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REFORMA DO CPC

O NOVO REGIME DO AGRAVO –LEI N. 11.187, DE 19.10.2005

I – INTRODUÇÃO

Antes de enfocarmos, diretamente, o Novo Regime do Agravo, em face das

modificações introduzidas em nossos sistema processual civil recursal pela Lei n.

11.187, de 19.10.2005, teceremos algumas considerações sobre o valor do tempo

no processo.

A abordagem que ora fazemos cuida da crise pela qual passa o processo, não

obstante mais de duzentos anos de sua consagrada autonomia científica, com apego

à valorização que damos as conclusões[i] que Paulo Hoffman, doutorando e mestre

em Processo Civil pela PUC, assume, em sua tese de mestrado intitulada “Razoável

Duração do Processo”, publicada pela Editora Quartier Latin do Brasil, 2006, pp.214

e seguintes. Entre elas, destacamos as que afirmam:

a) “A celeridade é resultado inexorável da desmistificação do processo, para

que seja calcado na oralidade, simplicidade e informalidade, buscando sempre que

possível, a conciliação entre as partes. Outrossim, fazemos novamente a ressalva de

que não se pode, á custa de um processo mais célere, afrontar as garantias do

devido processo legal nem gerar insegurança para as partes, tampouco forçá-las a

compor-se contra a vontade. Tanto é inaceitável um processo extremamente

demorado como aquele injustificavelmente rápido e precipitado, no qual não há

tempo hábil para produção de provas e alegações das partes, com total cerceamento

de defesa”.
b) “Nosso posicionamento é cristalino no sentido de que o Estado é

responsável objetivamente pela exagerada duração do processo, motivada por culpa

ou dolo do juiz, bem como por ineficiência da estrutura do Poder Judiciário, devendo

indenizar o jurisdicionado prejudicado – autor, réu, interveniente ou terceiro

interessado -, independentemente de sair-se vencedor ou não na demanda, pelos

prejuízos materiais e morais”.

c) “Para definição de prazo razoável não nos parece adequado qualquer outro

critério que não a análise de cada caso concreto, tal qual o excelente critério da

posta in gioco, estabelecido pela Corte Européia dos Direitos do Homem, que, como

já afirmado, julga a infração ao direito do término do processo em prazo razoável e

sem dilações indevidas e o próprio valor da indenização com base nos seguintes

critérios: a) complexidade do caso; b) comportamento das partes; c) atuação dos

juízes, dos auxiliares e da jurisdição”.

Complementando as idéias acima apresentadas e, como última mensagem,

lembramos o afirmado,com muita precisão, por Jacqueline Mielke Silva e José Tadeu

Neves Xavier, ob. cit., pp. 19 e 20:

“A função básica do direito é criar institutos, institucionalizar determinados

valores, mas com a consciência de que, em pouco tempo, essas valores virão a se

modificar, por serem efêmeros.

Assim, no mundo globalizado, as decisões precisam ser tomadas de maneira

urgente, mais rápidas, dificultando a idéia do questionamento, que tem que ligar o

passado e, concomitantemente, desligá-lo, assim como relacionar o futuro e desligá-

lo também ao mesmo tempo.

Dessa forma, um dos desafios que se apresenta no contexto atual é pensar o

‘tempo’ dentro dessa nova forma de sociedade.

Diante do exposto, observa-se que o Processo Civil atual não pode conviver

com procedimentos que demandem longa duração, devendo se adaptar às exigências


de celeridade da sociedade, sempre observando princípios éticos e morais. Este e o

principal desafio do Direito Processual Civil contemporâneo”.

Diante do quadro doutrinário acima elaborado, resta investigar se a onda

reformista que invadiu o ordenamento jurídico formal civil brasileiro, nos últimos

anos, está contribuindo para que a crise da entrega da prestação jurisdicional seja

atenuada, aproximando-se da vontade presente no inciso LXXVIII, incluído no art. 5º

da CF, por força da Emenda Constitucional n. 45, de 8 de dezembro de 2004: “a

todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do

processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação”.

É cedo para ser feita uma afirmação positiva ou negativa. Proclamamos,

apenas, que o otimismo não invadiu, em grande escala, a compreensão que fazemos

no sentido de que as reformas pontuais feitas no Código de Processo Civil,

especialmente, as dos últimos três anos, alcancem a vontade querida pela

Constituição Federal, em nível de direito fundamental da cidadania.

Após essas considerações, passamos a comentar a formatação do agravo no

Direito Processual Civil, na quadra atual (março de 2007).

REFERÊNCIAS

[i] Destacamos apenas algumas.

2. A NOVA DISCIPLINA DO AGRAVO E A SUA CONTRIBUIÇÃO PARA

SOLUÇÃO RAZOÁVEL DO PROCESSO

As reflexões introdutoras dos itens acima pretendem chamar a atenção do

leitor para definir se, realmente, a nova sistemática adotada para o agravo pela

reforma anunciada, está em harmonia com a vontade constitucional.


Na linha da esquematização elaborada para o presente trabalho, passamos a

analisar a nova disciplina aprovada pela Lei n. 11.187, de 19.10.2005, em vigor

desde 20.01.2006, para o agravo, sempre com o sentido de observar se as

modificações introduzidas estão em harmonia com a destinação constitucional que

passou a considerar a razoável duração do processo como um direito de natureza

fundamental.

O agravo, em nosso sistema processual civil atual, apresenta-se configurado

em duas modalidades, a saber:

a) O agravo retido que passou a ser considerado como regra geral. Está

presente no Código de Processo Civil sob duas formas: escrito e oral.

b) O agravo de instrumento que só será permitido:

b.1) quando a decisão interlocutória for capaz de provocar lesão grave à parte

e de difícil reparação;

b.2) contra a decisão que julgar a liquidação da sentença (por arbitramento

ou por artigos) (art. 475-H (Lei n. 11.232, de 22.12.2005, em vigor seis meses

depois);

b.3) nos casos de inadmissão de apelação;

b.4) nos casos relativos aos efeitos em que a apelação é recebida, isto é,

concedendo-lhe, indevidamente, efeito suspensivo;

b.5) nos casos de julgamento da impugnação à sentença executada (art. 475

M, § 3º), salvo quando importar extinção da execução, caso em que caberá

apelação;

b.6) contra a decisão que concede ou denega os efeitos antecipados da tutela

(art. 273);

b.7) contra liminares concedidas em processo coletivo;

b.8) em decisão interlocutória proferida em sede de audiência de instrução e

julgamento que cause grave lesão e de difícil reparação à parte.


O panorama suso descrito demonstra que a sistemática adotada pelo

legislador para o agravo em nosso ordenamento jurídico formal não tem

características de simplicidade. Embora não seja de natureza complexa, evidencia-

se, contudo, como recurso dotado de dificuldades para o seu processamento,

constituindo-se, portanto, em um obstáculo para que o processo apresente, em

prazo razoável, uma solução definitiva para a lide.

2.1 – AGRAVO RETIDO ORAL.

O agravo retido oral, uma das duas formas do agravo retido, está prestigiado

pelo legislador. Ele é permitido contra as decisões interlocutórias proferidas na

audiência de instrução e julgamento. Deve ser interposto imediatamente. Não no

prazo de 10 (dez ) dias (prazo comum para o agravo retido não oral e para o agravo

de instrumento ( art. 522, caput).

Identifica-se como decisão sujeita ao agravo retido oral, por exemplo: a)

decisão de rejeição de contradita (art. 414); b) deferimento ou indeferimento de

inquirição de testemunha referida; c) deferimento ou indeferimento de acareação

(art. 418).

Ocorrerá a preclusão se o agravo retido oral não for apresentado

imediatamente, isto é, antes do prosseguimento do próximo ato em audiência. Não

se deve, portanto, aguardar o fim da audiência. Ex.: Se o juiz indefere a contradita ,

o agravo oral deverá ser interposto antes de ser tomado o termo de compromisso da

testemunha. As razões do agravo oral devem ser resumidas e tomadas por termo.

O agravo oral só cabe nas audiências de instrução e julgamento. Não é

cabível na audiência preliminar (art. 331), na audiência para justificação. Não cabe,

após interposto o agravo retido oral, retificar ou emendar as razões.


O agravo retido oral já existia antes da reforma indicada pela Lei n. 11.187,

de 19.10.2005. Era ele permitido contra a decisão interlocutória proferida na

audiência de instrução e julgamento. A modificação introduzida está concentrada no

fato de que o agravo retido oral deverá ser apresentado imediatamente após a

decisão proferida pelo juiz na audiência.

Rodrigo Cunha Lima Freire, co-autor da obra Reforma do CPC, RT, pg. 52,

entende que o sistema criado pela reforma para o agravo retido oral pode criar

imensas dificuldades para a celeridade do processo em primeira instância. São suas

as observações seguintes:

“A regra resgata o princípio da oralidade em sentido estrito, mas na prática

pode criar sérios empecilhos à economia e à celeridade do processo em primeira

instância, pois a necessidade da apresentação oral das razões e das contra-razões

em audiência de instrução e julgamento estenderá demasiadamente o tempo de

duração desta, especialmente se o juiz aplicar por analogia o prazo do debate oral

previsto no art. 454 do CPC – ‘20(vinte) minutos para cada um, prorrogável por 10

(dez), a critério do juiz’”.

A doutrina está voltada para fixar entendimento uniforme sobre a exigência

de que o agravo retido oral seja interposto imediatamente. Qual o sentido jurídico do

que seja imediatamente? É esta a pergunta que está sendo feita.

Rodrigues Cunha Lima, ob. cit., p.53, entende que “....o vocábulo

imediatamente deve ser interpretado sem sentido amplo, admitindo-se a

interposição oral do agravo retido até o encerramento da audiência de instrução e

julgamento, ainda que o juiz tenha proferido a decisão interlocutória no seu início”. O

referido doutrinador sugere, apenas, que em determinadas situações, o agravo seja

interposto imediatamente após a prolação da decisão, “para que o juiz possa se

retratar –se for o caso – de forma tempestiva”. Cita, como exemplo, ‘o agravo contra

a decisão pela qual o juiz não permitiu a oitiva de uma testemunha”.


Jacqueline Mielke Silva e José Tadeu Neves Xavier, ob. cit., pp. 30 e 31,

observam que o agravo retido oral contra decisão proferida em audiência, como

instituído pela lei reformista, apresenta alguns problemas. Analisa-os do modo a

seguir exposto:

“O primeiro deles diz respeito a que, a partir do momento, em que a parte

deve interpor o recurso na própria audiência de instrução e julgamento, estar-se-ia

lhe retirando 10 dias de prazo (o agravo retido também tem o prazo de 10 dias, nos

termos do art. 522), circunstância essa que viola o artigo 5º, inciso LV da

Constituição Federal, eis que implica flagrante cerceamento de defesa. Por outro

lado, no tocante a esta problemática, é de se perguntar qual será o prazo do

agravado para apresentar contra razões? Deverá ele apresentá-las na própria

audiência ou ser-lhe-á aplicado o prazo do art. 523, § 2º do CPC, que é de 10 (dez

dias)? Em sendo reconhecida a inconstitucionalidade da alteração legislativa, não há

qualquer dúvida de que se deva aplicar o § 2º do artigo 523 do CPC. Todavia, em

sendo reconhecida a sua constitucionalidade, não há como aplicar-se este dispositivo

legal, face ao princípio da igualdade, previsto no caput do artigo 5º da Constituição

Federal. Assim, deverá o agravado – em ocorrendo esta hipótese – apresentar

contra-razões ao agravo retido na própria audiência de instrução e julgamento, sob

pena de preclusão”.

Entendemos que a questão do prazo para interpor o agravo retido oral, em

audiência, bem como o de apresentar contra-razões, de acordo com a pregação da

lei, deve ser interpretado com a aplicação do princípio de que o processo há de ter

uma solução em tempo razoável. Primeiramente, pensamos que a modificação

introduzida não afronta ao devido processo legal. Há de se ter em consideração que

a decisão do juiz foi levada ao conhecimento das partes, de modo indubitável, em

audiência, de modo oral. Autor e réu, por seus advogados, tomaram ciência de seus

efeitos e estão aptos, conseqüentemente, para analisá-las em toda a sua extensão


jurídica. Nenhuma surpresa é imposta aos litigantes. Consolidado esse

entendimento, a metodologia do agravo oral é adotada, de modo simplificado, sem

qualquer prejuízo para a solução da lide, cumprindo-se, portanto, o verdadeiro

sentido da norma.

Sobre o agravo oral retido, colhemos interessante observação feita por

Guilherme Henrique Martins Moreira, advogado, em artigo intitulado “O Agravo retido

no julgamento da remessa necessária”, inserido no site http://www.viajus.com.br,

acessado em 30.03.2007, onde é feita a análise que passamos a transcrever:

“Controvérsia a respeito do texto anterior do art. 523, do CPC, cingia-se sobre

a possibilidade da interposição oral do agravo retido. Os que viam a impossibilidade

de tal ocorrer, argumentavam que a legislação era expressa em reconhecer que o

agravo teria que ser por ‘petição’, impedindo, assim, que fosse feito por termo nos

autos.

Embora a lei seja extremamente clara, ‘a prática tem demonstrado, não

obstante, que a interposição do agravo retido, por termo na audiência, é expediente

que atende ao princípio da economia processual, não havendo, nessa atitude, algo

que possa prejudicar o bom andamento da causa’ .

Mais uma vez a legislação foi aprimorada para que comportasse, de forma

expressa, a possibilidade de se interpor o agravo retido oralmente. Assim, a Lei nº

9.139/95 veio modificar o § 3º, do art. 523, do CPC, que passou a dispor da seguinte

maneira: ‘Das decisões interlocutórias proferidas em audiência admitir-se-á

interposição oral do agravo retido, a constar do respectivo termo, expostas

sucintamente as razões que justifiquem o pedido de nova decisão’.

Podia o agravo oral ser interposto em qualquer audiência, seja ela de

conciliação, seja preliminar, seja de instrução e julgamento.

Questionou-se, tanto na doutrina quanto na jurisprudência, se seria opção do

agravante interpor o agravo retido oralmente ou por petição, ou se seria obrigatório


a interposição oral. Há quem sustentasse a obrigatoriedade da interposição oral do

agravo retido, pena de preclusão da matéria decidida .

Não obstante reconheça-se a relevância dos argumentos de tal entendimento,

entende-se de maneira contrária. Com efeito, o art. 245, caput, do CPC, determina

que a nulidade dos atos deve ser alegada na primeira oportunidade que a parte tiver

para falar nos autos, sob pena de precluir o direito de fazê-lo. De tal forma que se

concorda com a lição de Humberto Theodoro Júnior , pela qual, tratando-se de

decisão a respeito de nulidade processual deverá a parte alegá-la na primeira

oportunidade que tem para falar nos autos, que seria na própria audiência, por meio

de agravo retido interposto oralmente. Em outros casos que não de nulidade de atos

processuais, cabe a parte optar pelo agravo retido por petição ou oral.

Com efeito, toda essa discussão caiu por terra. A partir de janeiro de 2006, de

toda decisão proferida em audiência somente será cabível o agravo retido, como já

está previsto, com a mudança de que será, sempre, obrigatoriamente oral”.

A determinação de que deve ser interposto, imediatamente, o agravo contra

as decisões interlocutórias proferidas em audiência de instrução e julgamento conduz

o intérprete a entender que uma terceira forma desse recurso foi criada pelo

legislador. Essa é, por exemplo, a opinião de Antônio Aguiar Bastos, mestrando em

Direito Público pela Universidade Federal da Bahia, conforme registrado no artigo de

sua autoria “Uma leitura crítica do novo regime do agravo no direito processual civil

brasileiro”, inserido no site

http://www.unifaes.br/revistajuridica/edicao_janeiro2006/docente/doc_01.doc, ao

afirmar:

“ Ao modificar o § 3º e ao revogar o § 4º, do art. 523, do CPC, o legislador

parece ter concebido uma “terceira” e conturbada figura, que, a nosso ver, mais

causa tumulto processual do que propicia a almejada celeridade: o agravo retido,

oral e imediato, contra decisões interlocutórias proferidas em audiência de instrução


e julgamento, distinguindo-o substancialmente dos agravos de instrumento e retido

cabíveis contra as demais interlocutórias”.

Merece destacar que o citado autor considera essa terceira forma uma figura

conturbada e que provocará tumulto processual, indo de encontro à filosofia atual de

ser imposta celeridade ao processo.

As razões desse posicionamento de Antônio AguIar Bastos são as seguintes:

“A sistemática anterior determinava (i) que, das decisões interlocutórias

proferidas em audiência de instrução e julgamento e das posteriores à sentença,

cabia somente o agravo retido (§ 4º), exceto nos casos de dano de difícil e de

incerta reparação, nos de inadmissão da apelação e nos relativos aos efeitos em que

a apelação é recebida; e (ii) das decisões proferidas em audiência (qualquer que

fosse ela), admitia-se a interposição oral do recurso, a constar do termo da

audiência, com a sucinta exposição das razões justificadoras do pedido de nova

decisão (§ 3º).

A imposição da forma retida como regra (excepcionadas as situações que

possam causar dano de difícil ou incerta reparação), com a inadmissibilidade do

agravo de instrumento em relação às decisões proferidas em audiência de instrução

e julgamento[i], foi modificação empreendida pela Lei n.º 10.352/2001, com o fito

de imprimir velocidade ao processo, devolvendo a matéria impugnada ao Tribunal

somente em preliminar de apelação, o que evita a suspensão do feito para a

apreciação da questão incidental pela 2ª Instância[ii], dada a proximidade da

prolação da sentença.

O regramento não ofendia o contexto do recurso. Primeiramente, porque

admitia o agravo de instrumento em casos de risco de dano de difícil e incerta

reparação. Em segundo lugar, porque facultava ao sucumbente a interposição do

agravo retido no prazo de 10 (dez) dias, por escrito, como estatuía a antiga regra

geral do art. 522, do CPC, ou a imediata insurgência, oral, contra a interlocutória


vergastada. Admissão, na dicção anterior do dispositivo, era sinônimo de permissão.

Uma alternativa a mais para o agravante. Não uma vedação, nem uma limitação à

sistemática ordinária. Assim entendia a doutrina antes da reforma aqui comentada:

Em virtude da inovação operada no § 4º do art. 523, ficou determinada, ex

lege, a obrigatoriedade da forma retida para o agravo contra as decisões proferidas

na audiência de instrução e julgamento. Isto, porém, não obriga a forma oral.

Mesmo retido o agravo, sua interposição poderá, a critério da parte, se dar por

petição (art. 522). A diferença é que, sob a forma oral, o recurso terá de ser

interposto no curo da própria audiência (art. 523, § 3º); e, se se adotar a forma

escrita a parte poderá agravar até dez dias após o encerramento da audiência (art.

523) (THEODORO JÚNIOR, 2005, p. 642)”.

Depois de citar alguns precedentes jurisprudenciais confirmando o acima

expostos, prossegue o autor tecendo outras considerações sobre o novo regime do

agravo oral. Em síntese, afirma:

a) ser peculiar o regramento atual do agravo retido contra as decisões

proferidas em audiência de instrução e julgamento, haja vista não seguir a disciplina

da regra geral para esse tipo de recurso;

b) só caber agravo retido oral contra as decisões proferidas em audiência de

instrução e julgamento, pelo que, em se tratando dos outros tipos de audiência, o

agravo deverá ser por escrito e no prazo de dez dias;

c) das decisões proferidas em audiência de instrução e julgamento poderá ser

interposto agravo de instrumento, no caso de risco de dano de difícil ou incerta

reparação;

d) não obstante o sistema do agravo oral retido em questão acenar para

celeridade dos atos processuais, pode haver retardamento da entrega da prestação

jurisdicional, por alguns questionamentos que poderão surgir, por o agravo retido

oral ser interposto imediatamente após ao proferimento da decisão em audiência,


portanto, não se aguarda o término da mesma, a demonstrar que “o legislador

olvidou que a audiência é um ato jurídico-processual complexo. Composta por

momentos distintos e inúmeros atos, ela está sujeita a uma série de intercorrências,

que vão da fixação dos pontos controvertidos sobre que incidirá a prova (art. 451),

até o indeferimento da contradita de uma testemunha ou de questões técnicas

ligadas ao esclarecimento da prova pericial. Todas essas decisões a desafiar o agravo

imediato, comprometendo a viabilidade da própria assentada. Não se pode deixar de

lado todas as dificuldades envolvidas no ato processual audiência, a exemplo da

presença não só do magistrado, das partes e de seus advogados, mas também das

testemunhas, dos peritos e dos assistentes técnicos. Além de ser necessário intimar

a todos, a ausência de um deles, ou a sua intimação tardia, pode implicar no

adiamento do ato, com a necessidade de convocá-los novamente. A obrigatoriedade

de apresentação do recurso em audiência representa a concentração de atos que

poderiam ser praticados posteriormente sem qualquer prejuízo para o andamento do

processo. A assentada não tem outra finalidade senão a de colher a prova oral e

obter os esclarecimentos acerca da perícia[iii]. Quanto mais ela se estende, mais se

retarda a prestação jurisdicional. Dada a quantidade de decisões e de agravos que

podem ocorrer em certos casos, a assentada poderá ser suspensa, para continuar

em outro dia, prejudicando o andamento processual. Afora isso, não podemos

desconsiderar a realidade forense, cujas pautas de audiências já se encontram

bastante abarrotadas. Melhor do que obrigar a interposição de inúmeros agravos

retidos, contra cada uma das decisões isoladamente, seria facultar a apresentação

do recurso por escrito, nos dez dias anteriormente previstos pela lei, contra todas

elas conjuntamente”.

Lembra, ainda, o autor que o legislador não tratou do lapso temporal para a

apresentação das contra-razões pela parte adversa, pelo que deve valer o decêndio

previsto pelo art. 523, § 2º do CPC.


REFERÊNCIAS

[i] Sobre a inadmissibilidade do agravo de instrumento contra as decisões proferidas em

audiência de instrução e julgamento, Humberto Theodoro Júnior (2005, p. 641) explicava

quando da vigência da Lei n.º 10.352/2001:

Por outro lado, a reforma do § 4º do art. 523 tornou expressa a obrigatoriedade

de ficar retido o agravo interposto contra decisões proferidas em audiência de

instrução e julgamento. O caso não é, pois, de faculdade do recorrente. Todas

as decisões tomadas pelo juiz no correr da audiência terão de ser impugnadas

por agravo retido. É a proximidade da sentença que desaconselha a formação

do instrumento. A solução da causa pode prejudicar o agravo; se assim não

for, o agravo subirá juntamente com a apelação.

A jurisprudência também já havia assentado o seguinte entendimento:

De acordo com o Tribunal local, 'contra as decisões proferidas em audiência, o

recurso cabível é o de agravo retido e não o de instrumento'. Em tal aspecto,

não se ofendeu texto de lei federal.

‘Inadmissível recurso especial quanto à questão que, a despeito da oposição de

embargos declaratórios, não foi apreciada pelo tribunal ‘a quo’ (Súmula 211).
Agravo regimental improvido. (AgRg-AI nº 197250/RJ, 3ª Turma, Rel. Min.

Gilson Dipp, p. no DJU de 21.02.2000, p. 121).

AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO DE INDENIZAÇÃO – OITIVA

DE TESTEMUNHAS – INTIMAÇÃO - DILIGÊNCIA – DECISÃO

INTERLOCUTÓRIA PROFERIDA EM AUDIÊNCIA – AGRAVO RETIDO

– IMPROPRIEDADE DO RECURSO – NÃO CONHECIMENTO.

Não se pode conhecer do agravo de instrumento interposto impropriamente,

sendo certo que as decisões interlocutórias proferidas em audiência desafiam

recurso de agravo retido. Inteligência do § 4º do artigo 523, do Código de

Processo Civil, com a redação dada pela Lei 10352/2001. (Ag.Inst. 419.145-1)

(AI n.º 2.0000.00.516861-0/000 – TJMG – 12ª Câmara Cível – Rel. Des.

Antônio Sérvulo – j. 28.09.2005).

AGRAVO DE INSTRUMENTO CONTRA DECISÃO INTERLOCUTÓRIA

- FALTA DE PREVISÃO LEGAL - CABIMENTO DO AGRAVO RETIDO

- DESCABIMENTO - NEGADO PROVIMENTO AO RECURSO.

Com o advento do novo sistema do agravo, o recurso cabível contra decisão

interlocutória proferida em audiência no curso do processo é o agravo retido.


Recurso improvido (AI n.º 8.216 – TJMT – 2ª Câmara Cível – Rel. Des.

Odiles Freitas Souza, j. 10.03.1998).

[ii] Os referidos §§ 3º e 4º, do art. 523, haviam sido inseridos no ordenamento pela Lei

n.º 9.139/1995, com as seguintes redações:

§ 3º. Das decisões interlocutórias proferidas em audiência admitir-se-á

interposição oral do agravo retido, a constar do respectivo termo, expostas

sucintamente as razões que justifiquem o pedido de nova decisão.

§ 4º. Será sempre retido o agravo das decisões posteriores à sentença, salvo

caso de inadmissão da apelação.

Posteriormente, a Lei n.º 10.352/2001 modificou este último comando, que passou a

estatuir:

§ 4o. Será retido o agravo das decisões proferidas na audiência de instrução e

julgamento e das posteriores à sentença, salvo nos casos de dano de difícil e

de incerta reparação, nos de inadmissão da apelação e nos relativos aos efeitos

em que a apelação é recebida.

[iii] É o que diz Humberto Theodoro Júnior (2005, p. 526):


Pela sistemática do Código, a audiência só é, entretanto, indispensável quando

haja necessidade de prova oral ou esclarecimentos de perito e assistentes

técnicos. Fora desses casos, o julgamento da lide é antecipado e prescinde da

solenidade da audiência (art. 330).

O NOVO REGME DO AGRAVO – LEI N. 11.187, DE 19.10.2005


(CONTINUAÇÃO)

CONVERSÃO DO AGRAVO DE INSTRUMENTO EM AGRAVO RETIDO E -


IRRECORRIBILIDADE DA DECISÃO LIMINAR PROFERIDA NO AGRAVO DE
INSTRUMENTO, PELO RELATOR, NOS CASOS DOS INCISOS II E III DO ART.
527 DO CPC.

1. CONVERSÃO DO AGRAVO DE INSTRUMENTO EM AGRAVO RETIDO.

Passamos, agora, a tratar da conversão do agravo de instrumento em agravo

retido.

O art. 527, II, em sua redação atual, estabelece um novo sistema para a

conversão do agravo de instrumento em agravo retido.

Antes da reforma atual (Lei n. 11.187, de 19.10.05), o inciso II, do art. 527,

do CPC, de conformidade com a Lei n. 10.352, de 26.12.01, tinha a seguinte

redação: “Art. 527, II: Recebido o agravo de instrumento no tribunal, e distribuído

“incontinenti’, o relator: I...; II – poderá converter o agravo de instrumento em

agravo retido, salvo quando se tratar de provisão jurisdicional de urgência ou houver

perigo de lesão grave e de difícil ou incerta reparação, remetendo os respectivos

autos ao juízo da causa, onde serão apensados aos principais, cabendo agravo dessa

decisão ao órgão colegiado competente;....”

O inciso II, do art. 527, na sua redação atual (Lei n. 11.187, de 19.10.2005),

determina que o relator, em segundo grau, “converterá o agravo de instrumento em


agravo retido, salvo quando se tratar de decisão suscetível de causar à parte lesão

grave e de difícil reparação, bem como nos casos de inadmissão da apelação e nos

relativos aos efeitos em que a apelação é recebida, mandando remeter os autos ao

juiz da causa”.

A doutrina tem comentado essa transformação, ora visualizando como

positiva, ora impondo algumas críticas.

Flávio Cheim Jorge, em “A Terceira Etapa da Reforma Processual Civil”,

Editora Saraiva, pp. 238 e 239, analisa essa nova disciplina da conversão do agravo

de instrumento em agravo retido com a argumentação que nada foi modificado,

conforme passamos a registrar:

“Uma primeira análise da modificação do inciso II do art. 527, levaria à

impressão de que o legislador teria ampliado as hipóteses de impossibilidade de

conversão do agravo de instrumento em retido. Contudo, não houve qualquer

alteração neste particular. Nestas duas outras hipóteses agora excepcionadas

(decisão que não conhece da apelação e aquela relativa a seus efeitos) já era

impossível a citada conversão, por uma razão intransponível: faleceria interesse

recursal à parte na interposição do agravo retido.

Como exposto acima, somente deve sr aceita a conversão do agravo de

instrumento em agravo retido quando este puder proporcionar à parte a reforma de

decisão recorrida. Se este não puder ser admitido, por falta de um dos requisitos de

admissibilidade, de nada adiantará a sua conversão. Assim, o que fez o legislador foi

apenas explicitar algo que já deveria ser obrigatoriamente analisado pelo relator.

De fato, uma leitura pouco atenta e isolada das regras que disciplinam o

recurso de agravo poderia levar à conclusão, equivocada, de que fora das hipóteses

excepcionadas, não poderia deixar de fazer a conversão. Isto é, esta seria

obrigatória, não ocorrendo apenas nas situações taxativamente descritas na norma.


Esse entendimento não pode prevalecer porque contraria a interpretação

teleológica do inciso II do art. 527. Sendo o critério do legislador, para impedir a

conversão, a falta de interesse recursal no agravo retido, necessariamente todas as

situações que assim se apresentam também devem ter o mesmo tratamento. É o

que se expôs nos itens precedentes”.

A transformação do agravo de instrumento em agravo retido tem suscitado,

no campo doutrinário, questões que não podem deixar de ser examinadas com

reflexões voltadas para a adoção de uma interpretação sistêmica e onde deve

prevalecer os objetivos pretendidos alcançar pelo legislador.

Luis Guilherme Aidar Bondioli, em “O Novo CPC e a terceira etapa da

reforma”, São Paulo: Saraiva, 2006, pg. 33, entende que há quatro portas abertas

para a parte agravante tentar levantar a retenção do agravo, não obstante a

determinação contida no parágrafo único do art. 527: “A decisão liminar, proferida

nos casos dos incisos II e III do ‘caput’ deste artigo, somente é passível de reforma

no momento do julgamento do agravo, salvo se o próprio relator a reconsiderar”.

Afirma o mencionado autor:

“Malgrado existam quatro portas abertas para o agravante tentar levantar a

retenção do agravo, uma delas é completamente inútil (reapreciação da retenção por

ocasião do julgamento da apelação) e as outras são bastante estreitas (pedido de

reconsideração, embargos de declaração e mandado de segurança). Essa estreiteza,

conjugada com a inédita concentração de poderes nas mãos do relator, traz riscos,

como já se disse. E uma outra faceta desses riscos está atrelada ao controle da

fundamentação e da validade do pronunciamento de retenção, principalmente na

situação genérica da lesão grave e de difícil reparação”.

As observações acima devem ser consideradas pelos Tribunais, a fim de que

não seja firmado entendimento jurisprudencial em desacordo com os propósitos

veiculados pelo legislador reformista. A tendência de concentração de atribuições nas


mãos do relator não ofende ao devido processo legal quando está ligada à finalidade

de fazer com que o processo tenha duração razoável.

Ainda sobre a transformação do agravo de instrumento em agravo retido,

apresentamos cuidadosas meditações desenvolvidas por Rodrigo da Cunha Lima

Freira, um dos co-autores da obra “Reforma do CPC”, São Paulo: RT, 2006, pp. 56 e

57. Este autor entende que o inciso II do art. 527, na redação atual, tem a função

primordial de:

“a) tornar claro que a atitude do relator não é discricionária; e b) mostrar que

os requisitos necessários e suficientes para a conversão do agravo de instrumento

em agravo retido são a interposição daquele e a inadequação do seu regime ao caso

concreto, não sendo lícito ao relator negar seguimento ao agravo de instrumento,

sem convertê-lo em agravo retido, porque a lei, para determinada situação

específica, prevê o cabimento do agravo retido, vale dizer, a conversão do agravo de

instrumento em agravo retido não decorre da aplicação do princípio da fungibilidade

recursal, mas de expressa previsão legal”.

De tudo exposto, verificamos que Rodrigo Cunha Lima Freire incorpora-se ao

grupo de juristas que entende ser obrigatória a conversão do agravo de instrumento

em agravo retido quando os requisitos para tanto estiverem presentes. Em

conseqüência, o relator só não converterá o agravo de instrumento em agravo retido

quando: a) se tratar de decisão suscetível de causar à parte lesão grave e de difícil

reparação: b) nos casos de inadmissão da apelação; c) nos casos em que o juiz

determina em que efeitos recebe a apelação.

Rodrigo Cunha Lima Freire suscita uma questão que merece a atenção da

doutrina e, com certeza, será muito discutida no campo jurisprudencial. Ela

concentra-se em uma indagação: “o agravado pode requerer a conversão do agravo

de instrumento em agravo retido?”

Responde Rodrigo Cunha Lima Freire, ob. cit., p. 59:


“Antes de ouvir o agravado, o relator certamente terá apreciado os requisitos

para a conversão do agravo de instrumento em agravo retido, mas nada impede que

o agravado, na sua contraminuta, apresente um argumento que convença o relator

da juridicidade da conversão. Pode também ocorrer um fato superveniente que faça

desaparecer a situação de urgência, exigindo a conversão do agravo de instrumento

em agravo retido. Nesse caso o relator, de ofício ou a requerimento do agravado,

aplica o disposto no inciso II do art. 527 do CPC, exceto se a conversão não se

justificar em respeito aos princípios da economia processual e da celeridade

processual”.

Os posicionamentos doutrinários acima referidos denotam que a

jurisprudência há de fixar um rumo ao fenômeno da transformação do agravo de

instrumento em agravo retido que se harmonize com os princípios da segurança

jurídica e da entrega da prestação jurisdicional com celeridade.

2 - IRRECORRIBILIDADE DA DECISÃO LIMINAR PROFERIDA NO

AGRAVO DE INSTRUMENTO, PELO RELATOR, NOS CASOS DOS INCISOS II E

III DO ART. 527 DO CPC.

A Lei n. 11.187, de 19 de outubro de 2005, imprimiu ao parágrafo único do

art. 527, a seguintes redação: “Art. 527, Parágrafo único: A decisão liminar,

proferida nos casos dos incisos II e III do ‘caput’ deste artigo, somente é possível de

reforma no momento do julgamento do agravo, salvo se o próprio relator a

considerar”.

O inciso III do art. 527 admite que o relator atribua efeito suspensivo ao

recurso de agravo, ou defira, em antecipação de tutela, total ou parcialmente, a

pretensão recursal, comunicando ao juiz sua decisão. A redação desse inciso foi

também dada pela Lei n. 11.187, de 19 de outubro de 2005.


Temos, em conseqüência da disciplina ora destacada, a irrecorribilidade da

decisão liminar proferida em sede de agravo de instrumento, só se permitindo a sua

modificação por reconsideração do próprio relator.

O dispositivo em apreço tem gerado controvérsias no campo doutrinário. Há

uma corrente que entende ser inconstitucional essa disposição, face agredir ao juiz

natural que, no caso, é o colegiado. Nesse sentido manifesta-se Bruno Dantas do

Nascimento, em “Inovações na regência do recurso de agravo trazidas pela Lei

11.187;2005, in “Aspectos Polêmicos e Atuais dos Recursos Cíveis”, p. 79 a 82,

citado em nota de rodapé por Luís Rodrigues Wambier, Teresa Arruada Alvim

Wambier e José Miguel Garcia Medina, na obra “Breves Comentários à Nova

Sistemática Processual Civil, já referida, p. 270.

Flávio Cheim Jorge, em “A Terceira Etapa da Reforma Processual Civil”, ob.

cit., pp. 238 e 239, enfrenta a questão da irrecorribilidade das decisões proferidas

pelo relator do agravo de instrumento nas hipóteses dos incisos II e III do art. 527.

Lembra o referido autor que antes da publicação da Lei n. 11.187/2005,

“previa-se expressamente, na parte final do inciso II do art. 527, o cabimento do

agravo interno contra a decisão do relator que determinasse a conversão do agravo

de instrumento em agravo retido”.

Ocorre que, conforme assinala Flávio Cheim Jorge, o legislador reformista

“mudou a redação antes conferida ao citado dispositivo e no parágrafo único

introduzido vedou a recorribilidade da decisão proferida pelo relator”.

Pensa o mencionado autor que “o escopo de tal reforma foi imprimir maior

agilidade no julgamento dos agravos de instrumento, impedindo que seja levado ao

órgão colegiado aquele pronunciamento de determinou sua conversão”.

A conclusão que o mencionado doutrinador firma é na linha de que não lhe

“parece que o parágrafo único do art. 527 comporte interpretação diferente. Ainda

que sejamos rigorosamente contra a modificação introduzida, esta é a vontade do


legislador. Mesmo que sua incidência faça com que haja o retorno da utilização do

mandado de segurança, não se pode pretender interpretar o parágrafo único do art.

527 em decorrência de suas conseqüências”.

Adverte, por fim, Flávio Cheim Jorge, ob. cit., que “....modificação ainda mais

grave consiste na prescrição da irrecorribilidade também para as hipóteses em que o

relator concede ou nega o chamado ‘efeito suspensivo’ ao agravo de instrumento

(art. 527, III). Aqui a irrecorribilidade é ainda mais insustentável porque sempre se

estará diante de hipótese em que se discute a respeito de tutela de urgência,

naturalmente envolta com a ocorrência de dado irreparável ou de difícil reparação”.

Rodrigo Cunha Lima Freire, em “Reforma do CPC”, ob. cit., p. 67, aponta,

com muita veemência, a “inconstitucionalidade da limitação imposta à recorribilidade

das decisões monocráticas proferidas pelos relatores dos recursos, especialmente no

que diz respeito à instabilidade jurídica que proporcionam, oposta à função dos

próprios Tribunais, e ao desprestígio de uma maior justiça, proporcionada pela

colegialidade das decisões, em nome da celeridade, como se esse fosse o único valor

em jogo”.

Essa questão foi abordada por Luiz Fux, em “A Reforma do Processo Civil”,

Editora Impetus, p. 8. Afirma o autor:

“Assim, na esteira do escopo de celeridade e redução recursal, enquadra-se a

irrecorribilidade da decisão monocrática do relator que confere efeito suspensivo ou

ativo ao agravo ou o indefere, bem como da que determina a conversão de um tipo

em outro. O agravo interno ou regimental é substituído pelo pedido de

reconsideração.

Essa novel técnica vai ressuscitar duas questões importantes a saber: 1) a

inconstitucionalidade de eclipsar-se nas mãos do relator um julgamento que deveria

ser colegiado por força da cláusula pétrea da ampla defesa, a qual abarca o duplo
grau de jurisdição e 2) a utilização, outrora promíscua, do mandado de segurança

substitutivo do recurso.

Nada obstante, segundo o legislador, a mola propulsora dessa reforma

pontual foi: ‘o escopo de alterar a sistemática de agravos, tornando regra o agravo

retido, e reservando o agravo de instrumento para as decisões suscetíveis de causar

à parte lesão grave e de difícil reparação, e outras especificadas na redação proposta

da alínea b, do § 4º do art. 523 do Código de Processo Civil’.

Conclui Luiz Fux, em referência aspeada:

“Ademais, prevê que, das decisões dos relatores, ao mandar converter os

agravos de instrumento em retidos, ou ao deferir o chamado efeito ativo, não mais

caberá agravo interno (que, aliás, na segunda hipótese vários tribunais já

atualmente não admitem), sem prejuízo da faculdade de o relator considerar sua

decisão. É interessante evitar a superposição, a reiteração de recursos, que ao fim e

ao cabo importa maior retardamento processual, em prejuízo do litigante a quem

assiste a razão”.

A questão, portanto, está aberta. A jurisprudência irá definir da

constitucionalidade ou não do mencionado dispositivo.

3. SÍNTESE DAS ALTERAÇÕES INTRODUZIDAS NO REGIME DO

AGRAVO PELA LEI N. 11.187, DE 2005.

O nosso propósito, nessa quadra do presente trabalho, é o de apresentar, de

forma resumida, as alterações introduzidas, em nosso ordenamento jurídico, no

regime do agravo. Passamos a fazê-lo.

As alterações da Lei n. 11.187, de 2005, podem ser resumidas no quadro

seguinte:

torna regra geral o agravo retido;


a) o agravo de instrumento só será admitido para as decisões suscetíveis de

causar à parte lesão grave e de difícil reparação, e outras determinadas no art. 522,

caput, do CPC;

b) extingue o agravo interno contra a decisão do relator que determine a

conversão do agravo de instrumento em agravo retido;

c) idem da que decide sobre a antecipação dos efeitos da tutela recursal ou a

concessão de efeito suspensivo ao agravo.

4 – ALGUMAS OBSERVAÇÕES FINAIS, EM FORMA DE ENUNCIADOS,

SOBRE O AGRAVO NA LEGISLAÇÃO ATUAL.

Em termos de conclusão, apresentamos, a seguir, algumas observações em

forma de enunciados, sobre a formatação do agravo na realidade processual atual,

isto é, em março de 2007. Não tenhamos surpresa se, em pouco tempo, o legislador

aprove novas modificações nesse instituto recursal.

As observações elaboradas são:

a) Entende Luiz Rodrigues Wambier e outros, ob. cit., p. 260, que “apesar do

que dispõe a nova redação do § 3º do art. 523, parece-nos que, em se tratando de

decisão suscetível de causar à parte lesão grave e de difícil reparação, ainda que

proferida no curso de audiência de instrução e julgamento, deverá admitir-se a

interposição de agravo de instrumento”.

b) O agravo, desde a vigência do Código de Processo Civil (Lei n. 5.869, de

11.01.71, em vigor desde 01.01.1974 (art. 1.220), tem sido considerado uma das

entidades que mais alterações recebeu.

c) A Lei n. 11.187, de 19 de outubro de 2005, não modificou apenas o art.

522 do CPC. Introduziu alterações, também, nos arts. 523 e 527, revogando, ainda,

o § 4º do art. 523, tudo do Código de Processo Civil.


d) O artigo 523 do CPC, em sua redação originária, (de acordo com a Lei n.

5.869, de 11.01.1973, que institui o referido Código) determinava: “Art. 523. O

agravo de instrumento será interposto no prazo de cinco (5) dias por petição, que

conterá: I – a exposição do fato e do direito: II – a indicação das peças do processo

que devam ser trasladadas. Parágrafo único. Serão obrigatoriamente trasladadas a

decisão recorrida, a certidão da respectiva intimação e a procuração outorgada ao

advogado do agravante, salvo se outra instruir a petição de agravo”.

e) Essa redação primitiva foi alterada antes da entrada em vigor do CPC, em

janeiro de 1974, conforme expressão da Lei n. 5.925, de 1.10.1973. Por esse

diploma legal, o art. 523 passou a ter a seguinte redação: “Art. 523. O agravo de

instrumento será interposto no prazo de cinco (5) dias por petição que conterá: I – a

exposição do fato e do direito: II – as razões do pedido de reforma da decisão; II – a

indicação das peças do processo que devam ser trasladadas. Parágrafo único. Serão

obrigatoriamente trasladadas a decisão agravada, a certidão da respectiva intimação

e a procuração outorgada ao advogado do agravante, salvo se outra instruir a

petição de agravo.

f) O artigo 523 sofre, contudo, radical modificação pela Lei n. 9.139, de

30.11.1995, quando passou a ter a seguinte redação: “Art. 523. Na modalidade de

agravo retido o agravante requererá que o tribunal dele conheça, preliminarmente,

por ocasião do julgamento da apelação. § 1º Não se conhecerá do agravo se a parte

não requerer expressamente, nas razões ou na resposta da apelação, sua apreciação

pelo Tribunal. § 2º Interposto o agravo, o juiz poderá reformar sua decisão, após

ouvida a parte contrária, em 5 (cinco) dias.

g) O mencionado parágrafo 2º recebe, após quase 6 anos de vigência,

alteração em sua redação pela Lei n. 10.352, de 26.12.2001, passando a ser assim

considerado: “§ 2º Interposto o agravo, e ouvido o agravado no prazo de 10 (dez)

dias, o juiz poderá reformar sua decisão.


h) O art. 523 passou a ser composto, em 1995, também por mais um

parágrafo, o 3º, que foi introduzido pela Lei n. 9.139, de 30.11.1995. Segundo esta,

o § 3º do art. 523 passou a ter a seguinte redação: § 3º Das decisões interlocutórias

proferidas em audiência admitir-se-á interposição oral do agravo retido, a constar do

respectivo termo, expostas sucintamente as razões que justifiquem o pedido de nova

decisão.

i) A redação deste § 3º do art. 523 sofre, agora, com a Lei n. 11.187, de 19

de outubro de 2005, nova alteração. Passa a ter a redação seguinte: “§ 3º Das

decisões interlocutórias proferidas na audiência de instrução e julgamento caberá

agravo na forma retida, devendo ser interposto oral e imediatamente, bem como

constar do respectivo termo (art. 457), nele expostas sucintamente as razões do

agravante”.

j) O artigo 523 era composto, ainda, pelo § 4º, Este, de conformidade com a

Lei n. 9.139, de 30.11.1995, que o introduziu, tinha a seguinte redação: “§ 4º Será

sempre retido o agravo das decisões posteriores à sentença, salvo caso de

inadmissão da apelação”. A seguir, a Lei n. 10.352, de 26.12.2001, alterou a

redação do mencionado § 4º. Passou a ser a seguinte: “Será retido o agravo das

decisões proferidas na audiência de instrução e julgamento e das posteriores à

sentença, salvo nos casos de dano de difícil e de incerta reparação, nos de

inadmissão de apelação e nos relativos aos efeitos em que a apelação é recebida”.

k) O parágrafo 4º do art. 523 foi revogado pela Lei n. 11.187, de 19 de

outubro de 2005. A matéria por ele disposta está inserida, implicitamente, no caput

do art. 523.

REFORMA DO CPC (continuação)

ENUNCIADOS SOBRE O ATUAL REGIME DO AGRAVO EM NOSSO

ORDENAMENTO JURÍDICO.
O atual regime do agravo (MARÇO DE 2007), em nosso ordenamento jurídico,

recebe, ao nosso entendimento, a esquematização que a seguir será apresentada em

forma de enunciados.

Em razão das modificações introduzidas no regime do agravo no sistema

recursal elaborado pelo Código de Processo Civil, tendo como limite a Lei n. 11.187,

de 19 de outubro de 2005, em vigor desde 18 de janeiro de 2006, as regras

impostas a essa via de inconformismo,na atualidade, são as que constam nos

enunciados que passamos a registrar. Eles são:

Enunciado 1. O agravo só pode ser interposto para atacar decisões

interlocutórias.

Enunciado 2. O agravo, em regra geral, será retido.

Enunciado 3. Só passa a ser admitido agravo por instrumento quando

configuradas as três situações seguintes: a) “quando se tratar de decisão suscetível

de causar à parte lesão grave e de difícil reparação; b) no caso de inadmissão da

apelação: e c) nos casos “relativos aos efeitos em que a apelação é recebida”.

Enunciado 4. O prazo para interposição do agravo (retido ou por instrumento

– este só nas situações excepcionais acima registradas) é de 10 (dez) dias.

Enunciado 5. O agravo retido continua a não exigir preparo.

Enunciado 6. O agravo de instrumento poderá sujeitar-se a preparo, se a

tanto exigir Lei Estadual (Regimentos de Custas dos Estados) ou Lei Federal (Justiça

Federal).

Enunciado 7. O agravo previsto no art. 522 do CPC só é permitido contra as

decisões interlocutórias proferidas no primeiro grau de jurisdição.

Enunciado 8. Decisão interlocutória, conforme definição do art. 162, § 2º, do

CPC, é o ato pelo qual o juiz, no curso do processo, resolve questão incidental.
Enunciado 9. Impossível, em face do conceito de decisão interlocutória fixado

pelo art. 162, § 2º, do CPC, agravar qualquer decisão do juiz de primeiro grau após

o processo ter se ultimado, em face de sentença transitado em julgado, salvo na fase

de execução.

Enunciado 10. A questão incidental resolvida pelo Juiz de primeiro grau e que

pode ser atacada pelo agravo é a decorrente de controvérsia entre os litigantes,

surgida no curso da causa e causadora de prejuízo a uma das partes.

Enunciado 11. O agravo é inadmitido contra despacho do juiz, este

conceituado pelo art. 162, § 3º, do CPC, bem como contra atos meramente

ordinatórios (juntada, vista obrigatória dos autos e outros ) que devem ser

praticados de ofício pelo servidor e revistos pelo Juiz quando necessários (art. 162, §

4º, do CPC).

Enunciado 12. Não é cabível agravo (retido ou de instrumento) contra decisão

monocrática proferida por Desembargadores Federais e Estaduais.

Enunciado 13. A jurisprudência, conforme pesquisa realizada por Theotônio

Negrão (Código de Processo Civil e legislação processual em vigor, 37 a. edição,

Editora Saraiva), tem admitido agravo contra as decisões:

- “que fixa em definitivo a remuneração do perito ou do assistente técnico”

(art. 33);

- que indefere pedido de assistência (art. 51);

- que reconhece conexão entre duas ações (art. 103);

- que admite ou denega a intervenção de terceiro;

que, de ofício, reconhece a incompetência (art. 113);

que defere ou indefere prova;

que concede prazo em dobro (art. 191);

que rejeita argüição de nulidade da citação (art. 214);

que não admite o aditamento da inicial (art. 264);


que decide sobre o valor da causa (art. 261);

que concede ou denega a suspensão do processo (art. 265);

que determina nova avaliação do bem penhorado (art. 683);

que indefere pedido de extinção do processo (art. 267);

que homologa desistência de ação contra um dos co-réus (art. 267);

que nega homologação a transação (art. 269);

que concede ou denega tutela antecipada (art. 273);

que repele ou acolhe exceção de incompetência (art. 310);

que aplica a pena de confissão (art. 343);

que denega ou defere correção de erro material (art. 463);

que denega apelação (art. 518);

que decreta a deserção (art. 514);

que indefere pedido de relevação da deserção (art. 519);

que decide incidente de execução;

que decide exceção de pré-executividade (art. 618);

que determina a instauração de concurso de credores (art. 712);

que defere ou indefere pedido de prisão do alimentante (art. 733 § 1º);

que denega, suspende ou concede medida liminar, tanto em processo

cautelar (art. 804), como em ação possessória (art. 928);

que, em inventário, remete o interessado às vias ordinárias (art. 984), ou

inclui ou exclui herdeiro (art. 1.000);

que, em processo findo, causa lesão ao direito da parte;

que anula o processo;

que repele “in limine” a reconvenção;

que repele “in limine” a declaratória incidental;

que exclui co-autor ou co-réu;

que exclui litisdenunciado (art. 76).


Enunciado 14. O conceito de decisão interlocutória que cause lesão grave e de

difícil reparação à parte litigante, uma das três causas previstas pelo art. 522 para

admissibilidade do agravo de instrumento, é de natureza aberta, imprecisa, devendo

o juiz fixá-lo caso a caso.

Enunciado 15. O agravo, na forma retida, só será conhecido pelo Tribunal “a

quo”, se o agravante, por ocasião da apelação, de modo preliminar, requerer.

Enunciado 16. Não será conhecido o agravo retido se a parte, de modo

expresso, não requerer ao tribunal, na ocasião em que apresentou a apelação ou

efetuou as contra razões, sua apreciação.

Enunciado 17. O Juiz pode, no prazo de 10 (dez) dias, após ouvir a parte

agravada, reformar a decisão que foi atacada pelo agravo.

Enunciado 18. A decisão interlocutória proferida na audiência de instrução e

julgamento poderá ser atacada por agravo retido. Este será interposto de forma oral

e imediatamente. As razões sucintas do agravante devem constar no termo de

audiência.

Enunciado 19. O agravo de instrumento, quando interposto, será dirigido

diretamente ao tribunal competente, através de petição que deverá conter os

seguintes requisitos: a) exposição do fato e do direito; b) as razões do pedido e de

reforma da decisão; c) o nome e o endereço completo dos advogados, constantes do

processo.

Enunciado 20. A petição de agravo de instrumento será instruída: I –

obrigatoriamente, ,com cópias da decisão agravada, da certidão da respectiva

intimação e das procurações outorgadas aos advogados do agravante e do agravado;

II facultativamente, com outras peças que o agravante entender úteis.

Enunciado 21. A petição de agravo de instrumento deve ser acompanhada

com o comprovante do pagamento das respectivas custas e do porte de retorno


(preparo), quando exigidos pelos Regimentos de Custas, conforme tabela que será

publicada pelos tribunais.

Enunciado 22. A petição de agravo de instrumento deve ser protocolada no

Tribunal, no prazo do agravo, ou postada no correio sob registro com aviso de

recebimento, ou, ainda, interposta por outra forma prevista na lei local (protocolo

integrado).

Enunciado 23. O agravante está obrigado, no prazo de 3 (três) dias, a

requerer juntada, aos autos do processo de cópia da petição do agravo de

instrumento e do comprovante de sua interposição, assim como a relação dos

documentos que instruíram o recurso.

Enunciado 24. Se a parte agravante não cumprir a determinação anterior,

desde que a parte agravada comprove e prove perante o Tribunal “a quo”, será o

agravo considerado inadmissível.

Enunciado 25. O agravo de instrumento, após ser protocolado no Tribunal,

será distribuído incontinente ao relator.

Enunciado 26. O relator pode, ao receber o agravo, negar-lhe seguimento,

liminarmente, nos casos do art. 557: “Art. 557. O relator negará seguimento a

recurso manifestamente inadmissível, improcedente, prejudicado ou em confronto

com súmula ou com jurisprudência dominante do respectivo tribunal, do Supremo

Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior. (Redação dada pela Lei nº 9.756, de

17.12.1998). § 1o-A Se a decisão recorrida estiver em manifesto confronto com

súmula ou com jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal, ou de

Tribunal Superior, o relator poderá dar provimento ao recurso. (Incluído pela Lei nº

9.756, de 17.12.1998). § 1o Da decisão caberá agravo, no prazo de cinco dias, ao

órgão competente para o julgamento do recurso, e, se não houver retratação, o

relator apresentará o processo em mesa, proferindo voto; provido o agravo, o

recurso terá seguimento. (Incluído pela Lei nº 9.756, de 17.12.1998). § 2o Quando


manifestamente inadmissível ou infundado o agravo, o tribunal condenará o

agravante a pagar ao agravado multa entre um e dez por cento do valor corrigido da

causa, ficando a interposição de qualquer outro recurso condicionada ao depósito do

respectivo valor. (Incluído pela Lei nº 9.756, de 17.12.1998)”.

Enunciado 27. Se o relator não indeferir liminarmente o agravo, pode

convertê-lo em agravo retido, salvo quando se tratar de decisão suscetível de causar

à parte lesão e de difícil reparação, bem como nos casos de inadmissão da apelação

e nos relativos aos efeitos em que a apelação é recebida, mandando remeter os

autos ao juiz da causa .

Enunciado 28 Pode, ainda, o relator atribuir efeito suspensivo ao recurso, ou

deferir, em antecipação de tutela, total ou parcialmente, a pretensão recursal,

comunicando ao juiz sua decisão.

Enunciado 29. Se o relator não tomar nenhuma das providências acima

anunciadas, poderá requisitar informações ao juiz da causa, que as prestará no

prazo de 10 (dez) dias.

Enunciado 30. O relator, se não rejeitar liminarmente o agravo, mandará

intimar o agravado, na mesma oportunidade, por ofício dirigido ao seu advogado,

sob registro e com aviso de recebimento, para que responda no prazo de 10 (dez)

dias (art. 525, § 2º), facultando-lhe juntar a documentação que entender

conveniente, sendo que, nas comarcas sede de tribunal e naquelas em que o

expediente forense for divulgado no diário oficial, a intimação far-se-á mediante

publicidade no órgão oficial.

Enunciado 31. O relator, após tomar as providências acima registradas,

mandará ouvir o Ministério Público, se for o caso, para que se pronuncie no prazo de

10 (dez) dias.

Enunciado 32. A decisão liminar ( a que converter o agravo de instrumento

em agravo retido e que determinar efeito suspensivo ao agravo ) somente é passível


de reforma no momento do julgamento do agravo, salvo se o próprio relator a

reconsiderar.

Enunciado 33. O relator, em prazo não superior a 30 (trinta) dias da

intimação do agravado, pedirá dia para julgamento (pauta).

Enunciado 34. No caso do juiz de primeiro grau comunicar que reformou

inteiramente a decisão, o relator considerará prejudicado o agravo.

Enunciado 35. Não tem razão os que afirmam ser o recurso de agravo um

meio causador dos inúmeros males de que padece o sistema processual brasileiro ao

provocar a demora na solução da lide.

Enunciado 36. O agravo, em sentido contrário ao que pensa a corrente acima

apontada, é via absolutamente necessária para uma sadia entrega da prestação

jurisdicional. Exs.: a necessidade de, por seu meio, ser controlada a decisão que

concede ou denega tutela antecipada; idem da concessão de liminares em sede de

processo coletivo.

Enunciado 37. De acordo com o art. 522, redação antiga, hoje revogada, a

parte tinha a opção de interpor agravo, em duas modalidades, de instrumento ou

retida. Com a modificação estudada, o agravo retido passou a ser regra obrigatória.

Não há mais opção.

Enunciado 38. O agravo de instrumento, embora ataque decisão interlocutória

proferida por juiz singular, há de ser interposto perante o Tribunal respectivo. A

parte agravante é responsável pela formação do instrumento. A petição de agravo

deverá conter a exposição do fato e do direito(art. 524, I); as razões do pedido de

reforma da decisão (art. 524, II) e o nome e o endereço completo dos advogados,

constantes do processo (art. 524, III), e será instruída com as peças essenciais: a)

cópia da decisão agravada ; b) da certidão da respectiva intimação; c) das

procurações outorgadas aos advogados da parte agravante e da parte agravada. A


parte pode anexar, ainda, outras peças que entenda necessárias para o julgamento

do agravo pelo Tribunal.

Enunciado 39. A petição do agravo de instrumento será, obrigatoriamente,

acompanhada com o comprovante do pagamento das custas e do porte do retorno,

quando devidos, de conformidade com tabela fornecida pelos tribunais (art. 525,

§1º).

Enunciado 40. A petição de agravo, com todos os documentos anexados, será

protocolada no Tribunal, no prazo legal, ou enviada pelo correio sob registro com

aviso de recebimento, ou, ainda, interposta por outra forma prevista na lei local (art.

525, § 2º). Obs. A expressão lei local pode ser entendida como sendo provimento

baixado pelo Tribunal (STJ – Resp 247.098-SP, rel. Min. Eduardo Ribeiro, DJU

28.8.2000, p. 81.). Obs. A CF ( art. 24 XI) permite que os Estados legislem

concorrentemente sobre procedimento. Nelson Neri entende que os Tribunais não

podem baixar provimento a respeito. Só a lei.

Enunciado 41. . O Agravo de Instrumento não tem, em regra, efeito

suspensivo. Este, contudo, poderá ser concedido pelo relator, a pedido da parte

interessada, se houver comprovação de grave lesão ou risco irreparável.

Enunciado 42. O agravo retido nunca poderá ser interposto perante o

Tribunal. Ele é apresentado perante o próprio julgador que proferirá a decisão

interlocutória.

Enunciado 43. O agravo retido dispensa a formação de instrumento.

Enunciado 44. Do mesmo modo que o agravo de instrumento, o agravo retido

deve ser retratado ou não pelo Juiz. Em caso negativo, a parte recorrente deverá,

sob pena de preclusão, reiterá-lo quando apresentar a apelação.

Enunciado 45. Defende Teresa Arruda Alvim Wambier, in “Os agravos no CPC

brasileiro”, 2006, RT, p. 459, que “o requisito constante dos dispositivos citados

(perigo de lesão grave e de difícil reparação) deve ser entendido em sentido amplo,
par abarcar tanto os casos em que a lesão ou ameaça de lesão possa atingir direito

material da parte, como também aqueles em que a lesão ou ameaça de lesão atinge

direito formal, isto é, quando presente dano processual” “È o que ocorre, por

exemplo, com a decisão que rejeita exceção de incompetência relativa. Impor, no

caso, o regime de retenção seria criar embaraço contraproducente, visto que, caso a

incompetência venha a ser admitida somente quando do julgamento da apelação

(art. 523, caput), se ocasionará a decretação da nulidade de todos os atos decisórios

realizados em primeiro grau. Neste caso, se está diante de situação em que a adoção

do regime de retenção é indesejável, já que pode ocasionar maior demora que a

tramitação do agravo de instrumento”.

Enunciado 46. “Há hipóteses em que, invariavelmente, não há como ser

interposto o agravo na modalidade retida, não havendo como generalizar-se a

aplicação da norma. É a hipótese das decisões proferidas em sede de tutela de

urgência (decisões concedente ou negando liminares). Também no caso de

deferimento de provas, de nada adiantará a interposição do agravo retido, tendo em

vista que o objeto do recurso ficará esvaziado por ocasião do julgamento da

apelação”.

Enunciado 47. Não cabe, também, agravo retido no curso do processo de

execução. Os atos executivos, em tese, são sempre hábeis a ocasionar lesão grave à

parte. Ex: decisão que indefere alegação de nulidade da penhora ou preço vil.

Enunciado 48. A ideologia da reforma é fortalecer a jurisdição de 1º grau.

Enunciado 49. O parágrafo 3º do art. 523, na redação anterior, admitia a

interposição oral do agravo retido. Não exigia que fosse interposto imediatamente

após a emissão da decisão interlocutória. A atual redação do § 3º do rt. 523 é

categórica na afirmação de que o agravo oral retido contra as decisões

interlocutórias proferidas em audiência, deverá ser interposto imediatamente, isto é,


em seqüência à decisão proferida, fazendo-se constar no respectivo termo (art.

457), as razões sucintas da parte agravante.

Enunciado 50. Problemas causados pelo agravo oral retido em audiência:

a) “O primeiro deles diz respeito a que, a partir do momento, em que a parte

deve interpor o recurso na própria audiência de instrução e julgamento, estar-se-á

lhe retirando 10 dias de prazo (o agravo retido também tem o prazo de 10 dias, nos

termos do artigo 522), circunstância essa que viola o artigo 5º, inciso LV da

Constituição Federal, eis que implica flagrante cerceamento de defesa. Por outro

lado, no tocante a esta problemática, é de se perguntar: qual será o prazo do

agravado para apresentar contra razões? Deverá ele apresentá-las na própria

audiência ou ser-lhe-á aplicado o prazo do art. 523, § 2º do CPC, que é de dez (10)

dias? Em sendo reconhecida a inconstitucionalidade da alteração legislativa, não há

qualquer dúvida de que se deve aplicar-se o § 2º do artigo 523 do CPC. Todavia, em

sendo reconhecida a sua constitucionalidade, não há como aplicar-se este dispositivo

legal, face ao princípio da igualdade, previsto no caput do art. 5º da Constituição

Federal. Assim, deverá o agravado – em ocorrendo esta hipótese – apresentar

contra-razões ao gravo retido na própria audiência de instrução e julgamento, sob

pena de preclusão”.

b) “O segundo problema da alteração legislativa diz respeito a decisões

interlocutórias, proferidas em audiência de instrução e julgamento, incompatíveis

com a interposição do agravo na modalidade retida (v.g., tutela antecipada

concedida na audiência de instrução e julgamento; decisão que defere uma perícia).

Neste caso, entendemos que se deva aplicar o caput do art. 522 do CPC. Nestas

hipóteses não há como se aplicar o dispositivo legal, sob pena de colocar-se a parte

em situação de extrema desvantagem”.

c) “O terceiro problema diz respeito às interlocutórias proferidas em audiência

onde o magistrado também proferiu sentença. Entendemos que, nestes casos, o


recurso a ser interposto é o de apelação, face ao princípio da singularidade” (Nota:

Em sentido contrário, Teresa Arruda Alvim Wambier: (In: Os Agravos no CPC

brasileiro. SP: RT, 2006, p. 457), verbis: uma decisão interlocutória proferida pelo

juiz no curso de audiência em que também se proferiu sentença, deve ser

impugnada na primeira oportunidade em que a parte, que se julga prejudicada, se

manifestar nos autos. Aplica-se à espécie, analogicamente, o art. 245 do CPC. SE o

ato teve lugar durante a audiência, o agravo retido será a primeira vez em que a

parte se terá manifestado nos autos, depois de proferida a decisão. Hoje, este

agravo há de ser também oral. Mas poderia não ter sido, pois à parte se abririam

dois caminhos. Poderia ela, se presentes as circunstâncias referidas no art. 522,

caput, segunda parte (na redação da Lei 11.187/2005), lançar mão do agravo de

instrumento, até o 10º dia após a audiência, ou, segundo alguns, poderia entrar com

recurso de apelação, mas deveria fazê-lo até o 10º dia após a prolação da sentença,

para evitar a preclusão em relação às interlocutórias. Isso porque não são, na

verdade, conferidos à parte dois caminhos, em face das interlocutórias proferidas em

audiência; ou apelar, impugnando interlocutórias e a sentença numa só peça; ou

agravar de instrumento em 10 dias, se presentes os pressupostos do art. 522, caput,

segunda parte, e em 15 dias, apelar”.

Enunciado 51. Não há como se admitir, em face do princípio da dialeticidade,

recurso sem contra-razões. É regra que integra a regularidade formal do recurso.

Enunciado 52. Não há restrição, segundo determinada corrente, para a

interposição do agravo retido oral contra as decisões proferidas em audiência de

tentativa de conciliação.(OBs. J. E. Carreira Alvim, in Agravo retido e agravo de

instrumento – nova mini-reforma do CPC, RP, n. 130, p. 89, é contra).

Enunciado 53. O art. 527, II, permite que o relator, no Tribunal, converta o

agravo de instrumento em agravo retido, em decisão irrecorrível (art. 527, parágrafo

único).
Enunciado 54. Cabe ao relator observar, no momento da conversão, a

inexistência de urgência ou que não está devidamente comprovada a lesão grave ou

de difícil comprovação.

Enunciado 55. No caso do relator efetivar a conversão do agravo de

instrumento em agravo retido, os autos serão devolvidos ao juízo de origem.

Enunciado 56. No regime anterior, da decisão do relator cabia agravo interno.

Com a reforma, a decisão do relator é irrecorrível.

Enunciado 57. É cabível mandado de segurança contra o ato proferido pelo

relator transformando o agravo de instrumento em retido? Não. A decisão do relator

não é, em regra, teratológica.(Obs. No nosso entender, no caso de devidamente

comprovada a lesão e a irreparabilidade do dano, o mandado de segurança contra

ato judicial é a única via cabível. Não me parece caber a propositura de ação cautelar

incidental – opinião pessoal).

Enunciado 58. O agravo de instrumento só será convertido em agravo retido

se, primeiramente, for conhecido, isto é, apresentar-se composto de todas as peças

essenciais para a sua admissibilidade.

Enunciado 59. Os documentos que o agravante entender necessários poderão

ser anexados ao agravo, declarando que as cópias são autênticas (art. 544, § 1º,

CPC). Surge uma pergunta: Poderá o agravante anexar documentos que não estão

nos autos principais? Sérgio Bermudes, Reforma, 90, citada por Nelson Nery, p.

768, entende que sim. Deve, pelo menos, a parte contrária ser intimada da juntada

de novos documentos.

Enunciado 60. O art. 527, V, (redação da Lei n. 11.187/2005) determina que

o agravado será intimado, por ofício dirigido ao seu advogado, sob registro e com

aviso de recebimento, ou, pelo Diário Oficial, no caso das comarcas sede de tribunais

e naquelas em que o expediente forense for divulgado no Diário Oficial, para

responder ao agravo, facultando-lhe juntar a documentação que entender necessária


. Obs. A documentação já existente nos autos? Poderá juntar documentação nova?

Neste caso haverá intimação à parte agravante?

Enunciado 61. O prazo para responder deve ser contado a partir da data da

juntada aos autos da intimação ao advogado da parte, quando pelo correio (art. 241,

I, do CPC). Se pelo DO, começa no dia seguinte útil ao da circulação do DO.

Enunciado 62. O Ministério Público só será intimado quando presente o seu

interesse na causa (art. 81 e 82 CPC). Obs. Nelson Néri, ob. cit., opina, a respeito,

do modo seguinte: “A nova redação do CPC 527 VI prevê a ouvida do parquet

apenas nos casos mencionados no CPC 527 III a V. Portanto, caso queira indeferir

liminarmente o agravo de instrumento ou convertê-lo em agravo retido, o relator

deve tomar essas medidas imediatamente (art. 527, I e II). Não há quebra do

contraditório nem ofensa aos dispositivos constitucionais e legais que determinam a

intervenção do MP – quando o caso – em todos os atos processuais, porque sua

manifestação será possível, depois de o relator tomar as providências do CPC 527 I

e II. Trata-se de contraditório diferido para momento posterior, em homenagem à

celeridade do processo”.

Enunciado 63. É irrecorrível a decisão que conceder ou negar efeito

suspensivo ao agravo ou que conceder ou negar tutela antecipada no âmbito do

recurso. Só pode ser objeto de reconsideração. É a regra do art. 527, parágrafo

único, conforme modificação da Lei n. 11.187/05: “A decisão liminar, proferida nos

casos dos incisos II e III do caput deste artigo, somente é passível de reforma no

momento do julgamento do agravo, salvo se o próprio relator a reconsiderar”.

Registramos que a maioria dos enunciados acima apresentados foram

inspirados nas obras de, alguns com reproduções autênticas, de Luiz Rodrigues

Wambier, Teresa Arruda Alvim Wambier e José Miguel Garcia Medina (“Breves

comentários à nova sistemática processual civil”, RT, 2006), e de Jacqueline Mielke


Silva e José Tadeu Neves Xavier (“Reforma do Processo Civil”), editada pela Verbo

Jurídico, 2006).

A concepção que temos no momento é a de que o Agravo no nosso sistema

processual civil tem sofrido uma série de modificações. Estas, não obstante a boa

vontade do legislador, não vêm alcançando os anseios dos cidadãos e das pessoas

jurídicas quando em juízo, que estão concentradas em tornar efetivo o direito de um

processo com duração razoável, seguro, desburocratizado e menos oneroso, tudo

isso a ser alcançado sem ferimento dos postulados que informam o devido processo

legal. Há de ser adotado um sistema para o agravo que evite a prática de atos

processuais com efeitos protelatórios e sem maior significação para a entrega da

decisão de mérito, sem prejuízo do objetivo maior e principal do processo que é a

entrega da prestação jurisdicional como sonhada e querida pela cidadania.

A REFORMA DO CPC E O ESTABELECIMENTO DA FASE DE CUPRIMENTO DAS

SENTENÇAS NO PROCESSO DE CONHECIMENTO E REVOGAÇÃO DE DISPOSITIVOS

RELATIVOS À EXECUÇÃO FUNDADA EM TÍTULO JUDICIAL. LEI N. 11.232, DE

22.12.2005.

1. Introdução

O ordenamento jurídico processual, no ano de 2005, foi substancialmente alterado

pela Lei n. 11.232, de 22.12.2005, publicada no Diário Oficial da União de

23.12.2005, que entrou em vigor 6 (seis meses) após a data de sua publicação. O

referido diploma legal estabeleceu, pela primeira vez em nosso sistema, uma fase de

cumprimento da sentença no processo de conhecimento e revogou vários

dispositivos relativos à execução fundada em título judicial, além de ter dado outras

providências.

A legislação processual civil brasileira, desde os seus primórdios, sempre determinou


que a sentença condenatória fosse executada em um outro processo, denominado

processo de execução.

O novo modelo, extinguindo essa fase de execução autônoma, seguiu os caminhos

adotados pela maior parte dos países da Europa, que unifica, em seus diplomas

legais processuais, as execuções das sentenças condenatórias, suprimindo,

conseqüentemente, a antiga “ação executiva” criada pelas ordenações filipinas,

manuelinas e afonsinas.

A unificação do processo de conhecimento e do processo de execução era uma

reivindicação da doutrina e da jurisprudência. Nenhuma razão existia para o Direito

Processual Civil adotar uma divisão que não era acolhida pelos agentes de direito e

que dificultava a entrega da prestação jurisdicional, tornando-a burocrática,

dispendiosa e demorada, quando o Poder Judiciário já havia solucionado o conflito

com a publicação da sentença.

Essa reforma, impondo a unificação do processo do conhecimento e do processo de

execução, era há muito desejada e esperada pela cidadania. Ela, na verdade, veio

afastar a grande dificuldade que existia para que a prestação jurisdicional a ser

entregue pelo Poder Judiciária ganhasse força de efetividade e eficácia. O bem da

vida, em conflito, era reconhecido, porém, alongavam-se os caminhos para a

produção dos seus efeitos, pela nova peregrinação que a parte vencedora tinha de

fazer, utilizando-se de um complicado processo autônomo de execução.

A dualidade processual até então existente ia de encontro aos postulados

constitucionais que pregam a valorização da dignidade humana, da cidadania e da

razoável duração do processo.

2 – CONCEITO DE SENTENÇA
A Lei n. 11.232, de 22.12.2005, apresenta-se composta por 9 (nove) artigos. O

artigo 1º alterou a redação do parágrafo 1º do art. 162, o caput do art. 267, o caput

do art. 269 e o caput do art. 463, tudo do CPC.

O parágrafo 1º do art. 162 do CPC tinha a seguinte redação: “Sentença é o ato pelo

qual o juiz põe termo ao processo, decidindo ou não o mérito da causa”.

Com a alteração introduzida, a redação atual do mencionado parágrafo 1º , do art.

162, passou a ser: “Sentença é o ato do juiz que implica alguma das situações

previstas nos arts. 267 e 269 desta Lei”.

O legislador reformador atendeu ao que a doutrina reivindicava. Na verdade, havia

no texto legal uma redundância, uma tautologia, porque o conceito de sentença era

restrito, considerando-se como sendo pronunciamento do juiz que imprimia fim ao

processo, decidindo ou não o mérito da causa. Não era verdade.

Com a nova redação dada ao parágrafo 1º do art. 162, temos uma conceituação

correta do que seja sentença, haja vista ser visualizada como pronunciamento

judicial mais abrangente, isto é, não é ato que necessariamente encerre o processo.

Ela alcança muito mais. Há, não se coloca qualquer dúvida nesse entendimento,

sentenças proferidas no curso do processo e proferidas após o encerramento da fase

de cognição. Aquelas são as denominadas sentenças parciais: as que julgam parte

do mérito, como previsto no art. 273, § 6º do CPC, isto é, que decidem, de imediato,

a parte incontroversa da demanda.

Não se pode deixar de conceber que a mudança do conceito de sentença produziu

reflexos no que deve ser entendido por mérito. A respeito, merece se seguir o

pensamento de Jaqueline Mielke Silva e José Tadeu Neves Xavier, em “Reforma do

Processo Civil”, 1a. ed., Editora Verbo Jurídico, p. 45: “A recente alteração do

conceito de sentença desencadeia uma série de reflexões sobre a noção tradicional


de ‘mérito’, pois, se este vier a ser decidido, com ou sem a extinção do processo,

estar-se-á frente a um ato processual revestido da condição de sentença. Entretanto,

a tendência vigorante no pensamento da doutrina clássica sempre foi no sentido de

vincular o mérito da causa apenas aos juízos de certeza, que por sua vez somente

ocorreriam na oportunidade de ser proferida uma decisão que encerrasse o processo,

julgando definitivamente a lide. A partir desta concepção, os provimentos

antecipatórios, a sentença proferida nas ações cautelares e a sentença que extingue

o processo de execução não seriam decisões de mérito”.

Após citações de doutrinadores, conclui a autora referida:

“Partindo dessas premissas, na dicção dada pela reforma processual, a noção de

mérito, umbilicalmente ligada à figura da sentença, poderá ser resolvida no curso ou

ao final do processo, de maneira que se torna inevitável a aceitação da classificação

das sentenças de mérito em definitivas e parciais, conforme proferidas ao fim ou no

curso do processo”.

Com base nesse novo conceito de sentença, permanece aceitável, em nosso

ordenamento jurídico, o entendimento, entre outros, de que:

a) a sentença é apelável, na forma do art. 513 do CPC; a decisão interlocutória só

pode ser atacada por agravo, conforme dita o art. 522 do CPC; e, por fim não são

recorríveis os despachos de mero expediente (art. 504);

b) o fenômeno da preclusão incidirá sobre as decisões quando não forem

interpostos, tempestivamente, os recursos cabíveis (art. 516, parte final);

c) o conceito de sentença deve ser entendido em sentido lato, isto é, a decisão

proferida em qualquer grau de jurisdição (sentença ou acórdão);

d) havendo transitado em julgado a sentença, não há mais que se pensar na

possibilidade de ser prolatada qualquer decisão interlocutória a respeito da lide;

e) as sentenças deverão ser motivadas, sob pena de nulidade;


f) se o vício da ausência de motivação não for alegado, no momento próprio, não

poderá ser analisado em sede de recurso especial.

3 – EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO

A segunda alteração realizada pela Lei n. 11.232, de 22 de dezembro de 2005, foi na

redação do caput do art. 267 do CPC.

A redação do mencionado artigo determinava que:

“Art. 267. Extingue-se o processo, sem julgamento de mérito:........”

A alteração introduzida foi no sentido de que:

“Art. 267. Extingue-se o processo, sem resolução de mérito:........”

Os demais incisos e parágrafos do art. 267 não sofreram alteração.

A nova redação harmoniza-se com o conceito de sentença fixado no parágrafo 1º do

art. 162.

Entende-se, com a mensagem do caput do art. 267, que a extinção do processo, nas

situações definidas nos seus incisos I a XI, será considerada sem resolução de

mérito.

Certo está que continua a ser entendido como sendo sentença a decisão do juiz que,

de acordo com os incisos I a XI do art. 267 do CPC, encerra o processo sem, porém,

emitir qualquer pronunciamento sobre o direito material discutido no curso da lide.

Não há, a respeito, qualquer resolução de mérito. Em síntese, conforme bem explica

Luiz Fux (Reforma do Processo Civil, Editora Impetus, 2006, p. 82,),

“conseqüentemente, a sentença denomina-se, no presente momento ‘resolução’, que

pode ser de mérito, quando analisada a questão de fundo ou ato intelectivo do juiz
ou pela vontade das partes, ou resolução formal, meramente terminativa, quando

acolhidos os óbices processuais enunciados no art. 267 do CPC”

4 – RESOLUÇÃO DE MÉRITO

A terceira modificação foi na redação do caput do art. 269. Antes, o art. 269

determinava que:

“Art. 269. Extingue-se o processo com julgamento de mérito:.....”

Com a reforma, a redação passou a ser:

“Art. 269. Haverá resolução de mérito: ....”

Os incisos do art. 269 continuam sem qualquer alteração.

O legislador, coerente com o conceito de sentença fixado no parágrafo único do art.

162, registra que, quando o juiz aprecia a lide e conclui com base nas condições

elencadas nos incisos I a V do art. 269 do CPC, haverá, apenas, resolução de mérito,

sem se considerar extinto o processo. Abre, a seguir, espaço para que os atos de

satisfação da entrega da prestação jurisdicional, pela vontade da lei, se concretizem.

O que a redação do caput do art. 269 deixa como certo é que, em qualquer situação,

“a decisão proferida pelo juiz tem conteúdo de sentença, mas não extinguirá o

processo, que prosseguirá , seja para a realização de atos executivos –nas ações

executivas lato sensu -, seja pra julgamento dos pedidos que ainda não foram

julgados” ( Luiz Rodrigues Wambier e outros, em Breves Comentários à Nova

Sistemática Processual Civil, Vol. 2, RT, p. 60).

Não é demais assumir posicionamento de que a enumeração dos incisos I a V do art.

269 do Código de Processo Civil, ao ser examinada com reflexão mais intensa, não

encerra conteúdo exaustivo. Há, embora não registradas nos incisos I a V do art.
269, sentenças que extinguem o processo de execução e outras que podem

antecipar a parcela incontroversa. Todas elas implicam em resoluções de mérito.

Em conclusão: quando, por decisão judicial, o mérito é resolvido, não há mais

extinção do processo. Ele continua para perseguir os atos executivos. Estes passam

a ser praticados como uma fase do processo de conhecimento, denominada, pela

reforma, de “cumprimento de sentença”. Sobre este tema, iremos, em capítulo

próprio, emitir considerações.

5 – ALTERAÇÃO DA SENTENÇA

A última modificação formulada pelo art. 1º da Lei n. 11.232, de 22 de dezembro de

2005, foi na redação do caput do art. 463 do CPC.

Vigorou, até a data da vigência da Lei n. 11.232, de 22 de dezembro de 2005, o art.

463 do CPC, com a redação que anuncio:

“Art. 463. Ao publicar a sentença de mérito, o juiz cumpre e acaba o ofício

jurisdicional, só podendo alterá-la:...........”

Com a reforma anunciada, o art. 463 passou a determinar que:

“Publicada a sentença, o juiz só poderá alterá-la: ....”

Permaneceram incólumes os incisos I e II do mencionado artigo.

A nova redação do art. 463 está em harmonia com o novo conceito de sentença e

com o que prega o art. 269 do CPC. Estabelece, de forma definitiva, a mensagem de

que há sentenças que não exaurem a prestação jurisdicional.

O juiz continua com a possibilidade de, até mesmo de ofício, corrigir inexatidões

materiais ou retificar erros de cálculos. Não acaba, porém, o seu ofício jurisdicional,

como apregoava a antiga redação do art. 463. Por via de embargos de declaração,
por provocação de qualquer uma das partes, o juiz pode alterar a sentença,

imprimindo ao julgado até efeitos modificativos, em situações excepcionais. Os

embargos de declaração só podem ser interpostos se na sentença existir omissão,

obscuridade ou contradição. É restrito o campo para produzir efeitos.

Há de se considerar o entendimento firmado pela doutrina e pela jurisprudência que

o erro de cálculo deve ficar indubitavelmente demonstrado. O mesmo com a

inexatidão material. Não deve ser confundido erro de cálculo, com critério adotado

para o cálculo ser feito.

O erro material ele é identificado com o máximo de facilidade. Ele apresenta-se

configurado quando um objeto é branco e a sentença, sem qualquer outra razão,

afirma ser preto; quando a soma de determinadas parcelas apresenta total não real;

quando um nome de uma cidade ou de uma região é registrado na sentença, quando

os fatos aconteceram em outra cidade ou em outra região, conforme a prova dos

autos.

O erro material pode ser corrigido em qualquer tempo, mesmo após a sentença ter

transitado em julgado. A coisa julgada não alcança as sentenças viciadas por

inequívocos erros de cálculos.

A interpretação assentada sobre o art. 463 do CPC, conforme visão da doutrina e da

jurisprudência, permite a firmação das conclusões que passamos a enumerar:

a) A sentença será considerada sem qualquer possibilidade de ser alterada, salvo

para correção de inexatidões materiais ou retificação de erros de cálculo, no

momento em que é publica ou juntada aos autos.

b) Não é concebido como ato judicial a decisão em que o juiz acrescenta novo

dispositivo à sentença já publicada.


c) O juiz, após ter proferido a sentença, não pode deferir pedido de assistência

simples ou litisconsorcial.

d) Não é possível, após sentença ser publicada, ser concedida medida cautelar pelo

juiz que a prolatou.

e) É permitido, após a sentença ser publicada, o juiz conceder desmembramento

processual.

f) O erro de fato não pode, após a sentença ser publicada, ser corrigido; ele não se

confunde com erro material.

g) O pedido de correção de inexatidão material contida na sentença não suspende o

prazo para interposição de recurso.

h) As inexatidões materiais podem ser corrigidas, também, por via de embargos de

declaração.

i) São consideradas, entre outras situações, como sendo inexatidões materiais, os

casos seguintes: i.1 – a condenação, na verba de sucumbência, da parte vencedora

e não da vencida; i.2 – a determinação, na sentença, de remessa dos autos ao

tribunal, para reexame necessário, quando este não for cabível; i.3 – a falta de

menção, no relatório, dos nomes dos litisconsortes; i.4 – a inclusão, no acórdão, do

nome da parte que dele não devia constar (Exemplos colhidos na obra de Theotônio

Negrão, Código de Processo Civil e legislação processual em vigor, 40 a. edição, p.

569).

j) Cabe agravo de instrumento da decisão do juiz de primeiro grau que nega pedido

de correção de sentença quando está acobertada pelo trânsito em julgado.

6. DOS REQUISITOS E DOS EFEITOS DA SENTENÇA


O art. 2º da Lei n. 11.232, de 22.12.2005, alterou a Seção I do Capítulo VIII do

Título VIII do Livro I do Código de Processo Civil, para acrescê-la dos artigos 466-A,

466-B e 466-C.

A Seção I em questão trata dos REQUISITOS E DOS EFEITOS DA SENTENÇA e o seu

Capítulo VIII está intitulado de DA SENTENÇA E DA COISA JULGADA.

O art. 466-A está voltado a tornar eficaz a sentença que condena alguém a emitir

declaração de vontade. Em síntese, dispõe o art. 466-A que a sentença dispondo que

o réu tem o dever de prestar declaração de vontade assumida, conforme contrato

firmado, produzirá, após o seu trânsito em julgado, todos os efeitos da declaração de

vontade não emitida.

O art. 466-B cuida de sentença prolatada com o objetivo de produzir os mesmos

efeitos de contrato a ser firmado por alguém que não cumpriu a obrigação prometida

de concluir o negócio jurídico bilateral pretendido, quando isso for possível e não

houver exclusão no próprio título, isto é, no pacto.

O art. 466-C garante, pela decisão emitida, a emissão de pronunciamento judicial

reconhecendo a improcedência do pedido formulado em ação para cumprimento de

obrigação, onde fique comprovado que a parte autora não cumpriu a sua prestação,

nem a ofereceu, nos casos e formas legais, quando exigível, em decorrência de

contrato que tenha por objeto a transferência de propriedade de coisa determinada,

ou de outro direito.

Os artigos 466-A, 466-B e 466-C não apresentam novidade na ordem jurídica

nacional. O CPC já os adotava com a disciplina que eles tinham, respectivamente,

nos arts. 641, 639 e 640, artigos estes que foram revogados pela Lei n. 11.232, de

2005. Registramos que houve, apenas, mudança tópica das matérias examinadas
pelos dispositivos examinados. Antes elas faziam parte do processo de execução.

Com a integração do processo de execução ao processo de conhecimento, passando

a ser uma de suas fases, a denominada de cumprimento da sentença, o legislador

introduziu a disciplina enfocada no âmbito do processo de conhecimento.

Sobre o art. 461-A, sem caráter exaustivo, anotamos os aspectos a segui

anunciados:

a) O seu objetivo é disciplinar os efeitos de declaração de vontade não

emitida.

b) A sentença proferida com base no art. 466-A tem natureza condenatória,

devendo ser afastado o entendimento daqueles que entendem ser ela de natureza

constitutiva ou executiva lato sensu.

c) A sentença do art. 461-A tem natureza jurídica condenatória pelo fato de ela

reconhecer a existência de violação a um dever jurídico e o direito do autor à

restauração do direito violado, conforme pregam Luís Rodrigues Wambier e outros,

em “Breves Comentários à Nova Sistemática Processual Civil”, RT, vol. 2, pp. 88 e

89.

d) O art. 461-A visa tornar eficaz e efetivo o pré-contrato (promessa ou

compromisso) firmado pelas partes, onde nasceu o direito do credor a ter como

concluído o contrato principal.

e) A condenação imposta pela sentença, com base no art. 461-A, não necessita

de execução; ela, por si mesma, já contém força executória, em decorrência da sua

própria natureza, pelo que, transitada em julgado, produz todos os efeitos da

declaração não emitida.

f) O art. 461-A aplica-se, comumente, aos casos de compromisso de compra e

venda, sem se afastar a possibilidade de servir, também, a qualquer tipo de


promessa de contratar, com exceção das situações em que se convencionou a

possibilidade de arrependimento, segundo lição de Humberto Theodoro Júnior, em

“Curso de Direito Processual Civil”, Vol. II, Forense, 42 a. edição, p. 43.

Extraímos a compreensão do art. 466-B, os enunciados a seguir registrados:

a) O dispositivo em apreço cuida de fazer cumprir obrigação infungível.

b) A sentença do art. 466-B, da mesma forma que a do art. 466-A, “substitui o

ato devido pelo executado por ato do próprio juiz” (Luiz Rodrigues Wambier, ob. cit.,

p. 91).

c) O artigo 466-B “admite que o pré-contrato, em determinadas condições,

possa ser executado com a força do contrato definitivo, ocupando o seu lugar e

gerando as conseqüências e obrigações que adviriam do negócio jurídico principal”

(Humberto Theodoro Júnior, ob. cit., p. 41).

d) A sentença proferida com base no art. 466-B, por produzir toda a eficácia do

contrato firmado, sub-roga, de modo total, a declaração que a parte recusou-se a

omitir.

e) O art. 466-B tem aplicação nos casos, entre outros, de adjudicação

compulsória de imóvel compromissado e de parcelamento do solo urbano (Lei n.

6.766, de 19.12.79).

f) Para aplicação do art. 466-B, em se tratando de ação de outorga de

escritura, não há necessidade de ser exigido o prévio registro de compromisso de

compra e venda, por a sentença operar a mera substituição da vontade do

promitente vendedor (Resp 195.236-SP, citado por Theotônio Negrão, obra já

referida).

g) Havendo, no contrato, cláusula de arrependimento, fica excluída a


possibilidade de ser obtida sentença com os efeitos previstos no art. 466-B

(referência feita por Theotônio Negrão, ob. cit.).

h) É impossível, havendo ausência de pedido expresso, converter em ação de

rescisão contratual com perdas e danos, a ação para a obtenção de sentença que

produza o mesmo efeito do contrato (STF-RT 590/275, em Theotônio Negrão, ob.

cit.).

O art. 466-C, ao ser interpretado, abre espaço para que, a seu respeito, sejam

firmadas as conclusões que passamos a enumerar:

a) O art. 466-C só tem aplicação às ações em que o autor pretende expedição

de sentença substitutiva de vontade.

b) O art. 466-C está vinculado ao ato do réu alegar exceção de

inadimplemento.

c) A exceção de inadimplemento, para ser aceita, está subordinada aos

seguintes requisitos:

c.1 – existência do dever de contraprestar;

c.2 - exigibilidade das prestações;

c.3 – relevância do inadimplemento;

c.4 – demanda própria para excepcionar (Araken de Assis, in

“Cumprimento da Sentença”, Forense, pp. 60 e 61).

d) A exceção de inadimplemento somente cabe após a formação do negócio

jurídico “ (Araken de Assis, idem, p. 54).


e) O autor, para ser beneficiado pelo disposto no art. 466-C, está obrigado a

fazer prova do cumprimento de sua obrigação.

REFLEXÕES SOBRE AS ALTERAÇÕES NO DIREITO PROCESSUAL CIVIL BRASILEIRO A

PARTIR DA EC N. 45, DE 31.12.2004, E AS REPERCUSSÕES NO DIREITO JUDICIÁRIO

TRABALHISTA.

INTRODUÇÃO

CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE A REFORMA DO PROCESSO CIVIL E TRABALHISTA.

Os juristas que investigam a formatação do Direito Processual no curso deste século

XXI, influenciados por idéias que foram desenvolvidas no século anterior, estão

convencidos que não há mais possibilidade de não ser resolvida a profunda crise que

invade essa via de entrega da prestação jurisdicional, consistente na demora com

que a solução dos conflitos tem sido entregue à cidadania.

Há um clamor generalizado. A insatisfação por essa deficiência da atuação estatal

cresce em todo o mundo, gerando, como conseqüência, um posicionamento mais

atento do legislador.

Entre os postulados a serem seguidos pelo Estado Democrático de Direito está, em

posição de destaque, o que a atuação do Poder Judiciário, como entidade estatal

encarregada de solucionar os conflitos, gerando estado de paz no relacionamento

entre os homens e entre estes e as instituições, deve desenvolver-se com celeridade,

segurança, confiabilidade e desburocratizada.

Nesse contexto, a reforma da legislação processual passou a ser considerada como

tema prioritário pelos governantes do Brasil, que têm envidado esforços para

melhorar o quadro legal disciplinador da prática dos atos processuais.

A consolidação dos objetivos da reforma só será alcançada se forem afastados, por


imposição leal, os gargalhos existentes no ordenamento jurídico que impedem a

entrega de uma solução das lides pelo Poder Judiciário de modo menos lento do que

como é feito na atualidade.

As diretrizes da reforma processual dirigem-se, primeiramente, para elevar ao nível

de direito fundamental a garantia de que o cidadão tem direito a solução do processo

em um prazo razoável.

Fiel aos propósitos a serem alcançados, o Estado brasileiro introduziu em sua

Constituição vigente, Carta Magna de 1988, a Emenda Constitucional n. 45, de

31.12.2004, denominada de Reforma do Poder Judiciário, onde desponta com

absoluto destaque a introdução no art. 5º, da Constituição Federal, o inciso LXXVIII,

determinando que “a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a

razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua

tramitação”.

A razoável duração do processo e os meios que garantidores da celeridade de sua

tramitação estão, assim, pela primeira vez em nosso sistema de direito, elevados ao

mais elevado patamar de imposição jurídica. São valores de nível constitucional

dotados de ampla eficácia e efetividade, pelo que não é dado ao intérprete

interpretá-los com qualquer restrição. Pelo contrário. Há de ser extraído da

mensagem contida no inciso LXXVIII, do art. 5º, da Constituição Federal, toda a

força que ela contém para que o objetivo visado seja alcançado de modo absoluto. A

sua interpretação, conseqüentemente, deve ser de modo ampliado.

Há de se conceber o referido dispositivo constitucional como sendo uma norma,

embora, em tese, de natureza programática e idealista, porém com um substrato de

concretude refletido no propósito de propiciar celeridade na entrega da prestação

jurisdicional, atendendo aos anseios da cidadania.

Destacamos, desde logo, que, como adverte Sérgio Bermudes (A Reforma do

Judiciário pela Emenda Constitucional n. 45, Rio de Janeiro: Editora Forense, 2005,
p. 11), “se não existem meios de fazer célere o processo, o dispositivo cai no vazio,

não passando de um pensamento desejoso do legislador. Num país que dispõe de

menos de um terço dos juízes que precisa, assessorados por uma infra-estrutura

cartorária deficiente, agravado o quadro pela precariedade da postulação

jurisdicional, não se pode esperar que um processo tenha razoável duração, nem que

se encontrem meios de garantir a celeridade da tramitação dele. Mutatis mutandis,

não é diferente a situação, no tocante aos processos administrativos”.

Prossegue o autor acima citado:

“O Estado viola a norma do inciso LXXVIII, se não providenciar os meio necessários

ao cumprimento dela, sendo isso possível. Se houver condições para a observância

do preceito, a autoridade competente será responsável pelo seu cumprimento. Não

existindo, a norma corresponderá a um ideal, como ocorre, por exemplo, com os

arts. 205, 208 ou 215 da Carta”.

Conclui Sérgio Bermudes:

“O descumprimento do inciso LXXVIII, que se dá quando existir a real possibilidade

de atender-se a ele, põe a parte na condição de pedir a reparação de prejuízos.

Obviamente, a transgressão do mandamento não repercute na validade, ou na

eficácia do processo judicial, ou administrativo. Mesmo lenta a sua tramitação, as

decisões neles proferidas produzem os efeitos regulares, salvo – desnecessário

acrescentar –se por outro motivo forem nulas”.

Guardando fidelidade a esse desiderato, o Estado brasileiro, por seus Poderes

Legislativo e Executivo, conseguiu, nos anos de 2005 e 2006, entregar ao

ordenamento jurídico positivado algumas leis ordinárias que visam emprestar

cumprimento ao comando do inciso LXXVIII, do art. 5º, da Constituição Federal.

Não obstante o posicionamento que assumimos no sentido de não apoiar reformas

pontuais no Direito infraconstitucional processual, por quebrar a harmonia do Código

de Processo Civil e da disciplina do Processo Judicial do Trabalho, não há como


deixar de conviver com a realidade legislativa que estamos vivenciando. Esta, como

é do conhecimento de todos os operadores de direito, está caracterizando-se pela

aprovação de várias leis ordinárias dedicadas a alterar as normas processuais civis,

pelo que, não há outro caminho a seguir, senão o de com convivermos com elas e

buscarmos fixar a sua interpretação com os sentimentos voltados para o princípio

constitucional garantidor da razoável duração do processo e da utilização dos meios

necessários para garantia da celeridade processual.

QUADRO LEGISLATIVO REFORMISTA

O quadro legislativo reformista do processo civil e trabalhista brasileiro,

compreendendo o período iniciado com a Emenda Constitucional n. 45, de

31.12.2004, até o mês de março de 2007, considerando as leis já sancionadas e em

vigor, pode ser apresentado com base no esquema seguinte:

Emenda Constitucional n. 45, de 31.12.2004.

Lei n. 11.187, de 19.10.2005. Confere nova disciplina ao cabimento dos agravos

retido e de instrumento, e dá outras providências.

Lei n. 11.232, de 22 .12.2005. Estabelece a fase de cumprimento das sentenças no

processo de conhecimento e revoga dispositivos relativos à execução fundada em

título judicial, e dá outras providências (Rompeu com a autonomia do processo de

conhecimento e a autonomia do processo de execução. Efetuou o denominado

sincretismo entre o processo de conhecimento e o processo de execução).

Lei n. 11.276, de 07.02.2006. Altera os arts. 504, 506 e 518 do CPC, relativamente

à forma de interposição de recursos, ao saneamento de nulidades processuais, ao

recebimento de apelação e outras questões. Cria a denominada súmula impeditiva

de recurso. Confere maior efetividade às decisões que estejam em consonância com

jurisprudência predominante dos tribunais, evitando recursos protelatórios.

Desburocratiza o procedimento de saneamento de nulidades processuais, permitindo


aos tribunais que, ao apreciar o recurso, decida sobre nulidades ocorridas na

primeira instância, evitando a devolução do processo para esse fim ao juiz de

primeiro grau.

Lei n. 11.277, de 07.02.2006. Acrescenta o art. 285-A ao CPC. “Racionaliza o

julgamento dos processos repetitivos, permitindo ao juiz dispensar a citação do réu e

julgar a ação improcedente, quando a controvérsia veiculada for exclusivamente de

direito e já tenha sido objeto de julgamento pela total improcedência em diversos

casos idênticos submetidos ao mesmo juízo” ”(In “Reforma Infraconstitucional do

Judiciário”, publicação do Ministério da Justiça).

Lei n. 11.280, de 16.02.2006. Altera os arts. 112, 114, 154, 219, 253, 305, 322,

338, 489 e 555 do CPC, relativos à incompetência relativa, meios eletrônicos,

prescrição, distribuição por dependência, exceção de incompetência, revelia, carta

precatória e rogatória, ação rescisória e visa dos autos. Revoga, também, o art. 194

do Código Civil (prescrição de ofício). Esta lei “delimita o prazo de dez dias para o

pedido de vistas do processo nos tribunais, determinando sua colocação em pauta na

sessão imediatamente subseqüente ao término deste prazo, medida que busca

reduzir os atrasos nos julgamentos causados pela demora na devolução dos

processos retirados de pauta pelo pedido de vista”(In “Reforma Infraconstitucional

do Judiciário”, publicação do Ministério da Justiça). A lei em destaque atribui, ainda,

‘poderes’ aos juízes para decretar de ofício a prescrição, quer a causa seja de

natureza patrimonial ou não, o que impedira o prosseguimento de demandas

versando sobre obrigações prescritas. Por último, abre espaço para que os tribunais

regulem, por atos ou resoluções, a prática e a comunicação de atos processuais por

meios eletrônicos.

Lei n. 11.382, de 06.12.2006. Altera a disciplina do CPC no relativo a processo de

execução e a outros assuntos. No entender do Ministério da Justiça, esta lei

“complementou a mais importante das reformas realizadas na legislação processual,


iniciada pela Lei 11.232/05. Simplifica, racionaliza e moderniza o processo de

execução de títulos extrajudiciais (notas promissórias, contratos de aluguel e

cheques). Dentre as principais inovações trazidas pela lei estão: a atribuição de

direito ao credor para indicar os bens do devedor que serão penhorados (antes a

indicação era feita pelo devedor); a priorização da adjudicação (quando o credor

toma o bem penhorado para si) na expropriação (retirada dos bens do devedor para

saldar a dívida), em detrimento do leilão em praça pública, procedimento que tem se

mostrado caro, moroso e ineficiente; a adoção da penhora on line e do leilão pela

rede mundial de computadores como instrumentos pra a realização da execução; e a

possibilidade de parcelamento da dívida, caso o devedor a reconheça e desista de

questioná-la judicialmente” ”(In “Reforma Infraconstitucional do Judiciário”,

publicação do Ministério da Justiça).

Lei n. 11.341, de 07.08.2006. Altera o art. 541 do CPC para admitir as decisões

disponíveis em mídia eletrônica, inclusive na Internet, entre as suscetíveis de prova

de divergência jurisprudencial.

Lei 11.419, de 19.12.2006. Regula a informatização do processo judicial, permitindo

a comunicação eletrônica dos atos processuais, instituindo o processo eletrônico e

alterando vários dispositivos do CPC.

Lei n. 11.417, de 19.12.2006. Regulamenta o art. 103-A da CF e altera a Lei n.

9.784, de 29.01.1999 (Processo Administrativo), disciplinando a edição, a revisão e

o cancelamento de enunciado de súmula vinculante pelo Supremo Tribunal Federal, e

dá outras providências. “A medida visa conferir maior estabilidade às decisões

judiciais, ao mesmo tempo em que confere maior efetividade às decisões da mais

alta corte do Poder Judiciário” (”(In “Reforma Infraconstitucional do Judiciário”,

publicação do Ministério da Justiça).

Lei n. 11.418, de 19.12.2006. Regulamenta o § 3º do art. 102 da Constituição

Federal, isto é, o “procedimento para a aferição da repercussão geral do recurso


extraordinário pelo Supremo Tribunal Federal, permitindo a aplicação desse novo

requisito de admissibilidade criado pela Emenda Constitucional n. 45. Dessa forma,

busca-se centrar a atuação da Corte Suprema nas demandas que tenham grande

repercussão na sociedade”.

Lei n. 11.441 de 04 de janeiro de 2007, que, alterando o CPC, possibilita a realização

do inventário, partilha, separação consensual e divórcio consensual por via

administrativa. Segundo o Ministério da Justiça, conforme anotado na publicação já

citada, a lei em questão só pode ser aplicada quando existir acordo prévio entre as

partes e não envolva interesses de menores ou incapazes, tudo acompanhado por

advogado. Afirmado está no documento referido que “esta lei contribuirá para a

redução do volume de processos remetidos ao Judiciário, possibilitando que a

estrutura deste órgão fique concentrada na resolução de processos que envolvam

conflitos, deixando para a esfera extrajudicial aquelas demandas de caráter

consensual envolvendo apenas interesses disponíveis”. Registra, ainda, a

mencionada publicação que, “segundo o IBGE, em 2005 foram realizados no país

100.448 separações e 150.714 divórcios, dos quais quase 80% são de natureza

consensual. Com a entrada em vigor da Lei n. 11.441/07, a maior parte desses

procedimentos poderá ser realizada pela via extrajudicial, o que terá impacto direto

na redução da demanda submetida ao Poder Judiciário. Ao mesmo tempo, a Lei

disponibiliza aos cidadãos um mecanismo extrajudicial rápido, seguro e eficiente

para a regularização de situações em que não existe conflito entre as partes”.

A ânsia reformista da legislação infraconstitucional processual vivenciada na

atualidade não ultimou-se. Há outros projetos em tramitação no Congresso,

modificando o CPC e o Processo Judicial do Trabalho. Eis os principais projetos em

tramitação no Poder Legislativo da Nação:

O PL 4723/04 que trata de criar regras de uniformização das decisões dos juizados

especiais estaduais, em causas que não ultrapasse o valor de 40 salários mínimos.


O PLS 135/06 que pretende alterar a regra geral sobre os efeitos da apelação. Este

passará a ser recebido apenas no efeito devolutivo, salvo nas hipóteses previstas no

projeto, quando o recurso será recebido no efeito suspensivo, quando, por exemplo,

o prosseguimento da execução possa causar dano irreparável ou de difícil reparação

à parte devedora.

O PL 4827/98 que institui a mediação como fase obrigatória nos litígios sobre direitos

disponíveis.

O PL 1343/03 que acrescenta mais um requisito para a admissibilidade do recurso

especial, isto é, condicionando a sua aceitação só quando possuir repercussão geral

(presente interesse de toda a sociedade).

PL 61/03 – Pretende alterar os prazos fixados para a Fazenda Pública e sugere

mudanças na execução veiculada contra esse órgão. Extingue o reexame necessário

para condenações de até 500 salários mínimos e a possibilidade de penhora de bens

dominicais.

PL 138/04. Propõe a extinção dos embargos de declaração. Estes serão substituídos

pelo pedido de correção, com procedimento mais simples e célere.

PLC 04/06 – Permite que o próprio advogado, no processo trabalhista, declare a

autenticidade das cópias de documentos oferecidos como provas.

PLC 80/06 – “Condiciona a propositura da ação rescisória trabalhista à realização do

depósito prévio de 20% do valor da causa, de modo a impedir que esse instrumento

excepcional destinado à reabertura da discussão de casos já decididos pelo Poder

Judiciário seja utilizado de maneira ordinária como um simples recurso”.

PLC 66/06 – “Reduz as hipóteses de embargos junto ao Tribunal Superior do

Trabalho de modo a limitar a utilização desse recurso com fins protelatórios”.

PL 473/04 – Pretende que o “executado, ao receber a sentença condenatória, pague

ou indique bens para garantir a dívida, caso contra´rio, ele estará proibido de

apresentar recurso contra a execução. A mudança vai agilizar a execução e impedir


manobras como o ocultamento de bens, usuais na área trabalhista”.

PL 4732/04. “Restringe as hipóteses de cabimento do recurso de revista junto ao

Tribunal Superior do Trabalho, impedindo o uso desse instrumento para fins

meramente protelatórios e para causas de valor inferior a 60 salários mínimos, o que

permitirá a este tribunal priorizar sua atuação nas causas de grande repercussão

social.

PL 4734/04 –“Condiciona a interposição de recurso na Justiça do Trabalho ao

depósito prévio do valor da condenação até o limite de 60 salários mínimos, valor

que ficará depositado em juízo até o término do recurso, quando deverá ser

restituído à parte vencedora. A medida tem como objetivo desestimular a

propositura com fins protelatóros e proteger a parte vencedora em primeira instância

dos ônus decorrentes da demora na tramitação do recurso interposto pela parte

vencida”.

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