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AO JUÍZO DA _____ VARA DE FAMÍLIA DA COMARCA DE FORTALEZA –

CEARÁ.

MAYKON DA SILVA GOMES, brasileiro, solteiro, autônomo, portador do


CPF nº. 052.812.233-99 e RG nº. 2003010138035 (Doc. 01), residente e domiciliado
na Rua Teresa Cristina, n° 409, apto 202, CEP: 60.015-140, Centro, Fortaleza - CE
(Docs. 02 e 03), não possui endereço eletrônico, vem respeitosamente, à presença
de Vossa Excelência, por intermédio da Defensoria Pública do Estado do Ceará,
propor a AÇÃO DE OFERTA DE ALIMENTOS, em face de JOÃO EMANUEL
SOUSA DA SILVA, menor impúbere, neste ato representado por sua genitora ANA
PAULA SOUSA GUIA, brasileira, solteira, autônoma, residente e domiciliada na Rua
Princesa Isabel, n° 379, Centro, Fortaleza - CE, CEP: 60.015-060, não possui
endereço eletrônico, pelas razões de fato e direito exposto a seguir:

I - JUSTIÇA GRATUITA E PRERROGATIVAS DA DEFENSORIA PÚBLICA

A parte autora, inicialmente, e com a intermediação da Defensoria Pública


do Estado, postula os benefícios da gratuidade da justiça, em razão de não ter
condições de arcar com as despesas processuais e honorários advocatícios, sem
prejuízo do sustento próprio e de sua família, estando assim enquadrada na situação
legal de necessitada (Doc. 04).
A Lei Complementar nº 80, de 12/01/941, com as inovações operadas por
força da promulgação da LC nº 132/09, prescreve, dentre outras, como prerrogativas
dos membros da Defensoria Pública do Estado:
a) INTIMAÇÃO PESSOAL, mediante entrega dos autos com vista;
b) PRAZO EM DOBRO em todos os atos processuais; e
c) REPRESENTAR a parte independente de INSTRUMENTO DE
MANDATO.

Por oportuno, válido trazermos à colação o disposto no parágrafo primeiro


do art. 5º da Lei Complementar Estadual nº 06, de 28 de maio de 1997, que dispõe
in verbis:
Art. 5º (...)
§ 1º A Defensoria Pública por seus Defensores, representará as
partes em juízo e no exercício das funções institucionais
independentemente de procuração, praticando todos os atos do
procedimento e do processo, inclusive os recursais, ressalvados os
casos para os quais a lei exija poderes especiais.

II – DOS FATOS

O Requerente manteve um relacionamento afetivo com a genitora Ana Paula


Sousa Guia, advindo desse relacionamento um filho, a saber, João Emanuel Sousa
da Silva, que atualmente tem 05 (cinco) anos de idade. Ocorre que a genitora da
criança está dificultando que o autor tenha convívio com o menor, não permitindo
que o mesmo realize visitas a criança. Isso vem ocorrendo há cerca 5 (cinco) meses.

1 “Art. 128. São prerrogativas dos membros da Defensoria Pública do Estado, dentre outras que a lei
local estabelecer: I - receber, inclusive quando necessário, mediante entrega dos autos com vista,
intimação pessoal em qualquer processo e grau de jurisdição ou instância administrativa, contando-
se-lhes em dobro todos os prazos; (...) XI - representar a parte, em feito administrativo ou judicial,
independentemente de mandato, ressalvados os casos para os quais a lei exija poderes especiais;”
(grifos nossos).
Atualmente, o autor não possui vínculo empregatício, sendo profissional
autônomo. Diante desse contexto e dadas suas condições econômicas que são de
valor incerto, objetiva através desta ação ofertar alimentos ao menor no valor de R$
150,00 (cento e cinquenta reais), mediante pagamento à própria genitora, e, por fim,
regularizar as visitas ao filho, tendo livre acesso à participação na vida da criança.

III. DO DIREITO

A presente ação encontra amparo na legislação pátria brasileira no que diz


respeito do dever de alimentar dos pais que está expresso no art. 229 a Constituição
Federal de 1988 que diz:
Art. 229. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos
menores, e os filhos maiores têm o dever e amparar os pais na
velhice, carência ou enfermidade.

Bem como em seu art. 227, que preceitua:


Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à
criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à
saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e a à convivência
familiar e comunitária, além de colocá-los a salvos de toda forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90), em seu art. 22,


prescreve: “Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos
menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer
cumprir as determinações judiciais”.

Ademais, prevêem os arts. 1.632 e 1.694 do Código Civil:


Art. 1.632 - A separação judicial, o divórcio e a dissolução da
união estável não alteram as relações entre pais e filhos
senão quanto ao direito, que aos primeiros cabe, de terem
em sua companhia os segundos.

Art. 1.694 - Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir


uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo
compatível com a sua condição social, inclusive para atender às
necessidades de sua educação.

§ 1º - Os alimentos devem ser fixados na proporção das


necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada;

Vale lembrar que o Autor não está se escusando da obrigação de prestar


alimentos. Pelo contrário, tem toda a pretensão em suprir as necessidades do filho,
tudo na medida de suas possibilidades.

Diante a obrigação do Requerente em prestar o sustento ao seu filho, pode


o mesmo tomar a iniciativa de ofertar alimentos em favor da alimentanda, seguindo a
previsão legal do art. 24 da Lei nº 5478/68, conforme se verifica a seguir:
Art. 24. A parte responsável pelo sustento da família, e que deixar a
residência comum por motivo, que não necessitará declarar, poderá
tomar a iniciativa de comunicar ao juízo os rendimentos de que
dispõe e de pedir a citação do credor, para comparecer à audiência
de conciliação e julgamento destinada à fixação dos alimentos a que
está obrigado.

É, inclusive, o entendimento jurisprudencial sobre o tema, como se depreende do


julgado abaixo adunado:

AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE REGULAMENTAÇÃO DE


VISITAS C/C OFERTA DE ALIMENTOS - PROCESSUAL CIVIL -
DIREITO DE FAMÍLIA - ALIMENTOS PROVISÓRIOS - REDUÇÃO -
ADEQUAÇÃO AO BINÔMIO NECESSIDADE POSSIBILIDADE -
REGULAMENTAÇÃO DE VISITAS - MELHOR INTERESSE DA
CRIANÇA.
1. Deve ser reduzido o valor da obrigação alimentar provisória, para
adequá-lo à possibilidade do alimentante e à necessidade da
alimentanda, de acordo com a realidade de vida demonstrada pelas
partes nos autos.
2. Conquanto não sejam a vontade ou conveniência da genitora
determinantes para estabelecer o direito de convivência de pai e
filha, a tenra idade da menor torna aconselhável que se saiba da sua
rotina para se estabelecer a melhor forma de o genitor e ela
conviverem. (TJMG - Agravo de Instrumento-Cv 1.0145.14.043202-
5/001, Relator(a): Des.(a) Edgard Penna Amorim, 8ª Câmara Cível,
julgamento em 11/09/2015, publicação da súmula em 21/09/2015).

Portanto, não resta saída ao autor, senão bater à porta do judiciário a fim
de ver satisfeita sua pretensão, através da fixação dos alimentos dentro de pura
razoabilidade e respeito ao tripé dos requisitos necessários ao arbitramento da
pensão alimentícia, vale dizer: necessidade do alimentando, possibilidade do
alimentante e proporcionalidade da prestação.

IV. DA FIXAÇÃO DOS ALIMENTOS PROVISÓRIOS

Com a intenção de proteger o Requerido, a legislação prevê a


possibilidade de o Juiz fixar alimentos provisórios já por ocasião do despacho
inaugural da relação processual, os quais passarão a serem devidos a partir da
citação do alimentante, assim como institui o art. 4°, caput, da Lei n° 5.478/68,
verbis:
Art. 4º. Ao despachar o pedido, o juiz fixará desde logo
alimentos provisórios a serem pagos pelo devedor, salvo se o
credor expressamente declarar que deles não necessita.

Já o Código de Processo Civil , em seu art. 300, prevê que:


Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver
elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de
dano ou o risco ao resultado útil do processo.

In casu, é pacífico na jurisprudência o entendimento sobre a


possibilidade da concessão de alimentos provisórios, consoante decisão transcrita:
ALIMENTOS. FIXAÇÃO DE ALIMENTOS PROVISÓRIOS.
ADEQUAÇÃO DO QUANTUM. 1. Os alimentos devem ser fixados
de forma a atender as necessidades do filho menor, dentro das
possibilidades do genitor, o que constitui o binômio alimentar de que
trata o art. 1.694, §1º, do CC.2. Descabe proceder a redução do
valor dos alimentos provisórios, quando o alimentante não
comprova a sua inadequação ao binômio legal. 3. Os alimentos
provisórios poderão ser revistos a qualquer tempo, bastando que
venham aos autos elementos de convicção que justifiquem a revisão.
Recurso desprovido. (TJRS, AI Nº 70067532861, 7ª Câmara Cível,
Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves, Julgado em 16/03/2016).

Portanto, diante da necessidade imediata dos alimentos para o


pagamento das despesas com o menor, deverão ser determinados ALIMENTOS
PROVISÓRIOS na ordem de, aproximadamente, 15% (quinze por cento) do salário-
mínimo vigente, que totaliza a monta de R$ 150,00 (cento e cinquenta reais), a
serem pagos até o quinto dia útil de cada mês.

V. DOS PEDIDOS

Diante de tudo que foi exposto, requer a Vossa Excelência:

EX POSITIS, requer a Vossa Excelência que se digne a:

a) Conceder a GRATUIDADE JUDICIÁRIA para todos os atos


processuais, conforme Declaração de Hipossuficiência em anexo (art. 98, §1º, §5º
CPC);

b) Fixar os ALIMENTOS PROVISÓRIOS a serem pagos pelo Requerente


em favor do Requerido, no importe mensal de, aproximadamente, 15% (quinze por
cento) do salário-mínimo vigente, que totaliza a monta de R$ 150,00 (cento e
cinquenta reais), a serem pagos até o quinto dia útil de cada mês;

c) Requer seja designada audiência de conciliação ou de mediação, nos


termos do art. 319, inc. VII do CPC/2015 e que a Requerida seja devidamente citada
para comparecer à audiência designada para essa finalidade;

d) Intimar o representante do Ministério Público para que apresente as


manifestações que julgar pertinentes;

e) Julgar totalmente PROCEDENTE a presente ação, transformando os


alimentos ofertados e provisórios de, aproximadamente, 15% (quinze por cento) do
salário-mínimo vigente, que totaliza a monta de R$ 150,00 (cento e cinquenta reais),
em definitivos;
Protesta provar o alegado por todos os meios de prova admitidos em
Direito.

Dá-se à presente causa o valor de R$ 1.800,00 (um mil e oitocentos reais).

Nestes termos, pede e espera deferimento.

Fortaleza, 10 de junho de 2023.

______________________________________
Defensor(a) Público(a)

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