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Disciplina: Direito Processual Civil IV 2021.

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Professor: Eduardo Cabral Moraes Monteiro
Aula 01: Ação de Alimentos

PLANO DE AULA

1) Cabimento
- A ação de alimentos tem cabimento quando o autor, ou autores, necessitar(em) seja
fixado judicialmente pensão alimentícia, com escopo de prover suas necessidades
fundamentais, tais como: alimentação, moradia, assistência médica, educação, vestuário,
remédios etc.
- Na maioria das vezes, os autores são crianças e mulheres em face, respectivamente, do
genitor e ex-marido ou companheiro. Todavia, é conveniente registrar que a Lei de
Alimentos não traz esta limitação, isto é, a ação pode ser intentada por qualquer pessoa,
seja criança, idoso, mulher, homem, que precise da pensão alimentícia, em face de quem
tem a obrigação de prestá-la, normalmente um parente próximo1.
- Observe-se, por fim, que a parte obrigada a prestar os alimentos pode tomar a iniciativa
de oferecê-los, ajuizando ação em que declare seus rendimentos e requerendo a designação
de audiência de conciliação, instrução e julgamento, destinada à fixação da pensão
alimentícia a que está obrigado – ação de oferta de alimentos (art. 24, Lei nº 5.478/68).

2) Base Legal
- O direito de pedir alimentos aos parentes, cônjuge e companheiro encontra amparo nos
arts. 1.694 a 1.710 do Código Civil, sendo que a “ação de alimentos” encontra-se
disciplinada na Lei nº 5.478/68-LA (art. 693, parágrafo único, do CPC).

3) Procedimento
- A Lei de Alimentos prevê rito especial, sumaríssimo, para ação de alimentos, qual seja:

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“São as reais necessidades do alimentando, e não a idade em si, que justificam a concessão dos alimentos”
(RT 698/156).
I – petição inicial (art. 3º, Lei nº 5.478/68-LA):
Obs.:
a) além dos requisitos dos arts. 319 e 320 do CPC, o alimentando deverá expor na petição
inicial suas necessidades e as possibilidades do alimentante (quanto ganha ou recursos de
que dispõe), requerendo a fixação de alimentos provisórios (observado art. 2º, § 1º, da LA);
b) o autor deverá fazer prova do parentesco (observado art. 2º, § 1º, da LA);
c) formados os autos, esses são conclusos para o Juiz, que poderá: (1) determinar que o
autor emende a inicial no prazo de 15 dias (art. 321, CPC); (2) não recebê-la, extinguindo o
feito, com ou sem resolução de mérito (arts. 330, 332 e 485 do CPC); (3) recebê-la,
fixando imediatamente os “alimentos provisórios” e designando audiência de conciliação,
instrução e julgamento2 (art. 4º da LA); (verifique-se arts. 1º e 2º da LA)

II – citação (art. 5º, § 2º, Lei nº 5.478/68-LA):


Obs.: o réu será citado para comparecer na audiência de conciliação, instrução e
julgamento. Tendo havido fixação dos alimentos provisórios, será também intimado para
efetuar o pagamento nos termos requeridos na exordial.

III – audiência de conciliação, instrução e julgamento:


Obs.:
a) o não comparecimento do autor implica arquivamento do pedido, e a ausência do réu
importa em revelia, além de confissão quanto à matéria de fato (art. 7º, Lei nº 5.478/68);
b) autor e réu comparecerão à audiência acompanhados de suas testemunhas, três no
máximo, apresentando, nessa ocasião, as demais provas (art. 8º, Lei nº 5.478/68);
c) comparecendo as partes, o juiz tentará a conciliação que, se frutífera, será reduzida a
termo e homologada por sentença. Não obtida a conciliação, o juiz tomará o depoimento
pessoal das partes e das testemunhas, passando, em seguida, a palavra para os Advogados
das partes e para o representante do Ministério Público para suas alegações finais, após o
que o juiz renovará a proposta de conciliação, proferindo em seguida sua decisão (arts. 9º a
11 da LA).

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Caso o autor tenha informado na exordial o nome e endereço do empregador do alimentante, o juiz
determinará a expedição de ofício para desconto em folha de pagamento dos alimentos provisórios.
IV – sentença:
Obs.: a sentença proferida nesta ação não transita em julgado (art. 15, Lei nº 5.478/68).
O Ministério Público deve ser intimado a intervir em todas as fases do procedimento (art.
9º, Lei nº 5.478/68-LA).

4) FORO COMPETENTE
- Segundo norma do art. 53, II, do CPC, o foro competente para se ajuizar a ação de
alimentos é o do domicílio ou residência do alimentando, id est, aquele que pede o
alimento, o credor. Todavia, o requerente pode, por conveniência, optar pelo foro do
domicílio do réu, regra geral, consoante art. 46 do mesmo diploma, visto que a
competência, neste caso, é relativa.

5) QUESTÕES A SEREM RESPONDIDAS PELO(S) ALIMENTANDO(S)


- Com o escopo de viabilizar o melhor resultado possível para o constituinte, o Advogado
deve conversar com ele sobre o caso, procurando obter resposta para as seguintes questões,
entre outras:
• qual o motivo do pedido (separação do casal/doença/desemprego/obrigação paterna ou
materna etc.)?
• quais são as necessidades do autor (gerais)?
• o autor possui conta corrente onde poderá ser depositada a pensão? Caso negativo,
desejam a abertura de uma?
• quais são as condições financeiras do alimentante?
• qual a renda aproximada do alimentante?
• o alimentante trabalha? Onde?

6) DOCUMENTOS
- O alimentando, ou seu representante legal, deverá ser orientado a fornecer ao Advogado
cópia dos seguintes documentos, entre outros:
• certidão de casamento/nascimento do representante do menor, quando for o caso;
• certidão de nascimento ou casamento do autor;
• cédula de identidade (RG);
• requerer, quando possível, cópia da carteira de trabalho e contracheque do alimentante;
• receitas médicas, quando for o caso;
• declaração de matrícula escolar, quando for o caso.
(observado art. 2º, § 1º, da LA)

7) PROVAS
- Na ação de alimentos, a prova deve incidir, basicamente, sobre três itens: a relação de
parentesco entre alimentante e alimentando; as necessidades do autor; as possibilidades do
réu.
- A relação de parentesco, de regra, prova-se pela juntada da certidão de nascimento ou
casamento.
- Quanto às necessidades do alimentando e às possibilidades do alimentante, prova-se,
habitualmente, pela juntada de documentos, tais como declaração de escola, receitas
médicas, recibo de aluguel, declaração do empregador, carteira de trabalho e pela oitiva de
testemunhas, que, limitadas ao máximo de três pela Lei de Alimentos, devem ser, de regra,
conduzidas à audiência de conciliação, instrução e julgamento pela própria parte
interessada, sendo dispensada a apresentação de rol prévio (art. 8º, Lei nº 5.478/68).

8) CONTESTAÇÃO
- Em sua defesa, no mérito, o réu pode argumentar sobre sua falta de capacidade,
possibilidade, para prestar os alimentos, explicitando, é claro, seus motivos, ou, ainda, a
falta de necessidade dos alimentos por parte do alimentando. Ademais, negar a relação de
parentesco, solicitando produção de prova pericial.
- A contestação deve ser oferecida em audiência, por petição ou verbalmente; nas comarcas
onde já foi implantado o processo eletrônico é comum o juiz exigir que o protocolo da
contestação aconteça pelo menos duas horas antes da audiência. O advogado deve ficar
atento às normas da corregedoria do Tribunal de Justiça sobre o tema e, ainda, a eventual
advertência no próprio mandado citatório.

9) VALOR DA CAUSA
- Segundo norma do art. 292, III, do CPC, o valor da causa, na ação de alimentos, deve ser
o equivalente à soma de 12 (doze) prestações mensais pedidas pelo autor.
- No caso de o alimentando estar pedindo apenas uma porcentagem sobre os rendimentos
do alimentante, cujo total é desconhecido no momento da interposição da ação, deve-se
lançar como valor da causa uma importância meramente estimativa, vez que a toda causa
deve necessariamente ser atribuído um valor (art. 291, CPC).

10) DESPESAS
- Não constando da petição inicial requerimento de justiça gratuita (art. 99, CPC; Lei nº
1.060/50), o autor, antes de ajuizar a ação, deve proceder ao recolhimento das custas
processuais, que, de regra, envolvem a taxa judiciária, o valor devido pela juntada do
mandato judicial (onde houver essa taxa – SP) e as despesas com diligência do Oficial de
Justiça. Os valores dessas custas variam de Estado para Estado; o Advogado que tiver
dúvida sobre seu montante e forma de recolhimento deve consultar a subseção da OAB em
sua comarca (observado art. 1º, §§ 2º, 3º e 4º da LA).

11) DICAS
• fazer constar na petição inicial o endereço completo do empregador do alimentante, ou
seja, nome da empresa, rua, número, bairro, CEP, cidade, enfim, todos os elementos para
possibilitar o rápido e seguro envio, via correio, do ofício que orienta sobre o desconto, em
folha de pagamento, da pensão alimentícia;
• caso o alimentante não trabalhe com registro em Carteira de Trabalho ou tenha atividade
autônoma, deve-se requerer a fixação da pensão em salários-mínimos, de acordo com as
necessidades do menor e as possibilidades do alimentante;3
• no caso de pensão fixada em porcentagem do salário líquido do alimentante, é de praxe o
Juízo fixá-la em 1/3 (um terço) da remuneração mensal; no entanto, nada impede que o
alimentando receba valor maior se provar circunstância que justifique a majoração, tal
como doença grave e permanente, que demande uso de remédios caros;
• os alimentos provisórios podem ser revistos a qualquer momento pelo Juiz; basta para
tanto que o interessado, por meio de uma petição, demonstre sua impropriedade ou seu
excesso;
• o não comparecimento do autor, alimentando, na audiência de conciliação e julgamento,
implicará o arquivamento do pedido;

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“É possível a vinculação da prestação alimentar ao salário-mínimo, vez que este e a pensão alimentar têm
função idêntica, qual seja, a de assegurar o mínimo necessário à subsistência da pessoa, preservando os
valores nominais dos efeitos corrosivos da inflação” (RT 714/126).
• é conveniente exortar os colegas Advogados para que busquem a fixação de uma pensão
que seja realmente justa, isto é, o valor da pensão não deve ser um sacrifício exagerado
para nenhuma das partes, de forma a desestimular o trabalho de uma e/ou levar à fome de
outra.
• quando o devedor de alimentos tiver renda alta (réu), o Advogado deve especificar,
detalhar, na petição inicial, os gastos daquele que pede alimentos, por exemplo
(proporcional ao número de pessoas na casa): aluguel, imposto predial, luz, água,
televisão a cabo, Internet, telefone, alimentação, educação, transporte, dentista, assistência
médica, lazer etc.;
• considerando-se estes novos tempos em que é comum a disputa entre os pais pela guarda
dos filhos menores, o Advogado deve avaliar com cuidado a conveniência de ajuizar “ação
de regulamentação de guarda, visitas e alimentos” (observada também a possibilidade do
art. 327, § 2º, do CPC) em vez de simplesmente a “ação de alimentos”, na qual a fixação
da guarda só é possível se houver acordo entre as partes.

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