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ATIVIDADE REPOSIÇÃO DE NOTA

EMA (Segunda-feira, vespertino)


Acadêmica: Sabrina Camille Carmen Fabbro

Atividade 1
Joel, morador da cidade Milharal (Comarca de Varzinha), foi casado com Palmira por mais de quatro
décadas, tendo tido apenas um filho, Tício, morador de Itaquequera (Comarca de Igarapezal), dono de rede
de hotelaria. Com o falecimento da esposa, Joel deixou de trabalhar em razão de grande tristeza que o
acometeu. Já com 72 anos, Joel começou a passar por dificuldades financeiras, sobrevivendo da ajuda de
vizinhos e alguns parentes, como Maria, sua sobrinha-neta. A jovem, que acabara de ingressar no curso de
graduação em Direito, relatando aos colegas de curso o desapontamento com o abandono que seu tio
sofrera, foi informada de que a Constituição Federal assegura que os filhos maiores têm o dever de
amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade. De posse de tal informação, sugere a seu tio-avô que
busque o Poder Judiciário a fim de que lhe seja garantido o direito de receber suporte financeiro mínimo de
seu filho. Joel procura você. QUESTÃO: Como advogado(a) de Joel, elabore a peça processual cabível.
Fundamente na doutrina, legislação e jurisprudência.

AO JUÍZO DE DIREITO DA 1° VARA DA FAMÍLIA DA COMARCA DE VARZINHA - SANTA


CATARINA.

JOEL MARCELO RODRIGUES, brasileiro, viúvo, desempregado, portador


de R.G. nº 6061443, inscrito no CPF nº 036.462.964-05, residente e
domiciliado na Rua Indaial, nº 1068, bairro Dom Bosco, no município de
Milharal/PE, CEP: 56923-000, por intermédio de seus procuradores
devidamente constituídos nos autos, vem, por intermédio de seus
procuradores devidamente constituídos nos autos, com fulcro no no art. 11
do Estatuto do Idoso c/c art. 1.694 e segs. do Código Civil, ajuizar a presente

AÇÃO DE ALIMENTOS em face de:

TÍCIO DANIEL RODRIGUES, brasileiro, solteiro, dono de rede de hotelaria,


portador do R.G. n° 7238471, inscrito no CPF n° 061.668.409-02, residente e
domiciliado na Rua São Domingos, n° 2636, bairro Guanariba, Itaquequera
/PE, CEP 56941-000, endereço eletrônico desconhecido, telefone: (81)
99275-4309, pelos fatos a seguir expostos:

I - DA JUSTIÇA GRATUITA

Inicialmente, requer a concessão da Assistência Judiciária Gratuita, nos termos do artigo 98


e 99, § 4º do novo Código de Processo Civil e artigo 4º da Lei 1.060/50, por não possuir recursos
suficientes para suprir as custas processuais sem prejuízo de seu sustento.

II – DOS FATOS

Conforme certidão de nascimento em anexo (doc. xx) o autor, nascido em 13/05/1950, tem
72 anos de idade. Observando o Estatuto do Idoso, o artigo 71 da Lei 10.741/2003 coloca que “É
assegurada prioridade na tramitação dos processos e procedimentos e na execução dos atos e
diligências judiciais em que figure como parte ou interveniente pessoa com idade igual ou superior
a 60 (sessenta) anos, em qualquer instância”. Portanto, o autor é idoso aos olhos da Lei, fazendo
jus, assim, à prioridade na tramitação do presente processo, o que de logo assim o requer.

O Requerente foi casada com Palmira Joana Rodrigues, já falecida, sendo que dessa união
adveio o nascimento de um filho, Tício Daniel Rodrigues, ora Requerido. A relação de parentesco
entre as partes resta devidamente comprovada pela certidão de nascimento do réu em anexo
(doc.xx). Desde a morte da esposa, o Requerente deixou de exerce qualquer função remunerada,
devido a tamanha tristeza que o acometeu, e até mesmo por conta de sua avançada idade (72
anos de idade). Por esta razão, o Requerente já não possui condições de arcar com todas suas
despesas, e chegou a ser sustentado por alguns vizinhos e parentes, como sua sobrinha-neta,
Maria da Conceição Rodrigues. Entretanto, nada do filho. De fato, desde a morte da mãe, o
Requerido pouco se comunicou com o pai, ora Requerente, seja pessoalmente ou, até mesmo,
por telefone.

Nesse contexto, vê-se o completo abandono e descaso para com o genitor, considerando
que o filho, ora requerido, não oferece forma alguma de apoio, seja atinente à questão financeira,
muito menos carinho e afeto. Portanto, outra alternativa não restou senão ajuizar a presente Ação
de Alimentos, sobretudo com o propósito de obter auxílio financeiro para garantir as necessidades
básicas do Requerente.

III – DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

Um dos principais direitos garantidos pela Constituição Federal é o da dignidade da pessoa


humana, que deve ser preservado em todas as fases da vida do indivíduo, do nascimento à
velhice. Sendo assim, a obrigação alimentar perseguida é indispensável à subsistência do
Requerente. Esse não pode esperar meses para serem satisfeitas suas necessidades básicas,
devendo assegurar o necessário à sua manutenção.

Art. 230 - A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas,
assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e
garantindo-lhes o direito à vida.

O direito do idoso aos alimentos está explícito no artigo 229 da Constituição Federal ao
dispor que “os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores
têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade”.

Além disso, no plano do Código Civil, os artigos 1.695 e 1.696 preceituam:

“Art. 1.695. São devidos os alimentos quando quem os pretende não tem bens suficientes, nem
pode prover, pelo seu trabalho, à própria mantença, e aquele, de quem se reclamam, pode
fornecê-los, sem desfalque no necessário ao seu sustento.
[...]
Art. 1.696. O direito à prestação de alimentos é recíproco entre pais e filhos, e extensivo a todos os
ascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos em grau, uns em falta de outros. ”

Observa-se o Estatuto do Idoso (Lei 10.741/2003), que consagra em seu artigo 12 que “ a
obrigação alimentar é solidária, podendo o idoso optar entre os prestadores”. Frisa-se que, apesar
das contribuições de outros parentes, como de sua sobrinha-neta, Maria da Conceição Rodrigues,
o Requerente pode optar pela pessoa da família que pretende pleitear alimentos, sendo legítima a
decisão de acionar apenas o filho, ora Requerido, sob égide do artigo 1.591 do Código Civil.
AGRAVO DE INSTRUMENTO – MEDIDA DE PROTEÇÃO A IDOSO COM 82 ANOS DE IDADE –
FIXAÇÃO DE ALIMENTOS PROVISIONAIS – RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA ENTRE OS
FILHOS – ART. 12 DA LEI 10.741/2003 (ESTATUTO DO IDOSO) – EXCLUSÃO DA OBRIGAÇÃO
DE ALIMENTAR – IMPOSSIBILIDADE – IDOSO EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE – ART.
229 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL – DECISÃO MANTIDA – RECURSO DESPROVIDO.
De acordo com o disposto no art. 229 da Constituição Federal, os pais têm o dever de assistir, criar
e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar a amparar os pais na velhice,
carência ou enfermidade. A obrigação alimentar em favor da pessoa idosa é solidária,
consoante o art. 12 do Estatuto do Idoso, podendo a pretensão de satisfação dos alimentos
ser deduzida contra um, alguns ou todos os filhos. A declaração de renda familiar apresentada
pela Agravante não demonstra razões para a exclusão da sua obrigação de pagar parte da verba
alimentar ao seu genitor, a qual foi fixada, de maneira solidária, no valor equivalente a um salário
mínimo vigente.
(Agravo de Instrumento n. 1011618-78.2019.8.11.0000 MT, Relator: Des. Clarice Claudino Da Silva,
Data da decisão 29/11/2019 – grifo nosso).

Feitas estas colocações, vejamos as condições financeiras do Requerido, além das


necessidades do Requerente. Urge comprovar que, de fato, o promovente não tem condições de,
sozinho, arcar com todas suas despesas. Não detém qualquer fonte de renda, e o auxílio de
vizinhos e outros familiares é situação vergonhosa, considerando que possui um filho maior e
capaz que ignora a situação de carência do pai. Todavia, o Requerido possui plenas condições de
contribuir para as despesas do autor, uma vez que é empreendedor de negócio próprio, dono de
uma rede de hotelaria, conforme se verifica nos documentos em anexo (doc. xx). Deste modo, fica
provada e evidente a possibilidade econômica do réu para suprir as despesas para a
sobrevivência de seu genitor.

DOS ALIMENTOS PROVISÓRIOS

Segundo o artigo 300 do Código de Processo Civil combinado com o art. 1.706 do Código
Civil, é licito pedir alimentos provisionais nas ações de alimentos, desde o despacho da petição
inicial, desde que caracterizada a urgência e a probabilidade do direito.

"São chamados a prestar alimentos, em primeiro lugar, os parentes em linha reta, recaindo a
obrigação nos mais próximos em grau, uns em falta dos outros. Assim, se por causa de idade ou
moléstia, a pessoa não pode prover a sua subsistência, deve reclamar alimentos de seu pai, ou de
seus filhos." (Sílvio Rodrigues - Direito de Família - vol. I).

Sobre a fixação de alimentos provisórios à pessoa idosa já decidiu o Tribunal de Justiça de Santa
Catarina:

DIREITO DE FAMÍLIA - AÇÃO DE ALIMENTOS -FIXAÇÃO DE ALIMENTOS PROVISÓRIOS


INDEFERIDA À EXESPOSA - EXISTÊNCIA DE VÍNCULO FAMILIAR - ALIMENTANDA QUE
POSSUI IDADE AVANÇADA (70 ANOS) - NECESSIDADE PRESUMIDA - EXEGESE DO ART.
1.694 DO CÓDIGO CIVIL E ART. 3º DO ESTATUTO DO IDOSO - RECURSO PROVIDO
1. Configurada perfunctoriamente a obrigação alimentar e na falta de outros elementos de prova, a
idade do alimentando não pode ser desprezada para a fixação de alimentos provisórios.
2. Nos moldes do art. 3º do Estatuto do Idoso, é obrigação da família assegurar ao idoso, com
absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde e à alimentação, dever que por
extensão também é atribuído ao ex-cônjuge enquanto perdurar o vínculo.
(Agravo de Instrumento n. 2004.017375-0, Relator: Des. Marcus Tulio Sartorato. Data da decisão:
10/09/2004).

Logo, levando em consideração o binômio da necessidade/razoabilidade, e não havendo


dúvida quanto à obrigação alimentar do Requerido, aparenta-se plenamente razoável a fixação de
pensão alimentícia em favor do Requerente, idoso, no valor de 30% (trinta por cento) dos
rendimentos líquidos do Requerido, considerando que este é filho único do Requerente, e deve
providenciar imediatamente os devidos cuidados ao seu genitor, de forma que consiga suprir
necessidades quanto à alimentação, saúde, moradia, vestuário, etc.

IV – DOS PEDIDOS

Diante do exposto, requer a Vossa Excelência:

a) O recebimento da presente ação em todos os seus termos e com os documentos que a


acompanham;
b) A concessão do benefício de Justiça Gratuita, com fulcro no artigo 5º, inciso LXXIV, da
CF/88, e nos artigos 98 e 99, do CPC;
c) A citação do Requerido, nos termos do artigo 249 do CPC, por carta com Aviso de
Recebimento, e, em caso de citação por Oficial de Justiça, com os benefícios do artigo 212
do CPC, para, querendo, vir contestar a presente ação, sob pena de revelia e confissão;
d) A designação de audiência de conciliação, nos termos do artigo 334 do Código de
Processo Civil.
e) Que sejam concedidos ALIMENTOS PROVISÓRIOS no valor de 30% (trinta por cento) dos
rendimentos líquidos do Requerido, inclusive sobre o 13º salário, gratificação de férias,
horas extraordinárias e verbas rescisórias de caráter remuneratório, excluindo do cálculo
apenas os descontos obrigatórios (INSS e Imposto de Renda), a serem depositados até o
dia 10 de cada mês, na conta corrente de titularidade do Requerente;
f) A intimação do representante do Ministério Público para acompanhar o feito, conforme Art.
698 do CPC;
g) A produção de todos os meios de prova em direito admitidos, inclusive testemunhal, com
oferecimento de rol em momento oportuno, sem prejuízo de qualquer outra que se fizer
necessária no curso do processo;
h) Seja condenado o réu ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios.

Dá-se à causa o valor de R$ 1.000,00 (um mil reais)

Nestes termos,
Pede Deferimento.

VARZINHA/PE, 04 de julho de 2022.

Sabrina Camille Carmen Fabbro


OAB/PE 73.689
DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE
Lei n. 11.419/2006, art. 1º, § 2º, III

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