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PROMOTORIA DE JUSTIÇA

COMARCA DE ALVORADA DO NORTE/GO

Autos nº: 5025728-19.2020.8.09.0005

MM. Juiz,

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, pelo Promotor de


Justiça que esta subscreve, no uso de suas atribuições constitucionais e legais, vem,
respeitosamente, à presença de Vossa Excelência para manifestar-se nos seguintes
termos.

I – RELATÓRIO

Versam os autos sobre Ação de Alimentos ajuizada por MAXWEL BARROS


DOS SANTOS, representado por sua genitora KELLY DA COSTA BARROS, em face
de seu genitor ARENALDO NASCIMENTO DOS SANTOS.
Consta da inicial que as partes são genitores MAXWEL BARROS DOS
SANTOS, nascido em 12/01/2014.
Decisão acostada em fl. 21 do PDF determinou ao requerido o pagamento de
alimentos provisórios no importe de 40% (quarenta por cento) ao filho menor.
Ademais, a audiência era para ter ocorrido no dia 04 de maio de 2020, entretanto
não foi realizada, tendo em vista a pandemia (COVID-19).
Quando intimada, a parte requerente afirmou não ter interesse na audiência de
conciliação por videoconferência, uma vez que a mesma reside em meio rural, não
possuindo conexão com a internet (fl. 37 do PDF).
Audiência de conciliação realiza no dia 15 de dezembro do ano de 2021, não
teve participação da parte requerida, uma vez que a mesma não é encontrada, mesmo
após inúmeras tentativas de citação e intimação.
Em sequência, a parte requerida foi citada por edital (fl. 160 do PDF).
Designação de advogado dativo, fl. 168 do PDF.
O requerido apresentou contestação (fls. 171 a 182 do PDF).

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Na contestação, o acusado pugnou para que seja fixado no percentual de 20%


(vinte por cento) do salário mínimo nacional os alimentos (fl. 182 do PDF).
Intimada as partes para produzirem provas, o requerido não teve interesse de
manifestação (fl. 195 do PDF) e o autor não se manifestou.
Vistas ao Ministério Público.
É o relatório.

II - PREAMBULARMENTE

Inicialmente, cumpre registrar que a intervenção do Ministério Público se faz


necessária para o resguardo dos interesses do menor MAXWEL BARROS DOS
SANTOS, nos termos do artigo 178, inciso II, do Código de Processo Civil.
Ademais, observa-se a possibilidade de julgamento antecipado do mérito, pois
não se verifica, a princípio, a necessidade de produção de outras provas, em atenção ao
disposto no artigo 355, inciso I, do Código de Processo Civil.

III – DA FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA

Inicialmente, ressalta-se que a pensão alimentícia é direito do alimentando,


visando à salvaguarda da dignidade da pessoa humana (este, um dos princípios básicos
da Constituição Federal de 1988), cabendo, ao alimentante, o dever de suprir as
necessidades básicas daquele que recebe o rendimento, devendo ser suficiente para
fornecer, não só a alimentação diária, mas, também, os direitos sociais (tais como, a
educação, a saúde, o lazer e a segurança), carecendo de punição, na medida da lei,
quando deixa de cumprir com o acordado e falta com a sua obrigação.
Noutro lado, é indispensável verificar o binômio necessidade/possibilidade,
aferindo-se, no caso, os parâmetros de razoabilidade, previstos no § 1º, do artigo 1.694
do Código Civil, dispondo que “os alimentos devem ser fixados na proporção das
necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada” (grifou-se).
Nessa senda, vale asseverar que a obrigação de prestar alimentos aos filhos
menores decorre do dever de sustento consignado no Código Civil (artigo 1.566, inciso
IV) e sua fixação deve atender ao binômio necessidade-possibilidade ou ao trinômio
proporcionalidade-possibilidade-necessidade.
Insta ressaltar que, na fixação dos alimentos, é preciso, primeiro, um olhar para
as necessidades do credor para, depois, analisar as possibilidades do devedor.
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Neste ponto, o doutrinador ANDERSON SCHREIBER, em seu livro “Manual


de Direito Civil” (2020), comenta que inexiste uma fórmula fixa que permita a
quantificação dos alimentos, razão pela qual se deve buscar o equilíbrio entre a
possibilidade do alimentante e a necessidade do alimentando. Nesse sentido, preconiza a
jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE ALIMENTOS. PEDIDO DE


EFEITO SUSPENSIVO À APELAÇÃO. PEDIDOS
FORMULADOS EM CONTRARRAZÕES. NÃO
CONHECIDOS. FILHO MENOR. NECESSIDADE
PRESUMIDA DE ALIMENTOS. ALEGAÇÃO DE
INCAPACIDADE FINANCEIRA DO ALIMENTANTE. ÔNUS
DA PROVA DE QUE NÃO SE EXIMIU O RÉU/APELANTE.
1. Na esteira da jurisprudência deste Tribunal de Justiça, o
pedido de atribuição de efeito suspensivo à apelação não pode
ser conhecido quando não é deduzido adequada e
oportunamente, por meio de petição em apartado (artigo 1.012,
§§ 3º e 4º, do Código de Processo Civil) e porque prejudicado
face o julgamento do recurso. 2. A fixação dos alimentos deve
levar em consideração a necessidade do alimentando e a
possibilidade econômica do alimentante, à luz do princípio
da proporcionalidade (inteligência do art. 1.694, §1º, do CC).
No caso, considerando, de um lado, a necessidade do
alimentando, filho menor em idade escolar, e, de outro, a
carência de provas quanto à alegada impossibilidade do
alimentante (réu/apelante), é de se manter a verba alimentar
fixada na sentença em 01 (um) salário-mínimo. Apelação
cível desprovida. (TJGO, Apelação (CPC) 5197013-
78.2016.8.09.0051, Rel. SIVAL GUERRA PIRES, 2ª Câmara
Cível, julgado em 17/02/2020, DJe de 17/02/2020 – grifou-se).

Nesse sentido, convém mencionar que a ação de alimentos é de rito especial e


cabe aos requerentes disporem de prova pré-constituída da obrigação alimentar. Não se
discute a existência ou não da dívida alimentar, mas sim o "quantum" será devido.
Parte-se, portanto, do pressuposto de que existe a relação obrigacional.
No caso em exame, restou comprovado nos autos os valores referentes às
necessidades do menor, uma vez que os documentos apresentados pela genitora são
suficientes para comprovar as despesas mensais do menor.
Por outro lado, o réu não produziu nenhuma prova suficiente que corroborasse a
sua impossibilidade de arcar com os alimentos arbitrados, concordando assim, em tese,
com aquele valor provisoriamente arbitrado.

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Assim, tendo em mira que o menor necessita de amparo financeiro, tem-se como
justa a fixação da obrigação na ordem de 30% (trinta por cento) do salário-
mínimo vigente, considerando-se que tal quantia é compatível com os princípios da
proporcionalidade e razoabilidade.
Ademais, insta salientar que o valor dos alimentos é sempre provisório, cujo
valor poderá ser minorado ou majorado, segundo as necessidades de quem recebe e de
quem paga.
Insto posto, o Parquet não vislumbra nenhum fato impeditivo à procedência da
ação em testilha, haja vista tratar-se de uma obrigação imprescindível à manutenção do
menor, uma vez que ficou documentalmente demonstrado que o infante necessita de
cuidados assistenciais.

IV - CONCLUSÃO

Ante o exposto, o MINISTÉRIO PÚBLICO manifesta-se para que seja fixado


o quantum alimentício definitivo no importe de 30% (trinta por cento) do salário-
mínimo vigente, em favor do infante, bem como 50% (cinquenta por cento) das
despesas extraordinárias, por entender que atende ao binômio necessidade e
possibilidade, ante as provas apresentadas nos autos.

Alvorada do Norte/GO, datado e assinado digitalmente.

IVAN LUCAS SOUZA JÚNIOR


Promotor de Justiça Substituto

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