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1. Introdução
1
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: 7, direito das sucessões. 14. ed. São
Paulo: Saraiva Educação, 2020. 584 p.
2
“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade,
à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] XXX - é garantido o direito
de herança;”.
3
Tradução literal do latim: Em decorrência da morte.
herdeiros beneficiados ou decisão de qualquer natureza. Ainda que o
herdeiro não tenha conhecimento da abertura da sucessão, a
transmissão dá-se a seu favor, desde o preciso momento da morte do
autor da herança. A transmissão é por força de lei. O que uma pessoa
herdou e ainda não sabe, ou não aceitou, já ingressou em seu
patrimônio, conquanto não definitivamente.4
4
LÔBO, Paulo. Direito constitucional à herança, saisine e liberdade de testar. Famílias:
Pluralidade e Felicidade, Belo Horizonte, v. 9, p. 35-46, 2015. Anual. Disponível em:
https://ibdfam.org.br/assets/upload/anais/231.pdf. Acesso em: 12 jan. 2022.
5
“legítimos (aqueles definidos por lei: descendentes, ascendentes, cônjuge sobrevivente e
colaterais); necessários (qualidade dada a somente alguns dos parentes próximos ao “de
cujus”: descendentes, ascendentes e cônjuges); testamentários (aqueles que têm seu quinhão
definido através de testamento pelo autor da herança) [...]”. Fonte:
https://deboraspagnol.jusbrasil.com.br/artigos/467733117/a-indignidade-como-causa-de-exclus
ao-de-heranca. Acesso em: 12 jan. 2022.
6
Aqui, adotar-se-á o gênero masculino para o autor e o feminino para os seus pares,
simplesmente para evitar redundâncias e retrabalhos desnecessários.
7
Com relação ao entendimento literal de Gonçalves: “A violência se traduz em ação física; a
fraude, em psicológica.” (p. 124).
8
HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes; JUNQUEIRA DE AZEVEDO, Antonio.
Comentários ao Código Civil: parte especial : do direito das sucessões : da sucessão em geral;
da sucessão legítima : (Artigos 1.784 a 1.856). [S.l: s.n.], 2003.
sucessão é considerado como desprovido de moral para receber a herança,
em razão da prática de atos indignos.
Assim, surgem, como penas civis de exclusão da herança, os conceitos
de indignidade sucessória e deserdação, aquele, por sua vez, será abordado a
seguir. Pena a qual foi dada à Suzane Von Richthofen9, condenada por
participação, em outubro de 2002, no assassinato dos pais, Mandred e Marísia
Von Richthofen, em luxouso condomínio de casas na cidade de São Paulo,
capital. Suzane, que tinha 18 anos, permitiu a entrada dos executores do crime,
os irmãos Cristian e Daniel Cravinhos, na casa da família, que deram ensejo à
execução do crime.
Em 2006, Suzane foi condenada a 39 anos de prisão em regime
fechado. Em 2011, a 1ª Vara de Família e Sucessões de Santo Amaro decidiu
pela exclusão da condenada da relação de herdeiros, a pedido do irmão,
Andreas. Caso o irmão desistisse da ação, segundo a legislação à época,
Suzane continuaria tendo direito à metade dos bens. Porém, com as mudanças
propostas no PLS 118/2010, o Ministério Público poderia intervir em casos
como esse para promover a ação.10 O que veio com o advento da Lei n.º
13.532/2017, a qual, além do mais, incluiu o § 2º no artigo 1.81511 da
codificação material civil.
Oportuno se faz trazer inferência de Lacerda de Almeida12: “[...] a
indignidade é uma pecha em que incorre o herdeiro e que o faz perder o que
havia adquirido”. À frente, as questões mais pragmáticas em respeito das
regras que permeiam o instituto da exclusão da herança por indignidade, serão
melhor destrinchadas e trabalhadas, destacando-se a distinção entre os
9
Caso que nunca saiu da mídia, mas que voltou à tona ao final do ano passado, com o
lançamento de 2 (dois) filmes pela Amazon Prime Video: “A menina que matou os pais” e “A
menina que matou meus pais”. Fontes:
https://www.primevideo.com/detail/0LVOTHY4HCRCWLAY1KTDR0XQNH/ref=atv_hm_hom_1_
c_8o26tb_awns_3_3?language=pt_br e
https://www.primevideo.com/detail/0RNW90VC2ECX8B71EE8CSX90W9/ref=atv_dp_amz_det_
c_Iw3Dma_1_1?language=pt_br.
10
Fonte:
https://ibdfam.org.br/noticias/na-midia/7794/Descen-%20dentes+de+herdeiro+indigno+tamb%c
3%a9m+podem+ser+proibidos+de+receber+bens. Acesso em: 12 jan. 2022.
11
“Art. 1.815. A exclusão do herdeiro ou legatário, em qualquer desses casos de indignidade,
será declarada por sentença. [...] 2 o Na hipótese do inciso I do art. 1.814, o Ministério Público
tem legitimidade para demandar a exclusão do herdeiro ou legatário.”
12
GONÇALVES, p. 126, 2020.
institutos assemelhados citados acima, assim como maiores referências
catedráticas.
13
O doutrinador Rolf Madaleno define em sua obra Direito de Família, 10ª edição, a
solidariedade familiar como: “É princípio e oxigênio de todas as relações familiares e afetivas,
porque esses vínculos só podem se sustentar e se desenvolver em ambiente recíproco de
compreensão e cooperação, ajudando-se mutuamente sempre que se fizer necessário.” (2020,
p. 183.)
3. O inciso primeiro do artigo 1.814 e a controvérsia legitimidade de
propositura de ação pelo Ministério Público.
14
SIMÃO, José Fernando. Legitimidade do MP para propor ação de exclusão do sucessor por
indignidade. PROCESSO FAMILIAR, Consultor Jurídico, p. 1, 28 jan. 2018. Disponível em:
https://www.conjur.com.br/2018-jan-28/processo-familiar-legitimidade-mp-acao-exclusao-sucess
or-indignidade. Acesso em: 15 jan. 2022.
meses de prisão pelo homicídio quadruplamente qualificado, 2 anos por
ocultação de cadáver e 1 ano por falsidade ideológica.
A sucessão, surge por consequência da morte, logo, aquele que força a
sucessão ou a altera em sua ordem, para o simples e exclusivo benefício
próprio está agindo contra a solidariedade familiar, a proteção da dignidade
humana, bem como o dever de cuidado e amparo.
O que se discute é, se hipoteticamente, Andreas, irmão de Suzane,
desistisse da ação e por consequência permitisse o acesso da irmã,
condenada pela morte dos ascendentes, ao quinhão legítimo. E no caso de
Leandro Boldrini, e se permite-se que o mesmo receba a herança deixada por
sua esposa mesmo após ter arquitetado o assassinato do menor?
Tais hipóteses revelam que, mesmo o assunto sendo patrimonial e
disponível, essa não pode ser admitida, pois representaria sequer a
possibilidade da discussão judicial de indignidade, garantido o sucesso do
plano de homicídio puro e simplesmente por ganância, em razão de uma
brecha legal, o que é um ataque direto à própria ordem social.
Ressalte-se que, quando analisado à tentativa, ou homicídio de cônjuge,
companheiro, ascendente ou descendente, ainda haveria a possibilidade de
haver o perdão, não havendo o que se discutir em legitimidade do Ministério
Público.
É válida ainda, a discussão sobre a manifestação de um perdão
subjetivo e não manifestado pelo de cujus. Não obstante, cabe ao operador do
direito ponderar tal questão, permitindo o estabelecimento do contraditório,
estando em consonância, inclusive com o artigo 1.818 que será analisado a
seguir, sendo matéria de mérito e não de direito.
4. Dos efeitos da exclusão por indignidade
6. Conclusão
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GAGLIANO, Pablo Stolze; FILHO, Rodolfo Pamplona. Manual de direito civil. São Paulo:
Saraiva, 2017. 1768 p. v. único.