), exceto se
expresso o contrário.
- Do inadimplemento:
- perda da coisa certa antes da tradição (art. 234):
. sem culpa ou pendente condição suspensiva: se resolve o contrato (volta-se ao status quo
ante).
. com culpa: paga-se o equivalente + perdas e danos (ou seja, indenização material).
- deterioração de coisa certa antes da tradição:
. sem culpa (art. 235): resolve o contrato ou aceita coisa com abatimento no valor.
. com culpa (art. 236): paga-se o equivalente ou aceita coisa com abatimento no valor +
perdas e danos, em ambos os casos.
- perda de cosia certa que deveria restituir:
. sem culpa (art. 238): o credor sofre a perda (resolução do contrato).
. com culpa (art. 239): paga-se o equivalente + perdas e danos.
- deterioração de coisa certa que deveria restituir (art. 240):
. sem culpa: deve o credor receber o bem.
. com culpa: paga-se o equivalente + perdas e danos.
“Art. 233. A obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios dela embora não
mencionados, salvo se o contrário resultar do título ou das circunstâncias do caso.
Art. 237. Até a tradição pertence ao devedor a coisa, com os seus melhoramentos e
acrescidos, pelos quais poderá exigir aumento no preço; se o credor não anuir, poderá o
devedor resolver a obrigação.

Art. 241. Se, no caso do art. 238, sobrevier melhoramento ou acréscimo à coisa, sem despesa
ou trabalho do devedor, lucrará o credor, desobrigado de indenização.
Art. 242. Se para o melhoramento, ou aumento, empregou o devedor trabalho ou dispêndio,
o caso se regulará pelas normas deste Código atinentes às benfeitorias realizadas pelo
possuidor de boa-fé ou de má-fé. (arts. 1.219 ao 1.222)
Parágrafo único. Quanto aos frutos percebidos, observar-se-á, do mesmo modo, o disposto
neste Código, acerca do possuidor de boa-fé ou de má-fé. (art. 1.214 ao 1.216)”
- Quanto aos frutos: O devedor possui os percebidos, enquanto é do credor os pendentes.
“Art. 1.214. O possuidor de boa-fé tem direito, enquanto ela durar, aos frutos percebidos.
Parágrafo único. Os frutos pendentes ao tempo em que cessar a boa-fé devem ser
restituídos, depois de deduzidas as despesas da produção e custeio; devem ser também
restituídos os frutos colhidos com antecipação.
Art. 1.216. O possuidor de má-fé responde por todos os frutos colhidos e percebidos, bem
como pelos que, por culpa sua, deixou de perceber, desde o momento em que se constituiu
de má-fé; tem direito às despesas da produção e custeio.”
- Quanto a benfeitorias:
“Art. 1.219. O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e
úteis, bem como, quanto às voluptuárias, se não lhe forem pagas, a levantá-las, quando o
puder sem detrimento da coisa, e poderá exercer o direito de retenção pelo valor das
benfeitorias necessárias e úteis.
Art. 1.220. Ao possuidor de má-fé serão ressarcidas somente as benfeitorias necessárias;
não lhe assiste o direito de retenção pela importância destas, nem o de levantar as
voluptuárias.
Art. 1.221. As benfeitorias compensam-se com os danos, e só obrigam ao ressarcimento se
ao tempo de a evicção ainda existirem.
Art. 1.222. O reivindicante, obrigado a indenizar as benfeitorias ao possuidor de má-fé, tem
o direito de optar entre o seu valor atual e o seu custo; ao possuidor de boa-fé indenizará
pelo valor atual.”
* tema repetitivo 996, STJ, tese 1.2: “No caso de descumprimento do prazo para a entrega
do imóvel, incluído o período de tolerância, o prejuízo do comprador é presumido,
consistente na injusta privação do uso do bem, a ensejar o pagamento de indenização, na
forma de aluguel mensal, com base no valor locatício de imóvel assemelhado, com termo
final na data da disponibilização da posse direta ao adquirente da unidade autônoma.”

. Obrigação de dar coisa incerta:


- inicialmente é indeterminável, mas deve ser determinável (vide art. 104)
- o gênero e quantidade são determinados (art. 243)
- Art. 244: “[...] a escolha [ou concentração] pertence ao devedor, se o contrário não resultar
do título da obrigação; mas não poderá dar a coisa pior, nem será obrigado a prestar a
melhor.”
- Art. 246: “Antes da escolha, não poderá o devedor alegar perda ou deterioração da coisa,
ainda que por força maior ou caso fortuito.”

. Obrigação de fazer:
- inadimplemento se fungível:
. por culpa:
- 1: pode-se exigir o cumprimento forçado através de tutela específica (condenação do
devedor ao cumprimento de uma obrigação; art. 497 CPC) + multa cominatória (medida
coercitiva que tem por objetivo constranger o devedor ao cumprimento da obrigação
imposta). ou ainda obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente.
- 2: cumprimento por terceiros. Art. 249: “Se o fato puder ser executado por terceiro, será
livre ao credor mandá-lo executar à custa do devedor, havendo recusa ou mora deste, sem
prejuízo da indenização cabível.”
- 3: perdas e danos. Se a prestação se tornar impossível por culpa do devedor, responderá
por perdas e danos.
Art. 499 e 500, CPC: “A obrigação somente será convertida em perdas e danos se o autor o
requerer ou se impossível a tutela específica ou a obtenção de tutela pelo resultado prático
equivalente; A indenização por perdas e danos dar-se-á sem prejuízo da multa fixada
periodicamente para compelir o réu ao cumprimento específico da obrigação.”
. sem culpa:
- se resolve.
- inadimplemento se infungível (obrigação personalíssima ou intuitu personae):
. por culpa: exige-se o cumprimento forçado ou perdas e danos. sem culpa: resolve-se o
contrato.
. Obrigação simples, complexa e alternativa
- simples: 1 credor e 1 devedor.
- complexo: existe pluralidade subjetiva (credores e/ou devedores) e/ou objetiva (mais de
uma prestação)

. Obrigação alternativa
É quando se pode escolher dois objetos diferentes na prestação. Se não firmado o contrário,
a escolha cabe ao devedor.
Art. 252: “[...] § 1º Não pode o devedor obrigar o credor a receber parte em uma prestação
e parte em outra. § 2º Quando a obrigação for de prestações periódicas, a faculdade de opção
poderá ser exercida em cada período. § 3º No caso de pluralidade de optantes, não havendo
acordo unânime entre eles, decidirá o juiz, findo o prazo por este assinado para a deliberação.
§ 4º Se o título deferir a opção a terceiro, e este não quiser, ou não puder exercê-la, caberá
ao juiz a escolha se não houver acordo entre as partes.”
“Art. 253. Se uma das duas prestações não puder ser objeto de obrigação ou se tornada
inexequível, subsistirá o débito quanto à outra.
Art. 254. Se, por culpa do devedor, não se puder cumprir nenhuma das prestações, não
competindo ao credor a escolha, ficará aquele obrigado a pagar o valor da que por último se
impossibilitou, mais as perdas e danos que o caso determinar.
Art. 255. Quando a escolha couber ao credor e uma das prestações tornar-se impossível por
culpa do devedor, o credor terá direito de exigir a prestação subsistente ou o valor da outra,
com perdas e danos; se, por culpa do devedor, ambas as prestações se tornarem
inexequíveis, poderá o credor reclamar o valor de qualquer das duas, além da indenização
por perdas e danos.
Art. 256. Se todas as prestações se tornarem impossíveis sem culpa do devedor, extinguir-
se-á a obrigação.”

. Obrigação solidária
- ocorre quando na mesma obrigação, há mais de 1 credor (solidariedade ativa) e/ou
devedor (solidariedade passiva), todos tendo direito ou sendo obrigados à dívida toda,
mesmo que tenha sido convertida em perdas e danos.
- não pode ser presumida: deve decorrer da vontade ou lei.
- avalistas e fiadores não se enquadram na obrigação solidária.
- qualquer credor pode exigir a dívida por inteiro de qualquer devedor, mas o devedor que
pagar por inteiro tem direito a exigir dos outros suas partes (mediante ação de regresso).
- Art. 266: “A obrigação solidária pode ser pura e simples para um dos cocredores ou
codevedores, e condicional, ou a prazo [termo], ou pagável em lugar diferente, para o outro.”
- Art. 270: “Se um dos credores solidários falecer deixando herdeiros, cada um destes só terá
direito a exigir e receber a quota do crédito que corresponder ao seu quinhão hereditário,
salvo se a obrigação for indivisível.” [e quanto ao devedor herdeiro, apenas deve pagar sua
quota, através da herança; todos os herdeiros devedores são como um único devedor]
- Art. 272: “O credor que tiver remitido a dívida ou recebido o pagamento responderá aos
outros pela parte que lhes caiba.”
- Art. 273: “A um dos credores solidários não pode o devedor opor as exceções pessoais
oponíveis aos outros.” [vide art. 201]

- Art. 274: “O julgamento contrário a um dos credores solidários não atinge os demais, mas
o julgamento favorável aproveita-lhes, sem prejuízo de exceção pessoal que o devedor tenha
direito de invocar em relação a qualquer deles.” [vide art. 201: “Suspensa a prescrição em
favor de um dos credores solidários, só aproveitam os outros se a obrigação for indivisível.”]
. sobre exceção pessoal, art. 281: “O devedor demandado pode opor ao credor as exceções
que lhe forem pessoais e as comuns a todos; não lhe aproveitando as exceções pessoais a
outro codevedor.”
- Remissão de devedor: Uma das partes pode receber remissão [perdão de dívida] do credor
(remissão parcial), mas sua solidariedade não é extinta. Por ex., se após o credor perdoar a
dívida de 1 de 3 devedores, e cobrar o total original da dívida dos outros 2, a solidariedade
dos 3 originais permanece, devendo aquele que recebeu o perdão da dívida colaborar ou
indenizar os outros. Porém, se os codevedores forem cobrados apenas pelo restante, não
podem tentar atingir o perdoado. Também pode haver remissão total (perdão da dívida).
- Renúncia de solidariedade: O credor pode renunciar a solidariedade de um ou mais
devedores (renúncia parcial), ficando estes apenas responsáveis por sua parte, e os outros
ainda solidários entre si pelo restante. Também pode renunciar de toda a solidariedade
(renúncia total).
- Agravo da dívida por culpa do devedor: Se a prestação se torna impossível por culpa de um
devedor, todos tem que pagar o equivalente, mas apenas o culpado pelas perdas e danos;
Todos respondem pelos juros da mora, ainda que a ação tenha sido proposta somente contra
um; mas o culpado responde aos outros pela obrigação acrescida.
- Insolvência de um devedor: Caso um devedor fique insolvente, os outros respondem por
ele, dividindo entre si sua parte. Nesse caso, mesmo os exonerados/perdoados pelo credor
devem contribuir.
- Art. 285: “Se a dívida solidária interessar exclusivamente a um dos devedores, responderá
este por toda ela para com aquele que pagar.” Ou seja, se apenas um aproveitar da dívida,
este responderá por ela sozinho. Caso outro devedor solidário pague, tem ele o direito de
exigir ressarcimento. [muita gente dá como exemplo disso a relação de fiança, mas fiança n
é relação solidária, e sim subsidiária, pois é um contrato acessório]

. Adimplemento:
. Quem deve pagar:
- normalmente, o devedor realiza o pagamento. um 3º também pode pagar (desde que não
seja uma obrigação que apenas o devedor pode prestar (intuitu personae debitoris; obrigação
infungível).
- 3º interessado: pode realizar a quitação, independentemente de o credor aceitar ou
recusar. Nesse caso, há sub-rogação entre o credor e o 3º (ou seja, o 3º passa a ser o credor,
com todas as qualidades e vantagens em relação à dívida, contra o devedor principal e os
fiadores).
. caso o credor se recuse a aceitar o pagamento do devedor ou 3º interessado, eles podem
realizar pagamento em consignação (basicamente, é o pagamento “forçado”, indireto; arts.
334-345), que pode ser em consignação judicial (ação contra o credor para pagar) ou em
consignação extrajudicial (simples depósito bancário).
- 3º não interessado: pode querer pagar dívida, em seu nome e em nome do devedor, mas
apenas com sua permissão. Caso permitido e em nome do devedor, o credor não pode
recusar o pagamento, e há sub-rogação. Caso pague em seu próprio nome, tem o direito de
receber de volta do devedor, mas não há sub-rogação nos direitos do credor.
. Art. 306: “O pagamento feito por terceiro, com desconhecimento ou oposição do devedor,
não obriga a reembolsar aquele que pagou, se o devedor tinha meios para ilidir [refutar] a
ação.” Por exemplo, caso o devedor possuísse exceção pessoal (como uma dívida que o
credor possuía com ele) ou extintiva da obrigação (como prescrição), ele não precisa
reembolsar 3º que pagou sem seu consentimento, pois assim apenas teria desvantagem.
Aliás, normalmente é por esse tipo de exceção que o devedor pode negar pagamento por 3º.
* em qualquer caso de cobrança, apenas se pode cobrar após seu vencimento.

. Para quem se deve pagar:


- ao credor ou seu representante. Caso contrário, apenas valerá o pagamento feito a 3º caso
o credor ratifique o ato, ou que se comprove o aproveitamento do pagamento pelo credor.
- Art. 309/310/311: “O pagamento feito de boa-fé ao credor putativo [que parece ser o
verdadeiro credor] é válido, ainda provado depois que não era credor; Não vale o pagamento
cientemente feito ao credor incapaz de quitar, se o devedor não provar que em benefício
dele efetivamente reverteu; Considera-se autorizado a receber o pagamento o portador da
quitação, salvo se as circunstâncias contrariarem a presunção daí resultante.”
- Se o devedor pagar ao credor, apesar de intimado da penhora feita sobre o crédito ou da
impugnação a ele oposta, por terceiros (ou seja, quando um 3º que possui direito a crédito
com esse credor cobra direto desse devedor, de maneira judicial), o pagamento não vai valer
para esses terceiros, que poderão fazer o devedor a pagar de novo. Porém, o devedor pode
fazer ação de regresso contra o credor original, para evitar o enriquecimento sem causa. Vide
art. 855, CPC.

. Do objeto e da prova:
- o credor não precisa receber prestação diversa, mesmo que mais valiosa, e não é obrigado
a receber (nem o devedor a em partes ou em prestações, a menos que assim convencionado.
. dação em pagamento (art. 356-359): é o pagamento diferente do combinado no
contrato. Essa prestação diversa é feita somente com a vontade das partes e tem como efeito
o término da obrigação.
- dívidas em dinheiro só pode ser cobrada após o vencimento, em moeda corrente e pelo
valor nominal (vide art. 318)
- quem pagar tem direito a recibo de quitação, podendo não pagar enquanto não lhe ser
dado. Art. 320: fala sobre o comprovante de quitação, que de preferência, deve conter o
valor e a espécie da dívida quitada, nome do devedor (ou quem por este pagou), tempo e o
lugar do pagamento, e a assinatura do credor ou do seu representante.
- Art. 317: “Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta entre o
valor da prestação devida e o do momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido
da parte, de modo que assegure, quanto possível, o valor real da prestação.”
- nos débitos cuja quitação consista na devolução de título, caso o devedor perca este,
simplesmente pagará seu valor, mas poderá exigir declaração do credor que inutilize o título
desaparecido (art. 321).
- o pagamento da última prestação faz presumir que todas as parcelas anteriores foram
pagas, até prova contrária.
- o pagamento da divida principal faz presumir que os juros e encargos (que são acessórios
do principal) também foram quitados, exceto se o recibo da quitação especificou o contrário.
essa presunção admite prova em contrário (juris tantum, presunção relativa; seu contrário é
o juris et de jure, presunção absoluta, que não admite prova contrária).
- o título de quitação em posse do devedor firma a presunção relativa do pagamento. Caso
o credor alegue que não foi realizado o pagamento, mas o devedor possuir o título, terá o
credor 60 dias para provar que não foi pago.
- Art.325: “Presumem-se a cargo do devedor as despesas com o pagamento e a quitação; se
ocorrer aumento por fato do credor, suportará este a despesa acrescida.”

. Do lugar:
- normalmente, se efetua o pagamento no domicílio do devedor (dívida quesível/ quérable;
SEU MADRUGA, COBRE O ALUGUEL!!!). Caso haja 2 ou mais lugares para o pagamento, o
credor escolhe onde realizar.
. dívida quesível/quérable: o credor procura o devedor para pagar.
. dívida portável/portable: o devedor procura o credor para pagar.
- se o pagamento consistir na tradição de um imóvel, ou em prestações relativas a imóvel,
far-se-á no lugar onde situado o bem.
- Art. 329: “Ocorrendo motivo grave para que se não efetue o pagamento no lugar
determinado, poderá o devedor fazê-lo em outro, sem prejuízo para o credor.”
- Art. 330: “O pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renúncia do
credor relativamente ao previsto no contrato.” Aqui, ocorre o instituto do supressio, que
significa a supressão de um direito (no caso, a renúncia do local de pagamento original), e o
surrectio, que é o nascimento de um novo direito (no caso, o de pagamento em outro local).
Um supressio sempre vem acompanhado de um surrectio, e eles provem de um costume ao
longo do tempo.

. Do tempo:
- a dívida é exigível de imediato e à vista, a menos que convencionado o contrário.
- Art. 332: “As obrigações condicionais cumprem-se na data do implemento (realização) da
condição, cabendo ao credor a prova de que deste teve ciência o devedor.”
- Art. 333: O credor pode cobrar dívida antes do vencimento ou antes do previsto em lei
caso:
I - haja falência do devedor, ou de concurso de credores;
II - se os bens, hipotecados ou empenhados, forem penhorados em execução por outro
credor;
III - se cessarem, ou se se tornarem insuficientes, as garantias do débito, fidejussórias, ou
reais, e o devedor, intimado, se negar a reforçá-las.
* em resumo, são fatos que geram insegurança no credor, que tem suas garantias de
receber a prestação reduzidas.
Parágrafo único. Nos casos deste artigo, se houver, no débito, solidariedade passiva, não se
reputará vencido quanto aos outros devedores solventes.

. Regras especiais de pagamento – atos unilaterais:


. Imputação de pagamento (arts. 352-355): Ocorre quando o devedor possui dois ou mais
débitos da mesma natureza a um só credor. O devedor tem o direito de indicar a qual deles
oferece pagamento, se todos forem líquidos e vencidos. Caso tenha diversas e haja omissão
do devedor, o credor escolhe.
- se o devedor não fizer a indicação e a quitação for omissa, esta se fará nas dívidas líquidas
e vencidas em primeiro lugar. Se as dívidas forem todas líquidas e vencidas ao mesmo tempo,
a imputação far-se-á na mais onerosa.
- Art. 354: “Havendo capital (dívida) e juros, o pagamento imputar-se-á primeiro nos juros
vencidos, e depois no capital, salvo estipulação em contrário, ou se o credor passar a quitação
por conta do capital.”

. Pagamento em consignação (arts. 334-345): Ocorre quando o devedor realiza pagamento


forçado da prestação, judicialmente ou em estabelecimento bancário (extrajudicialmente),
extinguindo a obrigação. Pode ocorrer nas seguintes hipóteses:
I - se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou dar quitação
na devida forma;
II - se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condição devidos;
III - se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado ausente, ou residir em
lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil;
IV - se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do pagamento;
V - se pender litígio sobre o objeto do pagamento.
- Sobre retirar o dinheiro depositado: Enquanto o credor não declarar que aceita o depósito
ou não o impugnar, poderá o devedor requerer o levantamento, pagando as respectivas
despesas, e subsistindo a obrigação para todas as consequências de direito. Julgado
procedente o depósito, o devedor apenas pode levanta-lo mediante aceitação dos outros
devedores e fiadores. Caso o credor consinta no levantamento após contestar a lide ou
aceitar o depósito, o credor perderá a preferência e a garantia que lhe competiam com
respeito à coisa consignada, ficando desobrigados os co-devedores e fiadores que não
tenham anuído.
- Citando o credor antes do depósito: Se a coisa devida for imóvel ou corpo certo que deve
ser entregue onde está, poderá o devedor citar o credor para vir ou mandar recebê-la, sob
pena de ser depositada. Se a escolha da coisa indeterminada competir ao credor, será ele
citado para esse fim, sob cominação de perder o direito e de ser depositada a coisa que o
devedor escolher.
- Quanto as despesas: As despesas com o depósito julgado procedente correrão à conta do
credor, e, no caso contrário, do devedor.
- Caso em que o credor pode pedir a consignação: Se a dívida vencer, pendendo litígio entre
credores, poderá qualquer deles requerer a consignação.

. Sub-rogação (arts. 346-351): Ocorre a substituição na obrigação de um credor por outro


(sub-rogação pessoal/subjetiva), que passa a ter todos os direitos, ações, privilégios e
garantias do primitivo, em relação à dívida, contra o devedor principal e os fiadores.
Também há a sub-rogação real, que ocorre quando uma coisa se sub-roga em outra,
tomando-lhe o lugar (mas essa sub-rogação não tem relação com extinção de obrigações).

- sub-rogação legal (art. 346): decorre da lei (de pleno direito), em favor do:
I - do credor que paga a dívida do devedor comum;
II - do adquirente do imóvel hipotecado que paga a credor hipotecário, bem como do
terceiro que efetiva o pagamento para não ser privado de direito sobre imóvel;
III - do terceiro interessado, que paga a dívida pela qual era ou podia ser obrigado, no todo
ou em parte.
Ou seja, em geral, ocorre quando um interessado paga dívida de outrem, tomando lugar do
credor. Além disso, o sub-rogado apenas poderá exercer os direitos e as ações do credor até
à soma que tiver desembolsado para desobrigar o devedor, pois ter quitado a dívida inteira
ou parcialmente.
. Art. 351: “O credor originário, só em parte reembolsado, terá preferência ao sub-rogado,
na cobrança da dívida restante, se os bens do devedor não chegarem para saldar
inteiramente o que a um e outro dever.”
- sub-rogação convencional (art. 347): não decorre obrigatoriamente da lei, mas sim da
vontade dos interessados. São esses casos:
I - quando o credor recebe o pagamento de terceiro [não interessado] e expressamente lhe
transfere todos os seus direitos;
II - quando terceira pessoa empresta ao devedor a quantia precisa para solver a dívida, sob
a condição expressa de ficar o mutuante sub-rogado nos direitos do credor satisfeito.
* Sub-rogação vs. cessão de crédito: Depende de pagamento? Sub-rogação sim, cessão de
crédito não. Visa lucro? Sub-rogação não (é gratuita), cessão de crédito sim (pode ser paga).
Depende da notificação do devedor? Sub-rogação não, cessão de crédito sim.
. Regras especiais de pagamento – pagamento indireto:
. Dação em pagamento (arts. 356-359): É o pagamento pelo devedor de prestação diferente
do originalmente combinado. Pode ocorrer apenas mediante a vontade das partes, e muda
apenas o objeto [mediato], não a obrigação em si [objeto imediato].
- Art. 358: “Se for título de crédito a coisa dada em pagamento, a transferência importará
em cessão de crédito.”
Art. 359: “Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento, restabelecer-se-á a
obrigação primitiva, ficando sem efeito a quitação dada, ressalvados os direitos de terceiros.”

. Novação (arts. 360-367): É a substituição uma obrigação por uma nova, extinguindo os
acessórios e garantias da dívida (a menos que estipulado o contrário), extinguindo-se a
obrigação original. Ocorre nos seguintes casos:
I - quando o devedor contrai com o credor nova dívida para extinguir e substituir a anterior
(objetiva);
II - quando novo devedor sucede ao antigo, ficando este quite com o credor (subjetiva
passiva);
III - quando, em virtude de obrigação nova, outro credor é substituído ao antigo, ficando o
devedor quite com este (subjetiva ativa).
- Quanto a subjetiva passiva: A novação por substituição do devedor pode ser efetuada
independentemente de consentimento deste. E, se o novo devedor for insolvente, não tem
o credor, que o aceitou, ação regressiva contra o anterior, salvo se a substituição foi obtida
de má-fé por este.
- A novação extingue os acessórios e garantias da dívida (se não houve estipulação em
contrário; contudo, credor não pode estipular manter garantia de penhor, hipoteca ou
anticrese, se os bens pertencerem a 3º que não foi parte na novação).
- Art. 361: “Não havendo ânimo de novar, expresso ou tácito (mas inequívoco), a segunda
obrigação confirma simplesmente a primeira.” [ou seja, não há novação de fato]
- A novação exonera os devedores solidários que não participaram da novação, assim como
exonera o fiador que não consentiu com o devedor principal
- Não podem ser objeto de novação obrigações nulas ou extintas. [quem diria kkkkk]

. Regras especiais de pagamento – outros:


. Compensação (arts. 368-380): É a extinção de duas ou mais obrigações compensação
quando duas pessoas são ao mesmo tempo credor e devedor uma da outra, até onde as
obrigações se compensarem.
- Requisitos das dívidas: A compensação efetua-se entre dívidas líquidas, vencidas e de coisas
fungíveis. Embora sejam do mesmo gênero as coisas fungíveis, objeto das duas prestações,
não se compensarão, verificando-se que diferem na qualidade, quando especificada no
contrato.
- O fiador pode compensar sua dívida com a de seu credor ao afiançado.
- Dívidas que não podem ser compensadas:
I - provindas de esbulho, furto ou roubo;
II - originadas de comodato, depósito ou alimentos;
III - de coisa não suscetível de penhora (art. 833, CPC).
- Renúncia de compensação: Não haverá compensação quando as partes, por mútuo acordo,
a excluírem, ou no caso de renúncia prévia de uma delas.
- Terceiro representante: Obrigando-se por terceiro uma pessoa, não pode compensar essa
dívida com a que o credor dele lhe dever (ou seja, não é possível compensar crédito com
dívida do representado).

. Confusão (arts. 381-384): É a confusão das qualidades de credor e devedor na mesma


pessoa, extinguindo-se a obrigação (total ou parcialmente). [ex.: uma empresa devedora é
incorporada pela credora]
- Confusão em obrigação solidária: A confusão operada na pessoa do credor ou devedor
solidário só extingue a obrigação até a concorrência da respectiva parte no crédito ou dívida,
subsistindo quanto ao mais a solidariedade.
. Remissão de dívidas (arts. 385-388): É o perdão gratuito da dívida pelo credor.
- O devedor pode negar a remissão, caso tenha interesse jurídico para tal.
- Não confundir remissão (perdão) com remição (pagar).

. Transmissão das obrigações:


. Cessão de crédito (arts. 286-298): É a transferência de direitos creditórios do credor
(cedente) a um terceiro (cessionário), total ou parcialmente, com todos os acessórios (salvo
disposição em contrário), visando normalmente o lucro. Não é necessário consentimento do
devedor, apenas sua notificação.
- Não pode haver cessão caso se oponha a natureza da obrigação (como dívida alimentícia),
a lei, ou a convenção com o devedor (cláusula proibitiva que não conste no instrumento da
obrigação não poderá ser oposta ao cessionário de boa-fé).
- Quanto a eficácia: É ineficaz em relação a 3ºs a transmissão de um crédito, se não for
celebrado em instrumento público ou particular. Também é ineficaz em relação ao devedor
quando não for notificado (por notificado, tem-se o devedor que se declarou ciente da
cessão, por instrumento público ou privado).
* lembrando que o momento para apresentar exceção contra o cedente é ao ser notificado
da cessão. Mesmo assim, ainda pode apresentar exceções suas contra o cessionário.
- Cessão em crédito hipotecado: O cessionário de crédito hipotecário tem o direito de fazer
averbar a cessão no registro do imóvel.
- Transmissões sucessivas: Ocorrendo várias cessões do mesmo crédito, prevalece a que se
completar com a tradição do título do crédito cedido.
- Quanto a solvência do devedor: Salvo estipulação em contrário, o cedente não responde
pela solvência do devedor (cessão pro soluto). Caso seja responsável ao cessionário pela
solvência do devedor (cessão pro solvendo), não responde por mais do que daquele recebeu,
com os respectivos juros, mais as despesas da cessão e as que o cessionário houver feito com
a cobrança.
- Cessão de crédito penhorado: O crédito penhorado não pode ser transferido pelo credor
que tiver conhecimento da penhora. Mas o devedor que o pagar, não tendo notificação da
penhora, fica exonerado, subsistindo contra o credor os direitos de 3º.

. Cessão de débito (ou assunção de dívida; arts. 299-303): É quando um 3º assume a


obrigação do devedor, com o consentimento expresso do credor (o silêncio é considerado
como recusa), ficando exonerado o devedor primitivo (salvo se o 3º, ao tempo da assunção,
era insolvente e o credor não sabia).
- Por expromissão liberatória: ocorre a integral substituição do devedor originário pelo 3º,
ficando aquele desobrigado.
- Por expromissão cumulativa: ocorre quando o 3º situa-se ao lado do devedor primitivo,
constituindo, dessa forma, uma solidariedade.
- Por delegação: é feita entre devedor e terceiro com o consentimento do credor.
- Garantias: Ocorrendo a assunção, ficam extintas as garantias dadas pelo devedor original,
exceto com seu assentimento expresso.
- Consequências da anulação: Se a substituição do devedor for anulada, restaura-se o
débito, com todas as suas garantias, salvo as prestadas por 3ºs, exceto se este conhecia o
vício que inquinava a obrigação.
- Assunção em imóvel hipotecado: O adquirente de imóvel hipotecado pode tomar a seu
cargo o pagamento do crédito garantido. Se o credor, notificado, não impugnar em 30 dias a
transferência do débito, entender-se-á dado o assentimento. [é o único caso onde pode
haver assunção sem o consentimento do credor]

. Inadimplemento:
- total/absoluto: a obrigação não foi cumprida nos termos corretos, e nem mais poderá ser
cumprida de maneira útil ao credor, respondendo por perdas e danos, mais juros e
atualização monetária segundo índices oficiais e honorários advocatícios.
- relativa/parcial (mora): é o cumprimento imperfeito, mas ainda útil ao credor; ocorre
quando o devedor não efetuar o pagamento e o credor que não quiser recebê-lo no tempo,
lugar e forma que a lei ou a convenção estabelecer.
- pode ser uma violação negativa (descumprimento do contrato) ou uma violação positiva
(o cumprimento imperfeito do contrato, seja pelo cumprimento inexato ou de deveres
anexos, provindos da boa-fé; art. 422).
* pode decorrer de responsabilidade civil contratual ou delitual/extracontratual (ato
ilícito; infração ao dever legal; arts. 186/927). Como diferença, na 2ª, o ônus da prova cabe
ao credor, enquanto na contratual, ao devedor.
- em contratos benéficos: responde por simples culpa a quem o contrato aproveite, e por
dolo aquele a quem não favoreça.
- caso fortuito ou força maior: apenas responde se expressamente houver por eles
responsabilizado.
. Mora: É uma espécie de inadimplemento (relativo), onde o devedor não efetua o
pagamento ou credor não quer recebê-lo no tempo, lugar e forma estabelecidos,
respondendo por perdas e danos, juros, atualização monetária e honorários advocatícios.
- do momento: A mora de obrigação positiva e líquida, no seu termo, constitui de pleno
direito em mora o devedor (mora ex re, que independe de ação do credor). Não havendo
termo, a mora se constitui mediante interpelação judicial ou extrajudicial (mora ex persona,
que depende da providência do credor); Nas obrigações provenientes de ato ilícito,
considera-se o devedor em mora desde que o praticou.
* Sumula 76, STJ: “A falta de registro do compromisso de compra e venda de imóvel não
dispensa a prévia interpelação [notificação premonitória] para constituir em mora o
devedor.”
- impossibilidade da prestação por caso fortuito: responde apenas se estes ocorrerem
durante a mora; salvo se provar isenção de culpa ou que o dano sobreviria ainda que a
obrigação fosse oportunamente desempenhada.
- da culpa: Não havendo fato ou omissão imputável, não incorre em mora. Enunciado 354,
IV JDC: “A cobrança de encargos e parcelas indevidas ou abusivas impede a caracterização da
mora do devedor.” Súmula 380, STJ: “A simples propositura da ação de revisão de contrato
não inibe a caracterização da mora do autor.”
- mora do credor: subtrai o devedor isento de dolo à responsabilidade pela conservação da
coisa, obriga o credor a ressarcir as despesas empregadas em conservá-la, e sujeita-o a
recebê-la pela estimação mais favorável ao devedor, se o seu valor oscilar entre o dia
estabelecido para o pagamento e o da sua efetivação.
- mora simultânea: isenta a mora de ambos.
- purgação da mora: ocorre quando o devedor oferecer a prestação + prejuízos, e quando o
credor receber a prestação, + as consequências da mora (apenas se ainda houver utilidade
para ambos). É diferente da cassação de mora, que ocorre com a extinção da obrigação.

. Juros: É o rendimento do capital; bem acessório.


- podem ser convencionais/contratuais (negociados) ou legais (decorrem da lei).
- remuneratórios/compensatórios: tem o objetivo de remunerar o empréstimo de capital,
normalmente convencionais.
* privados: limite de 1% ao mês.
* bancários: sem limite estabelecido (vide súmula 596/STF e 297/STJ), podendo ser
declarados abusivos caso discrepe substancialmente da taxa média do mercado, salvo se
justificado pelo risco da operação (vide súmula 381/STJ).
- moratórios: têm caráter indenizatório, estipulados para sancionar eventual mora. Podem
ser contratuais ou legais.
Art. 406. Quando não forem convencionados/estipulados ou provirem de determinação da
lei, serão fixados segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos
devidos à Fazenda Nacional (que também é seu limite). [Art. 161, § 1º, CTN: “Se a lei não
dispuser de modo diverso, os juros de mora são calculados à taxa de 1% ao mês.” (inclusive
em contratos bancários, vide súmula 379, STJ]
. obrigatoriedade: Art. 407: “Ainda que se não alegue prejuízo, é obrigado o devedor aos
juros da mora [...]”; Súmula 254, STF: “Incluem-se os juros moratórios na liquidação, embora
omisso o pedido inicial ou a condenação.”
. Art. 404, p.u.: “Provado que os juros da mora não cobrem o prejuízo, e não havendo pena
convencional, pode o juiz conceder ao credor indenização suplementar.”
- da data: Contam-se os juros de mora desde a citação inicial (responsabilidade contratual)
ou desde a data do fato danoso (extracontratual; súmula 54, STJ).
- Art. 591. Destinando-se o mútuo a fins econômicos, presumem-se devidos juros, os quais,
sob pena de redução, não poderão exceder a taxa a que se refere o art. 406, permitida a
capitalização anual. Súmula 382, STJ: “A estipulação de juros remuneratórios superiores a
12% ao ano, por si só, não indica abusividade” Vide lei 4.595/64.
- correção monetária é obrigatória (visa evitar prejuízo/enriquecimento sem causa do réu),
já os juros, não.

. Clausula penal: Também chamada de pena convencional ou multa contratual, é obrigação


acessória que busca evitar a inexecução de uma obrigação principal, consistindo em uma
pena ou multa ao devedor quando ocorrer inadimplemento, total ou parcial, culposo,
normalmente em dinheiro.
- caráter compensatório: é uma fixação antecipada de perdas e danos.
- função: de coerção e de ressarcimento (estimação).
- criação: pode ser estipulada com a obrigação ou em ato posterior
- ocorrência: pode referir-se à inexecução completa da obrigação, à de alguma cláusula
especial ou simplesmente à mora.
- multa moratória: ocorre no inadimplemento parcial (mora); pune-se o atraso, ainda
podendo exigir a obrigação (principal + multa) e cumulando com indenização por lucros
cessantes. O limite é de 10% da obrigação principal (via doutrina), sob pena de alteração pelo
juiz em caso de abusividade ou de cumprimento parcial da obrigação (art. 413).
- multa compensatória: ocorrem no inadimplemento total; é meramente compensatória,
não se podendo exigir perdas e danos (deve-se se exigir ou a obrigação principal ou a multa
firmada). O limite é de 100% do valor da obrigação principal (art. 412).
- caso de solidariedade (art. 414/415): caso a obrigação seja indivisível, a multa vale a todos,
mas esta só se poderá demandar integralmente do culpado, respondendo cada um dos
outros somente pela sua quota, cabendo após ação de regresso dos outros contra o culpado.
Caso seja divisível, só incorre na pena o devedor que a infringir.
- necessidade de prova: não é necessário alegar/provar o prejuízo para exigir a multa, e
ainda que o prejuízo exceda ao previsto na cláusula penal, não pode exigir indenização
suplementar, exceto se convencionado. Se o tiver sido, a pena vale como mínimo da
indenização, competindo ao credor provar o prejuízo excedente.

. Arras/Sinal: É pacto acessório, consistindo na entrega de quantia ou coisa por um dos


contratantes ao outro, para confirmar o contrato principal. São abatidas do valor da
prestação principal, ou devem ser restituídas ao fim da obrigação. Podem ser:
- confirmatórias: Provam a existência do contrato e reforçam a obrigação do seu
cumprimento, confirmando a intenção das partes a cumprir o acordado. Sua inexecução
resulta em:
. por parte de quem deu as arras: a outra parte pode desfazer o contrato e reter as arras.
. por parte de quem recebeu as arras: poderá quem as deu desfazer o contrato, e exigir a
devolução das arras + o equivalente, com atualização monetária, juros e honorários de
advogado.
. Se provar maior prejuízo, a parte inocente pode, ao invés de se contentar com o sinal,
pedir indenização suplementar, valendo as arras como taxa mínima; pode também exigir a
execução do contrato, com as perdas e danos, valendo as arras como o mínimo da
indenização.
- penitenciais: Se no contrato for estipulado o direito de arrependimento para qualquer das
partes, as arras terão função unicamente indenizatória. Neste caso, quem as deu perdê-las-
á em benefício da outra parte; e quem as recebeu devolvê-las-á, mais o equivalente, não
havendo em ambos os casos direito a indenização suplementar.
. Súmula 412, STF: “No compromisso de compra e venda com cláusula de arrependimento,
a devolução do sinal, por quem o deu, ou a sua restituição em dobro, por quem o recebeu,
exclui indenização maior, a título de perdas e danos, salvo os juros moratórios e os encargos
do processo.”
* não há restituição em dobro, mas sim pura e simples, em caso de convenção,
culpa/arrependimento de ambos os contratantes, ou em caso de inadimplemento por razão
alheia à vontade dos contratantes (ex.: caso fortuito).
DIREITO CIVIL: TEORIA GERAL DOS
CONTRATOS
PROFESSOR: ENDERSON DANILO SANTOS DE VASCONCELOS

Introdução

. Conceitos:
É negócio jurídico bilateral ou plurilateral que visa a criação, modificação ou extinção de
deveres patrimoniais (em regra).
* patrimonialidade (regra) x existencialismo (ex.: casamento)
. Conceito pós-moderno:
- solidariedade social (função social).
* Art. 421: “A liberdade contratual será exercida nos limites da função social do contrato.”
- eficácia externa.
* terceiro cúmplice (responsabilidade extracontratual ou aquiliana): ao descumprir um
dever legal, ético e moral, violando direito de terceiro e lhe causando danos, comete ato
ilícito (art. 186).

. Classificação:
- quanto a prestação/efeitos: unilateral, bilateral (sinalagma) ou plurilateral (ex.: consórcio,
plano de saúde).
* bilateral imperfeito: um contrato unilateral passa a prever obrigação a outra parte;
acidentalmente se torna bilateral, mas aplica-se o regime dos bilaterais.
- oneroso ou gratuito/benéfico.
- consensual (convencionado anteriormente; existe independentemente de entrega da
prestação) ou real (apenas existe na sua efetivação, embora possa haver prévia promessa de
contratar).
- típico/nominado ou atípico/inominado
* contrato misto (típico + atípico) e atípico misto (típico + típico).
- paritários (as partes que discutem as condições dos contratos) ou de adesão (imposição do
conteúdo previamente estabelecido de apenas uma das partes.
* contrato-tipo (ou contrato de massa): subtipo do de adesão, onde a parte aderente ao
contrato prévio pode subscreve-lo.
- formal (escrito) ou informal (não escrito).
- solene (forma prevista em lei, sob pena de nulidade; ex.: escritura pública) ou não solene
(forma livre, exceto o vedado em lei).
* solenidade é essencial à validade dos negócios jurídicos que visem à constituição,
transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a
30x o maior salário mínimo vigente.
- individuais (vontades individualmente consideradas) ou coletivos (envolvem pessoas
jurídicas privadas representantes de interesses de categorias profissionais).
- principal ou acessório (existência depende de outro).
* contratos acessórios podem ser preparatórios (mandato), integrativos (aceitação do
terceiro beneficiário na estipulação em seu favor) e complementares (adesão a um contrato
aberto). [Orlando Gomes]
* contrato derivado (ou subcontrato): tem por objeto direitos estabelecidos em outro
contrato (ex.: sublocação). Diferem dos acessórios por ter natureza autônoma.
* contratos coligados: dependência mútua entre si; interdependentes, ligados por clausula
acessória ou nexo funcional.
- pessoal (personalíssimo/intuito personae) ou impessoal.
- definitivo ou preliminar (tem por objeto a celebração de um contrato definitivo; proposta).
- de execução instantânea (se consumam num só ato, cumpridos imediatamente após a
celebração; nulidade ou resolução reconduz as partes ao estado anterior), de execução
diferida/retardada (devem ser cumpridos em um só ato futuro; a prestação de uma parte se
dá a termo) ou de execução continuada/ trato sucessivo (se cumprem por meio de atos
reiterado).
- cumulativo (prestações certas e determinadas) ou aleatório (indefinição/incerteza; álea).
* contrato aleatório por natureza (aleatório típico): a aleatoriedade é qualidade de sua
natureza (contratos de constituição de renda, jogo e aposta, e seguro).
* contrato aleatório pela vontade das partes (acidentalmente aleatório): a aleatoriedade é
resultado da criação da vontade das partes, que inserem o risco (em contratos
essencialmente comutativos) como meio para alcançar determinados objetivos.
* contrato emptio spei (compra e venda de esperança; art. 458): se vende a esperança do
proveito e não o resultado em si; embora o proveito não venha, o contratante continua
obrigado a pagar pelo contrato, pois o risco está na própria atividade, não havendo segurança
da realização do negócio.
* contrato emptio rei speratae (compra e venda da coisa esperada; art. 459): se vende
determinada coisa com a incerteza quanto à quantidade, dependendo de futura produção.
Se produzir mais do que o esperado ou menos, já há tem um preço fixo a pagar, independente
da variação (se a quantidade for zero, haverá restituição, pois há incerteza quanto à
quantidade e não à existência).
* contrato de risco (compra e venda de coisa exposta a risco; arts. 460/461): a coisa já
existe, mas encontra-se à mercê de risco (ou pode até já ter se consumado, desde que
desconhecido pelas partes). O alienante terá direito a todo o preço, ainda que deteriorada
no momento da venda.

. Dialogo das fontes: Ferramenta hermenêutica eficaz para dirimir os conflitos de normas; as
fontes não mais se excluem, mas se comunicam para melhor atender a unicidade do
ordenamento jurídico.
. Princípios:
- Autonomia privada.
* liberdade de contratar vs. liberdade contratual (forma).
- Função social dos contratos.
. preceito de ordem pública;
. eficácia interna;
• proteção dos vulneráveis; proteção a dignidade da pessoa humana; nulidade de
clausulas antissociais (abusivas);
• vedação a onerosidade excessiva: vedação ao desequilíbrio contratual, que pode levar
a anulação, revisão ou resolução;
• conservação dos contratos.
. eficácia externa.
* proteção de direitos difusos e coletivos;
* tutela externa de crédito/terceiro cumplice.
- Boa-fé objetiva:
. função de controle (art. 187): “Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao
exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela
boa-fé ou pelos bons costumes.” Há responsabilidade objetiva no abuso de direito;
supressio/surrectio, tu quoque, exceptio non adimpleti contractus, venire contra factum
proprium (fato próprio; legítima expectativa; comportamento contraditório; dano/potencial
de dano; nexo causal); duty to mitigate the loss.
. função de integração (art. 422): “Os contratantes são obrigados a guardar, assim na
conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.” Daí
decorrem os deveres anexos/laterais: cuidado, respeito, informação, lealdade, colaboração,
honestidade, razoabilidade (boa razão).
* violação positiva: quebra dos deveres anexos (adimplemento ruim).
* Incide em fase preliminar, de execução e posteriormente.
. função interpretativa (art. 113): “Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme
a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração.”
- Força obrigatória dos contratos: Pacta sunt servanda.
- Relatividade contratual: O contrato só faz efeitos intra partes. São exceções:
* estipulação em favor de terceiro (arts. 436 a 438): “O que estipula em favor de terceiro
pode exigir o cumprimento da obrigação. Parágrafo único. Ao terceiro, em favor de quem se
estipulou a obrigação, também é permitido exigi-la [...].”
* promessa de fato de terceiro (arts. 439 e 440): “Aquele que tiver prometido fato de
terceiro responderá por perdas e danos, quando este o não executar. [...]”
* convenção coletiva: permissão que os sindicatos e associações tem de negociar relações
de trabalho ou de consumo com patrões/fornecedores, obrigando todos os trabalhadores
filiados ao sindicato/consumidores filiados às entidades, e não apenas os diligentes
signatários da convenção, mas sim todos aqueles que indiretamente estão ligados à esta
relação; muito presentes no Direito do Trabalho e do Consumidor.
* obrigações reais.

. Revisão dos contratos:


. Observa-se sempre o princípio da conservação dos contratos.
. Revisão por fato superveniente:
- Revisão (art. 317): “Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção
manifesta entre o valor da prestação devida e o do momento de sua execução, poderá o juiz
corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto possível, o valor real da
prestação.”
- Extinção (art. 478): “Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de
uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em
virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a
resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação.”
. Requisitos:
- bilateralidade/sinalagma.
* exceção (art. 480): “Se no contrato as obrigações couberem a apenas uma das partes,
poderá ela pleitear que a sua prestação seja reduzida, ou alterado o modo de executá-la, a
fim de evitar a onerosidade excessiva.”
- oneroso (≠ gratuito).
- cumulativo (≠ aleatório).
- execução diferida/trato sucessivo.
- fato imprevisível (art. 317)/extraordinário (art. 478).
- onerosidade excessiva (quebra do sinalagma).
. Teoria da imprevisão: Descreve a ocorrência de fatos novos que não podiam ser previstos
pelas partes nem ser imputados a elas, que trazem reflexos para a execução do contrato.
. CDC:
- Art. 6º: “São direitos básicos do consumidor: [...] V - a modificação das cláusulas
contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos
supervenientes que as tornem excessivamente onerosas.”
* teoria da quebra da base objetiva: basta o rompimento da equivalência entre as
prestações ou a frustração da finalidade do contrato para admitir sua revisão, não sendo
necessário cogitar-se de imprevisibilidade do fato; revisão por simples onerosidade ou teoria
da equidade contratual. Tem origem inglesa e ampla aceitação alemã.
* Art. 47: “As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao
consumidor.”
* Art. 51: “São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao
fornecimento de produtos e serviços que: [...] IV - estabeleçam obrigações consideradas
iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam
incompatíveis com a boa-fé ou a equidade.”
Termos, expressões e outros:

- Abandono afetivo: Acontece quando pais negligenciam a relação com seus filhos, faltando
com afeto e deveres (ver arts. 227 CF e 4º ECA).
- Ação monitória: É um procedimento especial de cobrança, no qual um credor pode cobrar
a dívida sem ter que passar pelo trâmite de uma ação de execução judicial. É regido pelos
arts. 700 a 702 do CPC. Art. 700, CPC: “A ação monitória pode ser proposta por aquele que
afirmar, com base em prova escrita sem eficácia de título executivo, ter direito de exigir do
devedor capaz: [...]”
- Ação pauliana/revocatória: Consiste em uma medida jurídica movida por credores com a
intenção de anular determinado negócio jurídico realizado por devedores insolventes ou em
fraude em bens patrimoniais que seriam utilizados para pagamento de dívida numa ação de
execução.
- Ação renovatória: É a ação judicial proposta pelo inquilino contra seu locador para que um
contrato locação comercial seja renovado de modo forçado, mesmo contra a vontade do
locador, permitindo que o empresário (inquilino) permaneça conduzindo seu negócio
naquele ponto comercial. Está prevista na Lei 8.245/91.
- Afetação: É tornar bem do domínio privado do Estado em bem de domínio público. Tanto
a afetação como a desafetação podem ser expressas ou tácitas.
- Autarquia: Serviço autônomo, criado por lei, com personalidade jurídica, patrimônio e
receita próprios, para executar atividades típicas da Administração Pública, que requeiram,
para seu melhor funcionamento, gestão administrativa e financeira descentralizada.
- Avalista: Assume a obrigação de quitação em caso de não pagamento de empréstimo, mas
pode ser solicitado antes mesmo de cobrar o devedor original.
- Caso fortuito vs. força maior: O caso fortuito é algo imprevisível e inevitável, enquanto a
força maior é previsível e inevitável (ex.: enchente). O tema é bastante polêmico e a doutrina
possui diversos conceitos para cada um deles, e muitas vezes são consideradas expressões
sinônimas.
- Conhecimento e execução: Na fase/ação de conhecimento, o juiz recebe os elementos
jurídicos dos envolvidos na causa para reunir as informações necessárias para análise. A
fase/ação de execução é o cumprimento da decisão judicial.
- Contrato de mútuo: Art. 586: “O mútuo é o empréstimo de coisas fungíveis. O mutuário é
obrigado a restituir ao mutuante o que dele recebeu em coisa do mesmo gênero, qualidade
e quantidade.” Já o comodato (art. 579) é o empréstimo gratuito de coisas não fungíveis.
Perfaz-se com a tradição do objeto.
- Contrato de depósito: Art. 627: “Pelo contrato de depósito recebe o depositário um objeto
móvel, para guardar, até que o depositante o reclame.”
- De pleno direito: Ocorre automaticamente por força de lei, não dependendo de
convalidação ou de decisão judicial para produzir efeitos.
- Dies a quo e dies ad quem: O termo inicial onde o prazo processual se inicia é denominado
de dies a quo, e o termo final, onde o prazo termina, é denominado dies ad quem.
Ultrapassando o dies ad quem ocorre a preclusão temporal, pois findou-se o prazo para a
prática dos atos processuais.
- Direito objetivo: São as normas criadas pelo Estado (normas agendi), cujo seus
descumprimentos, geralmente, acarretam em uma sanção.
- Direito subjetivo: É o poder que a ordem jurídica confere a alguém de agir e de exigir
determinado comportamento. Ou seja, basicamente os direitos subjetivos são aqueles em
que a pessoa tem a opção de realizar ou não.
- Distrato: Rescisão ou anulação de contrato anterior.
- Duty to mitigate the loss: Significa “o dever de mitigar o prejuízo”. É o dever do credor de
diminuir o próprio prejuízo para não aumentar o prejuízo do devedor. Enunciado 169, III
Jornada de Direito Civil: “O princípio da boa-fé objetiva deve levar o credor a evitar o
agravamento do próprio prejuízo.” Vide art. 422.
- Eficácia subjetiva da sentença: *não entendi direito oq é, isso entendi: tem a ver com ações
coletivas: caso uma ação coletiva seja desfavorável, não fica o indivíduo impossibilitado de
reingressar por conta própria pelo seu direito individual.
- Esbulho vs. turbação: Esbulho é a perda total da posse, devido a violência ou
clandestinidade, viabilizando ação de reintegração de posse. Já a turbação é o esbulho
parcial, ou seja, é a perda de alguns poderes sobre a coisa (incômodo da posse), viabilizando
ação de manutenção de posse.
- Espada de Dâmocles: É uma alusão frequentemente usada para remeter a este conto,
representando a insegurança daqueles com grande poder (devido à possibilidade deste
poder lhes ser tomado de repente) ou, mais genericamente, a qualquer sentimento de
danação iminente.
- Espólio: É o conjunto de direitos e obrigações (patrimônio) deixados pelos de cujus, que
será representado por um administrador provisório, até que o inventariante tome posse dos
bens e posteriormente partilhe entre os herdeiros o património líquido.
Em linguagem contábil, bens e direitos são o “ativo”, e as obrigações são o “passivo”. O
patrimônio líquido é a diferença entre o ativo e o passivo. Em caso de pessoas vivas, é seu
patrimônio que responde pelas dívidas. Em caso de pessoas falecidas será o espólio. Não
existe herança de dívidas.
- “Et tu, Brute?”: “Até tu, Brutus?”.
- Evicção: É a perda de algo que nunca se teve. Ela ocorre na medida em que o juízo
reconhece que um bem adquirido não pertencia a quem o vendeu, mas sim a outrem.
- Ex tunc e ex nunc: São expressões que significam, respectivamente, “desde o início”
(retroagem) e “desde agora” (nunca retroagem).
- Exceção de contrato não cumprido (art. 476): “Nos contratos bilaterais, nenhum dos
contratantes, antes de cumprida a sua obrigação, pode exigir o implemento da do outro.”
- Exceptio non adimpleti contractus: Nos contratos bilaterais nenhum dos contratantes
antes de cumprir a sua obrigação pode exigir o implemento da obrigação do outro.
- Expurgos inflacionários: Referem-se à não aplicação ou ao uso errôneo de índices de
correção monetária sobre os valores aplicados pelos correntistas durante determinados
períodos (no caso, enquanto duraram os planos econômicos implantados no Brasil entre o
meio dos anos 80 e o começo dos 90).
- Fato jurídico: Todo e qualquer acontecimento proveniente da ação do homem ou da
natureza, a que a lei confere consequências ou efeitos jurídicos.
- Fumus boni juris: Significa “fumaça do bom direito”; significa que o alegado direito é
plausível. É geralmente usada como requisito/critério para a concessão de medidas
liminares, cautelares ou de antecipação de tutela, bem como no juízo de admissibilidade da
denúncia ou queixa, no foro criminal.
- Fundamentação constitucional da função social: Art. 5º, XXIII: “A propriedade atenderá a
sua função social.” Art. 170 (princípios da ordem econômica), III: “Função social da
propriedade.” Art. 173, § 1º (estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de economia
mista e de suas subsidiárias), I: “Sua função social e formas de fiscalização pelo Estado e pela
sociedade.” Art. 182, § 2º: “A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende
às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor.” Art. 184:
“Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel
rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em
títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de
até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em
lei.” (vide Lei 8629/93)
- Herança Jacente: É a herança quando não houver herdeiro legítimo ou testamentário
notoriamente conhecido, ou quando for repudiada pelos herdeiros sucessíveis.
- Herança Vacante: É a designação à herança jacente a fazenda pública se, ao cabo de todas
as diligências legais, não aparecerem herdeiros sucessíveis do morto. Será declarada como
tal apenas um ano depois da primeira publicação do edital convocatório, desde que não haja
herdeiro habilitado e habilitação pendente. Apenas é incorporada a herança definitivamente
e ipso facto ao patrimônio público após cinco anos da abertura da sucessão.
- Insolvente: É que ou aquele que não tem meios para pagar o que deve; inadimplente.
- Massa falida: Surge após a declaração de falência, na qual o falido perde o direito de
administrar e dispor de seus bens, sendo conferidos a um administrador, que representará
os bens ao tentar liquidar as dívidas contraídas, liquidando-os.
- Mora: Art. 394: “Considera-se em mora o devedor que não efetuar o pagamento e o credor
que não quiser recebê-lo no tempo, lugar e forma que a lei ou a convenção estabelecer.”
- Nulidade de algibeira: É o caso em que a parte, embora tenha o direito de alegar a
nulidade, mantém-se inerte durante longo período, deixando para exercer seu direito
somente no momento em que melhor lhe convier.
- Organização não governamental (ONG): Não existe legalmente. Este é o nome genérico
para se referir a fundações e associações, as duas entidades privadas sem fins lucrativos.
- Prefeitura vs. município: Município é a pessoa jurídica do qual a prefeitura é órgão, e como
órgão público, não possui personalidade jurídica (mesmo que possua CNPJ).
- Penhor vs. penhora: Penhor é a transferência efetiva de um bem móvel para garantia de
pagamento de uma dívida (como a hipoteca, que ocorre com bens imóveis). Já a penhora é
um procedimento judicial de execução de bens, no qual estes são apreendidos para que o
devedor cumpra o pagamento de dívida.
- Prescrição quanto a paternidade e herança: A ação de investigação de paternidade é
imprescritível, porém, a ação de petição de herança prescreve. Súmula 149 STF: “É
imprescritível a ação de investigação de paternidade, mas não o é a de petição de herança.”
Segundo a AREsp n° 479.648/MS STJ, o prazo para interposição da ação de petição de
herança é o de 10 anos, contados a partir da abertura da sucessão ou da data que o
requerente completar 16 anos.
- Presunção relativa e absoluta: A presunção relativa (juris tantum) aceita prova em
contrário, enquanto a presunção absoluta (juris et de jure), não.
- Princípio da autonomia da vontade: Representa a liberdade das partes em contratos,
emitindo regras que devem ser observadas. Da vontade derivada pelas partes, surge a
necessária força vinculante dos contratos representada pelo princípio do pacta sunt
servanda.
- Princípio da proteção simplificada do agraciado e a responsabilidade civil do generoso: O
direito civil protege tanto o agraciado quanto o generoso (partes mais ou menos beneficiadas
em um negócio jurídico), não favorece o agraciado e cede mais garantias ao generoso. Por
exemplo, art. 392: “Nos contratos benéficos, responde por simples culpa o contratante, a
quem o contrato aproveite, e por dolo aquele a quem não favoreça. Nos contratos onerosos,
responde cada uma das partes por culpa, salvo as exceções previstas em lei.”
- Princípio da proteção simplificada do luxo: O direito civil protege bens de luxo, mas de
maneira mais simplificada. Por exemplo, art. 1.219: “O possuidor de boa-fé tem direito à
indenização das benfeitorias necessárias e úteis, bem como, quanto às voluptuárias, se não
lhe forem pagas, a levantá-las, quando o puder sem detrimento da coisa, e poderá exercer o
direito de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis.”
- Período de vacância: Período entre a data da publicação de uma lei e o início de sua
vigência (vacatio legis). Caso não seja especificada, a data é de 45 dias.
- Princípio do adimplemento substancial: Fundamentado na boa-fé objetiva, afasta a
resolução do negócio quando o cumprimento foi realizado em grande monta, ou seja, se a
parte inadimplida é mínima em relação ao todo, visando impedir um desequilíbrio na
resolução de contratos. Todavia, não impede ação de cobrança do saldo em aberto ou de
eventual execução. A jurisprudência do STJ não é pacífica ao todo da matéria, mas tem a
aceitado. Todavia, não pode ocorrer em dívida alimentícia, e nem se aplica aos contratos de
alienação fiduciária em garantia regidos pelo Decreto-Lei 911/1969 (REsp 1.622.555).
- Procuração de analfabeto: “A única exigência é que seja assinado a rogo e subscrito por
duas testemunhas [‘não se faz necessária a juntada de documentos pessoais das
testemunhas’]. [...] Sendo o analfabeto capaz e livre for sua manifestação de vontade, nada
o impede de contratar ou outorgar procuração.” TJPR, Apelação Cível n° 0013971-
70.2020.8.16.0021.
CNJ: Procuração para advogado atuar em benefício de uma pessoa analfabeta não precisa
ser feita no cartório por instrumento público.
- Reserva de domínio (art. 521): “Na venda de coisa móvel, pode o vendedor reservar para
si a propriedade, até que o preço esteja integralmente pago.”
- Resultado prático equivalente: Art. 84 CDC: “ Na ação que tenha por objeto o cumprimento
da obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou
determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do
adimplemento.”
- Retrovenda: Art. 505: “O vendedor de coisa imóvel pode reservar-se o direito de recobrá-
la no prazo máximo de decadência de três anos, restituindo o preço recebido e reembolsando
as despesas do comprador, inclusive as que, durante o período de resgate, se efetuaram com
a sua autorização escrita, ou para a realização de benfeitorias necessárias.”
- Sentença declaratória: Declara a existência ou inexistência de uma relação jurídica. Ex:
reconhecimento da autenticidade de documento.
- Sentença constitutiva: Cria ou modifica uma relação jurídica. Há constituição de um novo
estado jurídico.
- Tarifa, taxa, tributo e preço público: A taxa é espécie tributária vinculada à atuação estatal,
devida mediante um agir do Estado em prol do contribuinte. Art. 145, CF: “A União, os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os seguintes tributos: II - taxas,
em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços
públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos à sua disposição.”
Já a tarifa/preço público é vínculo contratual e sujeita-se ao direito privado, ao passo que a
taxa configura tributo (ou seja, é compulsório e exigido apenas mediante expressa previsão
legal, sob regime de direito público).
Súmula 545, STF: “Preços de serviços públicos e taxas não se confundem, porque estas,
diferentemente daqueles, são compulsórias e têm sua cobrança condicionada à prévia
autorização orçamentária, em relação à lei que as instituiu.” ADI 800, rel. min. Teori Zavascki:
“[...] Esse foi o critério para determinar, por exemplo, que o fornecimento de água é serviço
remunerado por preço público [...]”
- Teoria da aparência (ou aparência de direito): Situação que manifesta como verdadeira
uma situação jurídica não verdadeira, e que, por causa do erro escusável de quem, de boa-
fé, tomou o fenômeno real como manifestação de uma situação jurídica verdadeira.
- Teoria da imprevisão: Diz respeito à possibilidade de ocorrência de fatos novos que não
podiam ser previstos pelas partes nem podem ser imputados a elas, os quais trazem reflexos
para a execução do contrato. Abre a possibilidade de resolução ou revisão do contrato.
Art. 478: “Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das
partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude
de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do
contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação.”
- Teoria da perda de uma chance: Se alguém faz com que outra pessoa perca uma
oportunidade de obter uma vantagem ou de evitar um prejuízo, esta conduta enseja
indenização pela oportunidade perdida. A chance é a possibilidade de um benefício futuro
provável. Vem do direito francês.
Vide REsp 1750233 (perda de uma chance vs. lucros cessantes): “[...] 6. Nos lucros cessantes
há certeza da vantagem perdida, enquanto na perda de uma chance há certeza da
probabilidade perdida de se auferir uma vantagem. Trata-se, portanto, de dois institutos
jurídicos distintos. [...] 8. Especificamente quanto à hipótese dos autos, o entendimento
desta Corte é no sentido de não admitir a indenização por lucros cessantes sem comprovação
e, por conseguinte, rejeitar os lucros hipotéticos, remotos ou presumidos, incluídos nessa
categoria aqueles que supostamente seriam gerados pela rentabilidade de atividade
empresarial que sequer foi iniciada.”
- Terras devolutas: São terras sem uso comum ou especial do Estado, e que não pertencem
a nenhum particular, em virtude de um título legítimo.
Art. 20, CF: “São bens da União: II - as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras,
das fortificações e construções militares, das vias federais de comunicação e à preservação
ambiental, definidas em lei.” Art. 26: “Incluem-se entre os bens dos Estados: IV - as terras
devolutas não compreendidas entre as da União.”
- Usufruto: É o direito concedido (ao usufrutuário) de usar propriedade alheia. “O usufruto
pode recair em um ou mais bens, móveis ou imóveis [...]. Salvo disposição em contrário, o
usufruto estende-se aos acessórios da coisa e seus acrescidos” (ver arts. 1.390 a 1394).
- Venda a non domino: Significa uma venda por quem não é o proprietário e, por isso
mesmo, jamais poderia dispor de um bem que não lhe pertence.
- Vício redibitório: É uma garantia que pode anular o contrato em razão de vício oculto,
independente qualquer outra previsão contratual.
- Venire contra factum proprium: É a vedação do comportamento contraditório, baseada no
pacta sunt servanda (pactos devem ser respeitados).
- “Água e energia são contas pessoais, diferente do IPTU, que é atrelado ao imóvel, e não
ao nome.”
- “Correção monetária e juros é acessório da dívida.”
- “Ninguém pode alegar desconhecimento da lei.”
- “O registro é a tradição do imóvel.”
- “Os animais são tratados como ‘coisa’ perante o direito.”
- “Presume-se sempre a boa fé.”
- “Quem cala, consente” (art. 111).

. Bibliografia:
- GONÇALVES, Carlos. Direito Civil Brasileiro - Teoria Geral das Obrigações - Volume 2 - 20ª
Edição 2023. (meio mid, na vdd, mas é oq tenho ;-;)

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