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E) O prazo de prescrição como previsto na Lei de Improbidade Administrativa –LIA,

alterada pela Lei 14.230/2021 em seu artigo 23 é de 8 (oito) anos, contados a partir da
ocorrência do fato ou, no caso de infrações permanentes, do dia em que cessou a
permanência.
(im)possibilidade de prescrição intercorrente
A regra processual civil de que a prescrição intercorrente somente ocorre quando o
transcurso de tempo se dá em razão da inércia do credor está positivada no artigo 921, §
4-A, do Código de Processo Civil, cuja redação é fruto da lei 14.195/21. Ao ler o
referido dispositivo processual é possível constatar que o legislador foi expresso em
normatizar que no processo de execução, que trata de interesses privados e do
cumprimento de obrigações, não corre prescrição intercorrente desde que o credor
cumpra os prazos previstos na lei processual ou fixados pelo juiz.
Todavia, essa condicionante acerca da inércia do credor/autor não consta na Lei de
Improbidade Administrativa, onde o legislador limitou-se a fixar os marcos
interruptivos de prescrição.
Assim, a prescrição intercorrente não deve ser vista pelo restrito horizonte dos
interesses privados e disponíveis da parte autora/credora, mas sim dentro de um
universo maior, que é a limitação ao direito de punir do estado, onde a dignidade da
pessoa humana e a segurança jurídica se amalgamam a princípios gerais de direito, de
ordem primária inclusive.
Nesse contexto, o espelho da prescrição intercorrente em âmbito da improbidade
administrativa é sistema previsto pelos art. 109, 110 e 117 do Código Penal, onde,
decorrido o lapso previsto, seu reconhecimento é de rigor. Ou seja, pela
correspondência sistemática que liga esses ramos do direito, não restam dúvidas que
esses são os vetores para a melhor exegese do artigo 23, § 4º, da lei 8.429/92 e
consequente aplicação das regras de prescrição intercorrente ao presente caso.
Também é preciso reafirmar que a prescrição é matéria de ordem pública, de
modo que voltam os olhos ao artigo 23, § 8º, lei 8.429/92, onde há a advertência de que
a prescrição intercorrente deverá ser reconhecida de ofício ou por força de manifestação
da parte.
Com efeito, a prescrição é norma de direito material, o que significa dizer que
tem aplicação imediata ex vi do artigo 6º da Lei de Introdução às Normas do Direito
Brasileiro.
E se a Lei de Improbidade Administrativa está inserida no sistema limitador do
jus puniendi do estado, logo, é atraído aos autos o princípio novatio legis in mellius,
que consiste na aplicação da lei mais benéfica a fatos passados conforme a garantia
prevista no artigo 5º, inciso XL, da Constituição Federal.
Especificamente sobre a aplicação retroativa da Lei de Improbidade, o TJ de
São Paulo, recentemente, decidiu que "A alteração legislativa retroage para alcançar os
fatos aqui discutidos, já que ao sistema de improbidade aplicam-se os princípios do
direito administrativo sancionador (art. 1º, § 4º da lei 8.429/92, com redação incluída
pela lei 14.230/21).
Do mesmo modo, também já se decidiu que "Se lei posterior mais benéfica
prevê um prazo menor para a prescrição intercorrente da pretensão punitiva, esta norma
deve ter aplicação plena mesmo para fatos anteriores ao início de vigência da norma".
Diante de um caso concreto, em que tenham decorrido 4 ou mais anos do
ajuizamento e a ação ainda esteja em trâmite no primeiro grau de jurisdição, operou-se,
de per si, pela prescrição intercorrente, a extinção da punibilidade da pessoa processada
por improbidade administrativa, e o Estado, por este transcurso do prazo razoável para o
processo, não tem mais o direito de puni-la a tal título, cumprindo seja assim declarado
pela autoridade judicial condutora do processo, independentemente de requerimento da
parte interessada ou de posicionamento avesso do Ministério Público, salvo se pautado
em equivocada contagem do lapso temporal prescricional.
Portanto, atingindo e desconstituindo a pretensão sancionadora estatal, a
prescrição é de ordem pública e deve ser declarada de ofício, com preferência a
qualquer outra articulação ou requerimento das partes, na linha do art. 61 do CPP. A
única exigência é de formalidade, prevista no § 8º do art. 23: o juiz ou tribunal, antes de
reconhecer a prescrição intercorrente da pretensão sancionadora, deve ouvir o
Ministério Público. Condicionar-se o reconhecimento judicial da prescrição
intercorrente à inércia injustificada do autor, implicaria em violação ao princípio da
legalidade, pela inserção de elemento redutor do alcance e não constante dos comandos
do art. 23 e §§ da Lei da Improbidade Administrativa. Ademais, a prescrição é
fenômeno que se caracteriza tão só pela fluência do respectivo prazo, despido de
qualificações.
Feitas essas considerações, tem-se que a aplicação da prescrição intercorrente,
ainda que de forma retroativa, decorre do próprio sistema jurídico que, como dito, preza
pelos princípios da dignidade da pessoa humana, da proporcionalidade, da
razoabilidade, da legalidade, da ampla defesa e da duração razoável do processo.

(im)prescritibilidade do ressarcimento ao erário

As alterações propostas no PL nº 1.484/2021, assinado pelo Deputado Federal


Guiga Peixoto (PSL-SP) e ainda pendente de apreciação pela Comissão de Constituição
e Justiça e Cidadania, ostentam um fim claro, qual seja o de positivar o enunciado da
tese de imprescritibilidade das ações de ressarcimento ao erário por ato (doloso) de
improbidade administrativa, alcançado a partir do julgamento, pelo Supremo Tribunal
Federal, do Tema nº 897 de Repercussão Geral (Recurso Extraordinário nº 852.475. O
Supremo Tribunal Federal reconheceu repercussão geral acerca da prescrição da ação de
ressarcimento do dano em razão de improbidade administrativa (Tema 897).
Contudo, diante desse recente frenesi legislativo sobre a matéria, e
considerando a iminência de modificações significativas na LIA pelos citados projetos
de lei, o questionamento que surge – em meio a tantos outros – é: ainda que o propósito
de proteção à coisa pública seja nobre, à luz do artigo 37, § 5º, da Constituição de 1988
(CF), a Lei de Improbidade Administrativa comporta tratar dos prazos de prescrição (ou
da imprescritibilidade) para as ações de ressarcimento por danos ao erário decorrentes
da prática de ato de improbidade administrativa?
Dispõe o artigo 37, parágrafo 5º, da Constituição Federal: “A lei estabelecerá
os prazos de prescrição para ilícitos praticados por qualquer agente, servidor ou não,
que causem prejuízo ao erário, ressalvadas as respectivas ações de ressarcimento”.
Essa matéria, no entanto, vem sendo objeto de novos debates. Isso porque, no
julgamento do Recurso Extraordinário 669.069, o Supremo Tribunal Federal firmou a
tese de repercussão geral no sentido de que “é prescritível a ação de reparação de danos
à Fazenda Pública decorrente de ilícito civil”.
Esse enunciado, todavia, não é aplicável a ações que busquem o ressarcimento
ao erário em decorrência de ato de improbidade administrativa, conclusão que pode ser
extraída da leitura das discussões então travadas naquela corte. É de se lembrar que o
ministro Dias Toffoli, que integrou a maioria do colegiado (vencido apenas o ministro
Edson Fachin), esclareceu que o caso concreto em julgamento (acidente de veículo) não
era daqueles ao abrigo do citado artigo 37, parágrafo 5º, da Constituição Federal: “Não
há no tema de fundo discussão quanto à improbidade administrativa nem mesmo de
ilícitos penais que impliquem em prejuízos ao erário ou, ainda, das demais hipóteses de
atingimento o patrimônio estatal nas suas mais variadas formas”.
Em vista disso, o artigo 23, da LIA, em seus incisos, estabeleceu os prazos de
prescrição para a proposição das ações destinadas a levar a efeito as sanções previstas
no próprio diploma, não tratando, porém, especificamente da questão do ressarcimento
ao erário.
Isso posto, aquela ressalva flagrada no trecho final da redação do artigo 37, §
5º, CF é, ainda hoje, o cerne de uma polêmica jurisprudencialmente apaziguada – com o
julgamento do Tema nº 897 pelo STF, mas ainda muito latente no campo doutrinário,
tendo em vista o viés subjetivista axiológico adotado pela Corte Constitucional naquele
exercício jurisdicional.
Por fim, para a apertada maioria de Ministros do STF favoráveis à
imprescritibilidade, a redação do artigo 37, § 5º, CF, seria autossuficiente para
sedimentar a incolumidade das ações de ressarcimento ao erário por ato doloso de
improbidade administrativa ao decurso do tempo.

https://www.migalhas.com.br/depeso/362842/prescricao-intercorrente-em-improbidade-
administrativa
https://brennerdemorae.jusbrasil.com.br/artigos/1337411096/improbidade-
administrativa-e-prescricao-intercorrente
https://www.conjur.com.br/2016-jul-27/acao-ressarcimento-erario-imprescritibilidade
https://jus.com.br/artigos/91600/prescritibilidade-das-acoes-de-ressarcimento-ao-erario-
e-as-possiveis-alteracoes-legislativas

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