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EXMO(A). SR(A). DR(A).

JUIZ(A) FEDERAL DO JUIZADO ESPECIAL


FEDERAL DA 11ª VARA FEDERAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE
SANTANA DO IPANEMA – AL.

TRAMITAÇÃO VIA – JUÍZO 100% DIGITAL

MARIA VITÓRIA SANTOS LIMA, menor impúbere, brasileira, portadora do


CPF nº: 098.420.754-60, representada pela sua genitora: Maria José Santos
Lima, brasileira, solteira, inscrita no RG sob nº: 3.213.885-7 SEDS/AL e
CPF nº: 078.853.434-30, residente e domiciliado no Povoado Marcação,
s/nº, Zona Rural, Pariconha - AL, através de seus advogados devidamente
constituídos na procuração anexa, vem respeitosamente perante Vossa
Excelência, ajuizar a presente:

AÇÃO DE CONCESSÃO DE PENSÃO POR MORTE – MENOR SOB GUARDA

Em desfavor do INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL – INSS, na


pessoa de seu representante legal, pelos fatos e fundamentos jurídicos que
passa a expor:

1 – DOS FATOS

Excelência, a parte autora é menor de idade e vivia sob a guarda


da falecida segurada da Previdência Social, a Sra. Alcendina Maria de Souza.
Destaca-se que a falecida era segurada da Previdência Social, conforme
comprova a documentação anexa, possuindo, na data de seu falecimento, a
condição de segurada como APOSENTADA.

No que tange a qualidade de dependente, este se comprova através


da: sentença do processo nº: 202.08.050084-6 da vara de único Ofício da
Comarca de Água Branca – AL) e certidão de nascimento.

Travessa José Correia Filho, nº 40, Eldorado 1


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(82) 3641-5463
Ocorre que, em 05/01/2009, após o falecimento da segurada, a
parte autora deu entrada em requerimento administrativo para concessão do
benefício de pensão por morte (N.B.: 148.207.647-8), tendo sido o mesmo
indeferido de forma errônea e desumana pela Autarquia sob o tênue
argumento de “falta da qualidade de dependente – menor sob guarda”.

Ressalta-se, que a fonte de renda da falecida era imprescindível à


subsistência da parte autora. E o pedido formulado tem o intuito exclusivo
de restaurar os efeitos causados pela perda de um direito garantido ao
requerente.

Consistente da possibilidade assegurada pelo ordenamento jurídico


pátrio, bem como pelas decisões de nossas Tribunais, recorre agora à tutela
judicial para ver seus direitos concedidos de forma correta e necessária, para
que seja garantida a justiça.

2 – DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

Como amplamente conhecido, para a concessão de pensão por


morte, deve, inexoravelmente, a parte autora, comprovar o perfeito
implemento dos requisitos legais, os quais, segundo o art. 74 da Lei
8.213/91, são: ser dependente da falecida; e, que ocorra o óbito de uma
segurada da Previdência Social. Sabendo-se de tais condições, passar-se-á
a comprovar cada uma destas exigências, com o objetivo de demonstrar o
seu cabal preenchimento, por parte do requerente, resultando no
consequente merecimento ao benefício previdenciário ora requerido.

A parte autora cumpriu todos os requisitos necessários para a


concessão da pensão por morte. Senão vejamos:

A Lei n.º 8.213/91, determina, em seu art. 16:

Art. 16. São beneficiários do Regime Geral de Previdência


Social, na condição de dependentes do segurado:
I- o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não
emancipado, de qualquer condição, menor de 21 anos ou
inválido;
[...]
§ 4. ° A dependência econômica das pessoas indicadas no
inc. I e presumida e a das demais deve ser comprovada.

É importante destacar que, na data do falecimento do segurado, a


Parte Autora encontrava-se sob sua guarda, conforme comprovado.

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Quanto ao direito da Parte, no presente caso, cabe-nos ressaltar
que, apesar de a Lei n.º 9.528/1997 haver excluído do rol dos dependentes
previdenciários o menor de idade sob guarda, não se pode deixar de
reconhecer a este o direito à pensão por morte, sob pena de ferimento aos
constitucionais princípios protetivos da entidade familiar.

O instituto da guarda obriga a prestação de assistência material,


moral e educacional à criança ou adolescente, conferindo, ao seu detentor, o
direito de se opor, inclusive aos pais (art. 33 do Estatuto da Criança e do
Adolescente), visando regularizar a posse de fato, fazendo parte da inserção
do menor de idade em uma nova família, e conferindo, à criança ou
adolescente, a condição de dependente, para todos os fins e efeitos de
direito, inclusive previdenciários (art. 33, § 3.0, do Estatuto da Criança e do
Adolescente).

Assim, a despeito de ausência de previsão na legislação


previdenciária (Lei n.º 8.213/1991), obviamente, o menor de idade sob
guarda continua fazendo parte do rol de dependentes previdenciários.

Requer, portanto, com fulcro no art. 74 da Lei n.º 8.213/1991, o


benefício de pensão por morte.

É importante salientarmos que, sobre o assunto, a Turma


Nacional de Uniformização da Jurisprudência dos Juizados Especiais
Federais (TNU) decidiu que o menor de idade sob guarda tem direito à
pensão por morte.

A recente decisão reviu posicionamento anterior da Turma e


pronunciou a constitucionalidade da alteração do artigo 16, § 2. °, da Lei n.º
8.213/1991 (efetivada pela Lei n.º 9.528/1997), segundo a qual o menor de
idade sob guarda judicial não tem direito a benefícios da Previdência Social.

No julgamento do Processo n.º 2006.71.95.1032-2, o Juiz federal,


Manoel Rolim Campbell Penna, relator, afirmou que a exclusão de menor de
idade sob guarda da cobertura previdenciária infringe o comando
constitucional de que o Estado brasileiro deve tratar, com absoluta
prioridade, o direito à alimentação da criança e do adolescente, assegurar-
lhe direitos previdenciários e estimular o instituto da guarda aos menores
desamparados, conforme determina o artigo 227 da Constituição Federal.

Manoel Rolim Penna citou, ainda, o Estatuto da Criança e do


Adolescente (Lei nº 8.069/1990), o qual garante, ao menor de idade, a
condição de dependente para todos os efeitos, inclusive previdenciários, de
acordo com o seu artigo 33, § 3º.
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Para a TNU, a incompatibilidade das leis é superada pela regra
constitucional:

É necessário afastar a aplicação do artigo 16, parágrafo


2. °, ao caso concreto, em face de sua patente
incompatibilidade material com os princípios
constitucionais que regem a matéria, principalmente o da
proteção integral da criança e do adolescente, cuja
responsabilidade e não só da família do menor, mas
também da sociedade e do Estado, afirma, reportando-se
ao voto do juiz Otavio Port em processo análogo, também
no sentido da presunção do direito do menor sob guarda
a pensão.

Fica comprovado, então, que o artigo 16 da Lei Previdenciária faz


uma distinção injustificável entre o menor de idade sob guarda e o sob
tutela, ao preservar ao segundo a possibilidade de constar como
dependente e não ao primeiro. Trata-se de discriminação que fere o
princípio da isonomia, em confronto com os princípios constitucionais.

O próprio voto vencedor, aprovado pela TNU, afirma que, diante


da similitude dos institutos de guarda e de tutela, ambos voltados à proteção
do menor de idade afastado de sua família, o caput do art. 5. ° da
Constituição Federal impõe que não se admita a exclusão do menor de idade
sob guarda da cobertura previdenciária, como intentado pela alteração do
art. 16 da Lei n.º 8.213/1991, determinado pela Lei n.º 9.528/1997.

Destacamos que o STJ firmou orientação no sentido de manter o


menor sob guarda no rol de dependentes, dando aplicabilidade ao Estatuto
da Criança e do Adolescente - ECA diante de outras normas que disponham
em contrário, adotando, assim, uma interpretação compatível com a
dignidade da pessoa humana e com o princípio de proteção integral do
menor (RMS n.º 36.034/MT, 1.a Seção, Rel. Min. Benedito Gonçalves, DJe
15.4.2014)

Por fim, cita-se a recente decisão do STJ que consolidou o tema,


Senão, vejamos:

PREVIDENCIÁRIO. PENSÃO POR MORTE.


CONCESSÃO. MENOR SOB GUARDA. QUALIDADE DE
DEPENDENTE DEMONSTRADA. CORREÇÃO
MONETÁRIA E JUROS DE MORA. FASE DE
CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. DIFERIMENTO.
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1. A concessão do benefício de pensão por morte depende
da ocorrência do evento morte, da demonstração da
qualidade de segurado do de cujus e da condição de
dependente de quem objetiva a pensão.
2. Para a obtenção do benefício de pensão por morte deve
a parte interessada preencher os requisitos estabelecidos
na legislação previdenciária vigente à data do óbito,
consoante iterativa jurisprudência dos Tribunais
Superiores e desta Corte.
3. A nova redação dada pela Lei n.º 9.528/97 ao § 2º do
art. 16 da Lei n.º 8.213/91 não teve o condão de derrogar
o art. 33 da Lei n.º 8.069/90 (ECA), sob pena de ferir a
ampla garantia de proteção ao menor disposta no art.
227 do texto constitucional, que não faz distinção entre o
tutelado e o menor sob guarda. Permanece, pois, como
dependente o menor sob guarda judicial, inclusive para
fins previdenciários.
4. Hipótese em que evidenciada a qualidade de
dependente do requerente, já que comprovado que vivia
sob a guarda de fato de seu tio avô.
5. Deliberação sobre índices de correção monetária e
taxas de juros diferida para a fase de cumprimento de
sentença, a iniciar-se com a observância dos critérios da
Lei nº 11.960/2009, de modo a racionalizar o andamento
do processo, permitindo-se a expedição de precatório pelo
valor incontroverso, enquanto pendente, no Supremo
Tribunal Federal, decisão sobre o tema com caráter geral
e vinculante. Precedentes do STJ e do TRF da 4ª Região.
(Processo: AC 50060215820154047201 SC 5006021-
58.2015.404.7201. Órgão Julgador: Quinta Turma.
Julgamento: 21 de fevereiro de 2017. Relator: Rogerio
Favreto) (grifo nosso)

Veja. Exa, que no caso em testilha, a requerente era dependente


(menor sob guarda) de fato e de direito da sua avó, e a mesma na data do
falecimento encontrava-se como beneficiária do INSS, restando assim
comprovada a qualidade de segurada da falecida e de dependente da
requerente. Com isso, o cerne principal da discussão judicial gira em
torno da comprovação da qualidade de dependente, haja vista que em
relação ao fato de ter ocorrido o óbito de uma segurada não há quaisquer
resquícios de dúvidas, razão pela qual se passará a tratar deste ponto de
forma pormenorizada.

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A requerente é menor, cuja renda era suprida totalmente pela
aposentadoria da falecida, tendo somente esta como a única fonte de renda
fixa para seus mantimentos.

Assim, consoante exaustivamente demonstrado, inexistem óbices à


concessão do benefício de pensão por morte, razão pela qual facilmente se
percebe o descabimento das alegações aduzidas pelo INSS para justificar o
indeferimento administrativo.

Resta, portanto, comprovado o direito da menor de idade sob


guarda de obter o benefício de pensão por morte.

3 – DO PEDIDO

Destarte, diante das razões acima aduzidas, a parte autora requer


que V. Ex.ª digne-se em:

1. Designar a audiência prévia de conciliação, nos termos do art. 319,


VII, do CPC/2015;

2. A concessão do benefício da Assistência Judiciária Gratuita, tendo em


vista que o Autor não tem como suportar as custas judiciais sem o prejuízo
de seu sustento e de sua família;

3. O recebimento e deferimento da presente peça inaugural – nos moldes


do Juízo 100% Digital

4. Determinar a citação do INSS, ora réu, por meio de seu representante


legal, no endereço supracitado, para que, querendo, conteste os termos da
presente, no prazo legal, com as advertências previstas no art. 246,
CPC/2015;

5. Seja julgada PROCEDENTE a presente ação, concedendo o benefício


de PENSÃO POR MORTE ao requerente, por restarem indubitavelmente
comprovados os requisitos exigidos por nossa legislação, bem como que seja
CONDENADO o INSS ao pagamento das parcelas retroativas a que o mesmo
tem direito, a partir de indeferimento do requerimento administrativo,
conforme planilha de cálculos em anexo, respeitando o limite do teto do JEF,
renunciado desde já o excedente;

6. Protesta, o autor, pela produção de todos os meios de prova em direito


admitidos, os quais desde já se requerem, especialmente o seu depoimento
pessoal, por ser meio idôneo à confirmação do seu direito.

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Dá à causa o valor de R$ 56.220,00 (cinquenta e seis mil duzentos
e vinte reais).

Nestes termos,
Pede deferimento.

Delmiro Gouveia/AL, 01 de outubro de 2019.

RENATO DAVID TORRES DE OLIVEIRA


Advogado - OAB/AL nº 8.025

ROBERTA ASSIS CALIXTO TORRES


Advogada – OAB/AL n° 12.895

SERGIO DAVID TORRES DE OLIVEIRA


Advogado – OAB/AL nº 9.904

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