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Audiência de Instrução e Julgamento

Audiência, em termos genéricos, é toda sessão processual (ato complexo) do


qual participam as partes em razão da convocação feita pelo juiz, para que compareçam
à sede do juízo, com a finalidade de nela, serem praticados atos processuais.

O código prevê várias espécies de audiência, com distintas finalidades. Como


regra, no procedimento comum, pode haver audiência de mediação, audiência de
saneamento, audiência de inspeção judicial, audiência para interrogatório livre da parte.

Embora essas audiências tenham pontos de semelhança, elas não se


confundem com a audiência de instrução e julgamento, que é o ponto culminante da
atividade probatória desenvolvida no processo. Trata-se de ato processual solene,
durante o qual as provas, em regra, são produzidas, a causa é debatida e sobrevém a
sentença.

A audiência de instrução e julgamento atende a diversos princípios


fundamentais do processo – notadamente o contraditório, a cooperação e a oralidade. A
oralidade tem especial incidência nesse ato não apenas porque se adota a forma verbal.
Mas também porque é um dos poucos momentos em que o juiz tem contato direto com
as partes.

Sua realização não é obrigatória, todavia. Quando ocorrentes as


circunstâncias autorizadoras do julgamento antecipado, está ela dispensada. Além disso,
há casos em que não cabe julgamento antecipado, mas toda a instrução probatória que
ainda se faz necessária é pericial ou será produzida por carta precatória, de modo que se
dispensa a audiência.

A audiência de instrução e julgamento apresenta as seguintes características:


(i) publicidade: como ato jurídico que é, a audiência se submete ao princípio da
publicidade; (ii) direção pelo juiz; (iii) unicidade, complexidade e continuidade: a
audiência é um ato processual complexo no procedimento processual. Ou seja, dentro
do processo ela é tida como um único ato, porém, integrada por inúmeros outros atos.

Designada a audiência, o passo seguinte consiste na intimação das partes e


seus advogados para a data designada. Desta forma, dá-se início a fase de abertura da
audiência, em que o juiz dá início à sessão.
Após, tem-se início a tentativa de conciliação, em que o juiz deve tentar
conciliar as partes independentemente do emprego anterior de outros métodos de
solução consensual de conflitos. Não atingido este feito, passa-se para a outra fase.

Tem-se início, portanto, a fase de instrução da audiência, onde irão ser


produzidas as provas, que versarão sobre as questões que tenham sido delimitadas pelo
juiz, em decisão de saneamento e de organização do processo, ou pelas próprias partes.

Em princípio, as provas orais são produzidas na seguinte ordem:


esclarecimentos dos peritos, depoimentos pessoais, primeiro do autor e depois do réu,
seguindo-se os depoimentos dos terceiros intervenientes, se houver; e, por fim, os
depoimentos testemunhais, na mesma ordem dos pessoais (primeiros as do autor, depois
as do réu).

As perguntas serão formuladas pelos advogados das partes às testemunhas


– sob o controle do juiz, que deverá indeferir as impertinentes.

Segue-se, então, uma fase de extrema relevância, que se consubstancia no


debate da causa. Segundo o que dispõe o art. 364, ao cabo da instrução o juiz concede a
palavra, nessa ordem, ao advogado do autor, ao do réu e, se for o caso, ao membro do
MP, para que exponham suas razões finais. Nesse caso, não há propriamente um debate,
mas sim, a sustentação oral, em que cada parte formula exposição verbal por até vinte
minutos.

A última etapa da audiência de instrução e julgamento é a fase decisória, em


que o juiz profere a sentença. É o momento em que, após conhecer os fatos pela prova
e as razões das partes, e estando confiante, dará o juiz a solução que o sistema jurídico
prevê para o caso.

Sentença

Nos termos do art. 203, parágrafo primeiro 1º, “sentença é o pronunciamento


por meio do qual o juiz, com fundamento nos arts. 485 e 487, põe fim à fase cognitiva do
procedimento comum, bem como extingue a execução”.

O código também dispõe que poderá haver decisões com tal conteúdo, mas
que não põem fim ao processo nem à sua fase de conhecimento. São as decisões
interlocutórias que reconhecem a parcial impossibilidade de julgamento do mérito ou
julgam antecipadamente apenas uma parte do mérito.

Conforme veremos adiante, não há uma relação absoluta e necessária entre


sentença e resolução do mérito da causa. Por um lado, nem toda sentença resolve o
mérito da causa. Como já visto e melhor exposto a seguir, na fase de conhecimento do
processo, há as que resolvem o mérito (art. 487) e as que afirmam a impossibilidade de
sua resolução (art. 485). Essas últimas são designadas sentenças meramente terminativas
(ou sentenças processuais), Aquelas primeiras são chamadas de sentenças definitivas (ou
sentenças de mérito).

Portanto, quando o juiz consigna a impossibilidade de julgar o mérito (seja


por conta de algum defeito positivo ou negativo, vícios etc.), ele dará uma sentença
terminativa.

Em todos os casos de uma sentença terminativa, a parte poderá ajuizar


novamente, uma ação parecida, com causa de pedir parecida, desde que corrigidos os
defeitos e/ou vícios processuais.

Já no caso de uma sentença de mérito ou definitiva, aquelas cujo conteúdo


enquadra-se nas hipóteses previstas no art. 487, tais sentenças apenas podem ser
proferidas se presentes as condições da ação e os pressupostos processuais.

Tais sentenças veiculam a resolução do conflito; definem as normas que


incidiram no caso; dizem quem tem razão, reconhecendo-lhe o bem jurídico a que faz
jus; e, se for o caso, ditam as providências destinadas a concretamente transformar a
realidade para adequá-la a tal reconhecimento.

A sentença de mérito é a quela em que o juiz acolhe ou rejeita o pedido


formulado pelo autor da ação ou da reconvenção, ditando imperativamente a solução do
conflito. É por meio dela que o Estado concretiza e realiza seu dever de decidir.

Normalmente, a sentença de mérito advirá depois da instrução jurídica e


probatória realizada na audiência, porém, nada impede o juiz de, caso não haja a
necessidade de produção de provas para se resolver o conflito ou em hipóteses
especificas, vide art. 332, o juiz poderá proferir sentença independentemente da citação
ou não do réu (teoria da causa madura).
Decisão interlocutória com conteúdo dos arts. 485 ou 487

Como já destacado, o Código admite decisões com o conteúdo dos arts. 485
ou 487, mas que não põem fim ao processo nem à sua fase de conhecimento. São as
decisões interlocutórias que reconhecem a parcial impossibilidade de julgamento do
mérito ou julgam antecipadamente apenas uma parte do mérito.

Elementos da Sentença

São Elementos da sentença: o relatório, a fundamentação (motivação) e o


decisório (dispositivos, comando), nos termos do art. 489, I a III, Estes são elementos
imprescindíveis para a existência ou validade do pronunciamento do juiz – e nesse
sentido também chamados de “requisitos”.

Relatório

No relatório, o juiz faz como que um resumo do processo, uma sinopse,


expondo tudo o que foi relevante no desenvolvimento da relação processual, como fatos,
razoes de direito alegadas pelas partes, o pedido, a defesa. Expões, pois, a matéria-prima
que será o ponto de partida para sua decisão

Motivação

Na motivação, cabe ao magistrado expor as razões de seu convencimento, de


forma cara, completa e razoável, de modo que todos aqueles que a leiam possam
compreender o caminho argumentativo que o levou à conclusão que chegou. Trata-se de
norma em que se manifesta e se concretiza de forma inequívoca o princípio do livre
convencimento motivado.

Caso essa motivação não esteja clara, precisa e sem erros, caberá a ela um
recurso que veremos adiante chamado de Embargos de Declaração.

Dispositivo

O dispositivo é o cerno da sentença. É o aspecto que confere identidade ao


pronunciamento, que permite configurá-lo como sentença. Consiste no comando
jurisdicional, a razão de ser da sentença.
O princípio da congruência se aplica ao pedido imediato e mediato. O autor
não pode receber do judiciário uma tutela jurisdicional de natureza diversa da pedida,
nem um bem da vida diferente do pleiteado.

Uma sentença que viola o princípio da congruência é nula para o autor pois
viola (...), e é nula para o Réu pois viola o contraditório, ou seja, é uma decisão surpresa.

É possível aproveitar a sentença, tendo em vista o princípio da preservação


dos atos processuais, desde que se reduza o excesso.

Nesse caso, o Tribunal, em sede de apelação, pode “lipoaspirar” a sentença


ultrapetita (art. 1.013, §3, II), para que a sentença seja reformada pelo juiz de piso,
reduzindo-se o excesso.

Outro exemplo de sentença que viola o princípio da congruência é a


extrapetita, ou seja, àquela que julga “coisa totalmente estranha”. É a sentença que não
tem nenhuma relação com o pedido.

Nesse caso, não se aplica a teoria de preservação dos atos processuais, isso
porque a causa em si não foi julgado, os pedidos não foram julgados. Portanto, cabe ao
tribunal anular a sentença, e retornar ao juiz de piso, para que este decida novamente
desta vez com relação à causa de pedir.

Por fim, temos outro exemplo de sentença que viola o princípio da


congruência, é a infrapetita. Nesta, a sentença é omissa com relação aos pedidos feitos
no processo.

Nesse caso, o remédio processual que pode ser utilizado são os Embargos de
Declaração. Caso o prazo se finde sem a oposição dos Embargos, pode ser interposto
recurso de apelação, e aí o Tribunal verificará se a causa está madura para julgamento.

Exceções ao princípio da congruência: Matéria de Ordem Pública; Pedidos


implícitos (incluídos no direito de ação, ainda que não formalmente requeridos, devem
ser julgados); Litigância de Má-Fé; Nas ações de investigação de paternidade, se o juiz
entender que são necessários os alimentos, ele pode condenar mesmo que não haja
pedido.
Teoria Geral dos Recursos

Conceito de Recurso

Nos sistemas processuais dos Estados de Direito, vigora a diretriz de que as


decisões judiciais comportam algum tipo de controle ou revisão.

Vale dizer, uma decisão jurisdicional será revista por um órgão também
jurisdicional, é a chamada “reserva de sentença”.

Nesse sentido, José Moreira configura o recurso como o meio involuntário,


idôneo a ensejar, dentro do mesmo processo a reforma, a invalidação, o esclarecimento
ou a integração de decisão judicial que se impugna”.

Assim, há meios de controle das decisões que podem ser instaurados de


ofício, como a remessa necessária, e outros que são instaurados a partir de uma
provocação da parte interessada. Esses podem ser chamados de meios de impugnação
das decisões judiciais.

Os meios de impugnação subdividem-se entre aqueles que dão origem a um


processo novo e aqueles que ocorrem dentro do próprio processo em que a decisão é
proferida.

Os primeiros são as chamadas medidas (ou ações) impugnativas autônomas.


São exemplos dessas espécies a ação rescisória, a ação anulatória, a querela nullitatis, a
impugnação ao cumprimento de sentença, a reclamação, o habeas corpus e o mandado
de segurança – todos eles em casos excepcionais.

Já os meios impugnativos das decisões que se realizam dentro do próprio


processo em que a decisão foi proferida são, na terminologia adotada pelo direito
brasileiro, os recursos.

Os recursos têm por escopo a revisão da decisão recorrida – o que abrange a


sua reforma (mudança de seu conteúdo), sua cassação (invalidação, para que outra
venha a ser posteriormente proferida em seu lugar), complemento (integração) de
omissões, esclarecimento de contradições e obscuridade ou a correção de erro materiais.

A principal diferença dos recursos para a Ação Rescisória está no que diz
respeito aos meios processuais que se configuram, pois ambos são peças processuais que
tem por interesse, o reexame do mérito de uma decisão judicial. Porém, enquanto os
Recursos são meios endoprocessuais de se haver esse reexame, a Ação Rescisória se
presta ao reexame do mérito de decisão irrecorrível já transitada em julgado, portanto,
fora do processo em que foi formada tal decisão.

As espécies recursais são numerus clausus – ou seja, são taxativamente


previstas em lei. Não é possível que as partes criem outros recursos.

O elenco de recursos no processo civil está basicamente previsto no art. 994


do CPC/2015, quais sejam: o Recurso de Apelação, quando se recorre de uma sentença;
o Agravo de Instrumento, quando se recorre de uma decisão interlocutória presente no
art. 1.015; e a Apelação novamente nas decisões interlocutórias de mérito que não
estejam presentes no rol do 1.015. Além disso, há o agravo interno, os embargos de
declaração, recurso ordinário, recurso especial, recurso extraordinário e embargos de
divergência.

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