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2018 - 10 - 01

Alimentos - Direito, ação, eficácia e execução - Ed. 2017


2.AÇÃO

Quando se fala em alimentos, há que se pensar em celeridade e efetividade. Não basta


alguém ter direito a alimentos. Indispensável é assegurar o seu reconhecimento judicial
de forma rápida, por meio de procedimento ágil e de imediata exigibilidade. Afinal, trata-
se de direito que garante a subsistência e a própria conservação da vida.

A tutela diferenciada concedida aos alimentos decorre da urgência em sua percepção.


Em razão da natureza própria dessa verba, quem dela necessita não tem condições de se
manter por suas próprias forças. Sem esse montante, corre-se o risco de abandonar o
credor ao relento, faltando-lhe o mínimo imprescindível à satisfação de uma vida digna.
Ora, essa constatação não se reduz aos casos de alimentos devidos em razão do vínculo de
parentesco ou de casamento. Ao contrário, essa característica subsiste em todas as formas
de alimentos, de modo que todas impõem resposta efetiva e tempestiva da jurisdição.1

Noutras palavras, a sobrevivência do credor e o atendimento de suas necessidades


básicas dependem do pontual pagamento dos alimentos. No dizer de Rolf Madaleno,
diante da inconteste verdade de que a fome não espera, alimentos reclamam rápidas e
descomplicadas soluções, tanto na ação de alimentos como na sua revisão judicial, ou na
execução da pensão impaga.2

A Lei de Alimentos3 foi editada nos idos de 1968, antes mesmo da Constituição Federal
(1988), do Código Civil (2002) e dos dois Códigos de Processo Civil (1973 e 2015). A
possibilidade de a parte adentrar no fórum e verbalizar o pedido de alimentos
diretamente ao juiz, o qual manda o escrivão tomá-lo a termo, tem cheiro de novela do
século passado. Não se pode sequer pensar que tal possa acontecer nos dias de hoje. À
época inexistia o serviço da Defensoria Pública e o Ministério Público não dispunha de
suas múltiplas funções. Apesar de completamente defasada, nunca houve qualquer
preocupação em atualizá-la.

De modo absolutamente injustificado, o Código de Processo Civil tentou ressuscitar a


Lei de Alimentos (art. 693, parágrafo único do CPC), sem atentar que o seu procedimento é
de todo inexequível. A maioria de seus artigos se encontra derrogada, pois temas estão
regulados de maneira mais efetiva na lei processual.

A ressalva feita pelo Código de Processo Civil à vigência da Lei de Alimentos não exclui
a ação de alimentos do capítulo Das Ações de Família (arts. 693 a 699 do CPC), devendo
sujeitar-se às suas especificidades.

Expressamente o Código de Processo Civil tomou para si tão só a execução dos


alimentos, revogando os artigos 16 a 18 da Lei de Alimentos (art. 1.072, V do CPC). Dedica
um capítulo ao cumprimento da sentença e decisão interlocutória que estabelece
alimentos (art. 528 a 533 do CPC) e outro à execução de alimentos estabelecido em título
executivo extrajudicial (art. 911 a 913 do CPC). Os ritos são quase os mesmos, pela
expressa remissão de um ao outro (art. 911, parágrafo único do CPC). Mas há distinções
injustificáveis no que diz com a execução pelo rito da expropriação (art. 528, § 8º e art.
913 do CPC).
A ausência de um rito ágil evidencia o desleixo e a falta de preocupação do legislador
em assegurar efetividade à obrigação alimentar.

O uso do rito especial da Lei de Alimentos é reservado a quem tem prova pré-
constituída da obrigação alimentar: filiação, parentesco, casamento ou união estável. É o
que se chama de prova tarifada.

As ações de divórcio e anulatória de casamento podem ser cumuladas com a ação de


alimentos, quando é possível o uso de via especial, que admite a concessão liminar de
alimentos provisórios. Também as ações revisionais e as exoneratórias seguem o mesmo
procedimento.

A possibilidade de haver cumulação de ações não se limita ao elenco legal (art. 13 da


LA). Basta lembrar as ações de investigação de parentalidade, filiação socioafetiva,
multiparentalidade, bem como as de reconhecimento de união estável, união
homoafetiva e união paralela. Em nenhuma delas existe prova da obrigação alimentar, o
que, em princípio, impediria o credor socorrer-se do rito especial da ação de alimentos.

Assim, precisaria o sedizente credor, primeiro, promover ação de conhecimento, pela


via ordinária, em busca da declaração de existência de vínculo entre as partes gerador do
dever alimentar. Depois do trânsito em julgado da sentença é que poderia ser proposta
ação de alimentos.

No entanto, em face da possibilidade da concessão de tutela provisória de urgência,


cautelar e antecipada, havendo indícios da existência do vínculo de natureza familiar, há
a possibilidade de serem requeridos liminarmente alimentos provisórios (art. 303 do
CPC).

Como diz Cristiano Chaves, exige-se do jurista contemporâneo sensibilidade aguçada,


repulsando repetições de velhas fórmulas, hauridas em tempos remotos e anacrônicos
para os tempos modernos.4

ELEIÇÃO DA DEMANDA

Quem é – ou se considera – titular de direito a alimentos dispõe de mais de uma via


procedimental para buscar o estabelecimento da obrigação alimentar.

Pode propor a ação de alimentos o credor que dispõe de prova da obrigação alimentar,
em decorrência de relação de casamento ou de parentesco – ou seja, se tiver em mãos
certidão de casamento ou de nascimento. Este era o pressuposto para o uso da Lei de
Alimentos. Ao despachar a inicial o juiz deve deferir, desde logo, alimentos provisórios,
ainda que não tenham sido requeridos pelo autor (art. 4º da LA). Tal determinação, no
entanto, acaba por esbarrar na vedação de decisão surpresa (art. 10 do CPC). Proibição
que, pelo jeito, praticamente veda decisões de ofício.

Na união estável, em que existe dever de assistência (art. 1.724 do CC) e obrigação
alimentar (art. 1.694 do CC), inexistindo prova pré-constituída da obrigação alimentar,
para pleitear alimentos o companheiro precisa comprovar a existência da união.

Por construção jurisprudencial é admitido cumular a ação declaratória de existência


da união estável com ação de alimentos, inclusive com a possibilidade de serem
requeridos alimentos provisórios (art. 4º da LA). O deferimento do pedido liminar vai
depender da existência de prova inequívoca da união, bem como da necessidade do
autor, a ponto de gerar no juiz convencimento da verossimilhança das alegações do
requerente.
Do mesmo expediente dispõe o autor da ação de investigação de parentalidade ou
declaratória de filiação socioafetiva. Caso exista algum indício probatório, podem ser
pedidos alimentos provisórios.

Nada impede que o autor adote o caminho do procedimento da tutela antecipada em


caráter antecedente (art. 303 do CPC).

Nas hipóteses de maus-tratos, opressão ou abuso sexual, ao determinar, cautelarmente,


o afastamento do agressor da moradia comum, o juiz deve fixar alimentos a favor da
criança ou do adolescente que dependa do agressor (art. 130, parágrafo único do ECA).

Quando a titular do direito a alimentos é mulher vítima de violência doméstica, ao


denunciar a agressão perante a autoridade policial, pode buscar a aplicação de medida
protetiva. Havendo o dever de prestar alimentos à vítima, por ter existido relação íntima
de afeto entre as partes, a prestação de alimentos provisórios pode ser imposta a título de
medida protetiva (art. 22, V da LMP).

TUTELA ANTECIPADA EM CARÁTER ANTECEDENTE

A ausência de prova pré-constituída da obrigação alimentar não inibe o pedido de


alimentos, por meio do procedimento de tutela antecipada em caráter antecedente.

Como é inquestionável a urgência na obtenção dos alimentos, mesmo inexistindo


vínculo obrigacional que gera dever alimentar, admite a lei, a busca de tutela antecipada,
em caráter antecedente (art. 303 do CPC).

A inicial pode limitar-se ao pedido de alimentos, a título de tutela antecedente,


especificando o autor a pretensão final: o reconhecimento do vínculo parental ou de
convivência entre as partes, gerador do dever alimentar.

Concedida a liminar o autor deve, no prazo de 15 dias ou em outro maior que o juiz
fixar, aditar a inicial, complementando a argumentação, juntando novos documentos e
ratificando o pedido final (art. 303, § 1º, I do CPC)

Caso o demandado não recorra da decisão liminar, ocorre sua estabilização (art. 304 e
§ 1º do CPC). A estabilidade conferida à decisão não gera coisa julgada. Qualquer das
partes pode demandar a outa visando rever, reformar ou invalidar a decisão que se
tornou estável, mas não imutável (art. 304, § 2º do CPC).

O exemplo que se encaixa é a investigação de paternidade. Concedidos alimentos a


título de tutela antecipada, estabilizando-se a decisão pela ausência de recurso, não há o
reconhecimento da paternidade. Somente a fixação alimentar torna-se estável,
conservando seus efeitos enquanto não ocorrer a decisão de mérito.

Competência

Qualquer ação em que haja pretensão alimentar, a competência é do domicílio ou


residência do alimentado ou de seu representante legal.

A competência da ação de alimentos é ditada pela lei processual (art. 53, II do CPC): o
domicílio ou a residência do alimentado. Não importa se a demanda é proposta pelo
credor ou pelo devedor.

Quando o réu é incapaz, a ação deve ser proposta no foro do domicílio de seu
representante ou assistente (art. 50 do CPC), ou pelo detentor de sua guarda, conforme
sumulado pelo Superior Tribunal de Justiça.5

Ainda que haja cumulação de ações, prevalece o foro do alimentando. Apesar de –


injustificadamente – ter acabado o foro privilegiado da mulher, se houver pedido de
alimentos é em seu domicílio que ela propõe as demandas de divórcio, anulação de
casamento e dissolução de união estável.

Quando são buscados alimentos compensatórios, descabido declinar da competência


para o juízo cível.6 Ainda que alimentos compensatórios não sejam nem alimentos e sua
natureza seja indenizatória e não compensatória. A causa de pedir diz com o vínculo de
natureza familiar existente entre as partes.

Em se tratando de ação de investigação de paternidade cumulada com alimentos, o


tema encontra-se sumulado pelo Superior Tribunal de Justiça.7 Havendo pleito alimentar,
fixa-se a competência na sede do juízo de quem pede alimentos.

O idoso tem privilégio absoluto de foro (art. 80 do EI). Também crianças e


adolescentes dispõem dos Juizados da Infância e Juventude, que detêm competência
absoluta para processar e julgar ações que digam com os seus interesses (art. 148, IV do
ECA). Assim, até para a ação de alimentos, quando eles se encontrarem em situação de
risco (art. 148, parágrafo único, g do ECA).

Nas ações de alimentos promovidas contra o Estado por idosos, crianças ou


adolescentes, não ocorre o deslocamento da competência para as varas da Fazenda
Pública.

Intentada ação de alimentos contra a sucessão, não prevalece a regra do juízo


universal do inventário (art. 46 do CPC). A ação de alimentos proposta pelo herdeiro, em
seu domicílio, é a única forma de assegurar a sobrevivência do herdeiro no decorrer do
processo até a ultimação da partilha.

Independente de onde tramitou a ação de alimentos, ações revisionais e exoneratória, e o


próprio processo executório, seguem o critério da competência do domicílio do alimentando.

O privilégio de foro do domicílio é do credor dos alimentos (art. 53, II do CPC). É onde
deve tramitar a ação de alimentos. Havendo mudança de domicílio, quer o credor busque
o cumprimento da sentença, ou o devedor proponha ação revisional ou exoneratória,
estas demandas devem ser propostas no novo domicílio do alimentante.

Não existe nem conexão e nem continência a impor o deslocamento da competência,


até porque, quando tais demandas são propostas, via de regra, a ação de alimentos já foi
julgada.

Como o benefício é assegurado ao alimentando, pode ele abrir mão dessa


prerrogativa e ingressar com a ação no domicílio do alimentante. O réu não pode opor
exceção de incompetência, uma vez que foi obedecida a regra da competência
territorial (art. 46 do CPC).

Em se tratando de cumprimento de decisão judicial em que haja a imposição de


obrigação alimentar, o credor pode optar (art. 516, parágrafo único do CPC): pelo atual
domicílio do executado ou o local onde se encontram bens sujeitos à execução. Também
pode a execução ser proposta no local do domicílio do credor (art. 528, § 9º do CPC).

Ainda que a universalização da competência do domicílio do alimentado atente à sua


condição de credor de alimentos, o procedimento para o exercício deste direito só o onera.
É necessário que solicite ao juízo de origem que proceda à remessa dos autos em que
foram estabelecidos os alimentos para o local onde passou a residir para promover o seu
cumprimento (art. 516, parágrafo único do CPC). Isso significa que terá que peticionar no
juízo onde não mais reside. Para isso precisará lá comparecer e procurar a Defensoria
Pública ou contratar um advogado para providenciar esta diligência absolutamente
desnecessária.

Para promover o cumprimento de alimentos provisórios ou de sentença não


transitada em julgado, o procedimento é autônomo, em autos apartados (art. 531, § 1º do
CPC). Ora, o fato de o cumprimento tramitar em outra comarca não exige que seja nos
próprios autos. Basta cópia da sentença com a certidão de seu trânsito em julgado.

Depois da propositura da ação, em obediência ao princípio da perpetuatio


jurisdictionis, a alteração do domicílio do credor não desloca a competência (art. 43 do
CPC). Esta regra vem sendo flexibilizada no interesse do alimentando. Alterando ele o
domicílio durante a tramitação de qualquer das ações ou execuções, possível, a pedido
seu, o deslocamento dos processos para o local onde passou a residir.8

ALIMENTOS PROVISÓRIOS

Para a concessão de alimentos provisórios, liminar ou incidentalmente, bastam indícios


da existência do vínculo obrigacional.

Os alimentos provisórios, como previstos na Lei de Alimentos, têm natureza material,


caráter satisfativo e são deferidos mediante a prova pré-constituída da obrigação (art. 4º
da LA).

No entanto, para a concessão em sede liminar ou incidental de alimentos provisórios, a


jurisprudência flexibilizou a exigência da prova do vínculo obrigacional que evidencie a
existência da obrigação alimentar: certidão de casamento ou de nascimento.

Como a pretensão alimentar pode ser cumulada com as ações que buscam o
reconhecimento da existência do direito alegado – como na ação declaratória de união
estável e na investigatória de parentalidade –, a fixação de alimentos provisórios passou
a depender somente da presença de indícios da relação geradora do dever alimentar.

Os alimentos provisórios são devidos durante o curso da demanda, até a sentença que
fixa alimentos definitivos, ainda que sujeita a recurso. Alterado o valor dos alimentos
provisórios durante a tramitação da demanda, o novo montante passa a vigorar para as
prestações futuras. A modificação incidental do valor dos alimentos tem efeito ex nunc,
ou seja, passam a valer a partir da data da alteração. Não importa se a modificação foi
para mais ou para menos.

No dizer de Rolf Madaleno, a pensão alimentícia provisória procura amenizar os


nefastos efeitos da morosa tramitação do processo, antecipando o julgador alimentos em
decisão interlocutória, até vencida – e à exaustão – a instrução probatória e apurados
com maior fidelidade o potencial econômico-financeiro do alimentante e a efetiva
necessidade do alimentado.9

Tanto a concessão dos alimentos provisórios como o seu indeferimento, desafiam


recurso de agravo de instrumentos, pela natureza interlocutória da decisão judicial (art.
1.015, I do CPC).

DIVISÃO DOS FRUTOS E RENDIMENTOS


Apesar de chamados de alimentos provisórios, a entrega de parte dos frutos e
rendimentos dos bens comuns não configura obrigação alimentar e nem tem natureza
provisória.

Chama a lei de alimentos provisórios a determinação de entrega de parte da renda


líquida dos bens comuns, correspondente à divisão dos frutos e rendimentos (art. 4º,
parágrafo único da LA). No entanto, tal imposição não tem caráter alimentar e nem
natureza provisória. É nada mais do que a divisão de lucros de bens comuns, dispondo
de natureza indenizatória.

A jurisprudência costuma chamá-los de alimentos compensatórios, ainda que não


o sejam.

Trata-se de verba com função antecipatória e não tem propriamente natureza


cautelar. Como afirma Araken de Assis, os alimentos satisfazem e não apenas asseguram,
como acontece na providência cautelar.10

O fato é que, tanto os alimentos provisórios como a percepção da renda líquida de bens
comuns satisfazem o alimentando desde logo, proporcionando o atendimento de suas
necessidades atuais, não se restringindo a garantir futura possibilidade de fruição.11

Termo inicial

Os alimentos provisórios são devidos desde o momento em que o juiz os fixa.

Não pode ser mais explícita a Lei de Alimentos ao dizer (art. 4º): Ao despachar o
pedido, o juiz fixará desde logo alimentos provisórios.

Antiga Súmula do Supremo Tribunal Federal, inclusive, vai além, ao impor a


retroatividade dos alimentos desde a inicial.12 Ainda que lhe falte clareza e faça
referência ao desquite – antigo nome da separação judicial -, nem por isso é de se ter o
enunciado por revogado.

Certamente a expressão “inicial” se refere à data da propositura da ação, quando é


protocolada em juízo, e não da citação do réu.13

Mesmo assim, boa parte da doutrina e a jurisprudência praticamente unânime


sustentam que os alimentos são exigíveis somente a partir da citação do devedor, com
fundamento equivocado no § 2º do art. 13 da Lei de Alimentos, que fala na retroatividade
dos alimentos definitivos. Portanto, nada a ver com os alimentos provisórios.

Há mais um argumento que tem origem no princípio da igualdade. Mantendo o


devedor vínculo empregatício, ao fixar os alimentos o juiz oficia ao empregador para que
dê início ao desconto da pensão na folha de pagamento do alimentante (art. 529 do CPC).
Os descontos passam a acontecer mesmo antes da citação do réu.

Não mantendo o devedor vínculo laboral, não há como admitir que comece a pagar os
alimentos somente após ser citado. Descabido tratamento discriminatório. Além de deixar
o credor desassistido, se estaria incentivando o devedor a se esquivar do carteiro e se
esconder do oficial de justiça.

Estipulados extrajudicialmente, os alimentos são devidos desde o momento em que o


acordo é firmado. É a manifestação das partes que tem eficácia e independe de qualquer
chancela.
ALIMENTOS DEFINITIVOS

São definitivos os alimentos fixados na sentença, que se sujeita a recurso sem efeito
suspensivo.

São chamados de definitivos os alimentos estabelecidos na sentença, pelo juízo de


primeiro grau. Mesmo que tenham o nome de definitivos, foram estabelecidos em
sentença sujeita a recurso. Quer tenha havido ou não a fixação liminar de alimentos
provisórios, o valor definido na sentença passa a vigorar de imediato, a partir da
publicação da sentença.

O Código de Processo Civil diz que dispõe do só efeito devolutivo o recurso da decisão
que condena à prestação alimentícia (art. 1.012, § 1º, II do CPC). Mais explícita e
abrangente é a Lei de Alimentos (art. 14): Da sentença caberá apelação no efeito
devolutivo.

Mesmo que tenha ocorrido a redução ou a majoração dos alimentos fixados em sede
liminar, passa a vigorar, de imediato, o valor fixado na sentença, Também na exoneração
do encargo alimentar, o recurso não suspende o imediato efeito da sentença.

Apesar de a sentença, independente do seu conteúdo, ter eficácia imediata (art. 1.012,
§ 2º do CPC), em sede recursal é possível o relator conceder efeito suspensivo à
apelação (art. 1.012, § 3º do CPC). Basta o apelante demonstrar a probabilidade de
provimento do recurso e houver risco de dano grave ou de difícil reparação (art. 1.012, §
4º do CPC).

Eficácia retroativa

Os alimentos definitivos possuem efeito retroativo à data da citação, quando não foram
fixados alimentos provisórios, ou se a sentença majorou o valor estabelecido em sede
liminar.

São chamados de definitivos os alimentos estabelecidos na sentença de primeiro grau,


mesmo antes do seu trânsito em julgado.

Empresta a lei efeito retroativo aos alimentos definitivos a partir da data da citação
(art. 13, § 2º da LA).

O efeito ex tunc acontece quando:

- não foram estabelecidos alimentos provisórios;

- o valor fixado liminarmente era inferior ao estabelecido na sentença. Se o valor era


maior, não.

Ou seja, a eficácia retroativa da sentença depende do fato de ter ocorrido aumento ou


diminuição de valores. O tratamento diferenciado decorre do princípio da
irrepetibilidade.

Fixados alimentos provisórios, são eles devidos desde logo. Havendo redução do valor
na sentença ou no julgamento do recurso, a decisão não dispõe de efeito retroativo. Sua
eficácia é ex nunc, ou seja, vale com relação às parcelas vincendas. As prestações
vencidas e não pagas, continuam devidas pelo valor provisório.

Quando fixados alimentos definitivos em valor maior do que a verba provisória é que
se pode falar em efeito retroativo. Transitada em julgado a sentença, o devedor tem de
proceder ao pagamento das diferenças desde a data da citação.14

O mesmo ocorre quando da exoneração do encargo alimentar. A decisão definitiva


não dispõe de efeito retroativo.15

Há que atentar a um detalhe: como os alimentos provisórios são devidos a partir da


data da fixação e os definitivos retroagem à data da citação, a diferença alcança somente
as parcelas vencidas a partir do ato citatório. As prestações vencidas entre a fixação
provisória e a citação permanecem devidas pelo valor fixado em sede liminar. Quando da
cobrança de tais valores, a tendência é não admitir o procedimento da coação pessoal do
devedor.

A retroatividade da obrigação alimentar não decorre somente da sentença. Realizado


acordo na audiência, o valor acertado dispõe do mesmo efeito. Não definido o momento
inicial da exigibilidade, possível a execução dos alimentos acordados, segundo as mesmas
regras dos alimentos estipulados em sentença. Se convencionados judicialmente os
alimentos em montante maior do que os alimentos provisórios, cabe buscar o pagamento
das diferenças.

RECESSO E FÉRIAS FORENSES

As demandas alimentares se processam durante o período de recesso forense, mas os


prazos processuais ficam suspensos.

As chamadas férias forenses – férias coletivas dos tribunais – não mais existem desde
a reforma do Judiciário levada a efeito pela Emenda Constitucional 45/2004. Foi dada nova
redação ao inciso XII, do art. 93 da CF: a atividade jurisdicional será ininterrupta, sendo
vedado férias coletivas nos juízos e tribunais de segundo grau, funcionando, nos dias em
que não houver expediente forense normal, juízes em plantão permanente.

Ainda assim o Código de Processo Civil, em quatro oportunidades, faz referência às


férias forenses (art. 212, § 2º; 214; 215 e 975, § 1º do CPC). Nestes períodos e nos feriados,
não se praticam atos processuais, mas podem ser realizadas citações, intimações e
penhoras, independente de autorização judicial. O prazo para a propositura da ação de
rescisória se findar durante este período prorroga-se até o fim do período de recesso.

A lei processual, atendendo antiga reivindicação da classe dos advogados, implantou o


recesso forense entre os dias 20 de dezembro e 20 de janeiro (art. 220 do CPC). Durante
este período não cessam as atividades do Judiciário, mas suspende-se o curso dos prazos
processuais (art. 220 do CPC).

O Conselho Nacional da Justiça – CNJ expediu Resolução16 autorizando os Tribunais


Estaduais a estabelecerem recesso judiciário, no período de 20 de dezembro a 06 de
janeiro, com a suspensão do expediente forense.

Assim há que se distinguir: férias forenses, recesso judiciário, suspensão dos prazos
processuais e suspensão do expediente forense.

A suspensão do expediente forense durante o período de 20 de dezembro a 06 de


janeiro, nada mais é do que a ressurreição das férias forenses, com regime de plantão
permanente conforme determinação constitucional. Já no restante do período, de 07 a 20
de janeiro, as atividades jurisdicionais seguem normalmente. A justiça não para. No
entanto, ficam suspensos os prazos processuais. Não são realizadas audiências e nem
sessões de julgamento nos tribunais. Ainda que atos processuais sejam publicados, réus
sejam citados, nenhum prazo flui até o primeiro dia útil seguinte ao fim do período de
suspensão.

Os advogados podem ter vista dos processos, retirá-los em carga e obter cópias. Restam
intimados dos atos até então realizados, mas a intimação é considerada como se tivesse
sido levada a efeito depois de findo o período da suspensão.

Estas regras comportam poucas exceções, entre elas as ações de alimentos (art. 215, II
do CPC).

Segundo Sérgio Porto, não é somente a ação proposta pelo credor de alimentos que
merece tramitar de forma ininterrupta. Também a pretensão do alimentante merece
apreciação no período de recesso da justiça. A matéria referente a alimentos provisórios,
quer manejada sob o ponto de vista ativo, quer sob o passivo, merece processamento.17

Mas uma distinção merece ser feita. Não é a demanda de alimentos que tramita
durante o recesso da justiça. Somente as questões urgentes são apreciadas neste período:
pedidos liminares, concessão de tutela antecipada etc. Superada a situação emergencial,
deve o processo aguardar o decurso do período de recesso para ter seguimento.

PROCEDIMENTO DA AÇÃO DE ALIMENTOS

Do rito especial da Lei de Alimentos – ou o que sobrou dela – somente alguns de seus
dispositivos persistem em vigor, devendo ser adotado o procedimento mais ágil e eficaz da
lei processual.

O legislador até tentou criar um procedimento judicial com a celeridade que a fome
exige. Não conseguiu, tais os entraves suscitados pela doutrina, que acabaram acolhidos
pelos juízes. Assim, o sonho de autorizar a parte a adentrar no gabinete do juiz, narrar
suas necessidades e já sair com alimentos fixados e audiência marcada nunca deixou de
ser um simples sonho.

A Lei 5.478/1968 procurou emprestar maior agilidade à imposição da obrigação


alimentar e assegurar efetividade à sua cobrança. Por isso adotou um rito próprio, de
natureza sumária que, de fato, nunca foi aplicado.

O Código de Processo Civil – de modo para lá de irresponsável – manteve sua vigência


(art. 693, parágrafo único do CPC), sem atentar que muitos de seus dispositivos são
absolutamente inaplicáveis. Um exemplo é a possibilidade de, mesmo antes da
distribuição, a própria parte comparecer perante o juiz, formulando verbalmente o pedido
de alimentos. O juiz designa um defensor para assistir o solicitante, o qual, no prazo de 24
horas da nomeação, formula o pedido.

A dispensa da prévia distribuição afronta o princípio do juízo natural. Também a


possibilidade de o autor ir a juízo sem procurador afasta a obrigatoriedade de a parte ser
representada por advogado. Essas práticas sequer chegaram um dia a serem utilizadas.

A Lei de Alimentos sempre teve limitada esfera de atuação. Para ser invocada é exigida
a prova do parentesco ou da obrigação alimentar. Como é prova a ser apresentada pelo
autor quando da propositura da ação, deve acompanhar a petição inicial, e, para isso,
precisa preexistir. Ou seja, a ação não pode ser proposta sem a prova do liame familiar:
certidão de casamento ou registro de nascimento, ainda que dispensada a juntada de tais
documentos (art. 2º, II da LA).
Mas a jurisprudência passou a acolher a possibilidade do uso da via especial para
situações outras. Sempre que os alimentos fossem pleiteados nas ações de investigação de
parentalidade, declaração de filiação socioafetiva, existência de multiparentalidade, bem
como nas demandas de reconhecimento de união estável, homoafetiva ou paralela. A
pretensão alimentar decorre do reconhecimento da existência de tais estruturas
familiares, que, no mais das vezes, não dispõem de prova pré-constituída de sua
existência. Mas nem por isso pode ser cerceado o direito da parte de fazer uso da ação
especial e obter a concessão de tutela antecipada.

A cumulação de tipos de procedimentos diversos somente é possível se adotado o rito


comum. As técnicas processuais diferenciadas, previstas em procedimentos especiais,
também só podem ser adotas se compatíveis com o rito ordinário (art. 327, § 2º do CPC).

No entanto, é impossível impedir a cumulação dos processos de conhecimento e de


alimentos. Necessário admitir que, em um único processo, seja reconhecida a existência
do vínculo que gera a obrigação alimentar e, que a mesma sentença condene o réu a
pagar alimentos.

A possibilidade de serem requeridos alimentos a título de tutela antecipada na ação


de conhecimento, quando houver significativos indícios da relação obrigacional entre as
partes, não gera o mesmo efeito. Como a Lei de Alimentos assegura efeito retroativo à
data da citação (art. 13, § 2º da LA), descabido negar dita eficácia à condenação alimentar.
Perderia o credor todas as parcelas alimentares correspondentes ao tempo de tramitação
do processo.

Negar a incidência de alguns dispositivos da lei especial nos processos ordinários


esbarra em um punhado de princípios constitucionais, como o da igualdade; da
proibição de tratamento discriminatório dos filhos; do reconhecimento da união estável
como entidade familiar, com os mesmos direitos do casamento e, é claro, do princípio de
respeito à dignidade humana.

Legitimidade Ativa

Maioridade do credor

Atingindo o credor a maioridade, seu representante persiste com legitimidade para


figurar na demanda.

Quem detém a legitimidade para propor ação de alimentos é o credor – titular do


crédito alimentar.

Quando o credor é incapaz, vem a juízo pelas mãos de seu representante, seu tutor e
curador. Sendo relativa sua incapacidade, também o assistido precisa firmar a
procuração.

Antes do nascimento, a legitimidade para a ação é da gestante, que pode optar entre
requerer alimentos gravídicos ou alimentos a favor do nascituro. Descabe é cumular
ambos os pedidos, até porque os alimentos gravídicos se transformam em alimentos
provisórios a partir do nascimento (art. 6º da LAG).

Atingindo o credor a maioridade no curso da ação, persiste a legitimidade do


representante para a demanda, não havendo necessidade de haver a substituição da parte
credora,18 nem a outorga de nova procuração.19

No entanto, a tendência é reconhecer a necessidade de o credor dos alimentos, quando


atinge a maioridade, assumir a titularidade da ação.20 Na ação é buscado o
reconhecimento de um direito constituído enquanto o seu titular não dispunha de
capacidade para estar em juízo. Durante todo o período em que o réu não cumpriu com a
obrigação de sustento decorrente do poder familiar, o encargo alimentar foi exercido por
quem representa o filho em juízo. Existe solidariedade na obrigação dos pais. Se somente
um a cumpre, tem até direito de sub-rogação no crédito. E também de prosseguir com a
ação.

Conforme alerta Rolf Madaleno, esta exigência tem dado margem a profundas
injustiças. Ocorrendo a inadimplência, sob o influxo da autoridade parental, muitas vezes
os filhos se negam a prosseguir com a ação em que a guardião busca a cobrança dos
alimentos, sob a justificativa que não querem botar o pai na cadeia. Também não é
incomum serem os filhos compelidos a firmarem falsas declarações ou recibos de quitação
dos alimentos alegando havê-los recebido diretamente do pai, frustrando assim a
cobrança judicial.21

Guarda por terceiro

Quem tem uma criança ou um adolescente sob sua guarda dispõe de legitimidade para
representá-lo na demanda de alimentos contra os genitores.

O guardião tem a obrigação de prestar assistência a quem está sob sua guarda,
inclusive frente aos pais (art. 33 do ECA). A transferência da guarda de filho a terceiro não
enseja nem a suspensão nem a destituição do poder familiar e não subtrai dos pais o
dever de prestar alimentos aos filhos (art. 33, § 4º do ECA).

Sendo o credor de alimentos absoluta ou relativamente incapaz, cabe ser


representado ou assistido por quem detém sua guarda (art. 3º e 4º do CC). Não é a
representação legal que confere legitimidade ao guardião para a ação, mas a guarda de
fato. Assim, se o credor vive na companhia de uma pessoa com quem não tem vínculo de
parentesco, esta pode representá-lo em juízo na ação de alimentos frente aos genitores.

Tanto na separação de fato, como no divórcio consensual e litigioso, o princípio que


deve preponderar é o de não se prescindir da convenção sobre a obrigação alimentícia,
até mesmo quando é determinado que o filho ficará em companhia de outrem, que não os
pais. O fato de um filho permanecer sob a guarda de terceiros não exonera os pais da
prestação de alimentos.22

Conflito de interesses

Quando conflitam os interesses do credor e de seu representante, deve o juiz dar-lhe


curador especial.

Cabe a nomeação de curador especial a favor do incapaz quando os seus interesses


colidirem com os interesses de seus representantes (art. 72, I do CPC), encargo que é
exercido pela Defensoria Pública (art. 72, parágrafo único do CPC).

Talvez o melhor exemplo da possibilidade de haver conflito de interesses, a impedir a


representação, é quando o filho busca alimentos contra a sucessão do pai (art. 1.700 do
CC). Caso sua mãe, que é a sua representante, tenha direito à meação, configura-se conflito
de interesse a justificar a nomeação de curador especial.

O fato de haver a nomeação de um curador não afeta o exercício do poder familiar do


genitor e nem sua condição de representante do filho, em todas as demais situações.
Legitimidade Passiva

Apesar de existir um punhado de obrigados a prestar alimentos, é necessário atender a


ordem de prioridade estabelecida na hora de buscar alimentos.

Como a obrigação alimentar dispõe de várias origens, há um leque de pessoas


obrigadas a prestá-los. A lei estabelece uma ordem de prioridade,
depreferenciabilidade. Indica quem são os obrigados a prestar alimentos, adotando o
mesmo critério do direito sucessório (art. 1.829 do CC). Há certa simetria.

Daí a classificação existente em sede doutrinária:

- obrigados primários – são os parentes mais próximos, os que primeiro devem ser
acionados na busca dos alimentos. Quando a obrigação alimentar decorre da relação de
parentalidade, são considerados como primários os ascendentes: pais, avós e bisavós. Na
demanda de alimentos fruto do vínculo de conjugalidade, os primeiros a serem acionados
são cônjuge ou companheiro.

- obrigados secundários – somente em caso de os primeiros responsáveis não terem


condições de responder ao encargo é que a demanda de alimentos pode ser dirigida
contra os demais parentes: descendentes e parentes colaterais. Mesmo entre os obrigados
secundários há uma ordem de preferenciabilidade. Os primeiros convocados devem ser os
parentes de grau mais próximo.

Ilegitimidade

Desatendido o princípio da proximidade, a quem figurou como réu, cabe alegar sua
ilegitimidade e indicar os obrigados primários.

Quebrada a ordem de prioridades e promovida a ação apenas contra devedor


secundário, além de alegar sua ilegitimidade para figurar no polo passivo da ação de
alimentos, o demandado, no prazo de contestação, deve indicar quem tem a obrigação
primeira de prestar alimentos e requerer sua exclusão do processo (art. 338 do CPC).

O juiz deve intimar o autor para, querendo, alterar a petição inicial substituindo o
réu (art. 338 do CPC). Promovida a alteração, o juiz exclui o réu do processo, fixando
honorários a serem atendidos pelo autor e determina a citação de quem passou a figurar
na ação como réu.

Negando-se o autor a promover a alteração do polo passivo ou, simplesmente, ficando


em silêncio, verificada a ausência de ilegitimidade, o juiz profere sentença resolvendo o
mérito (art. 485, VI do CPC).

Litisconsórcio

Somente quando os parentes mais próximos não têm condições de atender integralmente
ao encargo alimentar, a obrigação recai sobre os parentes de grau imediato.

Ao impor a obrigação alimentar, a lei estabelece uma ordem: a proximidade do grau


de parentesco. Primeiro são convocados os parentes mais próximos em grau. Se eles não
têm condições de atender integralmente ao encargo alimentar, a obrigação recai sobre os
parentes de grau imediato (art. 1.696 do CC). Ou seja, existe um leque de obrigados que
podem ser convocados: uns na falta de outros.

Nada impede que o credor proponha desde logo a demanda contra todos os devedores
do mesmo grau, em litisconsórcio facultativo simples. A sentença estabelece a
proporção com que cada um dos obrigados deve concorrer. É possível, até mesmo, a
propositura da demanda contra devedores que se encontrem em graus diversos, valendo-
se o autor do instituto do litisconsórcio facultativo eventual.23

Mesmo na hipótese em que o litisconsórcio venha a se formar por iniciativa do réu, o


litisconsórcio não é obrigatório. É facultativo o chamamento a integrar a lide (art.
1.698 do CC). A lei usa a locução “poderão ser chamadas”. Proposta a ação de alimentos
contra um dos avós, não é obrigatório o chamamento dos demais ascendentes, pois a
obrigação é divisível e não solidária.24

Na ação promovida pelo filho maior de idade contra um dos genitores, este pode
chamar a mãe ao processo.25

Fixados alimentos intuitu familiae, o crédito é de todos. Proposta ação de redução ou


de exoneração do encargo, com relação a um ou mais credores, é necessária a citação de
todos os beneficiados, formando-se um litisconsórcio passivo necessário.

É o que se chama de direito de reversão, admitida na hipótese de obrigação alimentar


ex delito.26

Nas hipóteses de adoção,27 bem como no confronto entre filiação biológica e


socioafetiva,28 tem sido admitida a busca de alimentos, havendo a possibilidade, inclusive,
do reconhecimento de obrigação concorrente.

Litisconsórcio passivo alternativo sucessivo

Diante da regra da solidariedade instalada em sede de alimentos pelo Estatuto do Idoso,


o credor pode acionar qualquer dos obrigados ou mais de um deles.

Ao figurar na ação, como réu, mais de um obrigado, forma-se um litisconsórcio


passivo. Como existe uma ordem de preferência entre os obrigados, o litisconsórcio que
se instala é sucessivo, de caráter alternativo eventual.

Cabe trazer o exemplo da ação intentada contra mais de um obrigado


simultaneamente: o filho ingressa contra o pai e o avô, pelo fato do genitor não ter
recursos suficientes para atender sozinho os alimentos. Tal proceder atende ao princípio
da economia processual e empresta a agilidade que o crédito alimentar exige.

Quando a sentença reconhece a obrigação do pai de pagar parte dos alimentos e


condena o avô a completar o valor, ambos os pedidos foram acolhidos. Os encargos podem
ser fixados em valores diferenciados, a depender das condições de cada um dos
obrigados. Nesse caso se está frente a um litisconsórcio sucessivo.

Seguindo no exemplo da ação contra pai e avô. Comprovada a impossibilidade de o pai


pagar os alimentos, é condenado o avô a atender a totalidade do encargo. Trata-se de
litisconsórcio eventual.

Como há a obrigação estatal em favor de idosos, crianças e adolescentes, possível


figurar na ação, desde o início, o Estado, em caráter subsidiário. Assim, comprovado que
nenhum parente tem condições de alcançar os alimentos, a Fazenda Pública é condenada
a atender ao pagamento.

DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

Quando há indícios de o devedor fazer uso de mecanismos para reduzir ou excluir o seu
real patrimônio, é possível desconsiderar a existência de pessoas jurídicas para a
quantificação dos alimentos.

A doutrina da desconsideração da personalidade jurídica, chamada de princípio da


disregard, consiste na possibilidade de responsabilização da pessoa física que se encontra
eventual e hipoteticamente protegida por uma pessoa jurídica.29

Além disso, mecanismos de despatrimonialização – sob a denominação de


planejamento sucessório – vêm sendo utilizados em larga escala para driblar encargos
tributários. A constituição de sociedades chamadas de holding dá ensejo a que as pessoas
dos sócios simplesmente desapareçam. Todo o patrimônio figura como sendo de
titularidade de uma pessoa jurídica, percebendo os dirigentes singelos valores a título de
pró-labore, quando é na distribuição de lucros que reside o rendimento efetivo dos sócios.

Com o nome de desconsideração da personalidade, a busca de desvendar estas ações –


ainda que legais, mas antiéticas – está prevista no Código Civil (art. 50) e o procedimento
no Código de Processo Civil (art. 133 a 137).

Esses estratagemas passaram a ser utilizados no âmbito do Direito das Famílias e foi
flagrado por Rolf Madaleno. A aplicação da desconsideração pelo uso abusivo da
personalidade jurídica pode ser levada a efeito por interposta pessoa física: um parente,
cônjuge, convivente ou simplesmente um “laranja”, como expediente de confusão
patrimonial.30 É frequente, por exemplo, que o marido ou pai, sabedor que poderá ser
alvo de uma ação, simule seu patrimônio, esconda bens e se apresente a juízo como um
pobre eremita.31

Como diz Paulo Lôbo, é problemática a apuração das possibilidades no caso de


empresários, pois não interessa apenas o que oficialmente é contabilizado como
rendimentos, pois há variados meios de burlar o credor, em situações invisíveis, com
aparências legais.32

Essas possibilidades investigatórias não se confrontam com os princípios


constitucionais da privacidade e da intimidade do alimentante, pois se sobreleva o
direito à vida do alimentando.

Desconsideração inversa

Na desconsideração inversa da personalidade jurídica afasta-se o princípio da autonomia


patrimonial da pessoa jurídica, responsabilizando-se a sociedade por obrigação pessoal do
sócio.33

É caudalosa a gama de fraudes passíveis de serem perpetradas no fértil terreno do uso


abusivo da personalidade jurídica para frustrar e destruir todas as normas legais e os
comandos jurídicos postos à disposição do dependente alimentar na busca de crédito tão
essencial à sua sobrevivência.34

Quando o embaralhamento indevido do patrimônio ocorre com o afastamento do sócio


do ente empresarial, cabe a desconsideração inversa da personalidade jurídica, com a
responsabilização do ente societário. Muitas vezes o devedor de alimentos esconde-se
atrás de pessoas jurídicas, na tentativa de dificultar a aferição dos seus reais rendimentos.
Por essa razão, vem cada vez mais ganhando espaço, na justiça, o uso da teoria da
desconsideração da pessoa jurídica, que permite desvendar entes societários para
descobrir a real participação de determinado sócio. Sua aplicação atribui à sociedade os
atos do sócio e permite alcançar os bens desviados para o acervo da empresa.35
Justifica-se a desconsideração inversa da personalidade jurídica quando, por exemplo,
o devedor de alimentos se retira do ente societário e transfere suas quotas sociais, para
não manter qualquer vínculo formal com a pessoa jurídica, muito embora prossiga na
administração de fato da empresa através de procuração outorgada por seu atual
sucessor. É legítimo desconsiderar a pessoa física e considerar o ente societário como
responsável frente aos terceiros não componentes do grupo.36

Todas estas manobras configuram fraude contra credores (art. 158 do CC), podendo o
alimentando ajuizar ação de anulação dos negócios jurídicos, demonstrando que o
alimentante, antes desses atos, estava em condições de lhe prestar alimentos.37

O pedido de desconsideração – direta ou inversa – pode ser levado a efeito na petição


inicial ou por meio de procedimento incidente, o que enseja a suspensão do processo.
Pode ser instaurado em qualquer fase do processo de conhecimento ou de cobrança (art.
134 do CPC).

O sócio ou a pessoa jurídica é citado para se manifestar no prazo de 15 dias, abrindo-se


a fase instrutória (art. 135 do CPC).

É considerada interlocutória a decisão proferida pelo juiz (art. 136 do CPC), a desafiar
recurso de agravo de instrumento (art. 1.015, IV do CPC). Da decisão do relator, cabe
agravo interno (art. 1.021 e ss. do CPC).

Acolhido o pedido de desconsideração e reconhecida a ocorrência de fraude à


execução, é ineficaz a alienação ou oneração de bens (art. 137 do CPC). Ou seja, a venda
existe e é válida entre as partes e perante terceiros. Somente não afeta o direito do credor
de alimentos. Para ele, é como se a transação não tivesse existido.

Comprovado que estas fraudes foram realizadas pelo devedor durante o processo,
configura-se conduta processual ilícita, em clara violação do dever de veracidade para
com o juízo (art. 77 do CPC).

ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO

A participação do Ministério Público no processo de alimentos justifica-se quando existe


interesse de incapaz.

Exige a Lei de Alimentos a atuação do Ministério Público (art. 9º e 11 da LA). No


entanto, a lei processual limita sua atuação às demandas em que existe interesse de
incapaz (art. 178, II e 698 do CPC). Apesar do que sustentam alguns, nada justifica
considerar a ação de alimentos como ação de estado envolvendo interesse público ou
social, ou direito indisponível a justificar a presença do Ministério Público em todas as
ações (art. 178, I do CPC).

Proposta a ação de alimentos, mesmo quando se justifica sua participação, não é


necessário o juiz dar-lhe vista antes de apreciar o pedido liminar de alimentos
provisórios. Ao despachar a inicial é que deve determinar sua intimação para a
audiência (art. 9º da LA). A intimação do representante do Ministério Público é
indispensável, não sua presença na solenidade. Sua ausência não impõe o adiamento da
audiência e nem afeta a higidez do ato38.

A falta de intimação enseja a nulidade do processo (art. 279 do CPC). A nulidade só


deve ser decretada após a intimação do agente ministerial que deve se manifestar sobre a
existência ou não de prejuízo. Sem prejuízo, o ato não se repete e nem o processo é
anulado (art. 282, § 1º do CPC).

De ordinário, o Ministério Público atua como custos legis (art. 178 do CPC): fiscal da
ordem jurídica. Mas tem legitimidade para propor ação de alimentos (art. 201, III do ECA)
e agir como substituto processual quando o credor é criança ou adolescente. Do mesmo
modo, pode requerer o chamamento de terceiro a integrar a lide (art. 1.698 do CC), em
face de sua condição de assistente diferenciado.39

Na audiência, realizado acordo, o representante ministerial dispõe de legitimação


extraordinária para se insurgir contra a vontade das partes, pugnando pela não
homologação de acordo ruinoso ao credor de alimentos. Não obtida a conciliação, o
Ministério Público pode recorrer.

Substituto processual

O Ministério Público dispõe de legitimidade para propor ação de alimentos a favor de


crianças e adolescentes, mesmo que eles estejam representados pelo guardião.

Os alimentos devidos aos filhos incapazes podem ser pleiteados pelo Ministério
Público, excepcionando a regra do art. 18 do Código de Processo Civil. A legitimação para
propor e acompanhar ação de alimentos lhe é conferida pelo ECA (art. 201, III).

Como constitucionalmente incumbe ao Ministério Público a defesa dos interesses


individuais indisponíveis (art. 127 da CF), tem legitimidade ad causam mesmo quando a
criança ou o adolescente estão devidamente representados por quem detém sua guarda.40

PROCEDIMENTO DA DEMANDA DE ALIMENTOS

Apesar de mantida a vigência da Lei de Alimentos, os dispositivos que não guardam


pertinência temática com o seu objeto estão derrogados pelos procedimentos mais ágeis da
lei processual.

O Código de Processo Civil – sabe-se lá por que motivo – assegurou vigência à Lei de
Alimentos (art. 693, parágrafo único do CPC). Ainda que mantida em vigor, seus obsoletos
dispositivos de natureza processual, que não guardam pertinência com o seu objeto,
encontram-se derrogados.

 A tentativa de emprestar sobrevida à Lei de Alimentos não subtrai a ação de alimentos


do capítulo que trata Das Ações de Família (arts. 693 a 699 do CPC). Afinal, a ação de
alimentos é, essencialmente, uma ação de família.

Deste modo é necessário pinçar os dispositivos da Lei de Alimentos que permanecem


em vigor e coaduná-los com os procedimentos mais ágeis e modernos da lei processual.
Ainda que não o suficiente!

REGISTRO E DISTRIBUIÇÃO

Como todas as demais, a ação de alimentos deve ser levada a registro e sujeitar-se à
distribuição para só depois ser encaminhada à so juiz para apreciação do pedido liminar.

Todos os processos estão sujeitos a registro. A não ser em comarcas em que exista
somente um juiz, devem ser distribuídos (art. 284 do CPC). A distribuição é alternada,
aleatória e igualitária (art. 285 do CPC).
Nas cidades maiores multiplicam-se as varas das famílias. Assim, é indispensável a
distribuição dos processos entre os juízes com igual competência, o que inibe a prática
autorizada pela Lei de Alimentos (art. 1º, § 1º).

Permitir que a parte eleja o magistrado que irá despachar a inicial afronta o chamado
princípio do juízo natural: ninguém pode escolher o juiz da sua causa!

Para alguém comparecer a juízo, precisa estar representado por advogado, pois sua
presença é indispensável à administração da justiça (art. 133 da CF).

A Defensoria Pública tem estrutura – ou já deveria ter – para atender a todos que têm
direito à assistência judiciária.

Também o Ministério Público dispõe de legitimidade para propor a ação quando o


autor é criança ou adolescente (art. 201, III do ECA) ou houver interesse de incapaz (art.
178, II e 698 do CPC).

PETIÇÃO INICIAL

A inicial da ação de alimentos deve atender a todos os requisitos da lei processual,


dispensada somente a juntada dos documentos probatórios do parentesco ou da obrigação
alimentar, como autoriza a Lei de Alimentos.

A ação de alimentos deve seguir o rito procedimental do Código de Processo Civil.


Também a petição inicial precisa atender aos seus requisitos (art. 319 do CPC).

Não existe a possibilidade – se é que um dia existiu – de o credor dirigir-se


pessoalmente ao juiz expondo sua necessidade como autoriza a Lei de Alimentos (art. 2º
da LA).

Dos artigos 2º e 3º da Lei de Alimentos, só permanece em vigor a dispensa da prova do


parentesco ou da obrigação alimentar do devedor que conste em documento público
(art. 2º, § 1º da LA). Destes é dispensada o reconhecimento de firma (art. 2º, § 2º da LA), ou
seja a autenticação dos documentos. Como todos os processos começam por uma
audiência (art. 334 do CPC), também assim a ação de alimentos. Afinal, trata-se de ação de
família (art. 693 do CPC). Mas são previsões diferentes. Ao contrário do que acontece com
os processos em geral, não adianta as partes declinarem de sua realização (art. 319, VII e
334, § 4º do CPC). Esta prerrogativa não é conferida no âmbito das ações de família. As
sessões de mediação podem se dividir em muitas sessões (art. 696 do CPC), ao contrário do
que acontece nos demais processos, em que a esta fase não pode ultrapassar dois meses
(art. 334, § 2º do CPC).

Além dos requisitos referidos na lei, deve o autor já informar os dados bancários de
quem vai perceber os alimentos.

VALOR DA CAUSA

O autor deve indicar na inicial o montante dos alimentos que necessita e atribuir à causa
o valor correspondente à soma de 12 prestações mensais.

A toda causa será atribuído um valor certo (art. 291 do CPC). Esta exigência serve de
parâmetro para o cálculo dos encargos processuais, bem como para o estabelecimento dos
honorários advocatícios, na hipótese de improcedência da ação (art. 85, § 6º do CPC).
Na demanda de alimentos, como nas demais obrigações de trato sucessivo, o valor da
causa deve corresponder à soma de 12 prestações mensais pleiteadas pelo autor (art. 292,
III do CPC). A Lei de Alimentos não impõe que o autor indique o valor dos alimentos
pretendidos. Determina que a parte exponha suas necessidades e indique
aproximadamente o quanto ganha ou quais os recursos de que dispõe o devedor (art. 2º
da LA).

Como o autor está vivendo sem a contribuição de um dos genitores, não há como
pretender que comprove quais são os seus gastos. Esta exigência limitaria o encargo
alimentar à metade deste montante.

Também é difícil ao autor informar os ganhos do devedor. Muitas vezes não convivem
e nem moram na mesma cidade. Geralmente os filhos, ex-cônjuge ou ex-companheiros
não têm ideia de quanto ganha quem tem o dever de sustentá-los.

Todo mundo sabe da dificuldade que é saber quais os ganhos de alguém,


principalmente quando este alguém tenta ocultar seus rendimentos para livrar-se do
encargo alimentar.

Apesar de todas estas dificuldades, cabe ao juiz fixar os alimentos atentando ao


princípio da proporcionalidade: as necessidades de quem pede e as possibilidades de
quem paga.

Quando o autor, ainda incapaz, busca alimentos de seu genitor, tem ele o direito de
desfrutar da mesma qualidade de vida de quem tem o dever – muito mais do que o poder
familiar – de assegurar-lhe sustento, saúde e educação.

Segundo Yussef Said Cahali, o juiz fixa alimentos segundo seu convencimento, não
constituindo julgamento ultra petita a fixação de pensão acima do solicitado na inicial,
pois o critério é a necessidade do alimentado e a possibilidade do alimentante; a vista de
tal premissa, o pedido, que nas ações similares se formula, é de natureza genérica, donde
não se adstringir a sentença, necessariamente, ao quantum colimado incialmente; o
arbitramento far-se-á a posteriori quando já informado o sentenciante dos elementos
fáticos que integram a equação legal.41

Deste modo, fixados os alimentos aquém do valor pleiteado não gera sucumbência
recíproca a ensejar a repartição dos encargos processuais. E estabelecidos além do valor
indicado, não macula a sentença como ultra petita, não havendo que se decotar o
montante ao valor indicado na inicial.

A impugnação ao valor da causa deve ser suscitada como preliminar da contestação


(art. 293 do CPC), não ocorrendo a suspensão do andamento do processo. Da decisão
acolhendo ou rejeitando a impugnação, não cabe recurso, devendo a irresignação ser
suscitada em preliminar da apelação (art. 1.009, § 1º do CPC).

A correção do valor da causa pode ser levada a efeito de ofício, determinando o juiz a
complementação das custas correspondentes (art. 292, § 3º do CPC).

Nas ações revisionais

Nas ações que visam reduzir ou majorar os alimentos, o valor da causa deve
corresponder a 12 vezes a diferença entre o valor dos alimentos e o montante pretendido
pela parte.

Limita-se a lei processual a indicar o parâmetro para a indicação do valor da causa da


ação de alimentos (art. 292, III do CPC): uma anuidade das prestações pedidas pelo autor.

O critério que baliza a identificação do valor da causa é o proveito econômico


pretendido pelo autor. Este é o argumento invocado para que o valor da causa
corresponda à diferença pleiteada nas ações revisionais de alimentos.

Somente a diferença entre a parcela já estabelecida e a sugerida pelo autor da ação


revisional é objeto da pretensão levada a juízo.42 Assim, quando é buscada a majoração ou
a redução do encargo alimentar estabelecido por sentença ou acordo, não é justo atribuir
à demanda o montante correspondente a 12 vezes o valor total do encargo alimentar.

Este é o critério que vem prevalecendo em sede jurisprudencial.43

Na ação exoneratória

Como o valor da causa reflete o proveito que a parte pretende obter com o processo, na
ação de exoneração deve corresponder a uma anuidade dos alimentos vigorantes.

Quando alguém vai a juízo em busca de um proveito econômico, deve atribuir à


causa o valor que pretende obter. Nas demandas de alimentos, como se trata de
obrigação de trato sucessivo, o valor da causa corresponde a uma anuidade de prestações
(art. 292, III do CPC).

Ao contrário do que acontece nas ações revisionais, que a pretensão do autor é


aumentar ou diminuir o quantum estabelecido, na ação de exoneração, o pedido do autor
é ser dispensado do encargo.

Daí a diferença de critérios. Nas ações revisionais, o valor da causa é o da diferença


pretendida. Na ação de exoneração o proveito econômico preiteado corresponde à
integralidade do encargo alimentar.

Independe o fundamento do pedido exoneratório, se é o fim da necessidade do credor


ou a impossibilidade do devedor de arcar com o encargo, à causa deve ser atribuída uma
anuidade dos alimentos que vinham sendo pagos.44

ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA

Sendo o autor da ação de alimentos incapaz, faz jus à assistência judiciária. É a situação
econômica do credor – e não de seu representante legal –, que justifica a concessão da
gratuidade, e um de seus genitores não está garantindo-lhe o sustento.

O Código de Processo Civil regulamenta a concessão do benefício da assistência


judiciária (art. 98 a 102 do CPC), descabendo invocar os arts. 1º e 2º da Lei de Alimentos,
que se encontram derrogados. O tema não tem pertinência temática com o objeto da lei e
está melhor regulamentado na lei processual.

O pedido de gratuidade deve ser formulado na inicial ou na contestação (art. 99 do


CPC). Presume-se como verdadeira a alegação de insuficiência (art. 99, § 3º do CPC).

Antes de indeferir o pedido, o juiz deve determinar que o requerente comprove os


pressupostos legais para a concessão da gratuidade (art. 99, § 2º do CPC). Ora, quando a
parte não tem renda, não há como provar um fato negativo. Não serve para este fim nem a
cópia da declaração de imposto de renda e nem a carteira de trabalho sem nenhum
registro formal.
A circunstância de a parte estar representada por advogado particular não impede
que seja contemplada com o benefício (art. 99, § 4º do CPC).

                      Nas demandas de alimentos, quando o autor é incapaz e vem a juízo


representado ou assistido por quem detém sua guarda, nada precisa justificar ou
comprovar para livrar-se do pagamento dos encargos processuais. Afinal, o filho vem a
juízo exatamente porque um de seus genitores não está cumprindo com a obrigação de
garantir-lhe o sustento. É da parte, e não de seu representante ou assistente, que é
exigida situação de necessidade para fazer jus à assistência judiciária. Assim, de todo
descabido negar o benefício sob a justificativa de o representante da parte ter condições
de arcar com os ônus do processo. A gratuidade é concedida ao credor, e não ao seu
representante.45

Deferido o pedido, a parte contrária pode impugnar sua concessão na primeira


oportunidade que falar nos autos (art. 100 do CPC).

Da decisão que concede ou nega o benefício, cabe agravo de instrumento (art. 101 e
1.015, V do CPC), exceto quanto a questão for decidida em sentença, contra a qual caberá
apelação.

DESPACHO LIMINAR

Ao despachar a inicial, deve o juiz fixar alimentos provisórios, determinar o desconto dos
rendimentos do réu ou fixar multa para a hipótese de inadimplemento e designar audiência
de mediação.

Ao receber a inicial o juiz deve fixar alimentos provisórios, mesmo quando não
requeridos pelo autor. Pelo que diz a Lei de Alimentos (art. 4º), não cabe a fixação
somente quando o credor declare que deles não necessita.

Deve também oficiar ao empregador do réu para que proceda ao desconto do valor
estabelecido de seus rendimentos, depositando-o em nome do autor, na conta bancária
por ele indicada na petição inicial. Descabido depósito judicial, pois o valor destina-se à
subsistência do autor. No mesmo ofício determina que lhe seja informado, no prazo que
fixar, os rendimentos do empregado ou servidor.

Descabido atrelar o prazo à data da audiência de conciliação e julgamento, como refere


a Lei de Alimentos (art. 2º). Mais interessante que a solicitação seja referente à
remuneração dos últimos três meses, pela possibilidade de haver variações salariais.

 Caso não haja a possibilidade de desconto, indispensável que o juiz já estipule multa
para o caso do inadimplemento. Esta é previsão que existe nas obrigações de fazer e não
fazer (art. 536, § 1º do CPC), mas nada impede que seja utilizada em se tratando de
demanda de alimentos. Afinal, o juiz pode tomar todas as providências para o
cumprimento do julgado (art. 19 da LA). Também pode determinar todas as medidas
indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para assegurar o
cumprimento de ordem judicial, inclusive nas ações que tenham por objeto prestação
pecuniária (art. 139, IV do CPC).

O estabelecimento da multa pode ser levada a efeito ex officio. O autor não necessita
requerer sua imposição, o que não ultrapassa o limite do provimento judicial. Não se pode
falar em decisão ultra ou extra petita. Também descabe falar em decisão surpresa (art.
10 do CPC). Basta lembrar que, em sede de cumprimento de sentença, a incidência da
multa é automática (art. 523 do CPC).
A ressalva do Código de Processo Civil assegurando vigência à Lei de Alimentos (art.
693, parágrafo único do CPC), não subtrai a ação de alimentos das previsões do capítulo
que trata Das Ações de Família (CPC 693 a 699). Deste modo, no despacho inicial, além de
fixar alimentos provisórios, deve ser designada audiência de mediação (CPC 694) ao
invés de audiência de conciliação e julgamento (art. 6º da LA).

CITAÇÃO

A citação do réu deve ser levada a efeito pelo correio, mediante aviso de recebimento, não
devendo acompanhar o mandado cópia da inicial.

A lei processual determina que a citação, em todo o país, seja levada a efeito pelo
correio (art. 246, I e 247 do CPC). Ou seja, não mais cabe expedir carta precatória de
citação. A não ser, é claro, quando o réu se esquiva do carteiro.

Há exceções, em que a citação precisa ser realizada por meio de oficial de justiça.
Entre elas se encontram as ações de estado (art. 247, I do CPC).

Apesar de boa parte da doutrina rotular a ação de alimentos como ação de estado,
nada justifica que assim seja considerada. Sabe-se lá qual o estado a que estaria submetida
a demanda. Quem sabe ao gasoso, já que o credor nada está a receber!

De qualquer modo, a Lei de Alimentos, que tem sua vigência garantida (art. 693,
parágrafo único do CPC), determina a citação do réu pela via postal (art. 5º, § 2º da LA).
Não só quando ele reside na mesma comarca, como também em outro Estado ou país (art.
5º, § 8º da LA). Necessário tão só que o Aviso de Recebimento – AR seja assinado pelo
destinatário. Igual a exigência da lei processual (art. 248, § 1º do CPC). A citação via
correio é citação pessoal, pois é o réu que a recebe (art. 695, § 3º do CPC). Não tem
qualquer importância quem lhe entrega o mandado: o carteiro ou o oficial de justiça.

De todo descabida a expedição de mandado de citação. O oficial de justiça demandará


muito mais tempo para cumprir a diligência, do que quando a citação é realizada pelo
correio. É conhecida a resistência do devedor em se deixar citar. Afinal, sabe da existência
da obrigação alimentar que terá de atender imediatamente, pois, de um modo geral, são
fixados alimentos provisórios.

A citação por mandado só tem cabimento quando frustrada a via postal (art. 249 do
CPC). Esquivando-se o devedor da citação, possível a citação por hora certa (art. 252 do
CPC). Na citação por edital, prevalecem as regras da lei processual (art. 256 do CPC),
porquanto muito mais ágeis. A publicação deve ocorrer pela internet, no site do tribunal e
na plataforma de editais do Conselho Nacional de Justiça (art. 257, II do CPC).

Diante das incontornáveis manobras e subterfúgios utilizados pelo réu para se


esquivar da citação, justifica-se a utilização de meios mais eficazes para localizá-lo, como a
interceptação telefônica. Ainda que a Constituição Federal consagre a inviolabilidade do
sigilo das comunicações telefônicas, salvo, em último caso, para fins de investigação
criminal ou instrução processual penal (art. 5º, XII da CF e Lei 9.296/96), esta é uma das
hipóteses em que a medida se impõe. Afinal, quem não paga alimentos a filhos incapazes
pratica crime de abandono material (art. 244 do CP). E, quando a credora é a mulher, o
não pagamento configura violência doméstica (art. 7º, IV da LMP).

Cópia da inicial

Quando deferidos alimentos provisórios ou outra medida antecipada ou cautelar,


indispensável que a cópia da inicial acompanhe o mandado de citação.
As razões que levaram o legislador a determinar que, para a audiência nas ações de
família, o mandado de citação seja desacompanhado da cópia da inicial (art. 695, § 1º do
CPC), estão presentes na ação de alimentos: não permitir que o réu tenha conhecimento da
argumentação do autor, para facilitar o acordo na audiência de mediação.

No entanto, deferidos alimentos provisórios ou qualquer outra medida cautelar ou


antecipada, indispensável que a contrafé acompanhe o mandado de citação.

É que das decisões provisórias é possível a oposição de agravo de instrumento (art.


1.015, I do CPC), cujo prazo recursal flui a contar da comprovação, nos autos, da citação do
réu (CPC 231), e não depois de frustrada a audiência de mediação (CPC 697).

A possibilidade assegurada ao réu de examinar os autos a qualquer tempo (art. 695, §


1º do CPC), não basta. Descabido que lhe seja imposto o encargo de procurar um advogado
ou defensor público para ir à vara tomar ciência da inicial. Mesmo que se trate de
processo eletrônico, como tramita em segredo de justiça, o réu terá que pedir a habilitação
junto à vara para ter acesso aos autos. E, enquanto isso, o prazo para o recurso está
fluindo.

Deste modo, não desatende ao comando legal o magistrado que, ao conceder uma
liminar em processo de família, determine que a cópia da inicial acompanhe o mandado
citatório.

AUDIÊNCIA DE MEDIAÇÃO

Ao despachar a inicial deve o juiz determinar a realização de uma sessão de mediação


por mediadores ou conciliadores, quando existir tal serviço na Comarca.

A ressalva do Código de Processo Civil, de manter a vigência da Lei de Alimentos (art.


693, parágrafo único do CPC), não subtrai a ação de alimentos do capítulo que trata Das
Ações de Família (art. 693 a 699 do CPC).

Como todas as ações (art. 334 do CPC), também as demandas de família têm início com
audiência de conciliação ou mediação (art. 695 do CPC). Não pode ser diferente com a ação
de alimentos. Melhor seria chamar de sessão de mediação ou conciliação, para não
confundir com a audiência, solenidade presidida pelo juiz.

Como existe vínculo anterior entre as partes, a audiência é de mediação (art. 165, § 3º
do CPC), que pode desdobrar-se em várias sessões (art. 694 e 696 do CPC).

Na maioria das comarcas não existe centro de mediadores e conciliadores ou câmaras


privadas, devidamente capacitados e inscritos em cadastro nacional e perante o tribunal
estadual (art. 167 do CPC). Ainda assim, é indispensável tentar conciliar as partes,
assumindo o juiz esta tarefa, que deve designar uma audiência de conciliação.

Caso não aconteça acordo, passa a fluir o prazo de contestação (art. 697 e 334 do CPC).
A audiência de instrução e julgamento é designada por ocasião do saneamento e
organização do processo (art. 357, V do CPC).

AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO

Melhor atende ao interesse de todos se o juiz, primeiro, designar uma audiência de


conciliação. Inexitosa, passa a fluir o prazo de contestação. Em momento posterior realiza
audiência de instrução e julgamento.
Claro que a intenção da Lei de Alimentos foi imprimir celeridade, mas é difícil – ou
melhor, quase impossível – realizar toda a instrução da ação de alimentos em uma única
solenidade. Como é cabível até a realização de prova pericial e a ouvida de testemunhas
por precatória, o propósito se frustra.

Pelo que diz a lei, as partes devem comparecer à audiência com suas testemunhas (no
máximo três) e demais provas (art. 8º da LA).

A audiência deve ser contínua (art. 10 da LA). A leitura da petição inicial e da resposta
do réu podem ser dispensadas. Depois de ouvidas as partes e o Ministério Público, é
proposta a conciliação (art. 9º da LA). Frustrada a tentativa de acordo, o juiz colhe o
depoimento das partes, ouve as testemunhas e os peritos (art. 9º, § 2º da LA). Cada uma
das partes e o Ministério Público têm 10 minutos para aduzirem alegações finais (art. 11
da LA). Infrutífera nova tentativa de conciliação, o juiz profere a sentença (art. 11,
parágrafo único da LA).

Basta tentar cronometrar a prática de todos esses atos para perceber que o juiz poderia
fazer, no máximo, uma audiência por turno, o que congestionaria de forma absurda a
pauta, a comprometer a própria prestação jurisdicional.

Descabido impor ao réu que apresente a contestação quando aberta a audiência.


Tomar o autor ciência dos seus termos antes de proposta a conciliação só aumenta o clima
de beligerância reinante entre as partes. Fora isso, é complicado determinar o
comparecimento das testemunhas. Feito acordo, elas são liberadas, muitas vezes, depois
de algumas horas. A insatisfação geral todos conhecem.

Deste modo, melhor atende ao interesse de todos – partes, advogados e juiz – a


designação de uma audiência de conciliação.

Quando há conciliadores ou câmaras privadas devidamente credenciadas, ao


despachar a inicial deve o juiz encaminhar as partes a estes profissionais para a
realização, não da audiência de conciliação, mas para sessões de mediação.

Comunicado ao juiz o insucesso da tentativa conciliatória, o juiz abre ao réu prazo para
a contestação, já intimando o autor para apresentar réplica e o Ministério Público a se
manifestar, caso participe da ação.

Na decisão de saneamento e organização do processo, o juiz designa a audiência de


instrução e julgamento (art. 357, V do CPC). No início da solenidade, deve reiterar proposta
de conciliação, independente da prévia tentativa levada a efeito (art. 359 do CPC).

Tentativa de conciliação

A falta de proposta de acordo acarreta a nulidade do processo.

A Lei de Alimentos determina a realização de duas tentativas de conciliação: uma no


início da audiência, depois de apresentada a contestação e ouvido o Ministério Público
(art. 9º da LA); e outra depois de encerrada a instrução e feitas as alegações finais (art. 11,
parágrafo único da LA).

Estes dispositivos se encontram derrogados pela lei processual, que determina ao juiz
que designe audiência de conciliação ou mediação em todos os processos (art. 334 do
CPC), em especial nas ações de família (art. 695 do CPC).

A primeira tentativa é levada a efeito por mediadores e conciliadores devidamente


qualificados e credenciados no cadastro nacional e no tribunal de justiça (art. 167 do CPC).
Quando não existem estes profissionais, cabe ao juiz designar e presidir a audiência
de conciliação. Inexitosa a possibilidade de composição consensual, deve o juiz abrir ao
réu prazo para contestação. O processo terá mais agilidade se, na oportunidade, já
ficarem intimados a se manifestarem na sequência: o autor, para apresentar réplica e o
Ministério Público, se atuar no feito.

A audiência de instrução e julgamento é designada na decisão de saneamento e


organização do processo (art. 357, V do CPC).

Instalada a audiência de instrução, obrigatoriamente presidida pelo juiz, deve ele


tentar conciliar as partes (art. 359 do CPC). Normalmente a proposta de acordo é renovada
depois de ultimada a instrução.

No entanto, é indispensável que ao menos uma tentativa conciliatória seja levada a


efeito, sob pena de nulidade do processo a ser decretada, inclusive, de ofício.46

CONTESTAÇÃO

O prazo da contestação e a indicação do termo inicial de sua fluência são estabelecidos


pela lei processual e não pela Lei de Alimentos.

O juiz, ao despachar a inicial: fixa alimentos provisórios, designa audiência de


conciliação e julgamento fixando prazo “razoável” que possibilite ao réu a
contestação da ação (art. 4º e 5º, § 1º da LA).

Nada justifica dispor o juiz do poder discricionário de fixar o prazo da contestação,


quando a lei processual estabelece que o prazo é de 15 dias (art. 335 do CPC) úteis (art. 219
do CPC). O só fato de se tratar de um procedimento especial, descabido tratamento
diferenciado em ponto que não diz com o objeto da ação.

A Lei de Alimentos não indica o momento do início da fluência do prazo


contestacional, tema que sempre atormentou os advogados. Conta-se da citação? Começa
quando frustrada a tentativa conciliatória? Ou é apresentada na audiência? A lei é clara
ao prever que, aberta a audiência, será lida a inicial e a resposta do réu (art. 9º da LA).
Mas nada diz se a peça já deve ter sido protocolada quando decorrido o prazo de resposta.
De qualquer modo, não é uma prática salutar o autor tomar conhecimento da resposta do
réu, antes de tentativa de conciliação. Só acirra a animosidade entre as partes e dificulta a
possibilidade de acordo. Tanto é assim que nas ações de família o réu não recebe a cópia
da inicial quando é citado para a audiência (art. 695, § 1º do CPC).

Adotar o procedimento da Lei de Alimentos geraria outra questão de ordem prática. Se


a contestação, como sempre acontece, vem acompanhada de documentos, o autor pode
solicitar que lhe seja concedido prazo para se manifestar. Há mais. É complicado impor ao
procurador do réu que elabore a contestação, sendo enorme a chance de tornar-se uma
peça inútil se ocorrer um acordo.

Apesar de – desgraçada e desavisadamente – ter sido ressalvada a vigência da Lei de


Alimentos (art. 693, parágrafo único do CPC), não deixa a ação de alimentos de ser uma
ação de família.

Todas têm início com audiência de mediação e conciliação que pode desdobrar-se em
várias sessões (art. 696 do CPC). Levado a efeito o acordo, sequer há necessidade de
homologação judicial. Para a constituição de título executivo extrajudicial basta o
referendo do Ministério Público, Defensoria Pública, advogados das partes ou dos
conciliadores e mediadores (art. 784, IV do CPC).
Frustrada a tentativa de conciliação, ordinariza-se o processo, passando, só então, a
fluir o prazo de contestação de 15 dias (art. 335 e ss. do CPC) úteis (art. 219 do CPC).

RECONVENÇÃO

Dispõe o réu do direito de reconvenção, tanto na ação de alimentos como nas demais
ações em que há pretensão alimentar.

Quer porque a ação de alimentos dispõe de rito especial, quer porque a demanda tem
natureza dúplice, a tendência da doutrina sempre foi não admitir o oferecimento de
reconvenção. Com base na efetividade do processo – economia, celeridade e
instrumentalidade –, tem-se priorizado a possibilidade de veiculação de pedidos na
própria contestação.47

O fato de os alimentos não admitirem compensação (art. 1.707 do CC) não serve de
justificativa para inibir o réu de fazer uso da via reconvencional, caso pretenda formular
pedido contraposto ao do autor. A compensação não é o único objeto da contestação.48

Sob a justificativa da diferença de ritos, Sérgio Porto admite a reconvenção somente


quando a ação de alimentos tem procedimento ordinário ou se trata de ação revisional ou
de exoneração.49 A restrição não se justifica. Se diferentes os ritos, adota-se o ordinário
(art. 327, § 2º do CPC).

Se, ao invés de opor reconvenção, acabem as partes propondo ações contrapostas: um


pede a exoneração e o outro a majoração dos alimentos, ocorre conexão (art. 113, II do
CPC). Para evitar decisões conflitantes, o juiz deve reunir os processos e proceder à
instrução conjunta e julgamento único na mesma sentença.

Não só na ação de alimentos cabe reconvenção. Por exemplo, na ação de divórcio50 e


de dissolução da união estável o demandado, ao contestar, pode opor reconvenção
pedindo alimentos. Inclusive pode pedir a concessão de alimentos provisórios, alimentos
compensatórios e até o pagamento dos frutos e rendimentos dos bens comuns.

DESISTÊNCIA DA AÇÃO

Contestada a ação, o autor só pode desistir com a anuência do réu.

Depois da contestação, o autor não pode desistir da ação sem o consentimento do réu
(art. 485, § 4º do CPC). Havendo concordância, à luz do princípio da causalidade, o autor é
condenado ao pagamento das custas e honorários (art. 90 do CPC).

Esta regra da lei processual entra em conflito e revoga a Lei de Alimentos, que
determina o arquivamento do processo quando o autor não comparece à audiência (art.
7º da LA).

O arquivamento só existe na fase executória, quando não forem encontrados bens


penhoráveis (art. 921, § 2º do CPC). Assim, não há como o réu concordar ou se opor ao
arquivamento da ação, apesar de, eventualmente, já ter contestado.

Caso tenha havido concessão de alimentos provisórios, a desistência da ação faz


cessar o encargo alimentar, mas o réu não pode buscar o reembolso das importâncias
eventualmente pagas, pois alimentos são irrepetíveis.
REVELIA

Deixando o réu de comparecer à audiência, bem como de contestar a ação, ocorre revelia,
devendo os alimentos ser fixados no montante pretendido pelo autor.

A Lei de Alimentos trata de forma distinta credor e devedor, quando um deles deixa
de comparecer à audiência. Distintas são as sequelas impostas a quem não atende ao
chamado judicial. A ausência do autor enseja o arquivamento do processo, não à sua
extinção, ao autorizar posterior pedido de prosseguimento, sem a necessidade de intentar
nova demanda. Já a omissão do réu importa em revelia, além de confissão sobre a
matéria de fato (art. 7º da LA).

A determinação de arquivamento do processo em face da ausência do autor e a


indispensabilidade do comparecimento do réu, sob pena de ser-lhe decretada a revelia,
não se mantém em pé. Autor e réu podem constituir representante, por meio de
procuração específica, com poderes para negociar e transigir (art. 334, § 10 do CPC).

A ausência injustificada do autor não deve levar ao arquivamento da ação,


principalmente quando os alimentos são buscados por incapazes por meio de seus
representantes. Cabe ao Ministério Público dar prosseguimento à ação (art. 200, III do
ECA). O juiz nomeia curador aos autores, afastando a representatividade do guardião na
ação (art. 72, I do CPC).

O Código de Processo Civil concede tratamento igual à ausência das partes. De forma
absurda reconhece como ato atentatório à dignidade da justiça a ausência injustificada
do autor ou do réu na audiência de conciliação ou mediação, ensejando a aplicação de
multa (art. 334, § 8º do CPC).

O não comparecimento do advogado ou defensor à audiência de instrução e


julgamento, autoriza o juiz a dispensar a produção das provas por ele requeridas (art.
362, § 2º do CPC).

Tanto a Lei de Alimentos (art. 7º) como o Código de Processo Civil (art. 344),
reconhecem que a revelia faz presumir verdadeiras as alegações de fato formuladas pelo
autor, autorizando o juiz a julgar antecipadamente o pedido, proferindo sentença com
resolução de mérito (art. 355, II do CPC). No entanto, os efeitos confessionais da revelia
receberam modulações significativas. Uma delas: as alegações de fato formuladas pelo
autor forem inverossímeis ou estiverem em contradição com a prova constante dos autos
(art. 345, IV do CPC).

A tendência é não admitir que a omissão do réu, por si só, leve à fixação da pensão no
valor pedido na inicial. Os fundamentos são vários. A alegação é de que se trata de ação
de estado, cuja procedência implica em reconhecimento implícito do estado familiar
declarado na inicial.51 Também é invocada a possibilidade de o julgador fixar os alimentos
abaixo ou acima do pedido para afastar os efeitos confessionais da omissão do réu.52
Outro argumento é de o litígio versar sobre direitos indisponíveis (art. 345, II do CPC).
Daí a tendência contrária à aplicação dos efeitos da revelia.53

Lastimável o equívoco da doutrina ao confundir obrigação alimentar com


quantificação do valor dos alimentos. Ora, quando da propositura da ação o autor deve
provar o fato constitutivo do seu direito (art. 373, I do CPC e art. 2º da LA): apresentar
prova pré-constituída da existência do vínculo obrigacional decorrente da relação de
filiação, conjugalidade, companheirismo ou parentesco.

No que diz com a quantificação do valor dos alimentos, nada justifica deixar o juiz de
fixar o valor pleiteado pelo autor, já que há nos autos a prova da obrigação alimentar.
Citado o réu, deixando ele de comparecer à audiência e de contestar a ação, impositivo
que os alimentos sejam fixados no montante pleiteado pelo credor. Ainda que não tenha
recebido cópia da inicial, o réu tem como saber qual é a pretensão do autor, eis que pode
examinar o seu conteúdo a qualquer tempo (art. 695, § 1º do CPC). Assim, seu silêncio
significa concordância com o valor pretendido pelo credor.

De outro lado, não há como exigir que o autor comprove os ganhos do réu. Prova de
difícil acesso, principalmente quando o alimentante se esquiva de pagar alimentos. Ainda
assim, a tendência é atribuir ao autor o ônus de comprovar as possibilidades do réu.54

Nas demandas revisionais, o declínio das possibilidades de pagar do alimentante, ou o


aumento das necessidades do credor de receber alimentos, são assertivas que dependem
de prova. Cabe ao autor comprovar os fatos constitutivos do seu direito (art. 373, I do
CPC). É dele o ônus de provar a alteração em um dos vértices do binômio possibilidade-
necessidade a autorizar o pleito revisional. O silêncio do réu não tem esse condão e a
pretensão esbarra na coisa julgada.55

CHAMAMENTO A INTEGRAR A LIDE

Quando mais de uma pessoa tem obrigação alimentar, dirigida a ação contra somente
um dos coobrigados, os demais podem ser chamados a integrar a lide.

O Código Civil faz indevida incursão na seara processual ao criar nova forma de
intervenção de terceiro (art. 1.698 do CC). Permite que, proposta a ação contra um dos
coobrigados, sejam os demais “chamados a integrar a lide”, figura que não se identifica
com as possibilidades intervencionais da lei processual (art. 125 a 132 e 682 a 686 do CPC).
Para Fredie Didier trata-se de modalidade de intervenção coacta criada para ajudar o
credor. Não cabe tentar enquadrá-la em algumas das espécies de intervenção de terceiro
até então existente.56

Dita figura intervencional, severamente criticada pela doutrina, foi recebida com
reservas pela jurisprudência, resistindo os juízes em admitir a convocação de outros
devedores. O fato é que, acionado somente um dos parentes, é possível ele convocar a
integrar a lide, um, alguns ou todos os demais parentes do mesmo grau.

Além de não identificada a modalidade intervencional, não são estabelecidos


requisitos, forma e efeitos de tal convocação. Essas omissões têm ensejado
questionamentos: será que foi estabelecida a solidariedade entre os parentes obrigados a
prestar alimentos? Se solidariedade há, a forma de intervenção seria o chamamento ao
processo (art. 130 do CPC). No entanto, nunca foi reconhecida a obrigação alimentar
como solidária, mas sucessiva e complementar, condicionada à capacidade de cada
coobrigado.

Com o advento do Estatuto do Idoso, que, de modo expresso, consagra a solidariedade


da obrigação alimentar, é chegada a hora de repensar tudo o que já foi dito ou escrito
sobre a natureza solidária do dever de alimentos. De qualquer modo, como o idoso pode
eleger qualquer obrigado (art. 12 do EI), não cabe o chamamento para integrar a lide
(art. 1.698 do CC), mas o chamamento ao processo (art. 130, III do CPC).57

Como há uma ordem de prioridade entre os obrigados, a faculdade de um chamar


outro para a demanda de alimentos só existe entre os parentes de mesmo grau,
descabendo a convocação dos devedores subsidiários em grau subsequente. A
solidariedade jurídica existe, mas no âmbito de cada grau de parentesco.58 Acionado o
avô, pode ele pretender que venham integrar a ação os avós de outra linhagem. Para
ficar com o exemplo mais recorrente: proposta a ação pelo neto contra o avô paterno, este
só pode chamar à demanda os avós maternos. Não pode convocar seu filho, apesar de ele
ser o pai do autor.

Prosseguindo com os exemplos: intentada a ação contra um irmão, este pode


pretender dividir o encargo com os outros irmãos, parentes do mesmo grau. No entanto, o
irmão não pode chamar ao processo tios, sobrinhos e primos do credor, que são parentes
mais remotos. Proposta a ação contra o tio, este não tem como chamar os primos do
alimentado para a ação. Porém, tanto os tios como os sobrinhos e os primos podem
pleitear que venham a responder pela obrigação os outros parentes do mesmo grau ou os
de grau antecedente.

Tratando-se de ação intentada por filhos maiores contra um dos genitores, já decidiu o
Superior Tribunal de Justiça que este pode chamar à lide o outro.59

Ocorrendo a convocação de outros obrigados, o réu originário – que chamou outrem ao


processo – continua sendo parte passiva na ação, instalando-se um litisconsórcio passivo
facultativo.

Alargamento do polo passivo

A possibilidade de o réu chamar a integrar a lide outros obrigados faz surgir um


litisconsórcio passivo facultativo.

Quando a ação de alimentos é proposta contra um parente, autoriza a lei que outros
parentes do mesmo grau sejam chamados a integrar a lide (art. 1.698 do CC). Dispõe de
legitimidade para chamar os codevedores, as partes e o Ministério Público, quando
intervém no feito.60

Olvida-se o legislador que a ação de alimentos precisa dispor de um procedimento que


assegure celeridade na busca do adimplemento de obrigação alimentar. A possibilidade de
serem citados outros obrigados acaba por atrapalhar o andamento da ação, que dispõe de
rito sumário. A convocação de outra pessoa para integrar a ação provoca grandes
transtornos e, sem dúvida, retarda o andamento do processo. O réu invoca o chamamento
quando da contestação, ou seja, na audiência, o que significa designação de nova data
para o prosseguimento da solenidade.61

De qualquer forma, por expressa previsão legal, acionado somente um dos parentes, é
prerrogativa do réu chamar os demais obrigados a integrar a lide. Negar ao demandado
a possibilidade de convocar os codevedores, além de esvaziar a ratio do próprio
dispositivo legal, importa em onerar excessivamente o acionado, que responderia sozinho
pelo encargo. Caso não pudesse prestar integralmente a verba, prejudicaria os interesses
do alimentado, por ensejar a fixação de alimentos em percentual inferior às suas
necessidades.62

DEPOIMENTO PESSOAL

Apesar da forma assertiva da lei, a tomada do depoimento pessoal das partes não é
obrigatória.

Sempre que a lei utiliza o tempo verbal no futuro está ditando uma regra imperativa
a ser obrigatoriamente cumprida. No que diz com a ouvida das partes diz, a Lei de
Alimentos (art. 9º): o juiz ouvirá as partes litigantes. E acrescenta (art. 9º, § 2º da LA):
não havendo acordo, o juiz tomará o depoimento pessoal das partes.

Mas nem a doutrina tem como indispensável que o juiz colha o depoimento pessoal das
partes.63 Afinal, é ele o destinatário da prova.64

De qualquer modo, é interessante que fiquem consignadas as manifestações das partes,


na audiência de instrução, para oferecer subsídios no caso de o processo ser julgado por
outro magistrado ou em face de eventual recurso.

PROVAS

Das hipóteses legais que dispensam o autor de apresentar as provas quando da


propositura da ação, ao menos a uma delas não há como aferir seu valor probante.

A regra geral é: o autor deve trazer, com a inicial, as provas que subsidiam seu pedido
(art. 319, VI do CPC). Mas a Lei de Alimentos abre exceções dispensando a apresentação
(art. 2º, §1º, II da LA): quando forem documentos públicos; estiverem em poder do réu; ou
de terceiras pessoas que se encontram em lugar incerto e não sabido.

O juiz pode requerer diretamente as provas constantes em documentos públicos. Pode


intimar o réu para apresentar as que estiverem em seu poder (art. 396 do CPC), sob pena
de admitir como verdadeiros os fatos que a parte pretendia provar (art. 400 do CPC).

No entanto, se estiverem em poder de pessoas cujo paradeiro o autor desconheça, não


há como intimá-las a apresentar as provas em juízo. Assim, não há como comprovar sua
existência e veracidade. Tal circunstância, no entanto, não pode ensejar que a prova seja
desconsiderada.

A Lei de Alimentos autoriza o autor a complementar as provas quando da audiência


(art. 8º da LA). O Código de Processo Civil, não. Na inicial o autor tem que indicar as
provas com que pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados (art. 319, VI do CPC). O
réu deve especificar as provas que pretende produzir na contestação (art. 336 do CPC).
Depois destas oportunidades, somente é possível a juntada de documentos novos (art.
435).

Apesar da falta de previsão, das provas apresentadas na audiência, quer pelo autor,
quer pelo réu, impositiva a concessão de prazo para a parte contrária se manifestar (art.
437, § 1º do CPC). A celeridade não pode atropelar o direito ao contraditório e à ampla
defesa.

É admitida a chamada prova emprestada, isto é, a prova produzida em outro processo


(art. 372 do CPC).

Distribuição dos encargos probatórios

Para fixar os alimentos dispõe o juiz de ampla liberdade investigatória, podendo


determinar a inversão do ônus probatório.

Nas ações alimentares, por aplicação subsidiária, vigoram em sua plenitude os


princípios da prova livre (art. 369 do CPC) e da iniciativa oficial (art. 370 do CPC). O
sistema de apreciação é o da persuasão racional (art. 371 do CPC), ou seja, o juiz é livre
na interpretação das provas, mas essa liberdade não vai além da fronteira dos autos.65

O Código de Processo impõe ao autor o ônus de provar os fatos constitutivos do seu


direito (art. 373, I do CPC). Deve comprovar a existência do vínculo que gera a obrigação
alimentar, declinar suas necessidades e informar quanto aproximadamente o devedor
ganha ou quais os recursos que dispõe (art. 2º da LA). Ao réu cabe provar a existência de
fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor (art. 373, II do CPC).

Apesar de ser do autor o ônus de provar os fatos constitutivos de seu direito (art. 373, I
do CPC), não há como onerá-lo com o encargo de provar as possibilidades do devedor
e quantificar os ganhos do réu, dados que somente ele tem acesso.

Normalmente a ação é promovida pelo filho representado por sua genitora, não tendo
nem a mãe e nem o filho como saber os rendimentos do genitor, com quem, normalmente,
não convivem. Desse modo, há que ser atribuído ao alimentante o encargo de provar seus
rendimentos, que gozam de sigilo e integram o direito constitucional à privacidade e à
inviolabilidade da vida privada (art. 5º, X da CF). Não apresentando o réu seus
rendimentos, os alimentos devem ser fixados no valor pleiteado pelo autor.

Como a ação de alimentos tem por objeto prestações pecuniárias, pode o juiz
determinar todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias
necessárias, para descobrir os ganhos do réu (art. 139, IV do CPC). Pode tomar todas as
providências necessárias para seu esclarecimento, inclusive a decretação de prisão do
devedor até 60 dias (art. 19 da LA).

Quando do saneamento e organização do processo, deve o juiz definir a distribuição


do ônus da prova (art. 357, III do CPC). Pode determinar a inversão dos encargos
probatórios diante das peculiaridades da causa, relacionadas à impossibilidade ou à
excessiva dificuldade de a parte cumprir o encargo, ou à maior facilidade de obtenção da
prova do fato contrário (art. 373, § 1º do CPC). A decisão desafia recurso de agravo de
instrumento (art. 1.015, XI do CPC).

Esta possibilidade é o que se chama de distribuição dinâmica do ônus da prova,


defendida por Fredie Didier com base nos princípios da igualdade, da lealdade, da boa-fé,
da solidariedade, do devido processo legal, do acesso à justiça e da adaptabilidade do
procedimento.66 Tal, no entanto, não pode implicar em prova diabólica a quem tem o
ônus de prestá-la.67

Caso o autor seja incapaz em razão da idade, não precisa sequer provar suas
necessidades. São presumidas, ainda que seja salutar decliná-las, principalmente quando
existe alguma peculiaridade a ser atentada na quantificação do encargo, como, por
exemplo, alguma necessidade especial.

Transfere-se ao réu o ônus de demonstrar os fatos modificativos ou impeditivos do


direito do autor, isto é, que ele eventualmente não necessita do quanto alega. Sem tal
prova os alimentos devem ser fixados no montante pleiteado pelo autor.68

Quando a ação é movida contra os avós, cabe ao autor demonstrar que o seu genitor
não tem condições de atender às suas necessidades.

É dos avós o ônus de comprovar a impossibilidade de pagar os alimentos.

Mesmo na obrigação alimentar entre cônjuges ou companheiros, se impõe a inversão


do ônus da prova. É do credor o ônus de provar suas necessidades, ou seja, que não tem
condições de prover à própria subsistência.69

Omitindo-se o devedor do encargo de comprovar os seus ganhos, devem os alimentos


ser fixados no valor requerido pelo autor. Nada justifica deixar de se aplicar os efeitos
confessionais da revelia. Afinal, não se trata de direito indisponível (art. 345, II do CPC).
Ao depois, há a possibilidade de o juiz fazer uma ponderação: se as alegações do autor
forem inverossímeis ou estiverem em contradição com as provas (art. 345, IV do CPC).

Estabelecer os alimentos segundo os sinais externos de riqueza70 e indícios que


evidenciem o padrão de vida do devedor, nada mais é do que atentar ao princípio da
aparência71.

Prova ilícita

Apesar da proibição constitucional de uso de provas ilícitas, no que diz com as demandas
alimentares é possível a relativização deste dogma, fazendo-se uma ponderação de
interesses.

Na ação de alimentos, grande é a controvérsia sobre a utilização de provas ilícitas,


principalmente diante da vedação constitucional (art. 5º, LVI da CF). A tendência é não
admiti-las. Mas há que se fazer uma ponderação de interesses, atentando ao princípio da
proporcionalidade. Algumas provas podem ser admitidas, quando relevantes para o
deslinde da causa e desde que evidenciada ser a única maneira de a parte provar sua
pretensão.

Quando existe interesse de crianças e adolescentes, por exemplo, a interceptação


telefônica pode ser aceita.

Cabe distinguir. A escuta e o registro de conversa por um dos interlocutores não


configura ilícito, ainda que o outro não tenha conhecimento de sua ocorrência. Do mesmo
modo, o acesso a mensagens eletrônicas não viola o sigilo da correspondência quando
obtidas do computador de uso da família.72

Para a certificação das provas obtidas por meio de gravação de mensagens ou


conversas telefônicas, deve a parte fazer uso de ata notarial, quando o tabelião
transcreve e certifica o material que lhe foi apresentado (art. 384 do CPC).

Como o exercício da profissão de detetive particular não é proibido, e a contratação


de seus serviços é lícita, não havendo perturbação da intimidade do investigado, possível
aceitar as provas por ele colhidas.

Rol de testemunhas

A indicação das testemunhas deve constar da petição inicial, não se podendo subtrair das
partes o direito de requerer que as testemunhas sejam intimadas e até ouvidas por carta
precatória.

O Código de Processo Civil determina que o autor, na inicial e o réu, na contestação,


especifiquem as provas que pretendem produzir (art. 319, VI e art. 336 do CPC). Deferida a
produção da prova testemunhal, o juiz fixa o prazo comum, não superior a 15 dias, para
as partes apresentarem o respectivo rol (art. 357, § 4º do CPC).

Como as partes têm o direito de saber, com antecedência, quem são as testemunhas da
parte contrária, não subsiste o dispositivo da Lei de Alimentos que determina às partes
que compareçam à audiência de conciliação e julgamento acompanhadas de suas
testemunhas, em número não superior a três (art. 8º da LA).

A intimação pode ser feita pelo advogado da parte (art. 455 do CPC). Nem sempre as
testemunhas se dispõem a comparecer espontaneamente à audiência, fato que pode vir
em prejuízo de quem deseja produzir a prova. Claro o cerceamento de defesa. Assim, é de
se admitir que as partes requeiram intimação da testemunha. E, se intimada, não
comparecer, é designada nova audiência e a testemunha conduzida “sob vara”, ou seja,
será acompanhada por oficial de justiça devendo responder pelas despesas do adiamento
(art. 455, § 5º do CPC).

Caso a testemunha resida em outra cidade ou Estado, pode ser ouvida por carta
precatória, mas preferencialmente, deve ser por vídeo conferência (art. 453, § 1º do CPC).

Testemunhas incapazes

São considerados incapazes para servir de testemunha, quem tem menos de 16 anos de
idade. Apesar de admitida sua ouvida como informante, deve se evitar o depoimento dos
filhos das partes.

Nem é preciso justificar os motivos de o legislador restringir a ouvida de algumas


pessoas, as considerando impedidas ou incapazes de servirem de testemunha (art. 447 do
CPC). No entanto, nas demandas que dizem com vínculos afetivos, são as pessoas
próximas que melhor conhecem as questões mais íntimas dos relacionamentos familiares.

Ainda que se justifique a ouvida dos familiares como meros informantes, de todo
desarrazoado admitir o depoimento dos filhos das partes, principalmente tendo eles idade
inferior a 16 anos (art. 447, § 1º, III e § 4º do CPC). Nos conflitos envolvendo os pais deve-se
evitar, ao máximo, que eles tenham que tomar partido a favor de um ou de outro. Está
mais do que comprovado que a cobrança de um posicionamento gera severa crise de
lealdade, com sequelas que podem afetar o desenvolvimento psicológico.

Deste modo, ainda que as partes concordem em ouvi-los, deve o juiz indeferir a escuta.
Revelando-se indispensável colher a manifestação, crianças e adolescentes devem ser
ouvidos pela técnica do Depoimento Especial.

Testemunhas impedidas

Ainda que parentes e amigos íntimos sejam impedidos de depor, nas ações de alimentos
cabe serem ouvidos como informantes, emprestando-se valor probante ao seu testemunho.

No que diz com a prova testemunhal, a Lei de Alimentos restringe-se a quantificar o


seu número a três, devendo as testemunhas comparecer à audiência independentemente
de intimação (art. 8º da LA).

Nenhuma destas duas restrições persiste, devendo ser aplicadas as normas da lei
processual. O limite de três testemunhas é por cada fato, não devendo ser arroladas mais
de 10 testemunhas (art. 357, § 6º do CPC).

As partes devem apresentar o rol de testemunhas (art. 450 do CPC), só podendo


substituí-las em hipóteses restritas (art. 451 do CPC). Afinal, a parte contrária tem o direito
de saber quem irá depor. Até para, eventualmente, impugnar o testemunho.

Também não há como a parte obrigar a testemunha a comparecer, daí a necessidade


de ser admitida sua intimação e, inclusive, sua condição coercitiva. A chamada condução
sob vara (art. 455, § 5º do CPC).

Cabe ao advogado:

- informar se a testemunha irá comparecer à audiência independente de intimação,


hipótese em que, sua ausência, significa desistência (art. 455, § 2º do CPC);
- intimar a testemunha, por AR (art. 455, § 1º do CPC);

- solicitar a intimação judicial demonstrando a necessidade (art. 455, § 4º, II do CPC).


Neste caso a intimação será feita por oficial de justiça.

São impedidos de depor: o cônjuge, o companheiro, os ascendentes, os descendentes e


os parentes até o terceiro grau (art. 447, § 2, I do CPC). O amigo íntimo, por sua vez, é
considerado suspeito (art. 447, § 3, I do CPC).

No entanto, nas demandas de família, é indispensável admitir a ouvida dos integrantes


do núcleo familiar. São justamente os parentes e os amigos íntimos que conhecem as
questões referentes à intimidade das partes.

Eles são ouvidos como informantes e não prestam compromisso (art. 447, § 4º do
CPC). Nem por isso seus depoimentos deixam de ter valor probante, ainda que relativo.

Prova pericial

Qualquer das partes pode requerer a produção de prova pericial: o autor na inicial e o
réu na contestação.

A Lei de Alimentos nada diz sobre a realização de perícia. Somente refere que o perito
será ouvido na audiência de conciliação e julgamento, depois de frustrado o acordo e
colhido o depoimento das partes e das testemunhas (art. 9º, § 2º da LA). Ou seja, não
impede sua realização, que, pelo jeito, é levada a efeito após a audiência.

Mais uma vez há que ser adotada a lei processual. A prova pericial deve ser requerida
na inicial pelo autor e na contestação, pelo réu (art. 319, VI e 336 do CPC). Existe uma
exceção. Como diz Sérgio Gischkow Pereira, não é justo que se negue o direito de o autor
pedir prova pericial na réplica se a tal conduzir a resposta do réu.73

Como a realização da prova pericial demora, melhor mesmo é o juiz apreciar o pedido
de sua realização, quando da audiência de instrução. Não há nenhum óbice que se colham
primeiro os depoimentos pessoais e a prova testemunhal, para depois ser ordenada a
perícia. Ganha o processo em rapidez.74

A Lei de Alimentos não prevê a precedência da prova pericial em relação à oral. A lei
de processo determina a realização da perícia antes da audiência de instrução e
julgamento, devendo o perito apresentar o laudo com 20 dias de antecedência (art. 477 do
CPC). Na audiência, peritos e assistentes técnicos prestam esclarecimentos antes de ser
colhido o depoimento pessoal das partes e a ouvida das testemunhas (art. 361, I do CPC).

ALEGAÇÕES FINAIS

A requerimento das partes, as alegações finais podem ser apresentadas por escrito, na
forma de memoriais.

A Lei de Alimentos parece exigir que as alegações finais sejam apresentadas oralmente
e na audiência (art. 11 da LA): Terminada a instrução, poderão as partes e o Ministério
Público aduzir alegações finais, em prazo não excedente de 10 (dez) minutos para cada
um.

No entanto, nada justifica que o juiz indefira pedido formulado por ambas as partes de
que as alegações sejam substituídas por memoriais escritos.75
Para emprestar celeridade ao processo, as partes e o Ministério Público, se atuar no
feito, devem ficar intimadas de que o prazo correrá sucessivamente, sem nova intimação
(art. 364, § 2º do CPC).

SENTENÇA

Tanto além quanto aquém

O juiz pode fixar os alimentos em montante superior ao pleiteado pelo credor ou ofertado
pelo devedor, sem que se possa falar em decisão extra ou ultra petita.

Quando da propositura da ação nem sempre o autor sabe – ou tem meios de saber –
quais os ganhos aproximados de quem lhe deve alimentos. Assim, a indicação dos
recursos de que ele dispõe é estimativo.

O credor deve expor suas necessidades. Não dá para adotar como parâmetro para a
fixação dos alimentos os gastos comprovados, pois está sobrevivendo sem a contribuição
de somente um dos genitores.

Como os alimentos devem obedecer ao princípio da proporcionalidade, diante destas


limitações probatórias, o magistrado pode fixar os alimentos em valor além do que foi
pleiteado.

Também, na ação de oferta de alimentos, o estabelecimento do valor não está adstrito


ao quantum oferecido pelo autor. Mesmo que o credor não tenha feito uso da via
reconvencional, o juiz tem a faculdade de estipular alimentos em montante superior ao
ofertado, sem com isso transbordar os limites da demanda.

Em qualquer dessas hipóteses, o magistrado não se sujeita ao princípio da


congruência, que restringe a decisão judicial ao limite dos pedidos das partes (art. 2º, 141
e 492 do CPC). É com as provas vindas ao processo que o juiz quantifica os alimentos,
atento à diretriz norteadora do encargo: o critério da proporcionalidade. Desse modo pode
fixar a verba alimentar em valor superior ao pleiteado pelo credor ou o oferecido pelo
devedor, sem que se possa falar em decisão extra ou ultra petita.76

Quando os alimentos se destinam a incapazes, pode o juiz negar homologação ao


acordo, se a estipulação desatende flagrantemente os interesses do credor. Outro não é o
motivo que impõe a participação do Ministério Público nestas ações (art. 179 e 698 do
CPC).

Eficácia imediata

A sentença que fixa, reduz, majora ou exonera encargo alimentar, tem eficácia imediata,
ainda que sujeita a recurso.

Depois das alegações finais e da renovação da tentativa de conciliação, cabe ao juiz


prolatar a sentença (art. 11, parágrafo único da LA). Apesar da aparente imposição de que
a sentença seja proferida na solenidade, descabido obrigar o juiz a que assim proceda.

Se o magistrado tem outras audiências na sequência, ou se a lide é intrincada, não há


como negar-lhe a possiblidade de um exame mais acurado dos autos, fora da audiência,
não havendo como alegar sua nulidade.77 Deve a sentença ser proferida no prazo de 30
dias (art. 366 do CPC), Mas o inadimplemento deste prazo não gera qualquer sequela, nem
para o juiz – sempre assoberbado de trabalho – nem para o processo.
Mesmo que não tenha o autor requerido sua imposição, pode o juiz, de ofício, estipular
multa para o caso do inadimplemento, o que não ultrapassa o limite do provimento
judicial. Não se pode falar em decisão ultra ou extra petita ou decisão surpresa (art. 10
do CPC). O fundamento está na lei. Basta lembrar que, em sede de cumprimento de
sentença, a incidência da multa é automática (art. 523, § 1º do CPC). É o que sustenta Paulo
Lôbo. A possibilidade do estabelecimento da multa quando da sentença, com certeza, é
fator de inegável utilidade para a persuasão do provedor dos alimentos a cumprir, no
prazo, o dever de depositar a prestação.78

Publicada a sentença, seu efeito é imediato. Eventual recurso dispõe só do efeito


devolutivo (art. 1.012, § 1º, II do CPC). Apesar de a lei processual fazer referência,
apenas, à sentença que “condena” ao pagamento de alimentos, a Lei de Alimentos é mais
precisa (art. 14 da LA): Da sentença caberá apelação no efeito devolutivo. Ou seja,
quando a obrigação alimentar é imposta, majorada, reduzida ou extinta, o comando
sentencial passa a valer, de imediato, mesmo que tenham sido fixados alimentos
provisórios em valor diverso.79

RECURSO

De decisão interlocutória

Da decisão que concede ou nega alimentos provisórios cabe agravo de instrumento.

Alimentos provisórios, a título de tutela antecipada, podem ser requeridos quando da


propositura da ação ou incidentalmente, enquanto tramita o processo.

Concedido ou negado os alimentos, a manifestação judicial desafia recurso de agravo


de instrumento (art. 1.015, I do CPC) que possui, de regra, efeito meramente devolutivo.

Deferidos ou indeferidos alimentos quando da sentença, o recurso cabível é o de


apelação.

Da sentença

Contra a sentença proferida em demanda de alimentos, o recurso dispõe do só efeito


devolutivo.

A Lei de Alimentos atribui à sentença proferida em ação de alimentos somente o


efeito devolutivo (art. 14 da LA). A lei processual impõe restrição a essa regra: confere
efeito devolutivo exclusivamente à sentença que condena ao pagamento de prestação
de alimentos (art. 1.012, § 1º, II do CPC).

Apesar da distinção, a depender da natureza da sentença, está mais do que consolidado


o entendimento que da sentença que decide sobre alimentos – seja concedendo ou não ao
pagamento, seja modificando ou extinguindo a obrigação alimentar – o recurso dispõe
sempre do só efeito devolutivo.

Alterando a sentença o valor dos alimentos provisórios – para mais ou para menos –, o
novo valor passa a vigorar de imediato.80

Possível a concessão de efeito suspensivo ao recurso, mediante pedido dirigido ao


tribunal. O relator designado para apreciar o pedido, fica prevento para o julgamento do
recurso (art. 1.012, § 3º, I do CPC).

O recurso pode ter efeito suspensivo ou efeito ativo. Depende do comando sentencial.
Negados alimentos, possível o relator, em antecipação de tutela, concedê-los. Em todas as
outras hipóteses cabe o pedido de efeito suspensivo, para que a decisão não produza efeito
até o julgamento do recurso (art. 1.019, I do CPC).

A previsão de que os alimentos provisórios persistem até o julgamento do recurso


extraordinário (art. 13, § 3º da LA) não mais vigora. Decisões de segundo grau se sujeitam
a recurso extraordinário, perante o Supremo Tribunal Federal, quando alegada afronta
a dispositivo constitucional (art. 102, III, a da CF). A ofensa à legislação infraconstitucional
desafia recurso especial perante o Superior Tribunal de Justiça (art. 105, III, a da CF).

Tanto o recurso extraordinário como o recurso especial dispõem apenas de efeito


devolutivo (arts. 995 e 1.029, § 5º do CPC). Apesar de serem recursos que não têm efeito
suspensivo (art. 995 do CPC), de todo descabido que uma decisão proferida em sede
liminar, deferindo alimentos provisórios, persista depois da sentença definitiva, proferida
depois do crivo do contraditório.

Nas demandas cumuladas

Quando existe cumulação de demandas, sendo uma delas de alimentos, possível


emprestar efeitos recursais distintos para cada uma das ações.

Quando a imposição da obrigação alimentar depende do reconhecimento do vínculo


obrigacional entre as partes, possível a cumulação de demandas – que a lei chama de
cumulação de pedidos – mediante a adoção do rito comum (art. 327, § 2º do CPC).

Ocorrendo cumulação de ações, sendo uma ação prejudicial à outra, somente no caso
de reconhecimento do vínculo familiar – parentalidade, conjugalidade ou solidariedade –
é que cabe ser apreciada a pretensão alimentar.

Nas ações de investigação de parentalidade e reconhecimento de união estável,


inexistindo prova pré-constituída da obrigação alimentar, o jeito é propor as duas ações
em uma mesma demanda, pedindo a concessão de alimentos a título de antecipação de
tutela.

Caso tenham sido deferidos alimentos provisórios, julgada improcedente a ação


principal, cessa o encargo alimentar. A ação de conhecimento desafia recurso de apelação
nos efeitos suspensivo e devolutivo (art. 1.012 do CPC). Já a ação de alimentos dispõe
apenas do efeito devolutivo (art. 1.012, § 1º, II do CPC e art. 14 da LA). Ainda assim, passa a
vigorar o comando sentencial, não mais sendo devidos os alimentos. Possível, no entanto,
pedido de concessão de efeito suspensivo diretamente no segundo grau (art. 1.012, § 3º do
CPC).

Não deferidos alimentos em sede liminar, vindo a ser acolhidas ambas as ações, com
a fixação de alimentos, estes passam a ser devidos de imediato, mesmo que a apelação do
processo principal disponha do duplo efeito. A cisão dos efeitos recursais é admitida
quando são resolvidas diferentes questões e pedidos em uma mesma sentença.81

Quando do trânsito em julgado da sentença, os alimentos dispõem de efeito retroativo


à data da citação do réu (art. 13, § 2 da LA).

Recurso especial

No âmbito do recurso especial não cabe reexame de matéria de fato, mas é possível a
busca da revaloração da prova.
O uso do recurso especial perante o Superior Tribunal de Justiça vem se tornando cada
vez mais inacessível. Súmula não admite pedido de reexame de matéria de fato.82 Assim,
em matéria de alimentos é difícil conseguir que o recurso seja admitido.

No entanto, tem sido aceita a revaloração da prova83. Ou seja, é possível emprestar


significado diverso aos fatos que ensejaram a decisão recorrida. Ora, se o próprio Superior
Tribunal de Justiça admite revisar provas e assim alterar os alimentos, a mesma lógica
deveria ser aplicada quanto ao valor da pensão alimentícia. No dizer de Leonardo
Beraldo, trata-se de dois pesos e duas medidas.84

COISA JULGADA

A sentença proferida em ação de alimentos produz, sim, coisa julgada material.

Diz a Lei de Alimentos, com todas as letras (art. 15): “A decisão judicial sobre
alimentos não transita em julgado”. A assertiva, no entanto, é imediatamente
contraditada: a qualquer tempo pode ser revista, em face da modificação da situação
financeira dos interessados.

  Apesar de não ser verdadeira a afirmativa legal, o equívoco se justifica. A coisa


julgada material torna imutável e indiscutível a decisão de mérito da qual não cabe mais
recurso (art. 502 do CPC). Como a obrigação alimentar é de trato sucessivo, dilatando-se
por longo tempo, é comum ocorrer aumento ou redução quer das possibilidades do
alimentante, quer das necessidades do alimentando. Como os alimentos devem atender ao
critério da proporcionalidade (art. 1.694, § 1º do CC), havendo alteração nesse
parâmetro, é possível, a qualquer tempo, ser revisto o valor do encargo (art. 1.699 do CC).
Essa possibilidade revisional, diante da alteração da situação financeira dos interessados,
leva à falsa ideia de que a sentença que fixa alimentos não se sujeita à imutabilidade. Mas,
estabelecida a obrigação alimentar, atinge a condição de coisa julgada material, não
podendo novamente essa questão ser examinada.85

A alteração de um dos vértices do binômio alimentar, ao autorizar o pedido de revisão,


reforça a assertiva, consagrada na doutrina, de que a sentença de alimentos faz coisa
julgada. Tanto que, se não comprovada modificação das condições de quem paga ou de
quem recebe alimentos, a sentença, reconhecendo a ocorrência de coisa julgada, não
resolve o mérito (art. 485, V do CPC).

A imutabilidade diz com a situação reconhecida na sentença. Para a pretensão


revisional não esbarrar na coisa julgada é necessário que a parte comprove ter havido
mudança da situação que havia sido trazida a juízo. Assim, a nova sentença não afronta o
que já estava decidido. Não há repetição da mesma demanda. Dos elementos
identificadores da ação – partes, pedido e causa de pedir –, na ação revisional é preciso
comprovar a ocorrência de nova causa de pedir para justificar novo pedido.

Nas relações jurídicas continuativas, a sentença tem implícita a cláusula rebus sic
stantibus. A ação revisional é outra ação. Ainda que as partes e o objeto sejam os mesmos,
é diferente a causa de pedir. O que autoriza a revisão é a ocorrência de fato novo
ensejador de desequilíbrio do encargo.

A questão é colocada em termos técnicos pela lei de processo ao estabelecer que o juiz
não decidirá as questões já decididas, salvo se, tratando-se de relação jurídica
continuativa, sobreveio modificação no estado de fato ou de direito (art. 505, I do CPC).86
Portanto, a sentença que decide sobre alimentos transita em julgado em relação à situação
de fato existente no momento em que foi proferida. Não havendo alteração de qualquer
dos vértices do binômio alimentar – possibilidade-necessidade –, a pretensão revisional
afronta a coisa julgada.87

E, se há coisa julgada, possível a propositura de ação rescisória.

Possibilidade revisional

Apesar de a sentença se sujeitar à coisa julgada, justifica-se a possibilidade de os


alimentos serem revisados se houve desatendimento ao princípio da proporcionalidade
quando da sua fixação.

Mesmo que ocorra coisa julgada em sede de alimentos, prevalece o princípio da


proporcionalidade. Estipulado o encargo – quer por acordo, quer por decisão judicial –,
possível é sua revisão caso tenha sido desatendido o parâmetro possibilidade-necessidade.

Independentemente de não ter ocorrido alteração, quer das possibilidades do


alimentante, quer das necessidades do alimentado, admissível a adequação do valor dos
alimentos a qualquer tempo. Essa é a única forma de impedir a perpetuação de
flagrantes injustiças.

Caso tenham sido fixados os alimentos sem que, por exemplo, saiba o credor dos reais
ganhos do devedor, ao tomar conhecimento de que o valor estabelecido desatendeu ao
princípio da proporcionalidade, cabe buscar a redefinição, sem que a pretensão confronte
a coisa julgada.

Não se pode olvidar que é do devedor o ônus de comprovar os seus ganhos. Caso tenha
ele descumprido tal dever, não pode se beneficiar da própria torpeza escudando-se na
imutabilidade da sentença.

AÇÃO RESCISÓRIA

Até o acolhimento da ação rescisória a obrigação alimentar é válida e eficaz, podendo ser
alvo de execução.

A Lei de Alimentos confunde possibilidade de revisão do encargo alimentar com coisa


julgada e acaba negando a imutabilidade da decisão judicial (art. 15 da LA). No entanto,
doutrina e jurisprudência afastam o equívoco. E, como diz Leonardo de Faria Beraldo, se
existe coisa julgada – e existe –, não há como impedir o uso de ação rescisória sempre que
houver vício na sentença a ser corrigido.88

Elenca a lei processual as hipóteses de cabimento da rescisória de sentença já imutável


e indiscutível, por encoberta pela coisa julgada (art. 966). Possível a desconstituição da
sentença e o imediato rejulgamento pelo órgão julgador, já substituindo a decisão anulada,
ou a determinação de retorno dos autos à origem para ser proferida nova decisão.

Como a sentença transitada em julgada é válida e eficaz, podem ser executados os


alimentos que foram estabelecidos, até a sentença ser rescindida.

Quanto aos efeitos, não se afastam do que ocorre ordinariamente. A sentença modifica
os alimentos provisórios e o valor estipulado passa a ser devido imediatamente. Do
mesmo modo, quando a mudança da sentença acontece pelo julgamento do recurso. Se a
nova decisão majorar da verba alimentar, a diferença dos valores tem efeito retroativo à
data da citação na ação revisional (art. 13, § 2º da LA) e não na ação rescisória.

Caso na via rescisória haja redução ou exoneração dos alimentos, a partir do


rejulgamento da causa, passa a valer a nova decisão. Pela natureza da obrigação
alimentar, não existe possibilidade de pedido de restituição ou compensação dos valores
pagos. Alimentos são irrepetíveis.89

PRESCRIÇÃO

O direito de exigir alimentos é imprescritível, mas a cobrança das prestações alimentícias


vencidas prescreve em dois anos.

Em face de todas as características de que se reveste, ligadas à manutenção da vida, o


direito aos alimentos é imprescritível, mas não o é o direito às prestações vencidas e
inadimplidas.90

A prescrição não atinge a obrigação alimentar, que pode ser buscada a qualquer
tempo. Imposto o dever de prestar alimentos, judicial ou extrajudicialmente, passa a fluir
o prazo da prescrição.

O lapso prescricional do crédito alimentar é de dois anos (art. 206, § 2º do CC). A


prescrição pode ser decretada de ofício pelo juiz (art. 487, II do CPC), devendo antes ser
oportunizada a manifestação do autor (art. 487, parágrafo único do CPC). É proibida
decisão surpresa (art. 10 do CPC). Pode o juiz liminarmente, antes da citação do réu, julgar
improcedente o pedido ao verificar a ocorrência da prescrição (art. 332, § 1º do CPC).

Caso o credor não cobre as parcelas vencidas, a partir do decurso do prazo de dois
anos, as prestações que se venceram antes deste período não podem mais ser cobradas.
Nada impede, porém, que o credor ingresse em juízo para cobrar as parcelas
correspondentes aos últimos dois anos. Como se trata de obrigação de trato sucessivo, a
prescrição ocorre a contar da fluência do prazo de cada parcela.

Somente as três parcelas mais recentes podem ser cobradas com a ameaça de prisão.
As demais, pelo rito da expropriação.

Cabe lembrar que não corre prescrição contra absolutamente incapazes (art. 198, I do
CC), bem como durante o exercício do poder familiar (art. 197, II do CC).

Causas suspensivas

O poder familiar impede a fluência do prazo prescricional entre pais e filhos.

Não corre a prescrição entre ascendentes e descendentes durante o poder familiar


(art. 197, II do CC) e nem contra absolutamente incapazes (art. 198, I do CC).

A suspensão do prazo prescricional entre ascendentes e descendentes diz só com a


obrigação entre pais e filhos. Exclusivamente em relação a eles se pode falar em poder
familiar.

Como o poder familiar cessa com a maioridade (18 anos) ou a emancipação, a partir
dessa data passa a fluir o prazo prescricional da obrigação dos pais frente aos filhos.

A obrigação alimentar dos avós não se submete à suspensão, que diz somente com o
poder familiar. É obrigação que decorrente do vínculo de parentesco existente entre
avós e netos.

Não só entre cônjuges, também entre companheiros não flui a prescrição durante o
período da vida em comum.
A lei prevê a suspensão do prazo prescricional entre cônjuges (art. 197, I do CC), mas
não há como negar que dispõe do mesmo efeito paralisante a união estável e a união
homoafetiva.

Outro ponto. A suspensão do prazo prescricional só ocorre durante a vigência do


casamento. Assim, quando da separação de fato, cessa a suspensividade da prescrição.
Consolidou-se a jurisprudência em fixar o fim da convivência como o marco do fim do
casamento.

Na união estável, a cessação da vida em comum leva à dissolução da união estável, sem
a necessidade de reconhecimento judicial ou formal do seu fim.

QUANTIFICAÇÃO DO VALOR DOS ALIMENTOS

Base de incidência

Os alimentos devem ser calculados sobre o total de ganhos do devedor, abatidos


exclusivamente os descontos obrigatórios impostos por lei.

Ainda que utilizadas de modo indistinto, as expressões que identificam os ganhos


decorrentes do exercício de atividade remunerada têm sentidos precisos:

salário ou estipêndio – rendimentos percebidos pelo empregado que trabalha na


iniciativa privada;

vencimento – retribuição pecuniária prevista na lei pelo efetivo exercício de cargo


público;

remuneração – vencimento do cargo efetivo e mais as vantagens pecuniárias


concedidas de forma permanente. Em sentido genérico, vencimento abrange tudo quanto
vem a integrar a remuneração: adicionais, gratificações e outras vantagens;91

proventos – rendimentos da aposentadoria;

soldo – vencimento de militares;

pensão – renda recebida periodicamente por alguém, paga espontaneamente ou por


imposição judicial.

pecúlio – benefício pago pela Previdência Social;

montepio – espécie de pensão destinada a um beneficiário;

honorários – remuneração dos profissionais liberais;

pró-labore – ganhos percebidos pelos sócios de pessoa jurídica.

Os alimentos devem ser calculados sobre a totalidade dos ganhos e rendimentos do


alimentante, excluídos apenas os descontos obrigatórios impostos por lei. De um modo
geral, são: previdência social e imposto de renda.

Integram a base de cálculo

A pensão alimentícia incide sobre o décimo terceiro salário, terço de férias, prêmios,
participação nos lucros, horas extras, adicional noturno, adicional de periculosidade,
adicional por conta de feriados trabalhados, PIS/PASEP, conversão de férias em pecúnia,
indenizações trabalhistas e restituição do imposto de renda.

Os alimentos incidem sobre todos os rendimentos percebidos pelo alimentante, que


disponha de caráter remuneratório. No entanto, possível disporem diversamente,
excluindo algumas rubricas. Neste sentido Enunciado do IBDFAM.92

Depois de muitas controvérsias e decisões divergentes, o tema só se pacificou quando o


Superior Tribunal de Justiça, em ação pelo rito do recurso repetitivo, decidiu que a
pensão alimentícia incide sobre o terço constitucional de férias e o décimo terceiro
salário.93

Também incide sobre horas extras,94 adicional noturno, adicional de periculosidade,95


adicional por conta de feriados trabalhados, PIS/PASEP, conversão de férias em pecúnia e
indenizações trabalhistas que digam com diferenças salariais.96 Tais gratificações
integram, para todos os efeitos, o conceito de remuneração.

Excluídos da base de cálculo

Estão excluídos da base de cálculo dos alimentos: valores de natureza indenizatória


percebidos a título de ajuda de custo, despesas de viagem, auxílio-moradia e aviso prévio.

A maneira de saber se incide ou não o encargo alimentar sobre algum valor percebido
pelo devedor é identificar a natureza da verba.

Sobre tudo que dispõe de natureza remuneratória justifica-se o desconto. No entanto,


quando o valor recebido tem natureza indenizatória, descabe ser compartilhado com o
credor dos alimentos. Assim, ajuda de custo, aviso prévio,97 valores para cobrir despesas
de viagem, auxílio-moradia e de transferência, não compõem base de cálculo dos
alimentos.98

Quanto a prêmios, participações nos lucros e qualquer gratificação em razão da


produtividade laboral, são parcelas desvinculadas do conceito de remuneração, mas
configuram rendimento e integram o cálculo dos alimentos.99 A Lei 10.101/2000, que
dispõe sobre a participação dos trabalhadores nos lucros e resultados da empresa dispõe
(art. 3º,§ 10): Na determinação da base de cálculo da participação dos trabalhadores nos
lucros ou resultados, poderão ser deduzidas as importâncias pagas em dinheiro a título de
pensão alimentícia em face das normas do Direito de Família, quando em cumprimento de
decisão judicial, de acordo homologado judicialmente ou de separação ou divórcio
consensual realizado por escritura pública, desde que correspondentes a esse rendimento,
não podendo ser utilizada a mesma parcela para a determinação da base de cálculo dos
demais rendimentos.

Neste sentido a posição, ainda que não unânime, do Superior Tribunal de Justiça.100

FGTS e verbas rescisórias

Os valores percebidos a título de Fundo de Garantia por Tempo de Serviço – FGTS e


verbas rescisórias não estão sujeitos ao desconto de pensão alimentícia. Para garantir a
continuidade do pagamento dos alimentos, indispensável que parte de tais importâncias seja
retida, autorizando-se levantamentos mensais, até o devedor ter outra fonte de rendimento.

No que tange ao Fundo de Garantia por Tempo de Serviço – FGTS e às verbas


rescisórias, predomina o entendimento de que possuem natureza indenizatória, não
incidindo sobre eles os alimentos. A mesma natureza é atribuída à verba recebida a título
de demissão voluntária – PDV.
Contudo, não pela natureza do crédito, mas para assegurar a continuidade do
pagamento da pensão, das quantias percebidas a estes títulos, deve ficar retido o valor
correspondente ao percentual dos alimentos. Com isso afasta-se o risco de o alimentante,
frente a eventual desemprego, deixar o alimentado sem auxílio financeiro até se
estabilizar novamente.

Não se trata de incidência de alimentos sobre as referidas verbas, mas de mera


garantia de adimplemento dos alimentos futuros. O montante fica à disposição do juízo,
sendo autorizado, mensalmente, o levantamento do valor dos alimentos. Inconcebível
que, subitamente, em razão do desemprego do genitor, deixe o filho de receber a pensão.
Assim, até o exaurimento do montante retido, terá assegurada sua subsistência. Passando
o devedor a alcançar os alimentos por meio de outra fonte pagadora, eventual saldo das
quantias retidas é devolvido ao alimentante.

Ainda que a lei especifique as hipóteses de levantamento do FGTS,101 a partir da


decisão do Superior Tribunal de Justiça, que autorizou a penhora de tal verba para
cumprir encargo alimentar,102 os tribunais103 passaram a admitir o levantamento do
numerário. Afinal, nada justifica que o devedor armazene um crédito para quando se
aposentar, atingir 70 anos ou adquirir casa própria, enquanto alguém, a quem o titular do
crédito deve alimentos, fica sem receber o que lhe é devido.

Inclusão do imposto de renda no cálculo dos alimentos

No cálculo dos alimentos é necessário prever o valor correspondente ao imposto de renda


a ser pago pelo credor.

Para fins tributários, não dá para confundir dependente e alimentando. Quem é


dependente não pode figurar como alimentando na mesma declaração de renda.
Alimentando é quem recebe pensão alimentícia fixada judicial ou extrajudicialmente:
filho, ex-cônjuge, ex-companheiro ou algum parente a quem foram concedidos alimentos.

Estabelecido encargo alimentar, o alimentante desconta do seu imposto de renda a


integralidade do valor pago a título de alimentos. Transfere-se ao credor o dever de pagar
o tributo referente a tais valores. Ultrapassado o teto de isenção, o beneficiário precisa
declarar imposto de renda e proceder ao pagamento do tributo sobre os valores
recebidos.

Há a possibilidade de o guardião somar aos seus próprios ganhos o quantum dos


alimentos percebido pelo filho, enquanto menor de idade ou incapaz. Pode declará-lo
como seu dependente, descontando as despesas dele. Já aquele que paga alimentos, deduz
somente o valor dos alimentos estabelecidos judicialmente.

A partir dos 12 anos de idade, é obrigatório o registro no Cadastro de Pessoas Físicas –


CPF. Quando o valor dos alimentos não atinge o limite de isenção, o alimentando não
precisa apresentar declaração de renda. No entanto, para seu guardião inclui-lo como
dependente, deve somar o valor dos alimentos à sua renda.

Modo geral esta soma leva à alteração da faixa de contribuição.

Deste modo, quando da fixação do encargo alimentar deve-se atender ao custo


tributário do encargo. Este cálculo merece ser feito quando o filho declara os alimentos
que percebeu e paga o imposto, e também quando o valor dos alimentos se soma aos
ganhos do guardião.

Incidência de alimentos sobre a restituição do imposto de renda


Como o encargo alimentar é calculado após a dedução do imposto de renda, quando
ocorre restituição ao alimentante, sobre o valor restituído deve ser pago o encargo
alimentar.

Na correlação entre encargo alimentar e ônus tributários, é manifesta a desigualdade


entre quem paga os alimentos e quem os recebe. O alimentante pode deduzir do imposto
de renda a integralidade dos alimentos fixados por decisão ou acordo judicial. Fica a
cargo do credor o pagamento do imposto de renda sobre os valores percebidos.

Quem recebe os alimentos destinados aos filhos, por estarem eles sob sua guarda, para
usufruir da dedução por dependente, precisa somar os alimentos percebidos pelos filhos
aos seus rendimentos (arts. 4º, 5º e 78 do Decreto 3.000/1999). Ou seja, aos próprios
rendimentos, o guardião soma o valor dos alimentos. Deduz os filhos como dependentes e
todas as despesas que arcou com eles e que são dedutíveis.

Caso o valor dos alimentos somado aos ganhos do genitor for superior ao limite de
isenção, crianças e adolescentes tem que apresentar declaração de imposto de renda,
que pode ser levada a efeito de duas formas:

- em separado – cada filho apresenta uma declaração de imposto de renda, hipótese


em que o guardião não se beneficia da dedução por dependente;

- em conjunto – à sua renda, o guardião soma o valor da pensão percebida pelos filhos.
Beneficia-se da dedução por dependente, mas se sujeita à alíquota correspondente.

  Qualquer das opções é prejudicial, tanto à criança quanto àquele que detém sua
guarda, o que viola o princípio da proteção integral e a própria Convenção sobre os
Direitos da Criança.104

Como o próprio nome o diz, imposto de renda é o encargo que incide sobre os
rendimentos de alguém. O desconto compulsório sobre os ganhos do alimentante é
apenas retenção antecipada de um tributo em montante ainda indefinido. Sobre a parcela
retida não há o desconto dos alimentos.

Quando houve retenção maior do que o valor do encargo tributário, ocorre a


restituição do imposto de renda. Deste modo, havendo devolução, o que retorna ao
alimentante é parcela dos seus ganhos, sobre a qual deve incidir a verba alimentar. O
valor restituído corresponde a ganhos do contribuinte que não foram utilizados para o
pagamento dos tributos. Assim, sobre o valor restituído deve incidir o encargo alimentar.

Como afirma Paulo Lôbo, havendo restituição do imposto de renda, tal significa que a
parcela devolvida é salário, que foi retido a mais. 105 Assim, sobre o montante devolvido
incidem os alimentos.106

Somente quando os alimentos são calculados sobre a remuneração bruta não há o


que falar em incidência dos alimentos sobre valores eventualmente restituídos.

CRITÉRIOS DE ATUALIZAÇÃO

Como o encargo alimentar se estende ao longo do tempo, precisa estar imune aos efeitos
corrosivos da inflação, sendo necessário prever sua atualização.

Até nas economias estabilizadas, com o passar do tempo, o aumento do custo de vida e
a inflação reduzem o poder de compra dos ganhos das pessoas. Essas circunstâncias levam
à pressão para o aumento do salário e de outros rendimentos. Esses fatores também
justificam a necessidade de correção do encargo alimentar. Como lembra Paulo Lôbo, os
alimentos não são dívidas de dinheiro, imodificáveis apesar das vicissitudes do tempo,
mas dívidas de valor, que não levam em conta a expressão nominal da moeda, e sim o
valor atual da coisa ou situação que exprime. Daí a necessidade de permanente
atualização.107

Como a obrigação alimentar é de trato sucessivo, precisa ficar imune às


desvalorizações. O tempo não pode aviltar seu valor, o que viria, inclusive, a afrontar o
princípio da proporcionalidade. Assim, indispensável que os alimentos já sejam fixados
com a indicação de critério de correção. A própria lei determina a atualização segundo
índice oficial regularmente estabelecido (art. 1.710 do CC).

O termo inicial para atualização é a data da decisão que fixou os alimentos e não o
trânsito em julgado da sentença condenatória.108

Simples pedido de atualização monetária dos alimentos não enseja o uso da via
revisional. Para Leonardo de Faria Beraldo, basta endereçar uma petição ao juiz. Somente
a modificação das condições econômicas das partes é que constitui elemento
condicionante da revisão e da exoneração dos alimentos, sem o que não se há de adentrar
na esfera de análise do pedido.109

A tentativa de agilizar o procedimento não tem a eficácia necessária. Certamente o


processo já estará arquivado. De qualquer modo, o juiz ouvirá o devedor.

Percentual do salário

O critério que melhor assegura a atualidade do encargo alimentar e respeita o princípio


da proporcionalidade, é fixar os alimentos em percentual dos ganhos do devedor.

Não há melhor devedor de alimentos do que aquele que percebe salário ou


remuneração decorrente de vínculo laboral ou exercício de função pública.

Estabelecer os alimentos em percentagem dos ganhos do devedor perpetua o


atendimento ao princípio da proporcionalidade, garantindo a sua atualização sempre
que o devedor tiver aumento. O pagamento pelo órgão pagador diretamente ao credor,
por meio de desconto em folha, tem outra vantagem: impede a inadimplência.

Ainda que estabelecidos alimentos em percentagem da remuneração do devedor, o


pagamento não precisa necessariamente ser feito pelo seu empregador. Pode o devedor
assumir o encargo. No entanto, ocorrendo mora ou suspeita de que as transferências não
estão obedecendo ao quantum convencionado, pode o credor requerer que seja oficiado
ao órgão empregador para a realização do pagamento mediante desconto em folha. Para
esta solicitação não precisa haver a concordância do alimentante. Basta a prova da mora.

Salário mínimo

Apesar da vedação constitucional, possível a adoção do salário mínimo como parâmetro


de atualização do encargo alimentar.

A obrigação alimentar é atendida em prestações que se estendem no tempo. Assim, sua


fixação não deve ser feita em importância fixa em dinheiro, pois é sendo necessário haver
um fator de atualização. Apesar da vedação constitucional do uso do salário mínimo para
qualquer fim (art. 7º, IV da CF), em se tratando de alimentos, sua utilização foi consagrada
pela jurisprudência.
A lei processual elege como fator de correção o salário mínimo quando se trata de
alimentos decorrentes da prática de ato ilícito (art. 533, § 4º do CPC). Nada justifica vetar
a utilização do mesmo critério quando a obrigação decorre dos vínculos familiares.

Estabelecidos os alimentos em salários mínimos, o valor a ser pago é o vigente à data


do vencimento de cada prestação. Em caso de mora, a atualização é feita não pelo salário
mínimo à época do pagamento. Identifica-se o valor do salário mínimo à data do
vencimento da obrigação e se aplicam os índices oficiais de atualização (art. 1.710 do CC).

Mesmo quando o devedor dispõe de vínculo empregatício, de modo frequente busca


que os alimentos, em vez de serem fixados de forma percentual, sejam estabelecidos em
salários mínimos. A pretensão de desatrelar os alimentos da remuneração do alimentante
é utilizada para que fiquem excluídas sabe-se lá que gratificações, prêmios, ou ganhos
percebidos pelo alimentante.

De forma surpreendente o Superior Tribunal de Justiça exclui os alimentos sobre o


décimo terceiro salário ou outras rubricas, pelo só fato de o pagamento da pensão ter
sido estipulado em salários mínimos, mesmo que o alimentante disponha de vínculo
laboral e receba esses créditos.110

Índice oficial

A adoção de índices de atualização monetária, como critério de atualização do encargo


alimentar, só se justifica se restar comprovado descompasso do aumento do salário mínimo
com a progressão dos ganhos do devedor.

O Código Civil determina que as prestações alimentícias sejam atualizadas segundo


índice oficial regularmente estabelecido (art. 1.710 do CC). A lei processual elege como
fator de correção o salário-mínimo (art. 533, § 4º do CPC). Esta não é a melhor forma de
garantir a perpetuação do princípio da proporcionalidade. Mas quando o alimentante
não dispõe de ganhos fixos ou não tem vínculo empregatício, não tem outro jeito. O
salário-mínimo tem reajustes periódicos que lhe preservam o poder aquisitivo. É o que diz
a Constituição Federal (art. 7º, IV). A vedação de sua vinculação para qualquer fim,
constante do mesmo dispositivo, nunca foi respeitado.

Fixados os alimentos em salários mínimos – quer por acordo, quer por decisão judicial
–, diante da assertiva do alimentante de que o encargo se tornou excessivo, ensejando
descompasso com seus rendimentos, por seus ganhos não acompanharem o aumento do
indexador, a ação revisional é utilizada para que a atualização anual ocorra pelos índices
oficiais de atualização monetária.

São muitos os índices de preço: ORTN, OTN, BTN, TR, IPC-r, INPC, IPCA. E esses não são
todos, mas o usado com mais frequência é o IGP-M.

AÇÕES REVISIONAIS

A consagração do princípio da proporcionalidade permite a revisão do encargo


alimentar sempre que houver alteração em um dos vértices do binômio necessidade-
possibilidade.

Os alimentos são fixados atentando às necessidades de quem os reclama e às


possibilidades de quem é obrigado a prestá-los (art. 1.694, § 1º do CC). Como o dever
alimentar se prolonga no tempo, possível, qualquer das partes buscar a revisão do valor
estabelecido, sob a alegação de desequilíbrio do encargo (art. 1.699 do CC).
Quer o credor, quer o devedor pode fazer uso das ações revisionais de majoração,
redução ou exoneração, sob a alegação de ter havido aumento, redução ou o fim quer das
possibilidades do alimentante, quer das necessidades do alimentando. Como tais
alterações provocam afronta ao princípio da proporcionalidade, é autorizada a busca de
nova equalização do valor dos alimentos, sem que se possa alegar afronta à coisa julgada.
Apesar do que diz a Lei de Alimentos (art. 15), a decisão judicial sobre alimentos faz coisa
julgada. Somente pode ser revista quando restar comprovado que ocorreu modificação
na situação econômica de um ou de ambas as partes. Não havendo a prova da alteração,
permanece cristalizada a decisão pela ocorrência de coisa julgada.

Uma distinção merece ser feita. Somente quando o encargo decorre do poder familiar
é que o credor pode fazer uso da ação de majoração alegando o aumento dos ganhos do
alimentante. Essa é a única situação em que a proporcionalidade tem que se perpetuar. Os
filhos têm o direito de desfrutar das boas condições econômicas dos pais. Quanto mais eles
ganham, melhor as condições que os filhos têm direito de viver. Nos encargos decorrentes
de deveres outros, como o de solidariedade entre parentes e de mútua assistência entre
cônjuges e companheiros, o princípio da proporcionalidade deve ser considerado quando
da fixação dos alimentos. Depois, somente o aumento das necessidades do credor justifica
o pedido de majoração. A melhoria das condições econômicas do devedor, não. A melhora
aconteceu sem a sua contribuição.

Tanto os alimentos definitivos como os provisórios podem ser alvo de revisão.


Quando a pretensão diz com verba estabelecida em sede liminar ou incidentalmente, o
pedido de revisão deve ser processado em apartado (art. 13, § 1º da LA).

Nada justifica impedir que os pedidos revisionais sejam formulados nos mesmos autos
em que os alimentos foram fixados. Em se tratando de alimentos definitivos, basta o
desarquivamento do processo em que foram fixados. Não cabe invocar o art. 494 do
Código de Processo Civil. Ainda que o juiz não possa alterar a sentença após sua
publicação, trata-se de nova pretensão, e o uso do mesmo processo atende o princípio da
economia processual.

A propositura da ação de redução ou exoneração do encargo alimentar não serve de


justificativa para o devedor reduzir o valor dos alimentos ou deixar de pagá-los. A
alteração da obrigação depende de decisão judicial. A interposição da demanda
revisional também não enseja a suspensão do processo de execução, até o julgamento da
demanda, sob o fundamento de que o encargo alimentar pode ser revisto ou excluído. Não
há como conceder efeito retroativo à exclusão ou redução do dever de pagar alimentos.
O resultado seria desastroso.

Reduzido o valor dos alimentos ou extinta a obrigação, a sentença tem efeito ex nunc,
alcançando somente as parcelas futuras. As parcelas vencidas e impagas continuam
devidas. A regra atende ao princípio da igualdade. Aquele que pagou o valor devido até a
data da decisão não tem como reaver os valores pagos, já que os alimentos são
irrepetíveis. Assim, não há como perdoar a dívida de quem se quedou inadimplente à
espera da sentença.

A retroatividade prevista na Lei de Alimentos (art. 13, § 2º da LA) diz com os


alimentos definitivos. Acontece se não foram estabelecidos alimentos provisórios, ou
quando a sentença majora os alimentos provisórios. Quando reduz ou exonera, não.
Prevalece o princípio da irrepetibilidade.

Quando o credor pretende majorar os alimentos e o devedor reduzi-los ou exonerar-se


do encargo, não é necessária a propositura de duas ações. Possível opor reconvenção.111
Propostas ações autônomas, em face da conexão, a tramitação é conjunta, até para evitar
decisões contraditórias.

MAJORAÇÃO

O aumento das necessidades do credor autoriza o pedido de majoração dos alimentos.


Quando o encargo decorre do poder familiar o pedido pode ter por fundamento o aumento
das possibilidades do devedor.

O princípio que vigora para o estabelecimento do encargo alimentar é o da


proporcionalidade, que se consubstancia na regra da razoabilidade. Quando o valor
estabelecido deixa de respeitar este equilíbrio, possível, a qualquer tempo, o credor buscar
a readequação.

Quando o encargo alimentar decorre do poder familiar, o credor pode alegar o


aumento de suas necessidades ou a melhoria das possibilidades do devedor. Em todas as
demais situações geradoras do dever de prestar alimentos – casamento, união estável ou
relação de parentesco – o pedido de majoração só pode ter como causa de pedir, o
aumento das necessidades do credor.

Deferido o pedido em sede liminar, o aumento passa a valer de imediato,


independente da citação do réu. O juiz deve comunicar ao órgão pagador do réu para que
proceda ao desconto do novo montante.

Majorado o encargo alimentar na sentença, o novo valor é devido desde logo, ainda
que a decisão esteja sujeita a recurso de apelação, o qual só dispõe de efeito devolutivo
(art. 1.012, § 1º, II do CPC e art. 14 da LA).

Quando do trânsito em julgado da sentença, o valor estabelecido dispõe de efeito


retroativo à data da citação (art. 13, § 2º da LA). As diferenças podem ser cobradas pela
via do cumprimento da sentença.112

Novas fontes de renda

Descobrindo o credor a existência de outras fontes de renda do devedor, pode requerer o


desconto dos alimentos sobre tais rendimentos, sendo desnecessário propor ação de
majoração.

Tomando conhecimento o credor de outras fontes de renda do devedor, que não sabia
existir por ocasião da propositura da ação de alimentos ou quando firmou acordo judicial
ou extrajudicial, cabível buscar o desconto do percentual estabelecido sobre as outras
fontes de renda.

Para isso não é necessária a propositura de uma ação. Pode o credor requerer o
desarquivamento do processo em que os alimentos foram estabelecidos e pedir que o juiz
oficie ao empregador para proceder ao desconto.

Quando os alimentos foram fixados extrajudicialmente, a providência depende de


demanda judicial.

REDUÇÃO

A propositura da ação de redução de alimentos não autoriza o devedor a deixar de pagar


o valor que está estabelecido.
Quando o alimentante propõe ação de redução do encargo alimentar – que assumiu
por acordo ou lhe foi imposto judicialmente – está fazendo nada além do que buscar a
readequação ao princípio da proporcionalidade. Ainda que a alegação seja a
impossibilidade de arcar com o valor estabelecido, a propositura da ação revisional não o
autoriza a reduzir o valor para o montante que deseja pagar. Isso porque, mesmo que
venha a ser achatado o valor dos alimentos, a sentença não dispõe de efeito retroativo,
valendo somente para as parcelas futuras.

De todo descabido admitir a possibilidade de que o valor fixado a menor na ação


revisional alcance as parcelas vencidas e não pagas. O resultado seria péssimo, a
incentivar o inadimplemento. O ingresso da demanda não autoriza o devedor nem a
reduzir o valor dos alimentos e nem a deixar de pagá-los. A alteração do encargo depende
de chancela judicial.

Do mesmo modo é inviável o pedido de suspensão do processo de execução até o


julgamento da demanda revisional, sob o fundamento de que a dívida alimentar pode ser
reduzida. Induziria os devedores a buscar a via judicial, propondo ação de redução ou
exclusão do encargo, tão só para ver a execução suspensa.

Todas estas manobras que vêm encontrando espaço nos tribunais afrontam o
princípio da igualdade. Como os alimentos são irrepetíveis, aquele que pagou o valor
devido até a data da decisão que reduziu o valor não teria como reaver a diferença.
Somente seria beneficiado quem não pagou a verba alimentar e se quedou inadimplente à
espera da sentença. 113

Vetada a devolução das parcelas pagas, o que pagou não pode sequer pleitear
compensação, enquanto aquele que se quedou em mora irá se locupletar com a própria
torpeza. Assim, por qualquer ângulo que se atente ao tema, não é possível deixar ao bel-
prazer do devedor o direito de suspender o pagamento ou reduzir o valor dos alimentos
para se beneficiar de sua omissão.

A regra do § 2º do art. 13 da Lei de Alimentos não tem aplicação quando os alimentos


foram reduzidos. Quer sejam os alimentos provisórios, quer tenham sido fixados em
demanda anterior. Prevalece o princípio da irrepetibilidade. Achatado o seu montante, a
decisão judicial não dispõe de efeito retroativo, não alcançando as parcelas pretéritas,
pagas ou não. Somente quando os alimentos são majorados, por meio de sentença
transitada em julgado, é que se pode falar em retroatividade à contar da data da citação.

Exige maior cautela do juiz a redução liminar dos alimentos, sem estabelecer
previamente o contraditório. Ainda que reduzido o valor na decisão liminar, sua eficácia
está condicionada à citação do réu. Não há como surpreender o credor, que iria se ver, de
uma hora para outra, totalmente desamparado, sem ter ciência de que não pode mais
contar com os valores que vinha percebendo.

Os argumentos mais frequentes de quem busca a redução dos alimentos são a


constituição de nova família ou o nascimento de outros filhos. Porém, esses
acontecimentos não justificam, por si sós, o pedido, sob pena de se estar transferindo a
obrigação alimentar de uns filhos para os outros.114 Esses fatos, inclusive, mais
evidenciam a capacidade econômica do alimentante, pois só constitui família ou tem
mais filhos quem tem condições para assumir mais encargos.

A tentativa de minimizar a responsabilidade pela mantença dos filhos de relação


anterior desfeita, usando como justificativa a nova família, não corresponde a padrão
ético aceitável. No dizer de Afonso Feitosa, tal argumentação é falha e pífia.115
Ainda assim, de forma frequente tais justificativas servem para reduzir o encargo,116
com invocação do princípio da isonomia entre os filhos117 e até sob o fundamento de que o
alimentante não pode estar fadado à solidão.

Outra justificativa para o pedido de redução é o desemprego. No entanto, o devedor de


alimentos não deve dar causa à incapacidade de prestá-los em virtude de comportamentos
irresponsáveis e levianos.118

A alegação da existência de dívidas, do mesmo modo, não se presta para o pedido da


redução de alimentos, pois a condição de impossibilidade não pode ser provocada
espontaneamente pelo devedor.119

AÇÃO DE OFERTA DE ALIMENTOS

O responsável pelo sustento da família que deixar a residência comum deve continuar
cumprindo sua obrigação e, ao ingressar com ação de oferta de alimentos, deve depositar em
juízo o valor que entenda devido.

Diz o art. 24 da Lei de Alimentos: “A parte responsável pelo sustento da família, e que
deixar a residência comum por motivo que não necessitará declarar, poderá tomar a
iniciativa de comunicar ao juízo os rendimentos de que dispõe e de pedir a citação do
credor, para comparecer à audiência de conciliação e julgamento destinada à fixação dos
alimentos a que está obrigado”. Este é o dispositivo que regulamenta a ação de oferta de
alimentos. Ou seja, quem tem obrigação alimentar não precisa aguardar a iniciativa do
credor. Pode – ou melhor, deve – proceder ao depósito judicial dos alimentos.

Dita postura, no entanto, não é usual. No mais das vezes, o devedor recorre a esta ação
quando tem ganhos expressivos ou ostenta condição de vida privilegiada. Teme que lhe
seja imposto um encargo alimentar excessivo na ação promovida pelo credor.

Não basta o alimentante indicar o quanto se dispõe a pagar. É necessário que


comprove seus ganhos. Isso porque a fixação dos alimentos é feita pelo juiz segundo o
critério da proporcionalidade, não estando adstrito ao valor oferecido pelo autor. Sem
transpor os limites da demanda, pode o juiz estabelecer valor acima do que foi oferecido,
ainda que não tenha o credor feito uso da via reconvencional.120 A possibilidade de
fixação do quantum em valor superior ao ofertado não torna a decisão extra ou ultra
petita.121

Em face do princípio da anterioridade, é indispensável que o autor, quando do


ingresso da ação, deposite em juízo o valor oferecido, pois se trata de prestação já devida.
Só estará liberado de tal depósito se comprovar que vem procedendo ao pagamento desde
o rompimento do vínculo de convivência, não tendo deixado de atender ao dever de
sustento de quem faz jus a alimentos. Esta é a postura correta.

No momento em que cessa a vida em comum, os alimentos, via de regra, deixam de ser
prestados in natura e surge a obrigação de proceder ao pagamento in pecunia, isto é, em
dinheiro. Portanto, para ficar com o exemplo mais comum, quando o varão sai de casa
deve imediatamente depositar os alimentos a favor de quem tem ele o dever de prover a
subsistência.

A ação deve ser proposta no domicílio do credor, que dispõe de foro privilegiado (CPC
53 II).

A ausência do autor (devedor) na audiência não enseja o arquivamento da ação (art.


7º da LA), mas possibilita ao juiz fixar os alimentos no valor pleiteado pelo credor (réu).
No dizer de Sérgio Porto, a ausência do réu (credor) não pode importar em fixação de
alimentos, providência que implicaria coagir outrem a receber alimentos que, por razões
íntimas, pode não querer.122 Esta lógica não pode prevalecer quando o dever de prestar
alimentos tem origem no poder familiar. Nesta hipótese, a revelia do réu autoriza o juiz a
fixar os alimentos no valor oferecido ou até em valor superior, caso a prova dos autos
evidenciem sua capacidade para tanto.

Como se trata de uma obrigação, possível que o genitor proponha ação de oferta de
alimentos gravídicos. A iniciativa da ação não é uma prerrogativa exclusiva da gestante.

AÇÃO DE ALIMENTOS GRAVÍDICOS

Diversamente do que prevê a lei, a imposição de alimentos gravídicos para o pagamento


de despesas durante a gravidez não depende da presença de indícios da paternidade.

A chamada Lei dos Alimentos Gravídicos123 concede à mulher grávida o direito de


buscar alimentos durante a gravidez. Apesar do nome, de alimentos não se trata. Melhor
seria chamar de subsídios gestacionais. Ainda que não haja uma relação parental
estabelecida, existe verdadeiro dever jurídico de amparo à gestante.

A Lei flexibilizou a ideia de verossimilhança, quando cede lugar para a prova


indiciária, mas manteve presente a necessidade de prova mínima.124 No entanto, é
praticamente impossível a exigência de comprovação de indícios da paternidade. A
gravidez decorre de uma relação sexual que, para não afrontar “a moral e os bons
costumes”, acontece em ambiente privado, geralmente, sem a presença de testemunhas.
Assim, indícios da paternidade seriam nada mais, nada menos, do que a comprovação da
prática de um ato sexual entre as partes. Sequer a prova do reconhecimento social da
convivência afetiva do par pode ser exigida. Com a instantaneidade, que, nos dias de hoje,
acontece o chamado sexo casual, difícil a prova de sua prática. Mas a tendência é exigir
indícios da paternidade, sabe-se lá quais sejam eles.125

Ora, quando a gestante busca alimentos é indispensável dar crédito à sua palavra, de
que o demandado é o genitor do filho que carrega no ventre.126 Basta a juntada de um
atestado de gravidez, não se mostrando temerária a fixação de alimentos gravídicos sem
prova verossímil acerca da paternidade, até porque a Lei não a exige. Elege-se a proteção
da vida em detrimento do patrimônio.127

Como diz Raduan Miguel Filho, para a fixação dos alimentos gravídicos provisórios, a
prova da paternidade geralmente é franciscana, frágil, delicada e muito fraca. Nessas
situações é imperativo que o juiz seja flexível a certas exigências, pois a peculiaridade da
questão permite e exige olhares diferentes, sendo deveras razoável impor ao suposto pai
um dever provisório para garantir um melhor desenvolvimento do nascituro.128

Despesas

Não é exaustivo o rol das despesas a serem atendidas, mas há demarcação legal do seu
limite.

Existe um limite, um teto, para a quantificação dos alimentos gravídicos: as despesas


decorrentes da gravidez. Há uma demarcação legal do que se contém nesses alimentos.129
São enumeradas as despesas que devem ser atendidas da concepção ao parto (art. 2º da
LAG): alimentação especial, assistência médica e psicológica, exames complementares,
internações, parto, medicamentos e, a critério do médico, demais prescrições preventivas
e terapêuticas indispensáveis. O rol não é exaustivo, podendo ser consideradas outras
despesas pertinentes. De qualquer modo, são gastos decorrentes da gravidez e não
correspondem a todas as despesas da gestante.

O encargo deve ser fixado atentando às necessidades da mulher e às possibilidades do


réu.130

Legitimidade ativa

A legitimidade ativa para a ação é da gestante, que promove a ação em nome próprio.
Não precisa provar necessidade, mas pode cumular pedido de alimentos para si.

Como os encargos da gravidez devem ser divididos entre os genitores, a gestante


dispõe de legitimidade para propor a ação de alimentos gravídicos. Lúcio Delfino sustenta
que também o nascituro tem interesse de agir, em litisconsórcio ou não. Não há por que
vedar ao nascituro o uso da via procedimental instituída para protegê-lo.131

De qualquer modo, ocorrendo o nascimento durante a tramitação da demanda, há a


alteração no polo ativo. Passa a figurar o filho como autor, representado por sua mãe.
Torna-se ele credor de alimentos em nome próprio. Neste caso deve o juiz determinar que
seja retificada a autuação do processo.

Com o nascimento também se altera a natureza da obrigação, que se transforma em


alimentos a favor do filho. Diante desta possibilidade, nada impede que a autora requeira
e o juiz estabeleça valores diferenciados: um montante para o período da gravidez e
valores outros, a título de alimentos ao filho, a partir do seu nascimento.

Como a causa de pedir da ação é a gravidez, não é necessária a prova da necessidade


da gestante. Caso ela faça jus a alimentos, em decorrência do dever de assistência do
demandado, em razão do casamento ou união estável, pode haver cumulação de pedidos:
alimentos para si e alimentos gravídicos.132

O fato de a demanda de alimentos gravídicos dispor de rito especial não impede que a
ela sejam cumuladas outras ações investigatórias de paternidade, alimentos para a
gestante e para o nascituro etc.

Os alimentos gravídicos devem ser postulados enquanto a mulher for gestante. Após o
nascimento desaparece a possibilidade de ser usada a ação de alimentos gravídicos.
Todavia, após o período da gravidez, tenha ou não o filho nascido com vida, a mulher
pode buscar o pagamento das despesas referente ao período em que esteve grávida. Trata-
se de verdadeiro direito de reembolso das despesas que atendeu sozinha e que não eram
somente de responsabilidade dela. O direito não se extingue com o nascimento. No
entanto, a jurisprudência tem caminhado para considerar inadmissível o pedido de
alimentos gravídicos após o nascimento do menor, para retroagir à gestação. 133

A iniciativa da ação não é uma prerrogativa exclusiva da gestante. Pode o genitor


ingressar com ação de oferta de alimentos gravídicos.

Não havendo o reconhecimento espontâneo do filho após o seu nascimento, cabe a


propositura de ação investigatória de paternidade cumulada com alimentos.

Polo passivo

A ação pode ser proposta contra o indigitado pai ou contra os avós, mediante a
comprovação da impossibilidade de o genitor assumir o encargo.
A lei indica o pai como o responsável pelo custeio das despesas decorrentes da gestação
(art. 2º, parágrafo único da LAG). Apesar de não se tratar de encargo alimentar, sobressai,
às claras, uma obrigação para garantir o nascimento de um filho.

Deste modo é imperioso reconhecer que a ação tem natureza alimentar e, portanto,
passível de se estender a outros obrigados em caráter subsidiário e complementar (art.
1.696 do CC). Portanto, é possível exigir alimentos gravídicos dos avós.134

Para isso é necessário comprovar a impossibilidade de o genitor atender ao


pagamento. Basta lembrar as hipóteses de morte ou aprisionamento.

Nada impede que a ação seja proposta contra ambos – pai e avô – formando-se um
litisconsórcio passivo facultativo de caráter subsidiário. Reconhecido que o pai não tem
como pagar, é condenado o avô a arcar com tudo ou complementar o pagamento
insuficiente do genitor.

Acionado um dos avós, pode ele chamar a integrar a lide os demais obrigados a
prestar alimentos (art. 1.698 do CC).

Gravidez por substituição

Na gravidez por substituição, possível o estabelecimento de alimentos gravídicos por


meio de contrato, o que não configura recompensa e nem pagamento pelo “serviço”
prestado.

  Nada justifica a proibição de ser remunerado o “trabalho” de submeter-se a um


procedimento de inseminação artificial e depois carregar no ventre, por nove meses, um
filho que não é seu e que, quando do nascimento, será entregue aos seus verdadeiros pais.
Por isso deveria ser autorizado o pagamento por todo o desconforto gerado por uma
gravidez: limitações de toda a ordem e transformação do corpo, além da necessidade de
passar por um procedimento, ou doloroso – como é o parto -, ou de risco – como a
cesariana. Essa proibição só pode estar ligada, ainda, à sacralização da maternidade, como
se essa fosse a missão mais sublime de uma mulher. O engraçado é que as clínicas que
realizam a inseminação têm a liberdade de cobrar o quanto quiserem. E cobram!

  Também é descabido que essa atividade seja restrita entre parentes, o que, certas
vezes, se afigura como uma relação, até certo ponto, aparentemente incestuosa. Como
explicar ao filho, por exemplo, que saiu da barriga da avó ou da tia, sem que tivessem tido
relacionamento com o seu pai. Por isso, até deveria ser evitada a reprodução assistida
entre parentes.

  De qualquer modo, ainda que seja gratuita a gestação, a mulher faz jus a alimentos
gravídicos. De um modo geral, não há conflitos no ajuste que é feito. Como se trata de um
contrato, é possível que sejam estabelecidos alimentos gravídicos, juntamente com
deliberações outras. A avença não precisa ser por escritura pública, mas deve atender às
formalidades de título executivo extrajudicial (art. 784 do CPC).

 O acordo para o pagamento pode alcançar valores significativos (art. 2º da LAG), e nem
por isso pode ser considerado como recompensa ou remuneração.

Competência

O foro competente para a propositura da ação de alimentos gravídicos é o do domicílio


da gestante, devendo o demandado ser citado pelo correio.
Apesar de a mulher não mais dispor de foro privilegiado, de a demanda ser movida
pela gestante e não pelo nascituro, e a ação de alimentos gravídicos não ser uma ação de
alimentos, ainda assim gestante tem a prerrogativa de propor a ação no seu domicílio.
Indispensável reconhecer que está buscando assegurar o nascimento do filho que carrega
no ventre.

Tratando-se de competência relativa, pode a gestante propor a ação no domicílio do


réu.

Diante do silêncio da lei especial, cabe ser invocada a lei de processo que elege, em
primeiro lugar, a citação pelo correio (art. 246, I do CPC). Não se tratando de ação de
estado (art. 247, I do CPC), a citação deve ser levada a efeito via postal. Como a citação é
feita por Carta Registrada com aviso de recebimento, ao ser assinado pelo réu (art. 248, §
1º do CPC) a citação é pessoal. Desimporta quem entregou-lhe o mandado: o carteiro ou o
oficial de justiça.

Somente em caso de frustação da diligência, o réu é citado por mandado, por hora
certa e até por edital, conforme se esquive da citação ou não se saiba o seu paradeiro.

Prazo da contestação

Na ação de alimentos gravídicos pode o juiz dilatar o exíguo prazo de contestação de


cinco dias, uma vez que o rito da demanda é o da ação de alimentos que autoriza a fixação
de prazo razoável que possibilite a contestação do réu.

A lei não cria um procedimento especial para a ação, mas, de forma para lá de
atravessada, concede ao réu o prazo de resposta de cinco dias (art. 7º da LAG).

O rito da ação que busca a fixação de alimentos gravídicos é o da Lei de Alimentos,


que concede ao juiz o poder discricionário de fixar o prazo razoável que possibilite a
contestação do réu (art. 5º, § 1º da LA).

Desse modo, ao despachar a inicial, deferida ou não tutela antecipada, pode o juiz
estabelecer distinto prazo para a contestação. A tendência, no entanto, é a designação de
audiência de conciliação, a partir da qual começa a fluir o prazo de resposta, caso não
ocorra acordo. Claro que essa prática retarda a satisfação do direito e congestiona a pauta
dos juízes.

Termo inicial

Determinado o pagamento de forma parcelada, mediante prestações mensais, o termo


inicial do encargo é a provável data da concepção, devendo os alimentos serem pagos de
imediato, em face do princípio da anterioridade.

Diverge doutrina e jurisprudência sobre o termo inicial dos alimentos gravídicos: a


concepção, o ajuizamento da ação ou o despacho que deferiu os alimentos. No entanto a
lei é clara. Os alimentos são devidos da concepção ao parto (art. 2º da LAG). Como se trata
de encargo com caráter indenizatório, impositivo que se acolha a tese majoritária, de
que os alimentos são devidos a partir da concepção.135

Embora omissa a lei, a fixação dos alimentos deve ocorrer liminarmente, initio litis,
antes mesmo da contestação, pela natureza cautelar e urgente do provimento.136 Para a
concessão da tutela de urgência cabe a aplicação supletiva da regra geral (art. 300 do
CPC), pois inquestionável a premência da pretensão, cuja finalidade é salvaguardar o
direito à vida de quem ainda nem nasceu.
Além do pagamento de prestações mensais, cabível a imposição de pagamento de
quantias específicas para fazer frente a despesas pontuais, como de determinados
exames e as do parto. Do mesmo modo, pode haver, a qualquer momento, a alteração da
quantia ou da forma de cumprimento da obrigação.137

A forma de pagamento também pode variar. Além dos pagamentos à autora, o juiz
pode determinar que o réu atenda diretamente determinadas despesas, o que se constitui
em alimentos in natura. Como se trata de obrigação de fazer, em caso de
inadimplemento, possível impor o pagamento de multa – chamada de astreintes. Dita
possibilidade, às claras, não pode se limitar à execução de obrigação fundada em título
executivo extrajudicial (art. 814 do CPC).

Quer pela natureza do encargo, quer pelo rol de despesas elencadas na Lei,
indispensável que os pagamentos sejam feitos de imediato. Descabido, nesta sede – aliás,
em qualquer delas – pretender que a autora espere o decurso do prazo de 30 dias para
começar a perceber os alimentos. Este é o princípio da anterioridade que é previsto na
lei civil. Encontra-se no capítulo que trata de legado de alimentos (art. 1.928, parágrafo
único do CC).

Interrupção da gestação

Em caso de interrupção da gravidez, a ação de alimentos gravídicos perde o objeto,


cessando a obrigação de pagar do demandado, independente de decisão judicial.

Há que distinguir duas situações.

Ocorrendo o abortamento, enquanto tramita a demanda de alimentos gravídicos,


indispensável que a autora leve o fato ao conhecimento judicial. A ação perde o objeto
por ausência de pressuposto eficaz para o seu desenvolvimento (art. 485, IV do CPC). A
decisão não resolve o mérito, mas impõe ao réu o pagamento de honorários e encargos
processuais, por ter sido ele quem deu causa ao processo (art. 85, § 10 do CPC). Tivesse
espontaneamente cumprido com a obrigação de atender aos custos da gravidez, não teria
havido necessidade de a gestante ter ingressado com a ação.

Caso o abortamento ocorra depois de finda a ação em que foi imposta a condenação
ao pagamento dos alimentos, desnecessária a comunicação ao juízo, pois o processo já está
concluído. O alimentante não precisa propor ação de extinção do encargo. Pode
simplesmente cessar o pagamento.

No entanto, não pode pleitear a devolução das parcelas pagas, em face da natureza
alimentar do encargo. Além disso, enquanto durou a gravidez, existia a obrigação.

Comprovada a má-fé da mulher, ocultando o fim da gravidez, pode o réu, em ação


própria, pleitear a restituição dos valores recebidos após a ocorrência do fato extintivo do
seu direito, acrescido de multa e indenização por perdas e danos (art. 81 do CPC).

Conversão em alimentos a favor do filho

Quando do nascimento, os alimentos gravídicos concedidos à gestante mudam de


natureza e se transformam em pensão alimentícia a favor do filho.

Imposto o pagamento periódico dos alimentos gravídicos, ocorrendo o nascimento


enquanto tramita a demanda, tal não leva à extinção do processo. A ação não perde o
objeto, uma vez que a própria lei determina a transformação do encargo a favor do
recém-nascido a título de pensão alimentícia (art. 6º, parágrafo único da LAG).
A conversão é automática, não havendo necessidade de ser requerida pela autora e
nem deferida pelo juiz. Deste modo, quando ocorre o nascimento, altera-se o polo ativo da
demanda, devendo o juiz, de ofício, determinar a regularização processual, com a
anotação, na distribuição, do nome do autor.138

Com o nascimento, transforma-se a natureza da obrigação:

- os alimentos gravídicos devidos à gestante se transformam em pensão alimentícia


devida pelo réu ao filho, em decorrência do poder familiar.

- altera-se a titularidade do direito, que passa da mãe para o filho.

Apesar da expressão “até que uma das partes solicite sua revisão” (art. 6º, parágrafo
único da LAG), não rotula o encargo como alimentos provisórios. São definitivos. Porém,
podem ser alvo de revisão sem que tenha ocorrido alteração do binômio
possibilidade/necessidade, o qual sequer chegou a ser alvo da ponderação do juiz quando
da fixação dos alimentos a favor da gestante.

Como não há equivalência entre os alimentos à gestante e os alimentos devidos ao


filho, se o nascimento acontecer durante a tramitação da demanda, tanto a autora como o
réu, podem solicitar a readequação, nos mesmos autos. A ocorrência de fato modificativo
que influi no julgamento do mérito deve ser levada em consideração até de ofício (art. 493
do CPC).

Depois do nascimento, quer o filho, quer o pai, podem requerer, em ação autônoma, a
revisão do valor dos alimentos. Mesmo que no estabelecimento dos alimentos gravídicos
devam ser considerados os recursos de ambos (art. 2º, parágrafo único da LAG), o encargo
decorrente do poder familiar atende ao critério da proporcionalidade, garantindo ao
filho o direito de desfrutar da mesma condição social do genitor (art. 1.694 do CC).139

Conversão em ação investigatória de paternidade

Ocorrido o nascimento durante a tramitação da ação de alimentos gravídicos, não


havendo o reconhecimento espontâneo do filho, a ação pode ser convertida em
investigatória de paternidade.

A gestação tem um prazo longo, mas a justiça é ainda mais demorada. Tanto que a
própria Lei admite a possibilidade de ocorrer o nascimento do filho enquanto ainda
tramita a ação de alimentos gravídicos (art. 6º, parágrafo único da LAG). Apesar da
divergência de partes e de pedidos, valores devidos à gestante são transformados em
pensão alimentícia a favor do filho.

Fixados ou não alimentos gravídicos em sede liminar, dada ciência ao réu do


nascimento, deve ele, espontaneamente, proceder ao registro do filho. Tal acontecendo,
os alimentos que foram estabelecidos à mãe, viram pensão alimentícia. Caso não tenham
sido fixados alimentos gravídicos, cabe ao juiz fixar alimentos para o filho.

Na hipótese de o genitor não contestar a ação de alimentos gravídicos ou se ele se


insurgir somente quanto ao valor do encargo, julgada procedente a ação, a autora pode
requerer a expedição de mandado de registro do filho, com a inserção do nome do
genitor.

Não ocorrendo o reconhecimento voluntário da paternidade enquanto tramita a


ação, os alimentos gravídicos se transformam em pensão alimentícia. E a ação pode se
transformar em investigação de paternidade. Deve o filho, representado pela autora da
ação de alimentos gravídicos requerer a conversão, que não pode ser determinada de
ofício.140 Cabe atentar que a Lei, ao transformar alimentos gravídicos devidos à gestante
em pensão alimentícia a favor do filho, impõe o seu ingresso na demanda, sem excluir a
autora.

De todo desarrazoado não admitir a transformação, sob o fundamento da diferença de


objetos.141 Descabido impor ao filho a obrigação de ingressar com ação investigatória de
paternidade contra alguém que já lhe paga pensão alimentícia. E caso ele não ingresse
com a ação? Não terá o nome do pai no registro, mas este lhe deve alimentos. E o filho
poderá pleitear tanto a revisão do valor como o cumprimento da decisão, sob o rito da
prisão (art. 528, § 3º).

Esta solução faz lembrar a época, não muito remota, em que o único efeito da ação
investigatória de paternidade julgada procedente, se o réu fosse casado, era de natureza
alimentar. Uma excrescência que perdurou muito tempo e agora escandaliza a todos.

De outro lado, dispensável a instauração do procedimento de averiguação da


paternidade pelo Ministério Público (Lei 8.560/1992).

Improcedência da ação

Comprovado que o réu não é o pai, cessa a obrigação pelo pagamento do encargo. A não
ser que fique provada a má-fé da autora, descabe a devolução dos valores recebidos.

O ponto que tem gerado mais questionamentos em sede de alimentos gravídicos diz
com a possibilidade de a paternidade ser afastada. A preocupação é recente, mas este risco
já havia, ao menos desde o momento em que a justiça passou a fixar alimentos provisórios
mediante indícios de paternidade.

Julgada improcedente a ação, a cessação do pagamento pode ocorrer a partir da


publicação da sentença. Desnecessário provimento judicial neste sentido.

Mesmo que os alimentos gravídicos não possuam, tecnicamente, natureza alimentar,


são igualmente irrepetíveis.

Somente se restar comprovado que a autora agiu de má-fé, ao imputar ao réu a


paternidade, possível buscar ele, em ação autônoma, a restituição dos valores pagos, mais
multa e indenização por perdas e danos (art. 81 do CPC).

O pedido indenizatório há que ser dirigido contra a genitora que propôs a ação e não
contra a criança, mesmo que já tenha ocorrido o seu nascimento.

Inadimplemento

Ocorrendo mora, cabe a cobrança por qualquer das modalidades legais, inclusive pelo
rito da coação pessoal.

O fato de tecnicamente os alimentos gravídicos não terem natureza alimentar, nem por
isso é admissível subtrair da credora o direito de perseguir a cobrança da forma mais
eficiente: a ameaça de prisão. Neste sentido Enunciado das Jornadas de Direito Civil do
CJF.142

Fixados alimentos em sede liminar ou julgada procedente a ação, dispõe a autora de


título executivo judicial, que autoriza a busca de cumprimento pelo rito da prisão ou
da expropriação (art. 528 do CPC).
A legitimidade para pleitear a cobrança é da autora. Caso o filho já tenha nascido,
devem ambos figurar no polo ativo – mãe e filho. Como são devidos alimentos de natureza
diversa a cada um deles, constitui-se um litisconsórcio ativo facultativo. Facultativo
porque a mãe até pode abrir mão dos alimentos gravídicos, mas ela não pode deixar de
cobrar a pensão alimentícia do filho. A omissão autoriza que a cobrança seja levada a
efeito pelo Ministério Público.

O cumprimento da decisão pode ser buscado no juízo do domicílio da credora (art. 528,
§ 9º do CPC), que tem o direito de optar. Caso não pagas as três últimas prestações, pode
fazer uso do rito da coação pessoal, quando o réu é intimado para pagar em três dias, sob
pena de prisão de um a três meses (art. 528, § 3º do CPC). Sendo maior o período da dívida,
cabível buscar a cobrança cumulativa: da dívida recente pelo rito da prisão e das
parcelas anteriores via expropriação (art. 530 e 831 do CPC).

AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DA PARENTALIDADE

Mesmo inexistindo prova do vínculo de filiação, possível cumular pedido de alimentos à


ação investigatória de parentalidade. Havendo indícios da relação paterno-filial, cabe a
concessão de alimentos provisórios a título de tutela antecipada.

Para a concessão de alimentos provisórios é necessária a prova da obrigação


alimentar (art. 2º da LA). Como a ação investigatória de parentalidade busca exatamente a
comprovação do vínculo de filiação, em princípio, somente depois de reconhecido é que o
filho, de posse da certidão de nascimento, poderia pleitear alimentos por meio de
demanda alimentar autônoma.

No entanto, de um modo geral, as ações investigatórias se arrastam por anos, não


havendo obrigação alimentar do genitor. Claro que tal estimula posturas procrastinatórias
para evitar o fim da demanda. Enquanto isso o autor fica completamente desamparado.

Atentando a essa realidade, começou a jurisprudência a admitir a cumulação das


ações investigatória e de alimentos, mediante adoção do rito comum (art. 327,   § 2º
do CPC).

A competência para a ação é a do domicílio do alimentando segundo súmula do


Superior Tribunal de Justiça,143 que foi incorporada à lei processual (art. 53, II do CPC).
Mesmo quando não são pedidos alimentos, ocorre o deslocamento da competência, pois é
implícita a imposição dos alimentos.144

A tendência sempre foi fixar os alimentos somente quando da sentença, o que levava o
réu a tentar retardar o fim do processo. Em boa hora passou a ser admitida a fixação de
alimentos provisórios na ação investigatória, bastando vir, com a inicial, indícios da
paternidade: cartas fazendo referência ao filho, fotos com a criança, enfim, qualquer
documento a permitir a antecipação de tutela. Ausentes tais provas e negados alimentos
provisórios, no momento em que aporta aos autos indícios da paternidade, cabe a fixação
dos alimentos a qualquer tempo. Tanto o resultado positivo do DNA, como a injustificável
recusa do investigado de submeter-se à perícia, amparam a concessão de alimentos
provisórios.

A possibilidade de cumulação de demandas não gera somente a antecipação dos


alimentos antes do fim do processo. A grande vantagem é que os alimentos são devidos de
imediato, a partir da data da decisão que os concedeu. Eventual recurso no que diz com a
verba alimentar não dispõe de efeito suspensivo (art. 1.012, § 1º, II do CPC). Sujeita-se ao
duplo efeito somente a questão da paternidade.
Mas as vantagens não terminam aí. Os alimentos fixados na sentença retroagem à
data da citação do réu (art. 13, § 2º da LA). A matéria encontra-se inclusive sumulada pelo
Superior Tribunal de Justiça.145

Prova da paternidade

A prova da paternidade depende da concordância do réu em submeter-se ao teste do


DNA. A negativa enseja a concessão de alimentos provisórios e o acolhimento da ação.

Na demanda em que o autor alega que o réu é o seu genitor, nem sempre é possível
impor ao demandante a prova dos fatos constitutivos de seu direito (art. 373, I do CPC).
De igual modo não há como delegar ao demandado a demonstração de fatos impeditivos,
modificativos ou extintivos do direito alegado na inicial (art. 373, II do CPC). Ora, se é
difícil provar a ocorrência de relações sexuais, é quase impossível comprovar que elas
não existiram. Assim, na ação investigatória, a prova testemunhal sempre foi usada pelo
autor para apontar ocasiões e identificar situações em que o réu foi visto em atitudes que
insinuavam a existência de um vínculo afetivo bastante íntimo com sua genitora, a revelar
a possibilidade da ocorrência de contatos sexuais entre eles.

Felizmente o DNA acabou com todas essas dificuldades. Cabe ao réu a prova da
inexistência da paternidade que lhe é imputada pelo autor. A omissão em submeter-se ao
exame evidencia que abriu mão de comprovar fato impeditivos ao direito buscado do
autor, além de ensejar a presunção de veracidade dos fatos constantes da inicial. 146 Daí
as normas do art. 231 e 232 do CC e a Súmula 301 do Superior Tribunal de Justiça.147 A Lei
da Averiguação Oficiosa da Paternidade (Lei 8.560/1992), gera a presunção de paternidade
no caso de o suposto pai se recusar a submeter-se ao exame de DNA. Ainda assim – e
desgraçadamente – a presunção não é absoluta, pois a omissão cabe ser apreciada em
conjunto com o contexto probatório. Porém, ao negar-se o réu a submeter-se à testagem
sanguínea, tal significa que desistiu da única prova possível para infirmar a pretensão do
autor. Por isso, de todo descabido exigir outros subsídios probatórios para o acolhimento
da ação.

Diante da recusa do réu, deve o juiz fixar alimentos provisórios a favor do autor, sendo
de todo desnecessário aguardar o momento da sentença.

Dispensa de reconhecimento

Mesmo sem ser reconhecido, o filho pode pleitear alimentos ao genitor.

A autorização legal ao filho havido fora do casamento de acionar o pai para obter
alimentos (art. 1.705 do CC), conforme afirma Francisco Cahali, é desnecessária,
ultrapassada e até retrógrada na mentalidade.148 Inexistindo qualquer obstáculo para o
filho buscar seu reconhecimento, não se justifica o dispositivo, até porque o juiz, de ofício,
é obrigado a fixar alimentos, tanto na ação de alimentar (art. 4º da LA) como na
investigatória de paternidade (art. 7º da Lei 8.560/1992).

Apesar da infeliz redação deste dispositivo legal, que vem sendo visto como de patente
inconstitucionalidade,149 talvez não exista mácula de tamanha dimensão. Pelo jeito o
legislador quis dizer o que não disse com clareza. Cabe interpretá-lo a contrário senso:
havendo vínculo parental ou de parentesco, é desnecessária prova pré-constituída da
obrigação para pleitear pensão alimentícia.

Nítida a intenção da lei no sentido de assegurar ao filho o direito de pedir alimentos ao


genitor, independentemente do reconhecimento da filiação. De qualquer forma, vale o
alerta: existindo indícios do vínculo de paternidade, ainda que não constituída
judicialmente a filiação, possível é a busca de alimentos, não só em relação ao genitor, mas
também frente aos demais parentes.

Pode o autor incluir os avós no polo passivo da ação investigatória de paternidade


cumulada com alimentos. Basta alegar a impossibilidade do investigado de arcar com o
pensionamento. Reconhecida a paternidade e a hipossuficiência do genitor, deve ser
atribuída aos avós a obrigação alimentar.150

Há vantagens em formar-se um litisconsórcio passivo sucessivo. A partir do


momento em que forem fixados os alimentos, devem os avós iniciar o pagamento. E,
transitada em julgado a sentença, o encargo alimentar retroage à data da citação (art. 13, §
2º da LA).

Termo inicial do encargo alimentar

Reconhecida a paternidade, os alimentos devem retroagir à concepção do filho.

Pai é pai desde a concepção do filho, e é preciso dar efetividade ao princípio da


paternidade responsável. O simples fato de não assumir o genitor a responsabilidade
parental não pode desonerá-lo de todos os ônus, encargos e deveres decorrentes do poder
familiar. O filho necessita de cuidados durante a vida intrauterina. A gestante precisa de
alimentação adequada e roupas especiais. Deve submeter-se a exames pré-natais e o parto
sempre gera despesas. Por isso, e em boa hora, foram regulamentados os alimentos
gravídicos.151 Nada mais do que a possibilidade de serem deferidos alimentos a partir da
concepção.

Claro que esta é uma tese difícil de vingar. Basta ver a tendência, amplamente
majoritária de que os alimentos provisórios, fixados quando do despacho inicial, só são
devidos a partir da citação do réu. Aliás, esta é a única hipótese em que se nega efeito
imediato à concessão de tutela antecipada.

Como a ação investigatória de paternidade tem carga eficacial declaratória, seus


efeitos retroagem à data da concepção. Assim, descabido livrar o genitor da obrigação de
pagar alimentos desde que se torna pai, isto é, desde que o filho foi concebido. De todo
desarrazoada a alegação de que os alimentos não são devidos simplesmente por não
terem sido pedidos, partindo da presunção de que o credor deles não necessitava. A
justificativa sequer merece resposta, em face das obrigações decorrentes do poder
familiar.

A alegação do réu de que desconhecia a gravidez, não sabia do nascimento do filho e


não tinha sequer conhecimento da gravidez, só vindo a saber de sua existência quando
citado para a ação investigatória, não o livra do dever de pagar alimentos. O
desconhecimento da condição do pai não pode dispensá-lo dos deveres inerentes ao poder
familiar (art. 1.634 do CC). Sabendo ou não da gravidez, independentemente de quando
foi proposta a ação, há débito alimentar desde a concepção. Como a mãe proveu sozinha
às necessidades do filho, a título de sub-rogação, tem legitimidade para buscar o
reembolso do que pagou, o que enseja a fixação dos alimentos com efeito retroativo.

Outro fundamento utilizado pelo réu para livrar-se do pagamento dos alimentos com
efeito retroativo, é que não tinha certeza da paternidade, não podendo assumir o encargo
sem saber se o filho era seu. Desde que surgiu o exame de DNA, que dispõe de índice de
certeza quase absoluto, não há mais como alguém alegar dúvida sobre a verdade
biológica. Nem o custo do exame, nem a negativa da genitora em deixar o filho se
submeter à perícia servem de motivo para o genitor não buscar a verdade. Basta ingressar
com a ação declaratória ou negatória de paternidade. Também pode ajuizar cautelar de
produção antecipada de prova. Em todas as hipóteses terá acesso ao exame genético
gratuito.

Ausência de pedido de alimentos

Quando não requeridos alimentos na ação investigatória de paternidade, sendo o autor


criança, adolescente ou incapaz, deve o juiz, de ofício, impor o pagamento de verba
alimentar.

Quando o autor da ação de investigação de paternidade é menor de idade ou incapaz,


se não foram pedidos alimentos, deve o juiz fixar a verba alimentícia ex officio.152 A
justificativa é singela. A lei que regulamenta o procedimento oficioso de reconhecimento
da paternidade confere ao Ministério Público legitimidade para ajuizar a ação
investigatória de paternidade (art. 2º, § 4º da Lei 8.560/1992). A iniciativa conferida ao
Ministério Público é concorrente, não impedindo, quem tenha legítimo interesse, de
intentar a ação (art. 2º, § 6º da Lei 8.560/1992). De tal sorte, a determinação de que sejam
fixados alimentos não é aplicável somente na hipótese de a demanda ter sido proposta
pelo órgão ministerial.

O dispositivo é claro (art. 7º da Lei 8.560/1992): A sentença que reconhecer a


paternidade, fixará alimentos provisórios ou definitivos a favor do reconhecido que
deles necessite. A norma dirige comando cogente ao juiz. Deve fixar alimentos
liminarmente, se houver indícios da paternidade ou a partir do momento em provas
aportarem aos autos. Essa imposição não se confronta com a proibição de decisão
surpresa consagrada na lei de processo (art. 10 do CPC).

De qualquer modo, é indispensável que sejam estabelecidos alimentos definitivos na


sentença que julga procedente o pedido de declaração de paternidade. Não há necessidade
de pedido expresso do autor.153 Trata-se de pedido implícito, objeto de cumulação
própria sucessiva.154 Aplica-se a regra tanto em investigatórias ajuizadas pelo Ministério
Público, quanto nas ações intentadas por qualquer outro legitimado.

Ausência de condenação

Mesmo que não tenham sido requeridos alimentos pelo autor, mesmo que o juiz não os
tenha fixado e ainda que o recurso seja do réu, cabe ao tribunal fixar verba alimentar, não se
podendo falar em “reformatio in pejus”.

Caso o autor não tenha pedido alimentos, e ainda que o juiz não os tenha fixado na
sentença, impositiva a fixação da verba em sede recursal. Não importa se o recurso foi
interposto pelo réu e não tenha o investigante apelado. Não se trata de reformatio in
pejus, uma vez que ficam submetidas ao tribunal todas as questões anteriores à sentença
ainda não decididas (art. 1.013, § 1º do CPC).

A sentença ficou aquém do seu limite, ou seja, é citra petita, e das duas, uma: ou o
tribunal anula a sentença para que o juiz a complete, fixando os alimentos, ou o próprio
acórdão estabelece o encargo alimentar. Ainda assim, anulada a sentença, impositivo que,
no segundo grau, sejam fixados alimentos provisórios, a vigorar de imediato. O juízo de
procedência do primeiro grau é forte indício da paternidade, o que autoriza sua fixação.

Diante do injustificável erro do procurador do autor em não pedir alimentos e da


omissão do juiz em fixá-los, ao relator cabe suprir a omissão da sentença. Caso
contrário, o grande prejudicado é o investigante, que não irá dispor dos meios
indispensáveis à sua subsistência. De todo descabido que, mesmo depois de reconhecida a
paternidade, fique o filho sem alimentos até que intente ação própria. Mas há mais. Na
ação de alimentos que vier a ser proposta posteriormente, os alimentos provisórios serão
devidos somente a partir da decisão inicial (art. 4º da LA). Durante o demorado caminho
percorrido da citação na ação de investigação até a propositura da ação de alimentos, não
há como deixar o filho absolutamente desassistido. Com isso não pode compactuar a
justiça.

Improcedência da ação

Julgada improcedente a ação investigatória de paternidade, não são mais devidos


alimentos provisórios, não cabendo pedido de restituição dos valores pagos.

Proposta ação investigatória de paternidade cumulada com alimentos, ainda que


tenham sido fixados alimentos provisórios, julgada improcedente a ação, cessa o
encargo alimentar.

Mesmo que o autor apele, os alimentos deixam de ser devidos. Concedidos a título de
tutela antecipada, o recurso não dispõe de efeito suspensivo (art. 1.012, § 1º, V do CPC).

Reconhecido judicialmente que o réu não é o pai do autor, cessa o dever de pagar
alimentos. Mas o demandado não tem como reaver as importâncias pagas a quem não é
seu filho. Isto porque os alimentos são irrepetíveis e se destinaram à mantença do autor
durante a tramitação da demanda investigatória.

AÇÃO NEGATÓRIA DE PATERNIDADE

A propositura da ação negatória de paternidade não deve ensejar a suspensão liminar do


encargo alimentar.

Proposta ação negatória da paternidade, descabe a suspensão liminar do encargo


alimentar, mesmo que a ação venha instruída com o exame do DNA comprovando a
inexistência do vínculo biológico entre as partes. Há a possibilidade de ser reconhecida a
existência de filiação socioafetiva.155

Mais descabida é a pretensão de depósito judicial dos alimentos para que, no caso de
procedência da ação, as parcelas serem levantadas pelo autor da ação. A desconstituição
do vínculo parental não autoriza a devolução dos alimentos pagos. Alimentos são
irrepetíveis.

No máximo seria possível pedido de reembolso das importâncias pagas pelo pai
registral frente a quem foi reconhecido como genitor. Afinal, assumiu responsabilidade
que não era sua. Mas é muito pouco crível que esta ação prospere!

AÇÃO DE DIVÓRCIO

Na ação de divórcio – quer consensual, quer litigiosa – é indispensável estabelecer


alimentos a favor dos filhos incapazes. Mas os alimentandos não integram a demanda como
partes.

O Código de Processo Civil, ao tratar da ação consensual de divórcio, determina que


sejam estabelecidos alimentos e disposições sobre a guarda e convivência com relação aos
filhos incapazes (art. 731, II do CPC). Apesar da referência à separação, trata-se de
instituto sepultado pela EC 66/10. Nem lei ordinária e nem decisão do STJ têm o condão de
alterar comando constitucional.
Além do fim da relação, que diz somente com o casal, a exigência de serem solvidas
questões referentes à prole, provoca um cúmulo de demandas. Os filhos não são partes,
não participam da ação, mas seus direitos serão satisfeitos no processo.

Questionamentos surgem sobre se os filhos precisam ou não integrar a ação de


extinção do vínculo afetivo dos pais na condição de partes. Ainda que a demanda vá
apreciar direito seu, a dilação do objeto litigioso é determinada pela lei, a dispensar a
presença da prole na ação. Mesmo se forem relativamente incapazes, não precisam
outorgar procuração a um dos genitores.

Houvesse tal exigência, a discordância do filho em participar da demanda impediria os


pais de se divorciarem.

ANULAÇÃO DE CASAMENTO

Anulado o casamento, existe a obrigação alimentar a favor do cônjuge de boa-fé.

Enquanto não anulado, persistem todos os deveres e direitos decorrentes do


casamento. Assim também o dever de mútua assistência, que se transforma em
obrigação alimentar, quando cessada a vida em comum. Basta haver necessidade de um e
possibilidade do outro. Enquanto vigorar o casamento – anulável ou nulo – e mesmo
durante o processo de desconstituição do vínculo, independentemente de qualquer
indagação em torno da boa ou má-fé de qualquer dos cônjuges, persiste o dever de
assistência recíproca.156 Mantida a eficácia do casamento durante um período, permanece
hígido o dever de mútua assistência a gerar direito a alimentos.

É possível cumular a ação de nulidade ou de anulação com a ação de alimentos (art.


13 da LA). Também os alimentos podem ser pedidos pelo réu na via reconvencional, se o
cônjuge que propôs a ação é o que tem condições de prover os alimentos. Reconhecidas as
necessidades de um e as possibilidades do outro, podem ser deferidos alimentos
provisórios (art. 4º da LA).

Desconstituído o vínculo matrimonial, para saber se persiste a obrigação alimentar é


necessário fazer algumas distinções. Declarado nulo, por vício absoluto, ou anulado o
casamento, por vício relativo, os efeitos da sentença retroagem à data de sua celebração
(art. 1.563 do CC). Ou seja, o enlace conjugal desaparece do mundo jurídico, nada
remanescendo entre os cônjuges, nem o dever de mútua assistência. Assim, desconstituído
o casamento, não persiste a obrigação alimentar, cessando o encargo fixado em caráter
provisório. O pensionamento deve ser pago até a data da sentença de procedência e não
de seu trânsito em julgado, não havendo como falar em restituição, porquanto legítimos os
alimentos percebidos.

Tratando-se de casamento putativo (art. 1.561 do CC), reconhecida a necessidade do


cônjuge de boa-fé, persiste o dever de mútua assistência em seu favor, fazendo ele jus a
alimentos definitivos, mesmo depois de desconstituído o casamento. Não importa se foi
reconhecida a putatividade também com relação ao alimentante. Ainda assim deve ele
arcar com os alimentos. A origem da obrigação alimentar não tem caráter punitivo.

A obrigação alimentar pode ser deferida na própria ação anulatória, dispondo de


efeito retroativo à data da citação (art. 13, § 2º da LA). Apesar de a culpa não mais ser
causa de exclusão do direito alimentar, na ação anulatória do casamento, a má-fé do
cônjuge impede a obtenção de alimentos. Somente para o consorte de boa-fé o casamento
existiu (da celebração à anulação), devendo ser-lhe assegurado alimentos, mesmo depois
de anulado o casamento.
A obrigação alimentar não se confunde com o dever de reparação dos danos morais
causados pelo cônjuge cuja má-fé ensejou a anulação do casamento, ainda que tal
ressarcimento possa ser pago sob a forma de pensão alimentícia.157

Havendo filhos, indispensável que na ação desconstitutiva do casamento fiquem


definidos alimentos e o regime de convivência. Como existem essas obrigações na ação de
dissolução do casamento, impositivo que sejam exigidas na ação anulatória, pois, com o
desfazimento do casamento, não se alteram os deveres dos pais em relação à prole (art.
1.579 do CC).

O instituto da anulação do casamento perdeu muito do seu significado desde o advento


do divórcio e do reconhecimento da união estável. Isso porque, anulado o casamento,
não há como excluir todos os seus efeitos. Durante o período de convívio há que se
reconhecer, ao menos, a existência de uma união estável.

AÇÃO DE DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL

Na ação de dissolução de união estável – quer consensual, quer litigiosa – é indispensável


estabelecer alimentos e o regime de convivência dos filhos, os quais, no entanto, não
integram a demanda como partes.

Ainda que a união estável se desfaça pelo simples fim da convivência, muitas vezes é
buscada a chancela judicial para delimitar seu período de existência. Mesmo se tratando
de demanda declaratória, havendo filhos incapazes, nada justifica dispensar o
implemento dos mesmos requisitos legais para a concessão do divórcio.

A lei de processo regulamenta as ações litigiosas (art. 693 a 699 do CPC) e as ações
consensuais de divórcio e de reconhecimento e da união estável (art. 731 a 734 do CPC).
Pelo jeito, tenta emprestar sobrevida ao instituto da separação consensual, o qual, no
entanto, desapareceu do sistema jurídico em face da EC 66/2010.

A exigência de serem solvidas questões outras – não só alimentos, como guarda e


regime de convivência – provoca um cúmulo de demandas (que a lei processual chama
de cumulação de pedidos). Além da dissolução da união, que diz somente com os
conviventes, são trazidas a juízo questões que envolvem os filhos.

Ainda assim, os filhos não devem integrar a ação na condição de parte. Ainda que
relativamente incapazes, não precisam outorgar procuração a um dos genitores. Muito
embora a ação vá apreciar direito seu, a exigência seria descabida. A dilação do objeto da
ação é determinada pela lei, a dispensar a presença da prole na demanda. Desnecessária a
formação de um litisconsórcio de pais e filhos.

Outra não pode ser a solução. A eventual resistência do filho relativamente capaz de
participar da demanda – eis que precisaria firmar procuração para ser assistido em juízo –
não pode impedir que os pais busquem, em juízo, o reconhecimento da existência e
dissolução da união estável.

Reconvenção

Diante da resistência em reconhecer a possibilidade de serem buscados alimentos após o


divórcio e depois de dissolvida a união estável, cabe ao réu que deles necessita requerê-los
pela via reconvencional.

Como o divórcio dissolve a sociedade conjugal, a tendência é reconhecer que, com sua
decretação, extingue-se o dever de mútua assistência, que nasce com o casamento. Assim,
o cônjuge que necessita de alimentos precisa pleiteá-los na ação de divórcio, o que
provoca um cúmulo de ações.

E, quando a ação de divórcio é proposta pelo outro cônjuge, indispensável que o


demandado que necessita de alimentos os busque por meio de reconvenção.158

O mesmo ocorre na união estável. Buscado judicialmente o reconhecimento e a


declaração de sua dissolução, caso o réu necessite de alimentos, tem que fazer uso da
reconvenção para buscar sua fixação.

AÇÃO CONTRA O ESPÓLIO

Falecido o devedor de alimentos, o credor pode ingressar com a ação de alimentos ou


com a execução da dívida alimentar contra os herdeiros e não contra o espólio.

Duas são as possibilidades que autorizam o credor a promover a ação contra os


herdeiros:

- quando do falecimento do alimentante não havia obrigação pré-constituída da


obrigação alimentar. Assegurada, expressamente, a transmissibilidade da obrigação
alimentar aos herdeiros (art. 1.700 do CC), apesar de toda a controvérsia doutrinária e
jurisprudencial, não há como deletar o dispositivo do Código Civil. Como a lei fala em
transmissão da obrigação, não está se referindo ao pagamento de débito decorrente de
obrigação pré-constituída. A lei não tem dispositivos inúteis. Não haveria a mínima
necessidade de uma regra sobre a transmissibilidade, pois a herança responde pelas
dívidas do falecido (art. 1.997 do CC). Às claras, o dispositivo não está a falar de dívida,
mas de obrigação. Deste modo, o titular de direito a alimentos frente ao falecido, pode
propor ação de alimentos contra os herdeiros, mesmo que não tenha acionado o
responsável pelo encargo.159

- quando do falecimento do alimentante havia obrigação pré-constituída da obrigação


alimentar. Nesta hipótese ninguém duvida que o credor pode buscar a cobrança contra os
herdeiros – não contra o espólio – para buscar o crédito. Trata-se de dívida do falecido
pela qual respondem os sucessores no limite das forças da herança. Pode o credor tanto
habilitar seu crédito no inventário quanto promover a execução dos alimentos. Nesta
hipótese, não entanto, descabe o uso da via da prisão, somente é possível promover a ação
pelo rito da expropriação.160

AÇÃO CONTRA O ESTADO

Reconhecida a obrigação do Estado em prestar alimentos aos segmentos vulneráveis


(idosos, crianças e adolescentes), tanto a União, como o Estado e o Município dispõem de
legitimidade para figurar no polo passivo da ação.

É dever concorrente das entidades federativas garantir os direitos sociais, como o


direito à saúde, moradia, lazer, assegurando proteção à infância e aos desamparados (art.
6º da CF). Todos esses itens integram o conceito de alimentos. Dita norma constitucional
impõe aos entes públicos o dever de perpetrarem ações concretas, as quais visam, em
última análise, a preservar o direito à vida. Essa é a posição já solidificada no âmbito do
Supremo Tribunal Federal, ao decidir sobre o direito a medicamentos.161 E não há
qualquer justificativa para deixar de invocar a mesma linha de argumentação para
garantir também o direito a alimentos, que, em última análise, assegura a vida.

Havendo obrigação solidária da União, Estado e Município, a responsabilidade é


concorrente. Não é outro o entendimento do Superior Tribunal de Justiça.162 Assim, em se
tratando de responsabilidade solidária, a ação de alimentos pode ser proposta contra
qualquer dos entes federados. Eleito um dos entes públicos, ele não pode alegar
ilegitimidade passiva e nem chamar ao processo os demais para responder à ação (art.
130 do CPC).

Proposta a ação por menor de 14 anos ou maior de 65 anos, a obrigação nem sequer
necessitaria ser alvo de quantificação, pois já dispõe de valor prefixado na lei: um salário
mínimo. Belo sonho pra um Brasil ideal.

Como o valor do encargo já está definido, o objeto da demanda é tão só a prova da


ausência de condições dos obrigados de atender ao dever de sustento. Frente a esta
comprovação, é de ser condenado o Estado a pagar os alimentos.

A solidariedade do Estado esculpida no Estatuto do Idoso não desonera a obrigação


decorrente quer dos vínculos de parentesco, quer da solidariedade familiar. Como a
responsabilidade estatal é subsidiária, intentada a ação contra o Estado, tem ele
legitimidade de chamar à lide os parentes do alimentante para responderem pela
obrigação (art. 1.698 do CC). Nada obsta que o ente público, mesmo depois de ter sido
condenado, e ainda que já esteja cumprindo com a obrigação, ao descobrir a existência de
algum parente em condições de atender ao encargo alimentar, invoque o facultativo legal
e se desonere do encargo.

AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS

Os deveres inerentes ao poder familiar legitimam o uso da ação de prestação de contas,


sempre que um dos genitores atribuir ao outro inadimplemento das obrigações de sustento,
guarda ou educação, com relação aos filhos, que são de responsabilidade de ambos.

Compete aos genitores o dever de sustento, guarda e educação dos filhos (art. 1.566, IV
do CC). Devem ambos decidir em comum as questões relativas aos filhos e seus bens (art.
1.690, parágrafo único do CC). Havendo divergência sobre o exercício do poder familiar
qualquer dos genitores pode recorrer ao juiz para solucionar o desacordo (art. 1.631,
parágrafo único do CC).

O fato de os pais não residirem sob o mesmo teto não altera as relações entre pais e
filhos e nem livra nenhum deles dos encargos inerentes do poder familiar.

Com a separação dos pais, o dever de sustento e educação transforma-se em obrigação


alimentar, cujo valor deve ser entregue em mãos de quem permaneceu com a
responsabilidade pelo seu cuidado. Independe se a guarda é unilateral, compartilhada
ou alternada. O compartilhamento da convivência em qualquer das suas formas não
dispensa o genitor que tem melhores condições financeiras de pagar alimentos ao filho.

O direito do genitor não guardião de fiscalizar a manutenção e a educação dos filhos é


assegurado pela Lei do Divórcio (art. 15) e pelo Código Civil (art. 1.589). Deste modo, não é
somente a guarda unilateral que concede ao não guardião o direito de supervisionar os
interesses dos filhos. Trata-se de direito de ambos os genitores, independente da forma de
convivência estabelecida.

É o que diz a lei, ainda que com punhado de imprecisões (art. 1.583, § 5º do CC): A
guarda unilateral obriga o pai ou a mãe que não a detenha a supervisionar os interesses dos
filhos, e, para possibilitar tal supervisão, qualquer dos genitores sempre será parte legítima
para solicitar informações e/ou prestação de contas, objetivas ou subjetivas, em assuntos ou
situações que direta ou indiretamente afetem a saúde física e psicológica e a educação de
seus filhos.

Não há como saber o que significa informações e/ou prestações de contas objetivas ou
subjetivas. Flávio Tartucce diz que a exigência da prestação deve ser analisada mais
objetiva do que subjetivamente, deixando-se de lado pequenas diferenças de valores e
excessos de detalhes na exigência da prestação, o que poderia torná-la inviável ou até
aumentar o conflito entre as partes.163

Seguindo a trilha da desjudicialização preconizada pelo novel diploma processual,


fomentada pelo incentivo à mediação e conciliação, há de cogitar a hipótese de se exigir e
prestar contas pela via extrajudicial quando o fim da relação pessoal se der por este
caminho, ou, ainda, como forma de se apurar eventual crédito sem movimentar o
Judiciário, levando à apreciação do Estado-juiz questões pontuais sobre a discórdia das
contas apresentadas. 164

A menção à supervisão e à possibilidade de exigir prestação de contas, sem dúvidas,


está relacionada aos alimentos.165 Surgindo a suspeita de que a verba alimentar não está
sendo utilizada para atender às necessidades do alimentando, possível o uso da ação de
prestação de contas. Mas não só. Caso o genitor, com quem o filho reside, deixe de atender
aos seus encargos com relação a ele, pode sujeitar-se a um pedido de informações, no que
diz, por exemplo, com a educação e a saúde. Como manter o filho em escola particular,
assegurar-lhe atividades extracurriculares, incluí-lo em plano de saúde etc.

O direito à prestação de contas decorre do exercício da fiscalização inerente ao poder


familiar quanto à manutenção e educação dos filhos.166 Assim, quando alegada
malversação dos recursos pagos ou havendo suspeita de desvio de finalidade, é de ser
admitida a ação fiscalizadora de quem paga os alimentos. Quer seja o genitor,167 quer
sejam os avós.168

Como lembra Rolf Madaleno, sabido quão fértil se presta o Direito das Famílias para a
prática do abuso do direito, vedado pela legislação civil (art. 187 do CC), inclusive no
instituto dos alimentos, quando os filhos são prejudicados pelos desvios ou pela má gestão
do seu crédito alimentar. O exercício abusivo da pensão dos filhos atenta contra os
superiores interesses dos mesmos, e a prestação de contas é a grande reserva a favor do
alimentante para evitar a malversação dos alimentos.169 A constatação da má
administração dos recursos pagos a título de alimentos pode acarretar não apenas a
reversão da guarda, mas também a possibilidade de o menor alimentando pleitear danos
morais contra o administrador de seus recursos.170

De qualquer modo, na ação de prestação de não pode ser buscada a restituição dos
alimentos pagos.171

NOTAS DE RODAPÉ
1

Luiz Guilherme Marinoni e Sergio Cruz Arenhart, Execução, 374.


2

Rolf Madaleno, Curso de direito de família, 1.028.

Lei 5.478/1968.

Cristiano Chaves de Farias, Prisão civil por alimentos..., 53.

Súmula 383 do STJ: A competência para processar e julgar as ações conexas de interesse de
menor é, em princípio, do foro do domicílio do detentor de sua guarda.

Divórcio. Partilha. Ex-cônjuges que são sócios à razão de 50% em uma empresa. Administração
exclusiva. Alimentos compensatórios. Fixação. Descabimento. Quando o ex-casal é sócio em
razão de 50% para cada um em uma empresa, não há temática estrita de partilha em decorrência
da dissolução da união conjugal a ser decidida pelo juiz de família. [...], Não há justificativa
jurídica para fixar, no âmbito de um processo que debate Direito de Família, o que se
convencionou chamar de alimentos compensatórios, que não são nem "alimentos", e nem
"compensatórios". Em princípio, qualquer debate sobre a administração da empresa e/ou sobre a
divisão dos lucros, deverá se dar na via própria e, especialmente, perante o juízo societário
competente. Deram provimento. (TJRS, AI 70071328090, 8ª C. Cív., Rel. Rui Portanova, j.
15/12/2016).

Súmula 1 do STJ: O foro do domicílio ou da residência do alimentando é o competente para a ação


de investigação de paternidade, quando cumulada com a de alimentos.

Conflito negativo de competência. Mudança de domicílio no curso da ação de alimentos. Relação


jurídica continuativa. Permeabilidade a fatos supervenientes. Menor hipossuficiente. Interesse
preponderante destes. Mitigação do princípio da perpetuatio jurisdictionis (art. 87 do CPC). 1. A
prestação de alimentos refere a uma relação jurídica continuativa, por tempo indeterminado,
estando sujeita a modificações ditadas por comprovada alteração da situação fática justificadora
de sua fixação. Os alimentos podem ser redimensionados ou afastados. 2. Assim, os alimentos
podem ser revistos ainda no trâmite do processo originário ou em nova ação. Essa demanda
posterior não precisa ser proposta em face do mesmo juízo que fixou os alimentos originalmente,
podendo ser proposta no novo domicílio do alimentando, nos termos do art. 100, II, do CPC. Até
mesmo a execução do julgado pode se dar em comarca diversa daquela em que tramitou a ação
de conhecimento, de modo a possibilitar o acesso à Justiça pelo alimentando. Precedentes. 3. O
caráter continuativo da relação jurídica alimentar, conjugado com a índole social da ação de
alimentos, autoriza que se mitigue a regra da perpetuatio jurisdictionis. 4. Isso porque, se o
alimentando mudar de domicílio logo após o final da lide, e ocorrerem fatos supervenientes que
autorizem a propositura de ação de revisão de alimentos, essa vai ser proposta na comarca onde
o alimentando tiver fixado novo domicílio. Do mesmo modo, a execução do julgado pode se dar
no novo domicílio do alimentando, como acima visto. Assim, se a troca de domicílio ocorrer
durante o curso da ação originária, não parece razoável que se afaste esse entendimento com
vistas somente no aspecto da estabilidade da lide, de marcante relevância para outras demandas,
mas subalterno nas ações de alimentos, permeáveis que são a fatos supervenientes. 5. Cumpre
ressaltar, ademais, que no caso em tela o menor e a genitora se mudaram para o foro do
domicilio do genitor, em São Paulo/SP, nada justificando a manutenção do curso da lide no Estado
do Ceará, nem mesmo o interesse do alimentante. 6. Conflito conhecido para declarar competente
o Juízo de Direito da 1ª Vara de Família e Sucessões do Foro Regional III – Jabaquara-SP (STJ, CC
114.461/SP (2010/0186742-0), Rel. Min. Raul Araújo, j. 27/06/2012).

Rolf Madaleno, Curso de direito de família, 995.

10

Araken de Assis, Manual da execução, 1.041.

11

Fabrício Dani de Boekel, Tutela jurisdicional do direito a alimentos, 50.

12

Súmula 226 do STF: Na ação de desquite, os alimentos são devidos desde a inicial e não da data da
decisão que os concede.

13

Alimentos provisórios. Termo inicial da obrigação. Data da fixação. Arbitramento em salários


mínimos. Cálculo. Valor vigente no mês de referência. Recurso parcialmente provido. Os
alimentos provisórios são exigíveis a partir da respectiva fixação. O cálculo da verba alimentícia
fixada em salários mínimos deve observar o valor do mínimo legal vigente em cada mês de
referência. (TJMG, AI 10470120085365003 MG, 2ª C. Cív., Rel. Des. Afrânio Vilela, j. 17/09/2013).
14

Ação de alimentos. Alimentos provisórios e definitivos. Efeito retroativo da sentença que


promove a majoração do valor. 1. Na linha dos precedentes desta Corte, os alimentos definitivos,
quando fixados em valor inferior ao dos provisórios, não geram para o alimentante o direito de
pleitear o que foi pago a maior, tendo em vista irrepetibilidade própria da verba alimentar. 2.
Todavia, quando fixados definitivamente em valor superior ao dos provisórios, terão efeito
retroativo (Lei 5.478/68, art. 13, § 2º), facultando-se ao credor pleitear a diferença. 3. Recurso
Especial provido para assegurar a retroatividade do valor maior, fixado pela sentença. (STJ, REsp
1.318.844/PR (2011/0179694-9), 3ª T., Rel. Min. Sidnei Beneti, j. 07/03/2013).

15

Pedido de suspensão de a execução de alimentos em face de posterior ajuizamento de ação


exoneratória de pensão alimentícia. Efeitos ex nunc. Não afetação da dívida consolidada.
Improvimento do recurso. É cediço que os efeitos de eventual decisão judicial exoneratória de
pagamento de pensão alimentícia por parte do ora agravante não poderão retroagir para
alcançar atos processuais anteriormente convalidados. A decisão de exoneração de devedor de
pagamento de pensão alimentícia somente terá efeitos para o futuro, ´ex nunc`, portanto, não
afetará a dívida alimentar consolidada, que possui liquidez, certeza e exigibilidade. – Os efeitos
da sentença que exonera o alimentante da obrigação alimentar se darão apenas a partir do
trânsito em julgado da decisão. Precedentes do STJ. – Tendo sido a penhora determinada para o
pagamento de dívida já constituída, não pode a exoneração de alimentos, que apenas transitou
em julgado posteriormente, retroagir para impedir a cobrança das parcelas vencidas e não pagas
pelo agravante. Assim, se não constam dos autos elementos probatórios suficientes à aferição da
procedência das razões recursais articuladas, o improvimento do recurso se impõe. (TJPA, AI
00380629820128140301, 3ª C. Cív. Isol., Rel. Desa. Maria Filomena de Almeida Buarque, j.
08/11/2013).

16

CNJ, Resolução 241 de 09/09/2016.

17

Sérgio Gilberto Porto, Doutrina e prática dos alimentos, 134.

18

Ação de reconhecimento e dissolução de união estável, cumulada com partilha de bens. Pedido
de alimentos, formulado pela ex-companheira, em nome próprio, em favor dos filhos. Alegação
de ilegitimidade. Afastamento. Ilegitimidade superveniente, decorrente da maioridade de um dos
filhos atingida no curso do processo. Afastamento. Fixação da pensão alimentícia. [...]
Ilegitimidade ativa afastada. A maioridade do filho menor, atingida no curso do processo, não
altera a legitimidade ativa para a ação (STJ, REsp 1.046.130/MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, 3ª
Turma, Dje 21/10/2009).

19

Execução de alimentos. [...] A procuração passada por menor púbere, devidamente assistido pelo
representante legal, continua válida após a maioridade da parte. A exigência de nova procuração
vai de encontro ao princípio da celeridade, da economia processual e da instrumentalidade das
formas, devendo-se privilegiar a efetividade do processo (TJMG, AC 1.0024.08.199734-8/001, Rel.
Des. Sandra Fonseca, j. 23/11/2010).

20

Ação revisional de alimentos. Alimentada que atingiu a maioridade no curso da ação.


Irregularidade na representação processual. Não conhecimento do recurso. Não sendo
regularizada a representação processual da alimentada, que atingiu a maioridade no curso da
ação, nos termos dos artigos 13 e 37 do CPC, a apelação não deve ser conhecida. Apelação não
conhecida. (TJRS, AC 70061495941, 8ª C. Cív., Rel. Des. Ricardo Moreira Lins Pastl, j. 09/03/2015).

21

Rolf Madaleno, A execução de alimentos do relativamente incapaz, 685.

22

Marianna Chaves, Algumas notas sobre a execução de alimentos no novo CPC, 452.

23

Fredie Didier Júnior, A nova intervenção de terceiro..., 441.

24

Alimentos. Obrigação avoenga. Chamamento à lide dos avós maternos. Inexistência de


litisconsórcio passivo necessário. Descabimento. 1. Inexiste litisconsórcio passivo necessário
entre os avós maternos e paternos, pois a obrigação alimentar é divisível e não solidária. 2. Caso
o parente obrigado prioritariamente a prestar alimentos não tenha condições de suportar
sozinho o encargo, podem ser chamados a concorrer os de grau imediato e os demais obrigados.
Inteligência do art. 1.698 do CC. Recurso desprovido. (TJRS, AI 70068213479, 7ª C. Cív., Relator:
Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves, j. 11/02/2016). (TJRS, AI 70068213479 RS, 7ª C. Cív., Rel.
Des. Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves, j. 11/02/2016).

25

Ação de alimentos ajuizada pelo filho maior de idade contra o pai e contra a avó paterna.
Alimentos provisórios devidos pelo pai. Redução. Chamamento da mãe ao processo. Cabimento.
[...] Na hipótese a ação foi ajuizada por filho maior de idade concomitantemente contra o pai e
contra a avó paterna. Ocorre que a obrigação alimentícia recai nos parentes mais próximos,
antes de poderem ser chamados os mais remotos. Logo, na hipótese é viável acolher o pedido de
chamamento ao processo da mãe. Precedentes do STJ e desta Corte. Deram provimento. (Agravo
de Instrumento Nº 70061444113, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Rui
Portanova, Julgado em 30.10.2014). (TJRS, AI 70061444113 RS, 8ª C. Cív., Rel. Des. Rui Portanova, j.
30/10/2014).

26

Agravo regimental em recurso especial. Indenização por danos materiais. Morte de mãe de
família. Pensão mensal. Direito de acrescer. Cabimento. Agravo regimental desprovido. 1. A
jurisprudência desta Corte admite nas hipóteses de pensionamento por ato ilícito, em que há
vários favorecidos, a possibilidade de reversão da quota de um beneficiário aos demais, quando
ele deixar de perceber a verba, a qualquer título. (STJ, AgRg no REsp 676.887/DF, 4ª T., Rel. Min.
Raul Araújo, j. 16/05/2013).

27

Investigação de paternidade. Alimentos. Filho adotivo. Impossibilidade jurídica do pedido.


Afastamento. 1. A “possibilidade jurídica do pedido consiste na admissibilidade em abstrato da
tutela pretendida, vale dizer, na ausência de vedação explícita no ordenamento jurídico para a
concessão do provimento jurisdicional” (REsp 254.417/MG, DJ 02/02/2009). 2. Consoante o
comando inserto no art. 27 do ECA, o reconhecimento do estado de filiação é direito
personalíssimo, indisponível e imprescritível, podendo ser exercitado contra os pais ou seus
herdeiros, sem qualquer restrição, mesmo em se tratando, como na espécie, de autor adotado por
parentes. 3. As disposições constantes dos arts. 41 e 48 do ECA – relativas à irrevogabilidade da
adoção e ao desligamento do adotado de qualquer vínculo com pais e parentes – não podem
determinar restrição ao mencionado direito de reconhecimento de estado de filiação.
Precedentes. 4. Impossibilidade jurídica do pedido afastada. Retorno dos autos à primeira
instância. 5. Recurso especial conhecido em parte e, nesta extensão, provido (STJ, REsp 220.623-SP
(1999/0056782-0), Rel. Min. Fernando Gonçalves, 4ª Turma, j. 03/09/2009).

28

Investigação de paternidade cumulada com desconstituição de registro civil. DNA positivo.


Alegação de existência de paternidade socioafetiva com terceiro a inibir os reflexos da
investigatória na esfera registral e patrimonial. Impossibilidade. Incabível a alegação de
existência de paternidade socioafetiva com terceiro para eximir o pai biológico das suas
obrigações morais e materiais perante a filha. A ação foi proposta quando a investigante tinha 13
anos de idade e desde que soube a verdade sobre sua origem procurou aproximação com o
apelante antes do aforamento da demanda, sem qualquer oposição por parte do pai registral.
Não pode o apelante se valer da paternidade socioafetiva, desvirtuando sua finalidade de evitar
que os filhos reconhecidos simplesmente de um momento para outro fiquem sem pai, para
continuar se eximindo de suas obrigações de pai em relação à apelada, preterida desde o
nascimento. A filiação socioafetiva, tão festejada na jurisprudência, não se presta a socorrer o
mesquinho interesse material do apelante, que quer continuar negando à filha os direitos que lhe
pertencem: nome, alimentos e herança. Negaram provimento à apelação. Unânime (TJRS, AC
70039013610, 8ª C. Cív., Rel. Des. Luiz Felipe Brasil Santos, j. 24/02/2011).

29

Sérgio Gilberto Porto, Doutrina e prática dos alimentos, 147.

30

Rolf Madaleno, Curso de direito de família, 1031.

31

Silvio Venosa, Direito civil, 360.

32

Paulo Lôbo, Famílias, 378.

33

Ação de alimentos. Execução. Penhora. Desconsideração da pessoa jurídica. Exigência dos


requisitos necessários. Comprovação. Possibilidade. A desconsideração inversa da pessoa
jurídica é medida excepcional e somente pode ser aplicada se atendidos os requisitos do art. 50
do CC, o que ficou devidamente comprovado nos autos, inclusive pela própria afirmativa do
agravante (TJMG, AI 1.0024.09.518401-6/003, 7ª C. Cív., Rel. Des. Wander Marotta, j. 13/04/2012).

34

Rolf Madaleno, Curso de direito de família, 1.030.

35

Idem, 1.031.

36

Idem, 1.033.
37

Paulo Lôbo, Famílias, 388.

38

Dissolução de união estável. Preliminar de cerceamento de defesa rejeitada.alimentos


provisórios adequadamente fixados. O fato de o demandado haver comparecido
desacompanhado de advogado em audiência de tentativa de conciliação, não lhe tendo sido
nomeado defensor dativo, não é causa de nulidade, visto que a presença de defensor para o ato
não é obrigatória, conforme exegese do art. 277 do CPC. A circunstância de o representante do
Ministério Público não estar presente na audiência não é motivo de sua nulificação, visto que foi
regulamente intimado, conforme certificado, satisfazendo, assim, a obrigatoriedade de intimação
pessoal para todos os atos do processo (art. 236, § 6º, CPC). Tratando-se de alimentos para filho
menor, podem ser fixados até mesmo de ofício, não necessitando de pedido da parte. A inclusão
das dívidas na partilha não necessitaria ser expressamente postulada, e recebida como emenda à
inicial, visto que nesta peça já consta pedido de divisão do patrimônio, o que naturalmente inclui
ativo e passivo. Alimentos provisórios adequadamente fixados, considerando (a) as necessidade
presumidas da beneficiária da pensão; (b) o fato de que não ainda não está adequadamente
demonstrada a renda efetiva do alimentante; e (c) o dever prioritário de sustento da prole
durante a menoridade. NEGARAM PROVIMENTO. UNÂNIME. (TJRS, AI 70052595162, 8ª C. Cív.,
Rel. Des. Luiz Felipe Brasil Santos, j. 28/03/2013).

39

Fredie Didier Júnior, A nova intervenção de terceiro..., 440.

40

Ação de alimentos ajuizada pelo Ministério Público em favor de criança devidamente


representada nos autos pela genitora. Legitimidade ad causam. Direito indisponível.
Interpretação sistemática das normas constitucionais e da L 8.069/90. Doutrina da proteção
integral. Sentença anulada. O Ministério Público possui legitimidade ad causam para propor ação
de alimentos em favor de menor que se encontra devidamente representado pela sua genitora,
mesmo que não se encontre em situação de risco. O direito a alimentos é direito individual
indisponível, estando, portanto, inserto nas hipóteses que legitimam a atuação do Ministério
Público. Observância do disposto no art. 127 c/c o art. 227, da Carta Magna, assim como no art.
201 da L 8.069/90. Interpretação em sentido oposto resultaria em violação às normas
constitucionais, assim como a ofensa ao fundamental direito de acesso à justiça. Isto porque,
além de se tratar da defesa de direitos indisponíveis, sobressai a necessidade precípua de
permitir o livre acesso à justiça, o que, por vezes, tem se mostrado como algo difícil. Apelo
conhecido e provido, para reconhecer a legitimidade ad causam do Ministério Público. (TJBA, AC
0000526-46.2013.8.05.0082, 3º C. Cív., Rel. Des. Rosita Falcão de Almeida Maia, j. 10/12/2013).
41

Yussef Said Cahali, Dos Alimentos, 851.

42

Neste sentido: Sérgio Gilberto Porto, Doutrina e prática dos alimentos, 75 e Yussef Said Cahali,
Dos Alimentos, 853.

43

Impugnação ao valor da causa. Ação de revisão de alimentos que visa a redução da verba
alimentar devida. Sabido que o valor da causa na ação de revisão de alimentos na qual se
objetiva a redução do pensionamento deve corresponder a uma anuidade da diferença entre o
valor até então pago e o que se pretende reduzir, merece provido o recurso. Acordo extrajudicial
realizado entre os genitores não homologado em juízo. Agravo de instrumento provido. (TJRS. AI
70053955688, 7ª C. Cív., Rel. Des. Jorge Luís Dall'Agnol, j. 28/08/2013).

44

Ação de exoneração de alimentos. Impugnação ao valor da causa. Recurso provido. 1. O valor da


causa em ação de exoneração de alimentos deve corresponder a uma anuidade dos alimentos
fixados. Decisão unânime. (TJPI, AI 00052448320108180000 PI 201000010052443, 2ª C. Esp. Cív.,
Rel. Des. Brandão de Carvalho, j. 26/08/2014).

45

Belmiro Pedro Welter, Rito processual na prestação alimentar..., 203.

46

Revisional de alimentos. Audiência de conciliação. Nulidade. Em se tratando de ação de


alimentos, é indispensável a realização de audiência de tentativa de conciliação,
preferencialmente com oitiva das partes. Precedentes. A referida solenidade oportuniza ao
julgador a obtenção de provas indispensáveis, que nem sempre são produzidas de outras
maneiras em demandas de alimentos. De ofício, desconstituíram a sentença. (TJRS. AC
70067846113, 8ª C. Cív., Rel. Des. Rui Portanova, j. 03/03/2016).

47

Fernanda Tartuce, Processo civil aplicado ao direito de família, 79.

48

Sérgio Gischkow Pereira, Ação de alimentos, 96.


49

Sérgio Gilberto Porto, Doutrina e prática dos alimentos, 88.

50

Ação de divórcio. Pedido de alimentos formulado na reconvenção. Possibilidade. Na ação de


divórcio é cabível a reconvenção com pedido de alimentos em face da conexão com a ação
principal, nos termos do art. 315 do CPC. Provimento do apelo, com fulcro no art. 557, § 1.º-A, do
CPC, para anular a sentença e determinar o prosseguimento do feito com a apreciação do pedido
reconvencional. (TJRJ AC 0409210-85.2012.8.19.0001, 9ª C. Cív., Rel. Des. Carlos Azeredo de Araujo,
j. 31/03/2014).

51

Neste sentido: Yussef Cahali, Dos alimentos, 528; e Sérgio Gilberto Porto, Doutrina e prática dos
alimentos, 98.

52

Belmiro Pedro Welter, Rito processual na prestação alimentar..., 222.

53

Alimentos. Fixação. Revelia. Base de incidência da pensão. Embora se trate de ação de alimentos,
onde, segundo o art. 7º da Lei nº 5.478 /68, o não comparecimento da parte ré implica em revelia,
além de confissão quanto à matéria de fato, tal efeito não induz necessariamente ao acolhimento
integral do valor da pensão pleiteada na inicial, desde que convicção diversa possa ser extraída
dos elementos de convicção existentes nos autos. No caso, embora não haja prova alguma acerca
dos ganhos do alimentante, o autor informa na inicial que o demandado exerce atividade laboral
de "auxiliar operacional", com renda de aproximadamente R$ 800,00. Assim, laborando com
vínculo empregatício, adequado, na linha da conclusão nº 47 do Centro de Estudos deste
Tribunal, a fixação dos alimentos em percentual da sua renda líquida. Fixa-se a pensão, em caso
de emprego formal, em 30% da renda líquida (bruto menos os descontos obrigatórios da
previdência social e, eventualmente, do IR) do apelado, incidente sobre gratificação natalina (13º
salário), terço de férias e verbas rescisórias de caráter não indenizatório, pois estas parcelas
integram, para todos os efeitos, sua remuneração. Deram parcial provimento. Unânime. (TJRS, AC
70065721904, 8ª C. Cív., Rel. Des. Luiz Felipe Brasil Santos, j. 03/09/2015).

54

Fixação de alimentos. Revelia. Tratando-se de alimentos, a revelia não autoriza, por si só, a
fixação no valor postulado, desde que se conclua que esse montante não atende ao binômio
necessidade/possibilidade, como no caso. Isso porque, em que pese a necessidade presumida da
apelante, em razão da menoridade – 06 anos -, o apelado, que conta 29 anos, possui outros dois
filhos, conforme consignado em audiência, não tendo, por isso, condições financeiras de arcar
com valor maior do que o arbitrado, sob pena de prejudicar ainda mais a mantença dos demais
filhos ou, até mesmo, inviabilizar qualquer contribuição para eles. Negaram provimento.
Unânime. (TJRS, AC 70064992621, 8ª C. Cív., Rel. Des. Luiz Felipe Brasil Santos, j. 02/07/2015).

55

Apelação em ação de revisão de alimentos. Revelia. Presunção relativa de veracidade. Verba


alimentar. Redução. Ausência de prova da modificação da capacidade econômica do alimentante.
Impossibilidade. 1. A revelia, em ação revisional de alimentos, não elimina o ônus do autor de
provar o fato constitutivo do seu direito. 2. Necessidade dos filhos menores presumida. 3. Não
comprovada das alegações de que a situação do alimentante tenha se alterado. Incabível a
redução verba alimentar devida aos filhos menores. 4. Apelo provido. (TJPI, AC
00036414220118180031 PI 201400010017977 , p. 15/03/2016).

56

Fredie Didier Júnior, A nova intervenção de terceiro..., 437.

57

Sérgio Gischkow Pereira, Ação de alimentos, 35.

58

Pedro Lino de Carvalho Júnior. Da solidariedade da obrigação alimentar em favor do idoso, 51.

59

Ação de alimentos. Filhos maiores e capazes. Obrigação alimentar. Responsabilidade dos pais.
Genitora que exerce atividade remunerada. Chamamento ao processo. Art. 1.698 do CC. Iniciativa
do demandado. Ausência de óbice legal. Recurso provido. 1. A obrigação alimentar é de
responsabilidade dos pais, e, no caso de a genitora dos autores da ação de alimentos também
exercer atividade remunerada, é juridicamente razoável que seja chamada a compor o polo
passivo do processo a fim de ser avaliada sua condição econômico-financeira para assumir, em
conjunto com o genitor, a responsabilidade pela manutenção dos filhos maiores e capazes. 2.
Segundo a jurisprudência do STJ, “o demandado [...] terá direito de chamar ao processo os
corresponsáveis da obrigação alimentar, caso não consiga suportar sozinho o encargo, para que
se defina quanto caberá a cada um contribuir de acordo com as suas possibilidades financeiras”
(REsp 658.139/RS, 4ª T., Rel. Min. Fernando Gonçalves, DJ 13.03.2006.) 3. Não obstante se possa
inferir do texto do art. 1.698 do CC – norma de natureza especial – que o credor de alimentos
detém a faculdade de ajuizar ação apenas contra um dos coobrigados, não há óbice legal a que o
demandado exponha, circunstanciadamente, a arguição de não ser o único devedor e, por
conseguinte, adote a iniciativa de chamamento de outro potencial devedor para integrar a lide. 4.
Recurso especial provido (STJ, REsp 964.866/SP (2007/0148321-5), 4ª T., Rel. Min. João Otávio de
Noronha, j. 01/03/2011).

60

Enunciado 523 das Jornadas de Direito Civil do CJF: O chamamento dos codevedores para
integrar a lide, na forma do art. 1.698 do Código Civil, pode ser requerido por qualquer das
partes, bem como pelo Ministério Público, quando legitimado.

61

Sérgio Gischkow Pereira, Ação de alimentos, 99.

62

Cristiano Chaves de Farias, Alimentos decorrentes do parentesco, 62.

63

Sérgio Gischkow Pereira, Ação de alimentos, 107.

64

Ação de alimentos. Agravo retido. Indeferimento do depoimento pessoal. Cerceamento de defesa.


Inocorrência. Fixação dos alimentos. Observância da necessidade da menor e da possibilidade
financeira do requerido. Não ocorre cerceamento de defesa se a parte requer a produção de
prova pericial, testemunhal, documental e depoimento pessoal do réu, mas o juiz destinatário da
instrução procede ao julgamento antecipado da lide, entendendo-a madura para apreciação. –
Nos termos do art. 1.694, § 1º, do Código Civil , os alimentos devem ser arbitrados de modo a
promover, equilibradamente, ideal proporcionalidade entre as necessidades presumidas do
alimentando e a capacidade contributiva de seu genitor. (TJMG, AC 10313110332712001, 4ª C. Cív.,
Rel. Duarte de Paula, j. 13/02/2014).

65

Sérgio Gilberto Porto, Doutrina e prática dos alimentos, 86.

66

Fredie Didier, Curso de direito processual civil, 96.

67
Idem, 101.

68

Tratando-se de alimentos, é do alimentante o ônus de fazer prova sobre suas possibilidades (37.ª
Conclusão do Centro de Estudos deste TJRS). Quando o alimentante não faz absolutamente
nenhuma prova sobre suas possibilidades, é de rigor fixar os alimentos no valor postulado na
inicial (que no caso não é excessivo). Deram provimento (TJRS, AC 70044321248, 8ª C. Cív., Rel.
Rui Portanova, j. 24/11/2011).

69

Alimentos. Autora que sempre dependeu dos aportes do varão, que exerce atividade com
evidente dificuldade de aferição dos ganhos. Inversão do ônus da prova. Teoria da carga
dinâmica das provas. Percentual fixado na sentença mantido. Recurso improvido (TJSP, AC
990.10.062944-1, Rel. Caetano Lagrasta, j. 07/04/2010).

70

Enunciado 573 do CJF: Na apuração da possibilidade do alimentante, observar-se-ão os sinais


exteriores de riqueza.

71

Alimentos. Fixação. Filho menor. Trinômio "proporcionalidade-possibilidade-necessidade".


Majoração para melhor adequação ao caso concreto. Parâmetro. Valores pagos voluntariamente
pelo alimentante. Teoria da aparência. Recurso parcialmente provido 1. A fixação dos alimentos
deve levar em conta a renda mensal do genitor, consoante comprovação nos autos. 2. Diante da
controvérsia a respeito dos reais rendimentos do requerido, impõe-se a aplicação da Teoria da
Aparência, que autoriza ao julgador utilizar como parâmetro para a fixação do encargo
alimentar quaisquer sinais que denotem a existência de capacidade econômica. 3. Considerando
os valores que o alimentante já contribuía esporadicamente antes do ajuizamento da ação, deve
ser majorado o valor fixado na sentença, para quantia que se apresente mais adequada e
compatível com a situação fática demonstrada. 4. Recurso provido em parte. (TJMG, AC
10433110327783001 MG, 5ª C. Cív., Rel. Des. Áurea Brasil, j., 22/05/2014).

72

Fernanda Tartuce, Processo civil aplicado ao direito de família, 99.

73

Sérgio Gischkow Pereira, Ação de alimentos, 105.


74

Idem.

75

Ibidem, 108.

76

Ação investigatória de paternidade cumulada com alimentos. Sentença condenatória. Apelação


recebida no efeito devolutivo. Possibilidade de cobrança de pensão provisória. Julgamento extra
ou ultra petita não configurado. [...] I. A condenação aos alimentos fixados em sentença de ação
de investigação de paternidade pode ser executada de imediato, pois a apelação que contra ela se
insurge é de ser recebida no efeito meramente devolutivo. II. O pedido de pensionamento
formulado nessa espécie de demanda é meramente estimativo, não se configurando decisão ultra
ou extra petita a concessão de valor maior que o postulado na exordial. Precedentes do STJ. [...] V.
Recurso especial não conhecido (STJ, REsp 595.746/SP (2003/0167046-2), Rel. Min. Aldir
Passarinho Junior, j. 02/12/2010).

77

Sérgio Gischkow Pereira, Ação de alimentos, 107.

78

Paulo Lôbo, Famílias, 390.

79

Embargos de divergência. Cabimento. Revisão dos alimentos. Majoração, redução ou exoneração.


Sentença. Efeitos. Data da citação. Irrepetibilidade. 1. Os efeitos da sentença proferida em ação
de revisão de alimentos – seja em caso de redução, majoração ou exoneração – retroagem à data
da citação (Lei 5.478 /68, art. 13, § 2º), ressalvada a irrepetibilidade dos valores adimplidos e a
impossibilidade de compensação do excesso pago com prestações vincendas. 2. Embargos de
divergência a que se dá parcial provimento. (STJ, Embargos de Divergência dm Recurso Especial
EREsp 1.181.119/RJ (2011/0269036-7), 2ª Seção, j. 27/11/2013).

80

Ação de exoneração de alimentos. Sentença. Apelação. Cabimento. Efeito devolutivo. Redação


expressa do art. 14 da Lei 5.478/68. Escólio jurisprudencial. Recurso especial provido. I – A
apelação interposta contra sentença que julgar pedido de alimentos ou pedido de exoneração do
encargo deve ser recebida apenas no efeito devolutivo. II – Recurso especial provido (STJ, REsp
1.280.171/SP (2011/0144286-3), 3ª Turma, Rel. Min. Massami Uyeda, j. 02/08/2012).
81

Sérgio Gischkow Pereira, Alimentos na investigação de paternidade..., 123.

82

Súmula 7 do STJ: A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial.

83

Agravo regimental em recurso especial. Recurso provido monocraticamente para reconhecer os


antecedentes do réu. Alegação defensiva de incidência da Súmula n. 7 do STJ. Não ocorrência.
Revaloração dos fatos descritos no acórdão impugnado. Agravo não provido. 1. O provimento do
recurso especial ministerial, ao reconhecer os maus antecedentes do recorrido, baseou-se
unicamente no contexto fático descrito na dosimetria da pena objeto da reforma do acórdão ora
vergastado. 2. O Superior Tribunal de Justiça, em inúmeros precedentes, destacou a distinção
entre o reexame de provas e a revaloração de fatos, consignando que a revaloração do material
cognitivo é admitida, entre outros casos, para verificar a existência de erro sobre o critério de
apreciação da prova, a partir do texto do próprio acórdão impugnado. 3. Agravo regimental não
provido. (STJ, AgRg no REsp 1.362.510/MG (2013/0019617-0), 6ª T., Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz,
j. 28/04/2015).

84

Leonardo de Faria Beraldo, Alimentos no Código Civil..., 201.

85

Sérgio Gilberto Porto, Doutrina e prática dos alimentos, 108.

86

Yussef Said Cahali, Dos alimentos, 637.

87

Revisão de alimentos. O deferimento de antecipação de tutela em ação revisional de alimentos


depende de prova inequívoca – entendida como aquela que não admite dúvida razoável – da
alteração do equilíbrio do binômio necessidade/possibilidade, nos termos do art. 1.699 do CCB.
Consoante a melhor doutrina, a decisão judicial sobre alimentos produz coisa julgada material,
inobstante a equivocada e atécnica dicção do art. 15 da Lei 5.478/68. Ausência de prova da
alteração do equilíbrio do binômio necessidade-possibilidade para justificar a majoração da
pensão. No entanto, tendo em vista a oferta do agravante em audiência, de majoração para 60%
do salário mínimo, deve a verba ser fixada neste patamar, pois admitida a possibilidade do
prestador e a necessidade do beneficiário. Deram parcial provimento. Unânime. (TJRS, AI
70069658060, 8ª C. Cív., Rel. Luiz Felipe Brasil Santos, j. 08/09/2016).

88

Leonardo de Faria Beraldo, Alimentos no Código Civil..., 179.

89

Ação rescisória. Revisão de alimentos. Erro de fato no exame dos vencimentos do alimentante
estrangeiro. Referência monetária equivocada. Recebimento em corôas norueguesas e não em
reais. 1. Havendo evidente erro de fato no julgamento do recurso, quanto à referência monetária
utilizada como parâmetro para o redimensionamento da pensão de alimentos, imperiosa a
desconstituição do acórdão. Inteligência do art. 485 , inc. IX , do Código de Processo Civil . 2.
Reexame das pretensões recursais postas na ação revisional, ficando mantido o encargo
alimentar estabelecido em primeiro grau. Ação rescisória julgada procedente. (TJRS, Resc.
70051021194, Rel. Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves, j. 14/12/2012).

90

Rodrigo da Cunha Pereira, Teoria geral dos alimentos, 14.

91

Yussef Said Cahali, Dos alimentos, 531.

92

Enunciado 14 do IBDFAM: Salvo expressa disposição em contrário, os alimentos fixados ad


valorem incidem sobre todos os rendimentos percebidos pelo alimentante que possua natureza
remuneratória, inclusive terço constitucional de férias, 13º salário, participação nos lucros e
horas extras.

93

Alimentos. Décimo terceiro salário. Terço constitucional de férias. Incidência. Julgamento sob a
técnica do art. 543-C do CPC. 1. Consolidação da jurisprudência desta Corte no sentido da
incidência da pensão alimentícia sobre o décimo terceiro salário e o terço constitucional de
férias, também conhecidos, respectivamente, por gratificação natalina e gratificação de férias. 2.
Julgamento do especial como representativo da controvérsia, na forma do art. 543-C do CPC e da
Resolução 08/2008 do STJ: procedimento de julgamento de recursos repetitivos. 3. Recurso
especial provido (STJ, REsp 1.106.654/RJ (2008/0261750-0), 2ª Seção, Rel. Des. Paulo Furtado,
convocado do TJBA, j. 25/11/2009).
94

Ação de alimentos. Critérios. Proporcionalidade. Razoabilidade. Valor fixado. Necessidade do


alimentando e possibilidade do alimentante. Observância. Base de cálculo. Horas-extras.
Inclusão. Sentença mantida. 1. O Juiz, ao arbitrar o quantum dos alimentos, deve, de maneira
proporcional e razoável, conjugar as necessidades do credor com as possibilidades financeiras do
devedor, de modo a assegurar a subsistência das duas partes. 2. Deve ser mantido o importe dos
alimentos fixados, quando se observa que houve correta adequação entre a necessidade do
alimentando e a possibilidade do alimentante. 3. As verbas de natureza salarial, tais como horas-
extras, devem integrar a base de cálculo para a apuração do valor a ser pago a título de
alimentos, excluindo-se apenas as de natureza indenizatória. 4. Sentença mantida. (TJDF, AC
20130710337340 (0032791-78.2013.8.07.0007), Rel. Gislene Pinheiro, j. 19/11/2014)

95

Ação de alimentos em face do genitor. Percentual razoável. Ausência de vinculação com o


percentual pago a outro filho. O percentual fixado para o apelado (20%) nada tem de excessivo,
mesmo levando em conta que o alimentante já paga 10% a outro filho. Os alimentos são fixados
de acordo com as necessidades do menor e com as possibilidades de seus genitores. Assim, se um
mesmo pai tem mais de um filho com mulheres diferentes, embora a sua fonte de renda seja uma
só, o percentual a ser pago por ele vai variar de acordo com as necessidades específicas de cada
filho e com as possibilidades das respectivas genitoras. As horas extras e os adicionais de
periculosidade, noturno e de penosidade integram a base de cálculo dos alimentos, vez que se
tratam de verbas de natureza salarial. Sentença correta. Recurso desprovido, nos termos do voto
do desembargador relator." (TJRJ, AC 00304758720128190203, Rel. Ricardo Rodrigues Cardozo, j.
04/06/2013).

96

Alimentos. Valores recebidos em reclamação trabalhista. Desvio de função. Diferenças salariais. 1


– Os alimentos incidem sobre a remuneração paga habitualmente ao empregado. Não alcançam
verbas trabalhistas de natureza indenizatória. 2 – Sobre valores recebidos em reclamação
trabalhista por desvio de função, incidem alimentos, pois esses continuam tendo natureza
remuneratória. 3 – Os alimentos só são devidos sobre os valores que o alimentante efetivamente
recebeu. 4 – Apelação parcialmente provida. (TJDF, AC 20120111919393 (0053059-
11.2012.8.07.0001), T. Cív., Rel., Jair Soares, p. 05/08/2014).

97

Cumprimento de sentença de alimentos. Incidência do percentual alimentar sobre aviso prévio


indenizado. Descabimento. O aviso prévio indenizado é rubrica rescisória de natureza
indenizatória, e não salarial. E enquanto tal, só pode sofrer incidência do percentual alimentar
fixado em percentual sobre rendimentos se houver expressa menção no título, o que não se
verifica no presente caso concreto. Hipótese na qual os alimentos não incidem sobre o aviso
prévio indenizado. Precedentes do STJ e deste TJRS. Deram provimento. (TJRS, AI 70070828132, 8ª
C. Cív., Rel. Rui Portanova, j. 27/10/2016).

98

Base de cálculo dos alimentos. Verbas indenizatórias. Não incidência. Salário família. Ausência
de comprovação. Decisão mantida. 1 – Os alimentos incidem sobre verbas pagas em caráter
habitual, sobre vencimentos, salários ou proventos, valores auferidos pela Agravada no
desempenho de suas atividades empregatícias, excluindo-se as verbas indenizatórias e os
descontos obrigatórios (previdenciário e imposto de renda) da sua base de cálculo. 2 – As verbas
de caráter indenizatório percebidas pela alimentante, tais como auxílio alimentação e vale
transporte, não podem integrar a base de cálculo dos alimentos. [...] Agravo de Instrumento
desprovido. (TJDF, AI 20150020154228, p. 18/04/2016).

99

Alimentos. Participação nos lucros e resultados – PLR. Natureza não salarial. Rendimento do
trabalhador. Incidência no cálculo da verba alimentar. Sentença mantida. 1. O art. 7º, XI, da
CRFB/88, garante aos trabalhadores a “participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da
remuneração, e, excepcionalmente, participação na gestão da empresa, conforme definido em
lei”. 2. A Lei 10.101/00 regulamentou o referido dispositivo afastando expressamente a sua
natureza salarial: “Art. 3o A participação de que trata o art. 2o não substitui ou complementa a
remuneração devida a qualquer empregado, nem constitui base de incidência de qualquer
encargo trabalhista, não se lhe aplicando o princípio da habitualidade”. 3. Assim, a participação
nos lucros e resultados constitui um estímulo ao trabalhador, para que possa bem exercer o seu
ofício, não integrando o conceito de remuneração. Apesar disso, o Superior Tribunal de Justiça
entende que por se constituir em rendimento pago de modo habitual ao empregado, deve a
participação nos lucros e resultados integrar a base de cálculo de pagamento de verba
alimentícia. 4. Recurso conhecido e desprovido. (TJDF, AC 20140110999414, Rel. Sebastião Coelho,
j. 09/12/2015).

100

Recurso especial. Não configuração de violação ao art. 535 do cpc. Execução de obrigação
alimentar. Base de cálculo. Décimo terceiro salário. Participação nos lucros e resultados. Aviso
prévio. Compensação. Impossibilidade. Não ocorrência de enriquecimento ilícito. [...] 2. Os
alimentos arbitrados em valor fixo devem ser analisados de forma iversa daqueles arbitrados em
percentuais sobre "vencimento", "salário", "rendimento", "provento", entre outros ad valorem. No
primeiro caso, a dívida consolida-se com a fixação do valor e periodicidade em que deve ser
paga, não se levando em consideração nenhuma outra base de cálculo. (REsp 1.091.095/RJ, Rel.
Ministro Luis Felipe Salomão, 4ª Turma, julgado em 16.04.2013, DJe 25.04.2013). [...] 4. A
desvinculação da participação nos lucros operada pela Constituição da República de 1988, em seu
art. 7º, inc. XI, não teve o condão de alterar a essência dessa rubrica a ponto de descaracterizá-la,
tendo objetivado primordialmente incentivar a sua utilização pelos empregadores, desonerando-
os quanto à integração do seu valor ao salário e ao pagamento de diferenças reflexas em outras
parcelas trabalhistas, além dos encargos sociais. 5. Dessarte, a despeito dessas verbas serem
desvinculadas do conceito de remuneração, configuram-se como rendimento, porquanto geram
acréscimo patrimonial, devendo integrar a base de cálculo dos alimentos. [...] 7. O aviso prévio
consiste, em última instância, no pagamento efetuado pelo empregador ao empregado pela
prestação de serviços durante o restante do contrato de trabalho ou à indenização substitutiva
pelo seu não cumprimento por qualquer das partes. Em ambas as hipóteses – natureza salarial
ou indenizatória -, trata-se de verba rescisória, razão pela qual não incide o desconto da pensão
alimentícia, ressalvada disposição transacional ou judicial em sentido contrário (ubi eadem ratio,
ibi eadem dispositio). 8. No presente feito, houve decisão judicial expressa determinando o
desconto de 55% do total das verbas rescisórias, com fundamento na postura recalcitrante do
recorrente em pagar a pensão devida. [...] 11. Ressalva dos Ministros Maria Isabel Gallotti e Raul
Araújo quanto à incidência da pensão alimentícia sobre a rubrica denominada participação nos
lucros apenas quando comprovada a necessidade do alimentando, o que, no caso dos autos, foi
devidamente demonstrada. 12. Recurso especial não provido. (STJ, REsp 1.332.808/SC
(2012/0141639-9), 4ª T. Rel. Min. Luis Felipe Salomão j. 18/12/2014).

101

Lei 8.036/90, art. 20.

102

Recurso especial. Ação de execução de débito alimentar. Penhora de numerário constante no


Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) em nome do trabalhador/alimentante.
Competência das Turmas da 2.ª Seção. Verificação. Hipóteses de levantamento do FGTS. Rol legal
exemplificativo. Precedentes. Subsistência do alimentando. Levantamento do FGTS.
Possibilidade. Precedentes. Recurso especial provido. [...] II – Da análise das hipóteses previstas
no art. 20 da Lei 8.036/90 é possível aferir seu caráter exemplificativo, na medida em que não se
afigura razoável compreender que o rol legal abarque todas as situações fáticas, com a mesma
razão de ser, qual seja a proteção do trabalhador e de seus dependentes em determinadas e
urgentes circunstâncias da vida que demandem maior apoio financeiro. III – Irretorquível o
entendimento de que a prestação dos alimentos, por envolver a própria subsistência dos
dependentes do trabalhador, deve ser necessariamente atendida, ainda que, para tanto, proceda-
se ao levantamento do FGTS do trabalhador. IV – Recurso especial provido (STJ, REsp
1.083.061/RS, 3ª T., Rel. Min. Massami Uyeda, j. 07/04/2010).

103

Família. Homologação de acordo extrajuidicial. Alvará para pagamento da pensão alimentícia em


atraso. Saque do FGTS. Considerando a natureza alimentar da dívida, tanto no âmbito do STJ,
quanto no âmbito desta Corte, encontra-se assentado o entendimento de que é possível a
movimentação de conta vinculada de trabalhador no FGTS, além das hipóteses arroladas nas
disposições do art. 20 da Lei nº 8.036/90, também para fins de garantia e satisfação de dívida de
alimentos. Recurso provido. (TJRS, AC 70065629495, 7ª C. Cív., Rel. Liselena Schifino Robles
Ribeiro, j. 16/07/2015).

104

.Maria Terezinha Nunes, A integral proteção à criança e ao adolescente..., 48.

105

Paulo Lôbo, Famílias, 390.

106

Execução de alimentos. Incidência sobre restituição do imposto de renda. Os alimentos fixados


sobre os rendimentos líquidos do alimentante incidem também sobre a restituição do imposto de
renda, uma vez que houve retenção excessiva e os valores restituídos possuem natureza salarial
(TJRS, AC 70011822806, 7ª C. Cív., Rel. Des. Maria Berenice Dias, j. 27/07/2005).

Cumprimento de sentença. Valores recebidos a título de restituição de impostode renda.


Percentual alimentar. Incidência. Quando os alimentos estão fixados em percentual sobre os
rendimentos do alimentante, abatidos apenas os descontos obrigatórios, são os valores
efetivamente gastos com tais despesas que estão livres da incidência do percentual alimentar.
Valores restituídos do imposto de renda são valores que não foram efetivamente utilizados no
pagamento dos descontos obrigatórios. Tanto assim é que foram restituídos ao alimentante. Logo,
tais valores estão incluídos entre aqueles que, pelo título executivo, devem sofrer a incidência do
percentual alimentar. Agravo provido. Em monocrática. (TJRS, AI 70020967733, 8ª C. Cív., Rel. Rui
Portanova, j. 14/08/2007).

107

Paulo Lôbo, Famílias, 390.

108

Alimentos provisórios. [...] A verba alimentar deve ser estipulada em valor certo, determinando-
se sua correção monetária anual, a partir da data da decisão que os define (não de seu trânsito
em julgado), conforme comando do art. 1.710 do CC (TJRS, AI 70042401075, 8ª C. Cív., Rel. Des.
Luiz Felipe Brasil Santos, j. 14/07/2011).

109

Leonardo de Faria Beraldo, Alimentos no Código Civil..., 168.

110
Recurso especial. Direito de família. Alimentos arbitrados em valor fixo (10 salários mínimos)
com pagamento em periodicidade mensal. Coisa julgada. Execução. Incidência em outras verbas
trabalhistas (13.º, FGTS, férias, PIS/PASEP). Impossibilidade. 1. Os alimentos arbitrados em valor
fixo devem ser analisados de forma diversa daqueles arbitrados em percentuais sobre
“vencimento”, “salário”, “rendimento”, “provento”, dentre outros ad valorem. No primeiro caso, a
dívida se consolida com a fixação do valor e periodicidade em que deve ser paga, não se levando
em consideração nenhuma outra base de cálculo. 2. O débito alimentar arbitrado em valor fixo –
por sentença transitada em julgado – deve ser pago pelo montante e na exata periodicidade
constante no título judicial, revelando-se ofensa à coisa julgada a determinação para que o valor
arbitrado seja pago a propósito do recebimento de outras verbas pelo devedor. 3. No caso
concreto, as circunstâncias fáticas incontroversas nas quais a sentença foi proferida dão guarida
ao pleito recursal, pois não há nenhum vestígio no título de que a verba deveria incidir na forma
como entendeu o Tribunal a quo. De fato, mostrou-se relevante ao arbitramento em valor fixo o
fato de o réu auferir rendimentos por fontes que não empregatícias, fato que reforça a conclusão
de que a pensão, na hipótese, não deve incidir sobre verbas outras, como aquelas indicadas pelo
acórdão recorrido. 4. Recurso especial provido (STJ, REsp 1.091.095/RJ (2008/0210351-0), 4ª T, Rel.
Min. Luis Felipe Salomão, j. 16/04/2013).

111

.É possível ao réu reconvir em ação de exoneração de alimentos, pretendendo a majoração da


verba, conforme jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça. Deve ser desconstituída a
pensão alimentícia destinada à filha que já tenha atingido, há muito, a maioridade, concluído o
curso universitário e constituído família, inclusive com prole. Contudo, deve ser majorada a
pensão destinada à beneficiária que foi acometida por grave enfermidade, situação que a onera
sobremaneira (TJMG, AC 2157140-43.2009.8.13.0056, 6ª C. Cív., Rel. Des. Antônio Sérvulo, j.
05/10/2010).

112

Execução de alimentos. Diferenças de valores decorrentes da majoração da verba alimentar.


Juros de mora. Só incidem juros de mora a partir da data em que o alimentante foi intimado da
majoração da verba. Antes disso, a diferença entre a verba adimplida e a majorada não era
exigível e, por conseguinte, não incidem juros de mora. Deram provimento ao recurso. (TJRS, AI
70048824130, 8ª C. Cív., Rel. Alzir Felippe Schmitz, j. 05/07/2012).

113

Embargos de divergência. Cabimento. Revisão dos alimentos. Majoração, redução ou exoneração.


Sentença. Efeitos. Data da citação. Irrepetibilidade. 1. Os efeitos da sentença proferida em ação
de revisão de alimentos – seja em caso de redução, majoração ou exoneração – retroagem à data
da citação (Lei 5.478/68, art. 13, § 2º), ressalvada a irrepetibilidade dos valores adimplidos e a
impossibilidade de compensação do excesso pago com prestações vincendas. 2. Embargos de
divergência a que se dá parcial provimento. (STJ, EREsp 1.181.119/RJ (2011/0269036-7), 2ª Seção,
Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j.27/11/2013).

114

Revisional de alimentos. Redução. Fundamento. Desemprego. Constituição de nova família.


Sentença. Efeitos ex nunc. 1. Desemprego e constituição de nova família são argumentos que não
têm força para justificar a redução do encargo alimentar. 2. A decisão em sentido contrário aos
efeitos ex nunc da sentença que reduz verba alimentar estaria apenas incentivando o alimentante
ao inadimplemento da obrigação. 3. Recurso conhecido e improvido (TJPA, AC 20083000383-2, 2ª
C. Cív., Rel. Célia Regina de Lima Pinheiro, j. 10/05/2010).

115

.Afonso Feitosa, Um olhar ético sobre a obrigação alimentar.

116

Revisão de alimentos. Embora seja certo que a constituição de nova família, com filho, não
signifique, necessariamente, redução da capacidade financeira do alimentante, é preciso sempre
analisar o caso em sua concretude, pois quando se trata de alimentante abonado, o advento de
novo filho provavelmente não repercutirá em sua capacidade contributiva. Porém, diversa é a
situação quando o alimentante recebe modesta remuneração, como no caso, em que ele recebe
salário líquido de aproximadamente R$ 1.570,00. Assim, face à inequívoca alteração para pior da
capacidade financeira do agravante tenho, na linha de situações análogas enfrentadas por esta
Câmara, por adequado dar provimento ao agravo de instrumento, para deferir o pedido de
antecipação de tutela, fixando a verba alimentar em favor da agravada no mesmo valor fixado a
título de alimentos provisórios em favor do outro filho do agravante, de 18% da renda líquida
(bruto menos os descontos obrigatórios do IR e previdência social) do agravante, em valor não
inferior 35% do salário mínimo, ou, em caso de desemprego, em 30% do salário mínimo. Deram
provimento. Unânime. (TJRS, AI 70071485932, 8ª C. Cív., Rel. Luiz Felipe Brasil Santos, j.
15/12/2016).

117

.Alimentos. Obrigação do alimentante com outros filhos. Princípio da isonomia. Redução da


pensão alimentícia. Por força do princípio da igualdade entre os filhos, recomendável a
equivalência na fixação do quantum alimentar, para que não haja desproporção na pensão
alimentícia devida aos filhos, mostrando recomendável a redução. Agravo de instrumento
provido, de plano (TJRS, AI 70046000147, 7.ª C. Cív., Rel. Des. Jorge Luís Dall’Agnol, j. 12/01/2012).

118

.           Paulo Lôbo, Famílias, 391.


119

.           Ação revisional de alimentos. Pretendida a minoração da verba alimentar fixada em favor
da filha menor com sustentáculo em superveniente decesso remuneratório e constituição de
dívidas. Particularidade esta que por si só não justifica a revisão do encargo alimentar.
Alimentante que, ademais, não comprovou o decréscimo de seus rendimentos. Ônus probante
que incumbe ao autor a teor do art. 333, I, do CPC. Quantum que, à vista dos elementos coligidos,
atende ao binômio necessidade da alimentanda e possibilidade do alimentante. Exegese do art.
1.699 do CC. Sentença mantida. Recurso desprovido. 1. A observância dos princípios da
proporcionalidade e razoabilidade se faz necessária para justificar a redução da verba alimentar
devida à prole. Em outras palavras, somente diante de provas convincentes da impossibilidade
econômico-financeira de quem deve pagar ou da desnecessidade de quem recebe é que se deve
acolher a pretensão de diminuição do quantum antes estabelecido judicialmente a título de
alimentos. 2. A constituição de dívidas, por si só, não justifica a exoneração ou minoração do
encargo alimentar anteriormente assumido, mesmo porque em regra aquelas se perfazem por
ato voluntário do alimentante: “A alteração na fortuna que motiva a revisão não pode ser
provocada, produzida espontaneamente pelo alimentante assumindo novos compromissos,
porque isso implicaria em conceder ao devedor arbítrio sobre os alimentos” (Des. Amaral e Silva)
(TJSC, AC 2013.011299-6, 3ª C. Dir. Civ., Rel. Des. Marcus Túlio Sartorato, j. 02/04/2013).

120

Preliminar de julgamento extra petita. Rejeição. Mérito. Pensão alimentícia. Verificação do


binômio necessidade/possibilidade. Redução. Sentença reformada neste aspecto. Provimento
parcial do recurso. Não há que se falar em julgamento extra petita quando, diante das
peculiaridades do caso concreto, a pensão é fixada a maior do que foi oferecido na exordial pelo
autor/alimentante. Levando em consideração o acervo fático e probatório da hipótese, e em
respeito ao binômio necessidade/possibilidade, devida é a redução da pensão alimentícia,
merecendo a sentença recorrida reforma apenas nesse aspecto (TJPB, AC 200.2009.017.135-2/001,
Rel. Des. Genésio Gomes Pereira Filho, j. 06/08/2012).

121

.Francisco José Cahali, Oferta de alimentos, 163.

122

.Sérgio Gilberto Porto, Doutrina e prática dos alimentos, 112.

123

Lei 11.804/2008.

124
Raduan Miguel Filho, Alimentos gravídicos..., 305.

125

Alimentos gravídicos. Indícios de paternidade. Correta fixação. Gestante. Necessidade presumida.


Comprovação das possibilidades. Decisão mantida. 1) Nos termos do art. 6.º da Lei 11.804/2008,
“convencido da existência de indícios da paternidade, o juiz fixará alimentos gravídicos que
perdurarão até o nascimento da criança, sopesando as necessidades da parte autora e as
possibilidades da parte ré”. 2) Possível a fixação dos alimentos gravídicos quando, em audiência
de justificação, testemunha traz indício de prova da paternidade do nascituro. 3) Os alimentos
gravídicos compreendem valores suficientes para cobrir as despesas referentes ao período de
gravidez e que sejam dela decorrentes, uma vez que a necessidade em caso de gestante é
presumida. 4) Demonstradas as possibilidades do agravante em arcar com os alimentos no
importe fixado, não há motivo para reforma da decisão atacada. 5) Recurso conhecido e não
provido (TJDF, Ac. 594413, AC 20120020074277AGI, 5.ª T. Civ., Rel. Des. Luciano Moreira
Vasconcellos, j. 06/06/2012).

126

Alimentos gravídicos. Embora não haja provas da existência do alegado relacionamento, o que
poderia levantar indícios acerca da paternidade, mostra-se viável a fixação liminar dos alimentos
gravídicos quando comprovada a gravidez. Com efeito, por tratar-se de alimentos gravídicos, é
preciso ter em conta a dificuldade de se produzirem de imediato os indícios acerca da
paternidade que se alega. Nesse passo, em casos como o presente, deve-se dar algum crédito às
alegações iniciais a fim de garantir o direito de maior valor, que é a vida e o bem-estar da
alimentada, em detrimento da dúvida acerca da paternidade. Recurso parcialmente provido, por
maioria (TJRS, AI 70050691674, 8ª C. Cív., Rel. Des. Rui Portanova, j. 01.11.2012).

127

Ana Maria Gonçalves Louzada, Alimentos gravídicos e a nova execução de alimentos, 40.

128

Raduan Miguel Filho, Alimentos gravídicos..., 304.

129

Francisco José Cahali, Alimentos gravídicos, 582.

130

.Alimentos gravídicos. Alegada incapacidade para arcar com o valor fixado. Comprovação.
Recurso parcialmente provido. Decisão reformada. Na apuração do quantum dos alimentos
gravídicos, utilizam-se os mesmos critérios para concessão dos alimentos convencionais: a
necessidade da gestante e a possibilidade do alimentante – suposto pai –, conforme previsto no
art. 2.º da Lei 11.804/08. Restando demonstrado que o agravante não tem condições financeiras
para arcar com o valor fixado a título de alimentos gravídicos na decisão recorrida, o montante
deve ser reduzido. Recurso parcialmente provido (TJMG, AI 1.0319.12.003370-3/001, Rel. Des.
Eduardo Guimarães Andrade, j. 16/04/2013).

131

Lúcio Delfino, Direito processual civil..., 162.

132

Prestação alimentos à ex-cônjuge cumulados com alimentos gravídicos. Configurado o binômio


possibilidade x necessidade. I – Inexistindo provas de que o agravante não possui condições para
arcar com o valor fixado, não há que se falar em revogação da decisão que arbitrou alimentos
provisórios. II – Não é porque foram arbitrados alimentos gravídicos que estes, de per si,
afastariam a possibilidade de fixação de pensão para a recorrida (TJMG, AI 1.0145.09.536163-
3/001, Rel. Des. Leite Praça, j. 22/06/2010).

133

Raduan Miguel Filho, Alimentos gravídicos..., 301.

134

.Leandro Soares Lomeu, Alimentos gravídicos avoengos.

135

.Neste sentido: Leonardo de Faria Beraldo, Alimentos no Código Civil..., 90; Douglas Phillips
Freitas, Alimentos gravídicos e a Lei 11.804/2008; e Cláudia Aoun Tannuri e Daniel Jacomeli
Hudler, Aspectos processuais da lei de alimentos gravídicos. Em sentido contrário: Denis Donoso,
Alimentos gravídicos.

136

.Francisco José Cahali, Alimentos gravídicos, 585.

137

.Ibidem, 583.
138

.Francisco José Cahali, Alimentos gravídicos, 586.

139

.Ação de alimentos. Alimentos gravídicos convertidos em provisórios. Necessidade do credor e


capacidade contributiva do devedor. Critérios observados. Recurso não provido. 1. Os alimentos
gravídicos que foram concedidos à genitora, durante a gestação, podem ser convertidos em
alimentos provisórios após o nascimento do filho. 2. A concessão de alimentos, mesmo em
caráter provisório, demanda a existência de necessidade do credor bem como a capacidade
contributiva do devedor. 3. Presentes os requisitos, torna-se correto o deferimento questionado.
4. Agravo de instrumento conhecido e não provido, mantido o arbitramento dos alimentos
gravídicos convertidos em provisórios (TJMG, AI 1.0024.09.656471-1/001, 2ª C. Cív., Rel. Des.
Caetano Levi Lopes, j. 01/03/2011).

140

Alimentos gravídicos. Conversão de ofício em ação de investigação de paternidade em razão do


nascimento do alimentando. Criança que nasceu logos após o ajuizamento da ação.
Impossibilidade da conversão ex officio. Viabilidade, contudo, de emenda da inicial, fazendo-se as
devidas adaptações, diante do nascimento do alimentando e da fixação de alimentos provisórios em
ação de reconhecimento de paternidade e oferta de alimentos ajuizada pelo agravado. Recurso
conhecido e parcialmente provido. (TJSC, AI 179818 SC 2010.017981-8, 6ª C. Cív., Rel. Des. Jaime
Luiz Vicari, j. 30.06.2011).

141

Ação de alimentos gravídicos. Conversão em ação de investigação de paternidade.


Inadmissibilidade. Extinção da ação. Em se tratando de ação de alimentos gravídicos, inviável a
conversão em ação de investigação de paternidade, por tratarem de objeto diverso. Agravo de
instrumento desprovido. (TJRS, AI 70067286336, 7ª C. Cív., Rel. Des. Jorge Luís Dall'Agnol, j.
16/12/2015).

142

Enunciado 522 do CJF: Cabe prisão civil do devedor nos casos de não prestação de alimentos
gravídicos estabelecidos com base na Lei n. 11.804/2008, inclusive deferidos em qualquer caso de
tutela de urgência.

143

.Súmula 1 do STJ: O foro do domicílio ou da residência do alimentando é o competente para a


ação de investigação de paternidade, quando cumulada com a de alimentos.
144

Agravo regimental. Recurso especial. Civil e processual civil. Direito de família. Ação de
investigação de paternidade cumulada com pedido de pensão por morte. Alimentos implícitos.
Competência. Foro do domicílio do menor. 1. Na investigação de paternidade, o pedido de
alimentos pode vir de modo implícito, pois decorre da lei, sendo mero efeito da sentença de
procedência do reconhecimento da relação de parentesco. Precedentes. 2. “O foro do domicílio ou
da residência do alimentando é o competente para a ação de investigação de paternidade,
quando cumulada com a de alimentos” (Súmula 01 do STJ). 3. “A competência para processar e
julgar as ações conexas de interesse de menor é, em princípio, do foro do domicílio do detentor
de sua guarda” (Súmula 383 do STJ). 4. Agravo regimental a que se nega provimento (STJ, AgRg no
REsp 1.197.217/MG (2010/0103894-3), 3ª T., Rel. Min. Vasco Della Giustina, Des. convocado do TJRS,
j. 15/02/2011).

145

.Súmula 277 do STJ: Julgada procedente a investigação de paternidade, os alimentos são devidos a
partir da citação.

146

Investigação de paternidade cumulada com alimentos. Presunção da paternidade. Pensão


provisória. 1. A decisão agravada, considerando presumida a paternidade, fixou alimentos
provisórios em 30% dos rendimentos líquidos do agravante. 2. O processo tramita desde 2011. O
agravante apresentou suas justificativas (que restaram acolhidas) para o não comparecimento ao
IMESC nas duas datas designadas anteriormente. Entretanto, sua ausência na terceira data
designada para a realização do exame restou injustificada. 3. A criança, atualmente conta com
três anos de idade, e a necessidade aos alimentos é urgente, justificando-se a fixação de alimentos
provisórios, com a presunção da paternidade, diante dos elementos e circunstâncias dos autos. 4.
Quanto ao valor da pensão, o agravante não nega a sua capacidade de pagamento, e nada
comprovou acerca da alegada desnecessidade dos alimentos no percentual em que fixado,
notadamente, diante das circunstâncias, em que a criança encontra-se em estado de abandono
paterno desde o período de sua gestação. Recurso não provido. (TJSP, AI 2064681-
57.2014.8.26.0000, 10ª C. Dir. Priv., Rel. Carlos Alberto Garbi, j. 26/08/2014).

147

.Súmula 301 do STJ: Em ação investigatória, a recusa do suposto pai a submeter-se ao exame de
DNA induz presunção juris tantum de paternidade.

148

.Francisco Cahali, Dos alimentos, 232.


149

.Alice de Souza Birchal, A relação processual dos avós no direito de família..., 58.

150

.Ação de investigação de paternidade c/c alimentos. Legitimidade passiva dos avós paternos.
Exame comparativo de DNA com os restos mortais do de cujus. Possibilidade. Sentença cassada.
1. Segundo a jurisprudência, na falta dos pais ou na incapacidade econômico-financeira destes,
cabe aos avós prestar os alimentos necessários à sobrevivência dos menores, sendo, portanto,
legítimos para compor o polo passivo da ação. 2. Diante da possibilidade de realização de prova
direta, qual seja o exame comparativo de DNA com os restos mortais do de cujus, não se pode
negar a busca da verdade real, devendo esta ser realizada, notadamente pelo fato de que os avós
paternos podem não ser pais biológicos, mas sim adotivos do falecido. Recurso conhecido e
provido. Sentença cassada (TJGO, AC 127397-62.2004.8.09.0006, Rel. Des. Norival Santome, j.
05/02/2013).

151

.Lei 11.804/2008.

152

.Ação de investigação de paternidade sem pedido de alimentos. Exame de DNA que atestou a
paternidade. Decisão que indeferiu o requerimento do Parquet de fixação de alimentos
provisórios ante a não ocorrência de pedido expresso na inicial, e sob pena de julgamento extra
petita. Possibilidade de arbitramento. Doutrina e jurisprudência que recomendam a fixação
imediata dos alimentos provisórios, a fim de que sejam supridas as necessidades presumidas da
menor. Provimento do recurso, na forma do disposto no art. 557, § 1º-A, do CPC. (TJRJ, AI
0049741-82.2015.8.19.0000, Rel. Des. Helda Lima Meireles, j. 30/09/2015).

153

.Investigação de paternidade. Reclamo declarado procedente. Ausência de pedido alimentar.


Possibilidade de fixação de ofício. Inteligente do art. 7º, da lei 8.560/92. Reconhecimento. "O
deferimento de alimentos, uma vez comprovada a paternidade, é provimento decorrente e
automático do pedido de reconhecimento da paternidade. Caso em que, não há que se falar em
nulidade da decisão, que fixa alimentos provisórios, porquanto, no caso, tal provimento dispensa
pedido expresso. Inteligência do artigo 7º da Lei 8.560/92." (Des. Rui Portanova) Alimentos
provisionais . Binômio necessidade e possibilidade. Percentual sobre salário mínimo. Parâmetro
inicial. Ante os informes contidos nos autos serem parcos em atenção ao que percebe o
alimentante, adota-se o salário mínimo como parâmetro, in casu no percentual de 35%. Recurso
provido. (TJSC, AC 558461 (2010.055846-1), Rel.: Guilherme Nunes Born, j. 26/01/2012).
154

.Nelson Nery Jr. e Rosa Maria de A. Nery, Código de Processo Civil comentado..., 2.188.

155

. Negatória de paternidade. Antecipação de tutela. Suspensão de alimentos. Impossibilidade.


Paternidade sócio-afetiva e vícios de consentimento não afastados. I – Não obstante a ausência de
relação biológica entre as partes, remanesce a necessidade de comprovação de inexistência
paternidade sócio-afetiva. II – A invalidação do reconhecimento voluntário de filhos pode ocorrer
por força do reconhecimento de vício de consentimento do próprio autor do ato; por recusa do
reconhecido; e quando contrário à verdade, por provocação de qualquer pessoa com justo
interesse. III – Impõe-se a subsistência da obrigação alimentar até a instauração do contraditório,
quando as questões poderão ser examinadas com a prudência que o caso requer. IV – Negou-se
provimento ao recurso. (TJDF, AI 20140020302925 (0030856-87.2014.8.07.0000), Rel. José Divino
de Oliveira, j. 25/02/2015).

156

.Yussef Said Cahali, Dos alimentos, 257.

157

.Ibidem, 267.

158

.Ação de divórcio. Alimentos pedidos em reconvenção. É cabível reconvenção em ação de


divórcio em que o autor/reconvindo não ofertou alimentos nem pediu o seu arbitramento em
favor da varoa e dos filhos do casal. Hipótese em que, ademais, os alimentos não foram pedidos
na contestação (TJMG, AI 0008361-86.2011.8.13.0000, 6ª C. Cív., Rel. Des. Mauricio Barros, j.
14/06/2011).

159

Ação de alimentos. Irregularidade da representação processual. Ilegitimidade passiva dos


herdeiros. Impossibilidade jurídica do pedido. Preliminares rejeitadas. [...] Tendo sido a ação de
alimentos ajuizada após o falecimento do genitor da autora, a legitimidade para discutir acerca
do direito aos alimentos, bem como do seu valor é dos herdeiros. A transmissibilidade da
obrigação alimentar está prevista no art. 1700 do CC, sendo desnecessário que o direito aos
alimentos tenha sido reconhecido, antes, judicialmente. Sentença mantida. Apelo improvido.
(TJBA, APL 0000777-11.2008.8.05.0027, 3ª T. Cív., Rel. Juíza Convocada Marta Moreira Santana, j.
18/02/2014).
160

Habeas corpus. Direito de família. Alimentos. Execução. Espólio. Rito do art. 733 do CPC.
Descumprimento. Prisão civil do inventariante. Impossibilidade. 1. Malgrado a divergência
doutrinária e jurisprudencial sobre o alcance da alteração sobre o tema no âmbito do Código
Civil de 2002, e apesar de sua natureza personalíssima, o fato é que previu o novo Código que "a
obrigação de prestar alimentos transmite-se aos herdeiros do devedor" (art. 1.700), não podendo
a massa inventariada nem os herdeiros, contudo, responder por valores superiores à força da
herança, haja vista ser a dívida oriunda de obrigação pretérita do morto e não originária
daqueles (arts. 1.792 e 1.997 e En. 343 do CJF). 2. Nessa ordem de ideias, e seja qual for a
conclusão quanto a transmissibilidade ou não da obrigação alimentar, não parece possível a
decretação de prisão civil do inventariante do Espólio, haja vista que a restrição da liberdade
constitui sanção também de natureza personalíssima e que não pode recair sobre terceiro,
estranho ao dever de alimentar, como sói acontecer com o inventariante, representante legal e
administrador da massa hereditária. 3. De fato, "a prisão administrativa atinge, apenas, ao
devedor de alimentos, segundo o art. 733, § 1.º, do CPC, e não a terceiros" e em sendo o
inventariante um terceiro na relação entre exequente e executado – ao espólio é que foi
transmitida a obrigação de prestar alimentos (haja vista o seu caráter personalíssimo) –
"configura constrangimento ilegal a coação, sob pena de prisão, a adimplir obrigação do referido
espólio, quando este não dispõe de rendimento suficiente para tal fim" (CAHALI, Yussef Said. Dos
alimentos. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006, p. 750-751). 4. Na hipótese, a verba
alimentar foi estabelecida com base nas necessidades do alimentando e nas extintas
possibilidades do alimentante, falecido, e não em virtude das forças da herança, não se sabendo,
ao certo, se o monte-mor tem quantias em dinheiro ou rendimentos pecuniários para a mantença
dos mesmos patamares. Além disso, há uma nova situação pessoal do alimentado, que pode ter
sofrido grande alteração em decorrência de sua participação na própria herança, ficando
alterados o binômio necessidade/possibilidade – que deve nortear o pagamento de alimentos. 5.
Há considerar, ainda, que o próprio herdeiro pode requerer pessoalmente ao juízo, durante o
processamento do inventário, a antecipação de recursos para a sua subsistência, podendo o
magistrado conferir eventual adiantamento de quinhão necessário à sua mantença, dando assim
efetividade ao direito material da parte pelos meios processuais cabíveis, sem que se ofenda,
para tanto, um dos direitos fundamentais do ser humano, a sua liberdade; ademais, caso
necessário, pode o juízo destituir o inventariante pelo descumprimento de seu munus. [...] 7.
Ordem de habeas corpus concedida. (STJ, HC 256.793/RN (2012/0215640-9), 4ª T., Rel. Min. Luis
Felipe Salomão, j. 01/10/2013).

161

.RE 271286 AgR/RS, Rel. Min. Celso de Mello, 2ª T., j. 12/09/2000.

162

.REsp 507.205/PR, 1ª T., Rel. Min. José Delgado, j. 17/11/2003.


163

Flávio Tartuce, Da ação de prestação de contas de alimentos.

164

Thiago Felipe Vargas Simões, Ação de prestação de contas da administração dos bens do casal e
alimentos, 238.

165

Flávio Tartuce, Da ação de prestação de contas de alimentos.

166

.Rodrigo da Cunha Pereira, Divórcio..., 276.

167

.Alimentos destinados à filha. Prestação de contas. Ilegitimidade ativa ad causam e interesse de


agir. Indeferimento da inicial. Insurgência. Fiscalização. Direito protetivo da menor.
Legitimidade ativa e interesse processual do pai alimentante. Recurso provido. Sentença
reformada. Porque a má administração de numerário destinado à manutenção e educação de
filho alimentando pode acarretar severas sanções legais ao mau administrador (arts. 1.637 e
1.638, IV, do CC), a lei assegura ao alimentante a fiscalização da respectiva verba alimentar (TJSC,
AC 2010.057483-6, 5ª T. C., Rel. Des. Monteiro Rocha, j. 01/03/2012).

168

.Ação de prestação de contas. Alimentos pagos pelos avós paternos à neta. Indeferimento da
petição inicial em primeiro grau. Direito do alimentante em fiscalizar a manutenção e educação
da alimentanda. Inteligência do art. 1.589 do Código Civil. Cabimento da ação fiscalizadora nos
casos em que há indícios da malversação dos recursos pagos à menor. Suspeita de desvio de
finalidade. Sentença cassada. Recurso conhecido e provido (TJSC, AC 2010.015120-5, 5ª C. Dir.
Civil, Rel. Des. Substituto Odson Cardoso Filho, j. 12/04/2012).

169

Rolf Madaleno, Curso de direito de família, 897.

170

Thiago Felipe Vargas Simões, Ação de prestação de contas da administração dos bens do casal e
alimentos, 237.
171

.Yussef Said Cahali, Dos alimentos, 388.

© desta edição [2017]

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