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42 CONTESTAÇÃO DE AÇÃO REVISIONAL DE ALIMENTOS


MOVIDA PELO PAI EM FACE DA FILHA COM
PRELIMINAR DE INCOMPETÊNCIA DO JUÍZO E INÉPCIA
DA PETIÇÃO INICIAL

Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1 a Vara de Família e Sucessões de


Sorocaba, São Paulo.

Processo no 0000000-00.0000.0.00.0000
Ação Revisional de Alimentos
G. A. dos S. S., brasileira, menor púbere, assistida por sua genitora L. da S. S.,
brasileira, divorciada, desempregada, titular do e-mail lss@gsa.com.br, portadora do RG
00.000.000-0-SSP/SP e do CPF 000.000.000-00, residente e domiciliada na Rua Graciliano Ramos,
no 00, Parque Marciano, cidade de Biritiba-Mirim – SP, CEP 00000-000, por seu Advogado, que
esta subscreve (mandato incluso), com escritório na Rua Francisco Martins, n o 00, Centro, cidade
de Mogi das Cruzes-SP, onde recebe intimações (e-mail: gediel@gsa.com.br), nos autos do
processo que lhe move S. L. de S. C. B., vem à presença de Vossa Excelência oferecer contestação,
nos termos a seguir articulados:

Dos Fatos:

O autor ajuizou o presente feito asseverando que atualmente tem a obrigação


de pagar à ré alimentos no valor de um salário mínimo e também o seu convênio médico,
demonstrando o ânimo de ver aquele valor reduzido à metade, ou seja, 1/2 (meio) salário mínimo e,
ainda, exonerar-se do pagamento do convênio médico.
Recebida a inicial, entendeu o magistrado por não conceder tutela antecipada,
marcando audiência de tentativa de conciliação cujo não comparecimento da ré se deu devido à
distância de seu domicílio à comarca de propositura da ação, conforme será melhor explicado na
preliminar abaixo.
Em apertada síntese, os fatos.

Preliminarmente:

“Da incompetência do juízo”


O foro competente para conhecer e julgar o presente feito é o da Comarca de
Mogi das Cruzes-SP, que engloba a cidade de Biritiba-Mirim-SP, onde residem a ré e sua mãe, que
a assiste. Nesse sentido a norma do art. 53 do CPC:
“Art. 53. É competente o foro:
(...)

II – de domicílio ou residência do alimentando, para a ação em que se pedem alimentos”.


A exceção expressa pela norma procura proteger os interesses do alimentando.
Sobre o tema, a Ministra Nancy Andrighi já declarou que “o descumprimento de obrigação
alimentar, antes de ofender a autoridade de uma decisão judicial, viola o direito à vida digna de
quem dela necessita. Em face dessa peculiaridade, a interpretação das normas que tratam de
competência, quando o assunto é alimentos, deve, sempre, ser a mais favorável para o
alimentando” (STJ, CC 118.340/MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, 2 a Seção, DJe 19.09.2013).
Mesmo que se ignorasse a regra especial de competência indicada no referido
dispositivo, o autor deveria ter, ao menos, observado a regra geral do art. 46 do CPC, in verbis:

“Art. 46. A ação fundada em direito pessoal ou em direito real sobre bens móveis será
proposta, em regra, no foro de domicílio do réu”.
Como se vê, qualquer que seja a regra que escolha aplicar este douto Juízo, a
competência para o conhecimento da “ação revisional de alimentos” proposta pelo autor é da
Comarca de Mogi das Cruzes-SP, seja porque é o domicílio da alimentanda (art. 53, II, CPC), seja
porque é o domicílio da ré (art. 46, CPC).
Como declara o próprio autor na sua exordial, a ré, sua filha, reside na cidade
de Biritiba-Mirim-SP, Comarca de Mogi das Cruzes-SP, para onde devem ser remetidos os autos.
Destarte, REQUER-SE seja reconhecida a incompetência deste douto Juízo
para conhecer e julgar o presente feito, remetendo-se os autos para o Foro de Mogi das Cruzes-SP,
onde deverão ser livremente distribuídos para um dos juízos cíveis, visto que na comarca não há
organizadas varas da família.
“Da inépcia da petição inicial”
Declara o art. 1.699 do Código Civil que “se, fixados os alimentos, sobrevier
mudança na situação financeira de quem os supre, ou na de quem os recebe, poderá o interessado
reclamar ao juiz, conforme as circunstâncias, exoneração, redução ou majoração do encargo ”; ou
seja, o pedido de revisão do valor fixado a título de pensão alimentícia tem como pressuposto a
demonstração, por parte do interessado, de que houve alteração, mudança, substancial na sua
situação financeira.
Este é o entendimento do Egrégio Superior Tribunal de Justiça, in verbis:

“A modificação das condições econômicas de possibilidade ou de necessidade das partes,


constitui elemento condicionante da revisão e da exoneração de alimentos, sem o que não há
que se adentrar na esfera de análise do pedido, fulcrado no art. 1.699 do CC/02. As
necessidades do reclamante e os recursos da pessoa obrigada devem ser sopesados tão
somente após a verificação da necessária ocorrência da mudança na situação financeira das
partes, isto é, para que se faça o cotejo do binômio, na esteira do princípio da
proporcionalidade, previsto no art. 1.694, § 1 o, do CC/02, deve o postulante primeiramente
demonstrar de maneira satisfatória os elementos condicionantes da revisional de alimentos,
nos termos do art. 1.699 do CC/02” (STJ, REsp n o 1.046.296/MG. Rel. Ministra Nancy
Andrighi, 3a Turma, j. 17.03.2009).
Em sua inicial, o autor se limita a falar em dificuldades, sem, no entanto,
detalhar como estas supostas dificuldades tiveram o condão, a força de alterar a sua situação
financeira; ele nem mesmo chegou a declarar a sua renda e como esta se alterou no decorrer dos
meses ou anos. Ora, alegar de forma genérica dificuldades financeiras não atende à norma expressa
no art. 1.699 do Código Civil, fato que impede venha a ser apreciado efetivamente o pedido de
revisão do valor da pensão alimentícia; ora, como poderá o douto Juiz apreciar se houve ou não
alteração na situação financeira do alimentante, a justificar o pedido de revisão, se este na
exordial não detalhou, não demonstrou qual era e qual é a sua situação financeira?
Informa o art. 330, I, do CPC que a petição inicial deve ser indeferida quando
for inepta; no presente caso, a inicial deve ser declarada inepta porque lhe falta causa de pedir (art.
330, § 1o, I, CPC), extinguindo-se o feito sem julgamento de mérito.

Do Mérito:

Como demonstrado em preliminar, a petição inicial do autor é inepta, visto que


não expõe de forma clara como a situação financeira mudou desde que foram fixados os alimentos.
Como dito, este fato demanda seja a exordial indeferida, extinguindo-se o feito sem julgamento de
mérito, visto que a falta de fatos impossibilita aprecie o juízo a existência ou não de elementos
suficientes para arrimar a revisão do valor da pensão alimentícia.
Além disso, a falta de fatos dificulta a defesa, que, não sabendo as razões pelas
quais o autor deseja efetivamente a revisão, não pode impugná-las (no presente caso, parece
simples vingança pelo afastamento que existe entre as partes, imputável, registre-se, unicamente ao
autor que abandonou moralmente sua filha).
Todavia, considerando a possibilidade de este douto Juízo vir a afastar a
referida preliminar (princípio da eventualidade), a ré deve, mesmo considerando as limitações
impostas pela inepta inicial, se manifestar sobre o mérito do pedido, que deve com certeza ser
julgado IMPROCEDENTE.
Além de reclamar de forma genérica da sua situação financeira, sem nada
especificar quanto ao tema, o autor informa, também de maneira extremamente parcial e genérica,
que constituiu nova família, contudo tal fato, como se sabe, não é bastante por si só para arrimar
pedido de revisão do valor da pensão alimentícia. Nesse sentido a lição do eminente desembargador
José Aparício Coelho Prado Neto, que em recente julgamento declarou que “a circunstância de o
autor constituir nova família ou ter outra filha, não é motivo para a redução do valor dos
alimentos a que já estava obrigado, pois ao assumir os encargos decorrentes da nova fase de sua
vida que se iniciava, tinha ele pleno conhecimento de seus compromissos anteriores, o que impede
que dita modificação possa ser considerada imprevista” (TJSP, Processo no 0013874-
93.2013.8.26.0229 – Apelação, Rel. José Aparício Coelho Prado Neto, DJ 02.08.2016).
Se, de um lado, o autor não apresentou elementos fáticos que justifiquem a
diminuição do valor da pensão alimentícia, há que se registrar que as necessidades da ré, sua filha,
nunca foram maiores, visto que se encontra em idade difícil que envolve um número crescente de
despesas com a proximidade do curso superior.
Apenas para controle deste douto juízo, pede-se vênia para mensurar algumas
destas despesas, observando que residem juntas apenas mãe e filha: (I) energia elétrica R$ 78,00;
(II) fornecimento de água: R$ 67,00; (III) aluguel R$ 600,00; (IV) internet R$ 65,00; (V) telefone
R$ 53,00; (VI) supermercado R$ 400,00 (em média); (VII) roupas R$ 100,00 (em média); (VIII)
material escolar, R$ 500,00 (em média); (IX) medicamentos, R$ 300,00 (em média); (X) gás, R$
60,00; (XI) IPTU, R$ 250,00; (XII) transporte, R$ 160,00; (XIII) curso de inglês, R$ 180,00.
As despesas indicadas são apenas aquelas regulares, das quais nenhum cidadão
consegue fugir.
Como se vê, a pensão paga pelo autor não é bastante nem mesmo para cobrir
1/3 (um terço) da meação que cabe à alimentanda.
Sendo assim, tendo o autor falhado em demonstrar efetivamente a mudança de
sua situação financeira, considerando, ademais, que as necessidades da alimentanda nunca foram
tão grandes, de rigor a improcedência do pedido revisional, mantendo-se a pensão nos patamares
atuais.

Dos Pedidos:

Ante o exposto, REQUER-SE:


a) a concessão dos benefícios da justiça gratuita, vez que se declara pobre no
sentido jurídico do termo, conforme declaração anexa;
b) seja reconhecida a incompetência deste douto Juízo, remetendo-se o feito
para uma das varas cíveis do Foro de Mogi das Cruzes-SP;
c) seja indeferida a petição inicial em razão da sua inépcia, extinguindo-se o
feito sem julgamento de mérito;
d) se eventualmente superada a preliminar, a improcedência do pedido de
revisão do valor da pensão alimentícia, mantendo-se “inalteradas” as obrigações do alimentante em
face da sua filha.
Provará o que for necessário, usando de todos os meios permitidos em direito,
em especial pela juntada de documentos (anexos), perícia social e oitiva de testemunhas.

Termos em que
p. deferimento.

M. Cruzes-SP/Sorocaba-SP, 00 de agosto de 0000.


Gediel Claudino de Araujo Junior
OAB/SP 000.000

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