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Lições de Direito da Família

OS ALIMENTOS

Conceito, função social e fonte da obrigação de alimentos

Quando se fala em direito, em contrapartida, há um dever, uma


obrigação. Se alguém tem um crédito, há alguém que tem um débito. Em
matéria de alimentos, o direito é de quem necessita do auxílio de outrem
para assegurar a própria sobrevivência.

Os alimentos são devidos em razão dos vínculos familiares e


dispõem de natureza diversa e têm várias origens.

O grupo familiar tem, entre si, vínculos de diversa natureza, como


o parentesco (natural ou por adopção), o casamento, a afinidade, a união
de facto ou a tutela. Os membros do grupo familiar têm também a
obrigação de prestar entre si, assistência moral e material.

O art.º 247.º do CF., dá-nos o conceito de alimentos, dizendo no


n.º 1 que eles compreendem tudo aquilo que for necessário ao sustento,
saúde, habitação e vestuário. O n.º 2 do mesmo artigo, acrescenta que
nos alimentos devidos a menores se compreende ainda a educação e
instrução.

A obrigação de alimentos emana do dever de cooperação e


solidariedade e é instituído com a finalidade de proteger os interesses do
próprio organismo constituído pelo grupo familiar.

Os alimentos abrangem assim tudo quanto é necessário para a


vida, incluindo os gastos com a saúde, as despesas da demanda, se o
credor de alimentos tiver de recorrer a juízo para exercer o seu direito, e
até as despesas fúnebres que se têm com a morte de familiares.

A obrigação de alimentos tem uma função social relevante, pois,


recaindo sobre os membros da família, leva a que sejam estes a satisfazer
as necessidades materiais dos seus membros.

Se tal não acontecer, e se esse dever não for cumprido, a obrigação


de alimentos vai recair sobre (e vai onerar) a própria sociedade e o Estado
onde esses membros carentes e desprotegidos se encontram.

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Natureza jurídica dos alimentos (art.º 259.º do CF.)

A obrigação de alimentos existe ope legis, pois, em regra, é a lei que


estabelece quem a ela está obrigado.

A obrigação de alimentos é uma obrigação de natureza estritamente


pessoal, como as demais obrigações e direitos que se inserem no Direito
Familiar.

Embora ela se possa resolver mediante uma prestação de valor


pecuniário, ela não é de forma alguma uma obrigação de natureza
patrimonial. Trata-se, aqui, de um direito de natureza pessoal.

Esta natureza pessoal deriva do objecto e da causa da obrigação de


alimentos. Ela tem como objecto a protecção do direito à vida do próprio
titular do direito de alimentos, pois, visa prover à sua subsistência e ao
seu interesse imediato como pessoa humana. Destina-se exclusivamente,
a satisfazer as necessidades e o sustento do alimentando como tal, o
direito a alimentos deve ser considerado como um direito fundamental
da pessoa humana, integrado no direito mais amplo que é o direito à vida.

Sendo um direito estritamente pessoal, não pode ser exercido senão


pelo próprio titular ou pelo seu representante legal.

É uma obrigação de ordem pública, porque ela não se limita a


satisfazer os interesses de cada credor de alimentos, mas também o
interesse geral da sociedade. Por isso, o Estado toma uma série de
medidas para que a obrigação de alimentos seja satisfeita, de forma que
ela não venha a recair sobre a colectividade em geral.

Ele é imprescritível porque pode ser exercido em qualquer ocasião,


desde que se verifiquem as condições legais para tanto.

É um direito indisponível, que não pode ser cedido a outrem, nem


transferido, porque tutela um interesse essencial de determinada pessoa.

É um direito irrenunciável, porque, pela mesma razão, a renúncia


iria pôr em causa esse mesmo interesse essencial.

É um direito que resulta do vínculo familiar e, por conseguinte, não


pode ser cedido inter vivos nem transmitido mortis causa.

Sujeitos Activos e Passivos da Obrigação de Alimentos

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A obrigação legal de alimentos vem genericamente estatuída no


art.º 249.º n.º 1 e 2 e ainda no art.º 260.º e 262.º do CF.

Do lado do sujeito activo da obrigação alimentar, devem distinguir-


se duas situações, de acordo com o que dispõe o art.º 248.º do CF.

a) Os menores
b) As pessoas que não possam pelo seu trabalho garantir o seu
sustento.

A obrigação de alimentos a menor é mais extensa e incumbe em 1º


lugar aos pais e adoptantes e depois aos demais ascendentes em linha
recta, sem qualquer limite.

A obrigação de alimentos a maiores cabe, em 1º lugar, ao cônjuge


ou ex-cônjuge, por exemplo, ao ex-companheiro de união de facto que
reúna os pressupostos legais para o reconhecimento.

Esta obrigação entre maiores vai só até ao 2º grau na linha


colacteral.

A obrigação de alimentos dos pais em favor de filhos menores é


obrigação de natureza solidária (art.º 135.º CF.), o que significa que o
filho a pode pedir por inteiro a um dos pais, tendo aquele que a prestar,
direito de regresso em relação ao outro.

Modo, vencimento e lugar de cumprimento da obrigação de


alimentos – 252.º do CF.

A obrigação de alimentos pode ser prestada por duas formas:

a) Em prestação pecuniária
b) Em espécie – aquela que normalmente é prestada quando o
alimentado vive em economia comum com quem está obrigado
a prestar-lhe os alimentos e dele recebe a habitação, o sustento,
o vestuário, etc..

Os alimentos podem ser fixados por acordo das partes ou por


decisão judicial. Se os alimentos disserem respeito a menores, o acordo
terá de ser homologado pelo tribunal.

Se forem fixados por acordo entre o alimentado e o devedor da


obrigação, os alimentos são devidos a partir da data do acordo.

Se forem fixados por decisão judicial, os alimentos são devidos


desde a data da propositura da acção (art.º 254.º CF), pois, entende-se

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que foi a partir dessa data que o alimentado começou a necessitar que
lhe fossem atribuídos os alimentos. Isso quer dizer que os alimentos não
retroagem.

Há duas formas de fixação de alimentos: os alimentos provisórios e


os alimentos definitivos. (art.º 256.º CF).

Quanto ao lugar do cumprimento da obrigação de alimentos, o CF.,


nada estatui, pelo que é de aplicar a regra das obrigações segundo a qual
o lugar do cumprimento da prestação é no domicílio do credor (art.º 774.º
do CC).

Medida e natureza variável da obrigação de alimentos – 250.º,


251.º do CF.

A medida dos alimentos é fixada consoante as possibilidades


económicas de quem os presta e a necessidade de quem os recebe.

Deverá atender-se ao nível social e económico de quem está


obrigado a prestar alimentos, de forma que quem os recebe possa manter
um nível de vida idêntico àquele de que beneficiaria se vivesse no seio do
agregado familiar do obrigado a prestar os alimentos.

Ao fixar a prestação de alimentos, o tribunal, de acordo com o seu


prudente arbítrio, deverá determinar qual o quantitativo justo, de forma
a não prejudicar o demais agregado familiar do obrigado, nem tão pouco
permitir que a prestação fixada não seja adequada à satisfação das
necessidades do obrigado.

Quando se verificar a impossibilidade de prestação de alimentos


por parte do obrigado, ou o seu cumprimento periga a sobrevivência dele,
do cônjuge ou de outros filhos, a solução legal é a de este se oferecer para
receber em sua casa o alimentado, como vem previsto no n.º 2 do art.º
252.º do CF.

Execução da obrigação de alimentos – 255.º do CF.

Em geral, podemos dizer que a execução da obrigação de alimentos


pode efectuar-se por duas vias:

a) Por via civil, em acção executiva especial


b) Por via criminal, funcionando o pagamento das prestações como
condição de ser dispensada ou extinta a pena (entre nós, o

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mecanismo da lei contra a violência doméstica traz esse


detalhe).

Extinção do direito e da obrigação de alimentos

Os casos de extinção da obrigação de alimentos vêm expressamente


previstos no art.º 258.º do CF., regulando o art.º 263.º a obrigação entre
ex-cônjuges ou companheiro da união de facto.

A extinção do direito e da obrigação de alimentos pode resultar de


duas ordens de factores:

a) A verificação de um facto
b) A decisão judicial

Em regra, dado o carácter de reciprocidade da obrigação alimentar,


se aquele que era obrigado a prestá-la não a prestou, como por ex. no
caso do pai em relação ao filho menor que deixe desamparado, tem de se
entender que, mais tarde, o pai não pode vir pedir alimentos ao filho.

Igualmente é de aplicar tal disposição quando, durante a existência


do vínculo conjugal, um dos cônjuges viole gravemente os seus deveres
para com a família matrimonial.

A violação grave do dever pode ser apreciada pelo tribunal,


sopesando as circunstâncias de cada caso concreto e avaliando se os
factos são em si graves, se revestem de natureza dolosa ou meramente
culposa.

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