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PROMOTORIA DE JUSTIÇA

COMARCA DE ALVORADA DO NORTE/GO

Autos nº: 5062555-92.2021.8.09.0005

MM. Juiz,

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, pelo


Promotor de Justiça que esta subscreve, no uso de suas atribuições
constitucionais e legais, vem, respeitosamente, à presença de Vossa
Excelência para manifestar-se nos seguintes termos.

I – RELATÓRIO

Versam os autos sobre Ação de Alimentos ajuizada por ANA


CLARA DE ALVIM SOUZA, representada por sua genitora REJANE
MARIA DE ALVIM, em face de seu genitor ELIAS BARBOSA DE
SOUZA.
Consta da inicial que as partes são genitores de ANA CLARA
DE ALVIM SOUZA, nascida em 29/07/2012.
Decisão de (mov. 04) determinou ao requerido o pagamento de
alimentos provisórios no importe de 30% à filha menor.
Em 08/11/2022 ocorreu a audiência de conciliação que restou
infrutífera (mov. 41).
O requerido apresentou contestação (mov. 46).
Intimada as partes para produzirem provas, o requerido
pugnou pelo julgamento antecipado da lide (mov. 54).
Vistas ao Ministério Público.
É o relatório.

II - PREAMBULARMENTE

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Inicialmente, cumpre registrar que a intervenção do Ministério


Público se faz necessária para o resguardo dos interesses da menor
ANA CLARA DE ALVIM SOUZA, nos termos do artigo 178, inciso II,
do Código de Processo Civil.
Ademais, observa-se a possibilidade de julgamento antecipado
do mérito, pois não se verifica, a princípio, a necessidade de
produção de outras provas, em atenção ao disposto no artigo 355,
inciso I, do Código de Processo Civil.

III – DA FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA

Inicialmente, ressalta-se que a pensão alimentícia é direito do


alimentando, visando à salvaguarda da dignidade da pessoa humana
(este, um dos princípios básicos da Constituição Federal de 1988),
cabendo, ao alimentante, o dever de suprir as necessidades básicas
daquele que recebe o rendimento, devendo ser suficiente para
fornecer, não só a alimentação diária, mas, também, os direitos
sociais (tais como, a educação, a saúde, o lazer e a segurança),
carecendo de punição, na medida da lei, quando deixa de cumprir
com o acordado e falta com a sua obrigação.
Noutro lado, é indispensável verificar o binômio
necessidade/possibilidade, aferindo-se, no caso, os parâmetros de
razoabilidade, previstos no § 1º, do artigo 1.694 do Código Civil,
dispondo que “os alimentos devem ser fixados na proporção das
necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada”
(grifou-se).
Nessa senda, vale asseverar que a obrigação de prestar
alimentos aos filhos menores decorre do dever de sustento
consignado no Código Civil (artigo 1.566, inciso IV) e sua fixação
deve atender ao binômio necessidade-possibilidade ou ao trinômio
proporcionalidade-possibilidade-necessidade.
Insta ressaltar que, na fixação dos alimentos, é preciso,
primeiro, um olhar para as necessidades do credor para, depois,
analisar as possibilidades do devedor.
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Neste ponto, o doutrinador ANDERSON SCHREIBER, em seu


livro “Manual de Direito Civil” (2020), comenta que inexiste uma
fórmula fixa que permita a quantificação dos alimentos, razão pela
qual se deve buscar o equilíbrio entre a possibilidade do alimentante
e a necessidade do alimentando. Nesse sentido, preconiza a
jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE ALIMENTOS. PEDIDO DE


EFEITO SUSPENSIVO À APELAÇÃO. PEDIDOS
FORMULADOS EM CONTRARRAZÕES. NÃO CONHECIDOS.
FILHO MENOR. NECESSIDADE PRESUMIDA DE
ALIMENTOS. ALEGAÇÃO DE INCAPACIDADE FINANCEIRA
DO ALIMENTANTE. ÔNUS DA PROVA DE QUE NÃO SE
EXIMIU O RÉU/APELANTE. 1. Na esteira da jurisprudência
deste Tribunal de Justiça, o pedido de atribuição de efeito
suspensivo à apelação não pode ser conhecido quando não é
deduzido adequada e oportunamente, por meio de petição
em apartado (artigo 1.012, §§ 3º e 4º, do Código de Processo
Civil) e porque prejudicado face o julgamento do recurso. 2.
A fixação dos alimentos deve levar em consideração a
necessidade do alimentando e a possibilidade
econômica do alimentante, à luz do princípio da
proporcionalidade (inteligência do art. 1.694, §1º, do
CC). No caso, considerando, de um lado, a necessidade
do alimentando, filho menor em idade escolar, e, de
outro, a carência de provas quanto à alegada
impossibilidade do alimentante (réu/apelante), é de se
manter a verba alimentar fixada na sentença em 01
(um) salário-mínimo. Apelação cível desprovida. (TJGO,
Apelação (CPC) 5197013-78.2016.8.09.0051, Rel. SIVAL
GUERRA PIRES, 2ª Câmara Cível, julgado em 17/02/2020,
DJe de 17/02/2020 – grifou-se).

Nesse sentido, convém mencionar que a ação de alimentos é de


rito especial e cabe aos requerentes disporem de prova pré-
constituída da obrigação alimentar. Não se discute a existência ou
não da dívida alimentar, mas sim o "quantum" será devido. Parte-se,
portanto, do pressuposto de que existe a relação obrigacional.
No caso em exame, restou comprovado nos autos os valores
referentes às necessidades da menor, uma vez que os documentos
apresentados pela genitora são suficientes para comprovar as
despesas mensais da menor.
Por outro lado, o réu não produziu nenhuma prova suficiente
que corroborasse a sua impossibilidade de arcar com os alimentos

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arbitrados, concordando assim, em tese, com aquele valor


provisoriamente arbitrado.
Assim, tendo em mira que o menor necessita de amparo
financeiro, tem-se como justa a fixação da obrigação na ordem
de 30% (trinta por cento) do salário-mínimo vigente, considerando-se
que tal quantia é compatível com os princípios da proporcionalidade
e razoabilidade.
Ademais, insta salientar que o valor dos alimentos é sempre
provisório, cujo valor poderá ser minorado ou majorado, segundo as
necessidades de quem recebe e de quem paga.
Insto posto, o Parquet não vislumbra nenhum fato impeditivo à
procedência da ação em testilha, haja vista tratar-se de uma
obrigação imprescindível à manutenção do menor, uma vez que ficou
documentalmente demonstrado que o adolescente necessita de
cuidados assistenciais.

IV - CONCLUSÃO

Ante o exposto, o MINISTÉRIO PÚBLICO manifesta-


se pelo deferimento do pedido formulado pela autora, de modo
que seja fixado o quantum alimentício definitivo no importe de 30%
(trinta por cento) do salário-mínimo vigente, em favor da
infante, bem como 50% (cinquenta por cento) das despesas
extraordinárias, por entender que atende ao binômio necessidade e
possibilidade, ante as provas apresentadas nos autos.

Alvorada do Norte/GO, datado e assinado digitalmente.

IVAN LUCAS SOUZA JÚNIOR


Promotor de Justiça Substituto

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