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Resumo – Civil I (1º estágio)

PERSONALIDADE JURÍDICA E DIREITOS PERSONALÍSSIMOS

O ser humano é o destinatário final de toda norma, a pessoa natural1 é o


sujeito de direitos por excelência, de modo que os direitos ligados à
personalidade humana são essenciais no Direito. Esses direitos são direitos
subjetivos, aqueles que decorrem de uma prerrogativa para alguém, dada
pela norma jurídica. Nessa lógica do direito subjetivo, tem-se o sujeito ativo
(titular de direito) e o sujeito passivo (responsável pela obrigação, no caso
de um direito positivo, ou pela abstenção, no caso de um direito negativo)

Personalidade jurídica → Pablo Stolze coloca como o atributo para ser


sujeito de direito; é a aptidão genérica para titularizar direitos e contrair
obrigações. A personalidade é atributo de toda e qualquer pessoa, seja
natural ou jurídica, uma vez que o art. 1º do NCC2 não faz distinção

O surgimento da personalidade se dá a partir do nascimento com vida


(art. 2º do NCC), no instante em que inicia o funcionamento do aparelho
cardiorrespiratório3 → não se leva em consideração a forma humana e a
viabilidade do recém nascido

Teorias → a partir desse art. 2º, considera-se que a teoria natalista teria
sido adotada pelo legislador, porém não exclusivamente, uma vez que os
direitos do nascituro4 (aos quais a teoria concepcionista dá prioridade) são
resguardos, considerando-se que ele tem uma expectativa de direitos

Para Maria Helena Diniz, o nascituro possui personalidade jurídica formal,


sendo titular de direitos personalíssimos, e, ao nascer com vida, adquiriria
personalidade jurídica material, alcançando os direitos patrimoniais. Se
nascer com vida, adquire personalidade jurídica material, mas se tal não
ocorrer, nenhum direito patrimonial terá

A teoria concepcionista, porém, em sua forma pura, considera o início da


personalidade jurídica a partir da concepção, atribuindo ao nascituro,
inclusive, determinados direitos patrimoniais

Apesar de toda a profunda controvérsia doutrinária, o fato é que, nos termos


da legislação em vigor, inclusive do NCC, o nascituro, embora não
expressamente considerado pessoa, tem a proteção legal dos seus
direitos desde a concepção

Direitos do nascituro garantidos → 1) direitos personalíssimos (direito à


vida, à alimentação, à proteção pré-natal, etc.), 2) poder receber doação,
sem prejuízo do recolhimento do imposto de transmissão inter vivos, 3)
1
É o ser humano considerado como sujeito de direitos e obrigações
2
Art. 1º, CC/02: “Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil”
3
Verificável principalmente pelo exame de docimasia hidrostática de Galeno, mas também
existem outras técnicas aplicáveis
4
Ente concebido, embora ainda não nascido
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poder ser beneficiado por legado e herança, 4) poder ter o exame de DNA
realizado, para efeito de aferição de paternidade5

Direitos da personalidade propriamente ditos (art. 11-21)

Os direitos da personalidade possuem um capítulo próprio na Parte Geral


do NCC, sendo essa uma das principais inovações deste. Procura-se tutelar
uma série indeterminada de valores não reduzíveis pecuniariamente, ou
seja, uma esfera extrapatrimonial do indivíduo

Conceito, por Pablo Stolze → aqueles que têm por objeto os atributos
físicos, psíquicos e morais da pessoa em si e em suas projeções sociais

Pessoa jurídica → mesmo considerando a concepção antropocêntrica de


direito a partir da qual a teoria dos direitos da personalidade foi construída,
é inegável a possibilidade de aplicação desses direitos às pessoas
jurídicas6. É evidente, por exemplo, a proteção ao nome e à imagem da
qual essas pessoas jurídicas necessitam, tendo punidos os danos a sua
honra ou imagem

→ a publicidade negativa de determinado produto, por exemplo, pode


destruir toda a reputação de uma empresa, da mesma forma que
informações falsas sobre eventual instabilidade financeira da pessoa
jurídica podem acabar levando-a a uma indesejável perda de credibilidade,
com fortes reflexos patrimoniais

Características

a) absolutos: oponibilidade erga omnes, irradiando efeitos em todos os


campos e impondo à coletividade o dever de respeitá-los;

b) gerais: outorgados a todas as pessoas, simplesmente pelo fato de


existirem;

c) extrapatrimoniais: ausência de um conteúdo patrimonial direto, aferível


objetivamente, ainda que sua lesão gere efeitos econômicos;

d) indisponíveis: nem por vontade própria do indivíduo o direito pode


mudar de titular, o que faz com que os direitos da personalidade sejam
alçados a um patamar diferenciado dentro dos direitos privados. A
“indisponibilidade” dos direitos da personalidade abarca tanto a
intransmissibilidade quanto a irrenunciabilidade;

e) imprescritíveis: inexiste um prazo para seu exercício, não se


extinguindo pelo não uso. Quando se fala em imprescritibilidade do direito

5
Caso Glória Trevis
6
Art. 52. “Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da
personalidade”
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da personalidade, está-se referindo aos efeitos do tempo para a aquisição


ou extinção de direitos. Não há como se confundir, porém, com a
prescritibilidade da pretensão de reparação por eventual violação a um
direito da personalidade. Se há uma violação, consistente em ato único,
nasce nesse momento, obviamente, para o titular do direito, a pretensão
correspondente, que se extinguirá pela prescrição, genericamente, no prazo
de 3 (três) anos (art. 206, § 3º, V, do CC/2002);

f) impenhoráveis: decorrente da extrapatrimonialidade e indisponibilidade,


direitos morais jamais poderão ser penhorados, não havendo, porém,
qualquer impedimento legal na penhora do crédito dos direitos patrimoniais
correspondentes;

g) vitalícios: acompanham a pessoa desde a primeira manifestação de vida


até seu passamento. Sendo inerentes à pessoa, extinguem-se, em regra,
com o seu desaparecimento. Destaque-se, porém, que há direitos da
personalidade que se projetam além da morte do indivíduo, como no
caso do direito ao corpo morto (cadáver). Além disso, se a lesão, por
exemplo, à honra do indivíduo ocorrer após o seu falecimento (atentado à
sua memória), ainda assim poder-se-á exigir judicialmente que cesse a
lesão (ou sua ameaça), tendo legitimidade para requerer a medida, na
forma do parágrafo único do art. 12 do CC/2002, “o cônjuge sobrevivente,
ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau”.

Classificação → de forma didática, Stolze classifica os direitos da


personalidade de acordo com a 1) proteção à vida e à integridade física
(corpo vivo, cadáver, voz), 2) proteção à integridade psíquica e criações
intelectuais (liberdade, criações intelectuais, privacidade, segredo) e 3)
proteção à integridade moral (honra, imagem, identidade pessoal)

֎ Ver livro para os comentários sobre cada direito ֎

Individualização da pessoa natural → Nome, estado e domicílio

1. Nome (art. 16-19)


- É um direito previsto também no Pacto de San Jose da Costa Rica
- Elementos: prenome e sobrenome
- Prenome → a regra é a inalterabilidade; exceções: 1) ao completar 18
anos, o indivíduo pode optar por mudar seu prenome. É a única exceção
que não precisa de algum tipo de justificativa; 2) exposição ao ridículo;
3) erro gráfico; 4) desconforto no ambiente comercial; 5) mudança de
sexo (nome social); 6) adição de apelido público notório (geralmente
ocorre com pessoas públicas); 7) adoção e 8) proteção de
vítimas/testemunhas de crimes e familiares
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- Sobrenome7 → é adquirido a partir dos fatos jurídicos: nascimento,


adoção ou casamento
Expressão anterior → patronímico (foi modificado por ser uma
expressão que remete ao patriarcalismo)
Com o NCC, o homem passou a poder adquirir também o sobrenome da
mulher, o que antes não era possível

2. Estado → define a posição na sociedade política e na família, como


individuo
- Individual: idade, sexo, saúde mental e física
- Familiar: situação de família (casado, solteiro, viúvo, separado,
divorciado), parentesco consanguíneo (pai, filho, avô, etc.), afinidade
(genro, sogro, padrasto, enteado, etc.)
- Político: estrangeiro, cidadão nato, naturalizado

3. Domicílio → é o lugar de sua atividade social (Ponto 5)

Extinção da personalidade jurídica da pessoa natural

A extinção da pessoa natural termina com a morte (art. 6º do NCC) → o


principal critério científico hoje considerado para a constatação do
perecimento é a morte encefálica → Efeitos da morte: extinção do poder
familiar, dissolução do vínculo conjugal, abertura da sucessão, extinção de
contrato personalíssimo, etc.

Morte civil → antes, pessoas vivas podiam ser consideradas mortas, como
nos casos de condenação à pena perpétua. Isso foi abolido do nosso
ordenamento, embora, segundo MHD, haja ainda alguns vestígios, como os
efeitos da exclusão da herança por indignidade (at. 1816), em que os
herdeiros sucedem como se o “Indigno” morto estivesse

Acepções, do ponto de vista, codificado de morte:

1. Morte presumida → considera-se a morte presumida quando, em caso


de ausentes, a lei autoriza a abertura da sucessão definitiva (art. 6º).
Nos casos em que se admite a sucessão definitiva, os bens do ausente
não serão definitivamente transferidos para os seus sucessores
enquanto não houver reconhecimento judicial da morte resumida (art. 9º,
inc. IV)
- Art. 7º → hipóteses de morte presumida sem declaração de ausência

1.1. Ausência (art. 22-39)


- A ausência é um estado de fato, em que uma pessoa desaparece de
seu domicílio, sem deixar qualquer notícia, nem
representante/procurados para administrar sua massa patrimonial
7
A ele pode somar-se agnome (júnior, neto, etc.)
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- A partir do requerimento de interesse direto ou do Ministério Público, o


Poder Judiciário pode reconhecer tal circunstância a partir da
declaração fática de ausência, nomeando-se um curador, que gere os
negócios do ausente até seu possível e eventual retorno. O mesmo
aplica-se para o caso do ausente ter deixado mandatário que se
encontre impossibilitado (física ou juridicamente) ou que não tenha
interesse em tal função
- A nomeação de curador não é discricionária, pois a lei estabelece uma
ordem legal estrita e sucessiva, no caso de impossibilidade do
anterior:
1) o cônjuge do ausente, esse não estiver separado judicialmente, ou de
fato por mais de dois anos antes da declaração de ausência
2) pais do ausente
3) descendentes do ausente
4) qualquer pessoa à escolha do magistrado
- 1 Ano após a arrecadação de bens (ou 3 anos, caso tenha-se deixado
representante) → os interessados podem requerer a declaração efetiva
e formal de ausência e a abertura da sucessão provisória
- Foco na provisoriedade da sucessão → art. 29 e 31
- Se, durante essa posse provisória, porém, se provar o efetivo
falecimento do ausente, converter-se-á a sucessão em definitiva,
considerando-se aberta, na data comprovada, em favor dos herdeiros
que o eram àquele tempo. Isso, inclusive, pode gerar algumas
modificações na situação dos herdeiros provisórios, uma vez que
não se pode descartar a hipótese de haver herdeiros sobreviventes na
época efetiva do falecimento do desaparecido, mas que não mais
estejam vivos quando do processo de sucessão provisória
- 10 Anos após o trânsito em julgado da sentença de abertura de
sucessão definitiva → converter-se-á em definitiva
- Reaparecimento do ausente → art. 33, 36 e 39
- Efeitos quanto ao matrimônio → antes, o cônjuge do ausente não podia
se casar. Atualmente, de acordo com o art. 1571, a morte presumida
também dissolve o casamento

2. Morte simultânea (comoriência)


- Art. 8º → Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não
se podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos
outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos
- Não pode se estabelecer relações sucessórias entre eles
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ADENDO: DIREITO AO ESQUECIMENTO

- Conceito: direito de ter determinados fatos do passado “apagados”,


ponderando-se valores; considera-se muito vaga a conceituação desse
direito, de modo que muitas vezes é difícil de ser reivindicado

- Enunciado 531 da VI Jornada de Direito Civil: “A tutela da dignidade da


pessoa humana na sociedade da informação inclui o direito ao
esquecimento” → torna o art. 11/NCC base legal para a defesa desse
direito, enquadrando-o no rol dos direitos personalíssimos, com relação com
o princípio da dignidade da pessoa humana, da proteção à privacidade e da
não violação da intimidade

- Quem se sentir lesado em seus direitos personalíssimos poderia, então,


pleitear a eliminação da informação, não só dos meios de comunicação em
mídia física, mas também do próprio mundo virtual.

- Direito à intimidade x Direito à informação/Constitui censura? → Bem


medido e aplicado, o direito ao esquecimento não constitui censura ou
ofensa ao princípio da liberdade de manifestação do pensamento. Na
verdade, deve-se fazer a ponderação entre o interesse público na
divulgação de fatos relevantes no ambiente informacional e o resguardo
ao direito à intimidade e proteção à dignidade da pessoa e à
inviolabilidade pessoal. São os abusos que devem ser eliminados e não a
mera expressão da opinião.

- STJ

o Primeira aplicação do direito ao esquecimento → foram dois recursos


ajuizados contra reportagens da TV Globo, um deles por um dos
acusados — mais tarde absolvidos — pelo episódio que ficou
conhecido como a Chacina da Candelária, no Rio de Janeiro. O
outro, pela família de Aída Curi, estuprada e morta em 1958 por um
grupo de jovens.
o De acordo com os julgados do STJ, o provedor do conteúdo passa a
ser responsabilizado e obrigado a removê-lo

- Apagar a história? → a aplicação não pode ser automática ou simplista,


como pensam alguns. A decisão depende da análise de cada caso, não
sendo a hipótese de aplicação do “esquecimento” em relação a certos fatos
criminosos, pois, em princípio, na maioria das vezes, mantém-se o
interesse jornalístico e de informação. O enunciado não pode ser
aplicado genericamente nem em relação a crimes nem no que tange a
fatos históricos ou mesmo da vida social, desde que significativos. O
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resguardo à privacidade8 não pode apagar a história nem pode tolher o


direito da imprensa de divulgar, de modo contextualizado, fatos relevantes e
de interesse público.

- E o direito à memória? → prevalece em certos casos; não se trata de uma


dicotomia

- É necessária sempre a aplicação do princípio da proporcionalidade, que


leva em consideração: 1) a necessidade, 2) a adequação/nexo e 3) a
proporcionalidade stricto sensu (há impossibilidade de generalização dos
casos; a ponderação de valores e a aplicação individualizada deve
prevalecer)

8
Art. 5º, inc. X, CF: “X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem
das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente
de sua violação; ”

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