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FATEOS - Curso Avançado em Teologia – Teologia Própria

FATEOS – Faculdade de Teologia Sola Scriptura


Módulo 6 – Doutrina de Deus - Teontologia Página 2
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“Quem compreende a Trindade Onipotente? E quem não fala dela, ainda que a não
compreenda?” 1

I – O CONHECIMENTO DE DEUS

fato que Deus não pode ser plenamente conhecido por ninguém (Sl. 139: 6; 145: 3;

É Rm. 11:33), tudo que podemos conhecer de Deus é porque Ele quis nos manifestar
(Mt. 11: 27; Rm. 1:19). Não é a sabedoria humana que faz Deus conhecido, mas a
revelação (1 Co. 1:21; 2: 14; 2 Co. 4: 3-4). Isto porque o finito não pode compreender o
infinito. Para alcançar o conhecimento de Deus dependemos das Escrituras Sagradas. O
reformador João Calvino considerava que para o homem é impossível investigar as
profundezas do Ser de Deus. “Sua essência,” diz ele, “é incompreensível de tal maneira que
sua divindade escapa completamente aos sentidos humanos”. Não é que os Reformadores
Protestantes negassem que o homem pode saber algo da natureza de Deus por meio da
criação, mas afirmavam que o homem só pode adquirir verdadeiro conhecimento de
Deus pela Revelação Especial, sob a iluminadora influência do Espírito Santo. 2 Sem a
revelação o ser humano jamais seria capaz de adquirir qualquer conhecimento de Deus,
pois só o Espírito Santo pode dar esse conhecimento (1 Co. 2:11). Assim, só com a Bíblia
podemos conhecer coisas verdadeiras acerca de Deus, e essa é a glória do ser humano (Jr.
9: 23-24). Portanto, é, sobretudo pelas Escrituras, que nos guiaremos neste estudo.
Mas, por que conhecer Deus? O conhecimento de Deus se faz necessário, porque é
só conhecendo o objeto da nossa adoração, que saberemos como nos relacionar
corretamente com Ele, como obedecê-lo e adora-lo (Vd. Jo. 4: 19-24).

Se Deus não é conhecido, não pode ser obedecido; porque a obediência é sempre
baseada sobre o conhecimento. Quando a alma é abençoada com o conhecimento de

1
AGOSTINHO, Santo. Confissões (XIII, 11).
2
BERKHOF, L. Teologia Sistematica, 3ª d. (Grand Rapids: T.E.L.L., 1976), p. 32.
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Deus, descobre que este conhecimento é vida (João 17:3), e vida é poder; e quando se
tem pode-se agir. 3

II-A EXISTÊNCIA E O SER DE DEUS.

a) A existência de Deus.

Uma primeira coisa a ser notada é que a Bíblia não se preocupa em tentar provar
que Deus existe. A Bíblia já pressupõe que uma pessoa de sã consciência, não negará a
existência do Ser criador, e que a criação é um testemunho incontestável dEle (Gn. 1:1; Sl.
19: 1-2; 14:1; Rm. 1: 18-20).

a.1) As provas tradicionais da existência de Deus.

Durante a história algumas pessoas se viram compelidas a desenvolver


argumentos racionais para explicar a existência de Deus, fazendo frente aos incrédulos.
Os argumentos mais conhecidos são:

 Argumento Ontológico – Este argumento diz que o ser humano tem a idéia
de um ser absolutamente perfeito, e que a existência é uma característica
essencial da perfeição, ou seja, um ser para ser perfeito tem que existir. E
esse ser perfeito seria Deus.

 Argumento Cosmológico – Declara este argumento que tudo o que existe


no mundo tem uma causa, sendo assim, também o universo inteiro (o
cosmos) deve ter uma causa, e uma causa infinitamente grande, portanto
essa causa seria Deus.

3
MACKINTOSH, C.H. Estudos no Livro do Êxodo,2ª ed. (Lisboa: Depósito de Literatura Cristã, 1978). P. 67.
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 Argumento Teleológico4 – Este argumento afirma que todo o universo uma


ordem, uma inteligência, uma harmonia e um desígnio / objetivo. Isto
mostraria então a existência de um ser inteligente que planejou tudo isto
que os nossos olhos contemplam, portanto, Deus.

 Argumento Moral – Diz este argumento que o reconhecimento pelo ser


humano de um bem supremo, e sua busca do ideal moral exige e necessita
da existência de um Deus que converta esse ideal em realidade.

 Argumento Histórico – Este argumento diz que em todas as tribos e povos


do mundo se encontra um sentimento do divino, uma forma de culto, e isto
deve pertencer a natureza própria do homem. E se a natureza humana tem
essa inclinação para a adoração religiosa, isto só se explica com a existência
de um ser superior que deu ao ser humano uma natureza religiosa.

b) O SER (a natureza) de Deus.

“Deus, o Soberano Proprietário do Universo, é espírito, eterno, infinito e imutável em


sabedoria, poder, santidade, justiça, bondade e verdade”.5

É claro que não se pretende aqui dissecar a natureza divina, isso seria impossível,
apenas vamos dar uma olhada em como a Bíblia revela um pouco da natureza da
Divindade, sem querer ser exaustivo.

4
A palavra grega télos tem entre os seus significados o de: realização, cumprimento, meta (RUSCONI, Carlo.
Docionário do Grego do Novo Testamento. São Paulo: Paulus, 2003), p. 453.
5
Artigo 4° da Breve Exposição das Doutrinas Fundamentais do Cristianismo (Confissão de Fé dos Congregacionais
brasileiros).
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 Deus é Infinito (Ex. 3: 14-15; Sl. 90:2).6 Ele é um ser absoluto. Não provém, nem é
condicionado por coisa alguma. É a causa de tudo, e é livre de qualquer fronteira
/ limitação.

 Deus é espírito (Jo. 4:24). Por ser um espírito Ele não é um ser corpóreo, material.
Deus não possui as propriedades da matéria7, porque um espírito não tem estas
propriedades (Lc. 24: 37-39) e, portanto, jamais pode ser discernido pelos sentidos
físicos (Jo. 1:18). Por esta causa, é expressamente proibido na Bíblia, fazer imagens
e representações de Deus (Êx. 20: 4; Rm. 1:23-25).

 Deus é Pessoal 8 (Jo. 1:18; 10:30; 1Jo. 4:8). Isto significa que Deus tem mente,
vontade, é inteligente, possui razão, autoconsciência, individualidade,
autodeterminação. Por isso, erra todo movimento que confunde Deus com uma
força, uma energia, um poder, ou coisas semelhantes.9

 Deus é puro / santo (Lv. 11:44; Is. 6:1-3; 1Jo. 1:5-6). Isto significa que Ele é
essencialmente (na sua natureza) puro, não existe mal em seu ser. Ele é
completamente santo (Sl. 77: 13).

III – OS ATRIBUTOS (QUALIDADES) DE DEUS.

Passaremos a considerar a revelação das qualidades de Deus dividindo-as em duas


seções: atributos INCOMUNICÁVEIS e COMUNICÁVEIS.

6
Para detalhes sobre o nome de Deus revelado em Ex. 3: 14-15, vd.: DEISSLER, Alfons. O Anúncio do Antigo
Testamento (São Paulo: Paulinas, 1984), pp. 43-46.
7
Os Mórmons têm a esse respeito um ensino que contraria frontalmente as Escrituras, segundo as suas “revelações”
modernas eles dizem que Deus Pai tem um corpo de carne e osso como Jesus Cristo teve (Vd.: O Livro de Mórmon,
Guia Para Estudo das Escrituras, tópico Trindade).
8
“Quem se sente ligado à Palavra da Bíblia, embora reconhecendo a necessidade de adaptar sua mensagem à
mentalidade moderna, não pode deixar de ‘representar-se’ Deus de forma pessoal, e, portanto, ele mesmo deve
relacionar-se com este Deus-pessoa”.DEISSLER, Alfons. p. 41.
9
Vd. LLOYD-JONES, Martyn. Deus o Pai, Deus o Filho (São Paulo: PES, 1997), pp. 74-79.
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a) Atributos Incomunicáveis. Estas são aquelas qualidades que só Deus tem. São as
seguintes:

 Deus é eterno (Sl. 90: 2; 1 Tm. 6:16). Ele é sem começo nem fim. É
autônomo, independente, e não precisa de nada para existir e se satisfazer
(At. 17: 24-25). Mesmo assim, Ele se alegra com o bom serviço de Suas
criaturas (Is. 43:7; Ef. 1:11-12; Ap. 4:11). Sendo eterno Deus percebe o tempo
com igual realismo, para Ele sempre é presente, não tem passado, nem
futuro (90: 4; 2 Pd. 3:8).

 Deus é imutável (Sl. 102: 25-27; Is. 46: 9-11; Tg. 1: 17). Ele é invariável, não
pode ser diferente na sua essência: “Eu sou o que Sou” (Ex. 3:14). O seu
caráter não muda, agora, o seu procedimento com as pessoas pode mudar
(Gn. 6:6; Jn. 3:3:10). Mas, tudo isso que para nós parece mudança, já está
previsto no Seu eterno conselho, Sua vontade (Ef. 1:11).

Desde toda a eternidade, e pelo sapientíssimo e santíssimo conselho de sua própria


vontade, Deus ordenou livre e imutavelmente tudo quanto acontece; porém, de modo
tal que nem é Deus o autor do pecado, nem se faz violência à vontade das criaturas,
nem é tirada a liberdade ou contingência das causas secundárias, antes são
estabelecidas.10

E os textos como Gn 6:6; Ex. 32:9-14; Is. 38: 1-6; Jn. 3: 4,10, que parecem mostrar
que Deus muda de idéia, se arrepende? Sim, parece, mas, não é isso que acontece. Estes
textos mostram a atitude de Deus diante da situação que existe naquele momento. O
autor bíblico não está sondando o secreto conselho de Deus, os seus decretos, ele esta
vendo a situação no momento que está acontecendo naquele instante, e usa uma
linguagem que se chama antropomórfica, isso para fazer o ser humano entender como
Deus se sentia com a rebeldia das pessoas naquele momento. Textos assim não podem

10
Confissão de Fé de Westiminster (Cap. III, séc. I). Para detalhes sobre esta confissão vd.: KERR, Guilherme. A
Assembléia de Westiminster, 2ª ed. (São Paulo: FIEL, 1992).
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ser interpretados literalmente, como também as passagens seguintes: Ex. 33:20; Dt. 8:3;
Is. 30:27; Hb. 4:13.

 Deus é onisciente (Jó 37: 16; Pv. 15:3, Hb. 4:13). Ele conhece todas as
coisas ao mesmo tempo. A. A. Hodge explica como isso se dá:

Conhecemos as coisas sucessivamente, como elas se nos apresentam e quando


passamos inferencialmente do conhecido para o antes desconhecido; Deus conhece
todas as coisas eternamente por uma intuição direta e toda compreensiva. Nosso
conhecimento é dependente; o de Deus é independente. O nosso é fragmentário; o
de Deus é total e completo. 11

 Deus é onipotente (Gn. 17:1; Lc. 1:37; 2Co. 6:18; Ef. 1:11). Ele faz
acontecer tudo o que quiser, sempre!

 Deus é onipresente (Sl. 139: 7-10; Jr. 23:23,24; Am. 9:1-4). Isto significa
que Deus está presente em toda parte. O ser humano não pode se
esconder de dEle, pois já vimos que Ele é onisciente (sabe tudo), e vemos
que Ele é onipresente, Sua presença enche todos os lugares, para Deus
não existem dimensões espaciais.

b) Atributos Comunicáveis. Essas qualidades de Deus as pessoas também podem ter


em menos grau, são qualidades de Deus que somos exortados a imitar.

 Santidade (Lv. 11:44-45; Is. 40:25). A pureza de Deus é elevada a grau


infinito (1Jo.1:5), mas os seus servos também são chamados a serem
santos (1Ts. 5: 23; Hb. 12:14; 1Pd. 1:13-16).
 Justiça (Dt.32:4; Rm.3:25-26). Todos os atos de Deus são corretos,mas os
seus servos também são exortados a buscarem a justiça ((Ef. 6:14; Fp. 1:9-
11).

11
HODGE, A. A. Confissão de Fé de Westiminster Comentada (Os Puritanos, 1999), p. 81.
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 Amor (1Jo. 4:8). Deus é amor, e manifesta isso em sua bondade e


misericórdia. Os seus servos também são aconselhados a amar (Mt.
22:37-39; 1Jo. 4:7-21).
 Sabedoria (Sl.104: 24; Rm. 16:27). Deus é perfeito em sabedoria, mas os
seus servos podem ter sabedoria também (Tg. 1:5).
 Fidelidade (Nm. 23: 19; Sl. 145: 13; 1Jo. 1:9). Deus é perfeito em
fidelidade, mas os seus servos também podem ser fiéis (Pv. 12: 22; Ef.4:
25; Cl. 3: 9-10).
 Bondade (Lc. 18:19). Deus é perfeito em bondade, mas os seus servos
também podem ser bons (Gl. 6:10.

Observe o seguinte:

 Misericórdia, graça e paciência (Ex.34:6; Sl.103:8; Rm. 15:5; 1Pd. 5:10). Estas
qualidades de Deus podem ser aspectos particulares de Sua bondade.
1- Misericórdia é a bondade de Deus para com os angustiados e aflitos;
2- Graça é a bondade de Deus para com os que mereciam castigo;
3- Paciência é a bondade de Deus quando tira a punição dos que a
merecem.

Devemos, pois, imitar a misericórdia (Mt. 5:7), a graça (2Co. 8:7) e a paciência (Gl.
5:22) do Senhor.

 Paz (ou ordem, 1Co. 14:33). Deus é o Deus da paz, e os seus servos
devem ser de paz também (Mt. 5:9; Gl. 5:22);
 Zelo (Ex. 34:14). Deus é um Deus zeloso, e os seus servos também
devem sê-lo (2Co. 11:2);
 Ira (Rm. 1:18). Deus se ira contra o pecado, e os seus servos devem
também odiar o pecado (Sl. 97: 10; Pv. 8:13);

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 Perfeição (Dt. 32: 4; Mt. 5: 48). Deus é perfeito em grau infinito, mas os
seus servos também são exortados a buscarem a perfeição nEle(2Co.
13:11). 12

IV-OS NOMES DE DEUS.

Nós conhecemos Deus por ‘Deus’, mas será que é assim que Ele é chamado na
Bíblia? O nome de Deus é Jeová como dizem os “Testemunhas de Jeová”? Nesta seção
nós teremos a oportunidade de ver que o Senhor nosso Deus é muito grande para ser
contido em um só nome. As Escrituras do Antigo Testamento nos apresenta vários
nomes pelos quais o Senhor é chamado. E estes nomes sendo conhecidos nos fazem
compreender mais acerca do agir de Deus.13
Dividiremos esta seção em: nomes GENÉRICOS e nomes ESPECÍFICOS de Deus.

a) O Antigo Testamento (A.T.).

a.1) Os nomes GENÉRICOS: El, El Elyom, Elohim. Estes nomes são chamados genéricos
porque são também aplicados a divindades falsas no A.T. Isto acontece por causa da
língua; povos de uma mesma língua chamam seus deuses pelos mesmos nomes.

 El (Gn. 33:20). O Geseniu’s Hebrew and Chaldee Lexicon nos dá para esta palavra
a significação de: forte, poderoso, poder, força (Gn. 31: 29; Is. 9:5; Ez. 31: 11). E

12
Para detalhes sobre os atributos de Deus, vd.: GRUDEM, Wayne. pp. 105-164; LLOYD-JONES, Martyn. pp. 80-
107.
13
Vd.: GRUDEM,Wayne. pp. 106-109. “O conhecimento de Deus no Antigo Testamento brota não só da história,
palavra, criação e teofania, mas também da revelação do nome Javé ... entre os povos primitivos e em todo o Antigo
Oriente, o nome denota a essência de algo”. SMITH, Ralph L. Teologia do Antigo Testamento (São Paulo: Vida Nova,
2001), p. 111. “No Antigo Testamento o nome denota a essência do ser. “Em ti confiam os que conhecem o teu nome”
(Sl. 9:10). Uma mudança de nome indica uma mudança de caráter (P. ex. Gn. 32: 28)”. BALDWIN, J. G. Ageu,
Zacarias e Malaquias (São Paulo: Vida Nova/Mundo Cristão, 1991), p. 191.
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diz que a palavra é usada em geral para nome do Deus do céu, mas pode ser
também aplicada a ídolos (p.ex. Sl. 81:10; Dn. 11: 36).14

 Elohim (Gn. 1:1). Esta palavra pode ser o plural do nome divino El, que
provavelmente deriva da raiz ‘wl, com o significado de preeminência.15 Alguns
autores dizem que esta palavra é o plural de Eloah16 É usado também para
designar uma divindade, uma aparição divina (1Sm. 28:13), ou homens com
autoridade (Êx. 21: 6; Sl. 8:5; 82: 6). Com o artigo definido significa o Deus
único e verdadeiro (1Rs. 18: 21, 37).17

 El Elyom (Gn. 14: 19-20, Nm. 24:6; Is. 14:14) Significa aquele que é sublime,
exaltado.

a.2) Os nomes ESPECÍFICOS: Adonay, El-Shaday, Iahweh. Estes são nomes que nas
Escrituras aparecem aplicados somente ao Deus verdadeiro.

 Adonay (Gn. 18: 3; Is. 3: 18; 6:1). Significa o Senhor; o Soberano, a quem tudo
está sujeito, e com quem o ser humano se relaciona como servo.

 El-Shaday (Gn 17:1; Ex. 6:3). Descreve Deus como o possuidor de todo poder
na terra e no céu. A natureza, a criação, tudo está sob seu controle.

 IHWH (‫( )יהוה‬Ex. 6:3). Este é o nome que mais vezes aparece na Bíblia aplicado

a Deus (6.828 vezes na Bíblia Hebraica de Kittel e na Bíblia Hebraica


Stuttgartensia). O hebraico bíblico do A.T. é composto apenas de consoantes

14
TREGELLES, Samuel Prideaux. Geseniu’s Hebrew and Chaldee Lexicon (Grand Rapids: Eerdmans, 1954), p. 45.
15
Associação Laical para o Estudo da Bíblia. Vademecum para o Estudo da Bíblia (São Paulo: Paulinas, 2000), p.
279.
16
BERKHOF,L. p. 54.
17
TREGELLES, Samuel Prideaux. pp. 49-50.
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não tendo vogais, e YHWH são as letras hebraicas que compõem o nome
pessoal de Deus no A.T. Temendo descumprir o terceiro mandamento: “Não
tomarás o nome do Senhor (YHWH), teu Deus em vão” (Ex. 20:7), os leitores antigos
da Bíblia evitavam pronunciá-lo, substituindo o mesmo na leitura pala palavra
Adonay (Senhor). Os sinais vocálicos da palavra Adonai eram colocados entre
as consoantes que representavam o nome divino: YHWH. Com esta prática a
pronúncia do nome de Deus se perdeu. Os eruditos bíblicos hoje, em sua
maioria, usam a palavra Iahweh (Javé), e dando a razão histórica para isso diz a
Comissão de Tradução, Revisão e Consulta da Sociedade Bíblica do Brasil:

Teodoreto, pai da igreja, da escola de Antioquia, falecido em 457 d. C. afirma que os


samaritanos, que tinham o Pentateuco em comum com os judeus como Escrituras Sagradas,
pronunciavam o nome o nome de Deus assim: Iabé (trocando o V pelo B). Clemente, da
escola de Alexandria, falecido antes de 216 d.C. transliterava “a palavra de quatro letras”
por Iaové. Também os papiros mágicos egípcios, que são do final do terceiro século d.C.,
dão como cera a pronúncia cima referida, a de Teodoreto (Iabé).18

Assim, mesmo com a incerteza que há para a pronúncia deste nome, o que se pode
afirmar com segurança é que Jeová nunca foi a transliteração ou tradução do nome de
Deus (YHWH) no A.T., esta palavra é uma invenção da Idade Média. Portanto, o grupo
religioso chamado “Testemunhas de Jeová” é fundamentado sobre um nome falso, nome
que não aparece nas Escrituras Sagradas19. Sobre esta palavra Jeová, diz a Comissão de
Tradução, Revisão e Consulta:

Esse (Jeová) não é, portanto, o nome do Deus de Israel. O Jerome Biblical Comentary chama
“Jeová” de um “não-nome” (77:11), e o Interpreter’s Dictionary of the Bible o chama de “nome
artificial”(s.v Jehovah). O Lexicon in Veteris Testamenti Libros, de Kochler – Baumgartner (s.v

18
“O Termo “Jeová” na Bíblia Sagrada” em A Bíblia no Brasil (São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, n° 188,
(Jul/Set. 2000), p. 24. Vd. tb. TREGELLES, Samuel Prideaux, p. 337.
19
Os próprios livros das Testemunhas de Jeová reconhecem que a palavra Jeová não é o nome de Deus que aparece na
bíblia. “O hebraico era escrito sem vogais. Assim, não existe maneira de saber com exatidão como Moisés, Davi ou
outros dos tempos antigos pronunciavam as quatro consoantes ... que constituem o nome divino. Alguns eruditos
sugerem que o nome de Deus possa ter sido pronunciado “Javé” ou “Iavé”, mas eles não podem ter certeza. A
pronúncia portuguesa “Jeová” ou “Jehovah” já é usada há séculos, e o equivalente em muitos idiomas amplamente
aceito hoje” (Conhecimento Que Conduz a Vida Eterna. São Paulo: Sociedade Torre de Vigia de Bíblia e Tratados,
1986), p. 24. Observe que o argumento usado por eles para usar o nome Jeová, é porque este é um nome muito aceito
no mundo, e porque está ele baseado nas Escrituras, nem na língua hebraica.
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YHWH), chama a grafia “Jeová” de “errada”, e defende como “correta e original’ a pronúncia
“Yahweh”.20

Portanto, as Escrituras não aprovam transliteração Jeová, os judeus nunca


pronunciaram esse nome, e a história nos mostra que a pronúncia mais provável seria
Iahweh (Javé). Não sendo esta, Jeová está completamente fora de cogitação. 21

a.2.1) Este nome Javé (vamos chamar assim) aparece unido a outros termos
qualificativos de Deus, formando assim nomes compostos, como por exemplo:

 Javé-Jireh: O SENHOR proverá (Gn. 22:14);


 Javé-Tsebaôt: O SENHOR dos exércitos (1Sm. 1:3);
 Javé-Ropheh: OSENHOR que sara (Ex. 15:26);
 Javé-Nissi: O SENHOR é a minha bandeira (Ex. 17:15;
 Javé-Shalom: O SENHOR envia a paz (Jz. 6:24);
 Javé-Roeh: O SENHOR é meu pastor (Sl. 23:1);
 Javé-Tsidkenu: O SENHOR é a nossa justiça (Jr. 23:6);
 Javé-Shammah: O SENHOR está presente (Ez. 48: 35).22

b) O Novo Testamento (N.T.) e os nomes de Deus.

O N.T. tem alguns equivalentes gregos (a língua do N.T.), para os nomes de Deus
que aparecem em hebraico no A.T.

20
“O Termo “Jeová” na Bíblia Sagrada”. p.23.

21
Para uma lista de livros que desaprovam a grafia Jeová vd.: SILVA, Ezequias Soares. Como Responder as
Testemunhas de Jeová. 3ª ed. (São Paulo: Candeia, 1995). pp. 148-150. E Ralph L Smith nos informa que a
pronúncia Jeová nunca foi usada pelos judeus (Op. Cit., p. 115). Confira também o que diz sobre o caso a
Enciclopédia Judaica em: <http://www.jewishencyclopedia.com/view.jsp?artid=52&letter=N> e
<http://www.jewishencyclopedia.com/view.jsp?artid=206&letter=J&search=jehovah > Acesso em 10/03/08.

22
Sobre este assunto vd.: LLOYD-JONES, Martyn. pp. 108-112.
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 Para El, Elohim e Elyom o N.T. usa a palavra Deus, que é também uma
palavra genérica. O equivalente de Elyom (Deus altíssimo) encontra-se na
expressão Theou tou Hupsistou (Mc. 5:7; At. 16:7; Hb.7:1). Shadday e El-
Shadday (Todo-Poderoso, Onipotente) é traduzido no N.T. por Pantokrator;
Theos-Pantokrator (2Co. 6:18; Ap. 1:8; 4:8: 11:17; 15:3; 16:7.14);

 Quanto ao nome Yahweh o N.T. segue a Septuaginta (O A.T. em grego) que


traduz esta expressão por Kyrios (Senhor), que deriva de força, poder. Este
nome não tem exatamente a mesma conotação de Yahweh; mas designa
Deus como o Poderoso, o Senhor, o Possuidor, o Regente que tem autoridade e
poder legal (Hb. 1:10; 8: 8-11), Cristo também recebe este nome (Jo. 20:28;
1Co. 8:6; Ap. 17:14).

 Também encontramos Deus sendo chamado de Pather (Pai) no N.T. O A.T.


já chamava Deus assim para designar a relação de Deus com Israel (Dt. 32:6;
Sl. 103: 13), e o N.T. usa a expressão para demonstrar Deus como o
Originador ou Criador de tudo (1Co. 8:6; Ef. 3:14-15; Tg. 1: 17).23

Bem, pelo que acabamos de estudar podemos ver que Deus é identificado por
vários nomes nas Escrituras, e cada nome de Deus nos mostra uma das características do
Senhor. Reflita nessas características, pois elas juntas vão nos revelando quem Deus é e o
seu caráter.

V-DEUS E SUA TRIUNIDADE.

23
Para todo este assunto vd.: BERKHOF, L. pp. 54-58.
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“Embora seja um grande mistério que existam diversas pessoas em um só Ente, é verdade
que na divindade há uma distinção de pessoas, indicadas nas Escrituras pelos nomes Pai, Filho e
Espírito Santo e pelo uso dos pronomes Eu, Tu e ele, empregados por elas mutuamente entre si”. 24

A Confissão de Fé de Westiminster (1649), uma das mais antigas confissões de fé


protestante afirma:

Na unidade da Deidade há três pessoas, de uma só substância, poder, e eternidade: Deus o Pai,
Deus o Filho e o Deus Espírito Santo. O pai não é de ninguém: não é gerado nem procedente; o
Filho é eternamente gerado do Pai; o Espírito Santo é eternamente procedente do Pai e do Filho
(cap. II, seç. III).

Veremos agora como as Escrituras trabalham este assunto.

a) A Triunidade no Antigo Testamento (A.T.). A doutrina da Triunidade de Deus


não é completamente revelada no A.T., ali temos claramente Deus como o Deus único
(Dt. 4: 35,39), o Espirito Santo como seu agente pessoal (Gn. 1:2; Ne. 9:20; Sl.139:7; Is.
63:10-14), e a Palavra (o verbo) como seu pronunciamento criativo (Gn. 1:26; Sl. 33:6, 9).

a.1) Como já foi dito na parte IV encontramos no A.T. nomes genéricos e nomes
específicos sendo aplicados a Deus, e estes nomes nos ajudam a compreender mais um
pouco sobre o Senhor e sobre a doutrina da Triunidade. Observe, por exemplo, Gn 1:1,
onde no hebraico temos as seguintes palavras: Bereshit bará Elohim (no principio criou
Deus). A palavra que é traduzida por Deus aqui é Elohim, e é uma palavra plural. Então,
para ficar correto gramaticalmente, uma tradução literal de Elohim seria: deuses. Mas há
um problema, pois o verbo bará (criar) está no singular. Assim, a palavra Elohim (Deus)

24
Artigo 5° da Breve Exposição das Doutrinas Fundamentais do Cristianismo (Confissão de Fé dos Congregacionais
brasileiros).
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vindo no plural revela não que haja muitos deuses, mas que Deus é uma unidade
composta: Pai, Filho, e Espírito Santo. Em vários lugares Deus confira isso usando o
verbo no plural para se referir a Si próprio (desçamos, façamos), ou o pronome nós (Gn.
1:26; 3:22; 11:7; Is. 6:8).
Ali, no momento da criação (Gn. 1:1) Deus é chamado de Elohim porque criava o
mundo: o Pai, o Filho (a palavra, o verbo) e o Espírito Santo (Gn. 1:2; Sl. 33: 6-9; 104:30; Jó
33:4-6; Jo. 1: 1-3).

a.2) Para os judeus do A.T. a grande confissão sobre o seu Deus era Dt. 6:4.25 E é
interessante notar a palavra hebraica que é traduzida por único no texto. Em nota sobre a
passagem nos informa a Bíblia Vida Nova: “Único Senhor. A palavra hebraica aqui
empregada “único” (‘ehadh) significa uma unidade composta... A palavra hebraica que
expressa unidade absoluta é Yahidh, e nunca é usada para expressar a unidade da
Deidade”.26
A palavra Yahidh (unidade absoluta) nós encontramos em Gn. 22:2, porque Isaque
era o único filho de Abraão, e vamos encontrar ‘ehadh (unidade composta) em Gn.2:24,
porque Adão formaria uma unidade composta com Eva (vd.tb. Ex. 24:3; 13:23). 27 Mesmo
sabendo que yahidh e ‘ehadh são usadas as vezes como sinônimas, yahidh é mais enfática
quando se quer expressar unidade absoluta, e é interessante que justamente na confissão mais
importante do povo de Israel sobre a unidade de seu Deus, é usada na Bíblia a palavra
‘ehadh. A pergunta que se faz é: por que o escritor que conhecia muito bem o idioma
hebraico, usa essa palavra se queria mostrar uma unidade absoluta para Deus? Não, ele
sabia que Deus era uma unidade composta: Pai, Filho e Espírito Santo.

25
“6:4. Ouve Israel. Este versículo, frequentemente chamado de Shemá, com base na palavra hebraica inicial que
significa “ouve”, tornou-se a grande confissão da fé monoteísta de Israel, sendo recitada todas as manhãs e finais de
tarde pelos judeus (cf. Mc. 12:29)”. Bíblia de Estudo de Genebra (A.T.) (São Paulo: Cultura Cristã, 1999), p. 209.
26
SHEDD, Russel (ed). Biblia Vida Nova (A.T.). (São Paulo: Vida Nova, 1997), p. 200.
27
Nos seguintes textos aparece ‘ehadh com o significado de unidade composta : Jz. 20:8; 1Sm. 11:7; Ed. 2:64. Para
yahidh como unidade absoluta veja: Gn. 22: 1,12, 16; Sl.25:16; 68:6; Pv. 4:3; Zc. 12:10. Uma coisa que deve ser
notada é que ambas as palavras trazem em sua raiz o significado de uma unidade composta, reunião, junção. Vd.:
TREGELLES, Samuel Prideaux. pp. 28-29, 345.
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a.3) Além destes fatos o A.T. já prenunciava o Pai e o Filho como um único Deus
em outros lugares. Observe:

 Is. 9:6. A profecia chama Cristo de Pai da eternidade e Deus forte. Sabe-se
que eternidade só tem quem não tem começo nem fim, portanto Cristo
sendo o Pai eterno, não poderia ter tido começo. Ele é também declarado
como Deus. Sabendo-se que o próprio Deus afirma sua singularidade (Is.
43: 10-13), Cristo tem que ser um com Ele, senão Ele seria outro deus.

 Is. 40:3. É anunciado na profecia que um homem viria para preparar o


caminho do SENHOR (YHWH). Quando João Batista começou seu
ministério anunciando o Messias (Jesus), disse que essa profecia se cumpriu
em sí próprio. João diz que era ele a “voz que clama no deserto”, e que o
SENHOR (YHWH) profetizado era Cristo (Jo. 1:19-27). Uma declaração
mais clara da unidade de Deus e Cristo impossível.

 Sl. 102:25. Esse versículo é retomado em Hb.1:10, onde é claramente


aplicado a Jesus Cristo, ou seja, o Deus referido no Sl.102:25 era Cristo. 28

 Zc 12:10. Esta passagem é mais uma prova do A.T. de que Cristo e Deus Pai
são inexplicavelmente o mesmo Deus. Observe. O SENHOR (YHWH) (veja
o versículo 7), diz pela boca do profeta que em um tempo futuro, pessoas
iam olhar pra Ele se lamentando,até aqueles que o transpassaram. Isso
segundo a própria Bíblia se cumpriu na crucificação de Jesus. João, ao
relatar a cena da crucificação, diz que esta profecia se cumpre ali, onde um
soldado perfura o lado de Jesus com uma lança e as pessoas olham Jesus
transpassado (Jo.19: 34-37). Ali estava o próprio Deus sendo transpassado
em Jesus Cristo (Vd.At.20:28).

28
Para um bom comentário desta passagem de Hebreus vd.: CALVINO, João. Hebreus (São Paulo: Paracletos, 1997),
pp. 46-47.
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b)A Triunidade no Novo Testamento (N.T.). É no N.T. que esta doutrina é revelada
mais claramente. Nós temos o Pai, o Filho e o Espírito Santo apresentados lado-a-
lado, como co-iguais (Mt. 28:19, note que Jesus relaciona os três com apenas um
nome: em nome. Vd.: 2Co.13:13; Jd.20-21). Esta unidade é bem expressa também no
seguinte fato: em Jo. 14: 15-23 Jesus diz que na conversão Ele e o Pai farão morada
no crente, e Paulo nos diz que quem faz morada no salvo é o Espírito Santo, e que
nós somos templo de um, e não de três (1Co. 6:18-19; Ef. 1:13-14), então Deus, Jesus
e o Espírito Santo são um.

b.1)Textos-prova importantes do Novo Testamento.

 Jo. 1:1. Temos neste texto Cristo (o verbo) claramente declarado como
igual a Deus. As “Testemunhas de Jeová”, que não aceitam a divindade
de Jesus, dizem que o texto deveria ser traduzido: “a palavra (verbo) era
[um] deus”, com um artigo indefinido (um). Isto porque no grego (a
língua do N.T.) não existe o artigo definido antes da palavra Deus
(predicativo do sujeito) e assim, segundo a gramática grega, o
substantivo Deus ficaria indefinido (um deus). Será que estão certos?
Não. Realmente isto é uma regra da gramática grega, mas não em todos
os lugares. Pois no mesmo capitulo 1 deste evangelho de João, tem
frases que não tem o artigo definido antes do predicativo do sujeito e
mesmo assim o artigo indefinido não é exigido, pois não caberia ali.
Observe:

a) Jo. 1:6,o artigo indefinido não aparece antes da palavra Deus, mas a frase
não é: “houve um homem enviado por UM Deus”, mas “ por Deus”.

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b) Jo.1:14, não existe o artigo indefinido antes da palavra carne, mas a frase
não é: “a palavra se fez UMA carne, mas “ se fez carne”.
c) Jo.1:18, não existe artigo indefinido antes da palavra Deus, mas a frase
não é: “UM Deus nunca foi visto por ninguém”, mas “ Deus nunca foi
visto por ninguém”.

O Dr. D. A. Carson observa “que o interprete deve ser cuidadoso com respeito as
conclusões tiradas a partir da mera presença ou ausência de um artigo”.29 Assim, está
correto traduzir “e o verbo era Deus”, mesmo sendo esta frase anartra (sem a presença do
artigo definido). Esta é mais uma prova da unidade na divindade.

 Em Jo. 14:26 é o Pai quem envia o Espírito Santo, ao passo que em Jo.
16:7 quem envia é o Filho. Por isso as Escrituras dizem que o Espírito
Santo é o Espírito de Deus e igualmente o Espírito de Cristo (R. 8:9;
1Pd.1:11).

 Hb. 10: 15 faz uma citação de Jr.31: 31-33. No texto de Jeremias diz
que quem está falando é o SENHOR (YHWH), mas o autor de
Hebreus diz que quem está falando é o Espírito Santo.

 Em Is. 6:1-3, 9-19, Isaias diz que viu e ouviu o SENHOR (YHWH),
dos Exércitos. Mas como poderemos conciliar isso com Jo. 1:18; 1Tm.
6:16, que afirmam que Deus jamais foi visto por alguém? A Bíblia
responde e nos mostra que este é um dos maiores exemplos da
unidade composta de Deus. A resposta está em At. 28:25-27, onde
Paulo diz que quem falou com Isaias foi o Espírito Santo, e em Jo. 12:
37-41, onde o autor bíblico diz que Aquele SENHOR (YHWH) que

29
CARSON, D. A. Os Perigos da Interpretação Bíblica, 2ª ed. (São Paulo: Vida Nova, 2000), p.77.Vd. do mesmo
autor: O Comentário de João (São Paulo: Shedd Publicações, 2007), p.117.
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Isaias viu era na verdade Jesus Cristo em sua glória. Esta é uma das
maiores provas da Triunidade na Bíblia.

 Em Mt. 1:18-21 é anunciado que o Espírito Santo desceria sobre


Maria para engravidá-la, mas em Lc. 1:35, está escrito que o Filho de
Maria é o Filho de Deus. Só há uma explicação: Deus e o Espírito
Santo são o mesmo Deus.

 Em Hb. 7: 25 temos a informação de que a obra intercessória pertence


a Jesus Cristo (Vd. tb.: Jo.15: 16b; 16:23), mas em Rm. 8: 26-27, é dito
que é o Espírito Santo quem intercede pelos cristãos. Mais uma vez
unidade entre Jesus e o Espírito.

 At. 20: 28. Este é um texto desconcertante, pois diz que quem pagou
o resgate, derramou o sangue na cruz pela Igreja, foi o próprio Deus
(YHWH). Esta afirmação só pode indicar que Cristo e Deus são o
mesmo.

 Mt.21: 15-16. Temos aqui Jesus fazendo uma citação do Sl. 8: 2, onde
no hebraico o sujeito das declarações é o SENHOR (YHWH), e Jesus
aplica as declarações deste salmo a Si próprio, como se ele, Cristo,
que naquele momento recebe o louvor das crianças, fosse o YHWH
do salmo citado.

 Fp. 2: 6. Nesta passagem o apóstolo Paulo diz que Jesus antes de vir
ao mundo tinha a forma (gr. Morphê) de Deus. Esta palavra (morphê)
que Paulo usa aqui é muito sugestiva, pois significa: “a natureza

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essencial e inalterável do ego”,30 então, Paulo está afirmando aqui


que Cristo antes de vir a este mundo era essencialmente Deus.

 Em Hb. 1:3 está escrito que Jesus é a “expressão exata da essência” de


Deus.31 A palavra traduzida por “expressão exata” é charakter (que
significa: imagem, representação), e a palavra traduzida por
“essência” é hypostasis (significa: essência, substância).32 Sobre isso
observa Wayne Gruden: “Significando que Deus Filho reproduziu o Ser
ou a natureza de Deus Pai em todos os aspectos: todos os atributos ou
poderes que Deus Pai tem, Deus Filho também os têm”.33

 1Pd. 2:8- Pedro cita Is. 8: 14 onde se diz que O SENHOR (YHWH)
seria uma pedra de tropeço para os que não cressem nEle, e diz que
esta pedra era Jesus. Pedro afirma que isto se cumpriu em Cristo.

Enfim, se poderiam multiplicar aqui textos mostrando a identificação de Deus Pai,


Filho e Espírito Santo, uma unidade composta, misteriosamente revelada. Observe mais
uma vez esta identificação nos seguintes exemplos:

a) Na Bíblia o Pai, o Filho e o Espírito Santo são revelados como DEUS. O


Pai (At. 17: 24); O Filho (Mc. 2:5-7; Jo. 1:1-3,18; 20: 28); O Espírito Santo
(Mc. 3: 29; At. 5: 3-4; 28: 25-27 comparado com Is. 6: 9-10).

30
Veja BARCLAY, William. Romanos- Comentario ao Nuevo Testamento (Barcelona: CLIE, 1995). p. 189. Gerhard
Barth escreve sobre este versículo: “O primeiro par de linhas fala do preexistente que já antes de sua existência terrena
vivia em subsistência divina. Isto não se refere a seu aspecto ou a sua aparência, nem (como em Gn. 1: 26) a que tenha
tido a imagem de Deus, mas, conforme se conclui do paralelismo da segunda linha, o seu ser igual a Deus, a sua
essência divina”. (A Carta aos Filipenses. São Leopoldo: Sinodal, 1983, p. 45). Para a definição de morphê vd.:
RUSCONI, Carlo. Dicionário do Grego do novo Testamento (São Paulo: Paulus, 2003), p. 313.
31
Segundo o Novo Testamento Interlinear Grego-Português (São Paulo: SBB, 2004), na passagem citada.
32
Vd.: RUSCONI, Carlo. Na definição das palavras citadas.
33
Teologia Sistemática, p. 172.
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 Se não aceitarmos a Triunidade divina, como explicar textos como Dt. 4:


35, 39; Is. 44: 6, 8; 45: 5, 21; 46: 9? Os textos mostram que só existe UM
Deus.

b) Na Bíblia também encontramos o Pai, o Filho e o Espírito Santo


revelados como SENHOR. O Pai (Mt. 22:37); o Filho (At. 10: 36; Fp.
2:11); o Espírito (2Co. 3: 16-17).

 Se não aceitarmos a Triunidade de Deus como explicar estas passagens


se a própria Bíblia diz que só Deus é o Senhor (Mc. 12:29)?

c) Também encontramos na Bíblia o Pai, o Filho, e o Espírito sendo


tratados como SANTOS. O Pai (Is. 6:3); o Filho (At. 3:13-14); o Espírito
(Is. 63:10; Rm. 15:16).

 Como conciliar estes textos se a Bíblia diz que só Deus é santo (ISm.
2:2)? Isto só se explica com a Triunidade divina.

(d) Encontramos na Bíblia também o Pai, o Filho sendo tratados como


ONISCIENTES. O Pai (1Cr. 28:9); o Filho (Jo. 2:24,25; 21:17; Cl. 2:2-3); o
Espírito (1Co. 2:10-11).

Todas estas passagens só poderão ser explicadas com a doutrina da Triunidade


divina, sem ela tudo viraria uma confusão. Não é preciso entender, mas sim aceitar o que
a Bíblia revela. Nem sempre entendemos tudo que Deus faz, por isso Ele é Deus.

VI-JESUS CRISTO, DEUS CONOSCO.

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A Bíblia é uma testemunha indubitável de que só se deve adorar a Deus (Mt.


4:10). Pois, bem, E se encontrássemos outra pessoa sendo adorada e incentivada a sua
adoração, o que deveríamos concluir? Ou essa pessoa seria o mesmo Deus e não outro,
ou seria um Deus falso. Observe como a Bíblia trata deste assunto.

 Mt. 21:15-16. Neste texto Jesus recebe adoração de um grupo de crianças. E


ainda, para confirmar que o que se estava fazendo ali era adoração Ele cita
o Sl. 8:2, onde no hebraico aparece a palavra ’oz, que significa: esplendor,
majestade, glória, louvor.34 Assim Jesus está confirmando que as crianças
estavam adorando a Ele.

 Jo. 5: 23. Jesus afirma explicitamente que a mesma honra, reverência que é
dada ao Pai, deve ser dada a Ele também. Assim Ele se iguala ao Pai se
fazendo um Deus com Ele.

 Jo. 16: 14. Cristo aqui diz que a missão do Espírito Santo na terra é levar as
pessoas a glorificá-Lo. Em grego é usada a palavra doxa, que significa:
glória, honra, aplausos 35 (Vd. Jo. 4:24; Rm. 1:9; Fp. 3:3, onde a mesma
palavra significa adoração).

 Jo. 20:28. Tomé, explicitamente adora a Jesus chamando-o de “Deus meu”.


Mais claro impossível. E o interessante é que Jesus não recrimina Tomé,
como se ele estivesse errado, mas aceita as suas palavras.

 Fp. 2: 5-11. Nesta passagem a Bíblia explica o processo da encarnação de


Jesus, Sua condição como ser humano na terra enquanto cumpria a obra da
redenção, e Sua exaltação após a morte e ressurreição para ser adorado por
todos (11).

34
TREGELLES’ Samuel Prideaux. p. 616.
35
Para o significado desta palavra vd. RUSCONI, Carlo. 136.
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 Hb. 1: 1-14. Este texto é claro em afirmar a adoração de Jesus e todas as


criaturas são conclamadas a adorar a Jesus.

 Ap. 5: 11-14; 22: 8-9. Não têm no NT passagens mais claras que estas que
mostram o cordeiro que é Cristo (Jo. 1:29; 1 Pd. 1:18-20) sendo claramente
adorado por todos, e em todos os lugares.

É isso. Jesus Cristo é apresentado na Bíblia como um com o Pai e o Espírito Santo.
F. F. Bruce diz que já em 112 d.C., Plínio Segundo, governador da Bitínia, escreveu ao
imperador Trajano falando sobre os cristãos, e afirmava que eles tinham o costume de se
reunir e cantar hinos à Cristo como a um Deus. 36
Não podemos esquecer que tudo isso é um tremendo mistério (1Tm. 6:16), todos
que tentaram explicar racionalmente a Triunidade de Deus cometeram erros. Deixemos,
pois como está, nos conformando com o que a Palavra de Deus revela, e ela revela que
Deus é Pai, Filho e Espírito Santo.

VII-O ESPIRITO SANTO.

Em toda discussão sobre Deus não se pode deixar de fora o tema do Espírito
Santo. Espírito é a tradução da palavra hebraica ruach e da palavra grega pneuma. Estes
termos derivam de raízes cujo significado é respirar. Por isso as palavras também podem
ser traduzidas por vento (Ez. 37: 5-6; Jo.3: 8). Vamos então procurar nas Escrituras a
revelação sobre o Espírito do Senhor, isto para desfazer alguns enganos de grupos tais
como: Testemunhas de Jeová, Judeus Messiânicos, e grande parte dos Adventistas do
Sétimo Dia, que se apresentam contra a personalidade do Espirito Santo e contra a
Triunidade divina.

36
Merece Confiança o Novo Testamento? 2ª ed. (São Paulo: Vida Nova, 1999), p. 154.
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Sobre quem é o Espírito Santo, R. C. Sproul escreve:

A Bíblia revela o Espírito Santo não como uma força abstrata, um poder ou uma coisa, mas
como “ele”. O Espírito Santo é uma pessoa. Uma personalidade inclui inteligência, vontade e
individualidade. Uma pessoa age por intenção. Nenhuma força abstrata pode tencionar fazer
qualquer coisa. Boas ou más intenções são limitadas aos poderes dos seres pessoais. 37

As Escrituras apóiam esta declaração do Espírito Santo como uma pessoa divina.

 Em Jo. 14:26;15:26; 16:13-14, o Espírito Santo é tratado pelo pronome


pessoal masculino “aquele” (ekeinos), isto não seria de se esperar pois a
palavra espírito em grego (pneuma) é uma palavra neutra, e exigiria um
pronome neutro (ekeino) para combinar.

 Em At. 15:28, o Espírito Santo é colocado lada a lado com os apóstolos; em


Jo. 16:14 com Jesus Cristo; e em Mt. 28: 19; 2Co. 13:13; 1Pd. 1:1-2; Jd. 20,21,
com o Pai e com o Filho. Isto requer a plena personalidade do Espírito
Santo senão Ele não poderia ser tratado como uma pessoa.

Nas Escrituras encontramos várias características de uma pessoa aplicadas ao


Espírito Santo. Observe:

 Consolo (Jo. 14: 26;15:26;16:7);


 Intercessão (Rm. 8: 26-27);
 Pode-se mentir a Ele (At. 5:3-4);
 Tristeza (Is. 63:10; Ef. 4:30);
 Poder (Rm.15:13; Lc.4:14, em grego dúnamis que significa força, poder),
salienta-se aqui que o Espírito Santo tem poder, não é um poder;
 Amor (Rm.15:30);
 Ofende-se (Hb. 10:29);

37
O Mistério do Espírito Santo (São Paulo: Cultura Cristã, 1997), p. 17 (Grifo meu).
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 Decide (At. 15:28);


 Escolhe (At. 13:2);
 Conhece (1Co. 2:10, inteligência);
 Envia (Is. 48:16; At. 10:19-20);
 Conduz as pessoas à glorificação de Cristo (Jo. 16:14);
 Concede os dons a quem quer (vontade própria, individualidade) (1Co. 12:1-
11).

Aqui temos no Espírito Santo todas as características essenciais de uma


personalidade; vontade própria, inteligência e individualidade, assim não se têm base
escriturística nenhuma para despersonalizá-Lo.
Além disso, o Espírito Santo é apresentado em uma unidade intrínseca com o Pai e
o Filho em toda a Bíblia. Veja estes exemplos:

 Porque o Espírito Santo habita na Igreja, ela é chamada de templo de Deus


(1Co.3:17; 6:19; 2Co.6:16);
 O Espírito é criador com o Pai e com o Filho (Gn. 1:1-2; Hb.1:2,10; Gn.1:2;Jó
26:13; 33:4; Sl.104:30);
 O Espírito é Deus com o Pai e com o Filho (Jo. 17:3; Rm. 9:5; At:3-4);
 O Espírito é Senhor com o Pai e com o Filho (At. 17:24; 2Co. 3:17; Fp.2:11);
 O Espírito é eterno com o Pai e com o Filho (Sl. 90: 2; Is. 9:6; Mq. 5:2; Hb.
9:14);
 O Espírito é justificador com o Pai e com o Filho (Rm. 3:21-24; 1Co.6:11);
 O Espírito é onisciente com o Pai e com o Filho (1Cr. 28:9; Mt. 9:3-4; Jo.
16:30,31; Ez. 11:5; 1Co. 2:10-11);
 O Espírito é onipresente com o Pai e com o Filho (Hb. 4:13; Sl. 139: 7-8; Mt.
18: 20; 28:20).

Conclui-se inevitavelmente que a Bíblia não apresenta três deuses, mas uma só
essência divina, que se nos mostra como Pai, Filho e Espírito Santo. Importante notar que

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na revelação não se pode confundir as funções. Ao Pai pertence à vontade divina, a


formação dos propósitos. Ao Filho a mediação e a execução do plano do Pai. E ao Espírito
pertence à revelação, a preparação para toda a obra do Filho (Vd. Ef. 1:11; 1Tm.2:5; Jo. 16:8-
11). Sproul escreve sobre o caso:

Vemos, pois, que quando a Igreja cristã confessa sua fé em um Deus triúno, ela tenciona
transmitir a idéia de que existe uma só essência ou ser e não três; mas que existem três
personalidades subsistentes distintas na deidade. Os nomes Pai, Filho e Espírito Santo indicam
distinções pessoais na deidade, mas não divisões essenciais em Deus.38

APÊNDICE1- DISTORÇÕES HISTÓRICAS SOBRE A DOUTRINA DA


TRIUNIDADE.

Na tentativa de racionalizar este mistério que é esta doutrina surgiram algumas


distorções, ou heresias cristológicas ao longo da história da Igreja.

a) Sabelianismo/ Modalismo/ Monarquianismo. Doutrina popularizada por um


bispo chamado Sabélio (186-250 d.C.). Ele afirmava que Jesus e o Espírito Santo não
eram pessoas distintas, mas apenas manifestações de Deus temporárias e sucessivas. Seu
ensino foi condenado pela Igreja como heresia em 261 d.C.39
Esta doutrina erra porque faz de Jesus e do Espírito Santo apenas manifestações de
Deus, e não pessoas individuais. Assim, a Igreja teria sido salva por uma manifestação/
aparição apenas. O próprio Cristo destrói esta idéia ao afirmar sua personalidade distinta
do Pai (Jo. 8: 16-18). E as Escrituras apresentam os três ao mesmo tempo (Mt. 3:13-17).
Assim, deve-se considerar as distinções das pessoas, salientando-se que quando se usa o
termo pessoa aqui, apenas se faz por não ter um termo melhor. Quando se diz que em

38
Ibid, p. 73.
39
Vd.: HÄGLUND, Beng. História da Teologia. 7ª ed. (Porto Alegre: Concórdia, 2003), pp. 59-60.
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Deus há três pessoas, não se quer dizer que existem três indivíduos, mas que existem
distinções pessoais dentro da essência divina, que é uma só em gênero e número.

b) Arianismo. Esta doutrina foi popularizada por um presbítero chamado Ário, de


Alexandria, entre fins do terceiro e inicio do quarto século de nossa era. Ele afirmava que
Jesus e o Espírito Santo eram criaturas de Deus. Por suas afirmações heréticas Ário foi
excomungado pelo seu bispo por volta de 320 a.C.40 Que Jesus é apenas uma criatura de
Deus também é ensinado modernamente pelas “Testemunhas de Jeová”.41 As idéias de
Ário foram condenadas no Concílio de Nicéia (325 d.C.), onde foi aprovado o credo que
afirmava que Jesus Cristo era da mesma substância de Deus Pai.
Dizia o Credo de Nicéia:

“Cremos em um só Deus, Pai, Todo-poderoso, Criador de todas as coisas visíveis e invisíveis. E


em um só Senhor Jesus Cristo, o unigênito Filho de Deus, gerado pelo Pai antes de todos os
séculos, Luz da Luz, verdadeiro Deus de verdadeiro Deus, gerado não criado, de uma só
substância com o Pai, pelo qual todas as coisas forma feitas...”42

A controvérsia com Ário estava baseada em duas palavras que terminaram


ficando famosas na História da Teologia: homoousios (da mesma natureza) e homoiousios
(de natureza semelhante, mas não a mesma). Ário aceitava Cristo como apenas semelhante ao
Pai, mas não de mesma natureza. Os concílios de Nicéia (325) e Constantinopla (381)
confessaram que Cristo não apenas semelhante, mas igual ao Pai, da mesma natureza. 43
Isto porque a Bíblia confirma a eternidade de Jesus e do Espírito Santo, logo sendo
eternos, são iguais (Is. 9:6; Jo. 1:1-3; Hb.9:14).

c) Adocianismo. Este ensino concebia Jesus como um homem até seu batismo
depois disso Deus o teria adotado como Filho, e lhe concedido poderes sobrenaturais.

40
Ibid., p. 63.
41
“Jesus foi chamado de “Filho unigênito” de Deus porque Jeová o criou diretamente.” Conhecimento Que Conduz à
Vida Eterna (São Paulo: Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, 1986), p. 39.
42
Vd. GRUDEN, Wayne. p. 996.
43
Ibid, pp. 179-180.
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Jesus não era eterno, mas apenas um homem sublime. Foi condenado no Concílio de
Constantinopla (381 d.C).

d) Subordinacionismo. Orígenes (c.185-254 d.C.), um escritor do começo do


cristianismo, advogava que o Filho era de alguma forma inferior ao Pai. Ele dizia que o
lado físico de Cristo foi progressivamente absorvido pelo divino, de modo que ele deixou
de ser homem. Seu método não foi muito consistentemente explicado e terminou
desembocando no Arianismo. 44

e) A controvérsia em torno da palavra FILIOQUE. Esta controvérsia se deu em


1054 d.C, sobre a colocação da expressão “filioque” no Credo de Nicéia, isso acabou
gerando uma divisão entre o cristianismo Ocidental (Católico Romano) e o cristianismo
Oriental (Hoje em várias ramificações como Igreja Ortodoxa Grega, Igreja Ortodoxa
Russa). “Filioque” é uma expressão latina que significa “e do Filho”. Até então o Credo
de Nicéia da primeira versão (325) e da segunda (381), diziam apenas que o Espírito
Santo procedia do Pai. Mas, em um Concílio regional, na cidade de Toledo, Espanha,
acrescentou-se a frase: “e do Filho” (filioque) baseada em Jo.15:26 e 16:7. Muitas lutas
políticas dentro da Igreja complicaram a disputa entre os que aceitavam e os que não
esta expressão. Chegou-se assim a divisão ocorrida entre a Igreja Ocidental e a Igreja
Oriental, em 1054 d.C.
Sobre o tema a posição correta parece ser a dos que aceitavam a expressão
“filioque”, pois os textos citados mostram que o Espírito Santo tanto procede do Pai
como do Filho.45

44
Para uma discussão detalhada sobre a doutrina da Trindade e sua história, vd. BRAATEN, Carl E. e JENSON,
Robert W. (eds) Dogmática Cristã, v.1. (São Leopoldo: Sinodal, 1999), pp. 103-174. HÄGLUND, Beng. pp. 57-88.
BERKHOF, L. Teologia Sistematica 3ª ed. (Grand Rapids: T.E.E.L., 1976), pp. 96-98.
45
Vd. GRUDEN, Wayne. pp. 181-182.
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APÊNDICE II- TEXTOS DIFICEIS EXPLICADOS.

 Jo. 14:28. Cristo faz uma declaração que aparentemente lhe coloca numa
posição inferior ao Pai. Mas, não é isso o que acontece. Quando Cristo faz
uma afirmação assim, Ele está falando em sua condição humana assumida
por Ele livremente no mistério da encarnação (Fp. 2:6-11). Na terra, o
Senhor tinha todas as limitações da encarnação, para levar ao cabo o seu
propósito de morrer como substituto do ser humano. Portanto, ele tinha
que ser humano, não apenas parecer com um humano. Após sua
ressurreição, Jesus reassumiu todo seu poder (Mt. 28:18), e é Deus Todo-
Poderoso (Ap. 1:8). Se essa afirmação tirasse a divindade de Cristo e o
fizesse inferior ao Pai, a afirmação de Hb. 2:9 o colocaria em inferioridade
aos anjos, e Lc. 2:51, o colocaria em inferioridade aos seus pais. Mas,
sabemos que não é assim, essas são afirmações feitas dentro de um contexto
(o da humanidade de Jesus) que deve ser observado para a correta
interpretação de todas as passagens que parecem colocar Jesus como
inferior.

 Mt. 3:11; At. 2:14; Tt. 3:5-6. Às vezes estes textos são citados para tentar
despersonalizar o Espírito Santo. Mas, o que temos aqui é um a linguagem
figurada aplicada a pessoa do Espírito. Veja os exemplos:

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a) Lc. 22:3 - Satanás é uma pessoa espiritual, mas entrou em Judas e encheu o
coração de Ananias (At. 5:3). Cristo é uma pessoa, mas é dito que Ele enche o
universo (Ef. 1:20-23).
b) Mt. 3:11 - O Espírito é uma pessoa e os crentes podem ser batizados nele não
existe problema com isso, pois Moisés era uma pessoa e Paulo diz que os
judeus no deserto foram batizados nele (1Co. 10:2). Como também a Bíblia fala
que os salvos foram batizados em Cristo (Rm. 6:3; Gl. 3:27). Mais uma vez o
que se usa aqui é linguagem figurada.
c)Tt. 3: 5-6- O fato de o Espírito ser derramado não tira sua personalidade, pois
Paulo era uma pessoa e diz que “estava sendo derramado” (Fp. 2:17; 2Tm. 4:6).

Pois bem, chegamos ao fim deste curto estudo sobre o que a Revelação diz sobre
Deus. Sabendo que isso é um pingo d’água num oceano, pois Deus é muito grande para
se deixar explicar. Minha oração é que você tenha aprendido um pouco mais sobre o
Deus Pai de Jesus Cristo que você serve e que nós adoremos esse Deus infinito com
paixão e fogo renovados.

Glória sempre seja dada ao Pai,


Glória ao Filho e ao Santo Espírito.
Um só Deus, supremo e redentor,
Por todos os tempos sem fim. Amém.

(Salmos e Hinos, 35, o Hinário do povo Congregacional).

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