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PROCESSO CIVIL I

PROFESSOR: ERES FIGUEIRA DA SILVA JUNIOR

TEMA: FASE DE SANEAMENTO E ORGANIZAÇÃO DO


PROCESSO

ACADEMICOS: CARLOS GONZALEZ FERNANDES, EDUARDO


VALDEZ, ELAINE OCAMPOS, ELIAS REIS FILHO

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1.INTRODUÇÃO.

O presente trabalho foi norteado pelos estudos interpretativos (doutrina) do jurista


Marcus Vinicius Rios Gonçalves, mais especificamente pelas coleções, 14ª edição
Direito Processual Civil (Coleção esquematizado/2023), e 19ª Edição Direito Processual
Civil (Processo de conhecimento e procedimentos especiais - 2023).

Segundo as doutrinas em comento, o processo comum é composto por quatro fases,


sendo elas, fase postulatória, fase ordinatória, fase instrutória e fase decisória.

2.FASE ORDINATÓRIA E/OU PROVIDÊNCIAS PRELIMINARES DO


PROCESSO.

Na concepção de Marcus Vinicius Rios Gonçalves, o saneamento do processo,


tema proposto para apresentação do presente seminário, é parte integrante da fase
Ordinatória, de forma que esta atua como um verdadeiro divisor de águas dentro do
processo, pois é nela que o magistrado pode colocar fim ou determinar a continuidade
da demanda, fixando assim dependência direta entre a decisão saneadora proferida pelo
juiz, com as atividades preliminares executadas na fase ordinatória. Segundo Marcus
Vinicius Rios Gonçalves, 19ª edição. Direito Processual Civil/2023;

Terminando o prazo de contestação determina a lei que o escrivão faça a


conclusão dos autos ao juiz para que ele determine as providências
preliminares para que o processo siga adiante.

Nessa fase ele terá de verificar qual caminho a ser percorrido daí para diante
e determinar as providências necessárias para que isso ocorra sem problemas.

É a fase que o juiz deve pôr ordem o processo, decidindo qual o rumo a ser
seguido. Por isso, ela é denominada por muitos como fase ordinatória.

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Em destaque, trecho do sumário acerca da fase ordinatória. Fonte: 14ª edição Direito Processual Civil
(Coleção esquematizado/2023)

Na fase ordinatória, utiliza-se técnicas de análise e organização que visam


agilizar o procedimento, evitando, na medida do possível, a aplicação integral do
processo comum, sendo que este é complexo, demorado e consideravelmente oneroso.

Como a própria denominação sugere, a fase ordinatória é o momento de colocar


ordem no processo, desenvolvendo-se atividades típicas de saneamento.

Terminando o prazo para a contestação (15 dias, artigo 335 CPC), os autos
devem ser conclusos ao juiz para que ele efetue a análise acerca de quais providências
serão necessárias para o devido andamento do processo (providências preliminares), ou
seja, é nessa fase que o juiz deve pôr ordem no processo.

Essa organização e providências preliminares possui o escopo de elencar


possibilidades acerca dos rumos que o processo tomará, assim, lastreando/embasando a
decisão do magistrado quanto a possibilidade do julgamento conforme o estado do
processo, que abrange, nessa fase, a extinção do processo com ou sem a resolução do
mérito, o julgamento antecipado do mérito, e o julgamento antecipado parcial do mérito,
ou ainda, não sendo possíveis tais medidas, trilhara o caminho da continuidade
processual rumo a fase instrutória, através da decisão interlocutória de saneamento.

Visando a melhor compreensão do exposto, segue mapa contendo o fluxo do


processo comum;

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2.1. JULGAMENTO CONFORME O ESTADO DO PROCESSO.

Sobre as possibilidades de julgamento conforme o estado do processo na


fase de saneamento e organização do processo, temos;

1- A extinção do processo.

1.1. Extinção do processo, está disposto no artigo 354, seção I, capítulo X


(do julgamento conforme o estado do processo) do CPC, conforme segue;

Art. 354. Ocorrendo qualquer das hipóteses previstas nos artigos 485 e 487,
incisos II e III, o juiz proferirá sentença.

a) Artigo 485, sobre a extinção do processo sem a resolução do mérito,


incisos II e III;

O inciso II, trata da possibilidade de inércia “das partes” por mais de um


ano. Verifica-se que neste caso, o artigo se refere tanto a inercia da parte ativa quanto da
parte passiva.

O inciso III, em termos práticos, trata do abandono da causa por parte do


autor, ou seja, o polo ativo tem a responsabilidade de movimentar o processo e não o
faz.

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b) Artigo 487, sobre a extinção do processo com a resolução do mérito,
incisos II e III;

Inciso II, do artigo 487;

a) na hipótese de o juiz decidir de ofício (sem a iniciativa de terceiros), ou a


requerimento (com iniciativa de terceiros) sobre a ocorrência de decadência (perda do
Direito) ou prescrição (extinção da pretensão).

Inciso III, homologar;

b) Ocorrendo o reconhecimento, por parte do requerido, de pedido


formulado na ação ou reconvenção, ou seja, havendo ação do requerente (ativo) contra o
requerido (passivo), este último reconhece a procedência do pedido.

Com relação ao tema, cumpre esclarecer que a reconvenção, em termos


práticos, é o contra-ataque do requerido em face do requerente. O professor Dhenis
Madeira em vídeo publicado sobre o tema no Youtube, traz exemplo ilustrativo acerca
da reconvenção.
“ Imagine que a pessoa está sofrendo um ataque, aí você só tem um
escudo, esse escudo seria a contestação, você só quer evitar o ataque,
evitar que o adversário atinja o objetivo dele. Agora se a pessoa tem
um escudo e uma espada, você vai se defender e pode atacar, aí entra

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a reconvenção, é um contra-ataque.” (Fonte:
instagram.com/profdhenismadeira. Acessado em 26/08/2023, às
10:29).

c) Transação, é quando as partes convencionam acerca de determinada


questão, ou seja, entram em acordo.

Sobre essa matéria, é importante frisar que a transação pode ocorrer a


qualquer tempo, qualquer fase do processo, incidindo assim na decisão com resolução
do mérito.

d) Renúncia formulada na ação ou reconvenção.

É o ato unilateral de vontade da parte autora ou requerida, relacionado a um


direito material que alega ter.

2 – JULGAMENTO ANTECIPADO DO MÉRITO E JULGAMENTO


ANTECIPADO PARCIAL DO MÉRITO.

2.1. O julgamento antecipado do mérito, está disposto no artigo 355, seção II, capítulo
X (do julgamento conforme o estado do processo) do CPC, conforme segue;

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Inciso I;

a) Ao analisar, organizar/sanear o processo, o juiz se depara com provas


suficientes para proferir decisão de mérito.

Inciso II;

b) Quando o réu for revel (deixa de se defender), ocorrer o efeito previsto no


artigo 344, e não houver requerimento de prova, na forma do artigo 349.

Na prática, o inciso II traz como condição a incidência dos efeitos do


artigo 344 (efeitos da revelia), ou seja, é preciso que não ocorra as situações descritas no
artigo 345. Ao mesmo tempo, é necessário que não haja requerimento de prova na forma
do artigo 349, ou seja, desde que o autor não se faça representar no autos a tempo de
praticar os atos processuais indispensáveis a essa produção.

2.2. O julgamento antecipado parcial do mérito, está disposto no artigo 356,


seção III, capítulo X (do julgamento conforme o estado do processo) do CPC, conforme
segue;

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Inciso I;

Quando um parcela dos pedidos, mostrar-se incontroverso, ou seja, não


deixar margem de dúvida, ser indiscutível.

Inciso II;

Quando recair sobre parcela dos pedidos, a inexistência de necessidade de


produção de prova, ou seja, o que foi juntado aos autos é suficiente para a decisão; ou
quando à revelia produzir seus efeitos, não ocorrendo a hipótese de aplicação do artigo
349.

2.2. FASE DE SANEAMENTO E ORGANIZAÇÃO DO PROCESSO.

Superada a fase de julgamento conforme o estado do processo, e não sendo


caso de extinção ou julgamento antecipado, total ou parcial do mérito, incumbe ao juiz
resolver, caso exista, questões processuais pendentes, delimitar questões de fato e de
direito, e ainda definir sobre a distribuição do ônus da prova.

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Sobre as questões tratadas nesta fase, temos;

1) Questões processuais pendentes


Exemplos: custas

2) Delimitar questões de fato (pontos controvertidos).

Exemplo: Em uma ação de reparação de danos por acidente de trânsito, pode ser sanado
questões acerca do valor da indenização, sobre quem causou o acidente ( o autor da
inicial relata que o réu bateu no carro dele, o réu na sua contestação relata que quem
bateu foi o

autor), nesse caso o juiz precisa especificar/delimitar os meios de prova que serão
admitidos, perícia, prova testemunhal, entre outros.

3) Delimitar questões de direito.

a) Quando houver controvérsia acerca do direito, o autor alega um


determinado direito, o réu alega outro. Exemplo;

O termo inicial da incidência de juros, o entendimento do autor é que a


incidência de juros sobre determinado valor teve início a contar de determinado
momento, o réu por sua vez contesta dizendo que os juros começaram a fluir a partir de
outro momento.

b) Decidir sobre a distribuição do ônus da prova. Exemplo;

No caso da decisão sobre o ônus da prova, os incisos I e II do artigo 373 do


CPC, traz na primeira hipótese, que o ônus da prova compete ao autor, quanto ao fato
constitutivo de seu direito; já no inciso II, compete ao réu o ônus da prova quanto a
existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor, ou seja, em
regra quem alega tem que provar. No entanto, o parágrafo primeiro do artigo 373,
permite que o ônus da prova seja atribuído de forma diversa (seja invertido), ocorrência
comum nas ações consumeristas.

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Nessa fase, em regra, não será designada audiência para conciliação e
saneamento do processo, todavia, caso exista considerável complexidade que envolva
matérias de fato ou de direito, e prezando pelo princípio da cooperação entre partes, o
juiz poderá designar audiência para saneamento do processo, para que as partes possam
esclarecer as suas alegações.

Sobre o princípio da cooperação, o artigo 6º do CPC (Das normas


fundamentais do Processo Civil – Parte Geral), traz o que segue;

Em nova demonstração da utilização do princípio da cooperação, e do poder


de influência das partes no procedimento, o artigo 357, no seu parágrafo segundo,
dispõe o seguinte;

Como demonstrado, o artigo 357 possibilita que as partes, em consenso,


apresentem delimitação acerca das questões de fatos sobre as quais recaíra a atividade
probatória, e delimitação sobre quais questões de direito serão relevantes para a decisão
do mérito.

Resolvidas as questões pendentes, delimitadas as questões de fato e de


direito, o magistrado proferira, através de decisão interlocutória, decisão saneadora,

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deliberando sobre quais tipos de provas serão necessárias/produzidas na fase de
instrução do processo. Seguem exemplos:

Autorizado a produção de prova testemunhal, o juiz designara a data da


audiência, concedendo prazo (não superior a 15 dias) para as partes arrolarem as
testemunhas, podendo limitar o número de testemunhas, entre outros.

No caso de determinação de perícia, será fixado de imediato o prazo para a


entrega do laudo. (Art. 465 do CPC).

Após proferida a decisão saneadora, em princípio, não cabe agravo de


instrumento contra ela, exceto se a decisão versar sobre questões constantes no artigo
1015 do CPC; todavia, as partes podem pedir esclarecimentos ou solicitar ajustes, no
prazo comum de cinco dias, findo o qual a decisão se torna estável e o juiz não mais
poderá alterá-la.

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2.2. EXEMPLOS DE PROCESSOS CONTEMPLANDO O JULGAMENTO
CONFORME O ESTADO DO PROCESSO E DECISÃO SANEADORA.

Por derradeiro, seguem exemplos de processos comuns nos quais ocorreram


o julgamento conforme o estado do processo, e a aplicação da fase de saneamento, com
consequente decisão saneadora.

1) Segue, exemplo de fluxo e de julgamento conforme o estado do processo;

I - Petição inicial;

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II - Emenda a inicial

III - Indeferimento da petição inicial (Extinção do processo sem resolução do


mérito)

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IV - Houve recurso de apelação, o Tribunal de Justiça acatou o pedido da parte
demandante, retomando-se o fluxo do processo.

V - Na sequência, ocorreu a contestação aos fatos inicialmente alegados, e


impugnação a contestação. Terminado a fase de contestação, o magistrado proferiu
despacho de saneamento, solicitando que as partes especificassem as provas que
pretendiam produzir.

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VI - As partes não se manifestaram acerca da produção de provas, ocorrendo,
devido ao entendimento do magistrado quanto a suficiência de provas, o julgamento

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antecipado com resolução do mérito.

2) Segue, exemplo de fluxo e de decisão interlocutória de saneamento;

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Em destaque, imagem parcial da decisão de saneamento. Ação de Improbidade Administrativa.

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3. EXERCICIOS ACERCA DO TEMA.

1) Sobre o saneamento do processo, de acordo com o Código de Processo Civil, assinale


a afirmativa INCORRETA.

(A)É realizado mediante despacho ordinatório


(B) É o momento processual para designar audiência de instrução e julgamento, se
necessário.
(C)É a decisão que desafia agravo de instrumento.
(D)É o momento processual para fixação dos pontos controvertidos da lide.

2) De acordo com as regras que regem a função jurisdicional, o procedimento comum e


a intervenção de terceiros no direito processual civil, julgue o item que segue.
A intervenção anômala de ente público é admitida somente até a fase de saneamento
do processo.

( ) Certo
( x ) Errado

3) Numa ação cível que tramita sob o procedimento comum envolvendo partes privadas
após proferida decisão de saneamento do feito, as partes podem pedir esclarecimentos
ou solicitar ajustes, no prazo comum de _______dias, findo o qual a decisão se torna
estável.
Assinale a alternativa que preenche corretamente a lacuna do trecho acima.

( A) 5
( B) 10
( C) 15
( D) 20
( E) 30

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BIBLIOGRAFIA

GONÇALVES, Marcus Vinicius. Direito Processual Civil, coleção esquematizado: 14ª


edição, 2023.

GONÇALVES, Marcus Vinicius. Direito Processual Civil, processo de conhecimento e


procedimentos especiais: 19ª edição, 2023.

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