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Prova e Recursos em Processo Penal

Artigos Comentados

RECURSOS ORDINÁRIOS
Artigo 399º “PRINCÍPIO GERAL”
“É permitido recorrer dos órgãos, das sentenças e dos despachos cuja irrecorribilidade não estiver prevista na lei.”

A consagração de uma hierarquia dos tribunais judiciais comuns pelo artigo 210º Constituição República Portuguesa permite a
conclusão de que o legislador ordinário não é livre de suprimir em bloco os tribunais de recurso ou os recursos, contudo, não há um
direito ilimitado ao recurso, e isto num triplo sentido. Primeiro não há um direito irrestrito ao recurso de todos os despachos e sentenças
do tribunal que afectem os interesses e direitos dos sujeitos e participantes processuais, ou, por outras palavras admite-se que a
faculdade de recorrer possa ser “restringida ou limitada em certas fases do processo e que, relativamente a certos actos do juiz, possa
mesmo não existir”. Segundo não há um direito irrestrito ao esgotamento de todas as instâncias previstas pela lei, ou “o legislador não
está constitucionalmente obrigado a prever um triplo grau de jurisdição”. Terceiro não há um direito irrestrito à audiência de julgamento
de recurso ou, “Nada na Constituição impõe, desta sorte, que nos recursos em matéria criminal que versem somente sobre matéria de
direito deva haver lugar a uma audiência subordinada aos princípios da imediação e da oralidade”. É certo que o legislador constituinte
deu uma particular importância a esta questão no âmbito do processo penal, consagrando um direito constitucional do arguido ao
recurso no artigo 32º número 1 Constituição República Portuguesa na revisão constitucional de 1997, na linha do direito estabelecido
pelo artigo 2º do protocolo adicional nº 7 à Convenção Europeia dos Direitos do Homem, este direito consubstancia-se num direito a
recorrer de decisões condenatórias e de “decisões de privação ou restrição da liberdade ou de outros direitos fundamentais do arguido”.
A sentença condenatória deve ser controlada quer quando à decisão sobre a culpabilidade quer quanto à decisão sobre a
espécie e a medida concreta da sanção, embora o recurso possa ser limitado à decisão sobre a espécie e medida da pena quando tenha
havido confissão dos factos pelo arguido, a sentença condenatória deve também ser controlada quanto à matéria de facto, quer no que
respeita aos factos relevantes para a questão da culpabilidade quer no que concerne aos factos relevantes para a questão da
determinação da sanção. Excepções a estas regras só são admissíveis no caso de infracções menores, isto é não puníveis com pena de
prisão (segundo o relatório explicativo do protocolo adicional à CEDH) e no caso de julgamento em primeira instância pela mais alta
jurisdição interna, também os recursos das decisões de privação ou restrição de direitos fundamentais devem controlar os pressupostos
de factos das mesmas. O direito de recurso inclui ainda o direito a uma audiência perante o tribunal de recurso quando o tribunal de
recurso se pronuncie sobre o carácter ou os motivos do arguido, matéria de facto nova ou matéria que se possa repercutir na severidade
da pena aplicada ou condene depois de uma absolvição na primeira instância, bem como o direito a uma audiência perante o tribunal de
recurso quando o recorrente impugne medida de coacção, sempre que o conhecimento da personalidade do arguido seja essencial para
a decisão ou sejam alegados factos novos em relação ao momento em que a decisão recorrida foi tomada. Os outros sujeitos e
participantes processuais no processo penal (além do arguido, do assistente e do Ministério Público) também têm um direito
constitucional ao recurso, que deriva do direito de acesso aos tribunais consagrado pelo artigo 20º Constituição República Portuguesa e
pelo artigo 6º número 1 CEDH, mais remotamente, o direito ao recurso destes sujeitos e participantes processuais no processo penal
pode ainda ser derivado do princípio da igualdade, maxime do princípio da igualdade de armas (artigo 13º Constituição República
Portuguesa).
A Lei nº48/2007, de 29 de Agosto, consagra os seguintes princípios, estabelecidos na exposição de motivos da proposta de lei
governamental:
a. O alargamento da competência do Supremo Tribunal de Justiça resultante da consagração da regra genérica
da recorribilidade de acórdãos proferidos, em recurso, pelo Tribunal de Relação que apliquem pena de prisão efectiva, mesmo no caso de
recurso das sentenças proferidas pelo tribunal singular, da recorribilidade da parte da sentença relativa à indemnização civil nos casos em que
não caiba recurso da matéria penal e da obrigatoriedade do recurso per saltum para o Supremo Tribunal Justiça em recurso limitado a matéria
de direito.
b. A restrição da competência do Supremo Tribunal de Justiça quer por via de definição de dupla conforme em
função das penas concretas aplicadas nas decisões recorridas (e não dos limites máximos dos crimes imputados nestas) quer por força da
irrecorribilidade dos acórdãos proferidos, em recurso, pelo Tribunal Relação que põem termo à causa, mas não conhecem do objecto do
processo.
c. O alargamento da competência do Tribunal Relação ao recurso interposto da decisão final proferida pelo
tribunal do júri e ao recurso do despacho que nega ou revoga a liberdade condicional.
d. O reforço da garantia da proibição da reformatio in pejus quer por via da proibição da reformatio em relação
aos arguidos não recorridos quer por força da limitação da possibilidade da reformatio da pena de multa à quantia fixada para cada dia de
multa, que pode ser alterada em função de uma melhoria sensível da situação económica e financeira do arguido (suprimindo-se à
possibilidade da reformatio do número de dias em que a pena seja graduada, que não depende desta situação, mas de outros factores).
e. O alargamento do efeito suspensivo do processo e da decisão recorrida.
f. A supressão das alegações escritas, com a possibilidade de o recorrente requerer alegações orais em
audiência.
g. A eliminação da transcrição de audiência de julgamento, em caso de gravação da mesma, com duas
consequências: o recorrente deve referir as passagens das gravações que impõem decisão diversa da recorrida e o tribunal superior deve ouvir
ou visualizar as passagens indicadas e outras que considere relevantes (mantendo-se a possibilidade alternativa, mas excepcional, da utilização
de meios estenográficos ou estenotípicos).
h. A restrição do âmbito da vista do Ministério Público, no caso de haver audiência.
i. O alargamento da competência do relator, com reclamações para a conferência.
j. A restrição da composição da conferência
k. O alargamento do âmbito dos recursos extraordinários quer pela obrigatoriedade do recurso do Ministério
Pública para fixação de jurisprudência quer pelo acréscimo de dois novos fundamentos do recurso de revisão.

Em jeito de balanço, a reforma do regime dos recursos obedece a tendências contraditórias, ganha-se em celeridade com a
supressão das alegações escritas, a eliminação da transcrição das audiências, a restrição do âmbito do visto ao Ministério Público e o
alargamento da competência do relator, mas perde-se muito mais com a regra genérica da recorribilidade de acórdãos proferidos, em
recurso, pelo Tribunal Relator que apliquem pena de prisão efectiva, mesmo no caso de recurso das sentenças proferidas pelo tribunal
singular. O propósito repetidamente sublinhado de maior celeridade do processo penal, de “um processo mais ágil, que pudesse ir mais
depressa da instauração do inquérito à decisão final”, sai fortemente comprometido. A aplicação da Lei nº 48/2007 de 29 de Agosto, no
tempo regula-se pelo disposto no artigo 5º números 1 e 2 alínea a), o novo regime de recursos ordinários, aplica-se imediatamente aos
processos pendentes com as seguintes duas ressalvas: por um lado, o novo regime não prejudica os efeitos jurídicos dos actos
validamente realizados (e das correspondentes omissões verificadas) na vigência da lei anterior; e por outro lado, o novo regime não se
aplica aos processos iniciados antes da data da entrada em vigor da lei nova, quando o novo regime for menos favorável ao arguido do
que o anterior, por agravar sensivelmente e de modo evitável a posição processual do arguido. Assim as disposições da Lei nº 48/2007,
relativas à restrição adicional da competência do Supremo do Tribunal de Justiça não se aplicam aos processos iniciados antes da entrada
em vigor da mesma Lei, em que ainda esteja em curso o prazo para a interposição de recurso do acórdão do tribunal a quo, portanto são
admissíveis os recursos interpostos ao Supremo Tribunal de Justiça, nestes processos nos termos das disposições correspondentes da lei
anterior.
A disposição da Lei nº 48/2007, de 29 de Agosto, relativa à competência do Supremo Tribunal de Justiça para o conhecimento
dos acórdãos proferidos, em recurso, pelo Tribunal Relação, que apliquem pena privativa da liberdade (incluindo, o recurso das
sentenças proferidas pelo tribunal singular) (artigo 400º número 1 alínea e., a contrario Código Processo Penal) aplica-se imediatamente
aos processos pendentes desde que ainda esteja em curso o prazo de interposição de recurso do acórdão do tribunal a quo (artigo 5º
número 1 Código Processo Penal). A disposição da mesma lei, relativa à competência do Supremo Tribunal de Justiça para o
conhecimento do recurso da parte da sentença relativa à indemnização civil nos casos em que não caiba recurso da matéria penal (artigo
400º número 2 Código Processo Penal) aplica-se imediatamente aos processos pendentes desde que ainda esteja em curso o prazo de
interposição de recurso do acórdão do tribunal a quo. Relativa à obrigatoriedade do recurso per saltum para o Supremo do Tribunal de
Justiça em recurso limitado a matéria de direito (artigo 432º número 2 Código Processo Penal) aplica-se imediatamente aos processos
pendentes desde que ainda esteja em curso o prazo de interposição de recurso do acórdão do tribunal a quo. Relativas ao alargamento
da competência do Tribunal Relação ao recurso interposto da decisão final proferida pelo tribunal do júri (artigo 432º número 1, a
contrario, Código Processo Penal) e ao recurso do despacho que nega ou revoga a liberdade condicional (artigos 485º número 6 e 486º
número 4 Código Processo Penal) aplicam-se imediatamente aos processos pendentes desde que ainda esteja em curso o prazo de
interposição de recurso do acórdão ou despacho do tribunal a quo. Já relativamente ao reforço da proibição da reformatio in pejus
(artigos 402º número 3 e 409º número 2 Código Processo Penal) aplicam-se imediatamente aos processos pendentes em que ainda não
tenha sido proferida decisão do recurso. Ao alargamento do efeito suspensivo do processo e da decisão recorrida (artigo 408º número 3
Código Processo Penal) aplica-se imediatamente aos processos pendentes, devendo o juiz do tribunal recorrido, o juiz relator ou a
conferência, consoante os casos aplicar o dito efeito ou modificar o efeito já atribuído (artigo 5º número 1 Código Processo Penal). Na
mesma Lei ainda, Lei nº48/2007, relativas à supressão das alegações escritas e à possibilidade de o recorrente requerer alegações orais
em audiência (artigos 411º número 5, 423º número 3, e 418º número 1, a contrario, Código Processo Penal) aplicam-se imediatamente
aos processos pendentes, sem prejuízo das alegações escritas já juntas nos recursos interpostos, que devem ser tidas em devida conta.
Relativas à eliminação da transcrição da audiência de julgamento, no caso de gravação magnetofónica ou audiovisual da mesma (artigos
364º número 1, e 412º número 4 Código Processo Penal) aplicam-se imediatamente aos processos pendentes, incluindo as audiências de
julgamento que estão em curso, portanto, devem cessar todos os trabalhos de transcrição em curso na primeira instância, devendo ser
cumprido o disposto no artigo 101º número 3 Código Processo Penal. Relativamente ao dever do recorrente referir as passagens de
gravações que impõem decisão diversa da recorrida (artigo 412º número 4 Código Processo Penal) e ao dever do tribunal superior ouvir
ou visualizar as passagens indicadas e outras que considere relevantes (artigo 412º número 6 Código Processo Penal) aplicam-se
imediatamente aos processos pendentes, sem prejuízo dos recursos já interpostos em que o recorrente tenha procedido à especificação
imposta pelo anterior artigo 412º número 4 Código Processo Penal, por referência à transcrição dos suportes técnicos, neste caso, o
tribunal superior deve ter em devida conta a especificação já feita.
A disposição da Lei nº48/2007, de 29 de Agosto, no que toca à restrição do âmbito da vista do Ministério Público (artigo 416º
número 2 Código Processo Penal) aplica-se imediatamente aos processos pendentes, as disposições relativas ao alargamento de
competência do relator e à reclamação para a conferência (artigos 417º números 6, 7 e 8, e 419º número 3 alínea a. Código Processo
Penal) aplicam-se aos processos pendentes, sem prejuízo dos recursos interpostos em que o projecto de acórdão já tenha ido a visto dos
juízes-adjuntos (com ou sem projecto de acórdão do relator). O alargamento da competência do relator constitui objectivamente um
agravamento da situação processual do arguido, por essa competência deixar de pertencer a um órgão plural para passar a pertencer a
um órgão unipessoal, mas esse agravamento não é irreversível (“inevitável”), em face da faculdade de reclamação da decisão sumária do
relator para a conferência. As disposições relativas à restrição da composição da conferência (artigos 419º número 1 e 2 Código Processo
Penal) não se aplicam aos processos iniciados antes da entrada em vigor da lei nova, por essa restrição constituir uma agravamento
sensível e evitável da situação processual do arguido, com efeito, um órgão plural composto por quatro pessoas, em que uma só tem
voto de desempate, dá menos garantias do que um órgão plural composto por três pessoas, em que uma só tem voto de desempate, e
esta diminuição de garantias pode ainda ser evitada com a manutenção de mais um juiz-adjunto na conferência, nos recursos interpostos
nos processos iniciados antes da entrada em vigor da lei nova. A diminuição de garantias é, por isso, ainda “evitável”, o que não
aconteceria se, por exemplo, o próprio órgão (a conferência) fosse extinto e a sua competência atribuída a outro órgão, portanto, nos
processos iniciados antes da entrada em vigor da Lei nº 48/2007 de 29 de Agosto, a conferência deve ser composta nos termos das
disposições do artigo 419º números 1 e 2 Código Processo Penal.
As disposições relativas ao alargamento do âmbito dos recursos extraordinários quer pela obrigatoriedade do recurso do
Ministério Público para fixação de jurisprudência quer pela obrigatoriedade do recurso do Ministério Público para fixação de
jurisprudência quer pelo acréscimo de dois novos fundamentos do recurso de revisão aplicam-se a quaisquer processos, com a excepção
das regras relativas à reformatio in pejus, todas as outras disposições anteriormente referidas são normas processuais proprium sensu, o
que significa que a respectiva aplicação no tempo não está submetida ao princípio previsto no artigo 28º número 4 Código Processo
Penal, mas beneficia ainda da garantia do direito de acesso aos tribunais, incluindo o direito de acesso aos tribunais de recurso, previsto
no artigo 20º número 1 Constituição República Portuguesa para a generalidade das pessoas e, em especial, no artigo 32º número 1
Código Processo Penal para o arguido. A aplicação das referidas disposições nos termos descritos não viola o direito de acesso aos
tribunais e o direito ao recurso e, por isso, não é inconstitucional, a aplicação no tempo das normas relativas à reformatio in pejus está
submetida ao princípio previsto no artigo 28º número 4 Constituição República Portuguesa, a aplicação das referidas normas nos termos
descritos não viola, antes concretiza esse princípio constitucional.

Artigo 400º “DECISÕES QUE NÃO ADMITEM RECURSO”


“1. Não é admissível recurso:
a) De despachos de mero expediente;
b) De decisões que ordenam actos dependentes da livre resolução do tribunal;
c) De acórdãos proferidos, em recurso, pelas relações eu não conheçam, a final, do objecto do processo;
d) De acórdãos absolutórios proferidos, em recurso, pelas relações, excepto no caso de decisão condenatório em 1ª instância em
pena de prisão superior a 5 anos;
e) De acórdãos proferidos, em recurso, pelas relações que apliquem pena não privativa de liberdade ou pena de prisão não
superior a 5 anos;
f) De acórdãos condenatórios proferidos, em recurso, pelas relações, que confirmem decisão de 1ª instância e apliquem pena de
prisão não superior a 8 anos;
g) Nos demais casos previstos na lei.
2. Sem prejuízo do disposto nos artigos 427º e 432º, ao recurso da parte da sentença relativa à indeminização civil só é admissível desde
que o valor do pedido seja superior à alçada do tribunal recorrido e a decisão impugnada seja desfavorável para o recorrente em valor
superior a metade desta alçada.
3. Mesmo que não seja admissível recurso quanto à matéria penal, pode ser interposto recurso da parte da sentença relativa à
indemnização civil.”

Os despachos de mero expediente são actos processuais do juiz pelos quais ele regula o andamento normal do processo, sem
que se pronuncie sobre o mérito da causa de quaisquer incidentes ou questões interlocutórias suscitadas pelos outros sujeitos
processuais, contudo, se os despachos de mero expediente afectarem os direitos dos sujeitos processuais, eles são recorríveis, por força
dos artigos 20º número 1 e 32º número 1 Constituição República Portuguesa. Por exemplo, são actos de mero expediente a ordem para
extracção de certidão para efeito de procedimento criminal e a ordem para que a acusação seja dactilografada, por ser ilegível, mas não
o é despacho judicial que ordena a remessa do processo ao Ministério Público por não se mostrar paga a taxa de justiça devida pela
abertura de instrução. As decisões judiciais discricionárias no processo são aquelas cujo critério de decisão é a “conveniência”, portanto,
não são discricionárias as decisões tomadas em relação à convocação de peritos (artigo 158º Código Processo Penal), à junção de
documentos (artigo 165º Código Processo Penal) ou “de um modo geral a realização oficiosa de quaisquer diligência probatórias”, com
efeito, a circunstância de a lei conferir um poder discricionário. Oficioso é o poder cujo exercício depende do impulso, da iniciativa do
juiz, discricionário é o poder que é exercido de acordo com o critério de decisão da conveniência, que não é sindicável por outra
autoridade, a característica da oficiosidade respeita à iniciativa do exercício do poder, a característica da discricionariedade respeita ao
critério para o exercício do poder, a característica da discricionariedade respeita ao critério para o exercício do poder. O Código Processo
Penal está repleto de poderes oficiosos atribuídos ao juiz cujo exercício é submetido a um critério de “necessidade” para a descoberta da
verdade ou da boa decisão da causa, que deve ser fundamentado (artigo 97º número 5 Código Processo Penal) e é sindicável pelo
tribunal de recurso (artigo 399º Código Processo Penal), por outro lado, muitas vezes o Código Processo Penal não estabelece um critério
explícito para o exercício de poderes que confere ao juiz, dependendo esse critério dos princípios do processo que estão em causa, por
exemplo, é inconstitucional a interpretação segundo a qual o despacho de indeferimento de exame dos autos fora da secretária é um
acto discricionário do tribunal.
Contudo, esta regra da irrecorribilidade da decisão discricionária é quebrada se o despacho for arbitrário, incompreensível
discriminatório ou fundado em outras razões inimigas da Constituição, nestes casos, a Constituição República Portuguesa garante ainda o
direito ao recurso (artigos 20º números 1 e 5, e 32º número 1 e 7 Constituição República Portuguesa), por isso, é crucial que o despacho
judicial seja fundamentado (artigo 87º número 4 Constituição República Portuguesa), de modo a assegurar esta tutela judicial mínima. A
Lei nº 59/98 de 25 de Agosto, introduziu um novo fundamento de irrecorribilidade – os acórdãos proferidos, em recurso, pelas Relações
que não pusessem termo à causa -, a Lei nº48/2007 de 29 de Agosto, amplia este fundamento, não admitem recurso os acórdãos
proferidos, em recurso, pelas Relações que não conhecem, a final, do objecto do processo, isto é, que não julgam o mérito da causa
(artigos 97º número 1 alínea a. e 419º número 3 alínea b. Código Processo Penal). A intenção desta lei foi a de alcançar a irrecorribilidade
a todos os acórdãos proferidos, em recurso, pelas Relações que ponham termo à causa, mas não conheçam do objecto do processo, o
que o artigo 400º número 1 alínea c) Código Processo Penal, na redacção de 1998, não incluía, assim, são irrecorríveis os acórdãos
proferidos, em recurso, pelas Relações nos seguintes casos:
(A) Os acórdãos proferidos, em recurso, pelas Relações que não ponham termo à causa e, designadamente, sobre a nulidade de
escutas, medidas de coacção sobre extemporaneidade da arguição da irregularidade da gravação;
(B) Os acórdãos proferidos, em recurso, pelas Relações que revogam despacho de não pronúncia da 1ª instância;
(C) Os acórdãos proferidos, em recurso, pelas Relações que revogam despacho de pronúncia da 1ª instância;
(D) Os acórdãos proferidos, em recurso, pelas Relações que confirmem decisão de não pronúncia da 1ª instância;
(E) Os acórdãos proferidos, em recurso, pelas Relações que confirmem decisão de pronúncia de 1ª instância;
(F) Os acórdãos proferidos, em recurso, pelas Relações que ordenam a repetição do julgamento, o reenvio do julgamento ou
reenvio parcial do julgamento;
(G) Os acórdãos proferidos, em recurso, pelas Relações que se pronunciem sobre a extinção da responsabilidade criminal ou do
procedimento criminal e, designadamente, sobre a prescrição o procedimento criminal contra os arguidos ou a amnistia do
crime, que, no entanto, subsumiu o caso à alínea d) número 1 artigo 400º Código Processo Penal.
(H) Os acórdãos proferidos, em recurso, pelas Relações que conheçam do incidente de recusa de juiz;
(I) Os acórdãos proferidos pelas Relações em recurso de decisão de negação de reabertura do inquérito e de constituição como
assistente em processo em que foi proferido despacho de não pronúncia depois de o Ministério Público ter entendido acusar o
arguido com recurso ao artigo 16º número 3 Código Processo Penal;
(J) Os acórdãos proferidos pelas Relações que rejeitam um recurso interposto pelo arguido em cumprimento da medida de
internamento questionando a competência material do TEP;
(K) Os acórdãos proferidos pelas Relações em recurso de decisão sobre a admissibilidade do pedido de indemnização civil;
(L) Os acórdãos proferidos pelas Relações em recurso de decisão sobre a admissibilidade do pedido de constituição como
assistente;
(M) Os acórdãos proferidos pelas Relações em recurso de decisão de rejeição do requerimento instrutório;
(N) Os acórdãos proferidos pelas Relações em recurso de decisão do juiz que revoga o perdão de pena;
(O) Os acórdãos proferidos pelas Relações que rejeitam um recurso interposto de um despacho do juiz singular que indeferiu um
requerimento para realização de cúmulo jurídico;
(P) Os acórdãos proferidos pelas Relações que confirmem o despacho do juiz que indefere a invocação de justo impedimento;
(Q) Os acórdãos proferidos pelas Relações que confirmem o despacho proferido na audiência em primeira instância que indeferiu a
arguição de nulidade insanável por alegada restrição devida da publicidade;

Mas se o Tribunal Relação, na pendência de um recurso, conhecer ex novo de questões processuais deve ser admitido recurso
para o Supremo de Tribunal de Justiça, sob pena de supressão prática de um grau de jurisdição e, consequentemente, do direito ao
recurso, assim, é inconstitucional a norma do artigo 400º número 1 alínea c) Código Processo Penal, interpretada no sentido de ser
irrecorrível uma decisão do Tribunal da Relação que se pronuncie pela primeira vez sobre a especial complexidade do processo. Como é
admissível recurso para o Supremo Tribunal de Justiça do acórdão do Tribunal da Relação em que se rejeita um recurso interposto de
despacho proferido pelo juiz de instrução, condenando-se o recorrente nos termos do artigo 420º número 3 Código Processo Penal,
ainda que naquele recurso para o Supremo Tribunal de Justiça apenas se impugne esta condenação e do acórdão do Tribunal da Relação
que, em recurso interposto no processo de contra-ordenação, condena como litigante de má-fé. A Lei nº59/98 de 25 de Agosto,
consagrou a regra da dupla conforme no caso de acórdão absolutório como meio de restringir o princípio da recorribilidade dos acórdãos
do tribunal colectivo para o Tribunal da Relação, a Lei nº 48/2007 de 29 de Agosto, mantém esta regra: não admitem recurso os acórdãos
que absolvam o arguido proferidos, em recurso, pelas Relações, que confirmem decisão da primeira instância. Contudo, esta lei não
proíbe o recurso de acórdãos proferidos, em recurso, pelas Relações em processo por crime a que seja aplicável pena de multa ou de
prisão não superior a cinco anos ou em que o Ministério Público tenha usado a faculdade do artigo 16º número 3 Código Processo Penal,
e esta novidade resulta da supressão na alínea e) do número 1 artigo 400º Código Processo Penal da expressão “ou pena de prisão não
superior a cinco anos, mesmo em caso de concurso de infracções, ou em que o Ministério Pública tenha usado da faculdade prevista no
artigo 16º número 3”.
O efeito prático desta novidade é o de que os acórdãos absolutórios proferidos, em recurso, pelas Relações após condenação
pela primeira instância são sempre recorríveis para o Supremo Tribunal de Justiça, mesmo em processo por crime punível com pena de
multa ou pena de prisão não superior a cinco anos ou em que o Ministério Público tenha feito uso da faculdade do artigo 16º número 3
Código Processo Penal, por exemplo, tendo o tribunal de primeira instância aplicado uma pena de multa e o tribunal de recurso absolvido
o arguido, cabe recurso do acórdão do Tribunal de Relação para o Supremo Tribunal de Justiça, independentemente da moldura
abstracta do crime em causa. A questão da dupla conforme em função do limite abstracto da moldura penal do crime não foi pacífica
depois da revisão do Código Processo Penal de 1998, sendo defendidas na jurisprudência teses diferentes a propósito da definição do
que se deveria considerar “pena aplicável”: o Tribunal Constitucional pronunciou-se no sentido da compatibilidade com a Constituição
República Portuguesa da irrecorribilidade dos acórdãos condenatórios proferidos em recurso pelo Tribunal da Relação que confirmassem
decisão de primeira instância em processo por crime a que fosse aplicável pena de prisão não superior a oito anos mesmo em caso de
concurso de infracções, e designadamente quando a pena máxima aplicável ao cúmulo não ultrapassasse os oito anos de prisão, quando
as penas parcelares máximas aplicáveis a cada um dos crimes não fossem superiores a oito anos de prisão, ou quando as penas
parcelares máximas aplicáveis a cada um dos crimes fossem superiores a oito anos de prisão mas a pena máxima aplicada ao cúmulo não
ultrapassasse a oito anos de prisão. Dando o Tribunal Constitucional a máxima liberdade de conformação ao legislador neste tocante, o
legislador escolheu, na Lei nº 48/2007, o critério da pena concreta com o fito de “restringir o recurso de segundo grau perante o Supremo
Tribunal de Justiça aos casos de maior merecimento penal”, assim, não admitem recurso os acórdãos proferidos, em recurso, pelas
Relações que apliquem pena não privativa da liberdade, como não admitem recurso os acórdãos condenatórios proferidos, em recurso,
pelas Relações que confirmem decisão da 1ª instância e que apliquem pena de prisão não superior a oito anos. No caso de concurso de
crimes é relevante a pena conjunta aplicada, a supressão na alínea f) número 1 artigo 400º Código Processo Penal, da expressão “mesmo
em caso de concurso de infracções” pode dar azo a interpretação diversa, no sentido da relevância da pena concreta aplicada a cada
crime, havendo concurso de crimes, mas esta interpretação seria inconstitucional, por violar o direito ao recurso do arguido (artigo 32º
número 1 Constituição República Portuguesa), com efeito, a interpretação segundo a qual, em caso de concurso de crimes, só há recurso
para o Supremo Tribunal Justiça dos acórdãos proferidos, em recurso, pelas Relações que apliquem, pelo menos, a um dos crimes pena
de prisão superior a oito anos poderia ter o efeito nefasto de impedir a recorribilidade para o Supremo Tribunal Justiça de um acórdão do
Tribunal Relação que confirmasse uma pena conjunta de 25 anos de prisão, desde que o acórdão da primeira instância tivesse condenado
cada um dos crimes em concurso com pena até oito anos de prisão.
Constituiria uma inadmissível restrição das garantias de defesa que o Supremo Tribunal de Justiça estivesse arredado de
conhecer este recurso, atenta a gravidade das consequências jurídicas da actividade criminal do arguido, portanto, é inconstitucional, por
violar o artigo 32º número 1 Constituição República Portuguesa, a interpretação do artigo 400º número 1 alínea f) Código Processo Penal
que vede o recurso para o Supremo Tribunal Justiça dos acórdãos referidos, em recurso, pelas Relações que apliquem a cada um dos
crimes em concurso penas concretas inferiores a oito anos de prisão, mesmo que a pena conjunta seja superior a oito anos de prisão, a
introdução da dupla conforme suscitou ainda o magno problema de saber quando há confirmação da decisão anterior. A decisão do
tribunal recorrido é confirmada quando o Tribunal Relação rejeita o recurso nos termos do artigo 420º Código Processo Penal ou quando
aplica pena inferior ou menos grave do que a pena da decisão recorrida, em ambos os casos de confirmação por rejeição do recurso ou
por aplicação de pena inferior ou menos grave, não há violação do direito ao recurso, do arguido ou do assistente (artigos 32º números 1
e 7, e 20º número 1 Constituição República Portuguesa). Sendo compatível com a Constituição República Portuguesa uma dupla
conforme assente num juízo de mérito emitido pelo Tribunal Relação sobre a sentença recorrida (acórdão do Tribunal Constitucional
nº20/2007), também é compatível com a Constituição República Portuguesa, por maioria de razão, a dupla conforme assente num juízo
processual do Tribunal Relação sobre os vícios estruturais do próprio recurso, que impedem o conhecimento do mérito (artigo 420º
número 1 alínea b. e c. Código Processo Penal), e a dupla conforme assente num juízo liminar do Tribunal Relação sobre o demérito do
recurso (artigo 420º número 1 alínea a. Código Processo Penal), ao invés, cabe recurso para o Supremo Tribunal de Justiça de acórdão
condenatório proferido, em recurso, pelo Tribunal Relação que não confirme decisão do tribunal de primeira instância, mesmo que o
Tribunal Relação aplique pena de prisão inferior a oito anos. Por exemplo, se o tribunal de primeira instância condenar na pena de cinco
anos de prisão e o Tribunal Relação condenar pelos mesmo factos e crime na pena de seis anos de prisão há recurso para o Supremo
Tribunal Justiça, mas se o tribunal de primeira instância condenar na pena de dez anos de prisão e o Tribunal Relação condenar na pena
de oito anos de prisão, não cabe recurso para o Supremo Tribunal de Justiça.
A Lei nº48/2007 de 29 de Agosto, alargou a irrecorribilidade a todos os acórdãos proferidos, em recurso, pelo Tribunal Relação,
que apliquem pena não privativa da liberdade, onde anteriormente a Lei nº59/98 de 25 de Agosto, previa que não eram recorríveis os
acórdãos proferidos, em recurso, pelo Tribunal Relação, em processo por crime a que seja aplicável pena de multa, por exemplo, se o
tribunal de primeira instância aplicou pena de prisão efectiva e o Tribunal Relação aplicou pena de prisão com a execução suspensa, a
segunda decisão não admite recurso. Esta regra é aplicável mesmo quando a decisão do Tribunal Relação tiver constituído um
agravamento em relação à do tribunal de primeira instância, uma vez que a lei não estabelece nenhuma condição atinente à confirmação
da decisão recorrida pelo tribunal de recurso, por exemplo, se o tribunal de primeira instância aplicou pena de multa e o Tribunal Relação
aplicou pena de prisão com a execução suspensa, esta decisão não é recorrível para o Supremo Tribunal Justiça, por fim, esta regra nova
é ainda aplicável em todos os recursos das condenações de pessoas colectivas, uma vez que estas não podem ser condenadas em pena
privativa da liberdade. Não é admissível o recurso da parte de sentença relativa a indemnização civil se o alor do pedido não for superior
à alçada do tribunal recorrido ou a decisão impugnada não for desfavorável para o recorrente em valor superior a metade desta alçada, é
o princípio idêntico ao do artigo 678º número 1 Código Processo Civil com a redacção do Decreto-Lei nº 242/85 de 9 de Julho, que
também prevê que em caso de dúvida sobre o valor da sucumbência atende-se apenas ao valor da causa, a versão inicial do Código
Processo Penal só previa a regra da sucumbência, mas a Lei nº 59/98 de 25 de Agosto, acrescentou-lhe a exigência do valor do pedido
superior à alçada do tribunal recorrido, pondo fim ao tratamento privilegiado dos recursos em matéria civil interpostos no processo
penal. Quer um quer o outro requisito foram já testados pelo Tribunal Constitucional, não são inconstitucionais as normas que preveem
a irrecorribilidade da decisão relativamente ao pedido de indemnização civil se a decisão impugnada não for desfavorável para o
recorrente em valor superior a metade da alçada do tribunal (acórdão do Tribunal Constitucional nº 201/94) ou se o valor do pedido não
for superior à alçada do tribunal recorrido e a decisão impugnada não for desfavorável ao recorrente em valor superior a metade dessa
alçada, sendo o recurso interposto exclusivamente para efeito de arguição de nulidades de sentença (acórdão do Tribunal Constitucional
nº 94/2001) ou ainda se o crime foi amnistiado após a prolação da acusação e o processo prosseguiu para conhecimento do pedido cível,
mas o montante da condenação não é superior a metade da alçada do tribunal recorrido, mesmo que a sentença dê como provada a
prática dolosa pelo arguido e demandado de factos que, sem a amnistia, consubstanciariam o tipo legal de crime por que foi acusado
(acórdão do Tribunal Constitucional nº 100/2002).
A Lei nº 48/2007 de 29 de Agosto, introduz um novo número 3: os acórdãos proferidos, em recurso, pelas Relações quanto a
indemnização civil são recorríveis, mesmo no caso em que seja irrecorrível a decisão na parte penal. Esta inovação contraria a
jurisprudência fixada pelo acórdão do pleno das secções criminais do Supremo Tribunal de Justiça nº 1/2002, segundo a qual é
irrecorrível a decisão relativamente ao pedido de indemnização civil se for irrecorrível a decisão penal, ainda que se encontrem reunidos
os pressupostos do artigo 400º número 2 Código Processo Penal, na versão posterior à reforma de 1998, tal conclusão foi considerada
como compatível com a Constituição República Portuguesa pelo Tribunal Constitucional no acórdão nº 338/2005, esta jurisprudência fica
agora prejudicada. A bem da “igualdade” entre todos os recorrentes em matéria civil, dentro e fora do processo penal, como se afirma
na motivação da proposta de Lei nº 109/X, o legislador introduz uma quebra ao princípio da adesão, por exemplo, passam a ser
recorríveis os acórdãos absolutórios proferidos em recurso pelo Tribunal Relação que confirmem decisão de primeira instância quando
fosse admissível esse recurso nos termos do artigo 400º número 2 Código Processo Penal. A ratio do número 3 resolve também o
problema da aplicabilidade do artigo 678º número 2 Código Processo Civil ao processo penal, atenta essa ratio, assente no tratamento
igualitário dos recorrentes em matéria civil dentro e dora do processo penal, o recurso interposto em processo criminal com fundamento
em violação das regras de competência internacional ou em razão da matéria ou da hierarquia ou do caso julgado, é sempre admissível
em relação à decisão sobre matéria civil. E, como a protecção garantida a estas regras processuais fundamentais não é mais importante
em matéria civil do que em matéria penal, deve entender-se que é aplicável analogicamente a disposição do artigo 678º número 2
Código Processo Civil à decisão sobre matéria penal, a ratio do número 3 resolve ainda o problema da aplicabilidade do artigo 234º-A
número 2 Código Processo Civil ao processo penal, por força daquela ratio igualitária, deve considerar-se admissível o recurso para o
Tribunal Relação do despacho de indeferimento liminar do pedido de indemnização civil formulado na acção penal cujo valor esteja
contido na alçada dos tribunais de primeira instância. A alínea g) numero 1 do artigo 400º Código Processo Penal refere ainda “os demais
casos previstos na lei”, em regra, trata-se de despachos interlocutórios cuja irrecorribilidade se justifica por razões de celeridade
processual, assim, não violam a Constituição os preceitos que determinam a irrecorribilidade das decisões interlocutórias no processo de
extradição (acórdão do Tribunal Constitucional nº 703/93), da decisão do tribunal penal que se declara territorialmente incompetente
(acórdão do Tribunal Constitucional nº 158/2003), da decisão sobre o incidente de prestação de depoimento com quebra de segredo
profissional (acórdãos do Tribunal Constitucional nº 589/2005 e nº 673/2005) e os acórdãos proferidos pelas Relações sobre pedido de
recursa do juiz de primeira instância (acórdão do Tribunal Constitucional nº 565/2007), a mesma ratio vale para irrecorribilidade do
despacho de indeferimento de diligências de prova requeridas na instrução pelo arguido (acórdãos do Tribunal Constitucional nº
371/2000 e nº 375/2000) ou pelo assistente (acórdãos do Tribunal Constitucional nº 176/2002 e nº 464/2003).
Também não padece de qualquer vício de inconstitucionalidade a irrecorribilidade do despacho que designa dia para
julgamento quando o Ministério Público tiver deduzido acusação (acórdão do Tribunal Constitucional nº 31/87), do despacho que
pronuncie por crime de emissão de cheque sem provisão (acórdão do Tribunal Constitucional nº 259/88), do despacho de pronúncia que
confirma uma acusação deduzida pelo Ministério Público (acórdãos do Tribunal Constitucional nº 265/94, nº 266/98, nº 216/99,
decididos em momentos históricos e com composições diferentes do Tribunal Constitucional) e do despacho de pronúncia que confirma
uma acusação deduzida pelo assistente e acompanhada pelo Ministério Público (acórdãos do Tribunal Constitucional nº 30/2001 e nº
79/2005). Encontram-se também casos de irrecorribilidade dos despachos posteriores à decisão final, tais como o despacho que indefere
o requerimento de reforma quanto a custas nos mesmo termos em que tal regra vigora para a rejeição dos demais incidentes pós-
decisórios (acórdãos do Tribunal Constitucional nº 392/2006, que incidiu sobre o artigo 670º número 2 Código Processo Civil) e o
despacho que indeferiu um pedido de aclaração de uma decisão ou sentença.

Artigo 401º “LEGTIMIDADE E INTERESSE EM AGIR”


“1. Têm legitimidade para recorrer:
a) O Ministério Público, de quaisquer decisões, ainda que no exclusivo interesse do arguido;
b) O arguido e o assistente, de decisões contra eles proferidas;
c) As partes civis, da parte das decisões contra cada uma proferidas;
d) Aqueles que tiverem sido condenados ao pagamento de quaisquer importâncias, nos termos deste Código, ou tiverem a
defender um direito afectado pela decisão.
2. Não pode recorrer quem não tiver interesse em agir.”

Tem legitimidade para recorrer aquele que é “afectado” pela decisão, isto é, aqueles cujos direitos foram prejudicados ou
poderão vir a ser prejudicados pela mesma, por exemplo, o condutor do veículo ainda que o meso não lhe pertença, tem legitimidade
para recorrer da sentença que o declare perdido a favor do Estado porque ele é afectado pela decisão. Têm interesse em agir aquele que
tem carência do processo (rectius, do recurso) para fazer valer o seu direito, ou seja, não existe interesse em agir nos seguintes casos:
(a) O sujeito ou interveniente processual conformou-se com a decisão proferida.
(b) O sujeito ou interveniente processual promoveu a decisão proferida.
(c) O sujeito ou interveniente processual é beneficiado pela decisão proferida (acórdão do Tribunal Constitucional nº 51/2010,
interpretou no sentido de que, por falta de interesse em agir, não é admissível recurso por parte do arguido da decisão
instrutória que o não pronuncie por todos os factos constantes da acusação instrutória que o não pronuncie por todos os factos
constantes da acusação, mesmo que o recurso verse sobre as parte desta decisão que indeferiu a pretensão do arguido de
prescrição do procedimento criminal; acórdão de 15.02.2006, sobre a irrecorribilidade do despacho judicial que declara a
inexistência dos autos quando o arguido invocou a respectiva nulidade)

A conformação com a decisão proferida é sinal de que o sujeito ou interveniente processual não necessita do recurso para fazer
valer o seu direito, porque a decisão proferida, ela mesmo, já representa o direito aos olhos do sujeito ou interveniente processual por
ela visado, isto é, o sujeito já não tem carência do processo. Mas o legislador não permitiu a renúncia antecipada (isto é, prévia à decisão)
do direito de recorrer em processo penal, por isso, só a aceitação, o recorrente perde o interesse em agir, dados os bens jurídicos em
jogo no processo penal e o princípio da presunção da inocência, na dúvida sobre os factos referentes a essa aceitação deve presumir-se
sempre interesse em agir. A aceitação tácita da decisão, desde que tenha um sentido inequívoco e unívoco, também é relevante, o
princípio da lealdade processual impõe-se aos sujeitos e participantes processuais, por força deste princípio, não pode recorrer quem
tiver promovido a decisão proferida e, designadamente, aquele que impugna decisão concordante com a sua anterior posição assumida
no processo e aquele que impugna decisão condenatória em pena ou medida de coacção menos grave do que aquele que requereu. O
recurso do Ministério Público não é admissível nos seguintes casos:
O Ministério Público não tem legitimidade para recorrer do despacho que
condenou nas custas o demandante cível por ter desistido do pedido;
O Ministério Público não tem legitimidade para recorrer relativamente ao
pedido cível no interesse do arguido, fora das hipóteses do artigo 76º Código Processo Penal e da
LOMP;
O Ministério Público não tem legitimidade nem interesse em agir se o
fundamento do recurso é a discordância quanto às datas para os efeitos do artigo 61º Código
Penal;
O Ministério Público não tem interesse em agir para recorrer de decisão a
condenar o arguido por haver faltado julgamento;
O Ministério não tem interesse em agir para recorrer de decisão de rejeição da
acusação manifestamente infundada por os factos não constituírem crime, se o Ministério Público
fundar o recurso em que os factos constituem contravenção, pelo que o tribunal deve ser
declarado incompetente e remetidos os autos ao tribunal competente;
O Ministério Público não tem interesse em agir se na motivação do recurso que
não é interposto no exclusivo interesse do arguido, declara que concorda com a absolvição deste,
mas discorda da fundamentação;
O Ministério Público não tem interesse em agir se impugna o despacho de não
concessão da liberdade condicional com base em irregularidades cometidas anteriormente.

A ilegitimidade do Ministério Público para recorrer de decisões concordantes com posições anteriores assumidas é imposta
pelo princípio de lealdade processual, ínsito ao Estado de Direito e à legalidade democrática que compete ao Ministério Público
defender, a autonomia e a estrutura hierárquica do Ministério Público em nada são prejudicadas por este tese, já que as posições
assumidas pelo magistrado do Ministério Público no processo podem e devem ser articuladas previamente com os seus superiores
hierárquicos. Mas depois de tomada uma posição no processo, ela obrigada todo o Ministério Público, da natureza una e indivisível do
Ministério Público resulta que a posição processual previamente assumida pelo magistrado no processo não o vincula apenas a ele
pessoalmente, mas antes é todo o Ministério Público que assim fica vinculado no dito processo. Assim é, por exemplo, quando o
magistrado do Ministério Público renuncia ao recurso na audiência nos termos do artigo 497º número 2 Código Processo Penal, essa
posição vincula todo o Ministério Público, não podendo ser alterada posteriormente pelo superior hierárquico. Acresce que a
interposição de recurso de decisão que acolheu uma posição tomada pelo Ministério Público favorável ao arguido constitui um
inadmissível tremine contra factum proprium, que viola o princípio da lealdade processual e as garantias de defesa do arguido, a questão
não se altera nos recursos interposto pelo Ministério Público em benefício do arguido de decisão judicial que acolheu uma anterior
posição do Ministério Público desfavorável ao arguido, também aqui se exige que as posições do Ministério Público sejam as mesmas
antes e depois da decisão judicial e que o assistente e o tribunal não sejam surpreendidos por tomadas de posições contraditórias, é que
a lealdade processual não é devida apenas em relação ao arguido, mas a todos os sujeitos processuais. A lealdade processual não é um
bem privatístico do arguido, mas uma garantia estrutural do processo, por fim, o princípio da legalidade não prejudica quando se disse,
não há prossecução da lealdade se o processo não for leal (fair), a legalidade não pode ser alcançada por vias tortuosas e desleais, pelo
exposto, é inconstitucional o artigo 401º número 1 alínea a) Código Processo Penal, na interpretação consagrada no acórdão do plenário
das secções criminais do Supremo Tribunal de Justiça nº 5/94 por violar os artigos 2º, 13º, 32º número 1 e 219º número 1 Constituição
República Portuguesa e o artigo 6º número 1 CEDH.
Dizendo-o com as palavras de FIGUEIREDO DIAS, com tal jurisprudência, “é a própria função de uma das mais relevantes
instituições de Direito Democrático dos nossos dias, o ministério público que pesadamente se descaracteriza e se põe em causa”, a
disposição do artigo 406º número 1 Código Processo Penal, confere legitimidade ao arguido, mas não menciona o suspeito, o suspeito
tem uma posição processual no processo, encabeça direitos, incluindo desde logo o direito de se constitui como arguido. Por isso, a
decisão de indeferimento da constituição como arguido e as decisões que violem os direitos do suspeito, como por exemplo a
autorização judicial da revista ou busca são recorríveis, de outro modo haveria um inadmissível encurtamento do direito de acesso aos
tribunais e das garantias de defesa (artigos 20º número 1 e 32º número 1 Constituição República Portuguesa), a disposição do artigo
401º número 1 alínea d) Código Processo Penal, reconhece legitimidade a todos aqueles que “tiverem a defender um direito afectado
pela decisão”. Esta disposição deve ser interpretada em conformidade com os referidos principais da Constituição República Portuguesa
no sentido de conferir legitimidade ao suspeito para recorrer da decisão de indeferimento da constituição como arguido e das decisões
que violem os direitos do suspeito, como por exemplo da autorização judicial da revista ou busca, o recurso do arguido é inadmissível nos
seguintes casos:
 O arguido não tem legitimidade para recorrer do despacho de notificação de marcação da data para a audiência com cominação de que o
julgamento se fará na sua ausência se ele faltar (acórdão do Tribunal Constitucional nº 221/2000).
 O arguido não tem legitimidade para recorrer do despacho que declara amnistiado o crime que lhe foi imputado, nem da sentença que
tenha conhecido do mérito da causa e julgado procedente a acusação, mas julgado extinto o procedimento criminal por amnistia.
 O arguido não tem legitimidade para recorrer da sentença que o declara incapaz e o absolve, nem da sentença que o declara incapaz e o
absolve, nem da sentença que o absolve porque agiu ilicitamente, mas sem culpa.
 O arguido não tem legitimidade para recorrer da sentença condenatória em pena de prisão exclusivamente na parte relativa à suspensão
da execução da pena.
 O arguido não tem legitimidade para recorrer do despacho que julgou justificada a falta à audiência de julgamento do mandatário do
assistente.
 O arguido não tem interesse em agir, sendo absolvido do crime imputado, mas condenado no pedido de indemnização civil, se no
recurso não discute a existência e o conteúdo do direito do demandante e expressamente aceita a obrigação de indemnizar.
 O arguido não pode recorrer do despacho judicial de concordância com o arquivamento, por lhe faltar interesse em agir.
 O arguido não tem interesse em recorrer quando a sua pretensão é genérica no sentido de que todos os actos do processo sejam
traduzidos na sua língua.
 Mas viola a Constituição República Portuguesa e Carta Europeia dos Direitos Humanos a irrecorribilidade do despacho de pronúncia pelo
arguido sem estar preso nem caucionado (mas contra acórdão do Tribunal Constitucional nº 353/91, cuja jurisprudência choca com a do
acórdão do Tribunal Europeu Direitos Homem no caso Poitrimol v. França, em que se tratava de legitimidade do arguido recorrente da decisão
de condenação).

A disposição confere legitimidade ao assistente para recorrer das decisões contra ele proferidas, mas não menciona
expressamente o ofendido. O ofendido tem uma posição processual no processo, encabeça direitos e interesses, incluindo desde logo o
direito de se constituir como assistente, por isso, a decisão de indeferimento da constituição como assistente e as decisões que violem os
direitos e os interesses dos ofendidos são recorríveis, de outro modo haveria uma inadmissível restrição do direito de acesso aos
tribunais e do direito de intervir no processo penal (artigos 20º número 1 e 32º número 7 Constituição República Portuguesa). A
disposição do artigo 401º número 1 alínea d) Código Processo Penal, reconhece legitimidade a todos aqueles que “tiverem a defender um
direito afectado pela decisão”, desta disposição deve ser interpretada em conformidade com os referidos princípios da Constituição
República Portuguesa no sentido de conferir legitimidade ao ofendido para recorrer das decisões que prejudiquem os seus direitos do
ofendido, incluindo a decisão de indeferimento da constituição como assistente, mais: se o defendido requereu a constituição como
assistente, pagou a taxa de justiça e estava representado por advogado, mas por lapso não foi admitido formalmente como assistente,
sendo embora sempre tido como tal, designadamente no julgamento, o recurso por ele interposto da sentença é admissível, por se dever
considerar que foi admitido tacitamente como assistente no julgamento. Mas o ofendido não tem legitimidade para recorrer do despacho
que não recebeu a acusação deduzida pelo Ministério Público, mesmo que ele tenha formulado pedido de indemnização pelos danos que
sofrera, nem do despacho que considerou ter havido renúncia ao direito de queixa, em ambos os casos, o interesse no prosseguimento
da acção penal manifestado na interposição do recurso suporia a prévia constituição como assistente, o recurso do assistente é
inadmissível nos seguintes casos:
 O assistente não tem legitimidade para recorrer se não tiver legitimidade para se constituir como assistente, ainda
que tenha sido admitido como tal despacho transitado proferido na fase de inquérito ou, tratando-se de menor de
16 anos ou por outro motivo incapaz, por despacho transitado proferido em momento posterior à dedução da
acusação ou ao arquivamento, vindo depois dessa admissão o menor a alcançar os 16 anos ou a recuperar a
capacidade, mas não requerendo a sua constituição como assistente.
 O assistente que não tenha deduzido acusação, nem acompanhado a acusação pública não tem legitimidade para
recorrer da qualificação dos factos na sentença, nem da suspensão da execução da pena de modo a que fique
condicionada ao pagamento da indemnização que lhe foi arbitrada, nem do despacho de não pronúncia, nem no
despacho que rejeita a acusação por ser manifestamente infundada mas viola a Constituição República Portuguesa a
ilegitimidade do assistente para recorrer autonomamente da espécie e da medida da pena, tendo deduzido
acusação ou acompanhado a acusação pública.
 O assistente não tem legitimidade para recorrer dos honorários a pagar ao seu advogado.
 O assistente não tem legitimidade para recorrer do despacho judicial que, por entender que se verifica uma
alteração substancial dos factos, perante a oposição do arguido a que esses factos fossem considerados no
julgamento do caso, declarou extinta a instância e ordenou a entrega de certidões ao Ministério Público para
inquérito.
 O assistente que, durante o processo, teve oportunidade para questionar o exame psiquiátrico em que o perito
concluía pela inimputabilidade do arguido e não o fez, não tem legitimidade para, desacompanhado do Ministério
Público, recorrer da sentença que, assente nessa inimputabilidade, aplicou uma medida de segurança de
internamento ao arguido, acusado de um crime de homicídio e de um outro de detenção de arma proibida.
 O assistente não tem interesse em agir para recorrer de um despacho em que é concedida ao arguido uma dilatação
do prazo fixado na sentença para o pagamento de uma quantia como condição de suspensão da execução da pena.
 O assistente não tem interesse em agir por discordância da qualificação jurídica, de sentença em processo em que
aderiu à acusação pública e deduziu pedido de indemnização, mas a qualificação jurídica é irrelevante para a
indemnização.
 Mas o assistente tem interesse em agir para recorrer do despacho que o condenou em custas apesar de beneficiar
de apoio judiciário, pois o apoio pode vir a ser-lhe retirado.

O recurso das partes civis não é admissível nos seguintes casos:


 O demandado não tem legitimidade para recorrer da parte criminal da sentença enquanto condenatória ou absolutória, pelo que é
de rejeitar o recurso interposto por uma seguradora pedindo a absolvição do arguido, ainda que este também tenha recorrido da
parte penal.
 O demandante não tem legitimidade para, no recurso da matéria cível, pôr em causa, ainda que indirectamente, a parte penal da
sentença, pedindo a alteração da matéria de facto provada.
 O demandante não tem legitimidade para recorrer do despacho que, a requerimento do arguido, substituiu o defensor nomeado.
 O demandante não tem legitimidade para recorrer do despacho que declara extinto o procedimento criminal por prescrição e
cessada a contumácia.
 O demandante não tem legitimidade para recorrer do despacho que não recebe a acusação do Ministério Público, mesmo que tenha
deduzido pedido de indemnização civil.
 Mas o demandante tem legitimidade para recorrer da sentença condenatória em montante inferior ao pedido, como também para
recorrer do despacho de arquivamento dos autos por força de um obstáculo processual ao conhecimento do mérito.

O recurso de terceiro é inadmissível no seguinte caso:


o Não tem legitimidade para recorrer a autoridade administrativa da decisão que revogou uma coima por si aplicada em
processo de contra-ordenação.
o Não tem legitimidade para recorrer a autoridade administrativa da decisão que julgou extinto o procedimento transgressional,
ainda que 40% da multa reverta para a autoridade recorrente.
o Não tem legitimidade para recorrer o queixoso da decisão de não indeferimento do seu pedido de declaração de prescrição do
procedimento criminal.
o Mas tem legitimidade para recorrer a entidade bancária do despacho judicial que considerou ilegítima a invocação do sigilo
bancário e ordenou o fornecimento de determinada informação sob pena de realização de buscas para obtenção da mesma.
o E também tem legitimidade a mulher do arguido para recorrer da sentença condenatória que declarou perdido a favor do
Estado um veículo automóvel, que é bem comum do casal.

Artigo 402º “ÂMBITO DO RECURSO”


“1. Sem prejuízo do disposto no artigo seguinte, o recurso interposto de uma sentença abrange toda a decisão.
2. Salvo se for fundada em motivos estritamente pessoais, o recurso interposto:
a) Por um dos arguidos, em caso de comparticipação, aproveita aos restantes;
b) Pelo arguido, aproveita ao responsável civil;
c) Pelo responsável civil, aproveita ao arguido, mesmo para efeitos penais.
3. O recurso interposto apenas contra um dos arguidos, em casos de comparticipação, não prejudica os restantes.”

A ratio dos artigos 402º e 403º Código Processo Penal é a de evitar uma fixação atrabiliária do âmbito objectivo e subjectivo
dos poderes cognitivos do tribunal de recurso, para esse efeito, a lei estabeleceu uma ordem sistemática e lógica de procedimento do
tribunal de recurso, quando o tribunal de recurso conhece de um recurso ordinário em processo penal deve seguir uma metodologia de
cognição do recurso que tem duas fases distintas e subsequentes: primeiro, o tribunal de recurso deve proceder à delimitação objectiva
do âmbito do recurso e só depois proceder à delimitação subjectiva do âmbito do recurso. Por isso, o artigo 402º número 1 Código
Processo Penal, começa logo por ressalvar o disposto no artigo seguinte, onde se procede à delimitação objectiva do âmbito do recurso,
e o artigo 402º número 2 Código Processo Penal, procede à extensão subjectiva do âmbito do recurso, a metodologia de cognição dos
recursos ordinários em processo penal é a seguinte:
 Delimitação objectiva do âmbito do recurso, as conclusões do recorrente delimitam o âmbito do poder de cognição do tribunal
de recurso, nelas o recorrente condensa os motivos da sua discordância com a decisão recorrida e com elas o recorrente fixa o
objecto da discussão no tribunal de recurso. O recorrente pode condicionar o conhecimento de uma conclusão à procedência
de outra ou outras conclusões, por exemplo, se o recorrente afirma que “caindo a sua conduta no tráfico de menor gravidade
(…), a medida da pena aplicada ao arguido deve, assim, ser reduzida”, sendo falsa a premissa, não cabe exercer a censura sobre
a pena aplicada, a delimitação objectiva do âmbito do recurso resulta, pois, em primeira linha, das conclusões.
 O recorrente pode proceder à delimitação do âmbito do recurso por referências às partes autónomas da decisão recorrida, nos
termos do artigo 403º número 2 Código Processo Penal, mas o recorrente pode colocar no recurso ou ter já colocado em
recurso interlocutório prévio questões processuais que precedem o conhecimento do mérito do caso. Esta é a primeira
destrinça a traçar pelo tribunal de recurso, devendo conhecer primeiro dos recursos atinentes às referidas questões
processuais e posteriormente dos recursos que respeitem ao mérito da causa, salvo se o arguido deva ser absolvido,
independentemente da sorte do recurso sobre as questões processuais.
 A delimitação do âmbito do recurso pelo recorrente não prejudica o dever do tribunal conhecer oficiosamente das nulidades
insanáveis que afectem o recorrente.
 A delimitação do âmbito do recurso pelo recorrente não prejudica o dever do tribunal conhecer oficiosamente dos vícios do
artigo 410º número 2 Código Processo Civil, que afectem o recorrente.

Com efeito, o dever do tribunal de recurso conhecer oficiosamente das nulidades insanáveis e dos vícios do artigo 410º número
2 Código Processo Penal, que afectem o recorrente, respeita quer às partes da decisão impugnadas pelo recorrente quer às partes não
impugnadas pelo recorrente, o tribunal de recurso tem o dever de conhecer oficiosamente das nulidades insanáveis e dos vícios do artigo
410º número 2 Código Processo Penal, que afectem o recorrente, mesmo que o recorrente se tenha conformado com os factos e tenha
apenas impugnado o direito ou se tenha mesmo conformado com os factos e as incriminações e tenha impugnado apenas as sanções
criminais ou se tenha conformado até com os factos, as incriminações e as sanções criminais e tenha impugnado somente a condenação
civil. O tribunal de recurso tem o dever de conhecer oficiosamente das nulidades insanáveis e dos vícios do artigo 410º número 2 Código
Processo Penal, mesmo quando o recurso devesse ser rejeitado por manifesta improcedência, a declaração das nulidades insanáveis e
dos vícios do artigo 410º número 2 Código Processo Penal, prevalece sobre a verificação da manifesta improcedência do recurso, porque
aquela declaração antecede logicamente esta verificação. O tribunal de recurso tem o dever de conhecer oficiosamente das nulidades
insanáveis e dos vícios do artigo 410º número 2 Código Processo Penal, quando a questão da subsunção jurídica já tiver sido
judicialmente apreciada de modo uniforme e reiterado, a apreciação judicial de modo uniforme e reiterado de uma questão não
desobriga o tribunal de recurso da declaração das nulidades insanáveis e dos vícios do artigo 410º número 2 Código Processo Penal, esta
declaração antecede das nulidades insanáveis e dos vícios do artigo 410º número 2 Código Processo Penal, esta declaração antecede
logicamente a decisão sumária de mérito sobre a subsunção do caso do recurso à solução judicial uniforme e reiterada.
Os limites do dever de conhecimento oficioso do tribunal de recurso, resultam da necessária conjugação do artigo 410º número
2 Código Processo Penal, com outras normas do Código Processo Penal, que têm um efeito restritivo do poder cognitivo do tribunal, o
tribunal de recurso não pode conhecer oficiosamente das nulidades insanáveis, nem dos vícios do artigo 410º número 2 Código Processo
Penal, quando o recurso deva ser rejeitado por inadmissibilidade nos termos dos artigos 414º número 2 e 420º número 1 alínea b)
Código Processo Penal, por exemplo, o tribunal de recurso não tem poderes de cognição dos vícios do artigo 410º número 2 Código
Processo Penal, nem das nulidades insanáveis, se o recorrente não tem legitimidade para interpor o recurso ou quando o recurso foi
interposto fora de tempo. O tribunal de recurso não pode conhecer oficiosamente das nulidades insanáveis, nem dos vícios do artigo
410º número 2 Código Processo Penal, quando o recurso deva ser rejeitado por o recorrente não apresentar, completar ou esclarecer as
conclusões formuladas nos termos dos artigos 417º número 3 e 420º número 1 alínea c) Código Processo Penal, o tribunal de recurso não
pode conhecer oficiosamente das nulidades insanáveis, nem dos vícios do artigo 410º número 2 Código Processo Penal, quando exista
causa extintiva do procedimento ou da responsabilidade criminal que ponha termo ao processo ou seja o único motivo do recurso. A
causa extintiva do procedimento ou da responsabilidade criminal é um pressuposto processual cujo conhecimento prevalece por força do
princípio da presunção da inocência, mas no caso de concurso entre um motivo de rejeição por inadmissibilidade do recurso e uma causa
de extinção do procedimento ou da responsabilidade criminal, o tribunal de recurso deve declarar a inadmissibilidade do recurso, o
tribunal de recurso não pode conhecer oficiosamente das nulidades insanáveis, nem dos vícios do artigo 410º número 2 Código Processo
Penal, em violação do princípio da proibição da reformatio in pejus – por exemplo, sendo o arguido condenado por um crime e absolvido
de outro e havendo recurso da condenação, o tribunal de recurso não pode conhecer de um vício do artigo 410º número 2 Código
Processo Penal, que diga exclusivamente respeito à matéria do crime relativamente ao qual o arguido foi absolvido e em relação à qual
não foi interposto recurso.
A questão é mais delicada quando o vício na apreciação da prova atinge a totalidade dos factos, é o caso seguinte: a instância
não deu como provada a intenção de matar, mas apenas a de ofender fisicamente, e acabou por condenar por ofensas corporais com
dolo de perigo. O arguido recorreu, pedindo a absolvição por ter actuado em legítima defesa, o Supremo Tribunal de Justiça considerou
que “dadas as circunstâncias de facto já fixadas quanto à actuação do arguido, designadamente, a arma usada, a distância de 2 metros a
que dele se encontrava o ofendido no momento dos disparos, a circunstância do arguido ser bom atirador e ter atingido o ofendido com
dois tiros no tórax, deixavam antever possibilidades de mais vasta indagação sobre as outras formas de dolo, a que o tribunal devia ter
procedido, consignando as respectivas condenações”, mas o Supremo Tribunal de Justiça vai mais longe, dizendo mesmo que há erro
notório na apreciação da prova e que “não se compreende a convicção a que chegou o tribunal colectivo acerca da intenção do arguido”
e que as regras e a experiência da vida dizem que no caso qualquer homem médio admitiria que podia causar a morte. O mesmo erro
ocorre quando a instância não deu como provado que os ferimentos no hemotórax tenham posto a vida do ofendido em perigo e que
esses ferimentos só não causaram a morte devido aos prontos cuidados médicos, as regras da experiência dizem-nos que tais ferimentos
põem em perigo a vida, contudo, atenta a circunstância de o recurso ter sido interposto pelo arguido, o reenvio do processo não pode
submeter o arguido ao risco de um agravamento da sua situação processual, pelo que vale no segundo julgamento a proibição da
reformatio in pejus.
Não havendo nulidade insanáveis, nem nulidades sanáveis ou irregularidades tempestivamente arguidas de que caiba
conhecer, nem outras questões prévias que obstem ao conhecimento do recurso, o tribunal deve conhecer das partes autónomas
impugnadas da decisão (de acordo com as conclusões do recurso) e, subsequentemente, da parte não impugnada da decisão. Com
efeito, a delimitação do âmbito do recurso pelo recorrente não prejudica o dever do tribunal de recurso retirar oficiosamente da
procedência das conclusões do recurso as “consequências” relativamente às partes autónomas da decisão não impugnadas pelo
recorrente (artigo 403º número 3 Código Processo Penal), o disposto no artigo 403º número 3 Código Processo Penal, é limitado pela
proibição da reformatio in pejus, pelo que no caso de recurso interposto pelo arguido ou pelo Ministério Público em exclusivo interesse
do arguido as “consequências” relativamente à parte não impugnada da decisão são apenas as “consequências” que aproveitam ao
arguido, destarte, no recurso interposto pelo arguido pelo arguido ou pelo Ministério Público em exclusivo interesse do arguido, o caso
julgado parcial fica dependente de uma condição resolutiva, que só pode operar pro reo e nunca pro societate, assim:
a. Da decisão sobre o recurso referente a matéria penal devem ser retiradas as consequências que
aproveitam ao recorrente relativamente à matéria civil (não impugnada) que dependa da matéria penal, por exemplo, o
arguido é condenado pelo crime de dano e no pedido de indemnização civil corresponde ao prejuízo do ofendido, o arguido
interpõe recurso apenas contra a condenação penal, alegando que era proprietário da coisa. O recurso é julgado procedente
com o fundamento invocado, o tribunal de recurso deve absolver o arguido também do pedido de indemnização, o mesmo
sucede se o arguido é condenado pelo crime de burla e no pedido de indemnização civil correspondente ao valor do prejuízo do
ofendido, o arguido interpõe recurso apenas contra a condenação penal, alegando que houve mero incumprimento de um
contrato. Procedendo o recurso com o fundamento invocado, o tribunal de recurso deve absolver também do pedido de
indemnização.
b. Da decisão sobre o recurso referente a matéria civil devem ser retiradas as consequências que
aproveitem ao recorrente relativamente à matéria penal (não impugnada) de que dependa a matéria civil, por exemplo, o
arguido é condenado pelo crime de ofensas corporais em pena de prisão com a execução suspensa e no pedido de
indemnização civil. O arguido interpõe recurso apenas contra a condenação civil e esta é julgada procedente por legítima
defesa, o tribunal de recurso deve absolver o arguido também da condenação criminal.
c. Da decisão sobre o recurso referente a um crime devem ser retiradas as consequências que
aproveitam ao recorrente relativamente aos outros crimes (não impugnados) cometidos através da mesma acção ou omissão,
por exemplo, o arguido condenado por homicídio negligente e tratamentos médicos-cirúrgicos em violação das legis artis
interpõe recurso apenas contra a condenação pelo crime de homicídio e o recurso é julgado procedente devido à consideração
de que o arguido actuou de acordo com as legis artis. O tribunal deve absolver o arguido de ambos os crimes.
d. Da decisão sobre o recurso referente a um crime devem ser retiradas consequências que
aproveitam ao recorrente relativamente aos outros crimes (não impugnados) que sejam causa ou efeito do crime impugnado
ou que se destinassem a continuar ou a ocultar o crime impugnado, por exemplo, o arguido condenado por homicídio doloso
(crime-efeito) e participação em rixa (crime-causa) interpõe recurso apenas contra a condenação pelo crime de homicídio e o
recurso é julgado procedente devido à consideração de que o arguido agiu em legítima defesa de terceiro. O tribunal de
recurso não deve absolver o arguido quer do crime-efeito impugnado quer do crime-causa não impugnado (artigo 151º número
2 Código Penal), mas se o tribunal de primeira instância condenar o arguido pelo crime de sequestro em concurso aparente
com o crime subtracção de menor o tribunal de recurso pode, em recurso interposto pelo arguido contra a condenação pelo
crime de sequestro, absolvê-lo deste crime de subtracção de menor.
e. Da decisão sobre o recurso referente a uma imputação penal devem ser retiradas consequências
que aproveitam ao recorrente relativamente à sanção criminal (não impugnada), por exemplo, se o arguido condenado pelo
crime consumado recorre com fundamento em que o crime não se chegou a consumar, o tribunal de recurso pode condenar o
arguido pelo crime tentado e reduzir-lhe a pena (não impugnada), ao invés, da decisão sobre o recurso referente à
determinação da pena não podem ser tiradas “consequências” para a decisão sobre a imputação criminal, uma vez que esta
matéria tem natureza lógica prévia e não consequencial àquela.
f. De decisão sobre o recurso referente a uma pena ou medida de segurança devem ser retiradas
consequências que aproveitam ao recorrente relativamente às outras penas ou medidas de segurança (não impugnadas)
quando os factores de escolha da espécie e medida da pena invocados no recurso sejam generalizáveis às demais penas ou
medidas de segurança, por exemplo, o arguido é condenado por quatro crimes de furtos nas penas de 1 ano, 3 anos de prisão,
em função do valor das coisas furtadas. O arguido conforma-se com as condenações de 1 ano de prisão e interpõe recurso das
penas de 3 anos de prisão e da pena conjunta, alegando que não tinha antecedentes criminais e era jovem menor de 18 anos à
data dos furtos, como ficou estabelecido nos actos provados, mas que esses factos não foram tidos em conta na fixação do
montante das penas, o tribunal pode julgar procedente o recurso e reformular todas as penas parcelares ponderando os ditos
factos e fixar uma nova pena conjunta.

Ao invés, no caso de recurso interposto pelo Ministério Público no interesse da acusação ou pelo assistente, a parte não
impugnada da sentença transita, formando caso julgado parcial, e, por isso, da procedência do referido recurso não podem ser retiradas
“consequências” relativamente à parte não impugnada da decisão, este princípio está agora consagrado explicitamente no novo artigo
402º número 3 Código Processo Penal, que manda que se tenha em conta o efeito do caso julgado parcial na delimitação do âmbito
subjectivo do recurso do Ministério Público. A disposição, que consagra a boa jurisprudência do Supremo Tribunal de Justiça, é aplicável,
por interpretação extensiva, à delimitação do âmbito objectivo do recurso do Ministério Público interposto da acusação e do recurso
interposto pelo assistente, assim, o efeito do caso julgado parcial na delimitação do âmbito objectivo do recurso interposto pelo
Ministério Público no interesse da acusação ou do recurso interposto pelo assistente é o seguinte:
a) Se o Ministério Público recorrer (em prejuízo do arguido) relativamente apenas a um crime em caso de concurso de crimes
imputados ao arguido, o recurso não prejudica o arguido relativamente aos outros crimes, por exemplo, sendo o arguido
condenado por burla e absolvido dos crimes de emissão de cheque sem provisão e furto recorrendo o Ministério Público da
absolvição do crime de emissão de cheque sem provisão, o tribunal de recurso pode condenar pelo crime de emissão de
cheque sem provisão, mas não pode condenar o arguido pelo crime de furto.
b) Se o Ministério Público recorrer (em prejuízo do arguido) relativamente a uma pena em caso de concurso de crimes, o recurso
não prejudica o arguido relativamente às outras penas, por exemplo, sendo o arguido condenado pelo crime de burla na pena
de 3 anos de prisão, pelo crime de abuso de confiança na pena de 1 ano de prisão e pelo crime de furto na pena de 2 anos de
prisão e, em cúmulo, na pena conjunta de 4 anos de prisão e da pena conjunta, mas não pode agravar as penas dos crimes de
burla e de furto. A pena conjunta poderá ser agravada tendo apenas em conta o agravamento da pena do crime de abuso de
confiança, se o Ministério Público recorrer pedindo o agravamento da pena parcelar, mas não da pena conjunta, há que
distinguir: o tribunal de recurso pode convidar o Ministério Público a completar as conclusões, se resultar da motivação que o
Ministério Público pretendia pedir também o agravamento da pena conjunta, mas se não resultar da motivação qualquer
pretensão de agravamento da pena conjunta, o tribunal de recurso não pode convidar a completar as conclusões, nem agravar
de motu proprio a pena conjunta.
c) Se o Ministério Público recorrer (em prejuízo do arguido) relativamente apenas a matéria penal, o recurso não prejudica o
arguido a matéria civil, portanto, se o arguido for absolvido em matéria criminal e civil e o recurso do Ministério Público contra
a absolvição criminal proceder, o tribunal de recurso condena na pena adequada, mas não pode condenar em indemnização
civil, mesmo que o pedido de indemnização tenha sido deduzido pelo Ministério Público.
d) As regras mencionadas para a restrição do âmbito do recurso do Ministério Público (em prejuízo do arguido) impedem a
reformatio in mellius da parte transitada da decisão recorrida, por força do caso julgado parcial, por exemplo, se só o Ministério
Público recorre da sentença condenatória, com fundamento na não aplicação da pena acessória da proibição de conduzir, o
tribunal de recurso não pode concluir pela absolvição do arguido.
e) As regras mencionadas para a restrição do âmbito objectivo do recurso do Ministério Público (em prejuízo do arguido) por
força do caso julgado parcial valem também para o recurso do assistente e o recurso do lesado, por exemplo, em recurso
interposto pelo lesado da sentença na parte cível, não pode o tribunal de recurso revogar a absolvição criminal e condenar o
arguido na parte criminal.

Delimitação subjectiva no âmbito do recurso, só depois de se definir o âmbito do recurso objectivamente (que crimes são
objecto de recurso) se pode estender o conhecimento aos não recorrentes se os motivos do recurso não forem estritamente pessoais
(âmbito subjectivo do recurso), havendo vários arguidos no processo, o recurso só aproveita ao recorrente se for fundado em motivos
estritamente pessoais:
[a] Portanto, quando o recurso se funda em motivos estritamente pessoais, o tribunal de recurso não tem o dever
de conhecer oficiosamente das nulidades insanáveis que só afectem os não recorrentes, por exemplo, no
recurso interposto pelo co-arguido José da medida da sua pena por ele ser bom pai de família, estar empregado
e não ter antecedentes criminais, o tribunal de recurso não pode declarar a sentença nula (nem parcialmente
nem totalmente nula) por o co-arguido André não recorrente ter sido julgado sem a assistência do seu defensor.
A sentença transitou já relativamente ao co-arguido André, uma vez que o recurso do co-arguido José se funda
em motivos estritamente pessoais, ao invés, se a nulidade insanável afectar o arguido recorrente e os arguidos
não recorrentes, por exemplo, por se ter violado as regras de composição do tribunal, o tribunal de recurso tem
o dever de conhecer oficiosamente da dita nulidade insanável e proferir decisão em relação a todos os arguidos.
[b] Quando o recurso se funda em motivos estritamente pessoais, o tribunal de recurso não tem o dever de
conhecer oficiosamente dos vícios do artigo 410º, número 2 que só afectem os não recorrentes, por exemplo,
no mesmo recurso interposto pelo co-arguido José da medida da sua pena por ele ser bom pai de família, estar
empregado e não ter antecedentes criminais, o tribunal de recurso não pode ordenar o reenvio (nem o reenvio
parcial nem o reenvio total) do processo por a sentença conter erro notório na apreciação da prova que diga
exclusivamente respeito ao co-arguido André não recorrente. A sentença transitou já relativamente ao co-
arguido André, uma vez que o recurso do co-arguido José fundado se funda em motivos estritamente pessoais,
ao invés, se os vícios do artigo 410º, número 2, afectarem o arguido recorrente e os arguidos não recorrentes,
por exemplo, por a sentença conter um erro notório na apreciação da prova que diga respeito ao arguido
recorrente e aos não recorrentes, o tribunal de recurso tem o dever de proceder ao reenvio do processo em
relação a todos os arguidos.
[c] Quando o recurso se funda em motivos estritamente pessoais, o tribunal de recurso não tem o dever de retirar
oficiosamente da procedência das conclusões do recurso as consequências relativamente às partes da decisão
recorrida que afectem os não recorrentes.

Os motivos estritamente pessoais são aqueles que dependem da situação pessoal de quem os invoca e não podem ser
generalizados aos outros sujeitos processuais, incluem-se entre eles os motivos referentes à imputabilidade, ao dolo, aos motivos da
acção, às qualidades e situação pessoal e profissional do arguido, à idade juvenil e à futura reinserção social do arguido. No recurso
fundado em motivos não estritamente pessoais há que distinguir os casos:
A] Se o recurso é interposto pelo arguido (ou pelo Ministério Público no interesse exclusivo de um arguido), o recurso
aproveita aos co-arguidos acusados em comparticipação com o arguido recorrente (ou em favor de quem
recorre o Ministério Público) e ao responsável civil (artigo 402º número 2 alíneas a. e b. Código Processo Penal),
por exemplo, aproveita ao co-arguido não recorrente o recurso interposto pelo co-arguido condenado pelo
crime de favorecimento pessoal quando falta na acusação a alegação de factos subsumíveis ao tipo. Também
aqui se verifica uma quebra do caso julgado parcial, mas o legislador nacional optou por uma solução restritiva,
condicionando expressamente essa quebra à existência da comparticipação entre o arguido recorrente e o
arguido não recorrente, por força da crítica generalizada da doutrina alemã ao preceito mais amplo do artigo
357º da StPO (que conclui que, na medida em que a anulação da sentença ocorre “para além da vontade do co-
autor”, a disposição germânica é “contrária à actual concepção do lugar do arguido como sujeito e não como
objecto do processo” e, por isso, a doutrina interpreta a dita disposição restritivamente, não a aplicando ao co-
arguido não recorrente que tenha cometido um facto processualmente autónomo do imputado ao co-arguido
recorrente; também no sentido de apontar o “efeito perverso do benefício da extensão aos comparticipantes”);
i) Portanto, quando o recurso do arguido se funda em motivos não estritamente pessoais, o
tribunal de recurso tem o dever de conhecer oficiosamente das nulidades insanáveis que afectem os co-
arguidos não recorrentes acusados em comparticipação com o arguido recorrente ou afectem o responsável
civil não recorrente, mas o tribunal de recurso não tem o dever de conhecer essas nulidades insanáveis que
afectem os co-arguidos não recorrentes que não estão acusados em comparticipação com o arguido recorrente.
ii) Quando o recurso do arguido se funda em motivos não estritamente pessoais, o tribunal
de recurso tem o dever de conhecer oficiosamente dos vícios do artigo 410º, número 2 que afectem os co-
arguidos não recorrentes acusados em comparticipação com o arguido recorrente ou afectem o responsável
civil não recorrente, mas o tribunal de recurso não tem o dever de conhecer os vícios do artigo 410º, número 2,
que afectem os co-arguidos não recorrentes que não estão acusados em comparticipação com o arguido
recorrente.
iii) Quando o recurso do arguido se funda em motivos não estritamente pessoais, o tribunal
de recurso tem o dever de retirar oficiosamente da procedência das conclusões do recurso as consequências
relativamente às partes da decisão que afectem os co-arguidos não recorrentes acusados em comparticipação
ou afectem o responsável civil não recorrente, mas o tribunal de recurso não tem o dever de retirar essas
consequências relativamente às partes das decisões que afectem os co-arguidos não recorrentes que não estão
acusados em comparticipação com o arguido recorrente.
B] Se o recurso é interposto pelo responsável civil, o recurso aproveita ao arguido, mesmo para efeitos penais (artigo
402º número 2 alínea c. Código Processo Penal);
C] Se o recurso é interposto pelo Ministério Público, o recurso não aproveita aos assistentes, nem aos lesados;
D] Se o recurso é interposto pelo assistente, o recurso não aproveita aos restantes assistentes, nem aos lesados;
E] Se o recurso é interposto pelo lesado, o recurso não aproveita aos restantes lesados, nem aos assistentes;

Os limites do dever de conhecimento oficioso do tribunal de recurso já atrás mencionados valem também para as partes da
decisão recorrida que só afectem os não recorrentes, assim:
A. O tribunal de recurso, não pode conhecer oficiosamente das nulidades insanáveis nem
dos vícios do artigo 410º, número 2, que afectem os não recorrentes se o recorrente
desistir validamente do recurso.
B. O tribunal de recuso não pode conhecer oficiosamente das nulidades insanáveis, nem
dos vícios do artigo 410º, número 2, que afectem os não recorrentes quando o recurso
deva ser rejeitado por inadmissibilidade nos termos dos artigos 414º número 2, 420º
número 1 alínea b) Código Processo Penal.
C. O tribunal de recurso não pode conhecer oficiosamente das nulidades insanáveis, nem
dos vícios do artigo 410º, número 2, que afectem os não recorrentes quando o recurso
deva ser rejeitado por o recorrente não apresentar, completar ou esclarecer as
conclusões formuladas nos termos dos artigos 417º número 3, e 420º número 1 alínea
c) Código Processo Penal.
D. O tribunal de recurso não pode conhecer oficiosamente das nulidades insanáveis, nem
dos vícios do artigo 410º, número 2, que afectem os não recorrentes quando exista
causa extintiva do procedimento ou da responsabilidade criminal que ponha termo ao
processo no que respeita ao recorrente ou seja o único motivo do recurso.

O novo artigo 402º, número 3, Código Processo Penal manda que se observe o caso julgado parcial na delimitação do âmbito
subjectivo do recurso interposto pelo Ministério Público no interesse da acusação e do recurso interposto pelo assistente, esta norma é
aplicável, por interpretação extensiva, à delimitação do âmbito subjectivo do recurso interposto pelo lesado. Assim, o efeito do caso
julgado parcial na delimitação do âmbito subjectivo do recurso interposto pelo Ministério Público no interesse da acusação e do recurso
interposto pelo assistente é o seguinte:
a] Sendo recorrente o Ministério Público (em prejuízo do arguido), o recurso não prejudica os
co-arguidos não recorridos acusados em comparticipação com o arguido recorrido e,
obviamente, também não prejudica os restantes arguidos não recorridos;
b] Sendo recorrente o assistente, o recurso não prejudica os arguidos não recorridos;
c] Sendo recorrente o lesado, o recurso não prejudica os arguidos não recorridos;

As regras supra referidas aplicam-se ao recurso de fiscalização concreta da constitucionalidade interposto por um interessado
de decisão do tribunal que tenha aplicado norma cuja inconstitucionalidade haja sido suscitada durante o processo (artigo 74º, número
3, da Lei nº 28/82, de 15.11). O recurso interposto pelo Ministério Público aproveita a todos os que tiverem legitimidade para recorrer,
de acordo com o Código Processo Penal (artigo 74º, número 1, da mesma lei), o não recorrente não pode intervir no recurso, nem
requerer para si os mesmos benefícios dados ao recorrente, por exemplo, o não recorrente entra logo em cumprimento de pena, não se
lhe aplicando os prazos de prisão preventiva.

Artigo 408º “RECURSO COM EFEITO SUSPENSIVO”


“1. Têm efeito suspensivo do processo:
a) Os recursos interpostos de decisões finais condenatórias, sem prejuízo do disposto no artigo 214º;
b) O recurso do despacho de pronúncia, sem prejuízo do disposto no artigo 310º.
2. Suspendem os efeitos da decisão recorrida:
a) Os recursos interpostos de decisões que condenarem ao pagamento de quaisquer importâncias, nos termos deste Código, se o
recorrente depositar o seu valor;
b) O recurso do despacho que julgar quebrada a caução;
c) O recurso de despacho que ordene a execução da prisão, em caso de não cumprimento de pena não privativa da liberdade;
d) O recurso de despacho que considere sem efeito, por falta de pagamento de taxa de justiça, o recurso da decisão final
condenatória.
3. Os recursos previstos no nº 1 do artigo anterior têm efeito suspensivo do processo quando deles depender a validade ou a eficácia dos
actos subsequentes, suspendendo a decisão recorrida nos restantes casos.”

Os recursos interpostos de decisões finais condenatórias, quer em matéria penal, quer civil, têm efeito suspensivo do processo,
sem prejuízo do efeito extintivo imediato da prisão preventiva e da obrigação de permanência na habitação se a pena aplicada na
sentença condenatória não for superior à prisão ou obrigação de permanência na habitação já sofridas (artigo 214º número 2 Código
Processo Penal), o recurso interposto da decisão simultaneamente absolutória e condenatória tem efeito suspensivo do processo.
Também têm efeito suspensivo do processo os recursos interpostos da decisão de pronúncia pelos factos constantes da acusação
particular do assistente quando o Ministério Público não acompanhe esta acusação, bem como da decisão de pronúncia pelos factos
constantes do requerimento de abertura de instrução do assistente, tendo o Ministério Público arquivado o inquérito, o recurso da
decisão que condenar em “qualquer” quantia nos termos deste Código sobe com efeito suspensivo da decisão recorrida, se o recorrente
depositar o seu valor.
Este condicionamento do efeito suspensivo do recurso não viola o direito de acesso aos tribunais previsto no artigo 20º,
número 1, da Constituição República Portuguesa e no artigo 6º, parágrafo 1, da Convenção Europeia dos Direitos do Homem, o recurso
da decisão que julga quebrada a caução nos termos do artigo 208º Código Processo Penal, sobe com o efeito suspensivo da decisão
recorrida. É irrelevante o motivo da quebra da caução, como é também irrelevante a medida de coacção aplicada no lugar da caução, não
estão abrangidas por esta regra a decisão que determina o reforço ou modificação da caução (artigo 207º número 1 Código Processo
Penal) ou a substituição da caução (artigo 197º número 2 Código Processo Penal). O recurso da decisão que ordena a execução da pena
de prisão, em caso de não cumprimento de pena não privativa da liberdade, inclui os seguintes:
a. Despacho que determina a aplicação da pena de prisão até seis meses substituída por pena de multa (artigo
43º, número 2, Código Penal)
b. Despacho que determina a aplicação da pena de prisão substituída por pena de proibição do exercício de
profissão, função ou actividade (artigo 43º número 5, do Código Penal)
c. Despacho que determina a conversão da pena de multa em pena de prisão subsidiária (artigo 49º número 1
Código Penal)
d. Despacho que determina a execução da pena de prisão suspensa (artigo 56º do Código Penal)
e. Despacho que determina a conversão da pena de trabalho a favor da comunidade em pena de prisão (artigo
59º, número 2, Código Penal)
f. Sobre o efeito da interposição de recurso do despacho que revoga a liberdade condicional ou a adaptação à
liberdade condicional
g. Sobre o efeito da interposição do recurso do despacho que determina a execução em regime contínuo da
pena de prisão por dias livres e em regime de semidetenção ou de permanência na habitação
h. Sobre o efeito da interposição de recurso do despacho que revoga a liberdade para prova

A Lei nº48/2007, de 29 de Agosto, introduziu uma disposição que tem um enorme significado prático – ela fixa o efeito
suspensivo do processo dos recursos do artigo 407º, número 1 Código Processo Penal, “quando deles depender a validade ou eficácia dos
actos subsequentes” -, atento o seu efeito paralisador do processo, esta norma deve ser interpretada restritivamente, em face do
princípio da celeridade processual consagrado no artigo 32º número 2 Constituição República Portuguesa, segunda parte. Assim, só
quando haja um nexo de causalidade essencial entre a decisão recorrida e os actos subsequentes deve ser decretado o efeito suspensivo
do processo, trata-se no fundo, de uma nexo de “dependência” lógica e valorativa entre a decisão recorrida e os actos subsequentes de
natureza semelhante ao nexo descrito no artigo 122º número 1 Código Processo Penal, entre os actos nulos e os actos que dele
“dependerem”, não havendo esse nexo de dependência lógica e valorativa entre a decisão recorrida e os actos subsequentes, o recurso
do artigo 407º número 1 Código Processo Penal, tem efeito suspensivo dos efeitos da decisão recorrida. Em face do referido princípio
constitucional, a segunda parte do artigo 408º, número 3, Código Processo Penal não constitui apenas uma regra subsidiária, ela
representa a regra, de que se excepcionam os ditos casos da primeira parte do artigo 408º, número 3 Código Processo Penal, em que se
verifica a referida “dependência” lógica e valorativa, têm efeito meramente devolutivo todos os recursos não previstos nos números 1 a 3
da presente disposição. Portanto, pode haver recursos que subam de imediato, mas com efeito meramente devolutivo, como por
exemplo o recurso da aplicação de medida de coacção ao arguido, o efeito do recurso de fiscalização concreta da constitucionalidade é
fixado nos termos do artigo 78º da Lei nº28/82 de 15 de Novembro, mas em nenhuma circunstância o preso preventivo entra em
cumprimento de pena se for interposto recurso para o Tribunal Constitucional de fiscalização concreta da constitucionalidade.

Artigo 409º “PROIBIÇÃO DE REFORMATIO IN PEJUS”


“1. Interposto recurso de decisão final somente pelo arguido, pelo Ministério Público, no exclusivo interesse daquele, ou pelo arguido e
pelo Ministério Público no exclusivo interesso do primeiro, o tribunal superior não pode modificar, na sua espécie ou medida, as sanções
constantes da decisão recorrida, em prejuízo de qualquer dos arguidos, ainda que não recorrentes.
2. A proibição estabelecida no número anterior não se aplica à agravação da quantia fixada para cada dia de multa, se a situação
económica e financeira do arguido tiver entretanto melhorado de forma sensível.”

A proibição da reformatio in pejus é uma medida protectora do direito de recurso em favor do arguido, ela visa garantir ao
arguido recorrer recorrente ou ao Ministério Público quando recorre em exclusivo interesse do arguido que o arguido não será punido
com sanções mais graves pelo tribunal superior competente para conhecer o recurso interposto, a lei admite, contudo, ainda hoje, uma
excepção a esta regra. O acórdão do Supremo Tribunal de Justiça nº 4/95 fixou jurisprudência obrigatória no sentido de que o tribunal
superior pode em recurso alterar oficiosamente a qualificação jurídico-penal efectuado pelo tribunal recorrido, mesmo que para crime
mais grave, sem prejuízo, porém, da proibição da reformatio in pejus, esta jurisprudência deve ser, contudo, submetida ao mesmo
condicionamento que vale na primeira instância, por isso, o Tribunal Constitucional considerou que é exigível que o arguido seja
prevenido da possibilidade de o tribunal superior vir a qualificar os factos de forma diferente do que fizera o tribunal de 1ª instância,
notificando-lhe o parecer nesse sentido do Ministério Público. A jurisprudência constitucional está agora consagrada no artigo 424º
número 3 Código Processo Penal, e é válida para alterações da qualificação jurídica que resultem da iniciativa de outro sujeito processual
ou do tribunal de recurso, desta disposição deve ser ressalvada a modificação da qualificação jurídica pelo tribunal de recurso que
corresponde a reposição de uma qualificação jurídica já perfilhada na pronúncia, mas alterada na sentença.
A alteração da qualificação jurídica pelo tribunal de recurso não permite, contudo, a manipulação das sanções em desfavor do
arguido recorrente, a proibição da reformatio in pejus é aplicável em recurso interposto apenas pelo arguido, em que se procede a
alteração da qualificação dos factos em sentido abstractamente mais favorável ao arguido conforme por este requerido, mas se agrava a
pena concreta aplicada ao arguido, mais: havendo alteração da qualificação jurídica em sentido favorável ao arguido recorrente pelo
Tribunal Relação, as penas aplicadas devem ser correspondentemente diminuídas, sob pena de se ter procedido a uma objectiva
reformatio in pejus da situação do arguido em face do novo quadro legal. Isto é, o desagravamento da qualificação jurídica em recurso
interposto pelo arguido ou pelo Ministério Público em exclusivo benefício do arguido impõe uma reformatio in mellius das sanções
correspondentes aos tipos penais afectados pela alteração, a proibição da reformatio in pejus vale apenas para as “sanções”, assim, a
proibição não é aplicável às seguintes decisões:
A decisão sobre a publicidade da sentença (artigo 378º Código Processo Penal), cujas despesas valem como custas;
A ordem de entrega de título de condução, com a advertência do crime do artigo 353º Código Penal (artigos 69º, número 3, e
101º, número 3 Código Processo Penal);
A decisão de perda de instrumentos, produtos e vantagens do crime e, designadamente, sobre a restituição ou a declaração de
perda dos objectos apreendidos nos autos;
A decisão sobre a falsidade de documento (artigo 170º Código Processo Penal);
A decisão sobre o destino dos suportes técnicos das escutas telefónicos (artigo 188º números 12 e 13 Código Processo Penal);
A decisão sobre a remuneração das perícias, exames e outras despesas ocorridas ao longo do processo (artigos 162º, 317º e
351º Código Processo Penal);
A decisão de condenação em custas da acção penal;
A decisão de condenação em custas da acção civil;
A ordem de remessa de boletins ao registo criminal e comunicação a outras autoridades (artigos 66º, número 5, 69º, números 4
e 5, e 101º, números 3 e 4, Código Penal);

A proibição da reformatio in pejus vale para as sanções criminais aplicadas quer a arguidos imputáveis quer a arguidos
inimputáveis, desde logo, a proibição aplica-se no caso de o tribunal de recurso aplicar uma pena de prisão mais longa, mas suspensa a
sua execução, quando o tribunal de primeira instância tenha aplicado uma pena de prisão efectiva mais curta, tendo em conta a
possibilidade de revogação da suspensão e aplicação de uma pena de prisão mais grave. A proibição da reformatio in pejus vale também
para a aplicação das agravantes qualificativas, vale ainda para as sanções acessórias, na versão inicial do Código Processo Penal, admitia-
se a reformatio in pejus no caso da aplicação de medida de segurança de internamento pelo tribunal superior, a Lei nº59/98, de 25 de
Agosto, suprimiu esta excepção, ficando todas as medidas de segurança submetidas ao regime geral da proibição. A Lei nº48/2007 de 29
de Agosto, restringiu o âmbito da excepção à proibição, só autorizando o agravamento do montante diário da pena de multa, mas não o
agravamento do número de dias de multa, esta excepção, que resultou da Lei nº2139 de 14 de Maio de 1959, pretende que o montante
diária da pena corresponda à situação actual financeira do arguido mas ignora a ratio dos recursos no processo penal vigente, que não se
coaduna com a ponderação destes factos novos, por outro lado, a constitucionalidade da disposição só está salvaguarda se o “facto” da
“melhoria sensível da situação económica e financeira” do arguido for objecto da audiência no tribunal de recurso, devendo a acusação
fazer nela prova do dito “facto” e podendo o arguido disputá-lo com meios de prova contrários.
Em caso de concurso de crimes, a proibição da reformatio in pejus vale apenas para o agravamento da pena conjunta, mas
também para cada uma das sanções parcelares, por outro lado, a proibição da reformatio in pejus também vale para a declaração do
arguido como reincidente pelo tribunal de recurso, quer o agravamento das sanções parcelares, quer a declaração da reincidência
prejudicam objectivamente a situação processual do arguido, por exemplo, para efeito de aplicação de perdões, pelo que estão incluídas
no âmbito da proibição legal da reformatio in pejus. O mesmo vale para a aplicação de uma pena de prisão relativamente indeterminada
em recurso interposto pelo arguido de uma sentença de prisão efectiva de 12 anos, esta proibição é aplicável à revogação do perdão pelo
tribunal superior, esta proibição também é aplicável, por interpretação extensiva, ao agravamento da condenação em indemnização civil
no recurso dela interposto no processo penal pelo arguido demandado ou à condenação oficiosa pelo tribunal de recurso nos termos do
artigo 82º-A Código Processo Penal em recurso interposto pelo arguido. Esta proibição é ainda aplicável ao agravamento da condenação
em novo julgamento a que se procedeu por o primeiro ter sido anulado na sequência de recurso unicamente interposto pelo arguido,
sobre o efeito da proibição da reformatio in pejus na delimitação do âmbito objectivo do recurso.

Artigo 410º “FUNDAMENTOS DO RECURSO”


“1. Sempre que a lei não restringir a cognição do tribunal ou os respectivos poderes, o recurso pode ter como fundamento quaisquer
questões de que pudesse conhecer a decisão recorrida.
2. Mesmo nos casos em que a lei restrinja a cognição do tribunal de recurso a matéria de direito, o recurso pode ter como fundamentos,
desde que o vício resulte do texto da decisão recorrida, por si só ou conjugada com as regras da experiência comum:
a) A insuficiência para a decisão da matéria de facto provada;
b) A contradição insanável da fundamentação ou entre a fundamentação e a decisão;
c) Erro notório na apreciação da prova.
3. O recurso pode ainda ter como fundamento, mesmo que a lei restrinja a cognição do tribunal de recurso a matéria de direito, a
inobservância de requisito cominado sob pena de nulidade que não deva considerar-se sanada.”

Os recursos ordinários em processo penal português obedecem a um regime unitário fixado nos artigo 410º a 426º Código
Processo Penal, há ainda regras especiais do recurso para o Tribunal Relação, previstas nos artigos 427º a 431º Código Processo Penal, e
regras especiais do recurso para o Supremo Tribunal de Justiça, previstas nos artigos 432º a 436º Código Processo Penal, entre as
matérias objecto do regime unitário encontram-se os fundamentos do recurso e, em particular, os poderes de cognição dos vícios da
sentença recorrida. Os poderes de cognição da matéria de facto pelo tribunal superior constituem o cerne da garantia constitucional do
duplo grau de jurisdição, em relação ao poder do tribunal superior sindicar a decisão sobre a matéria de facto o Tribunal Constitucional
julgou inconstitucional a solução da sindicância restrita da decisão sobre a matéria de facto pelo Tribunal de Relação no recurso das
decisões condenatórias proferidas por tribunal colectivo no âmbito do Código Processo Penal de 1929, com a sobreposição normativa do
assento de 29 de Junho de 1934. A mesma solução normativa do Código Processo Penal de 1929, mas sem a sobreposição normativa do
referido assento, também foi considerada inconstitucional, de igual modo, a não sindicância da decisão sobre a matéria de facto pelo
Supremo Tribunal de Justiça no recurso das decisões condenatórias proferidas pelo Tribunal no júri no âmbito do Código Processo Penal
de 1929, ao invés, a solução do legislador de 1929 de sindicância restrita da decisão sobre a matéria de facto pelo Tribunal da Relação no
recurso das decisões condenatórias proferidas pelo tribunal singular, havendo mero registo da prova produzida, mas não havendo
renovação da prova, não mereceu qualquer crítica dos juízes do Tribunal Constitucional, o mesmo tendo acontecido em relação à
sindicância da decisão sobre a matéria de facto pelo Tribunal da Relação no recurso das decisões condenatórias proferidas pelo tribunal
colectivo no âmbito do Código Processo Penal de 1929, quando aquela sindicância incluísse os poderes de anulação contemplados no
artigo 712º número 2 Código Processo Penal, o poder de sindicância do erro notório na apreciação da prova, previsto no artigo 410º
número 2 alínea c) do novo Código Processo Penal, e a possibilidade de renovação de prova nos termos consagrados pelo novo Código
Processo Penal.
Contudo, as razões invocadas pelo Tribunal Constitucional para os julgamentos proferidos em face do Código Processo Penal de
1929 denunciavam uma aporia grave, só muito tardiamente ultrapassada com a prolação do acórdão nº 13/2000, confirmado pelo
acórdão nº 251/2000 do plenário, estes acórdãos abandonaram a doutrina da constitucionalidade da não motivação das respostas aos
quesitos no âmbito do Código Processo Penal de 1929, o consenso fixou-se no PALÁCIO RATTON na conformidade constitucional de uma
sindicância da decisão sobre a matéria de facto em processo penal que coincidisse com a solução do artigo 410º número 2 Código
Processo de 1987. Consequentemente, quando chamado a testar a constitucionalidade do sistema de recurso do Código Processo Penal
na sua versão inicial, o Tribunal Constitucional aceitou a recorribilidade dos acórdãos proferidos pelo tribunal colectivo e pelo tribunal do
júri apenas para o Supremo Tribunal de Justiça e apenas com base na violação de certos vícios atinentes à decisão sobre a matéria de
facto que resultem do texto da decisão recorrida, o fundamental acórdão do Tribunal Constitucional nº322/93, com três votos de
vencido, foi confirmado pelo acórdão do Tribunal Constitucional nº 573/98 do plenário, com seis votos de vencido, esta doutrina foi
também aplicada no processo criminal militar na sua versão anterior à reforma de 2003 pelos acórdãos do Tribunal Constitucional nº
17/97, nº 126/98 e nº 126/2000. A fundamentação da decisão sobre a matéria de facto constitui, nos termos desta jurisprudência
constitucional, o sustentáculo de um sistema de controlo desta decisão pelo tribunal de recurso em processo penal, assim, o Tribunal
concluiu que o registo da prova não constitui uma garantia imprescindível dos sujeitos processuais em geral e do arguido em particular,
não violando a Constituição a norma do artigo 363º Código Processo Penal, na versão inicial, na medida em que faz depender a
documentação das declarações prestadas oralmente na audiência da disponibilidade pelo tribunal de meios técnicos idóneos a assegurar
a reprodução integral daquelas.
Por isso, também não são inconstitucionais os artigos 123º e 363º Código Processo Penal, na versão inicial, na medida em que a
omissão de documentação das declarações orais prestadas em audiência diante do tribunal colectivo constitui mera irregularidade, que
deve ser invocada até ao final da audiência, nem o artigo 410º Código Processo Penal é inconstitucional, na medida em que o Tribunal da
Relação não possa reapreciar integralmente, isto é, para além dos limites do artigo 410º, número 2, Código Processo Penal, a decisão
sobre a matéria de facto, não tendo sido documentada a prova produzida em audiência por omissão do recorrente nem constando do
processo todos os elementos de prova que serviram de base a norma do artigo 412º, número 4, Código Processo Penal na versão da Lei
nº 58/98 de 25 de Agosto, na medida em que impõe sobre o recorrente o ónus de transcrever os depoimentos registados com vista a
instruir o seu recurso. Contudo, tendo sido requerida a gravação da prova oral produzida na audiência em processo penal e havendo
possibilidade de acesso ao suporte material da prova gravada, a norma do artigo 107º número 2 Código Processo Penal não é
inconstitucional quando interpretado no sentido de que a impossibilidade de acesso às transcrições das declarações orais prestadas em
audiência não constitui justo impedimento a interposição de recurso da decisão final condenatória. Como também não infringe a
Constituição República Portuguesa a norma dos artigos 411º número 1 e 412º número 4 Código Processo Penal, na versão da Lei nº
59/98 de 25 de Agosto, quando interpretados no sentido de que o prazo de interposição de recurso penal em que se procedeu a
gravação da prova produzida em audiência e em que se questione a decisão da matéria de facto se conta da data em que o arguido,
agindo com a diligência devida, podia ter acesso ao suporte material da prova gravada, e não da data em que foi disponibilizada a
transcrição dessa gravação, mesmo no caso de o tribunal a quo ter deferido o pedido de transcrição das gravações pelo tribunal.
Destarte, o acesso aos suportes materiais que documentam a produção da oral na audiência de julgamento afigura-se como uma nova
garantia fundamental complementar da própria garantia da fundamentação da decisão sobre a matéria de facto, quer se trate do acesso
à acta da audiência de julgamento onde ficam documentadas as declarações, quer do acesso às cópias das cassetes onde ficam gravadas
essas declarações, deste princípio decorre um juízo de inconstitucionalidade da norma do artigo 107º, número 2, Código Processo Penal
e do artigo 146º, número 1, Código Processo Civil, quando aplicado subsidiariamente ao processo penal, se interpretados no sentido de
que a impossibilidade de consulta da acta da audiência de julgamento, por as mesmas se encontrarem indisponíveis, não constitui justo
impedimento para a interposição de recurso da decisão final condenatória, se a documentação em acta da prova oral tiver sido requerida
(acórdão do Tribunal Constitucional nº363/2000). De igual modo, impõe-se um juízo de inconstitucionalidade da norma constante do
artigo 411º número 1 Código Processo Penal, na versão da Lei nº 59/98 de 25 de Agosto, interpretado no sentido de que o prazo para a
interposição de recurso em que se impugne a decisão da matéria de facto se conta sempre a partir da data do depósito da sentença na
secretaria e não da data da disponibilização das cópias dos suportes magnéticos, tempestivamente requeridas pelo arguido recorrente,
da jurisprudência do Tribunal Constitucional, resultam, pois, claramente cinco princípios fundamentais à luz dos quais devem ser
interpretadas as disposições da Lei nº 48/2007, de 29 de Agosto, eles são:
a. A fundamentação da decisão sobre a matéria de facto constitui o sustentáculo de um sistema de
controlo desta decisão pelo tribunal de recurso em processo penal;
b. O acesso aos suportes materiais que documentam a produção da prova oral na audiência de
julgamento é uma garantia fundamental complementar da própria garantia da fundamentação
da decisão sobre a matéria de facto;
c. O prazo de interposição de recurso penal em que se questione a decisão da matéria de facto
conta-se da data em que o arguido, agindo com a diligência devida, podia ter acesso ao suporte
material da prova gravada, isto é, da data da disponibilização das cópias dos suportes
magnéticos, desde que o recorrente tenha requerido tempestivamente a cópia e tenha
fornecido ao tribunal o suporte técnico necessário;
d. A impossibilidade de acesso ao suporte material da prova gravada na audiência de julgamento,
por os mesmo se encontrarem indisponíveis, constitui justo impedimento para a interposição de
recurso da decisão final se o recorrente requereu tempestivamente a cópia e forneceu ao
tribunal o suporte técnico necessário;
e. No caso de utilização de meios estenográficos, estenotípicos ou outros diferentes da escrita
comum, o prazo de interposição de recurso penal em que se questione a decisão da matéria de
facto conta-se da data da disponibilização das transcrições, a impossibilidade de acesso à
transcrição constitui justo impedimento para a interposição de recurso da decisão final;

Os vícios da decisão sobre a matéria de facto são conhecidos oficiosamente pelo tribunal de recurso, mesmo que o recurso se
encontre limitado à matéria de direito, estes vícios podem também ser conhecidos pelo tribunal de recurso, incluindo o Supremo
Tribunal de Justiça, a requerimento do Ministério Público, do arguido, do assistente e das partes civis, o Supremo Tribunal de Justiça tem
a competência para conhecer os vícios do artigo 410º número 2 Código Processo Penal, quer nos recursos interpostos das decisões das
Relações proferidas em primeira instância (nos termos do artigo 432º alínea a. Código Processo Penal), quer nos recursos interpostos de
decisões das Relações proferidas em recurso (nos termos do artigo 432º alínea b. Código Processo Penal), quer ainda nos recursos
interpostos dos acórdãos finais proferidos pelo tribunal do júri ou pelo tribunal colectivo, visando exclusivamente o reexame de matéria
de direito (artigo 432º alínea c. Código Processo Penal). No primeiro caso, a revista alargada aos vícios mais graves da decisão sobre a
matéria de facto corresponde ao mínimo constitucionalmente assegurado pelo direito ao recurso e, nomeadamente, ao duplo grau de
jurisdição sobre a matéria de facto, no terceiro caso, a situação é materialmente a mesma, impondo o direito constitucional ao recurso
que a revista não exclua o conhecimento oficioso dos ditos vícios, no segundo caso há que distinguir: se o vício do artigo 410º número 2
Código Processo Penal, se reporta à decisão do tribunal de primeira instância sobre a matéria de facto, não cabe recurso para o Supremo
Tribunal de Justiça do acórdão do Tribunal Relação que conheceu deste vício com base no mesmo fundamento. O direito constitucional ao
duplo grau de jurisdição sobre matéria de facto já fica assegurado com a decisão do Tribunal Relação sobre o vício, mas se o vício do
artigo 410º número 2 Código Processo Penal, foi cometido pela própria decisão do tribunal de segunda instância sobre a matéria de
facto, cabe recurso do acórdão do Tribunal Relação para o Supremo Tribunal de Justiça com base neste fundamento novo, havendo o
recurso limitado a matéria de direito, o vício do artigo 410º número 2 Código Processo Penal, tem que resultar do texto da decisão
recorrida e esta exigência legal não fere o artigo 32º número 1 Constituição República Portuguesa (acórdãos do Tribunal Constitucional
nº 322/93 e nº 573/98).
A posição de FIGUEIREDO DIAS era inicialmente mais ampla do que a que veio a ser consagrada pela lei, admitindo a sindicância
no recurso de revisão alargada das contradições insanáveis entre as comprovações constantes da sentença e a prova registada, no
entanto, na proposta de Lei nº 21/IV já se apresentava a solução mais restritiva, que veio a vigorar, o legislador português aderiu à
restrição sugerida por PETER REISS no tocante à limitação do tribunal de recurso aos fundamentos da decisão recorrida. O propósito do
legislador era o de conter a sindicância do tribunal de recurso aos termos estritos da sentença recorrida, embora se admitisse que o texto
da decisão recorrida pudesse ser interpretado à luz das regras de experiência comum, por um ado, este propósito era o mais
consentâneo com a natureza do recurso como um remédio jurídico da sentença e não um reexame da causa, por outro, este propósito
assegurava o máximo respeito pelo princípio da imediação, evitando que o tribunal de recurso pudesse fundamentar a sindicância da
decisão sobre a matéria de facto em elementos de prova. A restrição legal verifica-se mesmo diante da matéria de facto “óbvia”, a
falsificação grosseira é aquela que “qualquer homem médio pode detectar num mero exame perfunctório, sem qualquer esforço”,
portanto, para se poder concluir pela existência de um falso grosseiro “é necessário que no acórdão recorrido existam factos provados
donde tal inidoneidade resulta inequivocamente”, estando vedado ao Supremo Tribunal de Justiça suprir a falta da menção desses factos
pela análise do documento, ora, o Supremo Tribunal de Justiça considerou que “a circunstância apurada de a verificação da falsificação
do documento ter resultado de exame laboratorial (…) logo inculta que não se trata de falsificação grosseira, facilmente notada por
qualquer pessoa”. A restrição legal de que o vício do artigo 410º número 2 Código Processo Penal, resulte do “texto da decisão recorrida”
é ainda justificada nos casos dilemáticos que se têm colocado na jurisprudência de confronto entre a sentença e os documentos dos
autos, assim, a contradição entre a fundamentação da sentença e a acta de julgamento, a contradição entre a fundamentação da
sentença condenatória e certidão de sentença transitada em julgado com factos inconciliáveis com os dados como provados na sentença
condenatória e a contradição entre a fundamentação da sentença e um documento autêntico ou autenticado devem ser resolvidas por
outra via que não ficcionando que o vício resulta do texto da decisão recorrida quando conjugado com as regras da experiência comum,
nem advogando a solução radical da declaração da inconstitucionalidade da referida restrição legal (votos vencido do acórdão do
Tribunal Constitucional nº 322/93), nem ainda degradando a dignidade do vício para o de uma mera irregularidade. A delimitação
negativa do vício da insuficiência para a decisão da matéria de facto, não constituem insuficiência para a decisão da matéria de facto os
seguintes casos:
a) A omissão de factos constitutivos do crime e na acusação manifestamente infundada, que justificariam o seu não
recebimento;
b) A insuficiência das provas para uma decisão condenatória ou absolutória;
c) A omissão de diligências probatórias;
d) A omissão da indicação das provas dos factos dados como provados;
e) A omissão da fundamentação da decisão sobre a matéria de facto (isto é, a omissão do exame crítico das provas);
f) A omissão de pronúncia sobre questões que o tribunal devesse apreciar;

O vício da insuficiência não coincide com a nulidade da omissão de diligências probatórias essenciais (artigo 120º número 2
alínea d. Código Processo Penal), o vício da insuficiência não inclui a omissão de diligências probatórias essenciais para a descoberta da
verdade, pois a consequente nulidade deve ser tempestivamente arguida pelo respectivo interessado, por maioria de razão, o vício da
insuficiência não inclui a omissão de diligências necessárias para a descoberta da verdade, que podiam ter sido ordenadas oficiosamente
pelo tribunal ou requeridas pelo interessado, pois a consequente irregularidade deve ser tempestivamente arguida pelo respectivo
interessado. Em síntese, a lei não permite o controlo oficioso da insuficiência para a decisão sobre os factos não provados, o vício da
insuficiência também não coincide com a nulidade do artigo 379º número 1 alínea a) Código Processo Penal, nem com a nulidade do
artigo 379º número 3, primeira parte, Código Processo Penal, a omissão da indicação das provas dos factos dados como provados ou
mesmo a omissão do exame crítico das provas ou ainda a omissão de pronúncia sobre questões que o tribunal devesse apreciar são
nulidades que devem ser tempestivamente arguidas pelo respectivo interessado na motivação do recurso (artigo 379º número 2 Código
Processo Penal). Mas não se pode invocar a insuficiência da matéria de facto para uma decisão de facto diferente da que foi proferida,
uma vez que aquela insuficiência tem de ser apreciada em função da solução adoptada para o caso na decisão recorrida, isto é, a
insuficiência da matéria de facto para a decisão de direito não se confunde com a insuficiência da prova para a decisão de facto
proferida, esta é uma questão que respeita ao recurso da matéria de facto, tendo-se procedido à delimitação negativa do vício da
insuficiência, cabe proceder à sua delimitação positiva, a insuficiência para a decisão da matéria de facto corresponde materialmente ao
vício previsto nos artigos 712º número 4 e 729º número 3 Código Processo Civil.
Contudo, o alargamento do objecto do processo obedece em processo penal a regras muito restritas (artigos 358º e 359º
Código Processo Penal) e o controlo do vício da insuficiência não pode constituir um artifício para subverter estas regras, dito de outro
modo, o reenvio com base na insuficiência da matéria de facto não pode significar uma “alteração substancial da acusação” imposta pelo
tribunal de recurso, razão pela qual os factos a que se amplia a investigação devem conter-se dentro dos limites do “facto histórico
unitário” sujeito a julgamento, por outro lado, o alargamento do pedido e da causa de pedir na acção civil em processo penal obedece a
regras próprias, mais apertadas do que as do processo civil, o reenvio com base na insuficiência para a decisão da matéria de facto da
acção civil não pode significar uma preterição destas regras. Portanto, o vício da insuficiência para a decisão da matéria de facto inclui os
seguintes casos:
A] Vício da sentença condenatória pelo crime negligente por falta de investigação dos factos do dolo eventual, havendo
acusação por crime doloso;
B] Vício da sentença absolutória por falta de investigação dos factos da negligência, havendo acusação por crime doloso;
C] Vício da sentença absolutória por falta de investigação dos factos da cumplicidade, havendo acusação por crime
consumado;
D] Vício da sentença absolutória por falta de investigação dos factos da cumplicidade, havendo acusação por crime
imputado a título de autoria;
E] Vício da sentença que aplique pena de prisão por falta de investigação dos factos que condicionam a aplicação de uma
pena não detentiva;

Desconsideração do dolo eventual ou da negligência, o tribunal recorrido afastou a intenção de matar e condenou pelo crime
de ofensas corporais graves, o Supremo Tribunal de Justiça considerou que o tribunal recorrido não procurou averiguar se o arguido agiu
com outra espécie de dolo e, por outro lao, também não deu como provada a intenção de ferir, nem o dolo do resultado grave, antes
somente deu como provado que “atingiu-o na respectiva integridade física, deliberada, livre e conscientemente”, o que constitui
expressão “muito vaga” e não esclarecedora da intenção do agente, há insuficiência para a decisão sobre a matéria de facto. Não há
insuficiência da matéria de facto quando os factos a provar não constam a acusação, nem foram alegados pela defesa, nem resultam da
discussão da causa, também não é qualquer contradição, mesmo insanável, que justifica o reenvio, mas somente a que impossibilita a
decisão da causa, e não é assim ao dar-se, v.g. como provado que o arguido não devolveu a cassete e que ela se encontrava na posse de
outrem, o CNP deve alegar factos de onde resulte a culpa do arguido e a sua correlação com dano que motivou o pagamento das
importâncias suportadas pelo CNP ao sinistrado, quando o lesado não tenha deduzido também pedido de indemnização sob pena de
indeferimento do pedido, para a aplicação da atenuação especial para jovens delinquentes é necessário que se demonstrem
positivamente as vantagens para a reinserção social do arguido, não podendo estas ser presumidas. A delimitação negativa do vício da
contradição insanável da fundamentação ou entre a fundamentação e a decisão, não constituem este vício os seguintes casos:
(a) a contradição entre o relatório e a fundamentação, é um caso de irregularidade da sentença previsto no artigo 380º
número 1 alínea b) Código Processo Penal;
(b) a contradição entre o relatório e o dispositivo, é um caso de irregularidade da sentença previsto no artigo 380º número 1
alínea b) Código Processo Penal;
(c) a contradição entre a perícia e a fundamentação, sem justificação da divergência;
(d) a contradição entre documentos autênticos e autenticados juntos aos autos e a fundamentação;
(e) a contradição entre a acta da audiência e a fundamentação;

A delimitação positiva do vício da contradição insanável da fundamentação ou entre a fundamentação e a decisão, constituem
este vício os seguintes casos:
i. a contradição entre os factos objectivos provados, isto é, a afirmação como provados de
um facto objectivo e do facto objectivo contrário;
ii. a contradição entre os factos objectivos não provados, isto é, a afirmação como não provados
de um facto objectivo contrário;
iii. a contradição entre factos subjectivos provados, isto é, a afirmação como provados de um
facto subjectivo e do facto subjectivo contrário;
iv. a contradição entre factos subjectivos não provados, isto é, a afirmação como não provados
de um facto subjectivo e do facto subjectivo contrário;
v. a contradição entre um facto objectivo provado e um facto objectivo não provado;
vi. a contradição entre um facto subjectivo provado e um facto subjectivo não provado;
vii. a contradição entre os meios de prova invocados na fundamentação como base dos factos
provados;
viii. a contradição entre a fundamentação e o dispositivo da decisão;

A delimitação negativa do erro notório na apreciação da prova, não constituem o vício do erro notório na apreciação da prova
os seguintes casos:
a) o erro de escrita, este vício constitui uma irregularidade da sentença (artigo 380º número 1 alínea b. Código Processo Penal);
b) erro de direito
i. a violação das regras que regulam o modo de formação da convicção, isto é:
1. os graus de convicção necessários para a decisão;
2. as proibições da prova;
3. a presunção da inocência;
ii. a violação do princípio in dubio pro reo;
iii. a ofensa do caso julgado;
c) a omissão de diligências “essenciais” para a descoberta da verdade, este vício constitui uma nulidade do julgamento (artigo
120º número 2 alínea d. Código Processo Penal);
d) a omissão de diligências “necessárias” para a descoberta da verdade, este vício constitui uma irregularidade do julgamento;
e) a omissão de pronúncia sobre questões de que o tribunal devesse conhecer, este vício constitui uma nulidade da sentença
(artigo 379º número 1 alínea c. Código Processo Penal);
f) a contradição com meios de prova, incluindo documentos constantes dos autos, mas não ponderados ou ponderados
erroneamente na sentença, este vício pode ser conhecido no recurso da decisão sobre a matéria de fato (mas sobre a
contradição com documentos autênticos e autenticados);
g) o erro na apreciação dos depoimentos da audiência (com base na documentação da prova), este vício só pode ser conhecido no
recurso da decisão sobre a matéria de facto;

A delimitação positiva do erro notório na apreciação da prova, constituem o vício do erro notório na apreciação da prova os
seguintes casos:
a. erro sobre facto notório, neles se incluindo factos históricos do conhecimento geral;
b. a ofensa das leis da natureza (isto é, das leis físicas e mecânicas);
i. a consideração como provado de facto física ou mecanicamente impossível;
ii. a consideração como não provado de facto em violação da regra tertium non datur;
c. a ofensa das leis da lógica:
i. a valoração da não confissão (mesmo que conjugada com outros meios de prova) para fundamentar os
factos provados;
ii. a valoração da confissão integral para fundamentar os factos não provados;
iii. a incompatibilidade entre um facto objectivo provado e um facto subjectivo provado;
iv. a incompatibilidade entre um facto subjectivo não provado e um facto objectivo não provado;
v. a incompatibilidade entre um facto objectivo provado e um facto subjectivo não provado;
vi. a incompatibilidade entre um facto subjectivo provado e um facto objectivo não provado;
vii. a incompatibilidade entre o meio de prova invocado na fundamentação e os factos dados como provados
com base nesse meio de prova (por exemplo, a incompatibilidade entre o conteúdo do documento
invocado na fundamentação e o facto dado como provado com base nesse meio de prova);
d. a ofensa dos conhecimentos científicos criminológicos e vitimológicos (por exemplo, a afirmação de que a erecção é
sinónimo da voluntariedade da participação no acto sexual);

A contradição entre os depoimentos na audiência ou destes com anteriores diligências só “excepcionalmente” pode revelar
erro notório na apreciação da prova, por exemplo “através de gravações videográficas do julgamento”, sendo que não há erro notório se
o tribunal diante duas versões distintas dos factos não aplica o princípio in dubio pro reo, ainda que a versão dada como provada se
sustente apenas no depoimento de uma testemunha, para afastar o vício do erro notório, que consiste em “desconformidade com a
prova, facilmente perceptível pelo comum dos observadores, que pede correcção modificativa”. Não há erro notório na apreciação da
prova quando o tribunal deu como não provados factos que em anterior julgamento haviam sido dado como provados e pelos quais
seriam responsáveis ambos os arguidos, tendo transitado a condenação do arguido no anterior processo, julgado num processo
determinado arguido e aí dados como provados factos que incriminam também um outro arguido, se num segundo processo este foi
julgado e o tribunal deu como não provados em relação a si os factos que no primeiro haviam sido provados, não há ofensa de caso
julgado sendo esta uma questão de direito e, portanto, não pode ser conhecida como um erro de apreciação da prova. Há erro notório
quando o tribunal condena o arguido pelo crime de sequestro e o absolve do crime de violação continuada que teria sido cometida
durante o sequestro, dando como provado o relacionamento sexual livre por parte da ofendida que se encontrava privada da sua
liberdade – há uma contradição insanável entre um facto objectivo dado como provado (privação da liberdade de movimentos) e um
facto objectivo dado como não provado (liberdade de relacionamento sexual).
O recurso pode também ter como fundamento a inobservância de requisito cominado sob pena de irregularidade que não deva
considerar-se sanada, de igual modo, no caso de nulidade de despacho interlocutório, o recurso pode também ter como fundamento a
inobservância de requisito cominado sob pena de nulidade que não deva considerar-se sanada, por exemplo a decisão instrutória do
Tribunal da Relação pode ser impugnada para o Supremo Tribunal de Justiça com base em omissão de pronúncia. Decretada a nulidade
do acórdão, por vícios inerentes ao mesmo, deve repetir-se o acórdão pelos juízes que o proferiram, se um dos juízes que compunha o
tribunal colectivo já não se encontra no tribunal, deve proceder-se a novo julgamento pelo mesmo tribunal, integrado pelos juízes que
nele exercem funções no presente, não devendo os autos ir à distribuição (diferente é a situação da nulidade do julgamento, artigo 426º-
A Código Processo Penal).

Artigo 412º “MOTIVAÇÃO DO RECURSO E CONCLUSÕES”


“1. A motivação enuncia especificamente os fundamentos do recurso e termina pela formulação de conclusões, deduzidas por artigos,
em que o recorrente resume as razões do pedido.
2. Versando matéria de direito, as conclusões indicam ainda:
a) As normas jurídicas violadas;
b) O sentido em que, no entendimento do recorrente, o tribunal recorrido interpretou cada norma ou com que a aplicou e o
sentido em que ela devia ter sido interpretada ou com que devia ter sido aplicada; e
c) Em caso de erro na determinação da norma aplicável, a norma jurídica que, no entendimento do recorrente, deve ser aplicada.
3. Quando impugne a decisão proferida sobre matéria de facto, o recorrente deve especificar:
a) Os concretos pontos de facto que considera incorrectamente julgados;
b) As concretas provas que impõem decisão diversa da recorrida;
c) As provas que devem ser renovadas;
4. Quando as provas tenham sido gravadas, as especificações previstas nas alíneas b) e c) do número anterior fazem-se por referência ao
consignado na acta, nos termos do disposto no número 2 do artigo 364º Código Civil, devendo o recorrente indicar concretamente as
passagens em que se funda a impugnação.
5. Havendo recursos retidos, o recorrente especifica obrigatoriamente, nas conclusões, quais os que mantêm interesse.
6. No caso previsto no número 4, o tribunal procede à audição ou visualização das passagens indicadas e de outras que considere
relevantes para a descoberta da verdade e a boa decisão da causa.”

A versão inicial do Código Processo Penal colocava condições muito rigorosas quando à estruturação da motivação, às
conclusões no recurso que versa matéria de direito e às especificações no recurso em que se requer a renovação da prova, a
especificação das conclusões em matéria de direito incluía a indicação das específicas normas jurídicas violadas, da divergência de
interpretação e aplicação da norma jurídica entre o tribunal recorrido e o recorrente e, em caso de erro na determinação da norma
aplicável, da norma que deveria ter sido aplicada. Por exemplo, quando um preceito legal tem diversos números ou alíneas, as
conclusões devem especificar quais os números ou alíneas que se entendem violados. Mas as conclusões não têm de indicar a norma
violada se o recorrente entende que existe lacuna na lei, acresce que é suficiente que da leitura da motivação de recurso deixe perceber
a norma que o recorrente considera violada ou matéria de facto impugnada, mediante uma remissão expressa ou implícita para as
alegações ou quando a mesma esteja subjacente nas conclusões do recurso, em relação ao recurso da matéria de facto, previa-se apenas
o dever de especificação dos factos impugnados quando o recorrente quando o recorrente requeresse também a renovação da prova. A
Lei nº 59/98 de 25 de Agosto, alargou o âmbito e o conteúdo deste dever de especificação, o dever de especificação passou a incluir
qualquer recurso da decisão sobre matéria de facto, quer ele visasse a modificação da decisão recorrida com renovação da prova nos
termos da alínea a) do artigo 431º Código Processo Penal, quer visasse apenas a modificação da decisão recorrida nos termos das novas
alíneas a) e b) do artigo 431º Código Processo Penal, no recurso baseado em provas gravadas, essa especificação deveria ser feita por
referência aos suportes técnicos, “havendo lugar a transcrição”.
Por fim, o dever de especificação passou também a incluir os recursos retidos em que o recorrente mantinha interesse, a Lei nº
48/2007 de 29 de Agosto, muda profundamente o regime de impugnação da matéria de facto, o legislador tem dois objectivos: tornar
mais exigente a especificação dos pontos de facto impugnados e das provas que impõem decisão diversa da recorrida no recurso da
decisão sobre a matéria de facto e pôr cobro ao dever de transcrição dos registos gravados. O novo regime articula-se com as regras
novas sobre a documentação das declarações prestadas na audiência e o acesso dos sujeitos processuais a esta documentação, assim, a
motivação do recurso sobre a matéria de facto deve especificar os concretos pontos de factos que considera incorrectamente julgados e
as concretas provas que impõem decisão diversa da recorrida, a especificação dos “concretos ponto de facto” só se satisfaz com a
indicação do facto individualizado que consta da sentença recorrida e que se considera incorrectamente julgado, por exemplo, é
insuficiente a indicação de todos os factos ocorridos entre duas datas ou de todos os factos ocorridos em determinado espaço fechado
ou certo aglomerado urbano. A especificação das “concretas provas” só se satisfaz com a indicação do conteúdo específico do meio de
prova ou de obtenção de prova que impõe decisão diversa da recorrida, por exemplo é insuficiente a indicação genérica de um
depoimento, de um documento, de uma perícia ou de uma escuta telefónica realizada entre duas datas ou a uma pessoa, mais
exactamente no tocante aos depoimentos prestados na audiência, a referência aos suportes magnéticos só se cumpre com a indicação
do número de “voltas” do contador em que se encontram as passagens dos depoimentos gravados que impõem diferente decisão, não
bastando a indicação da rotações correspondentes ao início e ao fim de cada depoimento.
Nada obsta a que o recorrente, por sua iniciativa, procede à transcrição das referidas passagens, mas não tem o dever o fazê-lo,
sendo certo que mesmo nesse caso o tribunal de recurso procede à audição ou visualização das passagens indicadas e de outras que
considere relevantes, acresce que o recorrente deve explicitar por que razão essa prova “impõe” decisão diversa da recorrida. Este é o
cerne do dever de especificação, o grau acrescido de concretização exigido pela Lei nº 48/2007 de 29 de Agosto, visa precisamente impor
ao recorrente que relacione o conteúdo específico do meio de prova que impõe decisão diversa da recorrida com o facto individualizado
que considera incorrectamente julgado. A especificação das provas que devem ser renovadas só se satisfaz com a indicação dos meios de
prova produzidos na audiência de julgamento no tribunal de primeira instância, dos vícios referidos nas alíneas do número 2 do artigo
410º Código Civil e das razões para crer que aquela permitirá evitar o reenvio do processo (artigo 430º número 1 Código Processo Penal),
no caso “regra” de utilização da gravação magnetofónica ou audiovisual (artigo 364º número 1 Código Processo Penal), a prova não deve
ser transcrita, devendo o tribunal de recurso proceder ao controlo desta prova por via da audição ou da visualização dos registos
gravados (artigo 412º número 6 Código Processo Penal), com base na indicação pelo recorrente das passagens da gravação em que funda
a impugnação (artigo 412º número 4 Código Processo Penal), sendo para esse efeito postas à disposição dos sujeitos processuais que o
requeiram cópias da gravação (artigo 101º número 3 Código Processo Penal). No caso excepcional de utilização de meio estenográfico,
estenotípico ou outro semelhante que permita o registo integral, a prova deve ser transcrita pelo funcionário do tribunal nos termos do
artigo 101º número 2 Código Processo Penal, também aqui o recorrente terá de indicar as passagens em que funda a impugnação (artigo
412º número 4, por analogia, Código Processo Penal) mas o tribunal de recurso poderá ler as passagens referidas, bem como quaisquer
outras que considere relevantes para a descoberta da verdade e a boa decisão da causa (artigo 412º número 6, por analogia, Código
Processo Penal).
No recurso interposto pelo arguido ou pelo Ministério Público no interesse exclusivo do arguido, as especificações do artigo
412º número 3 Código Processo Penal, podem incluir factos dados como provados noutra sentença inconciliáveis com os factos que
serviram de um fundamento à condenação recorrida e factos novos que suscitem graves dúvidas sobre a justiça de condenação, nestes
casos, o arguido deve requerer a audiência de julgamento para apresentação e discussão (artigo 417º número 3 Código Processo Penal).
A especificação das indicações previstas no artigo 412º números 2 a 5 Código Processo Penal, é feita nas conclusões do recurso (artigo
417º número 3 Código Processo Penal), as conclusões delimitam o âmbito do recurso e, havendo questões discutidas na motivação, mas
não resumidas nas conclusões, elas não integram o objecto do recurso e, por isso, não podem ser conhecidas pelo tribunal de recurso, as
consequências jurídicas do incumprimento ou do cumprimento defeituoso deste ónus deram azo a dúvidas no âmbito da lei anterior,
tendo o legislador tirado proveito dos ensinamentos da jurisprudência constitucional neste tocante. Os ónus das especificações previstos
no artigo 412º Código Processo Penal também se impõem quando o recurso não tenha sido interposto por iniciativa do magistrado do
Ministério Público junto do tribunal a quo, mas por dever de ofício, havendo recursos retidos, o recorrente especifica obrigatoriamente,
nas conclusões, quais os que mantêm interesse, sob pena de desistência dos recursos retidos não especificados, o ónus de especificação
também se impõe ao recorrido no recurso principal. Não há um ónus de responder à motivação apresentada pelo recorrente (no caso,
pelo Ministério Público) nem um ónus de recorrer subordinadamente, utilizando a peço processual correspondente, conforme o caso,
para indicar que tem interesse no julgamento de um recurso retido que anteriormente interpôs, daqui não decorre, todavia, que seja
desproporcionado exigir ao recorrido que, eventualmente nessas mesmas peças, e ainda que apenas com esse objectivo, venha fornecer
essa indicação ao tribunal, sobretudo num caso em que, como o próprio recorrente afirma, a questão objecto do seu recurso retido era
relevante para o recurso principal. Ao invés, o Tribunal Constitucional não vislumbrou nenhum excesso formalista inconstitucional no
caso da rejeição do recurso retido dada a omissão de especificação do recurso retido que conservava interesse para o arguido, que optou
por não apresentar contramotivação no recurso dominante, interposto pelo Ministério Público, tendo o arguido recorrido tido
oportunidade de se pronunciar sobre a subsistência de interesse processual na apreciação do recurso retido ante a Relação, tribunal a
quem competia julgar o recurso retido, em momento anterior ao julgamento do recurso principal. Mas é inconstitucional a interpretação
do artigo 412º número 5 Código Processo Penal, no sentido da insuficiência para cumprir o ónus de especificação da referência a “todos”
os recursos, nas conclusões da motivação, quando no texto desta tinha sido feita a sua identificação individualizada e seriada, como é
inconstitucional a interpretação no sentido de que a exigência da especificação dos recursos retidos em que o recorrente mantém
interesse também é obrigatória, sob pena de preclusão do seu conhecimento, nos casos em que o despacho de admissão do recurso
interlocutório é proferido depois da própria apresentação da motivação do recurso interposto da decisão final do processo.
Como é ainda inconstitucional a interpretação que permita ao tribunal ad quem, considerando não ser suficiente para o
cumprimento do ónus previsto nesse preceito a referência nas conclusões ao recurso interlocutório retido e a que o mesmo subirá a
final, rejeitar liminarmente esse recurso interlocutório, entretanto já admitido, sem que seja formulado ao recorrente um convite para
explicitar se mantém interesse no seu conhecimento de um recurso interlocutório retido está agora expressamente consagrado na Lei nº
48/2007 de 29 de Agosto (artigo 417º número 3 Código Processo Penal, ao remeter para o artigo 412º número 5 Código Processo Penal).
Havendo um recurso interlocutório retido e não sendo interposto recurso da decisão final, o recurso retido fica sem efeito, nos termos
do artigo 735º número 2 Código Processo Civil, aplicável por força do artigo 4º Código Processo Penal, o condenado recorrente pode dar
o seu consentimento para aplicação, por exemplo do regime de semi-detenção, na motivação do recurso, devendo ser como tal
entendido o pedido de aplicação de qualquer sanção que evite a prisão efectiva. Outro exemplo é o de recurso interposto pelo arguido
com vista à aplicação do regime de permanência na habitação com fiscalização por meios técnicos de controlo à distância.

Artigo 414º “ADMISSÃO DO RECURSO”


“1. Recebida a resposta dos sujeitos processuais afectados pela interposição do recurso ou expirado o prazo para o efeito, o juiz profere
despacho e, em caso de admissão, fixa o seu efeito e regime de subida.
2. O recurso não é admitido quando a decisão for irrecorrível, quando for interposto fora de tempo, quando o recorrente não tiver as
condições necessárias para recorrer ou quando faltar a motivação.
3. A decisão que admita o recurso ou que determine o efeito que lhe cabe ou o regime de subida não vincula o tribunal superior.
4. Se o recurso não for interposto de decisão que conheça, a final, do objecto do processo, do tribunal pode, antes de ordenar a remessa
do processo ao tribunal superior, sustentar ou reparar aquela decisão.
5. Havendo arguidos presos, deve mencionar-se tal circunstância, com indicação da data da privação da liberdade e do estabelecimento
prisional onde se encontrem.
6. Subindo o recurso em separado, o juiz deve averiguar se o mesmo se mostra instruído com todos os elementos necessários à boa
decisão da causa, determinando, se for caso disso, a extracção e junção de certidão das pertinentes peças processuais.
7. Se o recurso subir nos próprios autos e houver arguidos privados da liberdade, o tribunal, antes da remessa do processo para o
tribunal superior, ordena a extracção de certidão das peças processuais necessárias ao seu reexame.
8. Havendo vários recursos da mesma decisão, dos quais alguns versem sobre matéria de facto e outros exclusivamente sobre matéria de
direito, são todos julgados conjuntamente pelo tribunal competente para conhecer da matéria de facto.”

Em virtude da introdução da notificação oficiosa do requerimento de interposição do recurso aos sujeitos por ele afectados, o
despacho judicial de admissão ou não admissão do recurso passa a ser proferido depois de recebida a resposta dos sujeitos processuais
afectados pela interposição do recurso ou expirado o prazo legal para esse efeito, por maioria de razão, o juiz não pode proferir logo
despacho a admitir recurso cujo requerimento foi ditado para a acta. O recurso não é admitido pelo juiz do tribunal recorrido nos
seguintes casos:
a. a irrecorribilidade da decisão, como, por exemplo, no caso de recurso subordinado em matéria penal pelo arguido, ou no caso
de recurso de despacho judicial interlocutório proferido em processo de contra-ordenação;
b. a intempestividade do recurso, como por exemplo, no caso de o Ministério Público recorrer num dos três dias posteriores ao
termo do prazo, sem ter feito a declaração de que pretende beneficiar da faculdade do artigo 145º número 5 Código Processo
Civil (acórdão do Tribunal Constitucional nº 355/2001 e acórdão do TRG de 08 de Novembro de 2004), declaração esta que não
tem de ser feita previamente à interposição do recurso (acórdão do Tribunal Constitucional nº 538/2007);
c. a falta das “condições necessárias para recorrer”:
i. a falta de legitimidade do recorrente;
ii. a falta de interesse em agir do recorrente;
iii. a falta de defensor ou representante do recorrente;
d. a falta da motivação;

No caso de ter sido interposto recurso por um mandatário em nome do arguido e posteriormente ainda dentro do prazo legal
ter sido interposto um segundo, por um mandatário diferente, a quem o arguido também outorgou procuração, sem que exista
revogação da primeira procuração ou declaração expressa de retirada de eficácia a interposição do primeiro recurso, deve apenas
admitir-se o primeiro recurso e não ser admitido o segundo. Nos inquéritos indicados antes da entrada em vigor no novo RCP, não sendo
paga a taxa de justiça devida pela interposição de recurso, o recurso é considerado sem efeito, o recurso fica sem efeito se não for feito o
pagamento da taxa de justiça devido pela sua interposição, mesmo depois de prévia advertência para tanto dirigida ao advogado do
sujeito recorrente. A regra do artigo 80º do CCJ, na redacção do Decreto-Lei nº 324/2003 de 27 de Dezembro, é compatível com a
jurisprudência firmada pelo acórdão do Tribunal Constitucional nº 166/99, que incidiu sobre o artigo 148º CCJ, aprovado pelo Decreto nº
43.809 de 20 de Julho de 1961, não se trata de decisão de rejeição de recurso, nem de decisão de não admissão de recurso, mas de
decisão dando sem efeito o recurso por deserção do mesmo. Este despacho é passível de recurso, que sobe em separado, de imediato e
com efeito suspensivo da decisão recorrida (artigos 406º número 2, 407º número 1 e 408º número 2 alínea d. Código Processo Penal),
sendo admitido recurso sem prévio pagamento da taxa de justiça, a decisão de admissão não pode ser revogada pelo tribunal de recurso,
uma vez que o poder de rejeição do recurso se limita à verificação das causas da sua não admissão nos termos do artigo 414º número 2
Código Processo Penal. Sendo admitido recurso, o juiz fixa o efeito e o regime de subida do recurso, nem um, nem outra decisão
vinculam o tribunal superior, que pode rejeitar o recurso e modificar o efeito e mesmo modificar o regime de subida imediato do recurso,
mandando que ele suba só em momento ulterior.
Na versão inicial do Código Processo Penal, o juiz do tribunal recorrido podia, antes de ordenar a remessa do processo ao
tribunal superior, sustentar ou reparar a decisão recorrida quando o recurso não fosse interposto de decisão que conhecesse, a final, do
objecto do processo, a Lei nº 59/98 de 25 de Agosto, alargou esta faculdade ao recurso interposto da sentença, na parte final do artigo
379º número 2 Código Processo Penal, esta disposição é, em parte, inconstitucional. Ao invés, nada obsta de um ponto de vista
constitucional a um regime de sustentação ou reparação de decisão interlocutória ou final, mas que não conheça do mérito da causa, a
reparação ou sustentação do decidido é mesmo um poder-dever do tribunal recorrido “sempre que a motivação de recurso coloque
novas questões ou constitua enfoque diverso da problemática apreciada”, contudo, atendendo a que a decisão de sustentação visa
influenciar o tribunal de recurso e, desse modo, representa uma forma de compressão prática do próprio direito ao recurso, ela deve ser
sempre notificada aos sujeitos processuais interessados, dando-se-lhe oportunidade para se pronunciarem sobre ela, mesmo que não
contenha quaisquer argumentos novos, esta é a jurisprudência estabelecida, à luz do direito de ANTUNES E PIRES V. PORTUGAL E
FERREITA ALVES V. PORTUGAL. Por maioria de razão, a decisão de reparação é também notificada aos sujeitos processuais interessados,
mais: se o juiz reparar a decisão recorrida, o recorrido pode recorrer do despacho de reparação, nos termos gerais. A solução do artigo
744º número 3 Código Processo Civil, que permitia a subida do processo se fosse requerida, no prazo de 10 dias a contar da notificação
do despacho de reparação, a fim de se decidir a questão sobre que recaíram os dois despachos opostos, supressão do dito artigo pela
revisão do Código Processo Civil, o juiz do tribunal recorrido pode instruir o recurso que suba em separado com os elementos necessários
à boa decisão da causa, o juiz não deve, contudo, emitir opinião sobre a medida em que os elementos juntos são “pertinentes” para essa
boa decisão da causa.
Se o recurso subir nos próprios autos e houver arguidos privados de liberdade, isto é, em prisão preventiva ou sob a obrigação
de permanência na habitação, o juiz do tribunal recorrido, ao admitir o recurso, deve simultaneamente ordenar a extracção de certidão
das peças necessárias ao reexame periódico da medida de coacção, uma vez que este reexame periódico é realizado pelo tribunal a quo.
Por identidade de razão, deve-se extrair certidão das peças necessárias ao cumprimento da pena dos arguidos não recorrentes que não
sejam afectados pelos recursos interpostos pelos co-arguidos recorrentes, havendo pluralidade de recurso da mesma decisão, uns
impugnando a matéria de facto e outros exclusivamente a matéria de direito, o processo é decidido pelo tribunal de recurso competente
para conhecer a matéria de facto, onde todos os recursos serão conhecidos em conjunto. A Lei nº 48/2007 de 29 de Agosto, esclareceu
este ponto, esta regra é aplicável não apenas no caso de pluralidade de recorrentes, mas também para o caso de um mesmo recorrente
impugnar matéria de facto e de direito, esta regra é ainda aplicável, por interpretação extensiva, ao caso de um mesmo recurso ao caso
do recurso interposto do acórdão final para o Supremo Tribunal de Justiça encontrando-se pendente recurso interlocutório (sem efeito
suspensivo) no Tribunal Relação, ou seja, também neste caso os recursos devem ser julgados conjuntamente pelo Tribunal da Relação.

Artigo 419º “CONFERÊNCIA”


“1. Na conferência intervêm o presidente da secção, o relator e um juiz-adjunto.
2. A discussão é dirigida pelo presidente, que, porém, só vota, para desempatar, quando não puder formar-se maioria com os votos do
relator e do juiz-adjunto.
3. O Recurso é julgado em conferência quando:
a) Tenha sido apresentada reclamação da decisão sumária prevista no número 6 do artigo 417º;
b) A decisão recorrida não conheça, a final, do objecto do processo, nos termos da alínea a) do número 1 do artigo 97; ou
c) Não tiver sido requerida a realização da audiência e não seja necessário proceder à renovação da prova nos termos do artigo
430º.”

A Lei nº 48/2007 de 29 de Agosto, mudou a composição e os poderes da conferência, a composição foi restringida, intervindo
nela somente o presidente da secção, o relator e um juiz-adjunto, a conferência decide por maioria, mesmo quando conhece de
reclamação sobre a decisão do relator de rejeição do recurso por manifesta improcedência, o presidente vota para desempate, quando
não puder formar-se maioria com os votos do relator e do juiz-adjunto. Neste caso, o presidente assina o acórdão, uma vez que participa
na deliberação, a não intervenção do presidente assina o acórdão, uma vez que participa na deliberação, a não intervenção do
presidente da secção na votação e assinatura do acórdão quando haja maioria não é inconstitucional, o processo vai à conferência nos
seguintes casos:
a) quando haja reclamação da decisão sumária do relator e de qualquer outra decisão final do relator e, designadamente, do
despacho que julga a desistência (artigo 417º número 8 Código Processo Penal, aplicado analogicamente ao artigo 415º
número 2 Código Processo Penal);
b) quando haja reclamação da decisão interlocutória do relator e, designadamente, da decisão sobre o efeito atribuído ao recurso
e da decisão sobre a renovação da prova, as provas a renovar e as pessoas a convocar (artigo 417º número 8 Código Processo
Penal);
c) quando a decisão recorrida não conheça a final do objecto do processo e incida sobre uma questão nova ou uma questão nova
ou uma questão que seja decidida de modo divergente pela jurisprudência;
d) quando a decisão recorrida conheça a final do objecto do processo, incida sobre uma questão nova ou uma questão que seja
decidida de modo divergente pela jurisprudência e não tenha sido requerida a audiência, nem seja necessário proceder à
renovação da prova;

O poder de cognição da conferência tem uma natureza originária e não derivada, isto é, a conferência não está vinculada nem à
decisão do relato nem à reclamação do sujeito ou participante afectado pela decisão do relator, portanto, a conferência pode conhecer
de questão não colocada pela reclamação, mas colocada na motivação nas conclusões do recurso. A conferência pode também conhecer
as nulidades insanáveis e os vícios do artigo 410º número 2 Código Processo Penal, mesmo que não sejam colocadas na reclamação, mas
dentro dos limites expostos no artigo 406º Código Processo Penal, a conferência pode ainda conhecer de circunstâncias supervenientes
que ocorram entre a decisão do relator e a conferência, como a amnistia, a prescrição do procedimento criminal ou a morte do arguido.
A conferência pode agravar a posição processual do reclamante em relação à decisão do relator, mesmo quando o reclamante seja o
arguido ou o Ministério Público no exclusivo interesse do arguido, a lógica relativa às decisões de rejeição liminar do recurso é, por
maioria de razão, aplicável a decisões de improcedência do recurso. Por exemplo, não é constitucionalmente admissível o não
conhecimento da impugnação da decisão cumprimento pelo facto e a improcedência do recurso nesta parte dado o deficiente
cumprimento pelo arguido recorrente do disposto no artigo 412º número 3 Código Processo Penal, sem prévio convite a suprir a
deficiência (acórdão do Tribunal Constitucional nº 529/2003), mas já é admissível a improcedência do recurso se o recorrente não fez
constar da própria motivação os elementos necessários ao cumprimento do disposto no artigo 412º número 3 Código Processo Penal
(acórdão do Tribunal Constitucional nº 140/2004).

Artigo 420º “REJEIÇÃO DO RECURSO”


“1. O recurso é rejeitado sempre que:
a) For manifesta a sua improcedência;
b) Se verifique causa que devia ter determinado a sua não admissão nos termos do número 2 do artigo 414º; ou
c) O recorrente não apresente, complete ou esclareça as conclusões formuladas e esse vício afectar a totalidade do
recurso, nos termos do número 3 do artigo 417º;
2. Em caso de rejeição do recurso, a decisão limita-se a identificar o tribunal recorrido, o processo e os seus sujeitos e a especificar
sumariamente os fundamentos da decisão.
3. Se o recurso for rejeitado, o tribunal condena o recorrente, se não for o Ministério Público, ao pagamento de uma importância entre 3
UC e 10 UC.”

A rejeição do recurso compete ao relator ou, havendo reclamação, à conferência (artigos 417º número 6 alínea b. e número 8,
e 419º número 3 alínea a. Código Processo Penal), os fundamentos de rejeição do recurso são os seguintes:
a] a manifestação improcedência do recurso;
b] a verificação das causas de não admissão do recurso previstas no artigo 414º número 2 Código Processo Penal:
i] a irrecorribilidade da decisão;
ii] a intempestividade do recurso;
iii] a falta de legitimidade ou interesse em agir do recorrente;
iv] a falta de representação por advogado do recorrente (“quando o recorrente não tiver as condições necessárias
para recorrer”);
v] a falta da motivação.
c] o incumprimento do ónus de apresentação, aditamento ou esclarecimento das conclusões quando esse vício afecte a totalidade do recurso,
incluindo:
1. a apresentação de motivações aperfeiçoadas que modifiquem o âmbito do recurso que tiver sido fixado na motivação;
2. a apresentação fora de prazo de conclusões sem justificação para tal.

A competência do relator e da conferência rejeitarem o recurso manifestamente infundado não viola a Constituição República
Portuguesa, nem a Convenção Europeia dos Direitos do Homem, a circunstância de a conferência decidir sobre a manifesta
improcedência por maioria e não por unanimidade não põe em causa o juízo da constitucionalidade. Este é, aliás, um instrumento
fundamental de concretização do princípio constitucional da celeridade processual no Estado de Direito, contudo, o motivo de rejeição
não deve constituir uma surpresa para o recorrente, valendo também neste tocante o princípio do contraditório, a manifesta
improcedência pode dizer respeito a recurso de decisão que conheça a final do objecto do processo ou de decisão anterior ou posterior a
esta. Ela pode respeitar à subsunção dos factos ao direito ou à interpretação jurídica da lei penal ou processual, a decisão do relator de
rejeição do recurso por manifesta improcedência, confirmada pela conferência, é uma decisão que conhece a final do objecto do recurso
para os efeitos do artigo 400º número 1 alínea c) Código Processo Penal, admitindo recurso para o Supremo Tribunal de Justiça, são de
rejeitar por manifesta improcedência os seguintes recursos:
a. O recurso com base na omissão de diligências essenciais para a descoberta da verdade,
mas essa nulidade relativa já está sanada por não ter sido arguida tempestivamente antes de finda a
audiência.
b. O recurso com base na omissão de diligências necessárias para a descoberta da verdade,
mas essa irregularidade já está sanada por não ter sido arguida tempestivamente antes de finda a
audiência.
c. O recurso com base em outras nulidades ou irregularidades já sanadas.
d. O recurso fundado na negação de um facto dado como provado.
e. O recurso fundado na alegação de valoração de provas proibidas, não corroborada pela
consulta do processo e do acórdão recorrido.
f. O recurso circunscrito à matéria de direito, em que o recorrente se limita “a esgrimir
fora do quadro do artigo 410º número 2 Código Processo Penal que outro devia ser o quadro factual
apurado invocando, sem mais, sem qualquer suporte, o princípio in dubio pro reo”
g. O recurso circunscrito à matéria de direito, fundado em vícios que não são os do artigo
410º número 2 Código Processo Penal, mas antes relativos à formação da convicção do tribunal, ainda que
a prova produzida tenha sido registada.
h. O recurso cujas conclusões ignoram que os vícios do artigo 410º número 2 Código
Processo Penal, devem resultar do texto da decisão.
i. O recurso quando a matéria de facto que, sem incorrer em quaisquer dos vícios do artigo
410º número 2 Código Processo Penal, “não deixar dúvidas, quanto ao preenchimento de todos os
elementos objectivos e subjectivos do crime” e “quando o pedido de redução da pena não se estribar em
pressupostos de facto e de direito que o legitimem” e se limita a “meras generalidades”. É o caso no
recurso de uma condenação no crime de roubo em co-autoria se, “apesar de não se ter apurado se foram
ambos (os arguidos) ou apenas um quem tomou a iniciativa de agredir o Amândio, o certo é que,
desencadeada essa agressão, os dois praticaram em conjunto actos executivos do roubo, com perfeita
consciência e vontade de colaboração, alargando o plano inicial que visava tão somente o assalto à
habitação”.
j. O recurso quando o recorrente faz alegação sabidamente inexacta de que na sentença
não haviam sido indicadas as provas e, em recurso restrito a matéria de direito, invoca factos não
provados assentes na sua versão pessoal dos factos, o recorrente deve ser condenado em quantia do
artigo 420º número 4 Código Processo Penal, mas não como litigante de má-fé.
k. O recurso que contraria jurisprudência obrigatória sem novos argumentos, em relação
aos já debatidos pelo Supremo Tribunal de Justiça.
l. O recurso de decisão cujos factos apurados se subsumem a contra-ordenação pela qual
foi condenado o recorrente, não se vislumbrando qualquer das alegadas causas de exclusão de ilicitude ou
da culpa, mas apenas uma diminuição sensível da culpa, que já motivou a graduação da coima em valor
muito abaixo do fixado pela autoridade administrativa.
m. O recurso de decisão relativa a conduta que não é penalmente relevante.

A falta de motivação não inclui apenas o caso da omissão total de motivação, mas também os casos de falta de uma verdadeira
motivação, são exemplos disso:
a) Se no recurso para o Supremo Tribunal de Justiça o recorrente apenas repete a motivação do recurso contra a
decisão da primeira instância interposto para o Tribunal da Relação, o recurso é desprovido de motivação.
b) Se a motivação se traduz em generalidades, que inviabilizam a partir delas a emissão de qualquer juízo crítico,
não há motivação.
c) Se a motivação é “meramente formal”, não indicando fundamento algum das conclusões, que surgem, por
isso, como “afirmações desgarradas de qualquer premissa”, não existe motivação.
d) Quando o recurso interposto por fax é posteriormente junto aos autos, contendo acrescentamentos e
omissões em relação à telecópia antes recebida, há falta de motivação.
e) Quando o recurso interposto por fax provenha de aparelho não constante da lista oficial e original do
documento não for junto no prazo legal de três dias.
f) Mas o recurso não deve ser rejeitado por a motivação não ter acompanhado o requerimento de interposição,
se a sua falta decorrer de lapso objectivamente desculpável e for sanada antes de decorrido o prazo
abstractamente fixado para recorrer e antes da subida ao tribunal de recurso.
g) Nem deve ser rejeitado se a motivação do recurso foi feita com base na remissão para a motivação de outro
recorrente.
h) Nem deve ser rejeitado se o juiz admitiu o recurso sem motivação e ordenou a transcrição da prova gravada,
deferindo ao requerido pelo recorrente no sentido de que se procedesse a essa transcrição e que aguardava
pela notificação da mesma “para os efeitos de motivação e reinício da contagem do prazo de recurso”, uma
vez que o despacho de admissão criou uma expectativa que merece tutela.
O recurso manifestamente improcedente é distinto do recurso supervenientemente inútil, o seguinte caso é elucidativo: o juiz
proferiu despacho de não recebimento de um dos crimes, por que vinha acusado o arguido, tendo sido interposto recurso para a Relação,
que subiu de imediato e com efeito meramente devolutivo. O arguido foi condenado e foi interposto recurso para o Supremo Tribunal de
Justiça, pedindo a anulação da sentença, por força do artigo 379º alínea a) Código Processo Penal, por referência apo artigo 374º número
2 Código Processo Penal, o Supremo Tribunal de Justiça entende que não é indispensável o recurso do acórdão final, pois o acórdão
sempre resultaria prejudicado se a Relação revogasse o despacho interlocutório não é recurso retido, não precisa de impulso a final, mas
já está a correr, sendo, portanto, o recurso do acórdão final manifestamente improcedente. Contudo, o relator determinou a apensação
dos autos do recurso em separado e destes consta que a Relação revogou o despacho interlocutório e ordenou a realização de
julgamento conjunto, pelo que o recurso para o Supremo Tribunal de Justiça foi rejeitado, não por inutilidade superveniente, mas por
manifesta improcedência, se a Relação houvesse decidido de outro modo, punha-se um problema de inutilidade superveniente do
recurso interposto para o Supremo Tribunal de Justiça, “pois não seria próprio conceder o Supremo o efeito que aquele Tribunal já teria
desencadeado”. Também não viola a Constituição República Portuguesa a faculdade de fundamentação sucinta da decisão de rejeição de
recurso, mesmo no caso de manifesta improcedência do recurso, desde que os fundamentos da decisão possam ser devidamente
compreendidos pelo sujeito ou participante recorrente, portanto, não é aplicável a esta decisão o disposto no artigo 374º Código
Processo Penal, designadamente, no que respeita ao exame crítico da prova, vale neste tocante a argumentação já expendida no artigo
417º Código Processo Penal, relativamente à relevância do carácter “manifesto” do vício de que padece o recurso.
Formuladas várias pretensões no recurso, podem algumas delas rejeitar-se, em conferência, prosseguindo o recurso quanto às
demais, em obediência ao princípio da cindibilidade do conhecimento do recurso, pode haver rejeição parcial do recurso com qualquer
um dos fundamentos das alíneas a) e b) número 1 artigo 420º Código Processo Penal. O vício da alínea c) só dá lugar a rejeição total do
recurso quando o vício afecte as conclusões relativas a todas as pretensões do recorrente, se o vício afectar as conclusões relativas a
todas as pretensões do recorrente, o recurso não deve ser rejeitado, julgando-se a parte não afectada em conferência ou em audiência,
consoante os casos, e não se conhecendo da parte não afectada do recurso (artigos 417º número 3, e 420º número 1 alínea c. Código
Processo Penal). São cumulativas a condenação em custa do incidente e em multa no caso de pedido manifestamente infundado, pois
elas visam propósitos diferentes: uma tributa o decaimento no acto processual a que deu causa e a outra castiga a má-fé ou negligência
grosseira no requerimento. Atenta a natureza da magistratura do Ministério Público, a rejeição de recurso apresentado pelo Ministério
Público não suporta custas, nem paga a quanta devida nos termos do número 3.

Artigo 425º “ACÓRDÃO”


“1. Concluída a deliberação e votação, é elaborado acórdão pelo relator ou, se este tiver ficado vencido, pelo juiz-adjunto.
2. São admissíveis declarações de voto.
3. Se não for possível lavrar imediatamente o acórdão, o presidente fixa publicamente a data, dentro dos 15 dias seguintes, para a
publicação da decisão, após o respectivo registo em livro de lembranças assinado pelos juízes.
4. É correspondentemente aplicável aos acórdãos proferidos em recurso o disposto nos artigos 379º e 380º, sendo o acórdão ainda nulo
quando for lavrado contra o vencido, ou sem o necessário vencimento.
5. Os acórdãos absolutórios enunciados na alínea d) do nº 1 do artigo 400º, que confirmem decisão de 1ª instância sem qualquer
declaração de voto, podem limitar-se a negar provimento ao recurso, remetendo para os fundamentos da decisão impugnada.
6. O acórdão é notificado aos recorrentes, aos recorridos e ao Ministério Público.
7. O prazo para a interposição de recurso conta-se a partir da notificação do acórdão.”

Na versão inicial do Código Processo Penal, admitiam-se declarações de voto quanto à matéria de direito e à matéria de facto, a
Lei nº 58/98 de 25 de Agosto, limitou essa faculdade à matéria de direito, a Lei nº 48/2007 de 29 de Agosto, volta à solução da versão
inicial do Código Processo Penal. O Decreto-Lei nº 320-C/2000 de 15 de Dezembro, previu o acórdão absolutório do tribunal de recurso
sem fundamentação própria, na versão do Decreto-Lei nº 329º-A/95 de 12 de Dezembro, esta disposição é constitucionalmente
intolerável, pelo menos no processo penal, a disposição do artigo 425º número 5 Código Processo Penal, viola o direito de participação
do ofendido no processo penal e o direito do assistente de acesso aos tribunais e, nomeadamente, aos tribunais de recurso e ainda o
princípio da igualdade na sua vertente da igualdade de armas. Com efeito, havendo recurso da decisão absolutória interposto pelo
assistente ou pelo Ministério Público, o Tribunal de Relação não é obrigado a conhecer dos fundamentos da argumentação do
recorrente, podendo pura e simplesmente ignorar esses argumentos e remeter para os fundamentos da decisão impugnada, ou seja, o
recorrente fica na ignorância dos motivos da improcedência do seu recurso e, portanto, a garantia do recurso fica completamente
esvaziada de conteúdo. Acresce que semelhante desprezo pela posição do recorrente em nenhuma circunstância acontece quando o
recurso seja interposto de decisão condenatória pelo arguido ou pelo Ministério Público em benefício do arguido, aquele esvaziamento
da garantia do recurso e esta discriminação não são toleráveis num Estado de Direito que reconhece às vítimas de crimes a mesma
dignidade que merecem os arguidos a quem são imputados esses crimes, por fim, o próprio direito à fundamentação das decisões
judiciais como parte integrante do direito ao tribunal fica irremediavelmente afectado, uma vez que o tribunal de recurso é dispensado
de responder aos novos argumentos do recorrente. Pelo exposto é inconstitucional o artigo 425º número 5 Código Processo Penal, por
violar dos artigos 2º, 13º, 20º número 1 e 32º número 7 Constituição República Portuguesa e o artigo 6º número 1 Convenção Europeia
dos Direitos do Homem, a Lei nº 59/98 previu ainda que o acórdão seja notificado aos recorrentes, aos recorridos e ao Ministério Público,
devendo entender-se que essa notificação é feita na pessoa do defensor e dos representantes do assistente a das partes civis, a Lei nº
48/2007 de 29 de Agosto, estabelece que o prazo para a interposição de recurso se conta a partir dessa notificação, na sequência da
jurisprudência do acórdão do Tribunal Constitucional nº 87/2003.
Assim, o novo número 7 é inconstitucional, por violação dos artigos 32º números 1 e 7, e 20º número 1 Constituição República
Portuguesa, quando interpretado no sentido de que o prazo para interposição de recurso do acórdão do tribunal superior também se
conta a partir da notificação do acórdão ao defensor ou ao representante do assistente ou da partes civis quando se questione o
cumprimento pelo advogado do dever de a comunicar ao sujeito processual que representa, esta é ainda uma consequência da tese
compromissória do Tribunal Constitucional relativa ao sistema de notificações da sentença no processo penal, a Lei nº 59/98 também
resolveu o problema do regime da nulidade do acórdão proferido pelo tribunal de recurso, remetendo para os termos dos artigo 379º e
380º Código Processo Penal e prevendo ainda a nulidade do acórdão quando ele fosse lavrado contra o vencido ou sem o necessário
vencimento. O direito de arguição de nulidades de uma decisão judicial que conhece o objecto do recurso, quer ela seja proferida pelo
Tribunal de Relação quer pelo Supremo Tribunal de Justiça, é um direito garantido pela Constituição República Portuguesa a qualquer
sujeito ou participante processual recorrente ou recorrido desde que seja prejudicado pela nulidade da decisão do tribunal de recurso, o
juiz que lavra o acórdão tem o dever de o sumariar.

Artigo 426º “REENVIO DO PROCESSO PARA NOVO JULGAMENTO”


“1. Sempre que, por existirem os vícios referidos nas alíneas do número 2 do artigo 410º, não for possível decidir da causa, o tribunal de
recurso determina o reenvio do processo para novo julgamento relativamente à totalidade do objecto do processo ou a questões
concretamente identificadas na decisão de reenvio.
2. O reenvio decretado pelo Supremo Tribunal de Justiça, no âmbito de recurso interposto, em 2ª instância, de acórdão da relação é feito
para este tribunal, que admite a renovação da prova ou reenvia o processo para novo julgamento em 1ª instância.
3. No caso de haver processos conexos, o tribunal superior faz cessar a conexão e ordena a separação de algum ou alguns deles para
efeitos de novo julgamento quando o vício referido no número anterior recair apenas sobre eles”

A declaração dos vícios do artigo 410º número 2 Código Processo Penal, dá lugar ao reenvio do processo, a decisão de reenvio
só tem lugar se “não for possível decidir da causa” no tribunal de recurso, isto é, só se procede ao reenvio quando for objectivamente
“impossível” ao tribunal de recurso, com todos os elementos de que dispõe, decidir da causa. Dito de outro modo, o reenvio deve
constituir a excepção e a sanação do vício do artigo 410º número 2 Código Processo Penal, pelo tribunal de recurso a regra, esta regra e
aquela excepção têm sido incompreendidas, gerando uma prática totalmente inversa ao sentido da opção feita pelo legislador, a situação
é particularmente evidente nas Relações, dado os poderes acrescidos de que esta dispõe para sanação dos vícios do artigo 410º número
2 Código Processo Civil. A decisão de reenvio com base na declaração de vícios do artigo 410º número 2 Código Processo Penal, proferida
pelo Tribunal de Relação não é recorrível para o Supremo Tribunal de Justiça, o reenvio pode ser total ou parcial, consoante o vício afecte
a totalidade do objecto do processo ou apenas certas questões concretas, no caso de reenvio parcial, o tribunal de recurso deve
identificar na decisão de reenvio as questões concretas a decidir no novo julgamento. Havendo processos conexos e dizendo o vício
respeito apenas a um ou alguns deles, a Lei nº 59/98 de 25 de Agosto, determinou que o tribunal superior deve fazer cessar a conexão e
ordenar a separação desse ou desses processos afectados pelo vício, procedendo-se ao respectivo reenvio conjunto desses processos
afectados para novo julgamento, a decisão do tribunal superior que ordena a separação de processos não é discricionária e, portanto,
deve ser fundamentada (artigo 97º número 5 Código Processo Penal) e é recorrível (artigo 399º Código Processo Penal).
No caso de revogação pelo tribunal de recurso de sentença de absolvição proferida pelo tribunal de primeira instância, o
tribunal de recurso deve reenviar o processo para determinação da sanção pelo tribunal recorrido, de modo a garantir ao arguido não
apenas o duplo grau de jurisdição sobre esta questão, mas também a possibilidade de reabertura da audiência de julgamento nos termos
do artigo 371º Código Processo Penal e o exercício das faculdades legais que estejam dependentes da vontade do arguido, tais como o
consentimento para prestação de trabalho a favor da comunidade. O reenvio pode ser ordenado pelo Supremo Tribunal de Justiça ou
pelo Tribunal de Relação, os casos possíveis de reenvio de acordo com a categoria dos tribunais de recurso são os seguintes:
a. no caso de recurso do Tribunal Relação para o Supremo Tribunal de Justiça: há reenvio do Supremo Tribunal de Justiça para
o Tribunal de Relação;
b. no caso de recurso do tribunal de primeira instância per saltum para o Supremo Tribunal de Justiça: há reenvio do Supremo
Tribunal de Justiça para o Tribunal de primeira instância;
c. no caso de recurso do tribunal de primeira instância para o Tribunal de Relação: há reenvio do Tribunal Relação para o
tribunal de primeira instância.

A Lei nº 48/2007 de 29 de Agosto, regula especificamente o caso de reenvio ordenado pelo Supremo Tribunal de Justiça em
recurso interposto, sem segunda instância, de acórdão do Tribunal Relação, o reenvio deve ser feito para o Tribunal de Relação, que
pode determinar a renovação da prova ou o reenvio do processo para novo julgamento em primeira instância, a mesma lei, não diz
quando deva ter lugar cada uma destas soluções mas elas resultam da aplicação dos princípios gerais relativos aos poderes de cognição
do Tribunal Relação. Assim, tendo havido renovação da prova no julgamento no Tribunal de Relação, deve, o tribunal, após o reenvio
ordenado pelo Supremo Tribunal de Justiça, determinar segunda renovação da prova, sempre que o vício possa ser sanado com essa
repetição do julgamento em segunda instância, tendo havido renovação da prova no julgamento no Tribunal de Relação, o tribunal deve,
após o reenvio ordenado pelo Supremo Tribunal de Justiça, determinar o reenvio do processo para novo julgamento em primeira
instância, sempre que o vício não possa ser sanado com a repetição do julgamento em segunda instância. Não tendo havido renovação
da prova no julgamento no Tribunal de Relação, o tribunal, deve, após o reenvio ordenado pelo Supremo Tribunal de Justiça, determinar
o reenvio do processo para novo julgamento em primeira instância, mas se a prova estiver documentada o Tribunal de Relação pode
ainda conhecer da matéria de facto e evitar o reenvio. Em nenhum circunstância pode haver renovação da prova depois do reenvio do
Supremo Tribunal de Justiça para o Tribunal de Relação quando essa renovação não teve lugar no primeiro julgamento realizado pelo
Tribunal Relação, pois a renovação depende sempre da iniciativa do recorrente (artigo 411º número 5 Código Processo Penal) e, não
tendo ela sido oportunamente requerida pelo recorrente no momento próprio, não se renova o prazo para esse efeito depois da ordem
de reenvio do Supremo Tribunal de Justiça. Na versão inicial do Código Processo Penal, a declaração dos vícios do artigo 410º número 2
Código Processo Penal, dava lugar ao reenvio do processo e a declaração das nulidades e irregularidades dava lugar à repetição do
julgamento e, sendo possível, pelo mesmo tribunal recorrido, este sistema é profundamente alterado pela nova redacção do artigo
seguinte, conjugada com o novo artigo 40º Código Processo Penal.

Artigo 426º-A “COMPETÊNCIA PARA O NOVO JULGAMENTO”


“1. Quando for decretado o reenvio do processo, o novo julgamento compete ao tribunal que tiver efectuado o julgamento anterior, sem
prejuízo do disposto no artigo 40º, ou, no caso de não ser possível, ao tribunal que se encontre mais próximo, de categoria e composição
idênticas às do tribunal que proferiu a decisão recorrida.
2. Quando na mesma comarca existir mais de um juízo da mesma categoria e composição, o julgamento compete ao tribunal que resultar
da distribuição.”

Na versão inicial do Código Processo Penal, o reenvio processava-se sempre para o tribunal colectivo ou do júri, a Lei nº 59/98
de 25 de Agosto, modificou o regime do reenvio, determinando que ele fosse feito para o tribunal de categoria e composição idênticas às
do tribunal que proferiu a decisão recorrida, que se encontrasse mais próximo, entendendo-se por mais próximo o tribunal cuja distância
por estrada fosse a mais curta e acessível e não aquele que numa linha recta imaginária estivesse mais perto, quando na mesma comarca
existissem mais de dois tribunais da mesma categoria e composição, o julgamento competiria ao tribunal que resultasse da distribuição.
A lei não esclarecia duas questões: como proceder no caso de só existirem dois juízos no mesmo tribunal de comarca e como proceder se
o juiz ou juízes do primeiro julgamento integrassem o tribunal após o reenvio. No primeiro caso, o processo deveria ser distribuído ao
juízo não recorrido, no segundo caso, a jurisprudência divergia, ora decidindo que nada obstava a que o novo julgamento após o reenvio
fosse presidido pelo mesmo juiz que tinha procedido ao primeiro julgamento, chamado a pronunciar-se em dois casos, o Tribunal
Constitucional determinou que, em caso de reenvio para novo julgamento em consequência de uma anulação parcial do julgamento,
com estrito objectivo de determinar a situação económica do arguido, por tal averiguação ter sido omitida, não violava a Constituição
República Portuguesa que o tribunal do segundo julgamento fosse integrado por um dos juízes que participou no primeiro, assim como
era constitucionalmente admissível que os arguidos fossem julgados por juízes que antes já haviam participado num primeiro julgamento
anulado com a finalidade de se proceder à documentação das declarações prestadas em audiência.
Não obstante o juízo de compatibilidade constitucional do regime legal anterior, sobretudo no caso submetido ao Tribunal
Constitucional no acórdão nº 167/2007 a Lei nº 48/2007 de 29 de Agosto, altera profundamente o sistema de reenvio, assimilando o
reenvio e a repetição de julgamento, tal como a declaração de nulidade, a declaração de vícios do artigo 410º número 2 Código Processo
Penal, visa agora a repetição do julgamento pelo meso tribunal, embora com composição pessoal diferente, isto resulta da ressalva da
disposição do artigo 40º alínea c) Código Processo Penal. Dito de outro modo, o reenvio processa-se para o concreto tribunal que tenha
efectuado o julgamento anterior, mas por força do artigo 40º alínea c) Código Processo Penal, o juiz que participou no primeiro
julgamento fica impedido de participar no segundo, os autos devem ir à distribuição no tribunal que tenha efectuado o julgamento
anterior, ficando de fora a secção ou juízo composta pelo juiz ou pelos juízes que intervieram no primeiro julgamento, este resultado é
precisamente o mesmo quer tenha o primeiro julgamento sido anulado nos termos do artigo 410º número 2 Código Processo Penal, quer
o tenha sido nos termos do artigo 410º número 3 Código Processo Penal. O único interesse subsistente na distinção entre os vícios do
artigo 410º número 2 Código Processo Penal, e número 3, respeita agora ao regime da iniciativa do respectivo conhecimento (os vícios
do número 2 são sempre conhecidos oficiosamente e os do número 3 podem ser conhecidos oficiosamente ou dependem de arguição,
consoante os casos), desparecendo a distinção entre os vícios a nível de consequências jurídicas dos mesmos. Só no caso de ser
impossível o julgamento pelo mesmo tribunal, com composição pessoal diversa, a Lei nº 48/2007 de 29 de Agosto, determina que o
segundo julgamento se faça após o reenvio, no tribunal que se encontra mais próximo, de categoria e composição idênticas às do
tribunal que proferiu a decisão recorrida, apesar do silêncio da lei, o mesmo deve acontecer no caso de ser impossível o segundo
julgamento tenha sido anulado nos termos do artigo 410º número 3 Código Processo Penal.
O artigo 40º alínea c) Código Processo Penal, impõe a aplicação analógica do artigo 426º-A Código Processo Penal, também nos
casos de nulidade do primeiro julgamento, ficando excluído apenas o caso de nulidade da sentença do primeiro julgamento que não
implique novo julgamento, pois neste caso os mesmos do tribunal que proferiu a primeira sentença não se encontram impedidos, a
situação das comarcas agregadas coloca uma especialidade aquando do reenvio para o tribunal que se encontra mais próximo, de
categoria e composição idênticas às do tribunal que proferiu a decisão recorrida. Se a comarca mais próxima do tribunal recorrido estiver
agregada à deste, o tribunal competente para proceder ao novo julgamento é o da comarca mais próxima das agregadas, de categoria e
composição idênticas, nas novas comarcas criadas pela Lei nº 52/2008 de 28 de Agosto, o reenvio processa-se do seguinte modo: quando
na mesma comarca exista mais de um juízo da mesma categoria e composição, o julgamento compete ao tribunal que resulta da
distribuição. Não havendo na comarca juízo da mesma categoria e composição, o reenvio processa-se para tribunal da mesma categoria e
composição de outra comarca, o poder de reenvio restringe-se apenas à colocação pelo tribunal de recurso das “questões concretas”
(artigo 426º número 1 Código Processo Penal) que compete ao tribunal inferior decidir, mas não inclui o poder de o tribunal de recurso
ordenar ao tribunal inferior a realização de uma certa diligência de prova e, menos ainda, impor a extracção de uma certa ilação ou
conclusão de facto de um meio de prova. Após o reenvio do processo, o tribunal inferior mantém inteira liberdade sobre a
admissibilidade dos meios de prova para efeito da resolução da “questão concreta” colocada e a valoração da prova deles resultante, o
tribunal inferior está, pois, apenas vinculado à constatação do vício feito pelo tribunal superior e aos termos da “questão concreta”
colocada para resolução, não podendo alargar nem restringir o âmbito dessa questão.
A decisão do tribunal superior sobre a restante matéria transita em julgado, a Lei nº 48/2007 de 29 de Agosto não é, contudo,
uniforme: o novo sistema de reenvio é aplicável ao reenvio no âmbito do recurso extraordinário para uniformização de jurisprudência,
mas não é aplicável ao reenvio no âmbito do recurso extraordinário de revisão.
DA PROVA
Artigo 174º “PRESSUPOSTOS”
“1. Quando houver indícios de que alguém ocula na sua pessoa quaisquer objectos relacionados com um crime ou que possam servir de
prova, é ordenada a revista.
2. Quando houver indícios de que os objectos referidos no número anterior, ou o arguido ou outra pessoa que deva ser detida, se
encontram em lugar reservado ou não livremente acessível ao público, é ordenada busca.
3. As revistas e as buscas são autorizadas ou ordenadas por despacho pela autoridade judiciária competente, devendo esta, sempre que
possível, presidir à diligência.
4. O despacho previsto no número anterior tem um prazo de validade máxima de 30 dias, sob pena de nulidade.
5. Ressalvam-se das exigências contidas no número 3 as revistas e as buscas afectuadas por órgão de polícia criminal nos casos:
a) De terrorismo, criminalidade violenta ou altamente organizada, quando haja fundados indícios da prática iminente de
crime que ponha em grave risco a vida ou a integridade de qualquer pessoa;
b) Em que os visados consintam, desde que o consentimento prestado fique, por qualquer forma, documentado; ou
c) Aquando de detenção em flagrante por crime a que corresponda pena de prisão.
6. Nos casos referidos na alínea a) do número anterior, a realização da diligência é, sob pena de nulidade, imediatamente comunicada ao
juiz de instrução e por este apreciada em ordem à sua validação.”

Quer a revista quer a busca se fundamentam numa suspeita, a revista fundamenta-se numa suspeita de que uma pessoa física
oculta no seu corpo quaisquer objectos relacionados com um crime ou que possa servir de prova, a busca fundamenta-se numa suspeita
de que em certo lugar se encontram objectos relacionados com um crime ou que possam servir da prova ou de que se lá encontram o
arguido ou outra pessoa que deva ser dita, por exemplo, não justificam a suspeita a mera informação do OPC com origem em “conversa
informal” com pessoa não identificada nem mesmo as declarações informais prestadas por uma menor identificada nos autos sobre a
existência de um objecto furtado em determinada residência, nem um rumor isolado mas a busca pode ser justificada por uma denúncia
anónima, conjugada com algumas diligências de vigilância eterna e uma ficha biográfica do denunciado. A distinção entre a revista e a
busca reside no objecto de cada um destes meios de obtenção da prova – a revista incide sobre o corpo da pessoa, a busca incide sobre
“um lugar reservado ou não livremente acessível ao público” -, as revistas e as buscas são autorizadas ou ordenadas por despacho pela
autoridade judiciária competente, devendo esta, sempre que possível, presidir à diligência, esta competência não viola a Constituição
Repúblicas Portuguesa, o despacho deve ser fundamentado na verificação dos pressupostos legais ou, como refere artigo 176º número 3
Código Processo Penal, na verificação das “razões” para presumir que se verificam os pressupostos da lei. Entre esses pressupostos
encontra-se o da existência de “indícios” da ocultação de objectos relacionados com o crime ou que possam servir de prova – “por regra,
nos despachos que autorizam a realização de buscas e apreensões, não constam, quaisquer factos, nem referências aos fins visados com a
diligência” -, por outro lado, as intrusões processuais no âmbito de direitos fundamentais devem ser justificadas com base no princípio da
proporcionalidade, o despacho que autoriza a diligência deve ser fundamentado na verificação dos pressupostos legais à data da
prolação do despacho, com base em todos os elementos disponíveis no inquérito.
Destarte, o desaparecimento dos pressupostos que fundamentaram a decisão em momento posterior à sua prolação não
inquina a validade do despacho, no caso de busca efectuada pelo órgão de polícia criminal, os pressupostos que a determinaram devem
verificar-se à data da realização da diligência, por exemplo, a circunstância de à data da execução da busca se indiciar “fundadamente” a
prática iminente de um crime que põe em grave risco a vida de uma pessoa cometido no âmbito de criminalidade altamente organizada
e posteriormente à diligência esses indícios se revelarem infundados não obsta à validade da busca efectuada pelo órgão de polícia
criminal. A sindicância da validade da decisão depende, pois, de um juízo de prognose póstuma reportado ao circunstancialismo
existente no momento da tomada da decisão, razão pela qual o expediente remetido à autoridade judiciária não deve limitar-se à notícia
da realização da diligência, mas deve incluir uma descrição contextualizada da situação que justificou a realização da diligência e os
termos em que ela teve lugar, o mandado da autoridade judiciária tem prazo de validade, que não pode ultrapassar 30 dias contados
desde a data da respectiva assinatura. Pretende-se evitar a prática nefasta de mandados sem prazo, que são executados meses depois da
respectiva emissão, a revista e a busca não domiciliária podem ter lugar entre as 21h e as 7 hora, se for estritamente necessária para a
realização do fim da diligência, a diligência deve cessar de imediato quando no seu decurso se constatar que não se verificam os
pressupostos legais da mesma. Se o arguido que deve ser preso preventivamente está em certo lugar reservado ou não livremente
acessível ao público, o mandato de captura deve ser acompanhado por um mandado de busca para o referido lugar, o mandado de
captura emitido para concretização de uma ordem de prisão preventiva não constitui, de per si, fundamento legal para busca
(domiciliária ou não domiciliária) como decorre do artigo 174º número 4 alínea c) Código Processo Penal, as revistas e as buscas podem
ser efectuadas pelo órgão de polícia criminal sem mandado da autoridade judiciária nos seguintes casos e com as seguintes
consequências:
a) Fundados indícios da prática iminente de crime que ponha gravemente em risco a vida ou a integridade de qualquer pessoa
no âmbito de terrorismo, de criminalidade violentar ou altamente organizada: a revista ou busca feita nestas circunstâncias
deve ser comunicada imediatamente ao juiz de instrução com vista a validação; esta solução não é inconstitucional.
b) Consentimento documentado do visado: a diligência deve ser comunicada imediatamente ao Ministério Público com vista a
validação (verificação dos pressupostos legais da diligência, da validade do consentimento e da legalidade do auto da
diligência) no âmbito do seu poder de direcção do inquérito.
c) Detenção em flagrante delito por crime punível com pena de prisão “caso em que a busca constitui acto cautelar da prova
subsequente à privação da liberdade” como previa a lei de autorização do Código Processo Penal, portanto, a busca deve ser
realizada após a detenção em flagrante delito e só pode ter lugar em lugar reservado ou não livremente acessível ao público
que tenha uma continuidade física com o local da detenção, a diligência deve ser imediatamente comunicada ao Ministério
Público para interrogatório do arguido detido com vista a validação da detenção e da subsequente revista ou busca.
O sistema legal não é compatível com o sistema da Lei nº 43/86 de 26 de Setembro, uma vez que esta supunha que todas as
buscas (domiciliárias e não domiciliárias) deveriam ser autorizadas por juiz, salvo consentimento ou detenção por flagrante delito de
crime punível com prisão, a autorização do juiz também estava dispensada no caso de buscas domiciliárias em que fundados indícios da
prática iminente de crime que ponha gravemente em risco a vida ou a integridade de qualquer pessoa no âmbito de terrorismo, de
criminalidade violenta ou altamente organizada, a Lei nº 59/98 de 25 de Agosto, sanou a inconstitucionalidade orgânica. A comunicação
imediata é a comunicação que ocorre logo que cessa a diligência, se a diligência cessar fora das horas de expediente do tribunal, a
comunicação deve ser feia logo que o tribunal reabrir, por isso, o registo da hora em que começou e terminou a diligência é muito
importante, a revista ou busca autorizada ou ordenada pelo magistrado do Ministério Público é, desde logo, sindicável pelo respectivo
superior hierárquico, por via de reclamação hierárquica. A diligência autorizada ou ordenada pelo juiz de instrução pode ser impugnada,
por via da interposição de recurso, tem legitimidade para impugnar ou reclamar o próprio suspeito visado pela revista ou busca,
independentemente da sua constituição como arguido, mas também o despacho judicial de indeferimento do pedido do Ministério
Público de realização de uma busca ou revista é recorrível, tendo legitimidade para interpor recurso o Ministério Público, o visado não é
necessariamente o arguido. O visado pela busca não é necessariamente o titular do direito à inviolabilidade do domicílio, nem a pessoa
que tem a disponibilidade do lugar, sendo inconstitucional a interpretação dos artigos 174º número 4 alínea b), 177º número 2 e 178º
número 3 Código Processo Penal, em termos de considerar relevante o consentimento da pessoa que tem a disponibilidade do lugar,
mas não é visado pela busca domiciliária policial não autorizada (acórdão do Tribunal Constitucional nº 507/94), no caso de haver várias
pessoas residentes no mesmo local, só a pessoa visada pela busca tem de dar o seu consentimento, sendo irrelevante o consentimento
dado por um co-residente que não é visado pela busca.
O visado pela busca é a pessoa que ocupa o lugar e o utiliza para um fim que a autoridade suspeita ser ilícito, é, pois, um
suspeito e só a suspeita pode fundamentar a busca, de igual modo, só a suspeita pode fundamentar a revista, o consentimento só é
relevante se prestado pelo visado, ele pode ser prestado oralmente antes da busca, mas deve ser posteriormente documentado, a Lei nº
43/86 de 26 de Setembro, previa precisamente que o consentimento fosse “devidamente documentado”, se o visado der o
consentimento no início da diligência, não o pode retirar durante a execução da mesma. Se o visado se recusar a assinar o termo de
consentimento depois de ter consentido na busca, o auto da diligência deve registar a recusa com menção de uma testemunha da recusa
diferente do autor do auto, mas não há consentimento válido quando ele é obtido de modo enganoso, como por exemplo quando uma
empregada de pensão, a mando da polícia, pede a um cliente que abra a porta do quarto, o que este fez. Este artigo prevê várias regras
cuja violação dá lugar a uma proibição de prova, a uma nulidade ou a uma irregularidade, consoante os casos, tendo o legislador
explicitado este resultado no caso dos vícios mais frequentes, foi precisamente esta a intenção da inserção de uma nova sanção de
nulidade sanável para o caso de desrespeito pelo prazo da autorização, assim, podem ocorrer as seguintes situações com as seguintes
consequências:
(a) a execução de revista ou busca (não domiciliária) com coacção ou ofensa à integridade
física ou moral do visado: proibição de prova, com resultado da nulidade insanável da prova (artigo 126º
número 1 Código Processo Penal);
(b) a execução de revista ou busca (não domiciliária) que não seja autorizada ou ordenada
pela autoridade judiciária competente ou não seja efectuada pelo órgão de polícia criminal nos casos
previstos no artigo 174º número 5 Código Processo Penal: proibição de prova resultante de uma
intromissão na privacidade do visado, com o resultado da nulidade da prova, salvo consentimento do
visado (artigo 126º número 3 Código Processo Penal);
(c) a execução de revista ou busca (não domiciliária) pelo órgão de polícia criminal, sem
autorização da autoridade judiciária, antes da detenção em flagrante delito por crime a que corresponda
pena de prisão: proibição de prova resultante de uma intromissão na privacidade do visado, com o
resultado da nulidade da prova, salvo consentimento do visado (artigo 126º número 3 Código Processo
Penal);
(d) o consentimento inválido ou por pessoa sem legitimidade para revista ou busca (não
domiciliária) efectuada pelo órgão de polícia criminal: proibição de prova resultante de uma intromissão
na privacidade do visado, com o resultado da nulidade da prova, salvo consentimento posterior do
visado (artigo 126º número 3 Código Processo Penal);
(e) a prolação de despacho sem prazo ou com prazo que exceda o prazo legal e a execução
depois do prazo legal do despacho que autoriza a revista ou a busca (não domiciliária): nulidade sanável
(artigo 174º número 4 Código Processo Penal);
(f) a não comunicação imediata (isto é, no dia da ocorrência ou, havendo arguidos detidos,
no prazo de 48 horas da sua apresentação, como resulta do acórdão do Tribunal Constitucional nº
274/2007, mas mais restritivamente, admitindo apenas o prazo de 24 horas) pelo órgão de polícia
criminal ao juiz de revista ou busca (não domiciliária) nos casos de terrorismo, criminalidade violenta ou
altamente organizada previstos no número 5 alínea a): nulidade sanável (artigo 174º número 6 Código
Processo Penal);
(g) a não apreciação imediata (isto é, no dia da ocorrência) pelo juiz da revista ou busca (não
domiciliária) nos casos de terrorismo, criminalidade violenta ou altamente organizada previstos no
número 5 alínea a): nulidade sanável;
(h) a prolação de despacho pela autoridade judiciária competente autorizando a revista ou a
busca (não domiciliária) que não seja fundamentado (ou seja deficientemente fundamentado) na
verificação dos pressupostos legais: irregularidade (artigo 123º Código Processo Penal);
(i) a não comunicação pelo órgão de polícia criminal ao Ministério Público da revista ou
busca (não domiciliária) consentida pelo visado ou após detenção em flagrante por crime punível com
pena de prisão: irregularidade (artigo 123º Código Processo Penal);

As nulidades previstas neste artigo deve ser arguidas no prazo do artigo 120º Código Processo Penal, número 3 alínea c), por
isso, já não é tempestiva a arguição em recurso da sentença da nulidade da prova obtida em inquérito durante busca domiciliária sem
autorização judiciária ou do visado, a nulidade da busca não domiciliária ou da revista é causa da nulidade consequente da apreensão
feita durante a busca não domiciliária ou revista (artigo 122º número 1 Código Processo Penal). Não é possível a realização da revista de
uma pessoa colectiva arguida em processo penal, pela razão de que a pessoa colectiva não tem um corpo físico, mas é possível a
realização da busca a um lugar que se encontre ocupado por uma pessoa colectiva e que seja por ela utilizado para um fim que a
autoridade suspeita ser ilícito, esses lugares podem ser a própria sede ou instalações da pessoa colectiva, como podem ser quaisquer
outros lugares que a pessoa colectiva ocupe, com ou sem título jurídico. Sendo a pessoa colectiva a visada pela diligência, o
consentimento para o efeito só pode ser colhido junto do legal representante da pessoa colectiva e, consequentemente, também só por
ele pode ser dado, isto é, nem mesmo o empregado da pessoa colectiva que tenha disponibilidade do lugar ocupado pela pessoa
colectiva (por exemplo, o empregado que tenha as chaves de um pavilhão) pode dar o consentimento à diligência da busca, pois o
consentimento só obriga juridicamente a pessoa colectiva se provier de quem tem legitimidade para representar a vontade da pessoa
colectiva. Portanto, numa busca a um espaço reservado de um estabelecimento comercial, propriedade de uma sociedade comercial
visada pela busca, o consentimento não pode ser dado pelo responsável directo do estabelecimento comercial que tem a disponibilidade
do local e na altura se apresenta como “sócio-gerente”, mas não é gerente nem represente da sociedade comercial, não se confunde a
busca com a acção de fiscalização e inspecção da ASAE, nos termos do artigo 4º número 2 alínea t) Decreto-Lei nº 274/2007 de 30 de
Julho, e, já antes do artigo 5º alínea x) do Decreto-Lei nº 237/2005 de 30 de Dezembro, com livre acesso a “todos os locais onde se
proceda a qualquer actividade industrial, comercial, agrícola, pecuária, de abate, piscatória, incluindo a actividade de pesca lúdica, de
promoção e organização de campos de férias, ou de prestação de serviços, designadamente de produtos acabados e ou intermédios,
armazéns, escritórios, meios de transporte, entrepostos frigoríficos, empreendimentos turísticos, empreendimentos de turismo no espaço
rural, estabelecimento de turismo de natureza, agências de viagens, empresas de animação turística, estabelecimentos de restauração e
bebidas, cantinas e refeitórios, clínicas dentárias, clínicas veterinárias, recintos de diversão ou de espectáculos, infra-estutruras,
equipamentos, espaços desportivos, portos, gares e aerogares”, esta é uma actividade de natureza preventiva, isto é, independente da
existência de indícios criminais.

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