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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DA __ª VARA DE FAMÍLIA DA

COMARCA DE BANGU - RJ.

RAFAEL RIBEIRO DO NASCIMENTO, brasileiro, solteiro, motorista, portador da carteira de


identidade nº 20.172.009-1 expedida pelo Detran/RJ e inscrito no CPF sob o nº 056.323.677-97,
residente e domiciliado na Rua Barbosa da Asa Branca – 9 – Jacarepaguá/RJ - CEP: 22.775- 137,
por intermédio de seu procurador constituído nos autos vem, respeitosamente, propor

AÇÃO REVISIONAL DE ALIMENTOS C/C TUTELA DE URGÊNCIA.

MIGUEL DIOGO DO NASCIMENTO, nascido em 13/10/2012 e GUILHERME DIOGO


DO NASCIMENTO, nascido em 09/05/2014, menores impúberes, representados por sua
genitora DAIANA DIOGO DE SOUZA, TEL: 97455-9588, e-mail:
daianasouza240913@gmail.com, brasileira, solteira, do lar, portadora da carteira de identidade n.º
21.395.388-8, expedida pelo Detran/RJ, devidamente inscrita no CPF sob o nº 115.383.497-95,
residente e domiciliada na Avenida de Santa Cruz, n° 7190, bloco 22, Aptº.: 101, Senador Camará,
Rio De Janeiro-RJ, CEP: 21.830-264, pelo o que abaixo segue.

I – DAS PRELIMINARES

A) DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO

O requerente manifesta, desde já, o interesse na realização de audiência de conciliação, nos


termos do art. 334 do Código de Processo Civil.
B) DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA

O Requerente não possui condições de arcar com as custas e despesas processuais sem
prejuízo próprio ou de sua família, conforme a declaração de hipossuficiência anexa, com
fundamento no art. 5º, LXXIV da Constituição Federal e art. 98 e seguintes do Código de Processo
Civil. Assim, faz jus à gratuidade da justiça.

II – DOS FATOS

Nos autos do processo nº 0008121-50.2021.8.19.0204, que tramitou perante o juízo da 2ª


Vara de Família da comarca de Bangu/RJ foi fixado o valor de R$660,00 (seiscentos e sessenta reais)
a ser pago por parte do Requerente, a título de pensão alimentícia em favor dos Requeridos, ou seja,
valor correspondente à ½ salário mínimo.

Desde então, o Requerente sempre adimpliu suas obrigações, conforme demonstram os


pagamentos em anexo. Contudo, a condição financeira do Requerente sofreu uma acentuada
modificação nos últimos meses, uma vez que está desempregado e ainda possui outro filho com
outra genitora, conforme documento em anexo, o que não foi levado em consideração no momento
em que a citada decisão acima foi proferida. Dessa forma, tornou-se insustentável o pagamento do
valor acordado anteriormente.

Ressalta-se que o Requerente não se exime da responsabilidade para com os Requeridos,


mas não está conseguindo fazer frente à parcela sem prejudicar seu próprio sustento, o que motivou
a presente ação.

III – DO DIREITO

a) Do trinômio necessidade x possibilidade e proporcionalidade e a possibilidade de


revisão do valor fixado a título de alimentos

O Código Civil garante aos parentes a pretensão de alimentos necessários à sua subsistência,
devendo estes serem fixados observando o binômio necessidade x possibilidade (art. 1694, § 1º,
CC).
Mais recentemente, a doutrina também entendeu haver mais um elemento a ser considerado
na fixação dos alimentos: a proporcionalidade.

Isto é, é preciso sopesar a necessidade do alimentando aos alimentos e a possibilidade do


alimentante em provê-los à luz da proporcionalidade entre estes dois parâmetros, buscando o
equilíbrio entre eles:

“O princípio da proporcionalidade é que norteia a fixação dos alimentos, tendo


por pressuposto as possibilidades do alimentante e as necessidades do
alimentando. Como o encargo decorre do poder familiar, do dever de mútua
assistência, dos vínculos de parentesco e da solidariedade familiar dispõe de um
componente ético. Não dá para permitir que pessoas que mantêm – ou deviam
manter – um vínculo afetivo vivam em situação de flagrante
desequilíbrio.” (DIAS, Maria Berenice. Dois pesos e duas medidas para preservar
a ética: irrepetibilidade e retroatividade do encargo alimentar. IBDFAM, 2007.)

Além disso, a capacidade de fornecer os alimentos também é considerada pelo art. 1.695 do
Código Civil:
“Art. 1.695. São devidos os alimentos quando quem os pretende não tem bens
suficientes, nem pode prover, pelo seu trabalho, à própria mantença, e aquele, de
quem se reclamam, pode fornecê-los, sem desfalque no necessário ao seu
sustento.”

Não à toa, a própria Lei de Alimentos traz a possibilidade de revisão da decisão judicial em
caso de modificação na situação financeira dos envolvidos:
“Art. 15. A decisão judicial sobre alimentos não transita em julgado e pode a
qualquer tempo ser revista, em face da modificação da situação financeira dos
interessados.”

No mesmo sentido é o art. 1.699 do Código Civil:


“Art. 1.699 – Se, fixados os alimentos, sobrevier mudança na situação financeira
de quem os supre, ou na de quem os recebe, poderá o interessado reclamar ao juiz,
conforme as circunstâncias, exoneração, redução ou majoração do encargo.”
Como restará demonstrado, as possibilidades do requerente em cumprir com a obrigação
alimentar decaíram bastante desde que ela foi fixada, de forma que a manutenção do valor estipulado
viola o princípio da proporcionalidade e o equilíbrio da prestação.

Nestes casos, a onerosidade excessiva é condenada pela jurisprudência:

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO REVISIONAL DE


ALIMENTOS – REDUÇÃO DE PENSÃO ALIMENTÍCIA – ALTERAÇÃO
DO BINÔMIO NECESSIDADE E POSSIBILIDADE – VALOR
EXCESSIVO – DEMONSTRAÇÃO. Nos termos do art. 1.694, § 1º, do Código
Civil, o valor dos alimentos devidos pelo genitor aos filhos deve ser fixado na
proporção das necessidades do alimentando e dos recursos da pessoa obrigada.
Cabe ao alimentante, que pretende reduzir a verba alimentar, a demonstração da
alteração de sua possibilidade (capacidade financeira) conjugada, por razões
objetivas, com as necessidades dos alimentandos. Sendo assim, embora seja
indiscutível a necessidade dos filhos em receber alimentos, quando excessiva a
prestação alimentar fixada, ela deve ser reduzida, para que não onere
demasiadamente o alimentante e prejudique sua própria subsistência. (TJ-MG –
AI: 10000211422910001 MG, Relator: Wilson Benevides, Data de Julgamento:
16/03/2022, Câmaras Cíveis / 7ª CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação:
17/03/2022).

Portanto, possuindo fundamento jurídico em total harmonia com o ordenamento jurídico,


é medida de justiça que o valor seja revisto.

b) Da alteração da condição financeira do requerente e de seus gastos fixos

Desde a época da fixação da obrigação alimentar no valor de ½ salário mínimo, a condição


financeira do requerente sofreu grande redução, considerando que ficou desempregado. Por outro
lado, suas despesas indispensáveis continuaram muitas, como se vê pelos comprovantes em anexo,
o mesmo paga a pensão de outro filho, paga aluguel e vive de “bicos”, não podendo assumir ½
salário mínimo de pensão, quando sua renda não atinge sequer R$2.000,00 (dois mil reais).

Isto posto, é imperativo reconhecer que a manutenção do atual valor da pensão alimentícia,
sem considerar as mudanças substanciais em sua situação financeira e nos gastos fixos, resultaria em
um desequilíbrio financeiro insustentável para os alimentandos, prejudicando seu próprio sustento
e o acesso a bens e direitos essenciais à sua dignidade.

Nesse sentido, a jurisprudência já decidiu:

EMENTA: APELAÇÕES CÍVEL – DIREITO DE FAMÍLIA – REVISIONAL


DE ALIMENTOS – AJUSTE DA QUANTIA – REVISÃO ALIMENTAR –
MINORAÇÃO – DEMONSTRAÇÃO DA ALTERAÇÃO DA CAPACIDADE
CONTRIBUTIVA DO ALIMENTANTE – ART. 373, I, DO CPC -
DEMONSTRAÇÃO – RECURSO NÃO PROVIDO. – A Ação de Revisão de
Alimentos tem como pressuposto a alteração do trinômio possibilidade/
necessidade/proporcionalidade, destinando-se a estabelecer a redefinição do
encargo alimentar (Art. 1.699 do Código Civil)- Comprovada a alteração no
quadro financeiro do alimentante, nos termos do art. 373, inc. I do CPC, o
deferimento da minoração da pensão alimentícia é a medida que se impõe, nos
termos da sentença proferida em primeiro grau. (TJ-MG – AC:
10000212308191002 MG, Relator: Ivone Campos Guilarducci Cerqueira (JD
Convocado), Data de Julgamento: 02/12/2022, Câmaras Especializadas Cíveis /
8ª Câmara Cível Especializada, Data de Publicação: 06/12/2022)

Reitera-se que não está buscando se eximir de sua obrigação, mas tornou-se inviável cumpri-
la nos termos acordados. Como considera a balizada doutrina:

“A lei não quer o perecimento do alimentado, mas também não deseja o sacrifício
do alimentante”. (Washington de Barros Monteiro, Curso de Direito Civil, Direito
de Família, p. 293).

Deste modo, para continuar honrando seus compromissos para com os alimentandos, mas
possibilitando seu mínimo existencial, faz-se necessária a revisão proposta.

c) Do valor proposto
Apesar das sérias dificuldades financeiras, o requerente não pretende deixar de prestar o
auxílio material necessário ao sustento dos alimentandos.

Dessa forma, propõe a revisão do valor devido a título de alimentos para R$500,00, o que
corresponde a um valor médio de R$250,00 para cada um dos alimentandos, ou seja, 35% (trinta e
cinco por cento) do salário mínimo nacional no total, valor este que julga capaz de suprir tanto as
necessidades dos alimentandos, quanto às suas capacidades financeiras.

IV – DA TUTELA DE URGÊNCIA

Diante de todo o exposto, faz-se necessária a tutela de urgência para reduzir, de imediato, o
valor dos alimentos fixados para o valor proposto de R R$500,00, o que corresponde a um valor
médio de R$250,00 para cada um dos alimentandos, ou seja, 35% (trinta e cinco por cento) do salário
mínimo nacional no total

Nos termos do art. 300 do Código de Processo Civil, a tutela de urgência deve ser concedida
quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano.

Desta forma, evidencia-se a probabilidade do direito a partir da demonstração inequívoca da


diminuição da capacidade financeira do alimentante, o que autoriza a revisão do valor fixado
anteriormente à título de alimentos conforme o Código Civil e a própria Lei de Alimentos.

Já em relação ao risco da demora, é flagrante o preenchimento de tal requisito, porquanto a


manutenção do valor outrora fixado não apenas está onerando excessivamente o requerente e
violando seu mínimo existencial, mas pode ensejar eventuais constrições patrimoniais ou mesmo
um pedido de prisão caso incorra no inadimplemento dos alimentos arbitrados – repisa-se, o
inadimplemento não é a intenção do requerente, mas está na iminência de ocorrer por falta de
condições.
Nesse sentido, a doutrina já se debruçou sobre a possibilidade da revisão dos alimentos
arbitrados em sede de liminar:

“Idêntico raciocínio, mutatis mutandi, se aplica na hipótese de revisão para


reajuste da pensão, quer nas modificações das cláusulas de acordo de separação,
ou em acordo de alimentos ajustados na ação especial, como também para os
processos exoneratórios. Nas três hipóteses, feita a prova sumária suficiente para
um juízo de probabilidade, o provimento liminar deve ser concedido. Nesse passo,
antes a evidência de diminuição substancial ou da perda abrupta do poder
aquisitivo do provedor, o fato autoriza a redução liminar da obrigação alimentar
frente aos dados novos adventícios.” (DE OLIVEIRA, Basílio. “Alimentos:
revisão e exoneração: doutrina, jurisprudência, prática processual”, 2008)”.

É, também, o que a jurisprudência observa:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO REVISIONAL DE ALIMENTOS.


REDUÇÃO. TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA DEFERIDA NA
ORIGEM. PROBABILIDADE DO DIREITO. PRESENÇA. OBSERVÂNCIA
DO TRINÔMIO NECESSIDADE, POSSIBILIDADE E
PROPORCIONALIDADE. MODIFICAÇÃO/REDUÇÃO. DECISÃO
REFORMADA. 1. À luz do ordenamento civil vigente, sabe-se que a fixação da
prestação alimentícia, a título provisório ou definitivo, tem por pressuposto o
atendimento do binômio possibilidade-necessidade e a sua modificação exige
alteração da situação de fato existente à época em que fixada, sendo imprescindível
para a sua redução prova significativa do declínio da possibilidade econômica do
alimentante, o que se vislumbra nos autos. 2. No presente caso, o agravante trouxe
provas suficientes de alteração na sua situação financeira, não possuindo as
mesmas condições de pagamento de quando foi condenado a prestar os alimentos
no percentual de 70% (setenta por cento) do salário-mínimo, sendo imperiosa a
minoração para 35% (trinta e cinco por cento) do salário-mínimo vigente.
AGRAVO DE INSTRUMENTO CONHECIDO E PROVIDO. (TJ-GO
53967981420218090126, Relator: DESEMBARGADOR KISLEU DIAS
MACIEL FILHO – (DESEMBARGADOR), 5ª Câmara Cível, Data de
Publicação: 15/03/2022).

V – DOS PEDIDOS

Isto posto, requer:


1. A concessão da gratuidade de justiça, nos termos do art. 98 e seguintes do CPC, bem como
do art. 5º, LXXIV da CRFB/88.
2. A citação do requerido para, querendo, oferecer contestação no prazo legal, conforme art.
335 do CPC;
3. A designação de audiência de conciliação, nos termos do art. 334 do CPC;
4. A intimação do órgão do Ministério Público para que acompanhe o presente feito, por se
tratar de interesse de menor, conforme art. 178, II, do CPC;
5. A concessão da tutela de urgência para minorar, de imediato, o valor dos alimentos fixados
para a quantia de R$500,00, o que corresponde a um valor médio de R$250,00 para cada um
dos alimentandos, ou seja, 35% (trinta e cinco por cento) do salário mínimo nacional no
total, eis que preenchidos os requisitos do art. 300 do CPC;
6. A produção de provas por todos os meios em direito admitidos;
7. Que sejam os pedidos formulados na presente ação considerados procedentes para
confirmar a tutela de urgência e para minorar os alimentos arbitrados para R$500,00, o que
corresponde a um valor médio de R$250,00 para cada um dos alimentandos, ou seja, 35%
(trinta e cinco por cento) do salário mínimo nacional no total, nos termos dos arts. 15 da Lei
de Alimentos e art. 1699 do CPC;
8. A condenação dos requeridos ao pagamento das custas e honorários advocatícios
sucumbenciais, conforme art. 85 do CPC;

9. Dá-se à causa o valor de R$6.000,00 (seis mil reais).

Nestes termos, pede e espera deferimento.

Rio de Janeiro, 01 de dezembro de 2023.

Thaísa Melo
OAB/RJ 153.313

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