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CONCURSO PARA INGRESSO NA CARREIRA DO MINISTÉRIO PÚBLICO

DO ESTADO DO PARANÁ – 2021/2022

ESPELHO DA PROVA ESCRITA – GRUPO III

1ª QUESTÃO – DIREITO PROCESSUAL CIVIL – DISSERTAÇÃO (pontuação: 2,0 – máximo


de 60 linhas)

Discorra sobre o Incidente de Arguição de Inconstitucionalidade, descrevendo como se


dá a sua tramitação, nos termos do Código de Processo Civil, e explicando como tal
instrumento pode servir como meio de efetivação da missão constitucional do Ministério
Público.

O Incidente de Arguição de Inconstitucionalidade está previsto pelos artigos 948 a 950, do


Código de Processo Civil. Através dele pode ser arguida, por qualquer uma das partes do
processo, em controle difuso, a inconstitucionalidade de determinada lei ou de qualquer ato
normativo do poder público em suas manifestações processuais.

Quando isso acontece, o relator dos autos ouvirá os litigantes, assim como o Ministério Público,
e submeterá a questão à turma ou à câmara à qual competir o conhecimento do processo (Art.
948). Se a arguição for rejeitada, o processo seguirá para julgamento (Art. 949, I). Caso for
acolhida, a questão será submetida ao plenário do tribunal, ou ao seu órgão especial (Art. 949,
II). Cumpre mencionar que é possível o magistrado decidir monocraticamente o incidente, mas
apenas nas ocasiões em que estes últimos órgãos mencionados ou o plenário do Supremo
Tribunal Federal já tiverem se pronunciado sobre o assunto (Art. 949, parágrafo único).

Pois bem, na hipótese de ser acolhida a arguição, o presidente do tribunal, após o


encaminhamento da cópia do acórdão de acolhimento a todos os juízes que compõe o órgão
julgador, designará a sessão de julgamento (art. 950, caput).

No curso do exame do incidente, as autoridades coatoras responsáveis pela edição do ato


questionado poderão, se quiserem, apresentar manifestação (art. 950, § 1º). Também as partes
legitimadas a propor as ações previstas no art. 103, da Constituição, poderão, se assim
optarem, manifestar-se (art. 950, §2º). Em vista da relevância da matéria, é cabível ao relator,
por despacho irrecorrível, admitir a manifestação de outros órgãos e entidades (art. 950, § 3º) .
Importa mencionar, ademais, que a decisão a respeito da constitucionalidade ou da

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inconstitucionalidade é irrecorrível, exceto por embargos de declaração (Súmula 513, do STF).


Fixada a interpretação, retoma-se o julgamento do caso no órgão fracionário em que fora
suscitado o incidente.

Por fim, como a missão constitucional do Ministério Público é “defender a ordem jurídica, o
regime democrático e os interesses sociais e individuais indisponíveis” (art. 127, CF), entende-
se que a sua participação em Incidentes de Arguição de Inconstitucionalidade é a oportunidade
por excelência para o órgão efetivar e pôr tais compromissos em prática.

Isto, porque, a função do Incidente, de realização de controle concreto e difuso de


constitucionalidade, pressupõe que nele estejam representados os interesses sociais e
individuais indisponíveis, bem como que a sua resolução contribua para a construção de uma
sociedade livre, equitativa, justa e solidária – afinal, a lei ou ato normativo que se submete à
análise do órgão julgador é senão à sociedade destinada. Como as partes nem sempre
possuem interesse na promoção destes valores, cabe, portanto, ao Ministério Público assim
fazê-lo.

2ª QUESTÃO – DIREITO PROCESSUAL CIVIL (pontuação: 0,5 – máximo de 10 linhas)

O direito ao contraditório não mais é entendido pela doutrina como a mera observância
do binômio ciência-reação. Atualmente, fala-se em contraditório como “direito de
influência”. Explique esta mudança de perspectiva, elencando sua principal
consequência.

Com o advento do Estado Constitucional, não mais faz sentido que o direito ao contraditório
seja lido apenas como direito à ciência e reação – como o era, durante o Estado Legislativo.
Para além disso, ele é atualmente entendido como o direito de influência. Isto significa que as
partes têm o direito de participar no processo, influenciar os seus rumos e a convicção do
julgador – além de, por óbvio, tomarem ciência e reagirem aos atos nele praticados. Como
consequência desta esta nova perspectiva, o direito ao contraditório deixou de ser destinado
única e exclusivamente às partes litigantes, passando a abarcar, também, a figura do juiz (art.

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7º, parte final). Assim, atualmente entende-se que além de velar pelo contraditório das parte, o
magistrado deve, ele mesmo, submeter-se a este direito (art. 10).

3ª QUESTÃO – DIREITO PROCESSUAL CIVIL (pontuação: 0,5 – máximo de 10 linhas)

Elenque e explique cada um dos critérios de fixação de competência.

São cinco os critérios de fixação de competência: material, territorial, funcional, pessoal e valor
da causa. O material se relaciona com a matéria a ser decidida, com a natureza da ação.
Determina se o processo será destinado à justiça comum ou à justiça especializada. O territorial
leva em consideração a dimensão territorial atribuída à atividade de cada um dos órgãos
jurisdicionais. Configura regra que opera a partir de divisões geográficas. O funcional interessa-
se pelas funções que cada órgão jurisdicional desempenha no processo, possuindo correlação
com a natureza funcional de cada juiz que participa dos autos. Já o pessoal, conhecido de
ratione personae, diz respeito às partes envolvidas no processo, tomando por importante algum
dado ou atributo dos litigantes. Por fim, há o critério de valor da causa. Como o próprio nome
denuncia, possui correlação com o valor atribuído a cada causa, sendo relacionado, também, à
existência dos Juizados Especiais.

4ª QUESTÃO – DIREITO PROCESSUAL CIVIL (pontuação: 1,0 – máximo de 10 linhas)

O art. 942, do Código de Processo Civil, trata da chamada ampliação do quórum de


julgamento. Nela, se o resultado do julgamento for não unânime, novos julgadores serão
convocados em número suficiente para garantir a possibilidade de inversão do resultado
inicial. Sobre este tema, e com fundamento na jurisprudência do Superior Tribunal de
Justiça, responda se os julgadores convocados estão ou não limitados aos capítulos ou
pontos da decisão sobre os quais houve divergência.

Conforme pacífica jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça (REsp n. 1.771.815/SP, REsp


n. 1.934.178/DF e AREsp n. 1.520.297/RJ), a aplicação da técnica de julgamento prevista pelo
art. 942, do CPC, não implica na limitação dos julgadores convocados à exclusiva análise da

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matéria sobre a qual se controverteu o quórum original. Não há, portanto, a incidência, nestas
ocasiões, dos chamados efeitos devolutivos. Isto ocorre, porque, como se mencionou
anteriormente, o art. 942, do CPC, prevê técnica de julgamento, enquanto os efeitos
devolutivos são aplicados a recursos. Como o julgamento não se encerra até o pronunciamento
pelo colegiado estendido, entende-se que os novos julgadores devem se manifestar sobre a
integralidade do conteúdo do recurso oposto.

5ª QUESTÃO – DIREITO PROCESSUAL CIVIL (pontuação: 1,0 – máximo de 10 linhas)

O inciso I, do art. 927, do Código de Processo Civil, determina que os juízes e tribunais
observarão “as decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de
constitucionalidade”. É possível afirmar que os efeitos desta regra, mesmo se não
estivesse expressamente disposta no Código de Processo Civil, ainda assim seriam
produzidos no ordenamento jurídico brasileiro. Por quê?

As decisões do STF em controle concentrado de constitucionalidade possuem algumas


qualidades que lhe são próprias: são imbuídas de efeitos ex tunc e, principalmente, erga
omnes. Isso significa que, declarada a inconstitucionalidade de determinada lei ou ato
normativo federal, a ratio estabelecida pelo Tribunal terá a potencialidade de retroagir no tempo
e definitivamente atingirá a todo o ordenamento jurídico. Assim, mesmo que a disposição do
inciso I, do art. 927, do Código de Processo Civil, qual seja de que os juízes e tribunais
observarão as decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de
constitucionalidade, não estivesse expressa em tal diploma normativo, sua previsão subsistiria
neste mesmo ordenamento jurídico por força dos efeitos próprios das decisões em controle
concentrado de constitucionalidade.

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6ª QUESTÃO – DIREITO PROCESSUAL CIVIL (pontuação: 1,0 – máximo de 10 linhas)

Sobre o Mandado de Segurança coletivo, explique quais são os efeitos da coisa julgada
coletiva no caso de concessão ou denegação da segurança, identificando, ainda, os
sujeitos por ela atingidos.

No mandado de segurança coletivo, a sentença faz coisa julgada em face dos membros do
grupo ou categoria substituídos pelo impetrante (ADI 4296) (art. 22, caput), não se limitando
apenas aos associados ao tempo da propositura da demanda (AgInt no REsp 1.841.604/RJ). A
impetração do mandado de segurança coletivo, contudo, faz coisa julgada coletiva apenas
quando da concessão da ordem coletiva, só prejudicando o mandado de segurança individual
posterior quando a decisão denegatória é fundada em mérito. Ademais, o mandado de
segurança coletiva não induz litispendência para ações individuais, mas os efeitos da coisa
julgada não beneficiarão o impetrante a título individual se este não requerer a desistência de
seu remédio constitucional no prazo de trinta dias a contar da ciência comprovada da
impetração da segurança coletiva (art. 22, § 1º).

7ª QUESTÃO – DIREITO CIVIL (pontuação: 1,0 – máximo de 10 linhas)

Conceitue (a) fundação; (b) informe os seus modos de constituição; (c) informe onde são
registrados os seus atos constitutivos; e (d) diferencie, em relação à estrutura de cada
qual, fundações, associações e sociedades.

(a) Patrimônio afetado a uma determinada finalidade.


(b) Ato inter vivos ou causa mortis.
(c) Registro civil das pessoas jurídicas.
(d) Fundação se estrutura sobre um patrimônio; associação e sociedade se
estruturam sobre união de pessoas.

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8ª QUESTÃO – DIREITO CIVIL (pontuação: 1,0 – máximo de 5 linhas)

Altemar Dutra, solteiro e sem descendentes, faleceu em 01/01/2022, deixando um


patrimônio de 100. Quando ele morreu, seu pai João Gilberto era vivo e sua mãe Dolores
Duran era falecida. Quando do falecimento de Altemar Dutra, seus avós paternos (Jerry
Adriani e Emilinha Borba) eram vivos, seu avô materno (Cauby Peixoto) era vivo, e sua
avó materna (Ângela Maria) havia falecido muitos anos antes. Como fica a partilha dos
bens deixados por Altemar Dutra? E se, quando de sua morte, tanto seu pai como sua
mãe fossem pré-mortos, como ficaria a partilha de seus bens?

[Responder objetivamente, por exemplo: X fica com 50, Y fica com 50]

1º problema Joãogilberto fica com 100.


2º problema Jerryadriani fica com 25.
Emilinhaborba fica com 25.
Caubypeixoto fica com 50.

9ª QUESTÃO – DIREITO CIVIL (pontuação: 1,0 – máximo de 15 linhas)

Em matéria de registro de imóveis, explique objetivamente os princípios da (a)


territorialidade; (b) rogação; (c) prioridade; e (d) unitariedade matricial.

(a) Competência de circunscrição delimita territorialmente a atuação do


territorialidade Registrador Imobiliário.

(b) rogação O ato registral é de iniciativa exclusiva do interessado, vedado o ato ex


officio (salvo exceções). Arts. 13, II, e 217 da LRP.
(c) prioridade Os títulos apresentados para registros são recepcionados e recebem uma
numeração cronológica após lançados no livro de protocolo, prenotação ou
protocolização, determinando a preferência dos direitos reais.
(d) unitariedade Matrícula só pode conter um imóvel em sua descrição; não pode conter
parte ideal [a cada imóvel uma única matrícula; a cada matrícula um único
imóvel].

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10ª QUESTÃO – DIREITO EMPRESARIAL (pontuação: 1,0 – máximo de 10 linhas)

Em quais situações cônjuges estão proibidos de contratar sociedade entre si? Essa
proibição se aplica às sociedades empresárias e às sociedades simples?

1ª questão Quando o regime de bens for o da comunhão universal ou da separação


obrigatória (CC, art. 977).
2ª questão Aplica-se a ambas (STJ REsp 1058165).

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