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A Lei de Alimentos3 foi editada nos idos de 1968, antes mesmo da Constituição Federal
(1988), do Código Civil (2002) e dos dois Códigos de Processo Civil (1973 e 2015). A
possibilidade de a parte adentrar no fórum e verbalizar o pedido de alimentos
diretamente ao juiz, o qual manda o escrivão tomá-lo a termo, tem cheiro de novela do
século passado. Não se pode sequer pensar que tal possa acontecer nos dias de hoje. À
época inexistia o serviço da Defensoria Pública e o Ministério Público não dispunha de
suas múltiplas funções. Apesar de completamente defasada, nunca houve qualquer
preocupação em atualizá-la.
A ressalva feita pelo Código de Processo Civil à vigência da Lei de Alimentos não exclui
a ação de alimentos do capítulo Das Ações de Família (arts. 693 a 699 do CPC), devendo
sujeitar-se às suas especificidades.
O uso do rito especial da Lei de Alimentos é reservado a quem tem prova pré-
constituída da obrigação alimentar: filiação, parentesco, casamento ou união estável. É o
que se chama de prova tarifada.
ELEIÇÃO DA DEMANDA
Pode propor a ação de alimentos o credor que dispõe de prova da obrigação alimentar,
em decorrência de relação de casamento ou de parentesco – ou seja, se tiver em mãos
certidão de casamento ou de nascimento. Este era o pressuposto para o uso da Lei de
Alimentos. Ao despachar a inicial o juiz deve deferir, desde logo, alimentos provisórios,
ainda que não tenham sido requeridos pelo autor (art. 4º da LA). Tal determinação, no
entanto, acaba por esbarrar na vedação de decisão surpresa (art. 10 do CPC). Proibição
que, pelo jeito, praticamente veda decisões de ofício.
Na união estável, em que existe dever de assistência (art. 1.724 do CC) e obrigação
alimentar (art. 1.694 do CC), inexistindo prova pré-constituída da obrigação alimentar,
para pleitear alimentos o companheiro precisa comprovar a existência da união.
Concedida a liminar o autor deve, no prazo de 15 dias ou em outro maior que o juiz
fixar, aditar a inicial, complementando a argumentação, juntando novos documentos e
ratificando o pedido final (art. 303, § 1º, I do CPC)
Caso o demandado não recorra da decisão liminar, ocorre sua estabilização (art. 304 e
§ 1º do CPC). A estabilidade conferida à decisão não gera coisa julgada. Qualquer das
partes pode demandar a outa visando rever, reformar ou invalidar a decisão que se
tornou estável, mas não imutável (art. 304, § 2º do CPC).
Competência
A competência da ação de alimentos é ditada pela lei processual (art. 53, II do CPC): o
domicílio ou a residência do alimentado. Não importa se a demanda é proposta pelo
credor ou pelo devedor.
Quando o réu é incapaz, a ação deve ser proposta no foro do domicílio de seu
representante ou assistente (art. 50 do CPC), ou pelo detentor de sua guarda, conforme
sumulado pelo Superior Tribunal de Justiça.5
O privilégio de foro do domicílio é do credor dos alimentos (art. 53, II do CPC). É onde
deve tramitar a ação de alimentos. Havendo mudança de domicílio, quer o credor busque
o cumprimento da sentença, ou o devedor proponha ação revisional ou exoneratória,
estas demandas devem ser propostas no novo domicílio do alimentante.
ALIMENTOS PROVISÓRIOS
Como a pretensão alimentar pode ser cumulada com as ações que buscam o
reconhecimento da existência do direito alegado – como na ação declaratória de união
estável e na investigatória de parentalidade –, a fixação de alimentos provisórios passou
a depender somente da presença de indícios da relação geradora do dever alimentar.
Os alimentos provisórios são devidos durante o curso da demanda, até a sentença que
fixa alimentos definitivos, ainda que sujeita a recurso. Alterado o valor dos alimentos
provisórios durante a tramitação da demanda, o novo montante passa a vigorar para as
prestações futuras. A modificação incidental do valor dos alimentos tem efeito ex nunc,
ou seja, passam a valer a partir da data da alteração. Não importa se a modificação foi
para mais ou para menos.
O fato é que, tanto os alimentos provisórios como a percepção da renda líquida de bens
comuns satisfazem o alimentando desde logo, proporcionando o atendimento de suas
necessidades atuais, não se restringindo a garantir futura possibilidade de fruição.11
Termo inicial
Não pode ser mais explícita a Lei de Alimentos ao dizer (art. 4º): Ao despachar o
pedido, o juiz fixará desde logo alimentos provisórios.
Não mantendo o devedor vínculo laboral, não há como admitir que comece a pagar os
alimentos somente após ser citado. Descabido tratamento discriminatório. Além de deixar
o credor desassistido, se estaria incentivando o devedor a se esquivar do carteiro e se
esconder do oficial de justiça.
São definitivos os alimentos fixados na sentença, que se sujeita a recurso sem efeito
suspensivo.
O Código de Processo Civil diz que dispõe do só efeito devolutivo o recurso da decisão
que condena à prestação alimentícia (art. 1.012, § 1º, II do CPC). Mais explícita e
abrangente é a Lei de Alimentos (art. 14): Da sentença caberá apelação no efeito
devolutivo.
Mesmo que tenha ocorrido a redução ou a majoração dos alimentos fixados em sede
liminar, passa a vigorar, de imediato, o valor fixado na sentença, Também na exoneração
do encargo alimentar, o recurso não suspende o imediato efeito da sentença.
Apesar de a sentença, independente do seu conteúdo, ter eficácia imediata (art. 1.012,
§ 2º do CPC), em sede recursal é possível o relator conceder efeito suspensivo à
apelação (art. 1.012, § 3º do CPC). Basta o apelante demonstrar a probabilidade de
provimento do recurso e houver risco de dano grave ou de difícil reparação (art. 1.012, §
4º do CPC).
Eficácia retroativa
Os alimentos definitivos possuem efeito retroativo à data da citação, quando não foram
fixados alimentos provisórios, ou se a sentença majorou o valor estabelecido em sede
liminar.
Empresta a lei efeito retroativo aos alimentos definitivos a partir da data da citação
(art. 13, § 2º da LA).
Fixados alimentos provisórios, são eles devidos desde logo. Havendo redução do valor
na sentença ou no julgamento do recurso, a decisão não dispõe de efeito retroativo. Sua
eficácia é ex nunc, ou seja, vale com relação às parcelas vincendas. As prestações
vencidas e não pagas, continuam devidas pelo valor provisório.
Quando fixados alimentos definitivos em valor maior do que a verba provisória é que
se pode falar em efeito retroativo. Transitada em julgado a sentença, o devedor tem de
proceder ao pagamento das diferenças desde a data da citação.14
As chamadas férias forenses – férias coletivas dos tribunais – não mais existem desde
a reforma do Judiciário levada a efeito pela Emenda Constitucional 45/2004. Foi dada nova
redação ao inciso XII, do art. 93 da CF: a atividade jurisdicional será ininterrupta, sendo
vedado férias coletivas nos juízos e tribunais de segundo grau, funcionando, nos dias em
que não houver expediente forense normal, juízes em plantão permanente.
Assim há que se distinguir: férias forenses, recesso judiciário, suspensão dos prazos
processuais e suspensão do expediente forense.
Os advogados podem ter vista dos processos, retirá-los em carga e obter cópias. Restam
intimados dos atos até então realizados, mas a intimação é considerada como se tivesse
sido levada a efeito depois de findo o período da suspensão.
Estas regras comportam poucas exceções, entre elas as ações de alimentos (art. 215, II
do CPC).
Segundo Sérgio Porto, não é somente a ação proposta pelo credor de alimentos que
merece tramitar de forma ininterrupta. Também a pretensão do alimentante merece
apreciação no período de recesso da justiça. A matéria referente a alimentos provisórios,
quer manejada sob o ponto de vista ativo, quer sob o passivo, merece processamento.17
Mas uma distinção merece ser feita. Não é a demanda de alimentos que tramita
durante o recesso da justiça. Somente as questões urgentes são apreciadas neste período:
pedidos liminares, concessão de tutela antecipada etc. Superada a situação emergencial,
deve o processo aguardar o decurso do período de recesso para ter seguimento.
Do rito especial da Lei de Alimentos – ou o que sobrou dela – somente alguns de seus
dispositivos persistem em vigor, devendo ser adotado o procedimento mais ágil e eficaz da
lei processual.
O legislador até tentou criar um procedimento judicial com a celeridade que a fome
exige. Não conseguiu, tais os entraves suscitados pela doutrina, que acabaram acolhidos
pelos juízes. Assim, o sonho de autorizar a parte a adentrar no gabinete do juiz, narrar
suas necessidades e já sair com alimentos fixados e audiência marcada nunca deixou de
ser um simples sonho.
A Lei de Alimentos sempre teve limitada esfera de atuação. Para ser invocada é exigida
a prova do parentesco ou da obrigação alimentar. Como é prova a ser apresentada pelo
autor quando da propositura da ação, deve acompanhar a petição inicial, e, para isso,
precisa preexistir. Ou seja, a ação não pode ser proposta sem a prova do liame familiar:
certidão de casamento ou registro de nascimento, ainda que dispensada a juntada de tais
documentos (art. 2º, II da LA).
Mas a jurisprudência passou a acolher a possibilidade do uso da via especial para
situações outras. Sempre que os alimentos fossem pleiteados nas ações de investigação de
parentalidade, declaração de filiação socioafetiva, existência de multiparentalidade, bem
como nas demandas de reconhecimento de união estável, homoafetiva ou paralela. A
pretensão alimentar decorre do reconhecimento da existência de tais estruturas
familiares, que, no mais das vezes, não dispõem de prova pré-constituída de sua
existência. Mas nem por isso pode ser cerceado o direito da parte de fazer uso da ação
especial e obter a concessão de tutela antecipada.
Legitimidade Ativa
Maioridade do credor
Quando o credor é incapaz, vem a juízo pelas mãos de seu representante, seu tutor e
curador. Sendo relativa sua incapacidade, também o assistido precisa firmar a
procuração.
Antes do nascimento, a legitimidade para a ação é da gestante, que pode optar entre
requerer alimentos gravídicos ou alimentos a favor do nascituro. Descabe é cumular
ambos os pedidos, até porque os alimentos gravídicos se transformam em alimentos
provisórios a partir do nascimento (art. 6º da LAG).
Conforme alerta Rolf Madaleno, esta exigência tem dado margem a profundas
injustiças. Ocorrendo a inadimplência, sob o influxo da autoridade parental, muitas vezes
os filhos se negam a prosseguir com a ação em que a guardião busca a cobrança dos
alimentos, sob a justificativa que não querem botar o pai na cadeia. Também não é
incomum serem os filhos compelidos a firmarem falsas declarações ou recibos de quitação
dos alimentos alegando havê-los recebido diretamente do pai, frustrando assim a
cobrança judicial.21
Quem tem uma criança ou um adolescente sob sua guarda dispõe de legitimidade para
representá-lo na demanda de alimentos contra os genitores.
O guardião tem a obrigação de prestar assistência a quem está sob sua guarda,
inclusive frente aos pais (art. 33 do ECA). A transferência da guarda de filho a terceiro não
enseja nem a suspensão nem a destituição do poder familiar e não subtrai dos pais o
dever de prestar alimentos aos filhos (art. 33, § 4º do ECA).
Conflito de interesses
- obrigados primários – são os parentes mais próximos, os que primeiro devem ser
acionados na busca dos alimentos. Quando a obrigação alimentar decorre da relação de
parentalidade, são considerados como primários os ascendentes: pais, avós e bisavós. Na
demanda de alimentos fruto do vínculo de conjugalidade, os primeiros a serem acionados
são cônjuge ou companheiro.
Ilegitimidade
Desatendido o princípio da proximidade, a quem figurou como réu, cabe alegar sua
ilegitimidade e indicar os obrigados primários.
O juiz deve intimar o autor para, querendo, alterar a petição inicial substituindo o
réu (art. 338 do CPC). Promovida a alteração, o juiz exclui o réu do processo, fixando
honorários a serem atendidos pelo autor e determina a citação de quem passou a figurar
na ação como réu.
Litisconsórcio
Somente quando os parentes mais próximos não têm condições de atender integralmente
ao encargo alimentar, a obrigação recai sobre os parentes de grau imediato.
Nada impede que o credor proponha desde logo a demanda contra todos os devedores
do mesmo grau, em litisconsórcio facultativo simples. A sentença estabelece a
proporção com que cada um dos obrigados deve concorrer. É possível, até mesmo, a
propositura da demanda contra devedores que se encontrem em graus diversos, valendo-
se o autor do instituto do litisconsórcio facultativo eventual.23
Na ação promovida pelo filho maior de idade contra um dos genitores, este pode
chamar a mãe ao processo.25
Quando há indícios de o devedor fazer uso de mecanismos para reduzir ou excluir o seu
real patrimônio, é possível desconsiderar a existência de pessoas jurídicas para a
quantificação dos alimentos.
Esses estratagemas passaram a ser utilizados no âmbito do Direito das Famílias e foi
flagrado por Rolf Madaleno. A aplicação da desconsideração pelo uso abusivo da
personalidade jurídica pode ser levada a efeito por interposta pessoa física: um parente,
cônjuge, convivente ou simplesmente um “laranja”, como expediente de confusão
patrimonial.30 É frequente, por exemplo, que o marido ou pai, sabedor que poderá ser
alvo de uma ação, simule seu patrimônio, esconda bens e se apresente a juízo como um
pobre eremita.31
Desconsideração inversa
Todas estas manobras configuram fraude contra credores (art. 158 do CC), podendo o
alimentando ajuizar ação de anulação dos negócios jurídicos, demonstrando que o
alimentante, antes desses atos, estava em condições de lhe prestar alimentos.37
É considerada interlocutória a decisão proferida pelo juiz (art. 136 do CPC), a desafiar
recurso de agravo de instrumento (art. 1.015, IV do CPC). Da decisão do relator, cabe
agravo interno (art. 1.021 e ss. do CPC).
Comprovado que estas fraudes foram realizadas pelo devedor durante o processo,
configura-se conduta processual ilícita, em clara violação do dever de veracidade para
com o juízo (art. 77 do CPC).
De ordinário, o Ministério Público atua como custos legis (art. 178 do CPC): fiscal da
ordem jurídica. Mas tem legitimidade para propor ação de alimentos (art. 201, III do ECA)
e agir como substituto processual quando o credor é criança ou adolescente. Do mesmo
modo, pode requerer o chamamento de terceiro a integrar a lide (art. 1.698 do CC), em
face de sua condição de assistente diferenciado.39
Substituto processual
Os alimentos devidos aos filhos incapazes podem ser pleiteados pelo Ministério
Público, excepcionando a regra do art. 18 do Código de Processo Civil. A legitimação para
propor e acompanhar ação de alimentos lhe é conferida pelo ECA (art. 201, III).
O Código de Processo Civil – sabe-se lá por que motivo – assegurou vigência à Lei de
Alimentos (art. 693, parágrafo único do CPC). Ainda que mantida em vigor, seus obsoletos
dispositivos de natureza processual, que não guardam pertinência com o seu objeto,
encontram-se derrogados.
REGISTRO E DISTRIBUIÇÃO
Como todas as demais, a ação de alimentos deve ser levada a registro e sujeitar-se à
distribuição para só depois ser encaminhada à so juiz para apreciação do pedido liminar.
Todos os processos estão sujeitos a registro. A não ser em comarcas em que exista
somente um juiz, devem ser distribuídos (art. 284 do CPC). A distribuição é alternada,
aleatória e igualitária (art. 285 do CPC).
Nas cidades maiores multiplicam-se as varas das famílias. Assim, é indispensável a
distribuição dos processos entre os juízes com igual competência, o que inibe a prática
autorizada pela Lei de Alimentos (art. 1º, § 1º).
Permitir que a parte eleja o magistrado que irá despachar a inicial afronta o chamado
princípio do juízo natural: ninguém pode escolher o juiz da sua causa!
Para alguém comparecer a juízo, precisa estar representado por advogado, pois sua
presença é indispensável à administração da justiça (art. 133 da CF).
A Defensoria Pública tem estrutura – ou já deveria ter – para atender a todos que têm
direito à assistência judiciária.
PETIÇÃO INICIAL
Além dos requisitos referidos na lei, deve o autor já informar os dados bancários de
quem vai perceber os alimentos.
VALOR DA CAUSA
O autor deve indicar na inicial o montante dos alimentos que necessita e atribuir à causa
o valor correspondente à soma de 12 prestações mensais.
A toda causa será atribuído um valor certo (art. 291 do CPC). Esta exigência serve de
parâmetro para o cálculo dos encargos processuais, bem como para o estabelecimento dos
honorários advocatícios, na hipótese de improcedência da ação (art. 85, § 6º do CPC).
Na demanda de alimentos, como nas demais obrigações de trato sucessivo, o valor da
causa deve corresponder à soma de 12 prestações mensais pleiteadas pelo autor (art. 292,
III do CPC). A Lei de Alimentos não impõe que o autor indique o valor dos alimentos
pretendidos. Determina que a parte exponha suas necessidades e indique
aproximadamente o quanto ganha ou quais os recursos de que dispõe o devedor (art. 2º
da LA).
Como o autor está vivendo sem a contribuição de um dos genitores, não há como
pretender que comprove quais são os seus gastos. Esta exigência limitaria o encargo
alimentar à metade deste montante.
Também é difícil ao autor informar os ganhos do devedor. Muitas vezes não convivem
e nem moram na mesma cidade. Geralmente os filhos, ex-cônjuge ou ex-companheiros
não têm ideia de quanto ganha quem tem o dever de sustentá-los.
Quando o autor, ainda incapaz, busca alimentos de seu genitor, tem ele o direito de
desfrutar da mesma qualidade de vida de quem tem o dever – muito mais do que o poder
familiar – de assegurar-lhe sustento, saúde e educação.
Segundo Yussef Said Cahali, o juiz fixa alimentos segundo seu convencimento, não
constituindo julgamento ultra petita a fixação de pensão acima do solicitado na inicial,
pois o critério é a necessidade do alimentado e a possibilidade do alimentante; a vista de
tal premissa, o pedido, que nas ações similares se formula, é de natureza genérica, donde
não se adstringir a sentença, necessariamente, ao quantum colimado incialmente; o
arbitramento far-se-á a posteriori quando já informado o sentenciante dos elementos
fáticos que integram a equação legal.41
Deste modo, fixados os alimentos aquém do valor pleiteado não gera sucumbência
recíproca a ensejar a repartição dos encargos processuais. E estabelecidos além do valor
indicado, não macula a sentença como ultra petita, não havendo que se decotar o
montante ao valor indicado na inicial.
A correção do valor da causa pode ser levada a efeito de ofício, determinando o juiz a
complementação das custas correspondentes (art. 292, § 3º do CPC).
Nas ações que visam reduzir ou majorar os alimentos, o valor da causa deve
corresponder a 12 vezes a diferença entre o valor dos alimentos e o montante pretendido
pela parte.
Na ação exoneratória
Como o valor da causa reflete o proveito que a parte pretende obter com o processo, na
ação de exoneração deve corresponder a uma anuidade dos alimentos vigorantes.
ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA
Sendo o autor da ação de alimentos incapaz, faz jus à assistência judiciária. É a situação
econômica do credor – e não de seu representante legal –, que justifica a concessão da
gratuidade, e um de seus genitores não está garantindo-lhe o sustento.
Da decisão que concede ou nega o benefício, cabe agravo de instrumento (art. 101 e
1.015, V do CPC), exceto quanto a questão for decidida em sentença, contra a qual caberá
apelação.
DESPACHO LIMINAR
Ao despachar a inicial, deve o juiz fixar alimentos provisórios, determinar o desconto dos
rendimentos do réu ou fixar multa para a hipótese de inadimplemento e designar audiência
de mediação.
Ao receber a inicial o juiz deve fixar alimentos provisórios, mesmo quando não
requeridos pelo autor. Pelo que diz a Lei de Alimentos (art. 4º), não cabe a fixação
somente quando o credor declare que deles não necessita.
Deve também oficiar ao empregador do réu para que proceda ao desconto do valor
estabelecido de seus rendimentos, depositando-o em nome do autor, na conta bancária
por ele indicada na petição inicial. Descabido depósito judicial, pois o valor destina-se à
subsistência do autor. No mesmo ofício determina que lhe seja informado, no prazo que
fixar, os rendimentos do empregado ou servidor.
Caso não haja a possibilidade de desconto, indispensável que o juiz já estipule multa
para o caso do inadimplemento. Esta é previsão que existe nas obrigações de fazer e não
fazer (art. 536, § 1º do CPC), mas nada impede que seja utilizada em se tratando de
demanda de alimentos. Afinal, o juiz pode tomar todas as providências para o
cumprimento do julgado (art. 19 da LA). Também pode determinar todas as medidas
indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para assegurar o
cumprimento de ordem judicial, inclusive nas ações que tenham por objeto prestação
pecuniária (art. 139, IV do CPC).
O estabelecimento da multa pode ser levada a efeito ex officio. O autor não necessita
requerer sua imposição, o que não ultrapassa o limite do provimento judicial. Não se pode
falar em decisão ultra ou extra petita. Também descabe falar em decisão surpresa (art.
10 do CPC). Basta lembrar que, em sede de cumprimento de sentença, a incidência da
multa é automática (art. 523 do CPC).
A ressalva do Código de Processo Civil assegurando vigência à Lei de Alimentos (art.
693, parágrafo único do CPC), não subtrai a ação de alimentos das previsões do capítulo
que trata Das Ações de Família (CPC 693 a 699). Deste modo, no despacho inicial, além de
fixar alimentos provisórios, deve ser designada audiência de mediação (CPC 694) ao
invés de audiência de conciliação e julgamento (art. 6º da LA).
CITAÇÃO
A citação do réu deve ser levada a efeito pelo correio, mediante aviso de recebimento, não
devendo acompanhar o mandado cópia da inicial.
A lei processual determina que a citação, em todo o país, seja levada a efeito pelo
correio (art. 246, I e 247 do CPC). Ou seja, não mais cabe expedir carta precatória de
citação. A não ser, é claro, quando o réu se esquiva do carteiro.
Há exceções, em que a citação precisa ser realizada por meio de oficial de justiça.
Entre elas se encontram as ações de estado (art. 247, I do CPC).
Apesar de boa parte da doutrina rotular a ação de alimentos como ação de estado,
nada justifica que assim seja considerada. Sabe-se lá qual o estado a que estaria submetida
a demanda. Quem sabe ao gasoso, já que o credor nada está a receber!
De qualquer modo, a Lei de Alimentos, que tem sua vigência garantida (art. 693,
parágrafo único do CPC), determina a citação do réu pela via postal (art. 5º, § 2º da LA).
Não só quando ele reside na mesma comarca, como também em outro Estado ou país (art.
5º, § 8º da LA). Necessário tão só que o Aviso de Recebimento – AR seja assinado pelo
destinatário. Igual a exigência da lei processual (art. 248, § 1º do CPC). A citação via
correio é citação pessoal, pois é o réu que a recebe (art. 695, § 3º do CPC). Não tem
qualquer importância quem lhe entrega o mandado: o carteiro ou o oficial de justiça.
A citação por mandado só tem cabimento quando frustrada a via postal (art. 249 do
CPC). Esquivando-se o devedor da citação, possível a citação por hora certa (art. 252 do
CPC). Na citação por edital, prevalecem as regras da lei processual (art. 256 do CPC),
porquanto muito mais ágeis. A publicação deve ocorrer pela internet, no site do tribunal e
na plataforma de editais do Conselho Nacional de Justiça (art. 257, II do CPC).
Cópia da inicial
Deste modo, não desatende ao comando legal o magistrado que, ao conceder uma
liminar em processo de família, determine que a cópia da inicial acompanhe o mandado
citatório.
AUDIÊNCIA DE MEDIAÇÃO
Como todas as ações (art. 334 do CPC), também as demandas de família têm início com
audiência de conciliação ou mediação (art. 695 do CPC). Não pode ser diferente com a ação
de alimentos. Melhor seria chamar de sessão de mediação ou conciliação, para não
confundir com a audiência, solenidade presidida pelo juiz.
Como existe vínculo anterior entre as partes, a audiência é de mediação (art. 165, § 3º
do CPC), que pode desdobrar-se em várias sessões (art. 694 e 696 do CPC).
Caso não aconteça acordo, passa a fluir o prazo de contestação (art. 697 e 334 do CPC).
A audiência de instrução e julgamento é designada por ocasião do saneamento e
organização do processo (art. 357, V do CPC).
Pelo que diz a lei, as partes devem comparecer à audiência com suas testemunhas (no
máximo três) e demais provas (art. 8º da LA).
A audiência deve ser contínua (art. 10 da LA). A leitura da petição inicial e da resposta
do réu podem ser dispensadas. Depois de ouvidas as partes e o Ministério Público, é
proposta a conciliação (art. 9º da LA). Frustrada a tentativa de acordo, o juiz colhe o
depoimento das partes, ouve as testemunhas e os peritos (art. 9º, § 2º da LA). Cada uma
das partes e o Ministério Público têm 10 minutos para aduzirem alegações finais (art. 11
da LA). Infrutífera nova tentativa de conciliação, o juiz profere a sentença (art. 11,
parágrafo único da LA).
Basta tentar cronometrar a prática de todos esses atos para perceber que o juiz poderia
fazer, no máximo, uma audiência por turno, o que congestionaria de forma absurda a
pauta, a comprometer a própria prestação jurisdicional.
Comunicado ao juiz o insucesso da tentativa conciliatória, o juiz abre ao réu prazo para
a contestação, já intimando o autor para apresentar réplica e o Ministério Público a se
manifestar, caso participe da ação.
Tentativa de conciliação
Estes dispositivos se encontram derrogados pela lei processual, que determina ao juiz
que designe audiência de conciliação ou mediação em todos os processos (art. 334 do
CPC), em especial nas ações de família (art. 695 do CPC).
CONTESTAÇÃO
Todas têm início com audiência de mediação e conciliação que pode desdobrar-se em
várias sessões (art. 696 do CPC). Levado a efeito o acordo, sequer há necessidade de
homologação judicial. Para a constituição de título executivo extrajudicial basta o
referendo do Ministério Público, Defensoria Pública, advogados das partes ou dos
conciliadores e mediadores (art. 784, IV do CPC).
Frustrada a tentativa de conciliação, ordinariza-se o processo, passando, só então, a
fluir o prazo de contestação de 15 dias (art. 335 e ss. do CPC) úteis (art. 219 do CPC).
RECONVENÇÃO
Dispõe o réu do direito de reconvenção, tanto na ação de alimentos como nas demais
ações em que há pretensão alimentar.
Quer porque a ação de alimentos dispõe de rito especial, quer porque a demanda tem
natureza dúplice, a tendência da doutrina sempre foi não admitir o oferecimento de
reconvenção. Com base na efetividade do processo – economia, celeridade e
instrumentalidade –, tem-se priorizado a possibilidade de veiculação de pedidos na
própria contestação.47
O fato de os alimentos não admitirem compensação (art. 1.707 do CC) não serve de
justificativa para inibir o réu de fazer uso da via reconvencional, caso pretenda formular
pedido contraposto ao do autor. A compensação não é o único objeto da contestação.48
DESISTÊNCIA DA AÇÃO
Depois da contestação, o autor não pode desistir da ação sem o consentimento do réu
(art. 485, § 4º do CPC). Havendo concordância, à luz do princípio da causalidade, o autor é
condenado ao pagamento das custas e honorários (art. 90 do CPC).
Esta regra da lei processual entra em conflito e revoga a Lei de Alimentos, que
determina o arquivamento do processo quando o autor não comparece à audiência (art.
7º da LA).
Deixando o réu de comparecer à audiência, bem como de contestar a ação, ocorre revelia,
devendo os alimentos ser fixados no montante pretendido pelo autor.
A Lei de Alimentos trata de forma distinta credor e devedor, quando um deles deixa
de comparecer à audiência. Distintas são as sequelas impostas a quem não atende ao
chamado judicial. A ausência do autor enseja o arquivamento do processo, não à sua
extinção, ao autorizar posterior pedido de prosseguimento, sem a necessidade de intentar
nova demanda. Já a omissão do réu importa em revelia, além de confissão sobre a
matéria de fato (art. 7º da LA).
O Código de Processo Civil concede tratamento igual à ausência das partes. De forma
absurda reconhece como ato atentatório à dignidade da justiça a ausência injustificada
do autor ou do réu na audiência de conciliação ou mediação, ensejando a aplicação de
multa (art. 334, § 8º do CPC).
Tanto a Lei de Alimentos (art. 7º) como o Código de Processo Civil (art. 344),
reconhecem que a revelia faz presumir verdadeiras as alegações de fato formuladas pelo
autor, autorizando o juiz a julgar antecipadamente o pedido, proferindo sentença com
resolução de mérito (art. 355, II do CPC). No entanto, os efeitos confessionais da revelia
receberam modulações significativas. Uma delas: as alegações de fato formuladas pelo
autor forem inverossímeis ou estiverem em contradição com a prova constante dos autos
(art. 345, IV do CPC).
A tendência é não admitir que a omissão do réu, por si só, leve à fixação da pensão no
valor pedido na inicial. Os fundamentos são vários. A alegação é de que se trata de ação
de estado, cuja procedência implica em reconhecimento implícito do estado familiar
declarado na inicial.51 Também é invocada a possibilidade de o julgador fixar os alimentos
abaixo ou acima do pedido para afastar os efeitos confessionais da omissão do réu.52
Outro argumento é de o litígio versar sobre direitos indisponíveis (art. 345, II do CPC).
Daí a tendência contrária à aplicação dos efeitos da revelia.53
No que diz com a quantificação do valor dos alimentos, nada justifica deixar o juiz de
fixar o valor pleiteado pelo autor, já que há nos autos a prova da obrigação alimentar.
Citado o réu, deixando ele de comparecer à audiência e de contestar a ação, impositivo
que os alimentos sejam fixados no montante pleiteado pelo credor. Ainda que não tenha
recebido cópia da inicial, o réu tem como saber qual é a pretensão do autor, eis que pode
examinar o seu conteúdo a qualquer tempo (art. 695, § 1º do CPC). Assim, seu silêncio
significa concordância com o valor pretendido pelo credor.
De outro lado, não há como exigir que o autor comprove os ganhos do réu. Prova de
difícil acesso, principalmente quando o alimentante se esquiva de pagar alimentos. Ainda
assim, a tendência é atribuir ao autor o ônus de comprovar as possibilidades do réu.54
Quando mais de uma pessoa tem obrigação alimentar, dirigida a ação contra somente
um dos coobrigados, os demais podem ser chamados a integrar a lide.
O Código Civil faz indevida incursão na seara processual ao criar nova forma de
intervenção de terceiro (art. 1.698 do CC). Permite que, proposta a ação contra um dos
coobrigados, sejam os demais “chamados a integrar a lide”, figura que não se identifica
com as possibilidades intervencionais da lei processual (art. 125 a 132 e 682 a 686 do CPC).
Para Fredie Didier trata-se de modalidade de intervenção coacta criada para ajudar o
credor. Não cabe tentar enquadrá-la em algumas das espécies de intervenção de terceiro
até então existente.56
Dita figura intervencional, severamente criticada pela doutrina, foi recebida com
reservas pela jurisprudência, resistindo os juízes em admitir a convocação de outros
devedores. O fato é que, acionado somente um dos parentes, é possível ele convocar a
integrar a lide, um, alguns ou todos os demais parentes do mesmo grau.
Tratando-se de ação intentada por filhos maiores contra um dos genitores, já decidiu o
Superior Tribunal de Justiça que este pode chamar à lide o outro.59
Quando a ação de alimentos é proposta contra um parente, autoriza a lei que outros
parentes do mesmo grau sejam chamados a integrar a lide (art. 1.698 do CC). Dispõe de
legitimidade para chamar os codevedores, as partes e o Ministério Público, quando
intervém no feito.60
De qualquer forma, por expressa previsão legal, acionado somente um dos parentes, é
prerrogativa do réu chamar os demais obrigados a integrar a lide. Negar ao demandado
a possibilidade de convocar os codevedores, além de esvaziar a ratio do próprio
dispositivo legal, importa em onerar excessivamente o acionado, que responderia sozinho
pelo encargo. Caso não pudesse prestar integralmente a verba, prejudicaria os interesses
do alimentado, por ensejar a fixação de alimentos em percentual inferior às suas
necessidades.62
DEPOIMENTO PESSOAL
Apesar da forma assertiva da lei, a tomada do depoimento pessoal das partes não é
obrigatória.
Sempre que a lei utiliza o tempo verbal no futuro está ditando uma regra imperativa
a ser obrigatoriamente cumprida. No que diz com a ouvida das partes diz, a Lei de
Alimentos (art. 9º): o juiz ouvirá as partes litigantes. E acrescenta (art. 9º, § 2º da LA):
não havendo acordo, o juiz tomará o depoimento pessoal das partes.
Mas nem a doutrina tem como indispensável que o juiz colha o depoimento pessoal das
partes.63 Afinal, é ele o destinatário da prova.64
PROVAS
A regra geral é: o autor deve trazer, com a inicial, as provas que subsidiam seu pedido
(art. 319, VI do CPC). Mas a Lei de Alimentos abre exceções dispensando a apresentação
(art. 2º, §1º, II da LA): quando forem documentos públicos; estiverem em poder do réu; ou
de terceiras pessoas que se encontram em lugar incerto e não sabido.
Apesar da falta de previsão, das provas apresentadas na audiência, quer pelo autor,
quer pelo réu, impositiva a concessão de prazo para a parte contrária se manifestar (art.
437, § 1º do CPC). A celeridade não pode atropelar o direito ao contraditório e à ampla
defesa.
Apesar de ser do autor o ônus de provar os fatos constitutivos de seu direito (art. 373, I
do CPC), não há como onerá-lo com o encargo de provar as possibilidades do devedor
e quantificar os ganhos do réu, dados que somente ele tem acesso.
Normalmente a ação é promovida pelo filho representado por sua genitora, não tendo
nem a mãe e nem o filho como saber os rendimentos do genitor, com quem, normalmente,
não convivem. Desse modo, há que ser atribuído ao alimentante o encargo de provar seus
rendimentos, que gozam de sigilo e integram o direito constitucional à privacidade e à
inviolabilidade da vida privada (art. 5º, X da CF). Não apresentando o réu seus
rendimentos, os alimentos devem ser fixados no valor pleiteado pelo autor.
Como a ação de alimentos tem por objeto prestações pecuniárias, pode o juiz
determinar todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias
necessárias, para descobrir os ganhos do réu (art. 139, IV do CPC). Pode tomar todas as
providências necessárias para seu esclarecimento, inclusive a decretação de prisão do
devedor até 60 dias (art. 19 da LA).
Caso o autor seja incapaz em razão da idade, não precisa sequer provar suas
necessidades. São presumidas, ainda que seja salutar decliná-las, principalmente quando
existe alguma peculiaridade a ser atentada na quantificação do encargo, como, por
exemplo, alguma necessidade especial.
Quando a ação é movida contra os avós, cabe ao autor demonstrar que o seu genitor
não tem condições de atender às suas necessidades.
Prova ilícita
Apesar da proibição constitucional de uso de provas ilícitas, no que diz com as demandas
alimentares é possível a relativização deste dogma, fazendo-se uma ponderação de
interesses.
Rol de testemunhas
A indicação das testemunhas deve constar da petição inicial, não se podendo subtrair das
partes o direito de requerer que as testemunhas sejam intimadas e até ouvidas por carta
precatória.
Como as partes têm o direito de saber, com antecedência, quem são as testemunhas da
parte contrária, não subsiste o dispositivo da Lei de Alimentos que determina às partes
que compareçam à audiência de conciliação e julgamento acompanhadas de suas
testemunhas, em número não superior a três (art. 8º da LA).
A intimação pode ser feita pelo advogado da parte (art. 455 do CPC). Nem sempre as
testemunhas se dispõem a comparecer espontaneamente à audiência, fato que pode vir
em prejuízo de quem deseja produzir a prova. Claro o cerceamento de defesa. Assim, é de
se admitir que as partes requeiram intimação da testemunha. E, se intimada, não
comparecer, é designada nova audiência e a testemunha conduzida “sob vara”, ou seja,
será acompanhada por oficial de justiça devendo responder pelas despesas do adiamento
(art. 455, § 5º do CPC).
Caso a testemunha resida em outra cidade ou Estado, pode ser ouvida por carta
precatória, mas preferencialmente, deve ser por vídeo conferência (art. 453, § 1º do CPC).
Testemunhas incapazes
São considerados incapazes para servir de testemunha, quem tem menos de 16 anos de
idade. Apesar de admitida sua ouvida como informante, deve se evitar o depoimento dos
filhos das partes.
Ainda que se justifique a ouvida dos familiares como meros informantes, de todo
desarrazoado admitir o depoimento dos filhos das partes, principalmente tendo eles idade
inferior a 16 anos (art. 447, § 1º, III e § 4º do CPC). Nos conflitos envolvendo os pais deve-se
evitar, ao máximo, que eles tenham que tomar partido a favor de um ou de outro. Está
mais do que comprovado que a cobrança de um posicionamento gera severa crise de
lealdade, com sequelas que podem afetar o desenvolvimento psicológico.
Deste modo, ainda que as partes concordem em ouvi-los, deve o juiz indeferir a escuta.
Revelando-se indispensável colher a manifestação, crianças e adolescentes devem ser
ouvidos pela técnica do Depoimento Especial.
Testemunhas impedidas
Ainda que parentes e amigos íntimos sejam impedidos de depor, nas ações de alimentos
cabe serem ouvidos como informantes, emprestando-se valor probante ao seu testemunho.
Nenhuma destas duas restrições persiste, devendo ser aplicadas as normas da lei
processual. O limite de três testemunhas é por cada fato, não devendo ser arroladas mais
de 10 testemunhas (art. 357, § 6º do CPC).
Cabe ao advogado:
Eles são ouvidos como informantes e não prestam compromisso (art. 447, § 4º do
CPC). Nem por isso seus depoimentos deixam de ter valor probante, ainda que relativo.
Prova pericial
Qualquer das partes pode requerer a produção de prova pericial: o autor na inicial e o
réu na contestação.
A Lei de Alimentos nada diz sobre a realização de perícia. Somente refere que o perito
será ouvido na audiência de conciliação e julgamento, depois de frustrado o acordo e
colhido o depoimento das partes e das testemunhas (art. 9º, § 2º da LA). Ou seja, não
impede sua realização, que, pelo jeito, é levada a efeito após a audiência.
Mais uma vez há que ser adotada a lei processual. A prova pericial deve ser requerida
na inicial pelo autor e na contestação, pelo réu (art. 319, VI e 336 do CPC). Existe uma
exceção. Como diz Sérgio Gischkow Pereira, não é justo que se negue o direito de o autor
pedir prova pericial na réplica se a tal conduzir a resposta do réu.73
Como a realização da prova pericial demora, melhor mesmo é o juiz apreciar o pedido
de sua realização, quando da audiência de instrução. Não há nenhum óbice que se colham
primeiro os depoimentos pessoais e a prova testemunhal, para depois ser ordenada a
perícia. Ganha o processo em rapidez.74
A Lei de Alimentos não prevê a precedência da prova pericial em relação à oral. A lei
de processo determina a realização da perícia antes da audiência de instrução e
julgamento, devendo o perito apresentar o laudo com 20 dias de antecedência (art. 477 do
CPC). Na audiência, peritos e assistentes técnicos prestam esclarecimentos antes de ser
colhido o depoimento pessoal das partes e a ouvida das testemunhas (art. 361, I do CPC).
ALEGAÇÕES FINAIS
A requerimento das partes, as alegações finais podem ser apresentadas por escrito, na
forma de memoriais.
A Lei de Alimentos parece exigir que as alegações finais sejam apresentadas oralmente
e na audiência (art. 11 da LA): Terminada a instrução, poderão as partes e o Ministério
Público aduzir alegações finais, em prazo não excedente de 10 (dez) minutos para cada
um.
No entanto, nada justifica que o juiz indefira pedido formulado por ambas as partes de
que as alegações sejam substituídas por memoriais escritos.75
Para emprestar celeridade ao processo, as partes e o Ministério Público, se atuar no
feito, devem ficar intimadas de que o prazo correrá sucessivamente, sem nova intimação
(art. 364, § 2º do CPC).
SENTENÇA
O juiz pode fixar os alimentos em montante superior ao pleiteado pelo credor ou ofertado
pelo devedor, sem que se possa falar em decisão extra ou ultra petita.
Quando da propositura da ação nem sempre o autor sabe – ou tem meios de saber –
quais os ganhos aproximados de quem lhe deve alimentos. Assim, a indicação dos
recursos de que ele dispõe é estimativo.
O credor deve expor suas necessidades. Não dá para adotar como parâmetro para a
fixação dos alimentos os gastos comprovados, pois está sobrevivendo sem a contribuição
de somente um dos genitores.
Eficácia imediata
A sentença que fixa, reduz, majora ou exonera encargo alimentar, tem eficácia imediata,
ainda que sujeita a recurso.
RECURSO
De decisão interlocutória
Da sentença
Alterando a sentença o valor dos alimentos provisórios – para mais ou para menos –, o
novo valor passa a vigorar de imediato.80
O recurso pode ter efeito suspensivo ou efeito ativo. Depende do comando sentencial.
Negados alimentos, possível o relator, em antecipação de tutela, concedê-los. Em todas as
outras hipóteses cabe o pedido de efeito suspensivo, para que a decisão não produza efeito
até o julgamento do recurso (art. 1.019, I do CPC).
Ocorrendo cumulação de ações, sendo uma ação prejudicial à outra, somente no caso
de reconhecimento do vínculo familiar – parentalidade, conjugalidade ou solidariedade –
é que cabe ser apreciada a pretensão alimentar.
Não deferidos alimentos em sede liminar, vindo a ser acolhidas ambas as ações, com
a fixação de alimentos, estes passam a ser devidos de imediato, mesmo que a apelação do
processo principal disponha do duplo efeito. A cisão dos efeitos recursais é admitida
quando são resolvidas diferentes questões e pedidos em uma mesma sentença.81
Recurso especial
No âmbito do recurso especial não cabe reexame de matéria de fato, mas é possível a
busca da revaloração da prova.
O uso do recurso especial perante o Superior Tribunal de Justiça vem se tornando cada
vez mais inacessível. Súmula não admite pedido de reexame de matéria de fato.82 Assim,
em matéria de alimentos é difícil conseguir que o recurso seja admitido.
COISA JULGADA
Diz a Lei de Alimentos, com todas as letras (art. 15): “A decisão judicial sobre
alimentos não transita em julgado”. A assertiva, no entanto, é imediatamente
contraditada: a qualquer tempo pode ser revista, em face da modificação da situação
financeira dos interessados.
Nas relações jurídicas continuativas, a sentença tem implícita a cláusula rebus sic
stantibus. A ação revisional é outra ação. Ainda que as partes e o objeto sejam os mesmos,
é diferente a causa de pedir. O que autoriza a revisão é a ocorrência de fato novo
ensejador de desequilíbrio do encargo.
A questão é colocada em termos técnicos pela lei de processo ao estabelecer que o juiz
não decidirá as questões já decididas, salvo se, tratando-se de relação jurídica
continuativa, sobreveio modificação no estado de fato ou de direito (art. 505, I do CPC).86
Portanto, a sentença que decide sobre alimentos transita em julgado em relação à situação
de fato existente no momento em que foi proferida. Não havendo alteração de qualquer
dos vértices do binômio alimentar – possibilidade-necessidade –, a pretensão revisional
afronta a coisa julgada.87
Possibilidade revisional
Caso tenham sido fixados os alimentos sem que, por exemplo, saiba o credor dos reais
ganhos do devedor, ao tomar conhecimento de que o valor estabelecido desatendeu ao
princípio da proporcionalidade, cabe buscar a redefinição, sem que a pretensão confronte
a coisa julgada.
Não se pode olvidar que é do devedor o ônus de comprovar os seus ganhos. Caso tenha
ele descumprido tal dever, não pode se beneficiar da própria torpeza escudando-se na
imutabilidade da sentença.
AÇÃO RESCISÓRIA
Até o acolhimento da ação rescisória a obrigação alimentar é válida e eficaz, podendo ser
alvo de execução.
Quanto aos efeitos, não se afastam do que ocorre ordinariamente. A sentença modifica
os alimentos provisórios e o valor estipulado passa a ser devido imediatamente. Do
mesmo modo, quando a mudança da sentença acontece pelo julgamento do recurso. Se a
nova decisão majorar da verba alimentar, a diferença dos valores tem efeito retroativo à
data da citação na ação revisional (art. 13, § 2º da LA) e não na ação rescisória.
PRESCRIÇÃO
A prescrição não atinge a obrigação alimentar, que pode ser buscada a qualquer
tempo. Imposto o dever de prestar alimentos, judicial ou extrajudicialmente, passa a fluir
o prazo da prescrição.
Caso o credor não cobre as parcelas vencidas, a partir do decurso do prazo de dois
anos, as prestações que se venceram antes deste período não podem mais ser cobradas.
Nada impede, porém, que o credor ingresse em juízo para cobrar as parcelas
correspondentes aos últimos dois anos. Como se trata de obrigação de trato sucessivo, a
prescrição ocorre a contar da fluência do prazo de cada parcela.
Somente as três parcelas mais recentes podem ser cobradas com a ameaça de prisão.
As demais, pelo rito da expropriação.
Cabe lembrar que não corre prescrição contra absolutamente incapazes (art. 198, I do
CC), bem como durante o exercício do poder familiar (art. 197, II do CC).
Causas suspensivas
Como o poder familiar cessa com a maioridade (18 anos) ou a emancipação, a partir
dessa data passa a fluir o prazo prescricional da obrigação dos pais frente aos filhos.
A obrigação alimentar dos avós não se submete à suspensão, que diz somente com o
poder familiar. É obrigação que decorrente do vínculo de parentesco existente entre
avós e netos.
Não só entre cônjuges, também entre companheiros não flui a prescrição durante o
período da vida em comum.
A lei prevê a suspensão do prazo prescricional entre cônjuges (art. 197, I do CC), mas
não há como negar que dispõe do mesmo efeito paralisante a união estável e a união
homoafetiva.
Na união estável, a cessação da vida em comum leva à dissolução da união estável, sem
a necessidade de reconhecimento judicial ou formal do seu fim.
Base de incidência
A pensão alimentícia incide sobre o décimo terceiro salário, terço de férias, prêmios,
participação nos lucros, horas extras, adicional noturno, adicional de periculosidade,
adicional por conta de feriados trabalhados, PIS/PASEP, conversão de férias em pecúnia,
indenizações trabalhistas e restituição do imposto de renda.
A maneira de saber se incide ou não o encargo alimentar sobre algum valor percebido
pelo devedor é identificar a natureza da verba.
Neste sentido a posição, ainda que não unânime, do Superior Tribunal de Justiça.100
Quem recebe os alimentos destinados aos filhos, por estarem eles sob sua guarda, para
usufruir da dedução por dependente, precisa somar os alimentos percebidos pelos filhos
aos seus rendimentos (arts. 4º, 5º e 78 do Decreto 3.000/1999). Ou seja, aos próprios
rendimentos, o guardião soma o valor dos alimentos. Deduz os filhos como dependentes e
todas as despesas que arcou com eles e que são dedutíveis.
Caso o valor dos alimentos somado aos ganhos do genitor for superior ao limite de
isenção, crianças e adolescentes tem que apresentar declaração de imposto de renda,
que pode ser levada a efeito de duas formas:
- em conjunto – à sua renda, o guardião soma o valor da pensão percebida pelos filhos.
Beneficia-se da dedução por dependente, mas se sujeita à alíquota correspondente.
Qualquer das opções é prejudicial, tanto à criança quanto àquele que detém sua
guarda, o que viola o princípio da proteção integral e a própria Convenção sobre os
Direitos da Criança.104
Como o próprio nome o diz, imposto de renda é o encargo que incide sobre os
rendimentos de alguém. O desconto compulsório sobre os ganhos do alimentante é
apenas retenção antecipada de um tributo em montante ainda indefinido. Sobre a parcela
retida não há o desconto dos alimentos.
Como afirma Paulo Lôbo, havendo restituição do imposto de renda, tal significa que a
parcela devolvida é salário, que foi retido a mais. 105 Assim, sobre o montante devolvido
incidem os alimentos.106
CRITÉRIOS DE ATUALIZAÇÃO
Como o encargo alimentar se estende ao longo do tempo, precisa estar imune aos efeitos
corrosivos da inflação, sendo necessário prever sua atualização.
Até nas economias estabilizadas, com o passar do tempo, o aumento do custo de vida e
a inflação reduzem o poder de compra dos ganhos das pessoas. Essas circunstâncias levam
à pressão para o aumento do salário e de outros rendimentos. Esses fatores também
justificam a necessidade de correção do encargo alimentar. Como lembra Paulo Lôbo, os
alimentos não são dívidas de dinheiro, imodificáveis apesar das vicissitudes do tempo,
mas dívidas de valor, que não levam em conta a expressão nominal da moeda, e sim o
valor atual da coisa ou situação que exprime. Daí a necessidade de permanente
atualização.107
O termo inicial para atualização é a data da decisão que fixou os alimentos e não o
trânsito em julgado da sentença condenatória.108
Simples pedido de atualização monetária dos alimentos não enseja o uso da via
revisional. Para Leonardo de Faria Beraldo, basta endereçar uma petição ao juiz. Somente
a modificação das condições econômicas das partes é que constitui elemento
condicionante da revisão e da exoneração dos alimentos, sem o que não se há de adentrar
na esfera de análise do pedido.109
Percentual do salário
Salário mínimo
Índice oficial
Fixados os alimentos em salários mínimos – quer por acordo, quer por decisão judicial
–, diante da assertiva do alimentante de que o encargo se tornou excessivo, ensejando
descompasso com seus rendimentos, por seus ganhos não acompanharem o aumento do
indexador, a ação revisional é utilizada para que a atualização anual ocorra pelos índices
oficiais de atualização monetária.
São muitos os índices de preço: ORTN, OTN, BTN, TR, IPC-r, INPC, IPCA. E esses não são
todos, mas o usado com mais frequência é o IGP-M.
AÇÕES REVISIONAIS
Uma distinção merece ser feita. Somente quando o encargo decorre do poder familiar
é que o credor pode fazer uso da ação de majoração alegando o aumento dos ganhos do
alimentante. Essa é a única situação em que a proporcionalidade tem que se perpetuar. Os
filhos têm o direito de desfrutar das boas condições econômicas dos pais. Quanto mais eles
ganham, melhor as condições que os filhos têm direito de viver. Nos encargos decorrentes
de deveres outros, como o de solidariedade entre parentes e de mútua assistência entre
cônjuges e companheiros, o princípio da proporcionalidade deve ser considerado quando
da fixação dos alimentos. Depois, somente o aumento das necessidades do credor justifica
o pedido de majoração. A melhoria das condições econômicas do devedor, não. A melhora
aconteceu sem a sua contribuição.
Nada justifica impedir que os pedidos revisionais sejam formulados nos mesmos autos
em que os alimentos foram fixados. Em se tratando de alimentos definitivos, basta o
desarquivamento do processo em que foram fixados. Não cabe invocar o art. 494 do
Código de Processo Civil. Ainda que o juiz não possa alterar a sentença após sua
publicação, trata-se de nova pretensão, e o uso do mesmo processo atende o princípio da
economia processual.
Reduzido o valor dos alimentos ou extinta a obrigação, a sentença tem efeito ex nunc,
alcançando somente as parcelas futuras. As parcelas vencidas e impagas continuam
devidas. A regra atende ao princípio da igualdade. Aquele que pagou o valor devido até a
data da decisão não tem como reaver os valores pagos, já que os alimentos são
irrepetíveis. Assim, não há como perdoar a dívida de quem se quedou inadimplente à
espera da sentença.
MAJORAÇÃO
Majorado o encargo alimentar na sentença, o novo valor é devido desde logo, ainda
que a decisão esteja sujeita a recurso de apelação, o qual só dispõe de efeito devolutivo
(art. 1.012, § 1º, II do CPC e art. 14 da LA).
Tomando conhecimento o credor de outras fontes de renda do devedor, que não sabia
existir por ocasião da propositura da ação de alimentos ou quando firmou acordo judicial
ou extrajudicial, cabível buscar o desconto do percentual estabelecido sobre as outras
fontes de renda.
Para isso não é necessária a propositura de uma ação. Pode o credor requerer o
desarquivamento do processo em que os alimentos foram estabelecidos e pedir que o juiz
oficie ao empregador para proceder ao desconto.
REDUÇÃO
Todas estas manobras que vêm encontrando espaço nos tribunais afrontam o
princípio da igualdade. Como os alimentos são irrepetíveis, aquele que pagou o valor
devido até a data da decisão que reduziu o valor não teria como reaver a diferença.
Somente seria beneficiado quem não pagou a verba alimentar e se quedou inadimplente à
espera da sentença. 113
Vetada a devolução das parcelas pagas, o que pagou não pode sequer pleitear
compensação, enquanto aquele que se quedou em mora irá se locupletar com a própria
torpeza. Assim, por qualquer ângulo que se atente ao tema, não é possível deixar ao bel-
prazer do devedor o direito de suspender o pagamento ou reduzir o valor dos alimentos
para se beneficiar de sua omissão.
Exige maior cautela do juiz a redução liminar dos alimentos, sem estabelecer
previamente o contraditório. Ainda que reduzido o valor na decisão liminar, sua eficácia
está condicionada à citação do réu. Não há como surpreender o credor, que iria se ver, de
uma hora para outra, totalmente desamparado, sem ter ciência de que não pode mais
contar com os valores que vinha percebendo.
O responsável pelo sustento da família que deixar a residência comum deve continuar
cumprindo sua obrigação e, ao ingressar com ação de oferta de alimentos, deve depositar em
juízo o valor que entenda devido.
Diz o art. 24 da Lei de Alimentos: “A parte responsável pelo sustento da família, e que
deixar a residência comum por motivo que não necessitará declarar, poderá tomar a
iniciativa de comunicar ao juízo os rendimentos de que dispõe e de pedir a citação do
credor, para comparecer à audiência de conciliação e julgamento destinada à fixação dos
alimentos a que está obrigado”. Este é o dispositivo que regulamenta a ação de oferta de
alimentos. Ou seja, quem tem obrigação alimentar não precisa aguardar a iniciativa do
credor. Pode – ou melhor, deve – proceder ao depósito judicial dos alimentos.
Dita postura, no entanto, não é usual. No mais das vezes, o devedor recorre a esta ação
quando tem ganhos expressivos ou ostenta condição de vida privilegiada. Teme que lhe
seja imposto um encargo alimentar excessivo na ação promovida pelo credor.
No momento em que cessa a vida em comum, os alimentos, via de regra, deixam de ser
prestados in natura e surge a obrigação de proceder ao pagamento in pecunia, isto é, em
dinheiro. Portanto, para ficar com o exemplo mais comum, quando o varão sai de casa
deve imediatamente depositar os alimentos a favor de quem tem ele o dever de prover a
subsistência.
A ação deve ser proposta no domicílio do credor, que dispõe de foro privilegiado (CPC
53 II).
Como se trata de uma obrigação, possível que o genitor proponha ação de oferta de
alimentos gravídicos. A iniciativa da ação não é uma prerrogativa exclusiva da gestante.
Ora, quando a gestante busca alimentos é indispensável dar crédito à sua palavra, de
que o demandado é o genitor do filho que carrega no ventre.126 Basta a juntada de um
atestado de gravidez, não se mostrando temerária a fixação de alimentos gravídicos sem
prova verossímil acerca da paternidade, até porque a Lei não a exige. Elege-se a proteção
da vida em detrimento do patrimônio.127
Como diz Raduan Miguel Filho, para a fixação dos alimentos gravídicos provisórios, a
prova da paternidade geralmente é franciscana, frágil, delicada e muito fraca. Nessas
situações é imperativo que o juiz seja flexível a certas exigências, pois a peculiaridade da
questão permite e exige olhares diferentes, sendo deveras razoável impor ao suposto pai
um dever provisório para garantir um melhor desenvolvimento do nascituro.128
Despesas
Não é exaustivo o rol das despesas a serem atendidas, mas há demarcação legal do seu
limite.
Legitimidade ativa
A legitimidade ativa para a ação é da gestante, que promove a ação em nome próprio.
Não precisa provar necessidade, mas pode cumular pedido de alimentos para si.
O fato de a demanda de alimentos gravídicos dispor de rito especial não impede que a
ela sejam cumuladas outras ações investigatórias de paternidade, alimentos para a
gestante e para o nascituro etc.
Os alimentos gravídicos devem ser postulados enquanto a mulher for gestante. Após o
nascimento desaparece a possibilidade de ser usada a ação de alimentos gravídicos.
Todavia, após o período da gravidez, tenha ou não o filho nascido com vida, a mulher
pode buscar o pagamento das despesas referente ao período em que esteve grávida. Trata-
se de verdadeiro direito de reembolso das despesas que atendeu sozinha e que não eram
somente de responsabilidade dela. O direito não se extingue com o nascimento. No
entanto, a jurisprudência tem caminhado para considerar inadmissível o pedido de
alimentos gravídicos após o nascimento do menor, para retroagir à gestação. 133
Polo passivo
A ação pode ser proposta contra o indigitado pai ou contra os avós, mediante a
comprovação da impossibilidade de o genitor assumir o encargo.
A lei indica o pai como o responsável pelo custeio das despesas decorrentes da gestação
(art. 2º, parágrafo único da LAG). Apesar de não se tratar de encargo alimentar, sobressai,
às claras, uma obrigação para garantir o nascimento de um filho.
Deste modo é imperioso reconhecer que a ação tem natureza alimentar e, portanto,
passível de se estender a outros obrigados em caráter subsidiário e complementar (art.
1.696 do CC). Portanto, é possível exigir alimentos gravídicos dos avós.134
Nada impede que a ação seja proposta contra ambos – pai e avô – formando-se um
litisconsórcio passivo facultativo de caráter subsidiário. Reconhecido que o pai não tem
como pagar, é condenado o avô a arcar com tudo ou complementar o pagamento
insuficiente do genitor.
Acionado um dos avós, pode ele chamar a integrar a lide os demais obrigados a
prestar alimentos (art. 1.698 do CC).
Também é descabido que essa atividade seja restrita entre parentes, o que, certas
vezes, se afigura como uma relação, até certo ponto, aparentemente incestuosa. Como
explicar ao filho, por exemplo, que saiu da barriga da avó ou da tia, sem que tivessem tido
relacionamento com o seu pai. Por isso, até deveria ser evitada a reprodução assistida
entre parentes.
De qualquer modo, ainda que seja gratuita a gestação, a mulher faz jus a alimentos
gravídicos. De um modo geral, não há conflitos no ajuste que é feito. Como se trata de um
contrato, é possível que sejam estabelecidos alimentos gravídicos, juntamente com
deliberações outras. A avença não precisa ser por escritura pública, mas deve atender às
formalidades de título executivo extrajudicial (art. 784 do CPC).
O acordo para o pagamento pode alcançar valores significativos (art. 2º da LAG), e nem
por isso pode ser considerado como recompensa ou remuneração.
Competência
Diante do silêncio da lei especial, cabe ser invocada a lei de processo que elege, em
primeiro lugar, a citação pelo correio (art. 246, I do CPC). Não se tratando de ação de
estado (art. 247, I do CPC), a citação deve ser levada a efeito via postal. Como a citação é
feita por Carta Registrada com aviso de recebimento, ao ser assinado pelo réu (art. 248, §
1º do CPC) a citação é pessoal. Desimporta quem entregou-lhe o mandado: o carteiro ou o
oficial de justiça.
Somente em caso de frustação da diligência, o réu é citado por mandado, por hora
certa e até por edital, conforme se esquive da citação ou não se saiba o seu paradeiro.
Prazo da contestação
A lei não cria um procedimento especial para a ação, mas, de forma para lá de
atravessada, concede ao réu o prazo de resposta de cinco dias (art. 7º da LAG).
Desse modo, ao despachar a inicial, deferida ou não tutela antecipada, pode o juiz
estabelecer distinto prazo para a contestação. A tendência, no entanto, é a designação de
audiência de conciliação, a partir da qual começa a fluir o prazo de resposta, caso não
ocorra acordo. Claro que essa prática retarda a satisfação do direito e congestiona a pauta
dos juízes.
Termo inicial
Embora omissa a lei, a fixação dos alimentos deve ocorrer liminarmente, initio litis,
antes mesmo da contestação, pela natureza cautelar e urgente do provimento.136 Para a
concessão da tutela de urgência cabe a aplicação supletiva da regra geral (art. 300 do
CPC), pois inquestionável a premência da pretensão, cuja finalidade é salvaguardar o
direito à vida de quem ainda nem nasceu.
Além do pagamento de prestações mensais, cabível a imposição de pagamento de
quantias específicas para fazer frente a despesas pontuais, como de determinados
exames e as do parto. Do mesmo modo, pode haver, a qualquer momento, a alteração da
quantia ou da forma de cumprimento da obrigação.137
A forma de pagamento também pode variar. Além dos pagamentos à autora, o juiz
pode determinar que o réu atenda diretamente determinadas despesas, o que se constitui
em alimentos in natura. Como se trata de obrigação de fazer, em caso de
inadimplemento, possível impor o pagamento de multa – chamada de astreintes. Dita
possibilidade, às claras, não pode se limitar à execução de obrigação fundada em título
executivo extrajudicial (art. 814 do CPC).
Quer pela natureza do encargo, quer pelo rol de despesas elencadas na Lei,
indispensável que os pagamentos sejam feitos de imediato. Descabido, nesta sede – aliás,
em qualquer delas – pretender que a autora espere o decurso do prazo de 30 dias para
começar a perceber os alimentos. Este é o princípio da anterioridade que é previsto na
lei civil. Encontra-se no capítulo que trata de legado de alimentos (art. 1.928, parágrafo
único do CC).
Interrupção da gestação
Caso o abortamento ocorra depois de finda a ação em que foi imposta a condenação
ao pagamento dos alimentos, desnecessária a comunicação ao juízo, pois o processo já está
concluído. O alimentante não precisa propor ação de extinção do encargo. Pode
simplesmente cessar o pagamento.
No entanto, não pode pleitear a devolução das parcelas pagas, em face da natureza
alimentar do encargo. Além disso, enquanto durou a gravidez, existia a obrigação.
Apesar da expressão “até que uma das partes solicite sua revisão” (art. 6º, parágrafo
único da LAG), não rotula o encargo como alimentos provisórios. São definitivos. Porém,
podem ser alvo de revisão sem que tenha ocorrido alteração do binômio
possibilidade/necessidade, o qual sequer chegou a ser alvo da ponderação do juiz quando
da fixação dos alimentos a favor da gestante.
Depois do nascimento, quer o filho, quer o pai, podem requerer, em ação autônoma, a
revisão do valor dos alimentos. Mesmo que no estabelecimento dos alimentos gravídicos
devam ser considerados os recursos de ambos (art. 2º, parágrafo único da LAG), o encargo
decorrente do poder familiar atende ao critério da proporcionalidade, garantindo ao
filho o direito de desfrutar da mesma condição social do genitor (art. 1.694 do CC).139
A gestação tem um prazo longo, mas a justiça é ainda mais demorada. Tanto que a
própria Lei admite a possibilidade de ocorrer o nascimento do filho enquanto ainda
tramita a ação de alimentos gravídicos (art. 6º, parágrafo único da LAG). Apesar da
divergência de partes e de pedidos, valores devidos à gestante são transformados em
pensão alimentícia a favor do filho.
Esta solução faz lembrar a época, não muito remota, em que o único efeito da ação
investigatória de paternidade julgada procedente, se o réu fosse casado, era de natureza
alimentar. Uma excrescência que perdurou muito tempo e agora escandaliza a todos.
Improcedência da ação
Comprovado que o réu não é o pai, cessa a obrigação pelo pagamento do encargo. A não
ser que fique provada a má-fé da autora, descabe a devolução dos valores recebidos.
O ponto que tem gerado mais questionamentos em sede de alimentos gravídicos diz
com a possibilidade de a paternidade ser afastada. A preocupação é recente, mas este risco
já havia, ao menos desde o momento em que a justiça passou a fixar alimentos provisórios
mediante indícios de paternidade.
O pedido indenizatório há que ser dirigido contra a genitora que propôs a ação e não
contra a criança, mesmo que já tenha ocorrido o seu nascimento.
Inadimplemento
Ocorrendo mora, cabe a cobrança por qualquer das modalidades legais, inclusive pelo
rito da coação pessoal.
O fato de tecnicamente os alimentos gravídicos não terem natureza alimentar, nem por
isso é admissível subtrair da credora o direito de perseguir a cobrança da forma mais
eficiente: a ameaça de prisão. Neste sentido Enunciado das Jornadas de Direito Civil do
CJF.142
O cumprimento da decisão pode ser buscado no juízo do domicílio da credora (art. 528,
§ 9º do CPC), que tem o direito de optar. Caso não pagas as três últimas prestações, pode
fazer uso do rito da coação pessoal, quando o réu é intimado para pagar em três dias, sob
pena de prisão de um a três meses (art. 528, § 3º do CPC). Sendo maior o período da dívida,
cabível buscar a cobrança cumulativa: da dívida recente pelo rito da prisão e das
parcelas anteriores via expropriação (art. 530 e 831 do CPC).
A tendência sempre foi fixar os alimentos somente quando da sentença, o que levava o
réu a tentar retardar o fim do processo. Em boa hora passou a ser admitida a fixação de
alimentos provisórios na ação investigatória, bastando vir, com a inicial, indícios da
paternidade: cartas fazendo referência ao filho, fotos com a criança, enfim, qualquer
documento a permitir a antecipação de tutela. Ausentes tais provas e negados alimentos
provisórios, no momento em que aporta aos autos indícios da paternidade, cabe a fixação
dos alimentos a qualquer tempo. Tanto o resultado positivo do DNA, como a injustificável
recusa do investigado de submeter-se à perícia, amparam a concessão de alimentos
provisórios.
Prova da paternidade
Na demanda em que o autor alega que o réu é o seu genitor, nem sempre é possível
impor ao demandante a prova dos fatos constitutivos de seu direito (art. 373, I do CPC).
De igual modo não há como delegar ao demandado a demonstração de fatos impeditivos,
modificativos ou extintivos do direito alegado na inicial (art. 373, II do CPC). Ora, se é
difícil provar a ocorrência de relações sexuais, é quase impossível comprovar que elas
não existiram. Assim, na ação investigatória, a prova testemunhal sempre foi usada pelo
autor para apontar ocasiões e identificar situações em que o réu foi visto em atitudes que
insinuavam a existência de um vínculo afetivo bastante íntimo com sua genitora, a revelar
a possibilidade da ocorrência de contatos sexuais entre eles.
Felizmente o DNA acabou com todas essas dificuldades. Cabe ao réu a prova da
inexistência da paternidade que lhe é imputada pelo autor. A omissão em submeter-se ao
exame evidencia que abriu mão de comprovar fato impeditivos ao direito buscado do
autor, além de ensejar a presunção de veracidade dos fatos constantes da inicial. 146 Daí
as normas do art. 231 e 232 do CC e a Súmula 301 do Superior Tribunal de Justiça.147 A Lei
da Averiguação Oficiosa da Paternidade (Lei 8.560/1992), gera a presunção de paternidade
no caso de o suposto pai se recusar a submeter-se ao exame de DNA. Ainda assim – e
desgraçadamente – a presunção não é absoluta, pois a omissão cabe ser apreciada em
conjunto com o contexto probatório. Porém, ao negar-se o réu a submeter-se à testagem
sanguínea, tal significa que desistiu da única prova possível para infirmar a pretensão do
autor. Por isso, de todo descabido exigir outros subsídios probatórios para o acolhimento
da ação.
Diante da recusa do réu, deve o juiz fixar alimentos provisórios a favor do autor, sendo
de todo desnecessário aguardar o momento da sentença.
Dispensa de reconhecimento
A autorização legal ao filho havido fora do casamento de acionar o pai para obter
alimentos (art. 1.705 do CC), conforme afirma Francisco Cahali, é desnecessária,
ultrapassada e até retrógrada na mentalidade.148 Inexistindo qualquer obstáculo para o
filho buscar seu reconhecimento, não se justifica o dispositivo, até porque o juiz, de ofício,
é obrigado a fixar alimentos, tanto na ação de alimentar (art. 4º da LA) como na
investigatória de paternidade (art. 7º da Lei 8.560/1992).
Apesar da infeliz redação deste dispositivo legal, que vem sendo visto como de patente
inconstitucionalidade,149 talvez não exista mácula de tamanha dimensão. Pelo jeito o
legislador quis dizer o que não disse com clareza. Cabe interpretá-lo a contrário senso:
havendo vínculo parental ou de parentesco, é desnecessária prova pré-constituída da
obrigação para pleitear pensão alimentícia.
Claro que esta é uma tese difícil de vingar. Basta ver a tendência, amplamente
majoritária de que os alimentos provisórios, fixados quando do despacho inicial, só são
devidos a partir da citação do réu. Aliás, esta é a única hipótese em que se nega efeito
imediato à concessão de tutela antecipada.
Outro fundamento utilizado pelo réu para livrar-se do pagamento dos alimentos com
efeito retroativo, é que não tinha certeza da paternidade, não podendo assumir o encargo
sem saber se o filho era seu. Desde que surgiu o exame de DNA, que dispõe de índice de
certeza quase absoluto, não há mais como alguém alegar dúvida sobre a verdade
biológica. Nem o custo do exame, nem a negativa da genitora em deixar o filho se
submeter à perícia servem de motivo para o genitor não buscar a verdade. Basta ingressar
com a ação declaratória ou negatória de paternidade. Também pode ajuizar cautelar de
produção antecipada de prova. Em todas as hipóteses terá acesso ao exame genético
gratuito.
Ausência de condenação
Mesmo que não tenham sido requeridos alimentos pelo autor, mesmo que o juiz não os
tenha fixado e ainda que o recurso seja do réu, cabe ao tribunal fixar verba alimentar, não se
podendo falar em “reformatio in pejus”.
Caso o autor não tenha pedido alimentos, e ainda que o juiz não os tenha fixado na
sentença, impositiva a fixação da verba em sede recursal. Não importa se o recurso foi
interposto pelo réu e não tenha o investigante apelado. Não se trata de reformatio in
pejus, uma vez que ficam submetidas ao tribunal todas as questões anteriores à sentença
ainda não decididas (art. 1.013, § 1º do CPC).
A sentença ficou aquém do seu limite, ou seja, é citra petita, e das duas, uma: ou o
tribunal anula a sentença para que o juiz a complete, fixando os alimentos, ou o próprio
acórdão estabelece o encargo alimentar. Ainda assim, anulada a sentença, impositivo que,
no segundo grau, sejam fixados alimentos provisórios, a vigorar de imediato. O juízo de
procedência do primeiro grau é forte indício da paternidade, o que autoriza sua fixação.
Improcedência da ação
Mesmo que o autor apele, os alimentos deixam de ser devidos. Concedidos a título de
tutela antecipada, o recurso não dispõe de efeito suspensivo (art. 1.012, § 1º, V do CPC).
Reconhecido judicialmente que o réu não é o pai do autor, cessa o dever de pagar
alimentos. Mas o demandado não tem como reaver as importâncias pagas a quem não é
seu filho. Isto porque os alimentos são irrepetíveis e se destinaram à mantença do autor
durante a tramitação da demanda investigatória.
Mais descabida é a pretensão de depósito judicial dos alimentos para que, no caso de
procedência da ação, as parcelas serem levantadas pelo autor da ação. A desconstituição
do vínculo parental não autoriza a devolução dos alimentos pagos. Alimentos são
irrepetíveis.
No máximo seria possível pedido de reembolso das importâncias pagas pelo pai
registral frente a quem foi reconhecido como genitor. Afinal, assumiu responsabilidade
que não era sua. Mas é muito pouco crível que esta ação prospere!
AÇÃO DE DIVÓRCIO
ANULAÇÃO DE CASAMENTO
Ainda que a união estável se desfaça pelo simples fim da convivência, muitas vezes é
buscada a chancela judicial para delimitar seu período de existência. Mesmo se tratando
de demanda declaratória, havendo filhos incapazes, nada justifica dispensar o
implemento dos mesmos requisitos legais para a concessão do divórcio.
A lei de processo regulamenta as ações litigiosas (art. 693 a 699 do CPC) e as ações
consensuais de divórcio e de reconhecimento e da união estável (art. 731 a 734 do CPC).
Pelo jeito, tenta emprestar sobrevida ao instituto da separação consensual, o qual, no
entanto, desapareceu do sistema jurídico em face da EC 66/2010.
Ainda assim, os filhos não devem integrar a ação na condição de parte. Ainda que
relativamente incapazes, não precisam outorgar procuração a um dos genitores. Muito
embora a ação vá apreciar direito seu, a exigência seria descabida. A dilação do objeto da
ação é determinada pela lei, a dispensar a presença da prole na demanda. Desnecessária a
formação de um litisconsórcio de pais e filhos.
Outra não pode ser a solução. A eventual resistência do filho relativamente capaz de
participar da demanda – eis que precisaria firmar procuração para ser assistido em juízo –
não pode impedir que os pais busquem, em juízo, o reconhecimento da existência e
dissolução da união estável.
Reconvenção
Como o divórcio dissolve a sociedade conjugal, a tendência é reconhecer que, com sua
decretação, extingue-se o dever de mútua assistência, que nasce com o casamento. Assim,
o cônjuge que necessita de alimentos precisa pleiteá-los na ação de divórcio, o que
provoca um cúmulo de ações.
Proposta a ação por menor de 14 anos ou maior de 65 anos, a obrigação nem sequer
necessitaria ser alvo de quantificação, pois já dispõe de valor prefixado na lei: um salário
mínimo. Belo sonho pra um Brasil ideal.
Compete aos genitores o dever de sustento, guarda e educação dos filhos (art. 1.566, IV
do CC). Devem ambos decidir em comum as questões relativas aos filhos e seus bens (art.
1.690, parágrafo único do CC). Havendo divergência sobre o exercício do poder familiar
qualquer dos genitores pode recorrer ao juiz para solucionar o desacordo (art. 1.631,
parágrafo único do CC).
O fato de os pais não residirem sob o mesmo teto não altera as relações entre pais e
filhos e nem livra nenhum deles dos encargos inerentes do poder familiar.
É o que diz a lei, ainda que com punhado de imprecisões (art. 1.583, § 5º do CC): A
guarda unilateral obriga o pai ou a mãe que não a detenha a supervisionar os interesses dos
filhos, e, para possibilitar tal supervisão, qualquer dos genitores sempre será parte legítima
para solicitar informações e/ou prestação de contas, objetivas ou subjetivas, em assuntos ou
situações que direta ou indiretamente afetem a saúde física e psicológica e a educação de
seus filhos.
Não há como saber o que significa informações e/ou prestações de contas objetivas ou
subjetivas. Flávio Tartucce diz que a exigência da prestação deve ser analisada mais
objetiva do que subjetivamente, deixando-se de lado pequenas diferenças de valores e
excessos de detalhes na exigência da prestação, o que poderia torná-la inviável ou até
aumentar o conflito entre as partes.163
Como lembra Rolf Madaleno, sabido quão fértil se presta o Direito das Famílias para a
prática do abuso do direito, vedado pela legislação civil (art. 187 do CC), inclusive no
instituto dos alimentos, quando os filhos são prejudicados pelos desvios ou pela má gestão
do seu crédito alimentar. O exercício abusivo da pensão dos filhos atenta contra os
superiores interesses dos mesmos, e a prestação de contas é a grande reserva a favor do
alimentante para evitar a malversação dos alimentos.169 A constatação da má
administração dos recursos pagos a título de alimentos pode acarretar não apenas a
reversão da guarda, mas também a possibilidade de o menor alimentando pleitear danos
morais contra o administrador de seus recursos.170
De qualquer modo, na ação de prestação de não pode ser buscada a restituição dos
alimentos pagos.171
NOTAS DE RODAPÉ
1
Lei 5.478/1968.
Súmula 383 do STJ: A competência para processar e julgar as ações conexas de interesse de
menor é, em princípio, do foro do domicílio do detentor de sua guarda.
Divórcio. Partilha. Ex-cônjuges que são sócios à razão de 50% em uma empresa. Administração
exclusiva. Alimentos compensatórios. Fixação. Descabimento. Quando o ex-casal é sócio em
razão de 50% para cada um em uma empresa, não há temática estrita de partilha em decorrência
da dissolução da união conjugal a ser decidida pelo juiz de família. [...], Não há justificativa
jurídica para fixar, no âmbito de um processo que debate Direito de Família, o que se
convencionou chamar de alimentos compensatórios, que não são nem "alimentos", e nem
"compensatórios". Em princípio, qualquer debate sobre a administração da empresa e/ou sobre a
divisão dos lucros, deverá se dar na via própria e, especialmente, perante o juízo societário
competente. Deram provimento. (TJRS, AI 70071328090, 8ª C. Cív., Rel. Rui Portanova, j.
15/12/2016).
10
11
12
Súmula 226 do STF: Na ação de desquite, os alimentos são devidos desde a inicial e não da data da
decisão que os concede.
13
15
16
17
18
Ação de reconhecimento e dissolução de união estável, cumulada com partilha de bens. Pedido
de alimentos, formulado pela ex-companheira, em nome próprio, em favor dos filhos. Alegação
de ilegitimidade. Afastamento. Ilegitimidade superveniente, decorrente da maioridade de um dos
filhos atingida no curso do processo. Afastamento. Fixação da pensão alimentícia. [...]
Ilegitimidade ativa afastada. A maioridade do filho menor, atingida no curso do processo, não
altera a legitimidade ativa para a ação (STJ, REsp 1.046.130/MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, 3ª
Turma, Dje 21/10/2009).
19
Execução de alimentos. [...] A procuração passada por menor púbere, devidamente assistido pelo
representante legal, continua válida após a maioridade da parte. A exigência de nova procuração
vai de encontro ao princípio da celeridade, da economia processual e da instrumentalidade das
formas, devendo-se privilegiar a efetividade do processo (TJMG, AC 1.0024.08.199734-8/001, Rel.
Des. Sandra Fonseca, j. 23/11/2010).
20
21
22
Marianna Chaves, Algumas notas sobre a execução de alimentos no novo CPC, 452.
23
24
25
Ação de alimentos ajuizada pelo filho maior de idade contra o pai e contra a avó paterna.
Alimentos provisórios devidos pelo pai. Redução. Chamamento da mãe ao processo. Cabimento.
[...] Na hipótese a ação foi ajuizada por filho maior de idade concomitantemente contra o pai e
contra a avó paterna. Ocorre que a obrigação alimentícia recai nos parentes mais próximos,
antes de poderem ser chamados os mais remotos. Logo, na hipótese é viável acolher o pedido de
chamamento ao processo da mãe. Precedentes do STJ e desta Corte. Deram provimento. (Agravo
de Instrumento Nº 70061444113, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Rui
Portanova, Julgado em 30.10.2014). (TJRS, AI 70061444113 RS, 8ª C. Cív., Rel. Des. Rui Portanova, j.
30/10/2014).
26
Agravo regimental em recurso especial. Indenização por danos materiais. Morte de mãe de
família. Pensão mensal. Direito de acrescer. Cabimento. Agravo regimental desprovido. 1. A
jurisprudência desta Corte admite nas hipóteses de pensionamento por ato ilícito, em que há
vários favorecidos, a possibilidade de reversão da quota de um beneficiário aos demais, quando
ele deixar de perceber a verba, a qualquer título. (STJ, AgRg no REsp 676.887/DF, 4ª T., Rel. Min.
Raul Araújo, j. 16/05/2013).
27
28
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35
Idem, 1.031.
36
Idem, 1.033.
37
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39
40
42
Neste sentido: Sérgio Gilberto Porto, Doutrina e prática dos alimentos, 75 e Yussef Said Cahali,
Dos Alimentos, 853.
43
Impugnação ao valor da causa. Ação de revisão de alimentos que visa a redução da verba
alimentar devida. Sabido que o valor da causa na ação de revisão de alimentos na qual se
objetiva a redução do pensionamento deve corresponder a uma anuidade da diferença entre o
valor até então pago e o que se pretende reduzir, merece provido o recurso. Acordo extrajudicial
realizado entre os genitores não homologado em juízo. Agravo de instrumento provido. (TJRS. AI
70053955688, 7ª C. Cív., Rel. Des. Jorge Luís Dall'Agnol, j. 28/08/2013).
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46
47
48
50
51
Neste sentido: Yussef Cahali, Dos alimentos, 528; e Sérgio Gilberto Porto, Doutrina e prática dos
alimentos, 98.
52
53
Alimentos. Fixação. Revelia. Base de incidência da pensão. Embora se trate de ação de alimentos,
onde, segundo o art. 7º da Lei nº 5.478 /68, o não comparecimento da parte ré implica em revelia,
além de confissão quanto à matéria de fato, tal efeito não induz necessariamente ao acolhimento
integral do valor da pensão pleiteada na inicial, desde que convicção diversa possa ser extraída
dos elementos de convicção existentes nos autos. No caso, embora não haja prova alguma acerca
dos ganhos do alimentante, o autor informa na inicial que o demandado exerce atividade laboral
de "auxiliar operacional", com renda de aproximadamente R$ 800,00. Assim, laborando com
vínculo empregatício, adequado, na linha da conclusão nº 47 do Centro de Estudos deste
Tribunal, a fixação dos alimentos em percentual da sua renda líquida. Fixa-se a pensão, em caso
de emprego formal, em 30% da renda líquida (bruto menos os descontos obrigatórios da
previdência social e, eventualmente, do IR) do apelado, incidente sobre gratificação natalina (13º
salário), terço de férias e verbas rescisórias de caráter não indenizatório, pois estas parcelas
integram, para todos os efeitos, sua remuneração. Deram parcial provimento. Unânime. (TJRS, AC
70065721904, 8ª C. Cív., Rel. Des. Luiz Felipe Brasil Santos, j. 03/09/2015).
54
Fixação de alimentos. Revelia. Tratando-se de alimentos, a revelia não autoriza, por si só, a
fixação no valor postulado, desde que se conclua que esse montante não atende ao binômio
necessidade/possibilidade, como no caso. Isso porque, em que pese a necessidade presumida da
apelante, em razão da menoridade – 06 anos -, o apelado, que conta 29 anos, possui outros dois
filhos, conforme consignado em audiência, não tendo, por isso, condições financeiras de arcar
com valor maior do que o arbitrado, sob pena de prejudicar ainda mais a mantença dos demais
filhos ou, até mesmo, inviabilizar qualquer contribuição para eles. Negaram provimento.
Unânime. (TJRS, AC 70064992621, 8ª C. Cív., Rel. Des. Luiz Felipe Brasil Santos, j. 02/07/2015).
55
56
57
58
Pedro Lino de Carvalho Júnior. Da solidariedade da obrigação alimentar em favor do idoso, 51.
59
Ação de alimentos. Filhos maiores e capazes. Obrigação alimentar. Responsabilidade dos pais.
Genitora que exerce atividade remunerada. Chamamento ao processo. Art. 1.698 do CC. Iniciativa
do demandado. Ausência de óbice legal. Recurso provido. 1. A obrigação alimentar é de
responsabilidade dos pais, e, no caso de a genitora dos autores da ação de alimentos também
exercer atividade remunerada, é juridicamente razoável que seja chamada a compor o polo
passivo do processo a fim de ser avaliada sua condição econômico-financeira para assumir, em
conjunto com o genitor, a responsabilidade pela manutenção dos filhos maiores e capazes. 2.
Segundo a jurisprudência do STJ, “o demandado [...] terá direito de chamar ao processo os
corresponsáveis da obrigação alimentar, caso não consiga suportar sozinho o encargo, para que
se defina quanto caberá a cada um contribuir de acordo com as suas possibilidades financeiras”
(REsp 658.139/RS, 4ª T., Rel. Min. Fernando Gonçalves, DJ 13.03.2006.) 3. Não obstante se possa
inferir do texto do art. 1.698 do CC – norma de natureza especial – que o credor de alimentos
detém a faculdade de ajuizar ação apenas contra um dos coobrigados, não há óbice legal a que o
demandado exponha, circunstanciadamente, a arguição de não ser o único devedor e, por
conseguinte, adote a iniciativa de chamamento de outro potencial devedor para integrar a lide. 4.
Recurso especial provido (STJ, REsp 964.866/SP (2007/0148321-5), 4ª T., Rel. Min. João Otávio de
Noronha, j. 01/03/2011).
60
Enunciado 523 das Jornadas de Direito Civil do CJF: O chamamento dos codevedores para
integrar a lide, na forma do art. 1.698 do Código Civil, pode ser requerido por qualquer das
partes, bem como pelo Ministério Público, quando legitimado.
61
62
63
64
65
66
67
Idem, 101.
68
Tratando-se de alimentos, é do alimentante o ônus de fazer prova sobre suas possibilidades (37.ª
Conclusão do Centro de Estudos deste TJRS). Quando o alimentante não faz absolutamente
nenhuma prova sobre suas possibilidades, é de rigor fixar os alimentos no valor postulado na
inicial (que no caso não é excessivo). Deram provimento (TJRS, AC 70044321248, 8ª C. Cív., Rel.
Rui Portanova, j. 24/11/2011).
69
Alimentos. Autora que sempre dependeu dos aportes do varão, que exerce atividade com
evidente dificuldade de aferição dos ganhos. Inversão do ônus da prova. Teoria da carga
dinâmica das provas. Percentual fixado na sentença mantido. Recurso improvido (TJSP, AC
990.10.062944-1, Rel. Caetano Lagrasta, j. 07/04/2010).
70
71
72
73
Idem.
75
Ibidem, 108.
76
77
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82
Súmula 7 do STJ: A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial.
83
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Ação rescisória. Revisão de alimentos. Erro de fato no exame dos vencimentos do alimentante
estrangeiro. Referência monetária equivocada. Recebimento em corôas norueguesas e não em
reais. 1. Havendo evidente erro de fato no julgamento do recurso, quanto à referência monetária
utilizada como parâmetro para o redimensionamento da pensão de alimentos, imperiosa a
desconstituição do acórdão. Inteligência do art. 485 , inc. IX , do Código de Processo Civil . 2.
Reexame das pretensões recursais postas na ação revisional, ficando mantido o encargo
alimentar estabelecido em primeiro grau. Ação rescisória julgada procedente. (TJRS, Resc.
70051021194, Rel. Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves, j. 14/12/2012).
90
91
92
93
Alimentos. Décimo terceiro salário. Terço constitucional de férias. Incidência. Julgamento sob a
técnica do art. 543-C do CPC. 1. Consolidação da jurisprudência desta Corte no sentido da
incidência da pensão alimentícia sobre o décimo terceiro salário e o terço constitucional de
férias, também conhecidos, respectivamente, por gratificação natalina e gratificação de férias. 2.
Julgamento do especial como representativo da controvérsia, na forma do art. 543-C do CPC e da
Resolução 08/2008 do STJ: procedimento de julgamento de recursos repetitivos. 3. Recurso
especial provido (STJ, REsp 1.106.654/RJ (2008/0261750-0), 2ª Seção, Rel. Des. Paulo Furtado,
convocado do TJBA, j. 25/11/2009).
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Base de cálculo dos alimentos. Verbas indenizatórias. Não incidência. Salário família. Ausência
de comprovação. Decisão mantida. 1 – Os alimentos incidem sobre verbas pagas em caráter
habitual, sobre vencimentos, salários ou proventos, valores auferidos pela Agravada no
desempenho de suas atividades empregatícias, excluindo-se as verbas indenizatórias e os
descontos obrigatórios (previdenciário e imposto de renda) da sua base de cálculo. 2 – As verbas
de caráter indenizatório percebidas pela alimentante, tais como auxílio alimentação e vale
transporte, não podem integrar a base de cálculo dos alimentos. [...] Agravo de Instrumento
desprovido. (TJDF, AI 20150020154228, p. 18/04/2016).
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Alimentos. Participação nos lucros e resultados – PLR. Natureza não salarial. Rendimento do
trabalhador. Incidência no cálculo da verba alimentar. Sentença mantida. 1. O art. 7º, XI, da
CRFB/88, garante aos trabalhadores a “participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da
remuneração, e, excepcionalmente, participação na gestão da empresa, conforme definido em
lei”. 2. A Lei 10.101/00 regulamentou o referido dispositivo afastando expressamente a sua
natureza salarial: “Art. 3o A participação de que trata o art. 2o não substitui ou complementa a
remuneração devida a qualquer empregado, nem constitui base de incidência de qualquer
encargo trabalhista, não se lhe aplicando o princípio da habitualidade”. 3. Assim, a participação
nos lucros e resultados constitui um estímulo ao trabalhador, para que possa bem exercer o seu
ofício, não integrando o conceito de remuneração. Apesar disso, o Superior Tribunal de Justiça
entende que por se constituir em rendimento pago de modo habitual ao empregado, deve a
participação nos lucros e resultados integrar a base de cálculo de pagamento de verba
alimentícia. 4. Recurso conhecido e desprovido. (TJDF, AC 20140110999414, Rel. Sebastião Coelho,
j. 09/12/2015).
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Recurso especial. Não configuração de violação ao art. 535 do cpc. Execução de obrigação
alimentar. Base de cálculo. Décimo terceiro salário. Participação nos lucros e resultados. Aviso
prévio. Compensação. Impossibilidade. Não ocorrência de enriquecimento ilícito. [...] 2. Os
alimentos arbitrados em valor fixo devem ser analisados de forma iversa daqueles arbitrados em
percentuais sobre "vencimento", "salário", "rendimento", "provento", entre outros ad valorem. No
primeiro caso, a dívida consolida-se com a fixação do valor e periodicidade em que deve ser
paga, não se levando em consideração nenhuma outra base de cálculo. (REsp 1.091.095/RJ, Rel.
Ministro Luis Felipe Salomão, 4ª Turma, julgado em 16.04.2013, DJe 25.04.2013). [...] 4. A
desvinculação da participação nos lucros operada pela Constituição da República de 1988, em seu
art. 7º, inc. XI, não teve o condão de alterar a essência dessa rubrica a ponto de descaracterizá-la,
tendo objetivado primordialmente incentivar a sua utilização pelos empregadores, desonerando-
os quanto à integração do seu valor ao salário e ao pagamento de diferenças reflexas em outras
parcelas trabalhistas, além dos encargos sociais. 5. Dessarte, a despeito dessas verbas serem
desvinculadas do conceito de remuneração, configuram-se como rendimento, porquanto geram
acréscimo patrimonial, devendo integrar a base de cálculo dos alimentos. [...] 7. O aviso prévio
consiste, em última instância, no pagamento efetuado pelo empregador ao empregado pela
prestação de serviços durante o restante do contrato de trabalho ou à indenização substitutiva
pelo seu não cumprimento por qualquer das partes. Em ambas as hipóteses – natureza salarial
ou indenizatória -, trata-se de verba rescisória, razão pela qual não incide o desconto da pensão
alimentícia, ressalvada disposição transacional ou judicial em sentido contrário (ubi eadem ratio,
ibi eadem dispositio). 8. No presente feito, houve decisão judicial expressa determinando o
desconto de 55% do total das verbas rescisórias, com fundamento na postura recalcitrante do
recorrente em pagar a pensão devida. [...] 11. Ressalva dos Ministros Maria Isabel Gallotti e Raul
Araújo quanto à incidência da pensão alimentícia sobre a rubrica denominada participação nos
lucros apenas quando comprovada a necessidade do alimentando, o que, no caso dos autos, foi
devidamente demonstrada. 12. Recurso especial não provido. (STJ, REsp 1.332.808/SC
(2012/0141639-9), 4ª T. Rel. Min. Luis Felipe Salomão j. 18/12/2014).
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Alimentos provisórios. [...] A verba alimentar deve ser estipulada em valor certo, determinando-
se sua correção monetária anual, a partir da data da decisão que os define (não de seu trânsito
em julgado), conforme comando do art. 1.710 do CC (TJRS, AI 70042401075, 8ª C. Cív., Rel. Des.
Luiz Felipe Brasil Santos, j. 14/07/2011).
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Recurso especial. Direito de família. Alimentos arbitrados em valor fixo (10 salários mínimos)
com pagamento em periodicidade mensal. Coisa julgada. Execução. Incidência em outras verbas
trabalhistas (13.º, FGTS, férias, PIS/PASEP). Impossibilidade. 1. Os alimentos arbitrados em valor
fixo devem ser analisados de forma diversa daqueles arbitrados em percentuais sobre
“vencimento”, “salário”, “rendimento”, “provento”, dentre outros ad valorem. No primeiro caso, a
dívida se consolida com a fixação do valor e periodicidade em que deve ser paga, não se levando
em consideração nenhuma outra base de cálculo. 2. O débito alimentar arbitrado em valor fixo –
por sentença transitada em julgado – deve ser pago pelo montante e na exata periodicidade
constante no título judicial, revelando-se ofensa à coisa julgada a determinação para que o valor
arbitrado seja pago a propósito do recebimento de outras verbas pelo devedor. 3. No caso
concreto, as circunstâncias fáticas incontroversas nas quais a sentença foi proferida dão guarida
ao pleito recursal, pois não há nenhum vestígio no título de que a verba deveria incidir na forma
como entendeu o Tribunal a quo. De fato, mostrou-se relevante ao arbitramento em valor fixo o
fato de o réu auferir rendimentos por fontes que não empregatícias, fato que reforça a conclusão
de que a pensão, na hipótese, não deve incidir sobre verbas outras, como aquelas indicadas pelo
acórdão recorrido. 4. Recurso especial provido (STJ, REsp 1.091.095/RJ (2008/0210351-0), 4ª T, Rel.
Min. Luis Felipe Salomão, j. 16/04/2013).
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Revisão de alimentos. Embora seja certo que a constituição de nova família, com filho, não
signifique, necessariamente, redução da capacidade financeira do alimentante, é preciso sempre
analisar o caso em sua concretude, pois quando se trata de alimentante abonado, o advento de
novo filho provavelmente não repercutirá em sua capacidade contributiva. Porém, diversa é a
situação quando o alimentante recebe modesta remuneração, como no caso, em que ele recebe
salário líquido de aproximadamente R$ 1.570,00. Assim, face à inequívoca alteração para pior da
capacidade financeira do agravante tenho, na linha de situações análogas enfrentadas por esta
Câmara, por adequado dar provimento ao agravo de instrumento, para deferir o pedido de
antecipação de tutela, fixando a verba alimentar em favor da agravada no mesmo valor fixado a
título de alimentos provisórios em favor do outro filho do agravante, de 18% da renda líquida
(bruto menos os descontos obrigatórios do IR e previdência social) do agravante, em valor não
inferior 35% do salário mínimo, ou, em caso de desemprego, em 30% do salário mínimo. Deram
provimento. Unânime. (TJRS, AI 70071485932, 8ª C. Cív., Rel. Luiz Felipe Brasil Santos, j.
15/12/2016).
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. Ação revisional de alimentos. Pretendida a minoração da verba alimentar fixada em favor
da filha menor com sustentáculo em superveniente decesso remuneratório e constituição de
dívidas. Particularidade esta que por si só não justifica a revisão do encargo alimentar.
Alimentante que, ademais, não comprovou o decréscimo de seus rendimentos. Ônus probante
que incumbe ao autor a teor do art. 333, I, do CPC. Quantum que, à vista dos elementos coligidos,
atende ao binômio necessidade da alimentanda e possibilidade do alimentante. Exegese do art.
1.699 do CC. Sentença mantida. Recurso desprovido. 1. A observância dos princípios da
proporcionalidade e razoabilidade se faz necessária para justificar a redução da verba alimentar
devida à prole. Em outras palavras, somente diante de provas convincentes da impossibilidade
econômico-financeira de quem deve pagar ou da desnecessidade de quem recebe é que se deve
acolher a pretensão de diminuição do quantum antes estabelecido judicialmente a título de
alimentos. 2. A constituição de dívidas, por si só, não justifica a exoneração ou minoração do
encargo alimentar anteriormente assumido, mesmo porque em regra aquelas se perfazem por
ato voluntário do alimentante: “A alteração na fortuna que motiva a revisão não pode ser
provocada, produzida espontaneamente pelo alimentante assumindo novos compromissos,
porque isso implicaria em conceder ao devedor arbítrio sobre os alimentos” (Des. Amaral e Silva)
(TJSC, AC 2013.011299-6, 3ª C. Dir. Civ., Rel. Des. Marcus Túlio Sartorato, j. 02/04/2013).
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Lei 11.804/2008.
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Raduan Miguel Filho, Alimentos gravídicos..., 305.
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Alimentos gravídicos. Embora não haja provas da existência do alegado relacionamento, o que
poderia levantar indícios acerca da paternidade, mostra-se viável a fixação liminar dos alimentos
gravídicos quando comprovada a gravidez. Com efeito, por tratar-se de alimentos gravídicos, é
preciso ter em conta a dificuldade de se produzirem de imediato os indícios acerca da
paternidade que se alega. Nesse passo, em casos como o presente, deve-se dar algum crédito às
alegações iniciais a fim de garantir o direito de maior valor, que é a vida e o bem-estar da
alimentada, em detrimento da dúvida acerca da paternidade. Recurso parcialmente provido, por
maioria (TJRS, AI 70050691674, 8ª C. Cív., Rel. Des. Rui Portanova, j. 01.11.2012).
127
Ana Maria Gonçalves Louzada, Alimentos gravídicos e a nova execução de alimentos, 40.
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.Alimentos gravídicos. Alegada incapacidade para arcar com o valor fixado. Comprovação.
Recurso parcialmente provido. Decisão reformada. Na apuração do quantum dos alimentos
gravídicos, utilizam-se os mesmos critérios para concessão dos alimentos convencionais: a
necessidade da gestante e a possibilidade do alimentante – suposto pai –, conforme previsto no
art. 2.º da Lei 11.804/08. Restando demonstrado que o agravante não tem condições financeiras
para arcar com o valor fixado a título de alimentos gravídicos na decisão recorrida, o montante
deve ser reduzido. Recurso parcialmente provido (TJMG, AI 1.0319.12.003370-3/001, Rel. Des.
Eduardo Guimarães Andrade, j. 16/04/2013).
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.Neste sentido: Leonardo de Faria Beraldo, Alimentos no Código Civil..., 90; Douglas Phillips
Freitas, Alimentos gravídicos e a Lei 11.804/2008; e Cláudia Aoun Tannuri e Daniel Jacomeli
Hudler, Aspectos processuais da lei de alimentos gravídicos. Em sentido contrário: Denis Donoso,
Alimentos gravídicos.
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.Ibidem, 583.
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Enunciado 522 do CJF: Cabe prisão civil do devedor nos casos de não prestação de alimentos
gravídicos estabelecidos com base na Lei n. 11.804/2008, inclusive deferidos em qualquer caso de
tutela de urgência.
143
Agravo regimental. Recurso especial. Civil e processual civil. Direito de família. Ação de
investigação de paternidade cumulada com pedido de pensão por morte. Alimentos implícitos.
Competência. Foro do domicílio do menor. 1. Na investigação de paternidade, o pedido de
alimentos pode vir de modo implícito, pois decorre da lei, sendo mero efeito da sentença de
procedência do reconhecimento da relação de parentesco. Precedentes. 2. “O foro do domicílio ou
da residência do alimentando é o competente para a ação de investigação de paternidade,
quando cumulada com a de alimentos” (Súmula 01 do STJ). 3. “A competência para processar e
julgar as ações conexas de interesse de menor é, em princípio, do foro do domicílio do detentor
de sua guarda” (Súmula 383 do STJ). 4. Agravo regimental a que se nega provimento (STJ, AgRg no
REsp 1.197.217/MG (2010/0103894-3), 3ª T., Rel. Min. Vasco Della Giustina, Des. convocado do TJRS,
j. 15/02/2011).
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.Súmula 277 do STJ: Julgada procedente a investigação de paternidade, os alimentos são devidos a
partir da citação.
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.Súmula 301 do STJ: Em ação investigatória, a recusa do suposto pai a submeter-se ao exame de
DNA induz presunção juris tantum de paternidade.
148
.Alice de Souza Birchal, A relação processual dos avós no direito de família..., 58.
150
.Ação de investigação de paternidade c/c alimentos. Legitimidade passiva dos avós paternos.
Exame comparativo de DNA com os restos mortais do de cujus. Possibilidade. Sentença cassada.
1. Segundo a jurisprudência, na falta dos pais ou na incapacidade econômico-financeira destes,
cabe aos avós prestar os alimentos necessários à sobrevivência dos menores, sendo, portanto,
legítimos para compor o polo passivo da ação. 2. Diante da possibilidade de realização de prova
direta, qual seja o exame comparativo de DNA com os restos mortais do de cujus, não se pode
negar a busca da verdade real, devendo esta ser realizada, notadamente pelo fato de que os avós
paternos podem não ser pais biológicos, mas sim adotivos do falecido. Recurso conhecido e
provido. Sentença cassada (TJGO, AC 127397-62.2004.8.09.0006, Rel. Des. Norival Santome, j.
05/02/2013).
151
.Lei 11.804/2008.
152
.Ação de investigação de paternidade sem pedido de alimentos. Exame de DNA que atestou a
paternidade. Decisão que indeferiu o requerimento do Parquet de fixação de alimentos
provisórios ante a não ocorrência de pedido expresso na inicial, e sob pena de julgamento extra
petita. Possibilidade de arbitramento. Doutrina e jurisprudência que recomendam a fixação
imediata dos alimentos provisórios, a fim de que sejam supridas as necessidades presumidas da
menor. Provimento do recurso, na forma do disposto no art. 557, § 1º-A, do CPC. (TJRJ, AI
0049741-82.2015.8.19.0000, Rel. Des. Helda Lima Meireles, j. 30/09/2015).
153
.Nelson Nery Jr. e Rosa Maria de A. Nery, Código de Processo Civil comentado..., 2.188.
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.Ibidem, 267.
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Habeas corpus. Direito de família. Alimentos. Execução. Espólio. Rito do art. 733 do CPC.
Descumprimento. Prisão civil do inventariante. Impossibilidade. 1. Malgrado a divergência
doutrinária e jurisprudencial sobre o alcance da alteração sobre o tema no âmbito do Código
Civil de 2002, e apesar de sua natureza personalíssima, o fato é que previu o novo Código que "a
obrigação de prestar alimentos transmite-se aos herdeiros do devedor" (art. 1.700), não podendo
a massa inventariada nem os herdeiros, contudo, responder por valores superiores à força da
herança, haja vista ser a dívida oriunda de obrigação pretérita do morto e não originária
daqueles (arts. 1.792 e 1.997 e En. 343 do CJF). 2. Nessa ordem de ideias, e seja qual for a
conclusão quanto a transmissibilidade ou não da obrigação alimentar, não parece possível a
decretação de prisão civil do inventariante do Espólio, haja vista que a restrição da liberdade
constitui sanção também de natureza personalíssima e que não pode recair sobre terceiro,
estranho ao dever de alimentar, como sói acontecer com o inventariante, representante legal e
administrador da massa hereditária. 3. De fato, "a prisão administrativa atinge, apenas, ao
devedor de alimentos, segundo o art. 733, § 1.º, do CPC, e não a terceiros" e em sendo o
inventariante um terceiro na relação entre exequente e executado – ao espólio é que foi
transmitida a obrigação de prestar alimentos (haja vista o seu caráter personalíssimo) –
"configura constrangimento ilegal a coação, sob pena de prisão, a adimplir obrigação do referido
espólio, quando este não dispõe de rendimento suficiente para tal fim" (CAHALI, Yussef Said. Dos
alimentos. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006, p. 750-751). 4. Na hipótese, a verba
alimentar foi estabelecida com base nas necessidades do alimentando e nas extintas
possibilidades do alimentante, falecido, e não em virtude das forças da herança, não se sabendo,
ao certo, se o monte-mor tem quantias em dinheiro ou rendimentos pecuniários para a mantença
dos mesmos patamares. Além disso, há uma nova situação pessoal do alimentado, que pode ter
sofrido grande alteração em decorrência de sua participação na própria herança, ficando
alterados o binômio necessidade/possibilidade – que deve nortear o pagamento de alimentos. 5.
Há considerar, ainda, que o próprio herdeiro pode requerer pessoalmente ao juízo, durante o
processamento do inventário, a antecipação de recursos para a sua subsistência, podendo o
magistrado conferir eventual adiantamento de quinhão necessário à sua mantença, dando assim
efetividade ao direito material da parte pelos meios processuais cabíveis, sem que se ofenda,
para tanto, um dos direitos fundamentais do ser humano, a sua liberdade; ademais, caso
necessário, pode o juízo destituir o inventariante pelo descumprimento de seu munus. [...] 7.
Ordem de habeas corpus concedida. (STJ, HC 256.793/RN (2012/0215640-9), 4ª T., Rel. Min. Luis
Felipe Salomão, j. 01/10/2013).
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Thiago Felipe Vargas Simões, Ação de prestação de contas da administração dos bens do casal e
alimentos, 238.
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.Ação de prestação de contas. Alimentos pagos pelos avós paternos à neta. Indeferimento da
petição inicial em primeiro grau. Direito do alimentante em fiscalizar a manutenção e educação
da alimentanda. Inteligência do art. 1.589 do Código Civil. Cabimento da ação fiscalizadora nos
casos em que há indícios da malversação dos recursos pagos à menor. Suspeita de desvio de
finalidade. Sentença cassada. Recurso conhecido e provido (TJSC, AC 2010.015120-5, 5ª C. Dir.
Civil, Rel. Des. Substituto Odson Cardoso Filho, j. 12/04/2012).
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Thiago Felipe Vargas Simões, Ação de prestação de contas da administração dos bens do casal e
alimentos, 237.
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