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Segundo Santos Silveira, o julgador está, como todo o homem, sujeito ao engano ou
erro. Numa decisão, a fiabilidade humana é sempre invocável, porque por mais sábio,
honesto ou reto, o julgador pode errar. Deste modo, na justiça, impõe-se o reexame da
questão, uma nova apreciação, mais não seja por parte do vencido que entende, por
vezes, que a decisão foi injusta.
Quando a decisão não realizou a justiça penal, quando padeça de um erro, deverá ser
corrigida. O direito não pode cumprir-se a qualquer custo. Por isso concebeu o
legislador um conjunto de garantias protetoras dos interesses em presença - de um lado,
os do Estado na perseguição e punição dos prevaricadores da lei e, de outro, os dos
particulares no direito a um processo justo.
No processo penal, esta matéria apresenta-se com maior relevância, pois o erro ou a
injustiça da decisão têm consequências particularmente graves, atentos os valores que
estão em jogo, pelo que há que limitar os riscos de tais falhas, quer rodeando o
recrutamento dos julgadores das necessárias cautelas, quer fazendo com que as decisões
tiradas seriam examinadas. uma nova vez por uma instância diferente.
Noção de Recurso
De forma muito simples, podemos definir recurso como o caminho legal para corrigir os
eros cometidos na decisão judicial penal, portanto o instrumento que permite provocar a
reapreciação da substância dessa mesma decisão.
O recurso é face ao ordenamento processual penal vigente, o único meio de pôr cobro a
erros e vícios de fundo de qualquer decisão judicial penal. São entendidos como
remédios jurídicos, afastando-se, assim, de uma ideia refinamento jurisprudencial. O
nosso código adotou uma posição face a esta questão, ao entender que o instrumento
preferencial de uma correta administração da justiça é o do primeira instância.
Assim, de forma sintética, o recursos tem por fundamento: 1- corrigir erros cometidos
na decisão judicial; 2- uniformizar jurisprudência;3- corrigir o erro judiciário.
Espécie de recursos
Temos recursos ordinários e extraordinários. Os ordinários são perante as relações e
perante o STJ. Por outro lado, os extraordinários servem para fixação da jurisprudência
e revisão, sendo que na fixação da jurisprudência subdivide-se em: 1- fixação de
jurisprudência propriamente dita;2- de decisão proferida contra jurisprudência
obrigatória; 3- no interesse da unidade do direito.
Diferenciação
Na realidade, uma vez transitada em julgado, a sentença - que por isso deixou de ser
impugnável por via do recurso ordinário -, pode, ainda, em certos casos, ser atacada por
outra via, qual seja a do recurso extraordinário. Daí o faltar-lhe a imutabilidade
absoluta, que apenas se atinge quando já não houver possibilidade de impugnação
através de qualquer dos meios previstos na lei. Donde o dizer-se que, transitada em
julgado a decisão sobre a relação material discutida no processo, ela ganha força
obrigatória que só pode ser atacada pela via extraordinária e excecional de impugnação
(cfr. art.° 671.° do CPCivil).
Em termos gerais, podemos afirmar que uma decisão judicial passa em julgado quando:
é irrecorrível, art. 400.º do CPP; sendo recorrível, se deixou esgotar o prazo legal para a
interposição do recurso, art. 411.º do CPP.
Recurso ordinário
Âmbito do recurso
O n.º 1 do art. 402.º do CPP, consagra o principio do conhecimento amplo dos recurso
ao estatuir que sem prejuízo do disposto no artigo seguinte, o recurso interposto de uma
sentença, isto é, de uma decisão que conhece, a final, do objeto do processo, abrange
toda a decisão. O objeto legal do recurso é a decisão recorrida e não a questão por esta
julgada. O recurso é a reapreciação da decisão com base na matéria de facto e de direito
que se serviu para a decisão impugnada e pré-existente ao recurso.
Ainda que o direito ao recurso seja regra, nos termos do art. 399.º do CPP e art. 32.º da
CRP, a lei faz depender o exercício deste direito de certos pressupostos, pois nem todas
as decisões são impugnáveis.
Este tipo de recurso, inserido dentro do ordinário, tem lugar quando efetuados recursos
perante a Relação ou recursos perante o Supremo Tribunal de Justiça.
Quanto aos primeiros, recorre-se à relação das seguintes decisões proferidas em 1.ª
instância: 1- decisões proferidas pelo juiz singular; 2- decisões proferidas pelo tribunal
coletivo ou pelo tribunal de júri, versando sobre matéria de facto ou matéria de facto e
direito ou só de direito se não tiver sido aplicada pena detetiva superior a 5 anos de
prisão.
A regra é pois que o recurso, segundo o expresso no art. 427.º, seja intentado na relação,
salvo os casos em que o recurso é diretamente intentado no Supremo, sendo estes casos
taxativos, art. 432.º 433 do CPP.
O recurso para o Supremo tem, em regra, como exclusivo escopo o reexame de matéria
de direito, de acordo com o normativo do art.° 434.°. Esta regra, contudo, comporta uma
reserva que contende com o estatuído no art.° 410.°, n.° 2 e 3, e a que amplamente nos
temos referido em diversos momentos.
É a seguinte a reserva: ainda que haja restrição aos poderes de cognição do tribunal -
como acontece nos recursos interpostos para o Supremo, em que é a lei que limita o
conhecimento à matéria de direito -, pode haver casos especiais que justificam a
ampliação dos poderes de julgamento por forma a abranger também matéria de facto.
Ora, com a reserva que fazemos nesses casos especiais, que são:
Recursos Extraordinários
Enquadramento
Quanto ao recurso de revisão não há dívidas quanto à sua inserção no elenco dos
recursos extraordinários, pois se segue a linha tradicional imaginada para os recursos
em processo civil.
O sistema foi, pois, inspirado pela necessidade de irmanar a certeza do Direito com o
respeito pela Justiça, e que ALBERTO REIS justifica com estas palavras: Os tribunais
têm como função especifica aplicação da lei, norma geral e abstrata, aos casos
particulares e concretos; para que este trabalho seja realizado com acerto e consciência,
importa que o juiz comece por interpretar a regra formulada pelo legislador. Ora no
exercício desta atividade há-de assegurar-se ao magistrado plena independência e
completa o liberdade; o julgador deve ter o poder de interpretar a lei segundo os ditames
da sua consciência, sem estar sujeito a pressões nem a influências exteriores. Só assim
se obterá que mereça respeito e inspire confiança.
Nos recursos de decisão proferidas contra jurisprudência fixada, enquanto modelo
criado na revisão de 1998, os tribunais judicias podem decidir contra a jurisprudência
fixada, desde que fundamentem as divergências em relação a tal jurisprudência.
Houve por isso que criar um mecanismo de reação a tais situações, o que foi
concretizado através do recurso que ora nos propomos analisar. Cumpre ao Ministério
Publico, por via dele, obrigatoriamente, recorrer de todas as decisões judiciais que
julguem em contrário de jurisprudência anteriormente fixada em conflito de decisões
sobre a mesma questão de direito.
Mas a redação dada ao n.º 1 do art. 446.º, pela revisão de 2007, vem rescrever,
diversamente, que «é admissível recurso direto para o Supremo Tribunal de Justiça, de
qualquer decisão proferido contra jurisprudência por ele fixada», donde que não seja
obrigatório o esgotamento prévio dos recursos ordinários. Mas isso não significa isso,
no entanto, que não possam, e a nosso ver devam, ser interpostos previamente aqueles
recursos, designadamente pelo Ministério Público, pelas razões invocadas pelo STJ e
que acima se sintetizaram. Na verdade, quando legislador da revisão de 2007 quis que o
recurso direto para o STJ fosse obrigatório, disse-o expressamente, como é o caso do n°
2 do art° 432.º, o que não acontece com o art.° 446.°
Recurso de Revisão
A Constituição prescreve no n.° 5do seu art.° 29.° que ninguém pode ser julgado mais
do que uma vez pela prática do mesmo crime. Mas logo no número seguinte do mesmo
artigo contempla uma exceção, reconhecendo aos cidadãos injustamente condenados o
direito, nas condições que a lei prescrever, à revisão da sentença e à indemnização pelos
danos sofridos.
O recurso de revisão também vai buscar a sua justificação às garantias de defesa, que se
referiram atrás, e nas quais se inclui o direito de reapreciação dos atos jurisdicionais por
parte de outros órgãos a que se reporta o n.°6 do art.° 29.° da Constituição, como já
vimos.
Temos assim que a revisão versa apenas sobre a questão de facto, afirmação que, no
entanto, merecera ja alguma reserva face a inclusão nо n. 1 do art.° 49.° dos
fundamentos de revisão previstos nas alíneas. f) e g).
Assim, são suscetíveis de revisão todas e quaisquer decisões judicias, sejam elas
sentenças finais, sejam despachos processuais, art. 449.º, n.º 2 do CPP. Temos assim que
a revisão versa apenas sobre questões de facto, afirmação que, no entanto, merece
algumas reservas face à inclusão no n.º 1 do art. 449.º dos fundamentos de revisão
previstos nas alíneas f) e g).