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FORMAÇÃO, SUSPENSÃO E EXTINÇÃO DO PROCESSO


Nono Código de Processo Civil Brasileiro

I. PROCESSO DE CONHECIMENTO
• “Se a lide é de pretensão contestada e há necessidade de definir a vontade concreta da lei para
solucioná-la, o processo aplicável é o de conhecimento ou cognição, que deve culminar por uma
sentença de mérito que contenha a resposta definitiva ao pedido formulado pelo autor. No
acertamento contido na sentença consiste o provimento do processo de conhecimento”
• Acertar o direito controvertido entre as partes
o Definir quem tem direito e os limites desse direito
• Marcado por 4 fases distintas muito bem definidas

II. FASES DO PROCEDIMENTO COMUM

1. Fase Postulatória
• “Compreende a petição inicial, formulada pelo autor, a citação do réu, a realização de audiência
de conciliação e mediação, a eventual resposta do requerido, pois pode encerrar-se sem esta
última, caso o demandado não faça uso de sua faculdade processual de defender-se em tempo
hábil, e a impugnação à contestação, quando esta levante preliminares ou contenha defesa
indireta de mérito. A resposta do réu pode consistir em contestação, impugnação ou
reconvenção”
• Da petição inicial até a impugnação
• Partes postulam, apresentando suas razões e fundamentações
• Fase mais longa do processo

1.1. Petição inicial


• Marca o início do processo; ato mais importante do processo
• Art. 312, NCPC:
o Considera-se proposta a ação quando a petição inicial for protocolada, todavia, a
propositura da ação só produz quanto ao réu os efeitos mencionados no art. 240 depois
que for validamente citado.
• Requisitos, art. 319:
o A petição inicial precisa ser lógica, clara, objetiva e atrativa para aquele que for ler
• A petição inicial é encaminhada para o juiz para o despacho inicial:
o Emenda à petição:
▪ Em caso de vício dilatório
o Indeferimento da petição (sentença de extinção do processo sem julgamento de mérito):
▪ Em caso de vício peremptório
o Improcedência liminar do pedido:
▪ Nos casos do artigo 332 do NCPC, o juiz pode examinar o mérito e julgar o pedido
do autor improcedente sem que haja a citação do réu
▪ Pretensão improcedente em sua origem
• Tutela provisória
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▪ Ex: pedido de liminar

1.2. Citação
• Procedimento regular, usual

1.3. Audiência de conciliação ou de mediação


• Art. 334. Se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e não for o caso de
improcedência liminar do pedido, o juiz designará audiência de conciliação ou de mediação com
antecedência mínima de 30 (trinta) dias, devendo ser citado o réu com pelo menos 20 (vinte)
dias de antecedência.
o Se houver acordo:
▪ Extinção do processo (sentença com julgamento de mérito)
o Se não houver acordo: prazo para apresentar a defesa
▪ Contestação (apenas resiste)
▪ Reconvenção (contra ataca)
• “O réu não apenas rechaça o pedido do autor como formula contra ele um
pedido diferente, de sentido contrário àquele que provocou a abertura do
processo”

1.4. Defesa
• Garantia do contraditório no processo

1.5. Impugnação
• Ato que marca o fim da fase postulatória

2. Fase de Organização e Saneamento


“Desde o recebimento da petição inicial até o início da fase de instrução, o juiz exerce uma atividade
destinada a verificar a regularidade do processo, mediante decretação das nulidades insanáveis e
promoção do suprimento daqueles que forem sanáveis”
• Juiz vai verificar aquilo que foi pedido pelas partes e define se são necessárias provas ou se é
possível fazer um julgamento antecipado do mérito
• Saneamento
o Resolução das questões processuais pendentes
o Verificação dos fatos controvertidos

3. Fase Instrutória ou Probatória


“Destina-se à coleta do material probatório, que servirá de suporte à decisão do mérito.
Reconstituem-se por meio dela, no bojo dos autos, os fatos relacionados à lide”
• Se na fase 2 o juiz definir que será necessário a produção de provas se inicia essa fase
• O tipo de prova dependerá do tipo de fato controvertido
• Art. 372: Regra de distribuição do ônus da prova
“Nos casos de revelia, bem como nos de suficiência da prova documental e de questões
meramente de direito, a fase instrutória propriamente dita é eliminada, e o julgamento
antecipado do mérito ocorre logo após a fase postulatória, no momento que normalmente seria
reservado ao saneamento do processo”
• Audiência de instrução e julgamento
“Comumente, no entanto, ao encerrar o saneamento, o juiz decidirá sobre as provas a produzir,
determinando o exame pericial, quando necessário. e designará a audiência de instrução e
julgamento, deferindo as provas que nela hão de produzir-se (art. 357).”

4. Fase Decisória
“É a que se destina à prolação da sentença de mérito. Realiza-se após o encerramento da instrução
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que, de ordinário, ocorre dentro da própria audiência, quando o juiz encerra a coleta das provas
orais e permite às partes produzir suas alegações finais”

4.1. Sentença
• Recurso
• Coisa julgada

III. FORMAÇÃO DO PROCESSO & FORMAÇÃO DA RELAÇÃO PROCESSUAL


• Início do processo: Protocolo da Inicial
“Art. 312. Considera-se proposta a ação quando a petição inicial for protocolada, todavia,
a propositura da ação só produz quanto ao réu os efeitos mencionados no art. 240 depois
que for validamente citado.”
• O réu só é parte da relação processual depois de regularmente citado
• O início do processo depende da prática do ato por apenas uma das partes, mas para que
haja a formação de uma relação processual, é necessária a citação regular do réu
o Formação do processo: protocolo da inicial
o Formação da relação processual: citação do réu
“A relação angular que se contém no processo, e que vincula o autor, o juiz e o réu,
não se estabelece num só ato. Inicialmente, ao receber a petição do autor, o Estado
vincula-se em relação apenas linear, por força do direito de ação. Forma-se um dos
lados da relação processual, o lado ativo: a ligação autor-juiz e juiz-autor. Numa
segunda fase, com a citação do réu, a relação processual se completa com o seu
lado passivo, i.e., com a vinculação do réu-juiz e juiz-réu”.
o Não basta ocorrer a citação, é preciso que ela seja válida (garantia da ampla defesa e
do contraditório)
o Citação inválida com prejuízo do réu:
▪ Nulidade de toda relação processual
• Consequências de uma citação válida: art. 240, CPC
“A citação válida, ainda quando ordenada por juízo incompetente, induz litispendência,
torna litigiosa a coisa e constitui em mora o devedor, ressalvado o disposto nos arts. 397 e
398 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil).
§ 1º A interrupção da prescrição, operada pelo despacho que ordena a citação, ainda que
proferido por juízo incompetente, retroagirá à data de propositura da ação.
§ 2º Incumbe ao autor adotar, no prazo de 10 (dez) dias, as providências necessárias para
viabilizar a citação, sob pena de não se aplicar o disposto no § 1º.
§ 3º A parte não será prejudicada pela demora imputável exclusivamente ao serviço
judiciário.
§ 4º O efeito retroativo a que se refere o § 1º aplica-se à decadência e aos demais prazos
extintivos previstos em lei.”
• É possível existir a formação e a extinção do processo sem que haja a citação do réu (cf. art.
485, I, CPC)
• A formação e a extinção são necessárias em um processo, ou seja, sempre irão acontecer

IV. SUSPENSÃO DO PROCESSO


“Ocorre a suspensão do processo quando um acontecimento voluntário, ou não, provoca,
temporariamente, a paralisação da marcha dos atos processuais. Ao contrário dos fatos extintivos,
no caso de simples suspensão, tão logo cesse o efeito do evento extraordinário que a causou, a
movimentação do processo se restabelece normalmente”
• Diferentemente da formação e extinção, a suspensão pode não ocorrer dentro de um processo
• É possível haver mais de uma hipótese de suspensão em um mesmo processo, também é
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possível que o processo seja suspenso mais de uma vez pela mesma causa
• Art. 314. Durante a suspensão é vedado praticar qualquer ato processual, podendo o juiz,
todavia, determinar a realização de atos urgentes a fim de evitar dano irreparável, salvo no caso
de arguição de impedimento e de suspeição.
• Casos de suspensão do processo (Art. 313, CPC)
o Morte ou perda de capacidade
▪ Partes
• “Com a morte da parte desaparece um dos sujeitos da relação
processual, que como é óbvio, não pode prosseguir enquanto não houver
sua substituição pelo respectivo espólio ou sucessores”
• “A capacidade civil de exercício é pressuposto de validade da relação
processual, daí a necessidade de suspender o processo quando uma das
partes se torna interdito, para que o curador se habilite a representá-la
nos autos”
▪ Representante legal (tutor, curador, administrador…)
▪ Procurador
• Só causará suspensão se for o único procurador da parte
o Convenção das partes
▪ Negócio jurídico processual de natureza típica
▪ Partes querem suspender o processo
▪ Prazo máximo: 6 meses
▪ § 4o O prazo de suspensão do processo nunca poderá exceder 1 (um) ano nas
hipóteses do inciso V e 6 (seis) meses naquela prevista no inciso II.
o Arguição de impedimento ou suspeição do juiz
▪ “Arguido o impedimento ou a suspeição do juiz, o principal sujeito da relação
processual- o órgão judicante- fica inabilitado a continuar no exercício de sua
função jurisdicional no processo, pelo menos enquanto não for solucionado o
incidente”
▪ “Na dúvida sobre a legitimidade da atuação do juiz, prescreve o Código a
abstenção da prática de atos processuais, inclusive daqueles urgentes com a
finalidade de evitar dano irreparável, até que a situação se defina pelos meios
adequados”
▪ Art. 314. Durante a suspensão é vedado praticar qualquer ato processual,
podendo o juiz, todavia, determinar a realização de atos urgentes a fim de evitar
dano irreparável, salvo no caso de arguição de impedimento e de suspeição.
o Admissão de IRDR (Incidente de resolução de demandas repetitivas)
▪ “Os processos pendentes, individuais ou coletivos, que tramitam no estado ou na
região, identificados como relativos à mesma questão de direito são paralisados
até que o tribunal de segundo grau julgue a tese comum, com eficácia para todo
o conjunto de demandas iguais”
▪ Gerir massa de processos que versam sobre o mesmo tema
o Prejudicialidade da sentença
▪ “Sempre que a sentença de mérito estiver na dependência de solução de uma
questão prejudicial que é objeto de outro processo, ou de ato processual a ser
praticado fora dos autos, como as diligências deprecadas a juízes de outras
comarcas ou seções judiciárias”
▪ Prejudicial: “questões de mérito que antecedem, logicamente, à solução do litígio
e mela forçosamente haverão de influir”
▪ Prejudicial externa: objeto de outro processo pendente
• Processo depende do julgamento de outra causa
• Demandas relacionadas: conexão e continência (nem toda demanda
relacionada tem conexão e continência, mas todas as causas com
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conexão e continência são demandas relacionadas)


• A decisão de um processo impacta na decisão do outro
▪ Prejudicial interna: verificação de fato ou prova
• Em relação a fatos do próprio processo
o Motivo de força maior
▪ “Razão física que torna impossível o funcionamento do órgão jurisdicional e ,
consequentemente, o andamento do feito, como um incêndio, ou um guerra, que
destruísse o edifício do fórum, ou o tornasse inacessível, ou ainda, causasse a
morte dos agentes do juízo”
o Questões decorrentes de acidentes ou fatos apurados pelo Tribunal Marítimo
▪ “Por Tribunal Marítimo entende-se órgão administrativo que cuida de certos
problemas ocorridos durante a navegação, O processo judicial pode referir-se a
pretensões apoiadas em fatos que se encontrem sob a averiguação e regulação
de órgão dessa natureza”
▪ Processo depende de parecer do Tribunal Marítimo para prosseguir
o Paternidade/Maternidade
▪ Só ocorre quando o advogado for o único do processo
▪ 30 dias de suspensão dos prazos para mulher e 8 dias para os homens
▪ É preciso comprovar no processo mediante certidão de nascimento

V. EXTINÇÃO DO PROCESSO
• “O processo sempre se extinguirá por sentença, visto que se trata de uma relação jurídica
complexa e dinâmica sob direção do juiz. Só ele admite a formação de tal relação e apenas ele
pode pôr-lhe fim. Uma vez que, para encerrar o processo, o juiz tanto pode fazê-lo por motivos
de defeitos instrumentais como por razões suficientes para decretar a solução definitiva do
litígio, as sentenças costumam ser classificadas em terminativas e definitivas. Por meio das
primeiras, o processo se encerra sem resolução de mérito. E das segundas, com resolução de
mérito”
• “Feitas essas considerações, podemos afirmar que a sentença será capaz de extinguir o
processo, cognitivo ou executivo, se não sofrer ataque de nenhum recurso ou exercício do duplo
grau de jurisdição, pois nesse caso, o binômio processual (procedimento + contraditório) termina
em primeira instância” (Ribeiro, 2023, p. 431)
• Extinção do processo: prolação de sentença (ato privativo do juiz) (i.e., com resolução do mérito)
Art. 316. A extinção do processo dar-se-á por sentença.
Art. 317. Antes de proferir decisão sem resolução de mérito, o juiz deverá conceder à parte
oportunidade para, se possível, corrigir o vício.
o Princípio da primazia do mérito
• Extinção com resolução de mérito:
Art. 487. Haverá resolução de mérito quando o juiz:
I – acolher ou rejeitar o pedido formulado na ação ou na reconvenção; (Hipótese clássica de
extinção do processo) (Quando o juiz acolher ou rejeitar, ainda que em parte, o pedido, estará
proferindo decisão de mérito, que é a finalidade natural do processo, Nery Jr e Nery, 2018, p.
1050)
II – decidir, de ofício ou a requerimento, sobre a ocorrência de decadência ou prescrição;
(prejudiciais do mérito)
III – homologar: (sentenças homologatórias: juiz ratifica decisão que tenha sido tomada pelas
partes, ou seja, o juiz não decide, a solução do conflito vem das partes)
a) o reconhecimento da procedência do pedido formulado na ação ou na reconvenção;
b) a transação; (acordo homologado pelo juiz: título executivo judicial; traz mais segurança
para o acordo)
c) a renúncia à pretensão formulada na ação ou na reconvenção. (renúncia do direito)
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• Extinção sem resolução de mérito


Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando:
I – indeferir a petição inicial;
II – o processo ficar parado durante mais de 1 (um) ano por negligência das partes; (somente
após a intimação da parte pessoalmente: proteção das partes de seus procuradores;
negligência de ambas as partes)
III – por não promover os atos e as diligências que lhe incumbir, o autor abandonar a causa
por mais de 30 (trinta) dias;
IV – verificar a ausência de pressupostos de constituição e de desenvolvimento válido e
regular do processo;
V – reconhecer a existência de perempção, de litispendência ou de coisa julgada;
(pressupostos negativos)
VI – verificar ausência de legitimidade ou de interesse processual; (condições da ação)
VII – acolher a alegação de existência de convenção de arbitragem ou quando o juízo arbitral
reconhecer sua competência; (Art. 337, § 6 - Réu tem que suscitar a convenção de arbitragem)
VIII – homologar a desistência da ação; (não impede posterior propositura de nova ação; ≠
renúncia)
IX – em caso de morte da parte, a ação for considerada intransmissível por disposição legal;
e (direitos personalíssimos; se for direito transmissível: substituição processual pelo espólio
ou sucessores)
X – nos demais casos prescritos neste Código.
• Art. 318. Aplica-se a todas as causas o procedimento comum, salvo disposição em contrário
deste Código ou de lei.
Parágrafo único. O procedimento comum aplica-se subsidiariamente aos demais procedimentos
especiais e ao processo de execução.

• Aplicação das regras de processo de conhecimento


o A todos os procedimentos comuns
o Subsidiariamente, ou seja, se não houver disciplina específica, aos procedimentos
especiais e ao processo de execução

Tamine Aziz, 5 de fevereiro de 2018


Ref. TEODORO, Humberto, Curso de Direito Processual Civil, Volume I
Disponível em https://cadernodatata.com.br/formacao-suspensaoeextincao-do-processo/
Acesso em 18 jul 2023

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