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Processo Civil I – 3º Período

Prof.ª: Ana Chrystinne Souza Lima

CASO PRÁTICO 01

MARIETA AUGUSTA AMORIM, nascida em 13-06-2010, é filha de LUIZA


AUGUSTA e DANIEL AMORIM. Os pais da menor conviveram em união estável
de outubro/2008 até março/2015. Acontece que, o Sr. DANIEL deixou o lar,
ficando a menor sob a guarda da mãe. Desde então, a Sra. LUIZA vem arcando,
sozinha, com o ônus de criar e educar a filha menor. Acrescentando que a mãe de
MARIETA é telefonista de uma Concessionária de veículos da cidade de
Redenção-PA, auferindo renda mensal de dois salários mínimos, não possuindo
condições de arcar com as custas processuais sem comprometer seu sustento. O Sr.
DANIEL é dono de uma Panificadora (Panificadora Pão da Hora) e, deste
comércio, obtém uma renda média mensal de R$ 4.000,00 (quatro mil reais),
acrescentando que o mesmo já auferia tal renda quando convivia com a Sra.
LUIZA. Atualmente o pai da menor, constituiu nova família com esposa e filho.
Elabore a medida judicial pertinente para garantir os direitos de MARIETA.
1. CABIMENTO
Considerando a interdependência natural que existe entre as pessoas,
estabelece a lei civil que, estando o indivíduo impossibilitado de prover a própria subsistência,
seja em razão da pouca idade, da velhice, de doença, de falta de trabalho ou qualquer outra
forma de incapacidade, poderá socorrer-se de seus parentes mais próximos, do cônjuge ou do
companheiro, que, diante da natural solidariedade que advém do vínculo familiar ou conjugal,
ficam legalmente obrigados a ajudá-lo, mediante o pagamento de uma pensão a ser fixada
judicialmente. Nesse sentido, o caput, do art. 1.694, do CC declara que “podem os parentes, os
cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de
modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua
educação”.
Os requisitos essenciais da obrigação alimentar são: vínculo de
parentesco ou legal; necessidade do alimentando; possibilidade do alimentante.
A forma mais direta de se requerer judicialmente a fixação de um valor a
título de pensão alimentícia é por meio da “ação de alimentos”; contudo, o interessado também
pode buscar a fixação de pensão nas ações de separação, divórcio, regulamentação de guarda e
alimentos, reconhecimento e dissolução de união estável e até mesmo por meio de um acordo
direto com o obrigado mediante homologação judicial. A legislação ainda permite que a parte
obrigada a prestar os alimentos tome a iniciativa de oferecê-los, ajuizando ação em que declare
seus rendimentos e requerendo a designação de audiência de conciliação, instrução e
julgamento, destinada à fixação da pensão alimentícia a que está obrigado (art. 24, Lei nº
5.478/68).
A petição inicial da “ação de alimentos” deve, além de atender aos
requisitos do art. 319 do CPC, indicar, segundo o art. 2º da Lei nº 5.478/68, as necessidades do
requerente. Deve, ademais, se fazer acompanhar dos documentos pessoais do requerente que
provem a relação legal ou de parentesco, assim como de outros documentos destinados a provar
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eventual incapacidade para o trabalho, assim como as alegadas necessidades de subsistência
(forneço, em item próprio neste capítulo, lista completa dos documentos).
A sentença proferida em ação de alimentos não transita em julgado (art.
15, Lei nº 5.478/68), podendo ser revista a qualquer momento por meio de acordo ou de ação
revisional de alimentos, valendo, salvo disposição em contrário na própria, até que o obrigado
obtenha, por meio de ação de exoneração de alimentos outra sentença que declare o fim do
encargo.
2. BASE LEGAL
O direito de pedir alimentos aos parentes, cônjuge e companheiro
encontra amparo nos arts. 1.694 a 1.710 do Código Civil, sendo que a “ação de alimentos”
encontra-se disciplinada na Lei nº 5.478/68-LA.
3. PROCEDIMENTO
A Lei de Alimentos prevê rito especial, sumaríssimo, para ação de alimentos, qual seja:
I – petição inicial (art. 3º, Lei nº 5.478/68-LA):
Obs.:
a) além dos requisitos dos arts. 319 e 320 do CPC, o alimentando deverá expor na petição inicial
suas necessidades e as possibilidades do alimentante (quanto ganha ou recursos de que dispõe),
requerendo a fixação de alimentos provisórios;
b) o autor deverá fazer prova do parentesco;
c) formados os autos, esses são conclusos para o Juiz, que poderá: (1) determinar que o autor
emende ou complete a inicial no prazo de 15 dias (art. 321, CPC); (2) não recebê-la,
extinguindo o feito (arts. 485 e 330, CPC); 3) recebê-la, fixando imediatamente os “alimentos
provisórios”1 e designando audiência de conciliação, instrução e julgamento;
II – citação (art. 5º, § 2º, Lei nº 5.478/68-LA):
Obs.: o réu será citado para comparecer na audiência de conciliação, instrução e julgamento.
Tendo havido fixação dos alimentos provisórios, será também intimado para efetuar o
pagamento nos termos requeridos na exordial.
III – audiência de conciliação, instrução e julgamento:
Obs.:
a) o não comparecimento do autor implica arquivamento do pedido, e a ausência do réu importa
em revelia, além de confissão quanto à matéria de fato (art. 7º, Lei nº 5.478/68);
b) autor e réu comparecerão à audiência acompanhados de suas testemunhas, três no máximo,
apresentando, nessa ocasião, as demais provas (art. 8º, Lei nº 5.478/68);
c) comparecendo as partes, o juiz tentará a conciliação que, se frutífera, será reduzida a termo e
homologada por sentença. Não obtida a conciliação, o juiz tomará o depoimento pessoal das
partes e das testemunhas, passando, em seguida, a palavra para os Advogados das partes e para
o representante do Ministério Público para suas alegações finais, após o que o juiz renovará a
proposta de conciliação, proferindo em seguida sua decisão.
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IV – sentença:
Obs.: a sentença proferida nesta ação não transita em julgado (art. 15, Lei nº 5.478/68).
O Ministério Público deve ser intimado a intervir em todas as fases do procedimento (art. 9º, Lei
nº 5.478/68-LA).

4. FORO COMPETENTE
Segundo norma do art. 53, II, do CPC, o foro competente para se ajuizar
a ação de alimentos é o do domicílio ou residência do alimentando, id est, aquele que pede o
alimento, o credor. Todavia, o requerente pode, por conveniência, optar pelo foro do domicílio
do réu, regra geral, consoante art. 46 do mesmo diploma, visto que a competência, neste caso, é
relativa.

5. QUESTÕES A SEREM RESPONDIDAS PELO ALIMENTANTE


Com o escopo de viabilizar o melhor resultado possível para o
constituinte, o Advogado deve conversar com ele sobre o caso, procurando obter resposta para
as seguintes questões, entre outras:
•qual o motivo do pedido (separação do casal/doença/desemprego/obrigação paterna ou materna
etc.)?
•quais são as necessidades do autor (gerais)?
•o autor possui conta corrente onde poderá ser depositada a pensão? Caso negativo, desejam a
abertura de uma?
•quais são as condições financeiras do alimentante?
•qual a renda aproximada do alimentante?
•o alimentante trabalha? Onde?

6. DOCUMENTOS
O interessado deve ser orientado a fornecer ao advogado cópia dos
seguintes documentos, entre outros que o caso em particular estiver a exigir:
•documentos pessoais daquele que pede os alimentos e do seu representante, quando este for
menor (RG, CPF, certidão de nascimento e/ou casamento, comprovante de residência, número
de telefone e endereço eletrônico – e-mail);
•comprovantes de despesas gerais do alimentando (por exemplo: água, luz, internet, telefone,
televisão a cabo, alimentos, aluguel, mensalidade escolar, medicamentos, vestuário, lazer etc.);
•laudo médico, sempre que o alimentando tiver qualquer necessidade especial (é importante que
o laudo indique a doença, as limitações, as necessidades e os medicamentos);
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•documentos tendentes a provar as “possibilidades” de pagamento do alimentante (por exemplo:
cópia da página de rede social que mostre bens e viagens, holerites, certidão de propriedade de
bens; extratos bancários e de cartão de crédito; fotos etc.);

•rol de testemunhas (nome, endereço, telefone, e-mail e profissão de ao menos três pessoas que
possam confirmar as necessidades de quem pede a pensão e as possibilidades de quem está
obrigado a pagar).

7. PROVAS
Na ação de alimentos, a prova deve incidir, basicamente, sobre três itens:
a relação de parentesco entre alimentante e alimentando; as necessidades do autor; as
possibilidades do réu.
A relação de parentesco, de regra, prova-se pela juntada da certidão de
nascimento ou casamento.
Quanto às necessidades do alimentando e às possibilidades do
alimentante, prova-se, habitualmente, pela juntada de documentos, tais como declaração de
escola, receitas médicas, recibo de aluguel, declaração do empregador, carteira de trabalho e
pela oitiva de testemunhas, que, limitadas ao máximo de três pela Lei de Alimentos, devem ser,
de regra, conduzidas à audiência de conciliação, instrução e julgamento pela própria parte
interessada, sendo dispensada a apresentação de rol prévio (art. 8º, Lei nº 5.478/68).

8. VALOR DA CAUSA
Segundo norma do art. 292, III, do CPC, o valor da causa, na ação de alimentos, deve ser o
equivalente à soma de 12 (doze) prestações mensais pedidas pelo autor. No caso de o
alimentando estar pedindo apenas uma porcentagem sobre os rendimentos do alimentante, cujo
total é desconhecido no momento da interposição da ação, deve-se lançar como valor da causa
uma importância meramente estimativa, vez que a toda causa deve necessariamente ser
atribuído um valor (art. 291, CPC).

9. DESPESAS
Não constando da petição inicial requerimento de justiça gratuita2 (art.
99, CPC), o autor, antes de ajuizar a ação, deve proceder ao recolhimento das custas
processuais, que, de regra, envolvem a taxa judiciária, o valor devido pela juntada do mandato
judicial e as despesas com diligência do Oficial de Justiça. Os valores dessas custas variam de
Estado para Estado;

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