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Art. 23. A ação para a aplicação das sanções previstas nesta Lei
prescreve em 8 (oito) anos, contados a partir da ocorrência do fato ou,
no caso de infrações permanentes, do dia em que cessou a permanência.
O novo § 1º do art. 23 da LIA, inserido pela Lei nº 14.230/2021, afirma que a instauração
de inquérito civil ou de processo administrativo para apuração de atos de improbidade
administrativa suspende o curso do prazo prescricional. Trata-se de uma efetiva
inovação. Isso porque, antes da Lei nº 14.230/2021, o STJ possuía o entendimento
consolidado no sentido de que a instauração do inquérito civil não tinha o condão de
interromper ou mesmo suspender o curso do prazo prescricional. O argumento era
justamente a falta de previsão legal:
Art. 23 (...)
§ 5º Interrompida a prescrição, o prazo recomeça a correr do dia da
interrupção, pela metade do prazo previsto no caput deste artigo.
§ 8º O juiz ou o tribunal, depois de ouvido o Ministério Público, deverá, de
ofício ou a requerimento da parte interessada, reconhecer a prescrição
intercorrente da pretensão sancionadora e decretá-la de imediato, caso,
entre os marcos interruptivos referidos no § 4º, transcorra o prazo
previsto no § 5º deste artigo.
Art. 23 (...)
§ 4º O prazo da prescrição referido no caput deste artigo interrompe-se:
I - pelo ajuizamento da ação de improbidade administrativa;
II - pela publicação da sentença condenatória;
III - pela publicação de decisão ou acórdão de Tribunal de Justiça ou
Tribunal Regional Federal que confirma sentença condenatória ou que
reforma sentença de improcedência;
IV - pela publicação de decisão ou acórdão do Superior Tribunal de
Justiça que confirma acórdão condenatório ou que reforma acórdão de
improcedência;
V - pela publicação de decisão ou acórdão do Supremo Tribunal Federal
que confirma acórdão condenatório ou que reforma acórdão de
improcedência.
1
Ultra vires: que excede o poder legal atribuído a quem realizou determinado ato. “Beyond
the legal power or authority of the person performing an action” (ULTRA VIRES | Significado,
definição em Dicionário Cambridge inglês).
nova redação ao art. 40 da CF/88, o vínculo no RPPS é exclusividade dos servidores
investidos em cargo efetivo, isto é, aqueles aprovados em concurso público:
Art. 40. O regime próprio de previdência social dos servidores titulares
de cargos efetivos terá caráter contributivo e solidário, mediante
contribuição do respectivo ente federativo, de servidores ativos, de
aposentados e de pensionistas, observados critérios que preservem o
equilíbrio financeiro e atuarial.
Por isso, a jurisprudência do STF é no sentido de que os beneficiados pela estabilidade
excepcional prevista no art. 19 do ADCT não são detentores das vantagens privativas dos
servidores ocupantes de cargo efetivo, o que afasta a possibilidade de participação no
regime próprio de previdência social.
Tese fixada: Somente os servidores públicos civis detentores de cargo efetivo (art. 40,
CF, na redação dada pela EC 20/98) são vinculados ao regime próprio de previdência
social, a excluir os estáveis nos termos do art. 19 do ADCT e os demais servidores
admitidos sem concurso público. STF. Plenário. RE 1.426.306/TO, Rel. Min. Rosa Weber,
julgado em 13/6/2023 (Repercussão Geral – Tema 1254) (Info 1098).
5. Explique no que consiste a função regulatória das licitações públicas e
dê um exemplo de sua aplicação na Lei nº 14.133/21.
RESPOSTA: Inicialmente, o procedimento licitatório visa a obtenção, pela Administração
Pública, de bens e serviços para a consecução de suas atividades-fim, ou seja, a
realização de políticas públicas e prestação de serviços públicos. Entretanto,
considerando que as contratações governamentais representam expressivo volume
econômico, elas são capazes de causar significativos impacto nos mercados e/ou
induzir comportamentos dos agentes econômicos.
Por tal motivo, algumas vezes o legislador opta por utilizar os mecanismos licitatórios
como forma de intervenção na economia, de modo a regular mercados, promover
determinadas políticas públicas ou incentivar valores constitucionais. A finalidade,
portanto, é utilizar da necessidade da Administração de adquirir bens e serviços para,
simultaneamente, promover alguma outra finalidade constitucional relevante ou, ainda,
incentivar e realizar regulação de mercado, promovendo a concorrência em
determinado setor, para além daquele certame específico.
Assim, a seleção da proposta mais vantajosa para a Administração Pública não se funda
exclusivamente em critérios econômicos, mas também em outros fatores
(extraeconômicos) que devem ser ponderados pelo administrador, tais como: a) o
desenvolvimento nacional sustentável; b) a promoção da defesa do meio ambiente
(licitações verdes ou sustentáveis); c) a inclusão de portadores de deficiência no
mercado de trabalho (art. 63, IV, e art. 75, XIV, ambos da Lei 14.133/21); e d) o fomento
à contratação de microempresas e empresas de pequeno porte (LC 123/06).
Essas finalidades extraeconômicas da licitação caracterizam a chamada função
regulatória da licitação. Nessa perspectiva, o instituto na licitação não serve, tão
somente, para que a Administração realize a contratação de bens e serviços ao melhor
preço; o referido instituto tem espectro mais abrangente, servindo como instrumento
para o atendimento de diversas outras finalidades públicas constitucionalmente
resguardadas.
Exemplos na 14.133/21: possibilidade de margem de preferência para bens reciclados,
recicláveis ou biodegradáveis (art. 26, II), como forma de promoção do meio ambiente
ecologicamente equilibrado (art. 225, CF); desenvolvimento de ações de equidade entre
homens e mulheres no ambiente de trabalho como critério de desempate (art. 60, III),
como forma de promoção da igualdade material entre homens e mulheres (art. 5º, I, CF).
6. Discorra sobre o princípio do planejamento no âmbito das licitações e
contratos, apontando dispositivos da Lei nº 14.133/21 que o concretizam.
RESPOSTA: Novidade da Lei nº 14.133/21, o planejamento está expresso no art. 5º
como um dos princípios a serem observados na aplicação da norma sobre licitações e
contratos. De importante incidência, especialmente na fase preparatória das licitações
(art. 18: “a fase preparatória do processo licitatório é caracterizada pelo planejamento
[...]”), referido princípio existe para garantir que não sejam realizadas licitações
aventureiras, sem planejamento, evitando, dessa forma, o desperdício dos recursos
titularizados pelo poder público. Em decorrência desse princípio, por exemplo, a
Administração Pública tem o mister de identificar e justificar a necessidade do objeto a
ser licitado, formalizando a autorização para abertura do certame.
Vê-se, portanto, que há uma íntima relação entre o planejamento e o princípio da
eficiência, de modo que Rafael Oliveira afirma ser aquele uma decorrência deste.
Como forma de efetivar referido princípio, a Lei previu o instrumento denominado plano
de contratações anual, que tem por objetivos: (a) racionalizar as contratações dos
órgãos e entidades; (b) garantir o alinhamento com o seu planejamento estratégico; e
(c) subsidiar a elaboração das respectivas leis orçamentárias (art. 12, VII). Tal plano
deverá ser divulgado e mantido à disposição do público em sítio eletrônico oficial e será
observado pelo ente federativo na realização de licitações e na execução dos contratos
(art. 12, § 1º).
Outra previsão que concretiza o princípio do planejamento é a necessidade de
elaboração do estudo técnico preliminar, “documento constitutivo da primeira etapa do
planejamento de uma contratação que caracteriza o interesse público envolvido e a sua
melhor solução” (art. 6º, XX), servindo de base ao anteprojeto, TR ou projeto básico a ser
elaborado caso se conclua pela viabilidade da contratação.
7. Explique no que consiste o princípio da segregação de funções no âmbito das
licitações e contratos e identifique quais são os seus objetivos.
RESPOSTA: Novidade da Lei nº 14.133/21, a segregação de funções está expressa no
art. 5º como um dos princípios a serem observados na aplicação da norma sobre
licitações e contratos, e “consiste na distribuição e na especialização de funções entre
os diversos agentes públicos que atuam nos processos de licitação e de contratação
pública” (OLIVEIRA). Nos termos do art. 7º, § 1º, fica vedada a designação, pela
autoridade do órgão ou entidade, “do mesmo agente público para atuação simultânea em
funções mais suscetíveis a riscos”.
Dessa forma, garante-se uma “maior especialização no exercício das respectivas
funções”, ao tempo que diminuem “riscos de conflitos de interesses dos agentes
públicos”, havendo uma íntima correlação do princípio em tela com os princípios da
moralidade e eficiência (OLIVEIRA).
O art. 7º, § 1º, traz como objetivo expresso da aplicação desse princípio a redução da
“possibilidade de ocultação de erros e de ocorrência de fraudes na respectiva
contratação”. Além disso, a segregação de funções também deve ser observada nos
“órgãos de assessoramento jurídico e de controle interno da Administração” (art. 7º, § 2º).
8. No âmbito das licitações e contratos, no que consiste o princípio do parcelamento?
Para quais objetos a Lei nº 14.133/21 expressamente prevê a sua aplicação e quais são
os seus limites?
RESPOSTA: O princípio do parcelamento refere-se ao objeto a ser licitado e representa
a sua divisão no maior número possível de parcelas que forem viáveis técnica e
economicamente, com vistas à ampliação da competitividade. Sua observância nas
licitações e contratos está expressamente prevista para as compras (art. 40, V, "b") e
serviços em geral (art. 47, II).
Entretanto, a própria norma prevê que o referido princípio só deverá ser observado
quando for “tecnicamente viável e economicamente vantajoso”, inexistindo óbice no seu
afastamento por questões de economia de escala (produtos com valores muitos
pequenos, que necessitam ser comprados em lotes para atrair fornecedores), ou
quando há necessidade técnica da compra em conjunto, por questões de
compatibilidade de produtos e serviços, por exemplo.
Ainda quanto às compras, o parcelamento não será adotado quando: (i) a economia de
escala, a redução de custos de gestão de contratos ou a maior vantagem na contratação
recomendar a compra do item do mesmo fornecedor; (ii) o objeto a ser contratado
configurar sistema único e integrado e houver a possibilidade de risco ao conjunto do
objeto pretendido; ou (iii) o processo de padronização ou de escolha de marca levar a
fornecedor exclusivo (art. 40, § 3º).
Por fim, destaque-se que o estudo técnico preliminar deve conter “justificativas para o
parcelamento ou não da contratação” (art. 18, § 1º, VIII).
9. Determinada lei estadual ao promover a reestruturação de cargos na
área fiscal do governo, reuniu três carreiras distintas de agente fiscal
existentes no Estado em uma só carreira, denominada “auditores fiscais”.
Ocorre que os ocupantes do antigo cargo de Agente Fiscal 3 (AF-3), para
o qual era exigido nível médio de escolaridade, passaram a integrar a nova
carreira, cujo ingresso pressupõe escolaridade de nível superior. A
situação em tela apresenta algum vício?
RESPOSTA: Sim. A CF/88 exige que a investidura em cargos ou empregos públicos
ocorra por meio de aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e
títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma
prevista na lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de
livre nomeação e exoneração (art. 37, II, CF/88).
Em razão disso, a jurisprudência do STF é firme no sentido da necessidade de
observância da prévia aprovação em certame, sendo inconstitucional qualquer
modalidade de provimento que, ao investir servidor em cargo que não integra a sua
carreira, se distancie da regra do concurso público:
Súmula Vinculante 43: É inconstitucional toda modalidade de provimento
que propicie ao servidor investir-se, sem prévia aprovação em concurso
público destinado ao seu provimento, em cargo que não integra a carreira
na qual anteriormente investido.
No caso concreto, segundo apontado pelo STF, as leis estaduais impugnadas reuniram
as carreiras de Agentes Fiscais 1, 2 e 3 da Coordenação da Receita Federal do Estado
do Paraná, que possuíam funções e atribuições distintas, em uma carreira única,
denominada Auditores Fiscais.
Ocorre que os ocupantes do antigo cargo de Agente Fiscal 3 (AF-3), para o qual era
exigido nível médio de escolaridade, passaram a integrar a nova carreira, cujo ingresso
pressupõe escolaridade de nível superior. Assim, foram incluídos, na mesma carreira,
cargos com exigências para ingresso distintos, em clara violação à exigência
constitucional de concurso público.
Em suma, a equiparação de carreira de nível médio a outra de nível superior constitui
forma de provimento derivado vedada pelo art. 37, II, da CF/88.
É inconstitucional — por força da regra do concurso público (CF/1988, art. 37, II) — lei
estadual que, ao reestruturar determinada carreira, permite a transposição de
servidores para cargos com atribuições e requisitos de ingresso distintos daqueles
exigidos na ocasião do provimento originário. STF. Plenário. ADI 5510/PR, Rel. Min.
Roberto Barroso, redator do acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 6/6/2023 (Info
1097).
OBS: Aplicações da SV 43 no STF aqui.
10. Acerca das garantias contratuais, no que consiste a cláusula de
retomada?
RESPOSTA: Primeiramente, é preciso distinguir a garantia contratual da garantia de
proposta. Esta está relacionada à etapa do certame licitatório, prestada pelos licitantes
como requisito de pré-habilitação (art. 58, caput) e estando limitada a até 1% do valor
estimado para a contratação (§ 1º). Aquela, por sua vez, consiste em prerrogativa da
Administração com o intuito de assegurar a adequada execução do objeto contratual.
A exigência de garantia contratual é ato discricionário da Administração, ou seja, o
poder público pode ou não exigir depósito de garantia. Se o fizer, consistirá em cláusula
necessária do contrato (art. 92, XII), devendo estar prevista também no edital de
licitação (art. 96, caput).
O art. 93, § 1º, previu três modalidades de garantia contratual (as quais também se
aplicam à garantia de proposta, vide art. 58, § 4º): caução em dinheiro ou em títulos da
dívida pública, seguro-garantia ou fiança bancária. A escolha por uma das três
modalidades consiste, regra geral, em ato discricionário do contratado, e seu valor pode
ser equivalente a até 5% do valor inicial do contrato, autorizada a majoração desse
percentual para até 10%, desde que justificada mediante análise da complexidade
técnica e dos riscos envolvidos (art. 98). Especificamente quanto às obras e serviços
de engenharia de grande vulto (aqueles cujo valor estimado supera duzentos milhões
de reais), o percentual da garantia pode chegar a até 30% do valor inicial do contrato,
por expressa permissão legal (art. 99).
Entretanto, na contratação de obras e serviços de engenharia, o edital poderá exigir a
prestação da garantia na modalidade seguro-garantia, retirando o espaço de escolha
do contratado, e prever a obrigação de a seguradora, em caso de inadimplemento pelo
contratado, assumir a execução e concluir o objeto do contrato (art. 102) consistindo
tal previsão na cláusula de retomada. Note-se, então, que com a cláusula de retomada
a seguradora se torna parte efetiva do contrato na condição de interveniente anuente
(art. 102, I) e será chamada para concluir a obra ou serviço caso o segurado não o faça.
Isto é, em caso de inadimplemento pelo contratado, sua obrigação passa a ser de
executar a obra, e não apenas pagar a indenização.
Até por isso, a seguradora, nesse caso, poderá: a) ter livre acesso às instalações em
que for executado o contrato principal; b) acompanhar a execução do contrato principal;
c) ter acesso a auditoria técnica e contábil; d) requerer esclarecimentos ao responsável
técnico pela obra ou pelo fornecimento. Além disso, a emissão de empenho em nome
da seguradora, ou a quem ela indicar para a conclusão do contrato, será autorizada
desde que demonstrada sua regularidade fiscal (art. 102, II), sendo plenamente
permitida a subcontratação para conclusão do contrato, total ou parcialmente (art. 102,
III).
Finalmente, caso a seguradora execute e conclua o objeto do contrato, estará isenta da
obrigação de pagar a importância segurada indicada na apólice. Do contrário, pagará a
importância na sua integralidade (art. 102, parágrafo único).
OBS: O mecanismo de step-in rights, como é conhecida a cláusula de retomada, foi
introduzido no Direito brasileiro em 2015, por meio da Lei nº 13.097, que alterou a
redação da Lei nº 8.987/1995 ("Lei de Concessões"; art. 27-A) e da Lei nº 11.079/2004
("Lei das PPPs"; art. 5º, § 2º, I) para estabelecer a possibilidade dos financiadores e
garantidores do projeto procederem à assunção do controle ou da administração
temporária da concessionária, para promover sua reestruturação financeira e assegurar
a continuidade da prestação dos serviços.2
11. A empresa Alfa Ltda prestou, durante 6 meses, serviços de construção
civil para o Município X. Os serviços foram combinados e executados pela
empresa a partir de solicitação do Secretário de Obras do Município. A
empresa arcou com todos os custos desse serviço. O Secretário combinou
com o dono da empresa que o Município pagaria pelos serviços ao final
dos trabalhos, mas isso não foi cumprido e nada foi pago.
Diante desse cenário, a empresa ajuizou ação de cobrança contra o
Município X pedindo o recebimento de R$ 85.068,70. O Município
contestou alegando que nenhum pagamento seria devido porque não
houve prévia licitação e não existiu sequer contrato escrito entre o poder
público e a empresa. Logo, eventual contratação era nula de pleno direito.
Além disso, a Fazenda Pública argumentou que a empresa subcontratou
parte do serviço – sem anuência do Município – o que é vedado já que a
subcontratação apenas pode se dar com a autorização expressa da
Administração Pública.
Diante dessa situação hipotética, responda: a administração pública
deverá pagar à empresa pelos serviços executados, bem como pelos
subcontratados, mesmo que essa contratação tenha sido feita de forma
verbal, sem licitação e sem observância da lei?
2
https://www.conjur.com.br/2022-jun-15/opiniao-clausula-retomada-lei-licitacoes
RESPOSTA: É bem verdade que o art. 95, § 2º, da Lei nº 14.133/2021 (art. 60, parágrafo
único, da Lei nº 8.666/1993) previu, como regra geral, a nulidade e ausência de efeitos
para o contrato verbal celebrado com o poder público (recorde-se que decorre do
princípio do formalismo moderado a exigência de que os contratos administrativos
sejam escritos, vide art. 91):
§ 2º É nulo e de nenhum efeito o contrato verbal com a Administração,
salvo o de pequenas compras ou o de prestação de serviços de pronto
pagamento, assim entendidos aqueles de valor não superior a R$
10.000,00 (dez mil reais).
Ocorre que a jurisprudência do STJ é no sentido de que, mesmo que seja nulo o contrato
realizado com a Administração Pública, por ausência de prévia licitação, é devido o
pagamento pelos serviços prestados, desde que comprovados, nos termos do art. 149
da Lei nº 14.133/2021 (art. 59, parágrafo único, da Lei nº 8.666/93), sob pena de
enriquecimento ilícito da Administração:
Na ausência de contrato formal entre as partes - e, portanto, de ato
jurídico perfeito que preservaria a aplicação da lei à celebração do
instrumento -, deve prevalecer o princípio do não enriquecimento ilícito.
Se o acórdão recorrido confirma a execução do contrato e a realização
da obra pelo recorrido, entende-se que deve ser realizado o pagamento
devido pelo Município recorrente (STJ. 2ª Turma. REsp 836.495/RS, Rel.
Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 26/11/2013).
Veja-se o teor do art. 149 da Lei nº 14.133/21:
Art. 149. A nulidade não exonerará a Administração do dever de
indenizar o contratado pelo que houver executado até a data em que for
declarada ou tornada eficaz, bem como por outros prejuízos
regularmente comprovados, desde que não lhe seja imputável, e será
promovida a responsabilização de quem lhe tenha dado causa.
Ocorre que o STJ reconhece que, ainda que ausente a boa-fé do contratado e que tenha
ele concorrido para nulidade, é devida a indenização pelo custo básico do serviço, sem
margem alguma de lucro. A inexistência de autorização da Administração para
subcontratação, por sua vez, é insuficiente para afastar o dever de indenização, no caso
concreto, porque a própria contratação foi irregular, haja vista que não houve licitação e
o contrato foi verbal. Assim, desde que provada a existência de subcontratação e a
efetiva prestação de serviços, ainda que por terceiros, e que tais serviços se reverteram
em benefício da Administração, será devida a indenização dos respectivos valores.
Em suma: No caso de contrato verbal e sem licitação, o ente público tem o dever de
indenizar, desde que provada a existência de subcontratação, a efetiva prestação de
serviços, ainda que por terceiros, e que tais serviços se reverteram em benefício da
Administração. STJ. 2ª Turma. REsp 2.045.450-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado
em 20/6/2023 (Info 780).
12. Discorra sobre o regime de duração dos contratos na Lei nº
14.133/2021, respondendo, ainda, se existe hipótese de contratação por
prazo indeterminado e de prorrogação automática do prazo de vigência.
RESPOSTA: “[...] a duração dos contratos será a prevista em edital, devendo ser
observada, no momento da contratação e a cada exercício financeiro, a disponibilidade
de créditos orçamentários, bem como a previsão no plano plurianual, quando
ultrapassar um exercício financeiro (art. 105 da nova Lei de Licitações).
A lei também permite a celebração de contratos com prazo de até 10 anos em algumas
hipóteses de contratação direta por dispensa de licitação previstas no art. 75. Em
resumo, esses casos se referem a: • alta complexidade tecnológica e defesa nacional; •
materiais de uso das Forças Armadas, para fins de padronização (com exceções); •
inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo; •
comprometimento da segurança nacional; • transferência de tecnologia de produtos
estratégicos para o Sistema Único de Saúde (SUS); • insumos estratégicos para a saúde
(vide art. 108).
Ainda, nos contratos que gerem receita e nos contratos de eficiência que gerem
economia para a Administração, os prazos serão de até 10 anos, se não houve
investimento do contratado, e de até 35 anos, nos contratos com investimento (art. 110).
Importante ressaltar que, inovando com relação à Lei nº 8.666/93, na qual há vedação
expressa aos contratos com prazo indeterminado, a Lei nº 14.133/2021 confere a
possibilidade de celebração de contratos por prazo indeterminado nos casos em que a
Administração Pública seja usuária de serviço público oferecido em regime de
monopólio. Ainda assim, deve o poder público comprovar, a cada exercício financeiro, a
existência de créditos orçamentários vinculados à contratação (art. 109).
Recorde-se que a legislação impõe que o contrato apresente cláusula com índice de
reajustamento de preços independentemente do seu prazo de duração, podendo ser
“estabelecido mais de um índice específico ou setorial, em conformidade com a realidade
de mercado dos respectivos insumos” (art. 92, § 3º).
"[...]
Nos termos do voto-vogal proferido no caso, "[...] deve-se possibilitar o trâmite do pedido
de aposentadoria voluntária do impetrante, não sendo razoável permanecer ele
indefinidamente suspenso, até porque, como bem enfatizado no julgamento do RMS
60.493/PR, 'a eventual concessão de aposentadoria ao investigado não ocasiona prejuízo
à Administração, pois, se ao término do PAD for reconhecida a prática de infração punível
com a demissão, poderá ser aplicada a cassação de aposentadoria [...]'".