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Direito Processual Civil Declarativo


Normalmente o que se pretende no âmbito do processo é que haja uma coincidência entre a verdade
material e a verdade formal do processo. No processo judicial o que se pretende é que o processo faça a
justiça ao caso concreto, o que as partes pretendem é que haja uma correspondência entre o que vai ser
decidido e aquilo que de facto aconteceu na situação da vida real.

O que não está no processo não está no mundo, em determinados processos as partes estarem à espera de
uma determinada decisão que depois acaba por não ser concedida por parte do tribunal isto porque o
tribunal tem única e exclusivamente que decidir com base no que está no processo. Pode não haver uma
correspondência entre a verdade formal e a verdade material.

Cada vez mais se pretende que haja essa correspondência entre ambas as verdades, mas por vezes, ou por
uma questão de descuido, ou por uma questão de diligencia das partes, ou por uma questão que o tribunal
não conseguiu ter no processo aquilo que precisava de ter para poder proferir uma decisão que vá ao
encontro dessa verdade material, por vezes o que é decidido não corresponde à dita verdade material.

Muitas vezes ficamos com a ideia de que a decisão que vai ser tomada por parte do tribunal é uma
determinada decisão e depois parece que sai tudo ao contrário, isto porque o juiz só pode lançar mão dos
elementos constantes do processo e provavelmente os elementos constantes do processo não é possível
proferir decisão diversa daquela que foi proferida.

Fases pelas quais de desenrola o processo comum de declaração:

Existem várias classificações ao nível das fases:

O Dr. Paulo pimenta divide o processo comum de declaração apenas em três fases, fase inicial, fase
intermedia e fase final.

O professor Lebre de Freitas e o professor Teixeira de Sousa têm uma classificação quadripartida, para eles, o
processo comum de declaração desdobra-se em quatro fases.

O professor lebre de Freitas identifica a fase dos articulados, fase da condensação, fase da instrução, e fase da
discussão em julgamento.

O professor Teixeira de Sousa, a fase dos articulados, fase da gestão processual, fase da audiência final e fase
da sentença.

Vamos optar pela divisão em 5 fases uma vez que o CPC utiliza esta terminologia:

1. Fase dos articulados – arts. 552º ss;


2. Fase da gestão inicial do processo e audiência prévia – arts. 590º ss;
3. Fase da instrução – arts. 410º a 526º;
4. Fase da audiência final – arts. 599º ss;
5. Fase da sentença – arts. 607º ss;

Até determinada altura tivemos a fase do saneamento e condensação do processo. Contudo, esta
terminologia já foi retirada do CPC.

O processo comum de declaração tem estas cinco fases. Contudo, nem todos os processos comuns de
declaração percorrem estas cinco fases, um processo ideal, um processo normal, percorre as cinco fases mas,
existem muitos processos que só percorrem apenas uma ou duas destas fases.

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Nem todos os processos comuns de declaração findam na fase da sentença, podem findar antes,
designadamente na segunda fase, na fase da gestão inicial e da audiência prévia.

Ex.: O despacho saneador e o despacho saneador sentença podem marcar o final do processo comum de
declaração, se isto acontecer, já não vai haver necessidade de levar a cabo as outras fases.

O processo pode findar apenas com a fase dos articulados, se tivermos uma confissão, uma desistência do
pedido ou da instância, uma transação o processo pode terminar antes mesmo de se passar para a gestão
inicial do processo.

Não temos em todos os processos os atos processuais que compõem cada uma destas fases.

Estas fases não são compartimentos estanques, significa que à atos processuais que aparentemente deveriam
estar inseridos na fase à qual dizem respeito, mas não estão, estão numa outra fase.

Ex.: Questão da prova e da instrução – A esmagadora maioria da prova documental é apresentada na fase dos
articulados. Se na petição inicial vou alegar determinados factos e tenho documentos que comprovam a
verificação desses factos, não tenho outro momento para apresentar esses documentos que não seja em
conjunto com a alegação desses factos, por isso é que a petição inicial na parte final tem sempre “junte X
documentos”. Podíamos ser levados a pensar que o processo, depois da fase dos articulados, depois da fase
da gestão inicial ia ter uma fase própria para as partes trazerem as suas provas, não é assim.

Contudo existem exceções, se for preciso provar um facto superveniente, um facto que ocorreu
posteriormente à fase dos articulados, e se tenho um documento que prova a existência desse facto
superveniente, essa prova vai ser apresentada posteriormente, fora da fase dos articulados.

Ex.: Fase da decisão do processo, a sentença – Na fase da gestão inicial do processo e na audiência prévia
podemos ter a decisão final.

Relativamente à prova testemunhal, uma coisa é eu arrolar testemunhas outra coisa é haver a produção da
prova testemunhal, em ambas as situações estamos perante prova testemunhal mas, uma coisa á na petição
inicial e na contestação por imposição legal indicar quais são as testemunhas que tenho para provar todos os
factos que estão a ser alegados nesses articulados, sob pena de não apresentando testemunhas no momento
e local respetivo não mais poder apresentar testemunhas. uma petição inicial que não tenha um rol de
testemunhas faz com que o autor não ais possa arrolar testemunhas.

As testemunhas que foram indicadas ou arroladas quando é que vão prestar o seu depoimento? – As
testemunhas, normalmente, são ouvidas na fase da audiência final.

As partes, por vezes, têm a possibilidade de vir alterar o rol de testemunhas, podem fazê-lo até ao vigésimo
dia anterior à data em que se vai levar a cabo a audiência final.

Aditar ou alterar não é a mesma coisa que arrolar ou apresentar – só posso aditar ou alterar um rol de
testemunhas que já exista. Se não tenho um rol de testemunhas na petição inicial e na contestação nas partes
não podem fazer uso da faculdade de aditar ou alterar um rol, não se adita um rol inexistente.

Pode acontecer o princípio do inquisitório – o juiz pode considerar que para aquele processo em concreto vai
ser muito importante uma testemunha que não foi arrolada pelas partes. O autor que se esqueceu de
apresentar rol de testemunhas pode beneficiar desta indicação de prova testemunhal por parte do próprio
tribunal. A ação pode não estar condenada ao insucesso.

Por vezes as partes decidem invocar o art. 526º para pedir ajuda ao magistrado judicial, ou seja, o autor que
por negligencia não apresentou o rol de testemunhas, quando se apercebe que está sem prova chega à

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conclusão de que não há muita possibilidade que não seja fazer-se valer da produção de prova testemunhal
que foi requerida pela parte contrária.

Fase dos articulados

A primeira fase do processo comum de declaração é a fase introdutória.

É a fase onde as partes têm que expor as razões de facto em que assentam as suas pretensões. Quando se
fala em razões de facto fala-se na causa de pedir.

Nos elementos essenciais da petição inicial e da contestação consta a causa de pedir e os factos nas quais
assenta o direito ao contraditório, isto têm que ser as partes a fazê-lo. Com base no princípio do dispositivo e
com base nos contornos fácticos do litígio, as partes têm que trazer os factos para o processo nos articulados.

Existem dois articulados que são normais, ocorrem em todos os processos. A petição tem que existir sempre
no processo, sem petição inicial não existe verdadeiramente um processo, não há verdadeiramente uma
instância mas a contestação pode não existir, só que a parte, neste caso o réu, vai sofrer as consequências
jurídico-processuais de não apresentar a contestação.

Existem articulados excecionais, que são a réplica e os articulados supervenientes – são articulados
excecionais porque nem sempre ocorrem no âmbito do processo, só ocorrem se existir uma razão que
possibilite a sua apresentação.

Só posso ter um articulado superveniente se existir o preenchimento deste conceito de superveniência. Na


prática, estes articulados supervenientes destinam-se a trazer para o processo facto que ocorreram depois do
encerramento dos articulados ditos normais.

Os factos podem ocorrer posteriormente ou pode ainda ocorrer outra coisa relacionada com a
cognoscibilidade, ou seja, o facto já pode ter ocorrido antes mas a parte que o devia alegar não tinha
conhecimento desse facto.

Fase da gestão inicial do processo e audiência prévia

Anteriormente designada por fase do saneamento e condensação do processo.

Esta fase pode ser usada para suprir eventuais irregularidades que persistam no processo ou para convidar as
partes a aperfeiçoar os articulados ou a juntar algum documento que não foi junto pelas partes.

A audiência prévia é um primeiro momento onde se vai dar consagração ao princípio da imediação e da
oralidade. É o primeiro momento em que as partes vão estar cara-a-cara com o magistrado judicial.

Fase da instrução

O legislador apercebeu-se que a prova não é apanágio do processo comum de declaração. Nos incidentes da
intervenção de terceiros, nos procedimentos cautelares, sempre que era preciso decidir essas figuras jurídico-
processuais era preciso produzir prova.

O legislador confrontado com esta circunstância destaca a fase da instrução do processo comum de
declaração e coloca-o nas disposições de carácter geral, porque assim as partes sabem que as disposições são
aplicáveis não só ao processo comum de declaração como a todas as outras formas processuais.

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Fase da audiência final

Anteriormente designada como fase da audiência, discussão e julgamento.

A produção da prova que ainda não foi conduzida, com especial enfoque na prova por confissão, no
depoimento das partes, a produção de prova testemunhal, depois vão acontecer as chamadas alegações,
designadas na lei como debates.

O papel do advogado na audiência final é, depois de produzida toda a prova, fazer uma sumula de toda a
prova e tentar de modo oral convencer o tribunal de que o seu cliente tem razão não só a nível facto como a
nível de direito.

Depois, o juiz, individualmente vai ao seu gabinete para proferir a sentença.

Fase da sentença

É na prática a aplicação do direito aos factos que foram dados como provados, é a decisão final do processo.

A decisão quanto à matéria de facto era tomada antes da sentença. Atualmente a sentença contém em si
quer a decisão da matéria de facto quer a decisão da matéria de direito.

Abordagem à fase dos articulados – Art. 147º CPC n1 – que refere que os articulados são as peças
(processuais) em que as partes expõem dos fundamentos da ação e da defesa e formulam os pedidos
correspondentes.

Chamam-se articulados porque essas peças processuais contém esta exposição das razões e das pretensões
das partes de uma forma sus generis. As peças processuais estão organizadas por artigos sendo que
preferencialmente cada uma das alegações, cada uma da exposição das razões de facto deve de estar sob a
forma de proposições gramaticais, devidamente numeradas.

Qual é a vantagem de ter a petição inicial narrada sob a forma de artigos?

1. Vai permitir que o reu exerça de uma forma mais eficaz a sua defesa. Estando a peça processual
organizada por artigos é mais fácil que o reu diga que o que esta previsto nos artigos, 1º, 5º e 7º
corresponde à verdade, o que está previsto nos artigos 9º, 10º, 15º é falso, o que está nos artigos 20º e
23º desconhece – é multo mais fácil que o réu tome posição quanto à posição do autor se tivermos
estes artigos.
2. Também facilita o próprio magistrado judicial.

Antes do CPC de 2013 tínhamos uma peça processual de extrema importância designada como
especificação e questionário. A especificação continha a matéria que já se encontrava provada e o
questionário continha a matéria que importava provar, e, portanto, levar à audiência, discussão e
julgamento.

O magistrado judicial quando fazia esta peça ia também estar a utilizar a numeração que era utilizada por
parte do autor e consequentemente por parte do réu.

Quando é que devo utilizar esta forma – o n2 do art. 147º estabelece três situações em que é obrigatória a
narração por intermedio de artigos.

Designadamente no âmbito das ações, no âmbito dos incidentes e no âmbito dos procedimentos cautelares.

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O legislador logo depois de identificar as ações, incidentes e procedimentos cautelares, refere “havendo
mandatário constituído” – apenas existindo advogado é que é obrigatória no âmbito destas formas
processuais a narração por intermédio de artigos.

Assim, exclui aquelas situações em que a parte está a defender-se a si mesma

Nos pressupostos processuais – quando falamos do patrocínio judiciário era obrigatório a constituição de
advogado nas causas em que era admissível recurso ordinário. Se a causa tiver um valor mínimo de 5.000.01€
é obrigatória a constituição de advogado. As causas que tenham um valor até 5M€ não havendo necessidade
de constituição de advogado e as partes estando a representar-se a si mesmo, nesses casos já não existe
obrigatoriedade de narração por intermedio de artigos, porque, partindo do pressuposto que as partes não
têm conhecimentos técnico-jurídicos não sabem que têm que utilizar esta forma, neste caso o tribunal
permite que elas apresentem as peças processuais sem ser sob esta forma de artigo.

Abaixo desses 5M€ pode, ainda assim, haver a constituição obrigatória de advogado – art. 629º CPC

Que articulados são esses?

Temos que ter:

1. Petição inicial – é o ato fundador do processo – art. 259º n1 CPC – a instância inicia-se pela preposição
da ação e esta considera-se proposta, intentada ou pendente logo que a respetiva petição se considere
apresentada nos termos dos números 1 e 6 do art. 144º, a partir do momento que a petição inicial dá
entrada em juízo temos consequentemente o início da instância.

Partindo do pressuposto que a nossa petição inicial não vai ser recusada pela secretaria, ou então em
alternativa não vai ser indeferida liminarmente, vamos ter a seguir, a contestação.

2. Contestação – existem espécies ou tipos de contestação.

Interessa a contestação reconvenção porque só a partir do pressuposto que a contestação é uma contestação
reconvenção é que se poderá ter o terceiro articulado, a réplica.

Dependendo da espécie de ação também poderei ter uma réplica ainda que não tenha contestação
reconvenção.

Havendo reconvenção há réplica.

3. Réplica
4. Articulados supervenientes – só surgem depois de esgotados os prazos de utilização destes três
articulados anteriores.

Partindo do pressuposto que não é possível lançar mão destes articulados é que podemos utilizar os
articulados supervenientes. E partindo do pressuposto também que estamos perante uma situação de
superveniência.

Há aspetos comuns relativamente aos articulados:

• O facto destes articulados, dos requerimentos e qualquer outra peça que seja apresentada no
processo, têm que ser redigidos em língua portuguesa. Isto decorre de um preceito do CPC que é n1
do art. 133º;

Relativamente à língua portuguesa, isto quase que inviabiliza que um cidadão que esteja a residir em Portugal
mas não domine a língua portuguesa possa recorrer à via judicial – não – quando temos na CRP o acesso à

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justiça, o acesso à justiça é feito não só para os cidadãos nacionais como para aqueles que não o sendo
tenham que recorrer aos nossos tribunais.

Nestes casos, no limite e caso os cidadãos queiram acompanhar os atos processuais caso não tenham
confiança total no advogado que os está a representar, pode ser nomeado um intérprete – art. 133º n2 –
partindo do pressuposto que estas pessoas têm que ser ouvidas durante o processo, ou porque são partes e
se requereu o depoimento de parte ou ele próprio requereu a declaração de parte ou então porque é uma
pessoa indicada como testemunha no âmbito do processo.

Tenho que proceder à junção de um documento ao processo mas esse documento está redigido em língua
estrangeira – terei em princípio que juntar uma tradução desse documento – Art. 568º n1 al. h)

Quando se trata de línguas mais complexas e nas quais não existem muitos tradutores (ex. sueco) é
recomendado ver os postos consulares ou embaixadas que esse país tem do posso pais porque normalmente
esses postos consulares ou embaixadas têm serviços que tratam dessas traduções.

Contudo uma tradução é relativamente cara, normalmente os tradutores cobram à linha, quem paga é a
parte que tem interesse na apresentação daquele documento. Partindo do pressuposto que essa parte vai
obter o ganho de causa depois do imputar o custo relativo a essas traduções nas despesas do próprio
processo. Isto depois será relevante no que diz respeito às custas.

• Os articulados devem ser assinados pela parte ou pelo mandatário judicial, partindo do pressuposto
que a parte está devidamente apresentada por mandatário, o ato de se ter conferido uma procuração
forense a esse mandatário faz com que a parte não tenha que assinar a peça processual, quem tem
que assinar a peça processual é o mandatário judicial.

No entanto, nada impede que a parte o queira fazer, não estando representada por mandatário obviamente
que terá que ser a parte a assinar essa peça ou requerimento.

Art. 558º n1 al. g) – causa de recebimento da petição inicial.

Se atualmente as peças processuais dos articulados dão entrada, na maioria das situações, por intermédio do
SITUS – pode-se assinar a peça em papel, digitalizar e dar entrada da peça digitalizada ou criar uma espécie de
carimbo da assinatura e inserir no documento (tendo a assinatura digital qualificada).

Relativamente aos advogados o que é feito, para um advogado puder entrar no SITUS, tem que ter um
certificado digital, certificado esse que vai assinar automaticamente a peça processual.

• Os articulados devem ser apresentados em duplicado – art 148º n1 – se o articulado houver sido
apresentado por uma das formas previstas nas alíneas a) e b) n7 do artigo 144º, aí tem que ser
apresentada em duplicado.

Temos a verificação das alíneas a) e b) n7 do artigo 144º nas circunstâncias exclusivas de a parte não estar
devidamente representada por advogado e nessas circunstâncias a parte pode dar entrada da peça
processual por intermédio de correio registado (alínea b) então por entrega na Secretaria judicial da própria
peça.

Circunstâncias temos que apresentar os articulados em duplicado sob pena de nos termos do n3 a parte de
ser notificada oficiosamente para apresentar os ditos duplicados no prazo de 2 dias pagando a título de multa
a quantia fixada na alínea a) n5 do artigo 139º - 10%

Não o fazendo será extraída certidão dos elementos em falta pagando a parte além do respetivo custo a
multa mais elevada prevista no n5 do artigo 139º - 40%

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Artigo 139º n5 – prazos de complacência

Os prazos sendo perentórios o seu decurso extingue o direito de praticar o ato – existe uma salvação nos
termos do n5 do artigo 139º que possibilita que até ao terceiro dia útil ao encerramento do prazo ainda se
possa praticar o ato desde que se pague uma multa que vai subindo consoante estejamos no primeiro dia útil,
no segundo dia útil ou no terceiro dia útil.

No primeiro dia útil será 10% da taxa de justiça correspondente ao processo ou ato, no segundo passa para
25% e no terceiro dia passa para 40%.

Petição inicial

É, na prática, a tradução do princípio dispositivo, do princípio da necessidade do pedido.

É o ato fundador do processo, com o início da instância.

É apanágio das ações declarativas, nas ações executivas não temos petições iniciais temos requerimentos
executivos.

A petição inicial obedece uma série de requisitos, requisitos esses que estão expressamente previstos no CPC
no artigo 552º.

Requisitos:

ü Alínea a) – designação do tribunal e respetivo juízo em que a ação é proposta e identificação das partes
com indicação dos seus nomes, domicílios e no que diz respeito ao autor e sempre que possível,
relativamente às demais partes, os números de identificação civil e os números de identificação fiscal,
profissões e locais de trabalho;
ü Alínea b) – indicar o domicílio profissional do mandatário judicial;
ü Alínea c) – forma e processo;
® Introito, preâmbulo e cabeçalho;
ü Alínea d) – fazer exposição dos factos essenciais constituem a causa de pedir e as razões de direito que
servem de fundamento da ação;
® Narração;
ü Alínea e) – Formulação do pedido;
® Conclusão;
ü Alínea f) – Declaração do valor da causa;
ü Alínea g) – Designação do agente de execução incumbido de efetuar a situação do mandatário judicial
responsável pela sua produção;
® Elementos complementares (juntamente com o n6 e n7);

Artigo 144º n6 – requerimentos probatórios e o n7 – comprovação no processo que foi paga a taxa de justiça
ou se não foi paga a taxa de justiça, mas o autor goza do benefício de apoio judiciário o documento
comprovativo do apoio judiciário.

Requisitos da petição inicial

É a peça que verdadeiramente marca o início da instância.

Relativamente ao introito, preâmbulo e cabeçalho, a primeira referência que convém fazer diz respeito ao
endereço – é obvio que com o email, o envio de cartas caiu em desuso, mas sempre que se enviava uma carta
ou elemento essencial para colocar no subscrito ou no Envelope era o endereço.

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Acontece o mesmo com a petição inicial, é preciso endereçar a petição inicial, mas a quem? Ao tribunal
competente, ao fazer uso do pressuposto processual designadamente o pressuposto da competência,
havíamos chegado à conclusão qual era o tribunal onde se deveria instaurar aquela ação quer a nível da
hierarquia, quer a nível da matéria, quer a nível do valor, quer a nível do território.

Importa depois de fazer este exercício endereçar a petição inicial exatamente a esse tribunal. A prática e a
tradição judiciária ou forense vão no sentido de ao invés de se dirigir a petição inicial ao próprio tribunal, é
dirigida ao juiz. Se estivermos perante outras peças processuais designadamente a nível de recurso, ao invés
de falarmos de excelentíssimo e em meritíssimo vamos falar em venerandos ou em colendos, quanto maior é
o grau que o juiz em causa tem vamos evoluindo nesta praxe.

NOTA – Quem começa a exercer fica muito incomodado com o modo como nos tratam. Os mandatários e o
tribunal tratam-se sempre de uma forma muito formal. A justiça normalmente é um ato solene e não é por
acaso que os operadores judiciários andam vestidos de negro – numa audiência final o juiz está vestido com
uma beca, os mandatários estão vestidos com uma torga e senhor funcionário judicial está vestido com uma
capa, todos eles de preto. No caso do tribunal há de facto uma formalidade, um respeito à instituição,
respeito esse que passa um pouco pelas partes e pelos mandatários se tratarem bem e com respeito.

Preâmbulo – Identificação das partes – Relativamente às partes, já sabemos que nos termos da alínea a) que
se deve identificar as mesmas por intermédio dos nomes, domicílio, sede e no que diz respeito ao autor e
sempre que possível às demais partes o número de identificação civil e o número de identificação fiscal.

Uma das razões para fazermos isto prende-se com a identificação daquela parte em concreto no caso em que
exista nome o nome similar o nome pode ser o mesmo mas relativamente ao NIF ou ao CC esse é único,
temos que ter essa individualização das partes. Relativamente às pessoas coletivas temos o número de
identificação da pessoa coletiva, a sede dessa pessoa coletiva. Esta alusão às partes ou aos chamados sujeitos,
é um dos elementos essenciais que compõe a ação ou o próprio objeto.

Exceções da litispendência do caso julgado – quando há a repetição de uma causa estando a anterior em
decurso, estando dependente a uma situação de litispendência. Quando a anterior já tiver tido o seu desfecho
estamos perante o caso julgado.

Um dos elementos que se deve tomar em consideração para sabermos se há ou não repetição da causa é no
que diz respeito aos sujeitos (art. 581º/1 CPC).

Alínea c) – É preciso indicar a forma de processo, por vezes vê-se uma preocupação das partes por a par da
forma de processo fazer alusão à espécie da ação, pesa embora o que esteja nos requisitos da petição inicial
seja a forma de processo e não a espécie de ação.

Quanto ao processo comum basta fazer essa alusão, mas quanto aos processos especiais é preciso identificar
qual é a forma do processo especial? – Em princípio não, basta dizer que se instaura a ação sob a forma de
processo especial. Porque ao nível da distribuição (excetuando uma outra situação), quanto à espécie na
distribuição temos as ações de processo especial art. 212º/3 CPC.

Alguma ou outra exceção porque há certas formas de processo especial que constituem espécies diversas
designadamente logo na quarta espécie, divórcio e separação sem consentimento do outro cônjuge. Apesar
de ser um processo especial entra na quarta espécie e não na terceira.

Quando se dava entrada das petições iniciais em suporte papel junto da secretaria geral do tribunal,
entregava-se a petição inicial e o funcionário que ia atender a primeira coisa que fazia era pegar naqueles
lápis que têm de um lado azul e do outro lado vermelho e começava a riscar alguns elementos

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designadamente as partes e a forma de processo, para facilitar a identificação no que diz respeito à
distribuição.

Identificação do domicílio profissional do mandatário judicial – art. 552º al. b) atualmente como se dá
cumprimento a esta identificação do domicílio profissional do mandatário judicial? Ou pela forma mais
natural, por utilização de papel timbrado (no cabeçalho tem o nome do mandatário e no rodapé tem o seu
domicílio profissional), ou então através da aposição de um carimbo na última folha que também tem o
domicílio do mandatário judicial. O domicílio profissional aparece, normalmente, automaticamente
preenchido a não ser que o mandatário judicial tenha mais que um endereço profissional, aqui tem que ter o
cuidado de escolher um deles senão pode acontecer de a secretaria enviar para um endereço qualquer. Isto
pode acontecer quando o mandatário judicial tem uma avença com uma determinada instituição para não
estar a receber peças processuais ou as ações ou eventuais notificações pelo correio no seu escritório prefere
receber nas instalações dessa instituição.

Narração – alínea d) do n1 do artigo 552º CPC – Diferença importante entre a matéria de facto e matéria de
direito.

No que diz respeito à exposição da matéria de facto, a mesma deve recair sobre as partes (art. 5º/1),
relativamente às razões de direito, pesa embora as mesmas possam ser expostas e são pelas partes ou pelos
seus mandatários, o juiz não está adstrito às mesmas (art. 5º/3).

Posso ter uma petição inicial sem razoes de direito, porque o tribunal tem sempre a obrigação de indagar
quais são as normas jurídicas aplicáveis àquela situação em concreto o que eu não posso ter é uma petição
inicial sem as razões de facto porque essas são um ónus ou um monopólio das partes. Se tivermos que
estabelecer uma prevalência da matéria de facto relativamente à matéria de direito, no que diz respeito à
alegação pelas partes sobreleva a alegação da matéria de facto relativamente à matéria de direito, é mais
importante a exposição da matéria de facto do que a matéria de direito.

Matéria de facto – a matéria de facto diz respeito a factos.

É um acontecimento, é uma ocorrência da vida normal. Que pode ter a sua origem no mundo interno ou no
mundo externo, é relevante porque para que eu consiga lograr ganho de causa, ou seja, para que a minha
pretensão seja julgada favoravelmente por parte do tribunal eu tenho que fazer chegar esse facto ao processo

Como é que isso é possível?

É impossível trazer factos ao processo;

Ex.: Se estou perante uma ação responsabilidade civil extracontratual emergente de um acidente de viação o
facto vai ser o acidente de viação, será a colisão entre os veículos.

O que eu deveria ter no processo não eram factos, são as alegacões dos factos que realmente ocorreram (os
factos não são carreáveis). A exposição das razões de facto, das razões que deram origem aos factos. Os
factos são verdadeiramente a causa de pedir. A narração, na prática, traduz-se na causa de pedir, eu tenho
que expor na petição inicial todos os factos nos quais estou a estruturar a minha pretensão.

Normalmente também trago as razões de direito, eu posso dizer que o veículo A não respeitou quatro ou
cinco regras ao nível do código da estrada, posso dizer que nos termos do código civil eu tenho direito a uma
indemnização, posso mas não quer dizer que tenha que o fazer.

Não ocorre no que diz respeito a certos factos – 5º – diferenciação entre o número 1 e o número 2 – porque
nos termos do número 1 vamos ver quais são os factos que obrigatoriamente têm que ser alegados pelas
partes (factos essenciais, são o núcleo a nível da matéria de facto, isto tem que ser obrigatoriamente alegado

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pelas partes, se não for pode consubstanciar uma falta de causa de pedir, e essa falta tem uma consequência
que é gerar a ineptidão da petição inicial art. 186º n2 al. a)

O que são os demais factos? – factos instrumentais – são os factos que vão ajudar à prova do facto essencial e
que normalmente também são alegados pelas partes mas não o sendo o tribunal pode obter esse facto
instrumental através da instrução na causa, através da prova que se vai fazer na causa.

Enquanto a falta do facto essencial pode gerar a falta de causa de pedir e a ineptidão da petição inicial (na
prática a nossa ação vai fracassar), a falta de alegacão de um facto quer instrumental quer concretizador não
vai gerar essa ineptidão da petição inicial porque o tribunal vai poder obter esses factos por outra via – alienas
a) e d) no n2 do artigo 5º CPC.

A narração corresponde à causa de pedir, então a conclusão corresponde ao pedido.

A nossa petição inicial tem sempre que concluir com um pedido. No âmbito da petição inicial e da ação é
obrigatório formular um pedido ao tribunal, é preciso que o tribunal saiba o que eu quero, mas o que eu
quero como assim?

Quero a entrega de uma coisa, essa coisa é móvel ou imóvel? Eu quero o pagamento de uma obrigação
pecuniária? Eu quero uma indemnização, indemnização que resulta da lei ou que resulta do dano? O dano é
patrimonial ou não patrimonial?

Eu tenho que dizer expressamente ao tribunal o que quero no âmbito daquele processo em concreto, ao
fazer isso eu estou a dirigir o pedido. O pedido é fácil de identificar no âmbito de uma petição inicial porque
aparece sempre normalmente ou na penúltima ou na última página destacado e a negrito. Nos termos do
número 2 do artigo 186º se o pedido não foi indicado eu também tenho como consequência a ineptidão da
petição inicial.

O pedido tem uma série de características:

1. Existência – deve ser expressamente referido, deve existir;


2. Inteligibilidade;
3. Determinação;
4. Compatibilidade;
5. Licitude;
6. Viabilidade;
7. Juridicidade;

O nosso pedido deve de observar todas estas características.

O pedido também pode assumir vários tipos: (art. 553º a 557º)

O que é um pedido alternativo?

Art. 553º – é aquele pedido que se deve dirigir no caso de estamos perante determinados tipos de obrigações
– obrigações as alternativas – onde o devedor vai ter a prerrogativa de escolher uma dessas obrigações.

Se estivermos perante essa escolha, posso formular um pedido alternativo.

Se estivermos perante um pedido alternativo a ação terá o valor correspondente ao pedido que terá o maior
valor.

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Pedido subsidiário – tenho um pedido subsidiário quando formulo um segundo pedido apenas na mera
pressuposição do primeiro pedido não ser atendido.

Ex.: Se dirijo um pedido contra uma companhia seguradora e dirijo à posteriori um pedido contro o fundo de
garantia automóvel, estou, na prática a dirigir o segundo pedido apenas na mera pressuposição de não haver
o seguro válido e eficaz e de o primeiro pedido naufragar. Só vou conhecer do segundo pedido se o primeiro
não for julgado procedente.

Pedidos de prestações vincendas – art. 557º – quando temos prestações periódicas, nestas circunstâncias
podemos pedir as prestações que já se encontram vencidas e só essas é que irão ser contabilizadas para
efeitos de apuramento do valor da ação e posso depois pedir as prestações que, entretanto, se vierem a
vencer no decurso da ação, ex. juros.

Artigo 552º al. g) – existem várias petições iniciais que não têm esta indicação ad início. Normalmente a parte
aposta tudo no facto da citação ser efetuada por via postal, assim não vamos ter necessidade de recorrer ou
ao agente de execução ou ao funcionário judicial para levar a cabo a citação, no entanto se nós tivermos
declarado expressamente na petição que preferimos que a citação seja levada a cabo por intermédio de
agente de execução ou funcionário judicial, então obrigatoriamente tem que ser indicado ad início a
identificação do agente de execução ou do funcionário judicial.

Esta alínea g) deve ser complementada com o número 11 do artigo 552º segundo o qual o autor deve
designar a gente de execução inscrito ou registado na comarca ou na sua falta em outra comarca pertencente
à mesma área competência do respetivo tribunal da relação sem prejuízo do disposto no número 9 do artigo
231º, a par do número 9 será relevante o número 8.

Segundo o número 9, temos a possibilidade de pedir que a citação seja levada a cabo por funcionário judicial
normalmente a opção por um ou por outro está apenas dependente do custo benefício, normalmente a
citação que é levada a cabo por funcionário judicial tem um valor pré-determinado no âmbito do regulamento
das custas processuais e que normalmente é um valor que fica mais em conta.

Relativamente ao número 8 – qual é a razão para indicar logo na petição inicial que pretendo que a citação
seja feita por funcionário por agente de execução ao invés de ser por via postal?

Partindo do pressuposto que o citando, o potencial reu não assina os avisos de receção tendentes à citação,
vou ter obrigatoriamente de o citar, vou recorrer ao agente de execução ou funcionário de justiça que ao
invés de irem a casa dele vão ao seu local de trabalho (por exemplo).

Outros elementos:

Art. 552º n6 – no final da petição inicial e nos termos do art. 572º al. d) no final da contestação deve
respetivamente o autor e o réu fazer a apresentação do requerimento probatório, requerimento esse que
não se vai esgotar no rol de testemunhas. Devemos indicar qualquer meio de prova no âmbito do processo na
petição inicial.

O requerimento probatório não se esgota com a prova documental.

Artigo 552º n7 – para dar entrada de uma ação tenho obrigatoriamente que pagar o montante devido pela
taxa de justiça, vou recorrer a um site, vou imitir o documento único de cobrança onde terei que introduzir a
espécie de ação e o valor da ação e automaticamente o duc (documento único de cobrança) será imitido.

A partir do momento que introduzo a referência para pagamento no formulário do situs e coloco em gravar o
sistema vai ver se a taxa de justiça está paga ou se já foi utilizada no âmbito de outro processo (não será
validada).

Érica Pereira
DPCD 12

Assim, temos que ou pagar a taxa de justiça ou se não tivermos condições para tal temos que recorrer
previamente ao regime de acesso ao direito e aos tribunais e recorrer ao apoio judiciário onde existe dispensa
total ou parcial do pagamento da taxa de justiça. Neste caso, normalmente, é preciso comprovar nos autos
que o apoio foi deferido por parte da segurança social.

A segurança social vai fazer uma análise à situação económica do requente e vai ter que comprovar que o
requerente se encontra na situação de insuficiência económica.

Se for atribuído o apoio judiciário, a segurança social vai emitir um documento que tem que ser junto com a
petição inicial.

Há ainda uma outra situação a equacionar, por vezes, o estado é tudo menos um cumpridor da celeridade,
normalmente a segurança social demora muito tempo a conceder um deferido apoio beneficiário, e muitas
vezes não há condições para eu estar à espera durante aqueles meses, assim, em certas situações é possível
que o juiz junto apenas o documento comprovativo de ter requerido junto da segurança social o apoio
judiciário, esse documento devidamente carimbado pela segurança social é por si só bastante para eu poder
dar entrada da minha ação.

Se tivermos nos termos do artigo 561º numa situação de citação urgente, por outro lado outra circunstância
que pode motivar à apresentação do documento de concessão de apoio judiciário, se faltarem menos de 5
dias para o termo do prazo de caducidade (331º/1 CC), por outro lado também nos processos de natureza
urgente (procedimentos cautelares), são algumas das situações que possibilitem que eu junte apenas o
requerimento e não a concessão de apoio judiciário.

Pode acontecer que, requeri a concessão de apoio judiciário, estou convencido que preencho os requisitos
para a concessão do apoio judiciário mas a segurança social tem entendimento contrário e vai-me indeferir o
pedido – número 10 – o autor deve efetuar o pagamento da taxa de justiça no prazo de 10 dias a contar da
data da notificação da decisão definitiva que indefira o pedido de apoio judiciário sob pena de
desentranhamento da petição inicial apresentada.

Quando é que isso não ocorre? – quando o indeferimento do pedido de apoio judiciário só for notificado
depois de efetuada a citação do réu, há aqui uma manifestação do princípio do contraditório, a partir do
momento em que o réu é citado, o processo também é algo que lhe diz respeito, o réu terá a possibilidade de
se defender.

Cumpridos os requisitos previsto no artigo 552º CPC vamos passar para um outro aspeto que é o modo de
apresentação a juízo da nossa petição inicial – art. 144º n1

Portaria 280/2013 de 26 de agosto

O modo de apresentação da petição inicial é obrigatoriamente pelo situs, partindo do pressuposto que eu
tenho uma ação com o valor de pelo menos 5M€ e 1 cêntimo, pois as ações até 5M€ em princípio não
constituem a obrigação de advogado, as partes podem pleitear a si só.

Quando a ação não importa constituição do mandatário e de facto quando não há mandatário constituído,
nessas circunstâncias podemos utilizar diversos mecanismos alternativos ao situs, esses mecanismos são os
previstos nas alíneas a) a d) do número 7 do artigo 144º CPC.

Há que destacar as situações das alíneas a), b) e c):

Alínea a) – entrega em suporte papel, na própria secretaria do tribunal. A parte vai entregar a sua petição
inicial em original suporte papel em tribunal, e o tribunal vai por um carimbo nessa petição inicial e ao fazê-lo
vai estar a dizer que a instância se iniciou naquela data.

Érica Pereira
DPCD 13

Não havendo a possibilidade ainda de as partes que não estão representadas por mandatário poderem dar
entrada da petição inicial por exemplo por intermédio de email, se as partes para dar entrada da petição
inicial têm que recorrer ao mecanismo que esta previsto na portaria, as partes teriam de estar registadas no
situs o que não acontece, quem está registado no situs são os advogados e profissionais forenses.

Alínea b) – remessa pelo correio sob registo

NOTA – quando dou entrada de uma petição inicial por intermédio de correio e sendo correio registado vou
ter o talão de registo que é fornecido pelos CTT.

Se for a uma parte do site que diz respeito à pesquisa de objetos postais e se colocar este registo vai me dizer
qual foi a data em que a carta foi expedida. Naturalmente que a carta só é rececionada no tribunal no dia
seguinte ou passado alguns dias dependendo do sítio do país. Quando envio a petição inicial pelo correio peço
para me ser devolvido um duplicado da mesma devidamente carimbado, vai acontecer que a secretaria vai
colocar o carimbo nesse duplicado, não com a data do dia em que foi registado o correio, mas com na data do
dia em efetivamente recebeu o correio.

Havendo uma divergência de datas, a que prevalece nos termos da alínea b) é a data do respetivo registo
postal.

Alínea c) – envio através de telecópia (fax) – já não se usa

Todos estes mecanismos alternativos constantes do artigo 144º n7 eram utilizados quando na tínhamos
mandatário judicial constituído, só que ainda há possibilidade de eu utilizar estes mecanismos das alíneas a) a
d) tendo mandatário judicial constituído, única e exclusivamente na situação de justo impedimento. O
mandatário que não teve possibilidade de praticar o ato em determinado dia ocorrendo uma situação de
justo impedimento, pode utilizar em alternativa ao situs os mecanismos do art. 144º n7 (remissão para artigo
140º).

Recusa da petição pela secretaria

Quando é que a petição inicial deve ser recusada?

Artigo 558º CPC – n1 enunciação taxativa, apenas nas situações previstas nestas alíneas é que a petição inicial
poderá ser recusada.

Decreto lei 135/99 de 22 de abril – refere que se deve utilizar folhas de papel normal

Quem é que vai fazer esta inspeção formal relativamente aos requisitos da petição inicial que estão
inobservados e consequentemente determinarão a recusa de recebimento da petição inicial? – nos termos do
número 2 a verificação destes fundamentos de rejeição vai ser efetuada pelo sistema de suporte de atividade
dos tribunais ou então se tal não for possível pela própria secretaria.

Se tivermos perante a apresentação da petição inicial por alguma das formas constantes das alíneas a) a c) do
número 7 do art. 144º quem vai fazer essa inspeção formal vai ser a própria secretaria no ato de recebimento
da petição inicial.

Se a secretaria recusa o recebimento da petição inicial mas verdadeiramente não a deveria recusar, quais são
os meios que tenho ao meu alcance para impugnar esta decisão por parte secretaria?

1. Reclamação para o juiz nos termos do n1 do art. 559º;


2. Alteração introduzida por intermédio do decreto-lei 97/2019 de 26 de julho – havia sempre a
possibilidade de o autor vir apresentar a petição devidamente corrigida, sem o elemento que a afetava,

Érica Pereira
DPCD 14

beneficiando desta forma do prazo de propositura da primeira ação. Atualmente nos termos do art. 560º
o autor só pode apresentar essa petição ou juntar o documento a que se refere a primeira parte do
disposto no art. 558º al. f) se estivermos perante causas que não importe a constituição de mandatário e
a parte não esteja patrocinada. Se houver constituição de advogado, de mandatário judicial, não pode a
parte fazer valer o artigo 560º.

Houve uma restrição a nível das situações que possibilitam a apresentação de nova petição em juízo.

Segundo o artigo 259º n1 – a instância inicia-se pela proposição da ação e esta considera-se proposta,
intentada ou dependente logo que a respetiva petição se considere apresentada nos termos dos números 1 e
6 do art. 144º - existe aqui uma imprecisão, não é nos termos dos números 1 e 6 mas sim dos números 1 e 7.

No entanto, é importante saber quais os efeitos que derivam desta data de apresentação da petição inicial, os
efeitos são sobretudo quatro:

1. Quanto à forma de processo aplicável – art. 136º n2 – estabelece que a forma de processo aplicável se
determina pela lei vigente à data em que a ação é proposta. Qualquer alteração ao nível da legislação
processual e no que diz respeito à forma de processo não vai ter qualquer relevância porque a data que
verdadeiramente conta foi a data em que a petição inicial foi apresentada em juízo. A lei vigente nessa
altura é a lei que vai prevalecer;
2. Quanto à competência – art. 38º n1 LOSJ – a competência vai-se fixar no momento em que a ação se
propõe;
3. Art. 44º n3 LOSJ – admissibilidade de recurso – se era admissível recurso naquela ação em concreto no
momento em que a ação foi proposta, mesmo que se retire essa possibilidade, não vai afetar aquela
ação. Prevalece a lei que estava vigente à data;
4. Art. 331º n1 – a apresentação da petição inicial em juízo é causa impeditiva da caducidade do exercício
do direito que o autor faz valer na ação.

Distribuição – art. 203º

A distribuição tem um fim, fim esse que é repartir o trabalho que o tribunal vai ter e fazê-lo de forma quer
igualitária quer com uma componente de aleatoriedade (imprescindível no âmbito dos processos judiciais).

Igualdade porquê?

Se partirmos do princípio de que um tribunal só tem um juiz, não há necessidade de fazer distribuição,
portanto, nós só temos obrigatoriamente de fazer distribuição quando no tribunal existe mais do que um juiz.

NOTA: não falamos em juízos – podemos ter apenas um juízo no tribunal, e ainda assim ter vários juízos e,
nesse caso, é obrigatória a distribuição.

Sempre que temos mais do que um juiz a servir num tribunal vamos ter de lhes atribuir os processos da forma
a permitir a divisão do trabalho com igualdade entre eles.

Ex.: temos dois juízes a servir no tribunal e deram entrada 10 processos. Através da distribuição, consegue-se
que o juiz número um fique 5 processos e o juiz número dois fique com 5 processos.

O que se quer com a distribuição é, em primeiro lugar que ela seja repartida de forma igual.

Se tivéssemos outros critérios violadores do princípio do juiz natural, podíamos correr o risco de ter 8
processos entregues ao juiz 1, e apenas 2 ao juiz 2. Com isto, estaríamos a violar a finalidade igualitária da
distribuição.

Érica Pereira
DPCD 15

Nota relativamente à instância: esta norma tinha por base a lei da organização do sistema judiciário

A distribuição tem de ser feita de forma aleatória há, inclusive um método eletrónico (é o que nos CPC +
portaria 280/2013 que regula a tramitação eletrónica dos processos judiciais).

NOTA – o CPC dizia, anteriormente, que a distribuição teria de ser feita de forma automática. Hoje em dia, diz
que esta tem de ser feita de forma eletrónica.

Até há muito pouco tempo atrás, a distribuição era feita de forma manual.

Lei 55/2021 – vem introduzir determinadas alterações ao nível da distribuição, para que aquelas situações de
possibilidade de atribuir diretamente um processo a um juiz fossem eliminadas.

Muitas vezes tem-se a ideia de que um processo era atribuído a um magistrado por mero interesse, mas há́
situações em que não podíamos ultrapassar a distribuição, desde logo as reclamações que tinham
obrigatoriamente que ir diretamente para o STJ. Há́ situações em que, por mais que se tenha estabelecido a
regra da aleatoriedade e da distribuição eletrónica, o processo tem necessariamente que cair nas mãos do Sr.
Presidente do STJ.

Tínhamos a distribuição a ser feita diariamente, 2 vezes: 1a vez às 9h e 2a vez às 16h – atualmente art. 208º
CPC

Espécies da Distribuição – 212º CPC

NOTA – apesar de estarem previstas no 212º CPC – é necessário complementar o 212º com os artigos 214º e
215º, no que diz respeito às espécies junto (???)

Portanto, o nosso processo, petição inicial deu entrada, foi apresentado em juízo, foi aceite por parte do
tribunal e não houve qualquer motivo para recusa por parte da secretaria.

E depois? O que vai acontecer?

Vai acontecer uma de 2 coisas:

1. Ou vai haver a possibilidade de o juiz tomar contacto com o processo pela 1ª vez, através da intervenção
liminar;
2. Ou, partindo do pressuposto que não há́ qualquer motivo para esta intervenção liminar, vamos passar
para a citação.

Intervenção Liminar

Atualmente a intervenção liminar é uma regra ou uma exceção?

É uma exceção – no processo civil (porque há́ outros ramos do direito adjetivo que obrigatoriamente
comportam o despacho liminar) só há despacho liminar em determinadas circunstâncias:

Art.226º/4 e 590º/1 CPC

Porquê que o legislador decidiu referir que, apenas nestas circunstâncias é que há intervenção liminar?

Antigamente após a distribuição era obrigatório que o processo fosse parar às mãos do juiz – no entanto, a
maioria dos processos não são afetados por vícios de tal forma graves que impeçam a citação do réu;

Ou seja, a PI pode ser afetada por determinados vícios – sendo que alguns geram a ineptidão e outros podem
gerar a recusa por parte da secretaria;

Érica Pereira
DPCD 16

Acontece que, a regra geral é de que a PI obedece aos requisitos que se encontram previstos no 552º.

O juiz vai já ter conhecimento do processo nesta 1a fase do processo (provavelmente violando o princípio da
igualdade entre as partes) para muitas vezes, fazer apenas 1 coisa: ordenar a citação do réu;

Não se sentia necessidade de ter o despacho liminar como regra.

Circunstâncias em que existe despacho liminar – art. 226º n4 (remissão para o art. 560º CPC)

Fora das circunstâncias previstas no 226º n4 não há intervenção liminar. Proferido o despacho liminar e, em
caso de indeferimento liminar, coloca-se 1 questão:

O que pode o autor fazer?

1. O legislador manda aplicar o disposto no 560º CPC (ex vi art.o 590º in fine) – beneficio concedido ao
autor: Quando se trate de causa que não importe constituição de mandatário.
2. Há ainda, a possibilidade de o autor impugnar este despacho de indeferimento liminar – em toda e
qualquer circunstância: art. 629º n3 al. c) – as ações contra despacho de indeferimento liminar admitem
sempre recurso independentemente do valor da causa.

Caso não haja indeferimento liminar:

O processo vai seguir os seus termos. O que vai acontecer? Vai dar-se início à citação (219º e ss CPC);

Citação – é um ato processual que integra a família das notificações. A citação só́ ocorre 1 vez no processo e
serve para chamar a juízo o réu pela 1a vez

A citação distingue-se da notificação – a citação é feita 1 única vez, para chamar o réu ao processo. A partir do
momento em que o réu já foi citado, não mais vai ser citado.

Exemplo: os procedimentos cautelares podiam ser requeridos preliminarmente ou incidentalmente.

Normalmente quando são pedidos preliminarmente (antes da instauração da causa) o requerido vai ser
citado, vai ser chamado aos autos pela primeira vez).

Mas se tivermos um procedimento cautelar requerido incidentalmente, já́ não vai haver a citação – que já́
houve no âmbito da causa principal.

Funções da Citação:

1. Transmissão de conhecimento – está-se a transmitir ao réu de que contra ele foi intentada uma ação;
2. Vai-se convidar o réu para que ele exerça o seu direito ao contraditório;
3. Vai-se informar o réu do prazo que este vai dispor para exercer o seu direito à defesa, através da
contestação.

Quem tem a incumbência de realizar a citação?

Art. 226º CPC – a citação é levada a cabo por parte da secretaria (princípio da oficiosidade das diligencias
destinadas à citação, a cargo da secretaria);

Questão relativa à intervenção liminar:

o Se é a secretaria que leva a cabo os atos tendentes à citação, não faz sentido que o processo vá́ para as
mãos do juiz para que ele simplesmente ordene à secretaria a realização da citação (salvo as exceções do
226º/4);

Érica Pereira
DPCD 17

A par do princípio da oficiosidade, há́ um outro princípio muito importante relativo à citação:

Princípio da Celeridade – 226º n2 e n3

Temos de realizar a citação o mais rápido possível – sendo a citação um ato fundamental no processo, se esta
não estiver feita, não vamos poder praticar qualquer outro ato processual – a citação é obrigatória

Nota: há́ situações em que a citação se torna muito complicada e, no limite, podemos levar a cabo a citação
edital (através da publicação de um anúncio).

Modalidades de citação – art. 225º CPC

Citação pessoal

Possibilidade de a levar a cabo por intermédio de via postal ou por intermédio de contacto pessoal do agente
de execução ou do funcionário judicial;

É obrigatório designar quem é o agente de execução que vai levar a cabo a citação – se, não for possível levar
a cabo a citação por via postal, temos indicação que será́ o agente a fazê-lo por intermedio de contacto
pessoal.

NOTA – o n2 alínea a) fala da citação por via eletrónica – para haver uma citação por via eletrónica era preciso
que todos os cidadãos tivessem um endereço de email fidedigno e reconhecido por todas as autoridades,
designadamente as autoridades judiciarias.

O Tribunal Constitucional veio a declarar inconstitucionalidade da citação por via postal simples:

Não era possível provar que de facto o réu tinha tido conhecimento de que contra ele havia sido instaurada
uma ação;

No caso do email, a situação é a mesma – não há́ como provar em concreto.

Contrariamente ao que se passa noutros ordenamentos jurídicos como por exemplo o ordenamento francês,
belga, italiano e espanhol) onde a citação é feita por intermedio de contacto pessoal, o nosso ordenamento
desde o decreto-lei 242/85 no que diz respeito às pessoas coletivas introduziu a possibilidade de a citação
pessoal ser feita por intermedio da via postal.

Na reforma que se seguiu de 95/96, mais precisamente através dos decretos-lei 329/95 e 180/96 também no
âmbito da citação de pessoa singular se veio estabelecer como regra a citação pessoal por via postal. O nosso
legislador mune-se de especiais cautelas relativamente a esta citação por via postal porque exige, em
princípio, e partindo do pressuposto que não estamos numa situação de domicílio convencional, onde as
regras não são essas, mas, quando é por via portal terá que ser por carta registada com aviso de receção.
Contudo, o ideal seria que a citação fosse feita por contacto pessoal e que imediatamente o citando assinasse
a nota de citação perante o agente de execução ou perante o funcionário judicial. No entanto, não é isso que
ocorre, primeiro começamos pela citação por via postal e só na hipótese se o autor assim tiver declarado na
petição inicial é que temos antes da citação por via postal a citação por intermedio de contacto pessoal ou do
agente de execução ou do funcionário judicial.

1. Regra – citação por via postal – artº 228º n1 constata-se que esta citação pessoal por via postal, e
partindo do pressuposto que estamos perante uma pessoa singular, (pessoas coletivas art. 246º) é feita
por carta registada com aviso de receção de modelo oficialmente aprovado e que é dirigida ao citando
ou para a sua residência ou para o seu local de trabalho. Normalmente a morada indicada é a morada
que corresponde à residência, mas se se indica a residência e não se logra efetuar a citação, vai haver a

Érica Pereira
DPCD 18

certidão negativa e em princípio a secretaria vai junto do autor colher elementos à cerca de outro local
onde poderá o citando vir a ser citado e em princípio aí, aparecerá a questão do local de trabalho.

Partindo do pressuposto que o citando se encontra nessa morada quer pessoal quer profissional, a citação
considera-se efetuada precisamente na data em que se mostra assinado o aviso de receção.

Por vezes, o citando não se encontra no local (residência ou trabalho);

Não se encontrando o citando é possível, ou não, levar a cabo a citação no intermedio de outra pessoa,
designadamente na pessoa de um terceiro. Nós podemos efetuar a citação em qualquer pessoa que se
encontre na residência do citando, quer seja familiar ou amigo ou até vizinho, mas nessa circunstância o
distribuidor de serviço postal vai imediatamente alertar esse terceiro do dever de comunicar a citação o mais
depressa possível ao citado. Existe obrigatoriedade de entregar a citação e os elementos que a acompanham
o mais rápido possível.

O legislador ainda se vai munir de uma outra cautela, que é enviar uma carta registada pra o citado para lhe
dar conta que a citação foi efetuada em determinado dia e na pessoa X – art. 228º n3 e n4 e art. 230º (data
de citação a data que se fizer constar no aviso de receção independentemente de a citação ser assinada pelo
próprio ou por um terceiro), art. 233º (estabelece no caso de a citação ser efetuada em pessoa diferente do
citando a obrigatoriedade de se enviar no prazo de 2 dias uteis uma carta registada ou citando comunicando a
data e modo que o ato se considera realizado, o prazo para oferecimento da defesa, o destino dado ao
duplicado e a identidade da pessoa em quem a citação foi realizada) art. 227º (elementos que devem
acompanhar a citação – copia da petição inicial e copia de todos os documentos que acompanhem essa
petição inicial);

Existem determinados elementos quer devem ser indicados ao citando designadamente o prazo de que ele
vai dispor para exercer o seu direito ao contraditório, as consequências que derivam da falta de apresentação
da contestação e se há ou não necessidade de constituir advogado.

Não estando ninguém na morada, se não existir possibilidade de levar a cabo a citação por uma terceira
pessoa, nos termos do n5 vai ser deixado um aviso ao destinatário (citando) comunicando-lhe que a carta vai
ficar à sua disposição durante 8 dia no estabelecimento postal devidamente identificado (estação dos ctt)
para que ele levante a carta e se efetue a citação.

Se nem sequer houver possibilidade de deixar esse aviso, por inexistência de caixa postal, porque as caixas
postais estão no interior do prédio e o distribuidor não tem acesso, porque a caixa estão dento de um portão
e o distribuidor apercebe-se da presença de um cão agressivo e não vai entrar para deixar o aviso, nestes
casos nos termos do n7 o distribuidor do serviço postal vai lavrar nota da ocorrência e vai devolver o
expediente ao tribunal.

Citação de pessoas coletivas:

Art. 246º e 223º

A citação não tem obrigatoriamente que ser levada a cabo na pessoa dos (13:16) representantes,
preferencialmente deve sê-lo mas há possibilidade de se levar a cabo a citação no trabalhador que se
encontre na sede ou local onde funciona normalmente a administração – art. 223º n3

Érica Pereira
DPCD 19

Citação pessoal por via postal

Art 229º: situações de domicílio convencionado – decreto-lei 269/98 – ações para cumprimento de obrigações
pecuniárias emergentes de contratos, no âmbito dessas ações, desde que os contratos sejam reduzidos a
escrito e desde que o valor não ultrapasse o valor da alçada da relação, ou seja, até 30M euros (se o exceder
ainda existe outra exceção, desde que respeite a um fornecimento continuado de bens ou serviços) a citação
efetuação no domicilio que foi convencionado pelas partes no âmbito desse contrato. Existe uma clausula no
contrato que tem por epigrafe “foro” que diz o tribunal competente e a morada que as partes elegem para
eventuais notificações ou citações, para onde vai ser expedida a carta.

Nos termos no n3 no mesmo artigo, se o citando recusar a assinatura do aviso de receção ou recebimento da
carta a essa mesma citação o distribuidor postal vai lavrar nota do incidente antes de a devolver e a citação
considera-se efetuada face à certificação da ocorrência.

® O simples facto de ocorrer a recusa do recebimento da citação não invalida que consideremos a
citação como efetuada.

Se não se conseguir efetuar essa citação por via postal vamos tentar fazer a citação por intermedio de
contacto pessoal, que vai ser feita por intermedio de agente de execução – art. 231º n1

O agente de execução vai se deslocar à residência ou ao local de trabalhado do citando e vai lhe entregar uma
nota de citação que vai ser assinada pelo citando, na data que se fizer constar nessa nota de citação
considera-se efetuada a citação pessoal.

Art. 231 n6 – Existe a possibilidade de o agente de execução mandatar outra pessoa, um colaborador para
efetuar a citação.

Quando a citação é levada a cabo pelo agente de execução, partindo do pressuposto que o citando se recusa
a assinar a nota de citação, vai se lavrar nota dessa ocorrência mas a citação vai se considerar realizada, no
caso de a citação ser pelo colaborador a citação só se considera efetuada se houver assinatura por parte do
citando. Se a citação for levada a cabo pelo agente de execução, se houver uma recusa por parte do citando a
citação considera-se efetuada.

Por vezes ocorre que não se encontra o citando no local que é indicado, ou seja, existe a necessidade de
haver recurso à chamada citação por contacto pessoal com data e hora certa. Sabemos que o citando reside
naquele local, trabalha naquele local mas no momento em que o agente se deslocou ao local ele não estava,
neste caso deixa-se uma nota tendente a avisar o citando que em determinado dia e em determinada hora de
novo o agente de execução se vai deslocar ao local para efetuar a citação. Nesta data podemos ter recurso à
pessoa de terceiros, o terceiro que esteja no local pode receber a citação com a incumbência de ter de
prontamente transmitir ao citado que a citação foi em si efetuada ou então se não houver essa possibilidade
vai se perante duas testemunhas afixar na porta do local que se levou a cabo a citação por esta via.

Citação edital

Uma palavra que caracteriza a citação edital é incerteza. No que diz respeito à incerteza vamos ter uma de
duas situações:

1. Quando são incertas as pessoas a citar;


2. Quando há a verificação do conceito de ausência em parte incerta;

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DPCD 20

Isto exclui as situações que por vezes se julgam passiveis de efetivação da citação pessoal de ausência em
parte certa. Por vezes deslocamo-nos aos vários locais, residência, local de trabalho, havendo dificuldade na
realização da citação, tenta-se passar para a citação edital.

Se temos uma ausência do citando, mas essa ausência é em parte certa não podemos recorrer à citação edital
– art. 235º e 236º - para se considerar o citando como ausente em parte incerta tenho que esgotar todas as
bases de dados dos serviços do art. 236º n1, só à posteriori é que o juiz vai ordenar a citação edital, este é um
dos casos em que se exceciona o princípio da oficiosidade das diligencias destinadas à citação.

Como é que a citação edital é feita?

É feita por intermedio de um edital e por intermedio de um anúncio – art. 241º n1 e 2

O anúncio tinha que ser publicado num dos jornais mais lidos da localidade. Atualmente a publicação do
anúncio é feita numa página prevista no art. 240º n1 e na portaria 280/2013 art. 24º

Momento em que a citação edital se considera efetuada – a regra é do art. 242º n1 segundo a qual a citação
se considera feita no dia da publicação do anúncio.

Citação promovida por mandatário judicial – art. 237º segue o regime do art. 231º com as necessárias
adaptações. Nos termos do n2 e 3 podemos ter o recurso a colaboradores do mandatário judicial na
efetivação desta citação. Nos termos do art. 238º n3 quem vai ser responsabilizado por eventuais ações ou
omissões culposamente praticadas pela pessoa encarregue de proceder à mesma será o mandatário judicial.

Prazos

Consoante a citação seja feita ou na própria pessoa ou em pessoa diversa, seja feita na área da comarca onde
pende a ação ou fora dessa área da comarca, seja feita no território de Portugal insolar quando a ação corre
em Portugal continental ou quando a citação é feita no estrangeiro vai haver o acréscimo de um prazo que é o
prazo dilatório – art. 245º

Temos três dilações:

• 5 dias;
• 15 dias;
• 30 dias;

Nos casos de citação em pessoa diversa e nos caos de citação em comarca diversa temos ao prazo perentório,
prazo de 30 dias art. 569º n1 temos o acréscimo de 5 dias aos 30 dias.

Quando temos uma ação que está instaurada num tribunal do continente e o réu reside nos açores ou na
madeira temos uma dilação de 15 dias.

Quando temos uma citação levada a cabo no estrangeiro ou então quando temos uma citação edital temos
uma dilação de 30 dias – art. 245º

Estas dilações podem ser cumuláveis, se tivermos uma citação efetuada nos açores e a ação tiver pendente no
continente e que seja feita em pessoa diversa aos 15 dias resultantes do art. 245º n3 devemos adicionar os 15
dias resultantes da al. a) do n1 do art. 245º.

1º aspeto a realçar relativamente aos efeitos da citação – a partir do momento que se dá a citação do réu
temos a passagem de uma relação jurídico processual bilateral para uma relação triangular, ou seja, o início
da instância a partir do art. 259º n1 dá-se apenas com o autor. O autor vai estabelecer a sua relação jurídica

Érica Pereira
DPCD 21

com o tribunal e só a partir do momento em que temos a citação, na prática temos a constituição do réu
como parte, só aí é que vamos passar a ter a relação jurídico processual triangular:

1. Relação do autor com o tribunal;


2. Relação do réu com o tribunal;
3. Relação entre as partes;

2º aspeto – os efeitos da citação poderão ser efeitos processuais ou efeitos materiais:

• Efeitos processuais:
– Início do prazo de contestação: decorre do n1 do art. 569º – a partir do momento que a citação se
considera efetuada, no que diz respeito à citação pessoal a partir do momento em que o réu ou um
terceiro assina o aviso de receção ou então a citação edital a partir do momento em que o anuncio foi
publicado temos a contagem de um prazo de 30 dias que pode ser percebido consoante a modalidade de
citação por uma dilação de 5, 15 ou 30 dias ou então por uma cumulação de dilações.

– Com a citação dá-se a chamada estabilização dos elementos essenciais da causa: decorre do art. 260º – a
partir do momento em que se dá a citação os sujeitos e o objeto, designadamente a causa de pedir e o
pedido, vão ter que se manter esteveis desse momento em diante. Enquanto não se dá citação nada
impede que o autor venha alterar o seu pedido, alterar a causa de pedir, mas a partir do momento em
que se dá a citação, observando-se o princípio do contraditório, tem que haver estabilização dos
elementos essenciais da causa e para haver qualquer tipo de alteração o réu vai ter que ser implicado no
âmbito da instância.

Na prática, a regra é a estabilização embora em determinadas circunstâncias possamos ter modificações de


índole objetiva e modificações de índole subjetiva:

1. Modificações objetivas: temos que estabelecer a destrinça consonante haja acordo das partes ou não.

Art. 264º – estabelece que o pedido e a causa de pedir poderão ser alterados ou ampliados em qualquer
altura, em primeira ou segunda instância salvo se a alteração ou ampliação perturbar inconvenientemente a
instrução, discussão e julgamento. Desde que haja acordo entre o autor e o réu nada impede que exista esta
alteração objetiva, quer ela se dê em primeira instância quer em fase de recurso, nada impede que o autor
venha reduzir o pedido numa fase mais adiantada designadamente depois de haver decisão do tribunal de
primeira instância.

Se não houver acordo temos que atender ao art. 265º n1 – a causa de pedir só pode ser alterada ou ampliada
em consequência de confissão feita pelo réu e desde que a mesma seja aceite pelo autor, havendo nesse caso
um prazo de 10 dias a contar da aceitação e relativamente ao pedido nos termos no n2 o autor pode em
qualquer altura reduzir o pedido e ampliá-lo até ao encerramento da discussão em primeira instância se a
ampliação for o desenvolvimento do pedido primitivo.

Uma das funções que a réplica desempenhava antes do CPC de 2013 era servir como instrumento jurídico
processual para estas alterações objetivas. Atualmente, se verificarmos o preceito legal referente à réplica,
art. 584º – do objeto da réplica não consta esta possibilidade de alteração do pedido ou da causa de pedir.

2. Modificação subjetiva: relativamente à alteração dos sujeitos. Em que medida é que elas poderão ocorrer
no âmbito do processo? – arts. 261º e 262º – quanto à intervenção de novas partes, até ao transito em
julgado da decisão julgar ilegítima alguma das partes por não estar em juízo determinada pessoa, pode o
autor ou o reconvinte chamar essa pessoa a intervir nos termos dos arts. 316º ss. ou seja, através do
incidente de intervenção principal.

Érica Pereira
DPCD 22

Quando analisamos o pressuposto processual da legitimidade – uma das formas de se ultrapassar a


ilegitimidade era chamar a juízo a parte legitima.

Podemos ter através do chamamento da parte legitima uma modificação subjetiva da instância porque a
parte da parte primitiva podemos ter o advento de um novo sujeito jurídico processual.

Por outro lado, também podemos ter modificações subjetivas quando temos uma sucessão a nível dos
sujeitos quer essa sucessão seja entre vivos quer essa sucessão seja mortis causa – se um dos intervenientes
originários do processo falecer na pendência do processo vai haver recuso através do incidente da habilitação
a um chamamento dos sucessores do falecido, podemos nessa circunstância falar de uma notificação
subjetiva da instância.

Princípio da estabilidade da instância – art. 260º tem as exceções e art. 564º al. d)

– Inibição de propositura de uma nova ação: art. 564º al. c) – podemos ter as posições contrárias, ou seja,
tenho uma ação declarativa de condenação instaurada contra o réu e isso inibe o réu de vir instaurar uma
ação de simples apreciação negativa ou então posso ter uma situação onde se pretende obter
exatamente o mesmo efeito jurídico nas duas ações. Quer num caso quer noutro temos a chamada
situação de litispendência, ou seja, não é possível eu ter pendentes duas causas para a mesma apreciação
jurídica. A segunda ação vai ser a ação sacrificada, a segunda ação é naquela onde vai ocorrer a citação
posteriormente. Não é a data da petição inicial que vale mas sim da citação em primeiro lugar.

• Efeitos materiais:
– Art. 564º al. a): a partir do momento em que o réu que possuía algo de boa-fé é citado para uma ação de
reivindicação de propriedade para uma ação possessória, a partir desse momento passa a considerar-se
que ele possui a coisa de má-fé;
– Interrupção dos prazos de prescrição: art. 323º n1 CC a prescrição interrompe-se pela citação ou
notificação judicial de qualquer ato que exprima direta ou indiretamente a intenção de exercer o direito
seja qual for o processo a que o ato pertence e ainda que o tribunal seja incompetente. A partir do
momento em que se dá a citação um eventual prazo prescricional que esteja em curso vai-se
interromper. A interrupção não é sinonimo de suspensão, é preciso saber quando vou reiniciar a
contagem desse prazo prescricional, isso vai ocorrer a partir do momento em que há transito em julgado
no âmbito desse processo, aí reinicia-se a contagem do eventual prazo prescricional que foi interrompido.
Quando se faz apelo à notificação judicial podemos ter a chamada notificação judicial avulsa única e
exclusivamente para a interrupção do prazo prescricional;

Ex.: prazo prescricional de 3 anos, tinha decorrido um período de 2 anos, a partir do momento em que se dá o
transito em julgado do processo instaurado, se o prazo voltar a correr ele vai reiniciar, não se suspende.

Art. 323º n2 – o legislador tentou acautelar a seguinte circunstância, vamos partir do pressuposto que esse
prazo prescricional está prestes a completar-se, na prática tem que haver lugar à citação, só que por um facto
que não é imputável ao requerente da citação (autor), a citação não é efetuada ainda que dentro do prazo
prescricional. Como essa situação não é controlável o legislador refere que desde que haja o requerimento da
citação 5 dias antes da verificação da prescrição, temos na mesma que considerar o prazo como interrompido
ainda que a citação não seja levada a cabo.

Um efeito natural da instauração da ação, da apresentação da petição inicial é que o momento subsequente
será o momento da citação, a secretaria já saberá que terá de promover a citação, partindo do pressuposto
que não foi requerida a citação por contacto pessoal normalmente por via postal, pode não se concretizar
dentro dos cinco dias, não se concretizando dentro dos cinco dias desde que haja a instauração, a
apresentação da petição inicial antes desses cinco dias a parte está acautelada porque não lhe vai poder ser

Érica Pereira
DPCD 23

imputada a não realização da citação. Partindo do pressuposto que amorada apresentada pelo réu será a
morada correta, se me engano na apresentação da morada em sede de petição inicial, já estamos perante um
facto imputável ao requerente autor, não se aplica o art. 323º n2.

– Interrupção dos prazos de usucapião: art. 1292º CC são aplicáveis à usucapião com as necessárias
adaptações as disposições relativas à suspensão e interrupção da prescrição;
– Constituição do devedor em mora: a partir de que momento é que se contam os juros moratórios? Se
temos uma obrigação sem prazo certo e se eu não tenho uma notificação extrajudicial para cumprimento
vou ter que saber quando se começa a contar os juros moratórios – a partir do momento em que se dá a
citação. O momento que marca o termo inicial é a citação, a parir daí temos que considerar que o
devedor/réu está constituído em mora art. 805º n1 CC;

Nulidades da citação

Art. 188º (inexistência) e 191º (nulidade) CPC

Falta de citação – alíneas a) a e) n1 art. 188º – nos casos de falta de citação o regime aplicável é o do art. 187º
al. a)

Art. 196º nestes casos o tribunal pode conhecer oficiosamente desta falta de citação algo que não ocorre nos
caos de nulidade secundário porque aí em princípio ela deve ser arguida ou invocada pelo interessado.

Nulidade secundária – art. 191º quando temos a inobservância das formalidades prescritas na lei. Ex. art. 227º
que obriga a remeter ao citando o duplicado da petição inicial e todos os documentos que acompanham a
mesma. Vamos partir do pressuposto que esses documentos não são entregues ao citando, nesse caso existe
inobservância de uma formalidade legal que é cominada com a nulidade prevista no n1 do art. 191º. Art. 196º
esta nulidade terá de ser conhecida por reclamação dos interessados.

Prazos processuais

O que é isso?

O prazo é um período de tempo, dentro do qual se deve levar a cabo um determinado ato processual ou
exercer um determinado direito.

Classificação dos prazos processuais

Quanto à sua natureza:

Prazos substantivos: Fundamentação legal – 279º CC

Pese embora diga respeito aos prazos substantivos tem uma alínea que vai ser crucial no que diz respeito à
contagem dos prazos adjetivos ou processuais (alínea b)

Prazo adjetivos ou processuais: Fundamentação legal – 138º CPC

Quanto à fonte:

Prazos legais: encontram-se marcados por lei.

Prazos jurisdicionais: normalmente são marcados por despacho do juiz. Quanto aos efeitos (139o CPC)

Prazos dilatórios: O artigo 245º contém prazos dilatórios, à defesa do citado acrescia sempre um prazo de 5
ou de 30 dias, sem prejuízo da cumulação de dilações se tivéssemos perante uma citação com determinadas
características (se fosse uma citação em pessoa diversa, em comarca diversa, uma ação pendente nas regiões
autónomas, citação edital levada a cabo no estrangeiro).

Érica Pereira
DPCD 24

Isso são prazos dilatórios, o que significa? Significa que dilatam ou protelam no tempo o início de contagem
de um outro prazo, na prática, o prazo dilatório, vai fazer com que o prazo que se subsegue (que é o prazo
perentório) só tem início depois de concluído o prazo dilatório 139º/2.

ERRO COMUM – Há pessoas que contam o prazo dilatório no final do prazo perentório.

Ex: Temos um prazo perentório de 30 dias, no fim acrescem 5 dias porque, por exemplo a citação foi levada a
cabo em pessoa diversa. É um erro porque se analisarmos o próprio conceito prático “dilatório” verificamos
que é considerado dessa forma porque vai proferir/protelar para outro momento o início de contagem de um
outro prazo. Estaríamos também a violar uma regra que está prevista no CPC - o artigo 142º.

Sempre que temos um prazo dilatório e perentório o primeiro que irá ser contado é o prazo dilatório

Se ainda assim pensássemos contar o prazo dilatório apenas no final, tínhamos um problema relativamente
ao prazo de complacência. Na prática, teríamos duas espécies de prazos de complacência – o 139º/5 e o prazo
dilatório.

Prazos perentórios: É aquele cujo seu decurso extingue o direito de praticar o ato, isso significa que a grande
maioria dos prazos que encontram no CPC são prazos perentórios 139º/3 CPC.

Prazo judicial ou processual

Quais são as características do prazo judicial?

A 1ª característica decorre do artigo 138º/1, o prazo judicial é contínuo, ou seja, a característica da


continuidade, o que é que isto significa?

Começa a correr independentemente de assinação (o ato de assinar), em princípio, há alguns que só


começarão a correr com esse ato de assinatura, se estivermos a contar com um prazo perentório de
contestação e se pensarmos na citação pessoal por via postal registada, acabamos por ver que há esse ato de
assinatura por parte do citando ou por parte de terceiro (a regra é que correr independentemente de
assinação).

Depois, por outro lado também corre seguido, pese embora haja relativamente a esta contagem seguida…

O que significa a contagem seguida?

Contrariamente a outros prazos, no domínio da organização administrativa, onde tomamos apenas em


consideração para efeitos de contagem de prazo os dias úteis, nos prazos processuais isso não interessa.

Isso inclui quer os dias úteis ou não úteis, os dias úteis e não úteis vão ter outras implicações designadamente
na chamada presunção de elaboração ou de seguimento de registo ou então relativamente ao prazo de
complacência do 139º/5 onde esse apenas toma em consideração os dias úteis (são apenas duas exceções à
regra geral).

O legislador estabelece logo de seguida, que o prazo, em determinadas circunstâncias, suspende-se.

Que circunstâncias são essas?

As chamadas férias judiciais, uma das consequências das férias judiciais é, sem dúvida, a suspensão da
contagem dos prazos que se encontram em curso de acordo com o artigo 28º LOSJ.

As férias judiciais decorrem em 22 de dezembro a 03 de janeiro, de Domingo de Ramos a Segunda-feira de


Páscoa, e de dia 16 de julho a 31 de agosto.

NOTA – As férias da Páscoa, este ano, vão correr entre o dia 10 de abril ao dia 18 de abril (inclusive).

Érica Pereira
DPCD 25

Suspendem-se os prazos durante as férias judiciais, salvo se, - 138º/1 - se tivermos perante prazos que a
duração é igual ou superior a 6 meses, que prazos podem ter esta duração?

Por exemplo, se tivermos perante situações em deserção da instância ou a deserção de recursos, os prazos
são sempre superiores a 6 meses e podem entrar nesta contabilidade - 281º CPC.

Ainda se estabelece no artigo 138º (parte final) - processos de natureza urgente - Também esses, o prazo
conta-se ainda que em férias judiciais Ex: Procedimentos cautelares.

138º/4 - Os prazos de caducidade para propositura de ações que se encontrem previstos no CPC seguem que
acabamos de ver.

Em que circunstâncias é que temos a previsão destes prazos de caducidade para propositura de ações?

® Desde logo, o prazo do artigo 371º/1, relacionado com a instauração de ação de impugnação por parte do
requerido quando tiver havido a inversão do contencioso.

® O prazo do artigo 395º, quanto à caducidade do procedimento cautelar especificado de arresto.

® O prazo do artigo 373º/1/a) quanto à caducidade da providência cautelar, no caso de não haver a
propositura da ação da qual a providência cautelar dependia, dentro do prazo de 30 dias contados da
data da notificação do trânsito em julgado da decisão.

® A nível dos recursos temos o artigo 697º que também estabelece um prazo de caducidade relativamente
à instauração de ações.

2ª característica - Prorrogabilidade.

O prazo judicial é prorrogável de acordo com o artigo 141º que nos seus números 1 e 2 estabelece duas
possibilidades relativamente à prorrogabilidade, no número 1 a prorrogabilidade resultante da lei.

Prorrogabilidade via lei - prorrogação do prazo para contestar 4 e 5 do artigo 569º CPC bem como, quanto à
réplica (prazo para replicar) 585º.

Prorrogabilidade por acordo das partes - 141º/2.

Alínea b) do artigo 279º estabelece que na contagem de qualquer prazo nunca se conta a data em que ocorre
o evento. Ex: Se eu tiver uma situação de citação pessoal por via postal, o evento é, neste caso em concreto a
aposição da assinatura por parte do citando ou por parte do terceiro. O próprio dia em que é aposta essa
assinatura não entra para efeitos de contagem de prazo, o prazo conta-se sempre a partir do dia seguinte.

Existe ainda outro aspeto que importa referir que decorre do artigo 138º/2, em que quando o último dia do
prazo para a prática de um determinado ato, coincidir com o dia em que os tribunais estão encerrados passa
para o dia imediatamente subsequente, ou seja, nos dias não úteis os tribunais encontram-se encerrados
onde o dia irá passar para o dia útil seguinte, sendo certo que, a este propósito, e de acordo com o número 3
também se consideram encerrados os tribunais quando for concedida tolerância de ponto.

Normalmente os prazos, são marcados ou por lei ou por intermédio de despacho do juiz, mas por vezes isso
não sucede.

Ex: O juiz notifica as partes para a prática de um determinado ato processual, mas nada diz relativamente a
um prazo, nessas circunstâncias, qual é o prazo que a parte dispõe para a prática desse determinado ato?

É o prazo supletivo geral que decorre do artigo 149º e é um prazo de 10 dias, isto quanto às partes. O prazo
para a prática de atos por parte dos magistrados judiciais também é de 10 dias (156º/1), exceto o que diz
respeito ao despacho de mero expediente (153º/3) que são 2 dias. Relativamente à prática dos atos por dos

Érica Pereira
DPCD 26

magistrados do Ministério Público, o prazo para eles procederem à sua produção é de 10 dias (156º/2),
exceto em promoções de mero expediente (153º/3) cujo o prazo também é de 2 dias. Relativamente à
secretaria, o prazo supletivo geral é de 5 dias (162º/1).

Quanto à citação a única coisa que nos deve preocupar, tirando a questão da dilação ou da potencial dilação
via artigo 245º, é saber em que dia é que a citação se considera efetuada, porque a partir do momento em
que sei o dia em que a citação se considera efetuada apenas tenho que fazer uso do artigo 279º/b) do CC e
começar a contar o prazo a partir do dia seguinte. Só que, a citação é apenas uma espécie das notificações e,
portanto, podemos ter ao longo do processo uma série de notificações que têm uma regra diversa
relativamente à citação.

Presunção de elaboração, ou de recebimento ou de registo (248º/1) - Implica que as partes tenham um


mandatário judicial constituído, nessa circunstância, quando é que consideramos que esse mandatário judicial
se encontra notificado para a prática de determinado ato judicial?

Nos termos da lei, temos que ter, através da portaria que regula o Sitius, uma data de elaboração da
notificação. Sempre que a secretaria notifica o mandatário, é expedido um ficheiro pdf que no canto superior
direito diz a data da elaboração, vamos partir do pressuposto que a data de elaboração é o dia 23 de março
de 2022 (quarta-feira). Quando é que eu considero o mandatário judicial notificado desta notificação que foi
elaborada por parte da secretaria no dia 23?

Eu considero-o notificado no 3º dia posterior ao da elaboração, exceto quando esse 3º dia não seja um dia
útil, nesse caso eu considero-o notificado no 1º dia útil após o dia 3º.

Ex.: Tenho uma notificação que é elaborada hoje (quarta-feira, dia 23), o primeiro dia da presunção é amanhã
dia 24 (quinta-feira), o segundo dia da presunção é dia 25 sexta-feira e o terceiro dia seria no sábado, ora o
sábado não é um dia útil, ou seja, eu tenho que considerar o mandatário notificado apenas no dia 28
(segunda-feira). Para começar a contar o prazo, em concreto, só o vou começar a contar no dia 29 (terça-
feira).

Por vezes as notificações são feitas às próprias partes, porque elas não têm mandatário judicial constituído,
nesse caso, como é que a notificação é feita?

É feita por carta registada, o tribunal vai registar aquela carta tendente à notificação da própria parte em
determinado dia, mas a parte não se considera notificada nesse dia, só se vai considerar notificada no 3º dia
posterior ao do registo ou no 1º dia útil subsequente quando o 3º não seja.

Isto só é aplicável nos casos das notificações, não podemos utilizar este raciocínio num caso de citação.

Prazo de complacência - 139º/5/a/b/c CPC - O último dia do prazo perentório pode não ser de facto o último
dia, porque o legislador concede à parte, a possibilidade de ela praticar o ato depois do prazo perentório,
desde que ela pague uma multa, dependendo do dia em que vai praticar esse ato, pode praticá-lo num dos 3
primeiros dias úteis subsequentes ao termo do prazo perentório, o valor da multa vai aumentando consoante
a prática do ato se vê no 1º (10% da taxa de justiça) , 2º (25%) ou 3º dia útil (40%). Por vezes, esta multa pode
ser dispensada por parte do juiz de acordo com o artigo 139º/8, é muito mais fácil conceder essa dispensa
quando é a própria parte que não tem mandatário constituído a requerê-lo, do que, obviamente, quando tem
mandatário judicial.

Justo impedimento - 140º CPC - O justo impedimento funciona quase como um enriquecimento sem causa,
subsidiariamente, quando já não há nada a fazer lança-se mão desta figura.

Após o 3º dia útil disponibilizado pelo artigo 139º/5 (prazo de complacência) eu ainda não ter conseguido
praticar o ato, posso utilizar o justo impedimento. Este, pode ser utilizado no âmbito do próprio prazo

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DPCD 27

perentório, não tenho que ser sacrificado pelo pagamento da multa derivado do artigo 139º/5/a/b/c) e posso
vir invocar o justo impedimento ainda no decurso do prazo perentório.

Posso vir a invocar um justo impedimento no âmbito do decurso de um prazo de complacência?

Posso, pode surgir para além do 3º dia útil, ou seja, ainda terei uma possibilidade extraordinária de praticar o
ato ao abrigo deste mecanismo previsto no artigo 140º/1.

O que é isto do justo impedimento?

É o evento não imputável à parte, nem aos seus representantes ou mandatários, que obste à prática
atempada do ato, a parte não pode ter contribuído com o seu comportamento para a impossibilidade da
prática do ato, se tiver contribuído não é justo impedimento Ex: O mandatário tinha que dar entrada de uma
peça processual, mas ficou sem computador, vem invocar um justo impedimento, há jurisprudência no
sentido em dizer que não o pode fazer, um vez que se o mandatário fosse cauteloso faria cópias de segurança
(cloud ou nuvem).

Nos termos do número 2 há determinados requisitos que devem ser observados para se fazer uso deste justo
impedimento, desde logo o facto de ter que haver requerimento por parte da parte, deve haver o
oferecimento da prova e por outro lado é preciso que o requerente demonstre ao juiz que veio alegar o justo
impedimento logo imediatamente ao conhecimento ou à cognoscibilidade do facto que evitou a prática
atempada do ato.

Que circunstâncias podem ser equacionadas em termos de justo impedimento?

® Uma doença súbita e grave por parte do mandatário judicial;


® O mandatário que no último dia do prazo tem o falecimento de um familiar (cônjuge, ascendente,
descendente);
® Um dos casos era a incompatibilidade com uns determinados browsers com os plugins que decorriam
da plataforma Sitius (Google Chrome, FirefoxWall);
® Catástrofe natural;
® Greve de funcionários judiciais sem prestação de serviços mínimos.

Caso prático 1

® Citação de pessoa singular por via postal (artigo 228.º do CPC);


® Tribunal Judicial da Comarca de Bragança (Juízo Local Cível de Bragança); Réu: Abel Belarmino da Cunha,
com residência em Vila Real;
® Processo comum de declaração;
® Carta expedida em 28.02.2022 e assinada em 04.03.2022;
® Até que dia pode ser apresentada a contestação?

Resposta - A carta tinha sido expedida a 28.02 mas apenas assinada a 04/03

230º/1 - no dia em que se mostre assinada o aviso de receção.

Primeiramente devemos identificar se existe um prazo perentório (30 dias) 569º/1, e verificar se existe um
prazo dilatório (5 dias) 245º/1/b.

Quando temos dois prazos, começa-se a contar primeiro o dilatório e depois o perentório, provoca-se no
tempo o início de contagem. 142º - Quando um prazo perentório se seguir a um prazo dilatório, os dois
prazos contam-se como um só.

Érica Pereira
DPCD 28

Há uma regra no âmbito do CC, onde na contagem de qualquer prazo não se inclui o dia, nem a hora, se o
prazo for de horas, em que ocorrer o evento a partir do qual o prazo começa a correr, em que As regras
constantes do artigo 279.º são aplicáveis, na falta de disposição especial em contrário, aos prazos e termos
fixados por lei, pelos tribunais ou por qualquer outra autoridade.

O prazo dilatório é de dia 05.03 a 09.03 o prazo perentório começa a contar-se a partir do dia 10.03. O prazo
perentório termina no dia 08.04. Podia haver relevância das férias judiciais. (Férias de 10 a 18 de abril
inclusive), o dia 9 não conta (sábado dia nao útil) - Férias judiciais (artigo 28º LOSJ) de 10.04 a 18.04

139º/5 - 19+20+21/04

Artigo 140º - justo impedimento

Caso prático 2

® Citação de pessoal singular por via postal (artigo 228.o do CPC);


® Tribunal Judicial da Comarca de Coimbra (Juízo Local Cível da Figueira da Foz); Réu: David Etelvino
Fonseca, residente em Pombal;
® Processo comum de declaração;
® Carta expedida em 28.02.2022 e assinada pelo filho de David em 03.03.2022; Até que dia pode ser
apresentada a contestação?

Resposta - A citação é assinada pelo filho, algo que não acontecia

1º passo - 230º/1 - A citação postal efetuada ao abrigo do artigo 228.º considera-se feita no dia em que se
mostre assinado o aviso de receção e tem-se por efetuada na própria pessoa do citando, mesmo quando o
aviso de receção haja sido assinado por terceiro, presumindo-se, salvo demonstração em contrário, que a
carta foi oportunamente entregue ao destinatário, ou seja, a citação é efetuada no dia 3 de março.

245º/1/a e b) - há cumulação de dilações - 2 dilações de 5 dias cada (10 dias) - (A citação tenha sido realizada
em pessoa diversa do réu, nos termos dos n.os 2 do artigo 228.º e 2 e 4 do artigo 232.º; O réu tenha sido
citado fora da área da comarca sede do tribunal onde pende a ação, sem prejuízo do disposto no número
seguinte). - 245º/4

Nos termos do artigo 569º/1 o prazo perentório é de 30 dias

142º - Quando um prazo perentório se seguir a um prazo dilatório, os dois prazos contam-se como um só.

Há uma regra no âmbito do CC, onde na contagem de qualquer prazo não se inclui o dia, nem a hora, se o
prazo for de horas, em que ocorrer o evento a partir do qual o prazo começa a correr, em que As regras
constantes do artigo 279.º são aplicáveis, na falta de disposição especial em contrário, aos prazos e termos
fixados por lei, pelos tribunais ou por qualquer outra autoridade.

O prazo dilatório é de dia 04.03 a 13.03.

O prazo perentório começa no dia 14.04 termina no dia 21.04.

Ferias judicias (28º LOSJ)

139º/5 + 22 + 26 + 27

140º justo impedimento

Érica Pereira
DPCD 29

Caso prático 3

® Notificação nos termos e para os efeitos do artigo 149.º/1 do CPC; Notificação expedida (para a própria
parte) e registada em 30.03.2022.

Resposta - Na falta de disposição especial, é de 10 dias o prazo para as partes requererem qualquer ato ou
diligência, arguirem nulidades, deduzirem incidentes ou exercerem qualquer outro poder processual; e
também é de 10 dias o prazo para a parte responder ao que for deduzido pela parte contrária. Prazo supletivo
geral.

A presunção da notificação é a do 3º dia posterior à do registo ou no ???. O terceiro dia posterior ao registo
tem que ser útil. Encontrava-se efetuada no dia 4 de abril. 249º/1

Começamos a contar a partir do dia 05.

26.04 - 138º/2

139º/5

140º

Caso prático 4

® Notificação de contestação com pedido reconvencional; Processo comum de declaração;


® Notificação expedida e registada (ou elaborada) em 13.07.2022; Até que dia se pode oferecer a réplica?

Resposta - 18 - encontra-se efetuada

Data de elaboração

Prazo perentório - 30 dias - A réplica é apresentada no prazo de 30 dias, a contar daquele em que for ou se
considerar notificada a apresentação da contestação. 585º.

Pese embora os tribunais estejam encerrados durante as ferias,

1 de setembro começa a contar - 30 de setembro - 3+4+6

140º justo impedimento

Contestação

® É um articulado dito normal

Na prática traduz-se no exercício do princípio contraditório no âmbito do processo comum de declaração, não
só, mas também.

O princípio do contraditório encontra-se disseminado em várias normas do código civil. No entanto, a


contestação, na prática, é o exercício do princípio do contraditório.

O que é contestar? – Significa negar, contraditar, desdizer, impugnar.

Na prática, isso é importante para entender para que serve a contestação.

Servirá para que o réu possa tomar uma posição jurídica quanto à peça processual do autor (ao articulado
inicial – PI), e, obviamente, em princípio, será uma posição de negação em relação aos factos que servem de
causa de pedir no âmbito da PI.

Érica Pereira
DPCD 30

Requisitos e Formalidades

Tal como na PI existe uma série de requisitos e formalidade presentes no 552º.

Ora, no que diz respeito à contestação também iremos ter, para os efeitos o artigo 572º do CPC onde
pudemos detetar a existência dos requisitos e das formalidades inerentes à contestação.

Podemos referir que a nossa contestação tem de ter um endereço, embora não refira expressamente, é obvio
que o réu a partir do momento em que é citado, já sabe qual é o tribunal, o juízo, e o juiz onde pende a ação
onde ele vai contestar – tem de dirigir a sua contestação a esse tribunal, a esse juiz.

Vai conseguir individualizar a ação, coisa que o autor não conseguiu fazer, porque quando o autor deu
entrada da PI, ainda não tínhamos o ato formal da distribuição, só quando a ação é distribuída é que temos o
número do processo, e esse número do processo terá de constar a contestação. Quando o legislador fala em
individualizar a ação, na prática, é fazer a ligação entre a contestação e o processo em concreto – alínea a)
572º do CPC.

Por outro lado, também iremos ter outra preocupação – O autor, na PI, tem de alegar os factos essenciais no
quais estruturava as suas pretensões, com o réu acontece exatamente a mesma coisa, ele também tem de
alegar os factos essenciais – mas aqui serão os factos essenciais que assentam na sua defesa, em princípio por
exceção – são os factos que podem impedir, modificar ou extinguir o efeito jurídico pretendido por o autor.

Ou seja, também que terá de existir a preocupação por parte do réu de carrear para a sua contestação factos
(alínea c - 572º). Se não o fizer, veremos que, iremos ter a possibilidade da admissão dos factos por acordo se
eles não forem impugnados – alínea c) 572º que deve ser lida em conformidade com o artigo 574º do CPC.

Requerimento probatório

A contestação também se deve fazer acompanhar de um requerimento probatório, a PI também tinha de ter
a proposição dos meios de prova (tinha que ter um requerimento probatório), ora não faria sentido que
tivéssemos aqui a desequilibrar o princípio da igualdade. E, portanto, se o autor tem desde logo que dizer
quais são os meios de prova onde assenta toda a sua fundamentação e também o réu o deve fazer (alínea d)
do artigo 572º CPC)

Entre os requisitos e formalidades tal igual como aconteceu em relação ao autor – o réu também de pagar a
taxa de juros de igual forma, bem como apoio judiciário – 570º do CPC

Prazos

Quanto ao prazo são 30 dias de contestação – artigo 569º n1 do CPC sem prejuízo de puder haver uma
dilação resultante do 245º do CPC.

Aqui interessa a possibilidade que existe ou não de se pedir uma prorrogação do prazo para contestar. Ou
seja, partimos do pressuposto que a PI é de tal forma extensa que ocupa 200 ou 300 páginas, para além desta
extensa PI, o autor ainda junta bastantes documentos.

O réu, mais propriamente o mandatário, quando começa a elaborar a contestação irá entender que não tem
tempo para elaborar a mesma, pode pedir a prorrogação?

Se tiver fundamentos para tal, se fizer um requerimento ao juiz, pode gozar da prorrogação do prazo para
contestar.

Érica Pereira
DPCD 31

Essa prorrogação terá como prazo máximo, o prazo que está previsto para a contestação – ou seja, só posso
pedir uma prorrogação pelo máximo de mais 30 dias. Não quer dizer que o tribunal a conceda, posso fazer um
requerimento de prorrogação a pedir mais 30 dias e o juiz considerar, atendendo à justificação que foi
aduzida, que apenas pode beneficiar de 10\15 dias – O limite máximo é de 30 dias – artigo 569º n5 do CPC.

E a nível de aspeto procedimental – 569º n6, este número é bastante relevante, porque vem dizer que
apresentação do requerimento da prorrogação não suspende o prazo que está em curso. Muitas vezes ao
pedir-se a prorrogação do prazo para contestar, julga-se que com isso que, enquanto não há um despacho do
juiz, o prazo suspende-se – não há qualquer tipo de suspensão.

Ex: Se estou a fazer um requerimento de prorrogação do prazo no 30º dia e se o juiz, cumprindo com a
determinação legal, se vai decidir em 24 horas, o que faz com que a decisão seja apenas feita no 31º dia, se o
juiz indeferir o requerimento de prorrogação – o prazo perentório já passou.

NOTA – Ainda pode também pode beneficiar dos 3 dias úteis mediante o pagamento de multa, mas o prazo
não se suspende.

O ideal é fazer o requerimento de prorrogação ao mais depressa possível.

Conteúdo da contestação

Para isso temos de estabelecer uma diferenciação quanto às modalidades de contestação que existem:
artigo 571º, 576º e 583º do CPC.

® Contestação de defesa

Quando o réu tem uma preocupação que é dar resposta à pretensão, ou às pretensões que foram aduzidas
pelo autor no âmbito da sua petição inicial. Na prática, o réu vai se colocar no mesmo carril que está a ser
utilizado pelo autor. É muito mais comum, sobreleva a contestação reconvenção.

® Contestação reconvenção

Vai implicar que o réu decida contra-atacar, não está apenas interessado em defender, vai contra atacar.

De que forma? – Através de uma outra ação dentro da mesma ação – na prática, a partir do momento que
temos um pedido reconvencional passamos a ter duas ações, dentro daquele processo. Nem em todas as
situações podemos ter um pedido reconvencional,

Podemos ter a cumulação de tudo o que está no esquema.

Érica Pereira
DPCD 32

A mesma peça processual pode ser uma contestação defesa e reconvenção, pode ter defesa por exceção
dilatória, defesa por exceção perentória ou até mesmo defesa por impugnação - pode tudo coabitar no
âmbito da mesma contestação. Isto é, caso estejamos perante uma contestação defesa por exceção dilatória
não faz sentido estar aduzir a exceção perentória, nem tão pouco a impugnação, se a exceção dilatória for
julgada improcedente vai ter como consequência a absolvição do réu da instância e portanto, o juiz já nem se
vai pronunciar quanto às outras facetas da contestação.

Como vimos a propósito da PI e dos pedidos – a questão de os pedidos serem subsidiários, aqui funciona da
mesma forma – o réu vai utilizando camadas a nível da sua contestação e só para a mera eventualidade
dessas camadas não irem surtindo efeito é que se passa para a camada seguinte.

Por exemplo: se estou perante uma exceção dilatória de ilegitimidade, em que o réu é parte ilegítima, não faz
sentido de analisar qualquer outro tipo de aspeto a nível de contestação – mas nós fazemo-lo. Porque há
outro princípio a nível da contestação, que é essencial, que é o princípio da concentração da defesa na
contestação. E isto implica que o réu não possa guardar qualquer trunfo para depois, tudo aquilo que possa
resultar a seu favor em sede de defesa terá de ser apresentado na contestação.

1. Contestação defesa por impugnação

Estabelece no n2 do 571º, que o réu se defende por impugnação quando contradiz os factos articulados na
petição ou quando afirma que esses factos não podem produzir o efeito jurídico pretendido pelo autor;

Fazemos a seguinte divisão:

® Negação direta – Quando digo que os factos que estão a ser articulados pelo autor são falsos, ou dito de
outra forma não são verdadeiros, são inverídicos.

® Negação indireta – Aqui iremos dizer que o efeito jurídico que é pretendido pelo autor não pode ser
obtido, podemos acrescentar outra coisa que é:

o Oposição de facto – Quando dizemos que os factos articulados pelo autor são falsos, não são
verdadeiros.

o Oposição de direito – Quando dizemos que a norma utilizada pelo autor para estruturar o seu pedido
não é aplicável àquele caso concreto.

O que é essencial é o facto e não o direito – há sempre a tentação também em sede de contestação, de
virmos invocar direito que também sustenta a nossa posição e que tente inverter o que está a ser pedido pelo
autor no âmbito da PI – Não temos de ter obrigatoriamente só uma oposição de facto.

Podemos ter uma oposição de facto e uma oposição de direito, posso só ter uma delas e posso ainda ter outra
coisa: desconhecimento de facto, que irá ter 1 de 2 consequências – decorrem expressamente do n3 do
artigo 574º CPC. Esta declaração vai equivaler a confissão quando estejamos perante um facto pessoal ou de
que o réu deva ter conhecimento e vai equivaler a impugnação no caso em contrato.

® O esquema abaixo descrito é a concretização do princípio da boa-fé processual – Se invocamos matéria


de exceção convém alertar a parte contrária (juiz) que há matéria de exceção e se venho deduzir uma
reconvenção também devo alertar a parte contraria de que o estou a fazer – para permitir à parte
contrária os exercícios inerentes à sua própria defesa (a parte aqui é o autor).

Atualmente a réplica apenas serve para dar resposta à reconvenção, pode acontecer de moto próprio que o
autor faça um requerimento aos autos no sentido de pedir ao juiz que antes mesmo da segunda fase
(audiência prévia) lhe seja dada a possibilidade de pronunciar quando a está matéria da exceção e por outro

Érica Pereira
DPCD 33

lado por ser o próprio juiz (como se vê muitas vezes a suceder) a dar oportunidade da parte contrária através
de um requerimento vir pronunciar-se quanto a esta defesa por exceção – relacionado com outro principio
que é:

® Princípio da economia processual – Quando chegarmos à audiência prévia convém não estar uma tarde
a discutir relativamente às exceções dilatórias que já podiam ter sido discutidas no âmbito dos
articulados.

Na impugnação deve-se fazer 1 de 3 coisas – acima descritas.

Na defesa por impugnação devemos passar os factos da PI uma a um, e identificar todos os factos e dizer se
eles são verdadeiros ou falsos. A consequência de não tomarmos uma posição em concreto quanto a um
facto é estar a admiti-lo, é não o impugnar. Um dos aspetos essenciais no âmbito da defesa por impugnação é
identificar todos os factos e dizer se são verdadeiros ou falsos.

Bom seria se a PI tivesse apenas um facto por cada um dos artigos, ou que tivesse apenas factos – Só que a PI
vai ter factos misturados com direito, vai ter matéria conclusiva e essa não é necessário impugnar, etc.

2. Contestação defesa por exceção

As exceções podem ser perentórias ou dilatórias – 576º/1 CPC

® Exceções dilatórias

As exceções dilatórias são aquelas que obstam à apreciação do mérito da ação, a simples verificação dos
autos de uma exceção dilatória pode provocar a absolvição do réu da instância.

Artigo 577º – nas suas várias alíneas tem uma série de circunstâncias que nada mais são do que a falta de
pressupostos processuais. Grande parte delas estão aqui previstas, mas nem todas estão previstas – o
legislador refere “entre outras”, esta enumeração não é taxativa mas exemplificativa comporta outras
circunstâncias.

Ex: A falta do interesse em agir; Dedução de uma reconvenção quando não seja admissível estas
circunstâncias podem gerar também exceções dilatórias.

Érica Pereira
DPCD 34

– Exceções perentórias

Ao invés de estar no terreno da forma e do processo – passamos para um terreno da alegação de facto. Só
que os factos que estão a ser invocados por parte do réu são factos que vão impedir, modificar ou extinguir o
efeito jurídico pretendido pelo autor. O autor na sua PI vem invocar os factos constitutivos, o réu vem invocar
isso os factos impeditivos, modificativos ou extintivos.

As exceções dilatórias vão conduzir à absolvição do réu ou, num caso concreto à remessa dos autos para o
tribunal competente. Enquanto as exceções perentórias vão conduzir à absolvição total ou parcial do pedido.

As exceções perentórias podem ser:

Fazemos apelo a um critério temporal para apurar de qual se trata

® Impeditivas – Ocorrem antes ou ao mesmo tempo relativamente à apresentação da pretensão em sede


da PI – um dos exemplos de exceção perentória impeditiva é o da causa de nulidade ou anulabilidade dos
negócios jurídicos.

® Modificativas – Não surgem antes, mas sim depois. Ex: Caso da moratória.

® Extintivas – Surgem depois da instauração da própria ação. Ex: Pagamento, perdão, caducidade e
prescrição.

O problema é que ao invés de estarem descritas no CPC constam no CC e não estão perspetivadas como
exceções perentórias. O que temos de ver é se o facto que está a ser invocado pelo réu vai ter como condão
impedir, modificar ou extinguir o efeito jurídico pretendido pelo autor – se isso suceder estamos perante uma
exceção perentória.

Artigos 578º e 579º – conhecimento das exceções dilatórias e perentórias.

As dilatórias são conhecidas oficiosamente pelo tribunal, as perentórias, pese embora, se diga que o tribunal
conhece oficiosamente das mesmas, só o faz cuja invocação a lei não torne dependente a vontade do
interessado – tem de ser invocada pelo interessado (leia-se pelo réu).

Princípios que norteiam a contestação por defesa:

• Princípio Concentração da defesa na contestação

“Não guardar trunfos na manga” para um momento posterior, isto está previsto no artigo 573º n1 – embora
podemos ter aqui alguns casos em que se podem aduzir determinados argumentos de defesa fora da
contestação, desde logo, situações inerentes à defesa superveniente - articulados supervenientes (artigo 588º
e 589º; 2º situação de arguição da defesa fora da contestação – incompetência absoluta artigo 98º do CPC -
poderá ser conhecida a qualquer momento.

• Princípio ou ónus da impugnação.

Tenho de tomar uma posição quanto à factualidade que é apresentada pelo autor sob pena de estar a admitir
essa factualidade.

A ao ano 1927 tínhamos a possibilidade de fazer a impugnação genérica a partir dessa altura passou a ser
obrigatório fazer-se a impugnação especificada (tinha que impugnar facto a facto). Atualmente temos algo
mitigado, ou seja, tenho o ónus de impugnação que não é sinónimo de impugnação especificada, o que
significa que posso ao invés de dizer:

Érica Pereira
DPCD 35

“Não correspondem à verdade os factos 1,2,3,4,5” atualmente podemos dizer que “não correspondem à
verdade os factos de 1 a 5” – não preciso de tomar uma posição concreta e definida relativamente a cada um
desses factos, algo que ao nível da impugnação especificada era imperioso suceder.

Contestação Reconvenção

Na prática, quando o réu deduz uma convenção ele está a formular um pedido contra o autor. Daí podemos
dizer que dentro do mesmo processo há uma espécie de 2 ações:

® A ação que foi instaurada pelo autor contra o réu;


® A ação que é instaurada pelo réu contra o autor (subsidiariamente).

Modo de apresentação e a sua autonomia:

Mas esta ação que é instaurada pelo réu contra o autor não é instaurada pelo modo habitual que temos vindo
a falar, não há uma PI - há um aproveitamento de um articulado que já vai ser apresentado, que é o articulado
normal da contestação, para se apresentar o pedido reconvencional. Isto marca uma diferença relativamente
ao modo originário do surgimento da reconvenção, no âmbito do nosso ordenamento jurídico processual civil.
A reconvenção quando começou a ser utilizada era, na prática, um incidente. A partir de determinada altura a
reconvenção passou a ser obrigatoriamente deduzida no âmbito da contestação.

No entanto, apesar de haver uma relação umbilical entre a contestação e reconvenção – é preciso tomar em
consideração que estamos perante um pedido completamente autónomo relativamente ao pedido que é
formulado pelo autor contra o réu.

Essa autonomia é notória no simples facto do autor desistir do seu pedido e o processo prosseguir os seus
termos para a apreciação do pedido reconvencional – não há melhor prova dessa autonomia.

O processo vai prosseguir para se analisar o pedido reconvencional, a não ser que a desistência do pedido do
autor contra o réu corresponda também a uma desistência do pedido reconvencional formulado pelo réu
contra o autor – nesta circunstância o processo finda nesse mesmo momento.

Partindo do princípio de que isto não sucede, o processo irá prosseguir para a apresentação do pedido
reconvencional.

Valor

Um dos requisitos da PI é a formulação do pedido e a apresentação do valor no que diz respeito à


reconvenção o valor também tem obrigatoriamente de estar previsto.

Na contestação iremos ter apresentação de dois valores:

1. Valor que corresponde à dita ação que foi instaurada pelo autor contra o réu – partindo do princípio de
que não há impugnação quanto ao mesmo, vai ser o valor que foi atribuído pelo autor no âmbito da PI.
Normalmente na contestação vemos o mesmo valor.
2. Valor da reconvenção - é mais uma nota de autonomia do pedido reconvencional relativamente ao
pedido que foi reformulado pelo autor

Quando temos dois valores na contestação podemos equacionar se há ou não a soma entre esses 2 valores,
para sabermos isso temos de lançar mão de alguns artigos:

® Art. 583º nº2 - É o preceito legal que estabelece a necessidade de declaração de valor ao nível da
reconvenção – sob pena de não sendo indicado esse valor, a contestação ser recebida, pese embora, o
reconvinte ser convidado a indicar o valor, sob pena de a reconvenção não ser atendida.

Érica Pereira
DPCD 36

® Art. 299º n1 e 2 – Nos termos do n1 verificamos que na determinação do valor da causa devemos
atender ao momento em que ação é proposta, no entanto, há uma exceção, exceto quando haja
reconvenção – havendo esse pedido reconvencional, nos termos do n2, vai ser somado ao valor do
pedido formulado pelo autor apenas quando os pedidos sejam destintos, então há uma dupla
remissão para o 530º n3.

Isto também é relevante para outro efeito, para o efeito de auto liquidação da taxa de justiça, ou seja, ao
deduzir um pedido reconvencional e obrigatoriamente tenho de indicar um valor, mas não tenho de auto
liquidar logo imediatamente uma taxa de justiça devida por esse pedido reconvencional - só o teremos de
fazer se tivermos perante um pedido distinto, relativamente àquele que é formulado pelo autor, porque
nessa circunstância teremos de ter uma soma entre os dois valores e teremos de pagar a taxa de justiça
devida pelo pedido reconvencional.

Isto pode ter implicações ao nível da competência, porque havendo a soma entre os valores, se fruto dessa
soma, houver a competência de outro tribunal, o juiz tem de remeter os autos para esse tribunal que passa a
ser competente:

Ex: Na confrontação entre um juízo local cível e um juízo central cível; 1 processo comum até 50 mil euros, e
que haja à posteriori um pedido reconvencional, podemos ter um processo a passar do juízo local para o juízo
central, pelo simples facto de haver a dedução de um pedido reconvencional - número 2 do artigo 93º do
CPC.

A taxa de justiça tem de ser paga por ambos – por oposição à reconvenção

Requisitos de admissibilidade da reconvenção

Desde logo, dizer que o CPC de 2013 representou uma espécie de corte relativamente a um requisito que se
prendia com o valor, porque até ao CPC de 2013 apenas podíamos ter a dedução de pedidos reconvencionais
se estivéssemos perante ações com a alçada superior ao valor da alçada da primeira instância – este requisito
já não existe, ou seja, podemos ter uma a dedução de um pedido reconvencional em ações que tenham um
valor até 5 000€.

Requisitos de admissibilidade

• Requisitos processuais ou adjetivos requisitos

Requisitos processuais ou adjetivos não consta a questão do valor, temos de ter logo a competência absoluta
do tribunal, por via de uma imposição legal resultante do 93º n1 do CPC – nos requisitos processuais conta-se
a competência absoluta (1º requisito).

2º requisito resultante do artigo 266º/3 CPC – Na prática, uma vez que não temos a diferença entre o
processo comum de declaração entre as diferentes formas ordinárias (sumária e sumaríssima) – só
poderemos ter uma diversidade de formas processuais de duas formas: ou duas formas de processo especial
distintas ou uma forma de processo comum vs uma forma de processo especial – quando isso acontecer, salvo
se no caso específico, o juiz autorizar, não há admissibilidade de reconvenção.

3º requisito – Identidade subjetiva das partes em posições inversas – Na prática, aquela relação jurídico-
processual que inicialmente que era bilateral e passou a ser triangular (envolve o autor, o réu e o tribunal) -
tem de se verificar ao nível do pedido reconvencional, só que em posições inversas, ou seja, o autor que é
parte ativa da relação jurídico processual, no âmbito da reconvenção vai ser a parte passiva, o réu que é a
parte passiva ao nível da relação jurídica processual, ao nível da reconvenção vai passar a ser parte ativa – n1
e n4 (pode envolver partes que não sejam as primitivas) do artigo 266º CPC.

Érica Pereira
DPCD 37

• Requisitos materiais ou substantivos

Estão integrados no artigo 266º nº2, mais precisamente nas suas 4 alíneas a) a d),

Desde logo, importa referir que basta verificar-se um destes requisitos substantivos, mas que
obrigatoriamente se têm que verificar todos os requisitos adjetivos, essa cumulação, se existir, existe entre os
requisitos adjetivos e um requisito substantivo. Estas hipóteses não são cumulativas – basta acontecer uma
delas para que haja admissibilidade do pedido reconvencional.

Alínea A) – Conceito essencial da causa de pedir – Se temos a mesma causa de pedir quer no que tange à
pretensão formulado pelo autor contra o réu quer, relativamente á pretensão formulada pelo reconvinte
contra o reconvindo, então pode utilizar-se a reconvenção – estamos perante um princípio da economia
processual.

Alínea B) – Ações que incidem sobre bens imóveis, ações de despejo, ações de reivindicação – que implicam a
entrega do imóvel, mas o réu não abdica do facto de ter realizado determinadas obras no imóvel e de querer
ser ressarcido das mesmas.

Qual é a necessidade que o réu terá de instaurar outra ação quando está pendente contra ele uma ação
proposta pelo reconvindo? – Utilizamos a modalidade da contestação, para possibilitar ao réu a reclamação
dessas ditas benfeitorias ou despejas relativas à coisa cuja entrega lhe está a ser pedida.

Alínea C) – Há aqui várias questões que se podem levantar.

A compensação de créditos dá origem à extinção de obrigações, que tem relevância processual, em que
medida?

Sempre que tínhamos uma compensação – implica que as partes são mutuamente credoras e devedoras
da outra. E, portanto, que necessidade haverá de instaurar uma ação se podemos aproveitar o processo
instaurado para fazer essa reclamação?

Mas este raciocínio era só partilhado por alguma parte da doutrina, a outra parte defendia que sempre
tínhamos uma compensação de crédito deveríamos aduzi-la por via da contestação de defesa, mais
precisamente por via das exceções perentórias.

Aliás, a doutrina e a jurisprudência até iam mais longe quanto a este aspeto: Quando o contra crédito do réu
fosse superior ao crédito do autor, a doutrina considera que a vir se arguir essa compensação de crédito,
deveria ser por via da reconvenção.

O problema estava quando o contra crédito do réu era igual ou inferior ao que estava a ser reclamado pelo
autor – Aqui é que havia uma divergência.

O Professor Anselmo de Castro e o professor Vaz Serra considerava que se deveria invocar esta compensação
por via da defesa por exceção perentória.

Ao passo que os Professores Antunes Varela e Manuel Nunes de Andrade consideravam que neste caso se
deveria vir arguir a compensação por via da reconvenção.

Ora, para colocar termo à querela, o legislador em 2013 decide referir que sempre que queremos obter uma
compensação deve ser por via da reconvenção. Quer seja o contra crédito do réu seja superior, inferior ou
igual ao crédito que está a ser alegado pelo autor, devemos sempre vir por via da reconvenção.

Érica Pereira
DPCD 38

A querela não está completamente encerrada – o professor Teixeira de Sousa descobre uma hipótese que
não estaria prefigurada por esta alínea, porque o que temos nesta alínea c) do 266º o que temos é a chamada
compensação de créditos judiciária, ou seja, aquela que é operada única e exclusivamente depois da ação ter
sido proposta.

Se formos ao código civil – 848º/1 – a compensação pode operar por mera declaração e quando esta tiver
sido feita antes da ação judicial ter sido proposta, se houver necessidade de invocar a compensação não será
por via convenção, mas por via exceção perentória, na prática, será um facto extintivo alegado pelo autor.

Alínea D) – Ações de divórcio sem consentimento do outro cônjuge – ambos pretendem o divórcio, mas os
fundamentos aduzidos são distintos.

Falta de contestação

Artigos 566º a 568º do CPC.

A falta de contestação é designada por revelia, quando ouvimos que o réu é revel, é revel porque não
apresentou a contestação.

O convite que é formulado no âmbito da citação para, querendo no prazo de 30 dias apresentar a
contestação, não foi correspondido por parte do réu/citado. O processo civil estabelece consequências pela
falta de correspondência a determinados convites, aqui será por não ter contestado.

A consequências é a da revelia.

Ao nível da revelia podemos falar de 2 tipos: absoluta ou relativa.

Revelia Absoluta

O réu não dá qualquer sinal de si nos autos, não faz absolutamente nada, fica inerte. E desde logo, deve haver
uma preocupação essencial por parte do tribunal que é ver se, de facto, a citação foi ou não efetuada. Pode
surgir a dúvida de a citação não ter sido efetuada, a partir do momento que se comprove que a citação
foi efetuada – o réu está na situação de revelia absoluta – 566º do CPC.

Revelia Relativa

Utilizamos o mesmo preceito, se dissemos que a revelia absoluta implicava que o réu não desse qualquer sinal
de si nos autos. Aqui, o réu dá sinal de si nos autos - Podemos falar desde logo na constituição de mandatário,
ou seja, não vai apresentar contestação, mas junta uma procuração forense ou então apresenta um qualquer
documento nos autos.

Quais os efeitos da revelia?

® Efeito imediato – decorre do n1 do 567º – se o réu não contestar, tendo sido ou devendo considerar-se
citado regularmente na sua própria pessoa ou tendo juntado procuração a mandatário consideram-se
confessados os factos articulados pelo autor, ou seja, o efeito imediato da revelia é considerarem-se
como confessados os factos articulados pelo autor, na prática, temos uma confissão tácita, por oposição
ao que acontece no âmbito do depoimento de parte onde a confissão é expressa.

Quando se consideram confessados os factos articulados pelo autor chegamos à conclusão de que a revelia
operou o seu efeito típico, diz-se que nestes casos a revelia é operante – considera-se como confessados os
factos pelo autor.

Para termos a revelia operante temos de ter como primeiro requisito a citação pessoal – se for uma citação
edital não estamos perante uma revelia operante, mas sim inoperante b) 568º. Para a revelia ser operante
não pode corresponder a nenhuma das exceções que se encontram contidas no artigo 568º CPC.

Érica Pereira
DPCD 39

® Efeito mediato – Patente no nº2 do 567º – podemos concluir que o efeito mediato da revelia traduz-se
num encurtamento da tramitação pessoal, em que o processo passa imediatamente da fase dos
articulados (só é composto pela PI) e vai imediatamente para a discussão da matéria de direito – sendo
seguida, após o exercício no caso em que os mandatários o façam desta prerrogativa, pela prolação da
sentença.

Porém falta:

Os casos em que a revelia não é operante porque não pode operar o efeito típico da mesma, nestes casos
falamos numa revelia inoperante.

Alínea a) 568º – Se tivermos vários réus (pluralidade de réus – figura dos corréus) basta que um deles
conteste para que os outros beneficiem da impugnação que é feita pelo réu contestante. Não posso extrair o
efeito se considerar como confessados os factos articulados pelo autor. a defesa que é apresentada pelo réu
contestante vai aproveitar aos outros réus não contestantes – não se produz efeito imediato.

Alínea b)

Alínea c) 568º – No caso desta alínea, a situação dos direitos disponíveis ou indisponíveis (direitos
indisponíveis – direitos que não se encontram na livre disponibilidade das partes, normalmente as ações
sobre o estado das pessoas versam direitos indisponíveis – não posso ter confissão). Se tiver perante esses
direitos indisponíveis não tenho a verificação do efeito imediato da revelia e por isso estamos perante um
caso de revelia inoperante.

Alínea d) 568º – Se tiver uma ação que obrigatoriamente, para a prova de um determinado facto, carece de
um documento escrito (ex: uma escritura) – não posso provar a celebração dessa escritura por qualquer outra
via logo também não posso considerar esse facto admitido pela parte.

Efeitos da revelia inoperante (568º) – Destrinça entre a alínea a) e as alíneas b) a d):

® Alínea a) – Não vamos ter qualquer alteração a nível do faseamento ou tramitação processual; esta alínea
implica que um réu tinha apresentado a sua contestação e, portanto, a impugnação dos factos
aproveitava aos demais - não faz sentido que haja qualquer alteração a nível da tramitação (temos uma
PI, uma contestação, teremos a 2ª fase da gestão inicial do processo e da audiência prévia, teremos a
produção de prova, teremos a audiência final e iremos ter a prolação da sentença).

® Alíneas de b) a d) – Vai haver um encurtamento da tramitação processual desde logo, porque não se vai
realizar audiência prévia – artigo 592º/1 alínea a) – não possa ou e deva ocorrer a prática de um
determinado ato ou despacho por parte do magistrado judicial - vai haver na mesma um despacho
saneador e um despacho de enunciação dos sistemas da prova – já faz parte da segunda fase.

Fases do processo comum de declaração:

® Fase dos articulados

• Petição inicial;
• Contestação;
• Replica;
• Articulados supervenientes;

A separação que pode existir é entre a petição inicial e a contestação por um lado e entre a replica e os
articulados supervenientes por outro lado.

Porquê esta separação? – Porque em todo e qualquer processo existe a pi e a contestação e por esse motivo
designamos estes articulados como normais e não é em todo processo que existe a replica e os articulados

Érica Pereira
DPCD 40

supervenientes porque estão dependentes da verificação de requisitos de admissibilidade que não existindo
implicam que os articulados não sejam admissíveis.

O facto de os articulados não serem admissíveis não é relação causa efeito para a não existência dos mesmos
nos autos, ou seja, é obvio que muitas vezes o autor tem a plena consciência que não pode replicar, mas vai
fazê-lo, na prática, acontece algo contrário à situação da revelia.

Na revelia temos a disponibilização ao réu do exercício do contraditório e o réu não correspondendo a esse
convite não apresenta esse articulado normal, aqui temos a situação inversa temos a parte que apresenta um
articulado quando supostamente o articulado não é admissível. Enquanto nuns casos temos como
consequência a revelia no outro temos como consequência a nulidade do articulado, total ou parcial,
depende se a inadmissibilidade é parcial ou total.

Em que medida podemos ter a réplica?

584º – estabelece que a replica só é admissível para o autor deduzir toda a defesa quanto à matéria da
reconvenção não podendo a esta opor nova reconvenção.

O n1 diz que a replica atualmente tem como função primordial dar resposta à contestação reconvenção que
foi apresentada pelo réu reconvinte. Aqui esta uma alteração relativamente ao que se passava pré CPC de
2013, pré CPC, isto é, no interino compreendido entre o decreto-lei 242/85 e o CPC 2013, onde a replica
desempenhava como função principal dar resposta às exceções perentórias e dilatórias que fossem
apresentadas pelo réu no âmbito da sua contestação defesa. Atualmente isso desapareceu do código, essa
função principal passa a ser assumida no que diz respeito à dedução de defesa quanto à reconvenção.

A replica antes do CPC de 2013 ainda tinha uma outra função bastante importante que era a possibilidade de
permitir a alteração do pedido ou da causa de pedir, atualmente a replica também não serve este propósito.

A réplica está circunscrita nas ações de simples apreciação positiva, nas ações declarativas de condenação e
nas ações declarativas constitutivas está adstrita à apresentação da defesa quanto à reconvenção

Nas ações de simples apreciação negativa (n2) a replica servirá para o autor impugnar os factos constitutivos
que o réu tenha alegado e para alegar os factos impeditivos ou extintivos do direito invocado pelo autor.

Prazo para replicar

É um prazo de 30 dias de acordo com o artigo 585º a contar a partir do momento em que se considerar
notificada a apresentação da contestação. Normalmente quem faz esta notificação da contestação será a
secretaria, a partir da contestação todas as notificações funcionam entre os mandatários, a partir do
momento em que se dá entrada da peça pelo SITUS e se ativa o campo da notificação eletrónica ao colega dá-
se entrada da peça e automaticamente está a notificação eletrónica da notificação da peça.

No caso da contestação ainda não há essa notificação, na prática, será a secretaria que vai notificar o autor do
oferecimento da contestação e a partir dessa notificação vai começar a contar o prazo perentório de 30 dias
para se poder apresentar a replica.

Mas porque é que agora temos um prazo de 30 dias? – Se formos ao pré CPC de 2013 a função primordial da
replica tinha um prazo de 15 dias, parece que agora existe uma prorrogação para o dobro, o que não é
verdade, no âmbito do CPC pré 2013 tínhamos um prazo de 15 e de 30 e quanto estávamos perante a
vertente da resposta à reconvenção o prazo já era de 30 dias.

Se pensarmos no princípio da igualdade entre as partes se o réu tem 30 dias para contestar e se na prática a
replica funciona como uma defesa quanto à matéria da reconvenção estranho seria que o prazo fosse mais
curto.

Érica Pereira
DPCD 41

O que é que muitas vezes se deteta?

Que o autor se aproveita da replica para complementar, esclarecer, aditar ou corrigir factos que foram por si
alegados no âmbito da PI ou deveriam ter sido – Se atualmente eu só posso replicar para exerce o
contraditório quanto à contestação reconvenção, tudo aquilo que extravase essa matéria de defesa quanto à
reconvenção não é admissível, é preciso ver se da replica consta apenas a defesa tanto à reconvenção, se não
constar o articulado padece de uma nulidade mas é uma nulidade parcial, só diz respeito à matéria que
extravasa a meteria da resposta à reconvenção, quanto à outra ela é admissível.

Se tivermos a inadmissibilidade completa da replica teremos a nulidade total – a nulidade total vai ter um ato
material a secundá-la, ato de desentranhamento dos autos.

Desentranhar – retirar do processo, por vezes o que é que se vê? Vê-se um pedido de desentranhamento
quando parte da peça é admissível, é obvio que o tribunal não vai deferir esse pedido de desentranhamento -
há uma nulidade parcial da replica, motivo pelo qual se deve considerar como não escrita toda a mateira que
extravasa a defesa quanto à reconvenção.

A parte pode ser condenada nas custas pelo incidente – os acidentes são tipificados ou nominados ou atípicos
e nominados este é um dos casos de um incidente atípico, se apresento uma peça processual que não tinha
possibilidade de apresentar e se ela é desentranhada dos autos eu vou ser condenado nas custas pela
verificação desses incidentes, a tal ocorrência anormal ou extraordinária no processo.

Ainda existe aqui um outro aspeto a referir quanto à replica:

® Situações em que a parte deve replicar mas não o faz

A parte devia replicar (porque há uma reconvenção) e não o fez - 587º/1 – a falta de apresentação da replica
ou a falta de impugnação dos novos factos alegados pelo réu têm o efeito previsto no artigo 574º, ou seja,
princípio ou ónus da impugnação que refere que, consideram-se admitidos por acordo os factos que não
forem impugnados, a consequência de não oferecimento da replica será considerar-se como admitidos os
factos que são invocados pelo réu/reconvinte no âmbito da sua reconvenção.

Pode acontecer uma outra coisa – o autor ao replicar, e ao replicar está a responder à reconvenção, vir
deduzir uma exceção.

Terá o reu a possibilidade de responder a essa exceção aduzida pelo autor no âmbito da sua replica? – Terá
mas o não poderá fazer em qualquer articulado subsequente, já não existe treplica e nem era para isso que
ela estava pensada. O que se vai fazer é, devemos de ir ao artigo 3º n4 CPC segundo o qual às exceções
deduzidas no último articulado admissível pode a parte contraria responder na audiência previa ou não
havendo lugar a ela no início da audiência.

Existe a possibilidade de prorrogação do prazo para replicar - 569º

Articulados supervenientes

Se a réplica é um articulado excecional então os articulados supervenientes serão mais excecionais ou


eventuais, porque normalmente todos os factos que importam ao autor ou ao réu, já foram respetivamente
alegados ou no âmbito da PI ou no âmbito da contestação, no âmbito da contestação há um princípio que é o
princípio da concentração da defesa na contestação e portanto, obrigatoriamente os factos tem que ser
aduzidos na contestação.

Por vezes há determinados factos que não haviam ainda ocorrido aquando da apresentação dos articulados
ditos normais, ocorrem posteriormente a esses articulados – integram o chamado conceito de superveniência
– mas também integram o conceito de superveniência outros factos que já haviam ocorrido antes da

Érica Pereira
DPCD 42

apresentação dos articulados, mas de que a parte não tinha tomado conhecimento aquando desses
articulados 588º/2.

A pergunta que se coloca é – Esses factos por terem ocorrido posteriormente ou por a parte ter tomado
conhecimento dos mesmos posteriormente devem ou não ser trazidos aos autos – o juiz é obrigado a tomar
em consideração todos os factos pertinentes para a boa decisão da causa, quer os factos sejam constitutivos,
alegação pelo autor, quer os factos sejam impeditivos, modificativos ou extintivos, alegação por parte do réu.
Provavelmente se os factos tiverem relevância têm que ser trazidos aos autos, havia que encontrar um
instrumento jurídico para trazer esses factos.

O instrumento jurídico são estes articulados supervenientes – normalmente integramos estes articulados
dentro da fase dos articulados, mas curiosamente o legislador equaciona a apresentação deste articulado
depois do encerramento da fase dos articulados, temos um articulado que vai ser apresentado ou na
audiência prévia ou depois da audiência previa inclusive na audiência final ou não havendo audiência previa
depois da notificação da data para a realização da audiência final.

Existe ainda outra hipótese – o facto superveniente surge depois da apresentação pelo autor da PI, o autor
tem possibilidade de replicar porque houver reconvenção e toma conhecimento nesse ato no facto
superveniente. Nessa circunstância ele poderá apresentar esse facto onde? na réplica – a réplica pode servir
como alegação do facto superveniente – 588º/1

Momento da apresentação dos articulados supervenientes

Artigo 588º/3/a/b/c

O senhor juiz vai ter que proferir um despacho liminar de admissão ou de rejeição do articulado
superveniente porque pese embora a parte considere que está verificada a superveniência é preciso que o
juiz comprove que de facto essa superveniência existe, não estamos sobre tudo a a pensar nos factos que
ocorreram posteriormente, esses facilmente se comprova que são supervenientes, estamos sobre tudo a
pensar nos factos que ocorreram antes mas que a parte alega que não teve dos mesmos conhecimento - a
parte tem que alegar e provar o porquê de não ter tomado conhecimento do facto no momento em que o
facto ocorreu. A parte tem que fazer prova da superveniência, só fazendo prova dessa superveniência que é o
senhor juiz vai admitir o articulado superveniente. A parte contra o qual tiver sido oferecido o articulado
superveniente vai ter que ter a possibilidade de se pronunciar quanto ao teor desse articulado superveniente.

Quando o articulado superveniente é apresentado na replica ou na audiência previa não há grande problema
a nível processual e a nível da economia processual e da celeridade processual de exercer este contraditório –
o problema está quando o articulado superveniente tem que ser apresentado de modo ora na própria aldeia
final.

A pergunta que se coloca é – isto tem ou não influencia na evolução da audiência final?

O CPC atual tentou minimizar ao máximo as circunstancias que podem determinar o adiamento ou
interrupção da audiência final, consequentemente se eu tenho a apresentação de um articulado
superveniente no âmbito da audiência final, a regra é que isso não vai ter implicação no desenvolvimento da
audiência, significa que a parte contraria vai ter que responder oralmente na audiência final e vai ter que
produzir as provas oralmente na audiência final, o que não será um grande problema caso as provas sejam
aquelas que estão nos próprios autos será um problema se as testemunhas por exemplo nas estiverem
arroladas, ai a parte vai ter que as apresentar na audiência final para elas serem ouvidas, só há um caso em
que a audiência é interrompida que é a parte não prescindir do prazo de 10 dias para exercer o contraditório
e nesse caso a audiência será interrompida ou pode suceder outra coisa, ter a audiência calendarizada em 4
ou 5 sessões, ai não existe nenhuma interrupção o que existe é o aproveitamento de uma das sessões para se
dar resposta ao articulado superveniente e para se produzir essa prova.

Érica Pereira
DPCD 43

Fase da gestão inicial do processo e da audiência prévia

Arts – 590º a 598º

• A ideia central desta fase é a introdução de uma audiência antes da audiência final.

Nesta segunda fase, visa-se potenciar o princípio da oralidade e da imediação e visa-se potenciar o princípio
da cooperação entre as partes e o tribunal, porque é este o momento em que em princípio as partes,
designadamente os seus mandatários, que vão ter contacto com o tribunal pela primeira vez.

Na prática, vamos através desta fase preparar aquilo que é fundamental no âmbito da audiência final,
partindo do pressuposto que essa audiência final se vai realizar.

Nesta fase fala-se em gestão inicial do processo e audiência prévia, na prática, estamos a operar uma
subdivisão dentro desta fase, uma primeira subfase será a fase da gestão inicial do processo e uma segunda
subfase será a fase da audiência prévia propriamente dita.

Anteriormente, tínhamos uma fase de pré saneamento que estava integrada dentro do conceito de audiência
preliminar, isso era incorreto porque em bom rigor o pré saneamento não ocorre dentro da audiência
preliminar, por isso é que se falava em audiência preliminar em sentido restrito ou audiência preliminar em
sentido amplo.

No artigo 590º no que diz respeito à fase da gestão inicial do processo ou a chamada fase do pré saneamento
e temos a segunda subfase da audiência previa concentrada no artigo 591º.

Este momento será, em princípio, o primeiro momento em que o magistrado judicial vai ter contacto com o
processo – para não haver um desequilíbrio a nível de igualdade entre as partes, se o juiz houvesse detetado
qualquer insuficiência ou imprecisão a nível dos articulados, a nível da exposição da matéria de facto, ele nada
diria, aguardaria pela fase segunda do processo, pela gestão inicial do processo.

Só temos uma circunstância em que o juiz poderá tomar conhecimento do processo antes desta segunda fase,
na figura do despacho liminar previsto no artigo 590º n1 e ainda nos casos do artigo 226º n4.

Fase do pré saneamento

Artigo 590º n2 – estabelece a possibilidade de o juiz proferir, sendo caso disso, despacho pré saneador
destinado a:

a) Providenciar pelo suprimento de exceções dilatórias nos termos do n2 do artigo 6º;

O juiz providência oficiosamente pelo suprimento da falta de pressupostos processuais suscetíveis de


sanação, determinando a realização dos atos necessários à regularização da instância ou quando a sanação
dependa de ato que deva ser praticado pelas partes convidando estas a praticá-lo, ou seja – o juiz nos termos
desta alínea a) está a fazer uso do dever de gestão processual.

Na prática, o tribunal vai tentar, se for possível, regularizar a instância – se for possível porque existem
algumas exceções dilatórias que não são suscetíveis de sanação, nestes casos só podemos ter as exceções
dilatórias que são suscetíveis de sanação.

Ex: a situação identificada no artigo 28º CPC que se encontra na sequência do artigo 27º n1 – um caso de
incapacidade judiciaria em que a parte é incapaz, o juiz deteta que a parte não está devidamente
representada em juízo e vem notificar ou citar para que a parte seja acompanhada pelo seu representante.

Ex: falta do pressuposto processual da legitimidade – estamos perante uma situação de litisconsórcio
necessário e falta uma parte no processo e o juiz apercebe-se que faltando esta parte vem notificar para que

Érica Pereira
DPCD 44

essa parte faça aparição como forma de se ultrapassar a ilegitimidade sob pena de absolvição do réu da
instância e do processo findar por essa questão processual.

Ex: artigo 41º CPC – estamos perante uma ação que obriga à constituição de advogado e o juiz deteta que não
existe essa constituição de advogado – mais uma vez vai notificar as partes para elas constituírem o advogado.

b) Providenciar pelo aperfeiçoamento dos articulados nos termos dos números seguintes;

Quer a situação prevista no n3 e n4 do artigo 590º estão em linha com a alínea b) – o juiz vai proferir este
despacho pré saneador no sentido de as partes suprirem as irregularidades dos articulados fixando um prazo
para o suprimento ou correção do vicio designadamente quando careçam de requisitos legais ou a parte não
haja apresentado documento essencial ou de qua a lei faça depender o prosseguimento da causa.

Aqui temos que ter em atenção que a concretização da matéria de facto não está integralmente efetuada mas
ela não é de tal forma grave que implique a ineptidão da PI – isto são situações que estão sobretudo ligadas
com causa de pedir complexas, ou seja, ponde nós temos vários factos que têm de ser alegados e o tribunal
deteta que um dos factos que têm que ser alegado não âmbito daquela ação não foi alegado pela parte,
então vai convidar a parte a fazer essa alegação.

Ex: quando se alega danos patrimoniais e não patrimoniais e no total se pede 100M€ e não se quantifica a que
titulo é que esses 100M€ ocorrem, se são 50M€ de danos patrimoniais e 50M€ de danos não patrimoniais, se
são 25M€ de danos patrimoniais e 75M€ de danos não patrimoniais – estas situações podem enquadrar-se
dentro deste segundo objetivo da alínea b) do n2 do artigo 590º.

Temos ainda a possibilidade de a parte não ter apresentado um documento essencial ou de que a lei faça
depender o prosseguimento da causa – a alínea c) também refere a junção de documentos mas são coisas
distintas – esta questão do n3 está integrada na alínea b) não na alínea c).

O que é o documento essencial? – eu se tenho uma ação de execução especifica tenho que ter nos autos o
contrato promessa, só que a parte não juntou esse contrato promessa – nestes casos temos um documento
essencial que tem que constar nos autos e não constando o juiz convida as partes a fazer essa junção aos
autos.

Nos termos do n4 – não vamos ter situações que se possam integrar dentro da ineptidão da petição inicial, o
que temos são petições iniciais imprecisas, deficientes, mas que não são ineptas, se fossem ineptas não
chegaríamos a este ponto da tramitação processual.

No termos do n5 – manifestação do princípio do contraditório – a petição inicial corrigida, a factualidade de


que foi objeto de esclarecimento, de aditamento ou correção vai ficar sujeita às regras gerais sobre a
contraditoriedade e prova, a parte contaria vai ter a oportunidade de se pronunciar quanto aos factos que
foram carreados para os autos na sequência deste despacho convite por parte do magistrado judicial.

Nos termos do n6 – no que diz respeito ao autor o artigo 265º e ao réu artigos 573º e 574º do CPC.

Este despacho convite ao suprimento das irregularidades, insuficiências ou imprecisões dos articulados nos
termos do nº7 não é suscetível de impugnação por via de recurso.

c) Determinar a junção de documentos com vista a permitir a apreciação de exceções dilatórias ou o


conhecimento, no todo ou em parte, do mérito da causa no despacho saneador.

O juiz para se pronunciar quando à verificação de uma exceção dilatória, designadamente da ilegitimidade,
precise de um documento – deteta que o documento não está nos autos, vai determinar a junção do mesmo
para puder findar o processo, no âmbito da audiência prévia nos termos do artigo 591º nº1 b).

Érica Pereira
DPCD 45

O processo irá findar nesta fase através de um despacho que não é pré saneador, mas sim o despacho
saneador mais precisamente por termos da al. a) n1 do artigo 595º.

Na prática, o juiz pretende habilitar os autos de todas as condições, para o processo findar já na segunda fase
não relegando o conhecimento das exceções dilatórias para a audiência final acaba por ser uma concretização
do princípio da concretização da economia processual e também da celeridade processual.

Audiência prévia

Contrariamente ao que por vezes se refere, que a audiência prévia, teve como antecedente a preliminar e que
esta só foi introduzida em 1995. Fazendo passar a ideia de que só temos esta figura a partir de 1995. O código
de 1939 e 1961 já tinham uma figura que na altura era designada por audiência preparatória – mas era uma
audiência mais limitada quanto aos seus objetivos e finalidades.

® Código 1939

Tínhamos os artigos 512º e seguintes a regular esta audiência e que na prática a mesma era destinada a uma
discussão entre as partes e o tribunal sempre que tivesse sido deduzida uma exceção ou quando o juiz
entendesse que o estado da causa o habilitava a conhecer do pedido.

® Código 1961

Artigo 508º ss – a mesma situação – discussão de exceção embora aqui haja um ligeiro acrescento –
possibilidade de utilizar esta audiência preparatória para a finalidade da conciliação, portanto, quando
houvesse possibilidade de aplicar uma solução de equidade a mesma podia ser utilizada através desta
audiência preparatória.

® Código 1961 após reforma processual civil de 1995

Os objetivos dessa audiência preliminar passam a ser ampliados, quase todos os que temos atualmente
referidos no artigo 591º n1 al. a) a g) CPC.

Essa audiência preliminar não era de verificação obrigatória em 1961, tendo passado a ser de verificação
obrigatória no âmbito do CPC de 2013, tirando três circunstâncias.

Em 1961 após 1965 tínhamos uma divisão entre os processos ordinários e sumários. Os processos sumários só
comportavam a audiência preliminar quando o juiz entendesse que a complexidade da causa o justificava.
Partindo do pressuposto que no processo ordinário haveria lugar à audiência preliminar, porém, a maioria dos
juízes não convocava essa audiência preliminar – Podíamos chegar à conclusão de que no domínio do anterior
CPC a verificação da audiência preliminar era rara.

O código de 2013 inverte esta situação:

Passamos a ter a obrigatoriedade da audiência prévia (o processo comum de declaração não tem agora a
divisão entre formas processuais) a não ser nos casos de dispensa de realização de audiência prévia, de não
realização da audiência prévia ou então um caso que diz respeitos as ações com valor até 15 mil euros, são as
três hipóteses em que o tribunal poderá não decretar a realização da audiência prévia, tirando estas três
hipóteses, chegamos à conclusão de que a mesma é de realização obrigatória.

• O artigo 592ºdo CPC - estabelece as hipóteses de não realização da audiência.


• O artigo 593º estabelece as situações dispensa desta audiência, pesa embora para o nº3 possa a ver a
imposição por parte das partes da realização da mesma.
• O artigo 597º – possibilidade de o juiz não convocar audiência prévia no âmbito das ações até 15 mil
euros.
São as três hipóteses que agora podem justificar a não realização da audiência prévia

Érica Pereira
DPCD 46

Para que serve a audiência prévia?

Serve para as finalidades que se encontram previstas nas alíneas a) a g) – finalidades principais.

Servem para outras finalidades que pesa embora não decorram diretamente do artigo 591º, estão previstas
no código civil em noemas esparsas e, portanto, podemos dizer que se tratam de finalidades secundárias.

Finalidades principais

A audiência prévia destina-se a algum ou alguns dos fins seguintes, isto é importante porque quando o
tribunal notifica as partes da realização da audiência prévia através de despacho, tem obrigatoriamente no
despacho de dizer quais as finalidades a que vai dar cumprimento nos termos do n1 do artigo 591º do CPC.

Ou seja, tem de indicar para haver uma preparação por parte dos mandatários judiciais, se vai levar a cabo
todos os fins ou apenas alguns que estão previstos nas alíneas a) a g) – isto decorre do n2 e, este n2 também
releva no que diz respeito à possibilidade de apreciação imediata do mérito da causa.

No n2 segunda parte temos a indicação de que não constitui caso julgado, o despacho a convocar as partes
para determinada finalidade, sobre a possibilidade de apreciação imediata do mérito da causa.

Ou seja, posso ter o despacho a notificar as partes para a audiência prévia a incluir a alínea b) n1 do artigo
591º, quando tencione conhecer em todo ou em parte do mérito da causa e depois o juiz chegar a audiência
prévia e considerar que afinal não tem ainda elementos suficientes para conhecer o mérito da causa, como
também posso ter a circunstância das partes terem sido convocadas para a audiência prévia, sem indicação
do conhecimento imediato do mérito da causa, e o juiz chegar à conclusão que pode naquele momento
conhecer o mérito da causa.

Dando oportunidade às partes de se pronunciarem quanto a essa factualidade suficiente para conhecer do
mérito.

Quer no caso quer noutro, a indicação que o juiz dá, não vai vincular, porque depende do desenrolar dos
trabalhos na própria audiência prévia.

i. Pode não indicar a finalidade e chegar à conclusão de que há a possibilidade de conhecer o mérito da
causa;
ii. Pode indicar a finalidade e chegar à conclusão de que não há elementos suficientes para conhecer o
mérito da causa;

Daí que no n2 segunda parte indicar que no caso concreto não constitui caso julgado.

Não constitui motivo de adiamento a falta das partes ou dos seus mandatário – sobretudo em 1995 aquando
da introdução audiência preliminar, discutia-se muito se havia obrigatoriedade ou não por parte do tribunal
de adiar a audiência preliminar, caso a parte ou o seu mandatário não comparece-se – havia jurisprudência
dissonante e, neste caso em concreto o legislador decidiu tomar uma posição, dizendo que quer a falta da
parte (na parte compreende-se) quer do mandatário judicial não é impeditiva da realização da mesma.

Ex: se nós pensarmos na falta de comparência da parte, que em seu devido tempo, conferiu uma procuração
com poderes especiais ao seu mandatário e, o juiz quer dar cumprimento à finalidade da alínea a) do nº 1 do
artigo 591 – realização da tentativa de conciliação – é muito natural que a falta da parte que não tenha aqui
como consequência o adiamento da audiência.

Já relativamente ao mandatário houve também aqui uma preocupação que era evitar que houvesse o
adiamento recorrente das diligências judiciais, porque nós tivemos uma fase do nosso processo civil, processo
laboral, em que as audiências ou as diligências judiciais eram recorrentemente adiadas pura e simplesmente
os advogados não compareceram.

Érica Pereira
DPCD 47

Era fácil arranjar uma justificação no sentido não ir a uma audiência – a partir desse momento estávamos aqui
a ganhar imenso tempo, porque as agendas judiciais, sendo sobrecarregadas, o facto de não se levar a cabo
uma audiência prévia, por exemplo, no dia de hoje só abrirá uma nova possibilidade de realização de
audiência prévia, daqui por 2/3 meses ou então depois das férias judiciais.

E com isso muitas vezes estava se aqui a usar algo que o legislador teve a preocupação de combater, que é
combater os expedientes dilatórios e isso acabava por ser um expediente dilatório – agora não há dúvidas que
quer a falta das partes, quer dos mandatários não vai constituir motivo de adiamento desta audiência.

Por outro lado, é importante referir um outro aspeto...

Nos termos do n4 esta audiência é sempre possível gravada, uma das alterações do código de processo civil
de 2013 foi a imposição de que todas as audiências finais fossem obrigatoriamente gravadas – artigo 155º.

Neste caso em concreto nós não estamos perante a audiência final estamos perante a audiência prévia, qual é
a razão desta audiência ser gravada?

Obviamente é facultar ao juiz uma análise mais ponderada aquando, por exemplo, do conhecimento uma
exceção dilatória do despacho saneador, ou aquando do conhecimento do mérito da causa, quanto à matéria
que foi alegada pelos mandatários nessa audiência.

“sempre que possível” – para haver a gravação da audiência, normalmente as partes e o tribunal têm de levar
a cabo esta audiência na sala de audiências, aí é que existem os meios de gravação. Há tribunais que são
limitados em termos de espaço e mesma sala de audiência é utilizada por 3 ou 4 juiz, ora por vezes existe uma
verificação simultânea de audiências e só uma poderá estar a ser levada a cabo na sala – as outras vão ser
levadas a cabo no gabinete do senhor doutor juiz.

Podem existir outros momentos em que a gravação não é possível como por exemplo os meios informáticos
do tribunal não estarem a funcionar corretamente.

Relativamente às finalidades principais:

1. Realização da tentativa de conciliação;


2. Facultar às partes a discussão de facto e de direito nos casos em que ao juiz cumpra apreciar as exceções
dilatórias ou quando tencione conhecer imediatamente todo ou em parte do mérito da causa;
3. Discussão das posições das partes com vista à delimitação dos termos do litígio e ao suprimento das
insuficiências ou imprecisões na exposição da matéria de facto que ainda subsistam ou se tornem
patentes na sequência do debate, ou seja, partindo do pressuposto que o senhor doutor juiz não levou a
cabo a fase do pré saneamento, ainda podemos ter aqui determinadas insuficiências a nível da matéria de
facto e, portanto, este também é o momento para se tentar aqui ultrapassar ou suprir essas ditas
insuficiências ou imprecisões;
4. Prolação do despacho saneador;
5. Determinação após debate da adequação formal da simplificação ou da agilização processual;
6. Proferir após debate o despacho previsto n1 do artigo 596º e decidir as reclamações produzidas pelas
partes;
7. Programar após audição dos mandatários os atos a realizar na audiência final estabelecer o número de
sessões e aprovável duração e designar as respetivas datas.

Érica Pereira
DPCD 48

Finalidades secundárias

Quais as finalidades da audiência prévia que não resultam diretamente destas alíneas do n1 do artigo 591º? –
finalidades secundárias

® Resposta às exceções deduzidas no último articulado:

Artigo 3º n4 CPC – atualmente a réplica não serve para dar resposta às exceções, a réplica só serve quando
existe uma reconvenção, partindo do princípio de que não há reconvenção, consequentemente não há
réplica, ou partindo do princípio de que a exceção é deduzida na réplica.

Quando é que se vai poder aqui dar resposta às exceções? Nos termos do n4 num de 2 momentos: havendo
audiência prévia é na própria audiência, não havendo audiência prévia é na audiência final.

Uma das finalidades da audiência é dar possibilidade de resposta às exceções deduzidas.

® Apresentação de articulado superveniente nos termos do artigo 588º n3 al. a)


® Alteração de requerimento probatório artigo 598º n1 do CPC;
® Artigo 456º n3 do CPC – prestação de depoimento de parte – quando não estivermos perante as
circunstâncias identificadas no artigo 604º n3 al. a), ou seja, normalmente o depoimento de parte é
prestado na audiência final, mas pode justificar-se em certas situações que ele seja prestado antes, na
audiência prévia.
® Admissão ou rejeição dos meios de prova constituendos ou então dos meios de prova a constituir

Isto significa que, no âmbito da petição inicial e no âmbito da contestação apresentei um requerimento
probatório, há determinados elementos que já são elementos de prova constituídos – designadamente os
elementos documentais, a prova documental.

Mas há alguns que são meios de prova constituendos, ou seja, ainda se vão levar a cabo designadamente na
audiência final.

Ex: Se eu excedi os limites do número de testemunhas, o juiz pode aproveitar a audiência prévia, para
considerar que o número que a excede o limite legal se tem que considerar que não escrito – vai rejeitar a
produção dessa prova testemunhal.

Primeira finalidade essencial da audiência prévia: Art. 591º n1 alínea a)

Temos alguns aspetos essenciais relativamente a esta conciliação, desde logo que ela não pode ser levada a
cabo em todo e qualquer processo. Porque se tivermos perante direitos indisponíveis, ou seja, que se
subtraem à livre disposição das partes, não podemos ter essa conciliação. Portanto, dito de outro modo, só
podemos ter a conciliação no âmbito de processos que estejam a versar sobre direitos disponíveis, ou seja,
direitos que estão na livre disponibilidade das partes.

O juiz vai tentar que o processo finde através desta tentativa de conciliação, mas que finde por intermédio de
acordo, ou seja, por intermédio de transação. Trata-se de terminar o conflito através de uma cedência
recíproca de interesses das partes, ou seja, o autor não terá a pretensão de receber tudo aquilo que estava a
peticionar no âmbito da ação e o réu também não terá a pretensão de pagar tudo aquilo que o autor quer
que ele pague e, portanto, vão encontrar-se aqui a meio caminho para tentar chegar a um acordo – isso é o
que a tentativa de conciliação, pretende-se que as partes cheguem a acordo, que celebrem a dita transação.

Relativamente a esta tentativa de conciliação integrada no âmbito da audiência prévia, as partes devem, nos
termos do art. 594º n2, comparecer pessoalmente. Ou então, em alternativa, fazerem se representar por
mandatário judicial com poderes especiais, ou seja, se o mandatário judicial tiver apenas uma procuração
com poderes gerais, pesa embora ele possa comparecer a audiência prévia ele não vai poder transigir, o
cliente tem que estar presente, portanto, a própria parte é que poderá transigir.

Érica Pereira
DPCD 49

Partindo do pressuposto que o mandatário tem esses poderes especiais, a parte aí não tem sequer
necessidade de estar presente.

A tentativa de conciliação de acordo com o art. 594º, n3 é presidida pelo juiz devendo este empenhar-se
ativamente na obtenção da solução de equidade mais adequada aos termos do litígio.

Relativamente a este empenho: convém empenhar-se, mas não demais, porque muitas vezes aos magistrados
judiciais não têm a descrição necessária uma conciliação. Muitas vezes o magistrado judicial está a pensar
única e exclusivamente em encerrar aquele processo judicial porque a sua avaliação enquanto magistrado
judicial, está dependente do número de processos que ele consiga dar por fim. Assim, muitas vezes é natural
que ele se empenhe mais do que seria desejável no acordo.

Também não se deve alhear totalmente do acordo, como por vezes acontece, o juiz considera que os
mandatários judiciais e os advogados é que têm que falar entre eles, eles é que têm que chegar a acordo, não
havendo acordo prossegue a audiência.

Estamos a falar na tentativa de conciliação no âmbito da audiência prévia, só que poderá acontecer que a
audiência prévia seja convocada, não sendo especificamente para este fim da conciliação, ou seja, podemos
ter nos termos do art. 594º, uma a notificação das partes delas comparecerem a uma tentativa de conciliação,
desde que seja especificamente para este efeito e apenas uma única vez, o que permite duas coisas:

• Tentativa de conciliação no âmbito da audiência prévia em que as partes não tenham chegado a um
acordo e que o juiz depois utilize especificamente a tentativa de conciliação presente no art.594º, n1
para tentar que as partes cheguem a acordo.
• Ou então, podemos ter o caso do juiz que pura e simplesmente não convocou as partes para a
finalidade prevista no art.591º n1 alínea a) e que resolvem a fazer a posteriori.

Na mera eventualidade de a conciliação não chegar a bom porto, é preciso nos termos do n4, que fiquem
consignados em ata, as soluções que hajam sido sugeridas pelo juiz, bem como os fundamentos que, no
entendimento das partes, justificam a persistência do litígio.

Segunda finalidade essencial da audiência prévia: Art. 591º n1 alínea b)

Existe uma diferenciação entre a matéria Processual ou formal e a matéria de direito, ou seja, partindo do
pressuposto que existem exceções dilatórias invocadas por parte do réu no âmbito do processo e que não foi
possível discutir as mesmas no âmbito do processo. É chegado o momento de o fazer em contexto da
audiência prévia.

Art. 3º n4 – às exceções deduzidas no último articulado, podem as partes responder havendo lugar à mesma
no âmbito da audiência prévia. No âmbito de uma discussão aberta, entre as partes e o tribunal, vamos ter
uma discussão relativamente à matéria das exceções dilatórias

Por outro lado, também podemos ter aqui reunidas as condições para que o Tribunal já se pronuncie sobre o
mérito da causa e quando isso acontecer, para evitar as chamadas decisões surpresa, as partes vão ter a
oportunidade no âmbito do princípio do contraditório, de se pronunciar quanto aos termos que se
perspetivam para a decisão desse mesmo pleito.

Terceira finalidade essencial da audiência prévia: Art. 591º n1 alínea c)

Tendo em atenção a fase do pré saneamento, sendo este de exercício vinculado, em que medida é que
podemos ter insuficiências ou imprecisões na exposição da matéria de facto.

O juiz proferiu um despacho convite nos termos do artigo 590º n2 alínea b) e n4 para que as partes suprissem
as insuficiências ou imprecisões na exposição ou concretização da matéria de facto alegada, e vem outra vez o

Érica Pereira
DPCD 50

legislador estabelecer, no âmbito do artigo 591º n1 alínea c), a possibilidade de se suprirem as insuficiências
ou imprecisões na exposição da matéria de facto, como que se articulam as duas normas?

Vendo de outra forma: o juiz proferiu despacho convite de aperfeiçoamento dos articulados, a parte,
devidamente notificada não o fez, nesse caso, justifica-se lançar mão desta alínea c) ou não?

Está aqui presente o princípio da preclusão, se o juiz proferiu um despacho convite e a parte não
correspondeu a esse despacho convite, obviamente que já precludiu essa possibilidade e não faz sentido
lançar mão da alínea c) do n1 do artigo 591º.

Faz sentido aplicarmos a aliena c) em duas hipóteses:

1. Quando o juiz não proferiu esse despacho pré saneador de convite ao aperfeiçoamento dos articulados e
sendo este despacho vinculado, só há uma hipótese de o juiz não ter preferido esse despacho pré
saneador que é o juiz não se ter apercebido nesse momento de que os articulados careciam de ser
corrigidos ou complementados e pode acontecer que no decurso desta discussão o juiz se tenha
apercebido dessa necessidade.
2. A parte correspondeu ao despacho convite, corrigiu o articulado, mas fê-lo ainda de modo insuficiente ou
deficiente. Então, o juiz vai aproveitar esta oportunidade da audiência prévia para dar de novo a parte a
possibilidade de complementar o articulado que havia sido anteriormente corrigido.

Quarta finalidade essencial da audiência prévia: Art. 591º n1 alínea d)

Ora aqui está um dos vários despachos que caracterizam esta segunda fase da gestão inicial do processo e da
audiência prévia.

Podemos falar desde logo no despacho pré saneador, no despacho saneador e no despacho nos termos e
para os efeitos do artigo 596º CPC.

Este despacho saneador é um dos despachos essenciais, só que ele exorbita um pouco da sua própria noção,
porque normalmente, quando falamos em despacho saneador, nós estamos a fazer apelo ao saneamento do
processo, mas sobretudo a concentrar-nos naquelas questões formais ou processuais, na sanação das
exceções dilatórias e posteriormente no conhecimento dessas exceções dilatórias, só que o despacho
saneador vai mais além.

O art. 595º n1 que nos termos da alínea a) cumpre a sua função ou o seu desidrato de sanear porque vai
conhecer das exceções dilatórias e das nulidades processuais que hajam sido suscitadas pelas partes ou que
face aos elementos constantes dos autos o juiz ou o tribunal deva apreciar oficiosamente.

Um outro objetivo deste despacho saneador é conhecer imediatamente o mérito da causa sempre que o
estado do processo permitir sem necessidade de mais provas apreciando total ou parcialmente do ou dos
pedidos deduzidos ou então de alguma exceção perentória.

Encontramos duas situações, onde na primeira situação temos o despacho saneador propriamente dito, na
segunda situação, o despacho saneador vai assumir a designação do despacho saneador sentença. Isso é
importante porque no que diz respeito à formação do caso julgado, se tivermos no âmbito do despacho
saneador, nos termos da alínea a), vai logo que transite em julgado formar o caso julgado formal e se
estivermos perante as situações previstas na alínea b), vai formar o chamado caso julgado material.

• Quando falamos do caso julgado formal, falamos de um caso julgado que tem apenas efeitos intra
processuais naquele processo em concreto;
• Quando falamos de um caso julgado material, tem efeitos intra e extra processuais, efeitos naquele
processo e em eventuais processos posteriores – isto decorre do n3 do artigo 595º n1 CPC.

Érica Pereira
DPCD 51

Este despacho de acordo com o n2 será ditado para ata – regra. No entanto quando a complexidade das
questões a resolver exija, o juiz poderá excecionalmente proferi-lo por escrito suspendendo a audiência
prévia e fixando logo data para a sua continuação se for caso disso.

Nos termos do n4 do artigo 595º não caberá recurso a decisão do juiz que por falta de elementos relegue
para final a decisão da matéria que lhe cumpra conhecer, ou seja, o juiz pode antecipar que tinha
possibilidade de conhecer imediatamente do mérito ou então do conhecimento de uma exceção dilatória,
mas no decurso da audiência prévia afinal chega à conclusão que essas condição não estão reunidas, então,
ao invés de fazer uso da alínea a) n1 art. 595º, de conhecer imediatamente da exceção dilatória, vai relegar o
conhecimento da mesma para o final, aquando da prolação da sentença.

Esta decisão do magistrado judicial é irrecorrível, a questão que se coloca é e o despacho saneador é recorrível
ou irrecorrível? – art. 644º n1 al. a) e b) – recorribilidade do despacho saneador quer quando ele põe termo à
causa (alínea a), quer no caso do despacho saneador que não põe termo à causa mas que decide do mérito ou
absolve da instância o réu ou algum dos réus quanto a algum dos pedidos.

Na prática, este despacho saneador é recorrível.

Quinta finalidade essencial da audiência prévia: Art. 591 n1 alínea e)

Já tivemos oportunidade de falar no princípio da adequação formal e no princípio da gestão processual, e o


juiz poderá chegar à conclusão que este processo em concreto, ou não carece da realização de todos os atos
e trâmites processuais que se encontram previstos nas fases subsequentes, e poderá prescindir das mesmas
em obediência esta adequação formal ou então poderá decidir exatamente o contrário, ou seja, considerar
que se justifica neste caso em concreto, a realização de atos ou diligências que não se encontravam
especificamente previstas no âmbito da tramitação processual.

Sexta finalidade essencial da audiência prévia: Art. 591º n1 alínea f)

O que é o tal despacho previsto no artigo 596º? – é o despacho que se destina a identificação do objeto do
litígio e a enunciação dos temas da prova.

Este despacho é introduzido no código processo civil de 2013 e na altura os vários autores que decidi dissertar
sobre as inovações do código processo civil de 2013 diziam que esta tinha sido uma das principais inovações
do código processo civil de 2013.

A pergunta que se coloca é, qual foi a grande diferença que foi introduzida com este despacho do artigo
596º? – Porque antes do código de processo civil de 2013, também tínhamos integrado, no âmbito do
despacho saneador, a chamada especificação o questionário, e a posteriori tivemos os factos assentes e a
base instrutória.

Será que significam a mesma coisa? O que era isso da especificação e do questionário? – O processo finda a
fase dos articulados vai ter determinada matéria de facto que nós podemos considerar, desde logo, como
assente. Na prática, o juiz deveria, através da especificação dizer todos os factos que naquele preciso
momento já não estavam controvertidos, ou seja, que já não necessitavam de ser aprovados no âmbito de
uma audiência final.

Que factos eram esses? – temos factos alegados no âmbito da petição inicial, factos alegados no âmbito da
contestação e em que medida podemos desde logo dizer, findos estes articulados, que os factos já estão
dados como provados? – artigo 574º n2

Érica Pereira
DPCD 52

Despacho do artigo 596º do CPC

A dada altura dissemos que existiam determinados factos que já não careciam de prova, já se encontravam
provados nesta altura. Podem ser factos, desde logo, provados por intermédio de prova documental, podiam
ser factos que não tinham sido impugnados ou podiam ser factos, que por exemplo, sobre eles tivesse recaído
confissão.

O código de processo civil de 1961 até determinada altura, na chamada fase do saneamento e condensação,
que era a fase que correspondia no dito código àquilo que nós hoje temos relativamente à gestão inicial do
processo e audiência prévia, tinha uma peça essencial que era o despacho saneador, que continha uma
divisão, entre a especificação e o questionário.

Especificação e questionário

Na especificação o juiz devia de colocar toda aquela matéria que já se encontrava provada até esse preciso
momento e depois deveria levar, ao chamado questionário, toda a matéria que não se encontrando provada
e, que era relevante para o desfecho do processo, ia ser levada a julgamento, ou seja, sobre a qual iria incidir
a prova, designadamente e sobretudo a prova testemunhal.

Designava de questionário? – porque essa matéria de facto era colocada nessa peça sob a forma de quesito,
sob a forma de perguntas, ou seja, tudo aquilo que constava nas peças processuais das partes nos articulados,
portanto, na petição inicial, na contestação eventualmente na réplica e nos articulados supervenientes e que
fosse relevante para o desfecho do processo, em termos de facto, em termos de prova que iria incidir sobre
esses factos, ia ser levada a esses quesitos.

Os quesitos serviam para quê? – para os mandatários judiciais na audiência final (que na altura não se
designada audiência final designava se a audiência de discussão e julgamento) tivessem uma espécie de guião
relativamente às perguntas que deviam de colocar às testemunhas, ou seja, na prática tinham uma limitação
a nível das testemunhas relativamente a cada um dos quesitos sobre os quais as testemunhas podiam
responder.

Portanto a audiência de discussão e julgamento começava de que forma?

O juiz tentava a conciliação entre as partes, não sendo possível, dava início à audiência e a primeira coisa que
o magistrado judicial fazia era dirigir-se aos mandatários judiciais, portanto, ao advogado do autor e ao
advogado do réu, pedindo lhes para eles dizerem a que matéria é que as testemunhas, iriam prestar o seu
depoimento.

Portanto, a pergunta sacramental é: “a quesitos, a que matéria” e o advogado que ia iniciar a inquirição
normalmente era o advogado do autor, ia pegar no tal questionário e relativamente a cada um dos quesitos,
que estavam numerados ia dizer:

Ex: a testemunha Manuel e António ia responder ao quesito 2º\4º\10º e 15º – na prática o questionário
servia para os mandatários se irem guiando quanto àquilo que ia ser questionado às testemunhas.

Havia uma limitação, ou seja, nem todas as testemunhas se podiam pronunciar quanto aos mesmos quesitos
ou aos mesmos factos.

Porquê? – Porque se nós estivéssemos perante uma forma processual no máximo, só 3 testemunhas é que se
podiam pronunciar quando um facto, e se estivesse perante outra forma processual no máximo só 5
testemunhas é que se podiam pronunciar quanto ao facto.

Ora, se nessa altura podiam ser arroladas 20 testemunhas pelo autor e 20 testemunhas pelo réu, isso
significava que só 5 dessas 20 testemunhas é que iam poder responder a determinado facto – e isto ao longo
de toda a peça, de todo questionário.

Érica Pereira
DPCD 53

Portanto, uma das grandes preocupações, por parte dos advogados, era ao preparar a audiência discussão e
julgamento reunir com o cliente.

Embora, ainda exista um certo prurido e o estatuto da ordem dos advogados proibiu que os advogados
reúnam diretamente com as testemunhas – que reúnam com as testemunhas no sentido de preparar as
testemunhas para elas produzirem o seu depoimento de acordo com determinada orientação que o
advogado quer – não é o facto de reunir com as testemunhas para tentar perceber o que é que a testemunha
sabe relativamente à matéria de facto.

Essa reunião servia para dizer que quanto ao quesito 1 ia responder a testemunha A, B, C, D, E – F, G e H já
não podiam responder porque o limite já estava ultrapassado.

Por vezes existiam determinados quesitos que não tinham prova suficiente, por exemplo, só uma testemunha
sabia sobre aquele quesito, é logico que não se ia convocar uma testemunha que nada sabia relativamente
aquela matéria de facto que importava questionar.

® Ainda dentro do código de 1961 e sobretudo depois de 1995\96

O que era conhecido como especificação passou a ser conhecido como matéria assente e, o que era
conhecido como questionário passou a ser conhecido como base instrutória.

A ideia subjacente a estas duas peças (à matéria de facto assente e à base instrutória) era exatamente a
mesma, ou seja, da base instrutória continuavam a constar aquelas perguntas que iam ser feitas às
testemunhas – na prática, o questionário e a base instrutória condicionavam quer os mandatários judiciários
quer as testemunhas.

Isto é, mesmo que a testemunha tivesse conhecimento sobre mais alguma matéria, que não estava indicada
no questionário ou na base instrutória, a testemunha não podia responder quando essa matéria.

Imediatamente o juiz, era sagrado, perguntava onde é que aquele facto estava quesitado.

Isto por vezes fazia com que não fosse possível julgar a causa de acordo com a chamada verdade material ou
verdade dos factos, porque tinha havido um erro inicialmente a nível do questionário ou da base instrutória e
um determinado facto que devia de estar a ser quesitado o não havia sido.

A parte não havia reclamado por deficiência/excesso/obscuridade e nessa circunstância o facto de não
constar e a testemunha não podia responder quanto ao mesmo.

Na prática, havia um condicionamento a nível da produção de prova fruto da utilização do questionário e da


base instrutória.

Em 2013 – o legislador “desprendeu as amarras” relativamente a isto:

Enunciando apenas determinadas questões relevantes para o desfecho da causa e permitindo que as
testemunhas, respondessem perante tudo aquilo que sabiam.

Exemplos à chamada enunciação dos temas da prova:

Primeiro exemplo: Ação de despejo por utilização do locado para fim diverso do convencionado:

• Tema da prova: o uso que o locatário dá ao locado.

Segundo exemplo: Ação de despejo por não uso do locado:

• Temas da prova: falta de uso do locado e duração da falta de uso.

Érica Pereira
DPCD 54

Terceiro exemplo: Ação emergente de acidente de viação:

• Temas da prova: velocidade situada a viatura, estado do piso, estado do tempo, sinalização do local e
danos provocado.

Continuamos a condicionar a testemunha relativamente à factualidade? – não é bem assim

Relativamente à ação do acidente de viação o facto de se fazer referência ao “estado do tempo” já permite a
testemunha responda, por exemplo, se estava sol, se estava chuva, se estava nevoeiro, se estava ventoso, etc.

Imaginem, o que é ter um quesito, que dizia “no dia em que ocorreu o acidente estava a chover?” – Portanto, a
única coisa que se pretendia aferir no âmbito daquele julgamento, através daquela testemunha era se estava
a chover. O facto da testemunha dizer que estava bastante humidade, estava nevoeiro, a visibilidade era
reduzida, o piso estava muito molhado e portanto provavelmente o carro pode ter entrado em derrapagem –
nada disso devia ser questionada aquela testemunha, porque exorbitava completamente os quesitos.

O de facto nós temos agora como tema da prova o estado do tempo ou o estado do piso permite que a
testemunha relate fielmente tudo aquilo que assistiu.

Vantagem dos temas da prova: relativamente à base instrutória é permitir uma maior liberdade relativamente
às testemunhas para elas virem dizer aos autos tudo aquilo que sabem.

Antigamente as testemunhas estavam limitadas quanto ao seu número relativamente a cada um dos quesitos,
a pergunta que se coloca é se atualmente as testemunhas também estão limitadas a cada um dos temas da
prova – não estão.

Atualmente, aquilo que era o limite das vinte testemunhas para lá dos fundamentos da ação, agora é dez. Ou
se nós tivermos uma ação até à alçada do tribunal de primeira instância, passa para cinco, mas essas dez ou
cinco testemunhas podem responder a todos os temas da prova e a qualquer dos temas da prova.

Portanto, o condicionamento que resultava do anterior código de processo civil, esses limites desapareceram
também no código processo civil e, portanto, a prova flui muito mais facilmente.

Este despacho do artigo 596º tem exatamente esta virtude no que diz respeito à enunciação dos temas da
prova.

Outra virtude:

Agora já não se tem a preocupação de colocar neste despacho a matéria de facto que está assente, que está
aprovada.

Vou ter essa preocupação quando estiver na fase final a elaborar a sentença e quando tiver que proferir a
decisão quanto à matéria de facto, aí é que vou dizer que a prova relativamente àquele tema resultou do
depoimento da testemunha A, B, C e resultou do documento que foi junto aos autos com os articulados.

Então o que é que tem que ser colocado nesse despacho do artigo 596º? – a identificação do objeto do litígio.

O que é que isto significa?

Significa que esta identificação daquilo que deveria de ser decidido no âmbito daquele processo, só era feita
na sentença. A sentença na sua parte inicial vai dizer especificamente o que as partes estão a pedir ao tribunal
para ele decidir, quais são os pedidos que verdadeiramente têm ali que ser decididos e que foram
formulados.

Érica Pereira
DPCD 55

Este despacho do 596º permite antecipar para este momento a identificação do objeto do litígio o que
significa que, se o juiz não estiver a ver totalmente aquilo que tem de ser decidido nos autos, as partes
através dos seus mandatários podem logo imediatamente alertar, “cuidado porque a nível do objeto
processual ainda está a necessidade de aferir isto ou aquilo”

Portanto, aquela ideia que tínhamos nestas peças processuais, os factos provados, os factos carecidos prova
também caiu agora – portanto, temos os temas da prova e temos a identificação sobre o que é que a decisão
vai versar – portanto, outra vantagem relativamente a este despacho do artigo 596º do CPC.

Finalidades essenciais da audiência prévia

Alínea g) n1 do artigo 591º

Quantas notificações é que se recebe para prestar depoimento em tribunal? – podemos dizer que não
recebemos nenhuma porque um conhecido que é parte no processo é que nos ligou a dizer a data do
julgamento. Isso aconteceu porque o advogado comprometeu-se a apresentar aquela testemunha em
julgamento e se se comprometeu a apresentar aquela testemunha em julgamento a testemunha não foi
notificada.

Mas, normalmente as testemunhas são notificadas para comparecer por carta.

Exemplo: testemunha notificada para comparecer no dia 13 de maio, e a testemunha (partindo do princípio
de que esta alínea g) ainda não existia) amanhã iria estar no tribunal, só que ia estar aquela testemunha e
todas as outras testemunhas arroladas pelo autor e pelo réu.

Das vinte testemunhas que o autor podia arrolar e das vinte testemunhas que o réu podia arrolar e não há
reconvenção para ter mais vinte pelo reconvinte e vinte pelo reconvindo. Vamos partir do princípio de que o
autor arrolou onze testemunhas e que o réu arrolou nove testemunhas. Tínhamos o autor tentando extrair o
efeito da confissão por parte do réu a requerer o depoimento de parte.

No modo de funcionamento de audiência final o primeiro ato a levar a cabo é o depoimento de parte.

Ia acontecer que, o réu ia depor durante uma hora. Portanto, a audiência estava marcada para as nove e
meia, fazer a chamada das pessoas, saber quem está presente e quem não está, ir ao gabinete do juiz para
dizer que das vinte testemunhas só onze é que comparecerem, algumas justificaram as faltas outras nada
disseram, o juiz diria para esperar mais um pouco e fazer uma segunda chamada.

Às dez horas fazia-se a segunda chamada e algumas testemunhas que não tinham comparecidos iam
comparecer agora na segunda chamada.

A audiência de julgamento que estava marcada para as nove e meia ia começar às dez e meia. Se entre as dez
e meia e o meio diz e meia, hora de almoço do funcionário de justiça, o juiz tinha que interromper a
audiência, se tínhamos consumido uma hora dessas duas disponíveis para ouvir o réu através do depoimento
de parte, íamos ter uma hora para ouvir vinte testemunhas.

O juiz dava uma hora para almoço, retomando depois a audiência, às quatro horas as portas do tribunal
fecham mas as audiências que estão a decorrer continuam até o juiz mandar.

Normalmente as audiências no limite às seis horas paravam.

Das vintes testemunhas que foram convocadas para comparecer no tribunal, que responderam presentes, e
que tinham que estar o dia todo fechadas numa sala à espera de serem chamadas por parte do funcionário
judicial para prestarem depoimento, só conseguimos ouvir num dia três.

Érica Pereira
DPCD 56

No dia seguinte as coisas correm melhor e já se conseguem ouvir cinco, seis testemunhas, mas no dia
seguinte já não temos possibilidade ter audiência porque outro processo se meter e só podemos continuar a
audiência passado três semanas porque existe uma limitação a nível do código civil que não pode haver
interrupção da prova por mais de 30 dias.

O magistrado judicial só tinha que ter uma preocupação que era, se sessão para sessão, não esperar que
passassem mais do que 30 dias.

As testemunhas deslocavam-se muitas vezes para o tribunal, não sabendo que tinham direito de pagamento
do abono de despesas ou indemnização de despesas e custos – as testemunhas não foram trabalhar,
gastaram dinheiro em combustível, tudo isso podia ser debitado ao tribunal.

Assim, com esta linha g), o juiz na primeira data prevê que só pode ouvir três ou quatro testemunhas e só vai
notificar para comparecência essas três ou quatro testemunhas as outras serão notificadas apenas para a data
em que vão ser ouvidas.

Contudo isto não funciona sempre assim.

É uma violação de um dever deontológico falar com as testemunhas mas é questionável como é se pode dar
cumprimento à alínea g) sem falar com as testemunhas para saber mais ou menos o que elas sabem.

Temos mais ou menos que pensar que aquele depoimento vai demorar 30 min para o juiz poder calendarizar.
Mas aquilo que se pensa que são 30 min, pode ser 1h 30 min e aquilo que se pensa que é 1h são 5 min. A
testemunha poderá estar tão nervosa que não se recorda de nada, faz-se perguntas e não sabe ou então
responde contrariamente à pretensão do nosso cliente, a melhor coisa a fazer é dispensar a testemunha.

Mas....

Esta alínea g) permite que as coisas funcionem muito melhor do que antes de haver esta preocupação por
parte do magistrado judicial de programação da audiência final, do número de sessões, da provável duração e
de designação das respetivas datas.

Realização da audiência prévia

Deve realizar-se sempre? Há circunstâncias em que não se realiza? Quais são essas circunstâncias?

Analisar o 592º, 593º e 597º do CPC.

Artigo 592.º
Não realização da audiência prévia
1 - A audiência prévia não se realiza:
a) Nas ações não contestadas que tenham prosseguido em obediência ao disposto nas alíneas b) a d) do
artigo 568º;

Estas situações correspondem àquelas exceções aos efeitos revelia e à revelia operante.
São três situações de inoperância da revelia apenas uma, a de que havendo pluralidade de réus um deles
tenha pelo menos contestado e impugne os factos que podem aproveitar aos réus não contestantes.

No entanto, o 568º tem outras três situações.


Neste caso em concreto como não temos uma posição por parte do reu porque não houve contestação, pese
embora o processo tenha de prosseguir os seus termos, e se tenha de produzir prova, não vai haver audiência
prévia.

Por determinação legal a audiência prévia nesses três casos não se realiza.

Érica Pereira
DPCD 57

b) Quando, havendo o processo de findar no despacho saneador pela procedência de exceção dilatória, esta
já tenha sido debatida nos articulados.

Relativamente às exceções que houvessem sido deduzidas em sede de contestação, não podia o autor
responder na réplica, porque a replica não serve para o efeito, mas há casos onde as exceções podem já ter
sido debatidas.

O legislador fala de articulados, mas podemos ir mais longe.

Quando falamos do artigo 3º n4 – por vezes o juiz, ao abrigo da celeridade processual e da economia
processual, notifica o autor para ele se pronunciar por escrito relativamente à exceção dilatória – este
conceito de articulado deve ser lido com uma maior amplitude, articulado ou através de um requerimento
avulso que a parte tenha decidido de moto próprio fazer ou que o juiz tenha notificado a parte para fazer.

Portanto, se o processo vai findar no despacho saneador pela procedência de uma exceção dilatória não faz
sentido realizar audiência prévia, a não ser que o juiz não se satisfaça com a resposta que foi dada no âmbito
do articulado ou no âmbito do requerimento.

Ainda assim, pode o juiz marcar audiência prévia – a solução não é contra a lei. Podemos fazer apelo ao
princípio da adequação formal e ao princípio da gestão processual – estes dois casos são então conducentes à
não realização da audiência previa.

Artigo 593º – dispensa da audiência prévia

É dispensada porquê? – o único desiderato da audiência prévia era o que resultava das alíneas d), e), f) do n1
do 591º – ou seja, prolação do despacho saneador, determinação da adequação formal simplificação ou
agilização processual e o despacho do 596º n1.

Se a audiência prévia só se destina a estes 3 fins – diz o legislador expressamente que o juiz pode dispensar a
realização da audiência – se o fizer nos termos do n2 nos vinte dias subsequentes ao termo dos articulados o
juiz vai proferir os despachos previstos nas alíneas a) a d) desse n2.

® O legislador decidiu colocar um poder nas mãos das partes

No caso da não realização da audiência prévia, como ela é open legis, as partes nada podem fazer quanto a
essa não realização.

Nos casos de dispensa de audiência prévia as partes podem impor ao tribunal pese embora o juiz considere
que havia de uma situação conducente à dispensa audiência prévia, podem impor ao tribunal a realização da
mesma.

Isto está previsto no n3 do artigo 593º do CPC – após as partes serem notificadas, se alguma delas pretender
reclamar dos despachos previstos nas alíneas b) a d) e muitas vezes o único propósito da reclamação é
provocar a audiência prévia, ela pode requerer em 10 dias a realização da dita audiência – neste caso, a
audiência deve realizar-se num dos vinte dias seguintes e destina-se a apreciar as questões suscitadas e
acessoriamente a fazer uso do disposto na alínea c) do artigo 591º, ou seja, aquilo que vemos designado de
audiência prévia potestativa.

Na prática, fazendo apelo aos direitos potestativos está-se a colocar a contraparte num estado de sujeição,
neste caso a contraparte é o tribunal que tem que levar a cabo a audiência prévia.

Inicialmente dispensou, mas a parte forçou essa audiência – situações enunciadas no artigo 593º

Érica Pereira
DPCD 58

Podemos ainda não ter audiência prévia – artigo 597º al. d) – nas ações de valor não superior a metade da
alçada da relação, até 15M€, findo os articulados, o juiz consoante a necessidade e a adequação do ato ao fim
do processo, convoca a audiência prévia – aqui já não há obrigatoriedade de realização da audiência prévia,
aqui o juiz tem o poder discricionário de entender que se justifica no caso em concreto a audiência prévia ou
de entender que no caso em concreto não se justifica a realização da audiência prévia.

Estas três situações, todas elas com o seu propósito, com a sua motivação, são as únicas em que podemos
falar da não realização da dita audiência.

Em todos os outros casos a audiência é de realização obrigatória (embora haja autores que não o defendam).

Fase da instrução

Trata-se de uma da terceira fase do processo comum de declaração

A instrução tinha as suas disposições legais. Atualmente, entre as disposições de carácter geral e não no sítio
onde normalmente a mesma vinha a ser tratada no código processo civil, ou seja, a seguir a dita fase do
saneamento e condensação do processo. Isso acontece pelo simples facto de a prova dizer respeito a vários
processos e não apenas ao processo comum de declaração, daí ter sido transportada para essa fase do código
de processo civil.

A prova é aquilo que tem por fim ou por desidrato demonstrar a realidade de um facto. É importante, porque
é preciso ter a perceção que tudo aquilo que está os nossos articulados – na petição inicial, na contestação,
na réplica, nos articulados supervenientes – tudo aquilo que foi alegado pelas partes, tem que ser aprovado
sob pena de ser inútil ou supérfluo. E, portanto, temos que ter a preocupação antes de carrear os factos para
o processo de saber se existe ou não prova para esses factos, portanto, daí a relevância da prova. O suporte
legal decorre o artigo 341º CC.

A prova testemunhal embora tenha que ser produzida nos articulados só vai ser apresentada a posteriori,
nomeadamente na audiência final.

De que tipo de prova podemos falar?

Existem as provas pré constituídas e as provas constituendas.

® As provas pré constituídas são aquelas que já estão constituídas antes mesmo do processo de ter tido seu
início. O documento é um exemplo claro e perfeito dessa prova pré constituída;
® A prova constituenda é aquela que se vai constituir ao longo do processo judicial, por exemplo o da prova
testemunhal ou também pode dar-se o caso da prova pericial, da prova confissão das partes partindo do
princípio de que há uma confissão judicial;

Que factos é que carecem de ser provados?

A prova pré constituída já provou determinada factualidade, a mesma carece de ser provada à posterior no
âmbito da audiência final? – NÃO

Então, qual é a factualidade que carece de ser levada a julgamento para depois ser alvo dessa prova? – Eu só
vou ter de levar à fase da audiência final os factos controvertidos, ou seja, os factos por não se encontrarem
provados e por necessitarem de prova, vão ter que ser alvo da mesma no âmbito da audiência final.

Quando falamos de prova, podemos falar das normas jurídicas que regulam a prova. E quando falamos nas
normas jurídicas que regulam a prova, estamos a aludir a uma área de direito, que também existe em direito
processual civil, como em direito processual penal, em direito processual administrativo, etc – que é o
chamado direito probatório.

Érica Pereira
DPCD 59

Esse direito probatório pode ser de dois tipos: direito probatório formal ou direito probatório material.

Relativamente às fontes de onde emergem essas normas jurídicas inerentes a cada uma destas áreas do
direito probatório, temos as normas reguladoras do direito probatório material no código civil – artigo 341º a
396º. Relativamente às normas de direito probatório formal estão presentes nos artigos 410º a 526º CPC.

Porque é que o legislador decidiu colocar em dois diplomas diversos, um carácter substantivo, outro direito
de carater adjetivo, esses dois conjuntos de normas.

O que é que ele disciplina em cada um deles?

Por exemplo, as normas do direito probatório formal, imaginemos que estamos à entrada de uma sala de
julgamento. Entramos na sala de julgamento, está a realizar-se na audiência. Logo imediatamente, ficamos
com uma série de dúvidas, ou seja, o que é que se vai realizar dentro daquela sala? Vamos ver uma pessoa ser
chamada por funcionário judicial. E o funcionário judicial a acompanhar essa pessoa até à cadeira que se
localiza em frente à bancada onde está o senhor doutor juiz.

Porque é que a audiência final se iniciou com aquela pessoa? Quantas pessoas para além daquela, vão ter que
prestar o seu depoimento em tribunal? – Isso diz respeito as normas de direito probatório formal.

Se estamos a verificar, por exemplo, se é admito ou não uma testemunha no âmbito do processo, eu tenho
essa resposta que não no âmbito do código de processo civil, mas não é do código civil.

Mas depois de saber que é admitida prova testemunhal no processo, vou ter uma regra a dizer que a primeira
coisa a fazer perante uma testemunha é a identificação da mesma. Posso ter dez testemunhas no âmbito do
processo comum de declaração, dez pelo autor e dez pelo réu, isso são normas de direito probatório formal.

Portanto, tudo o que diz respeito a regras de admissibilidade da prova, estamos perante questões de direito
probatório material, tudo aquilo que diga respeito a aspetos processuais, o modo de oferecimento, o modo
de produção da prova em juízo, estamos perante normas de direito probatório material.

Relativamente ao direito probatório material, encontramos três problemas:

1. Ónus da prova;
2. A admissibilidade dos meios da prova;
3. O valor probatório de cada um dos meios;

Ónus da prova – podemos dizer que é a espinha dorsal do direito processual.

No direito romano, os magistrados podiam não proferir decisão sobre uma determinada matéria que lhes
fosse presente se não se considerassem suficientemente esclarecidos ou elucidados, de acordo com a prova
que lhes foi trazida por parte das partes. Na prática, podíamos ter aqui uma espécie de negação de justiça.

Atualmente não têm essa hipótese, porque nos termos do artigo 8º CC, o juiz tem sempre que proferir uma
decisão relativamente às questões que lhe são colocadas pelas partes no âmbito de um processo, o juiz não
se pode negar relativamente ao ato fundamental de justiça.

Logo, o ónus da prova vai ser crucial exatamente para funcionar como regra de julgamento. Isso significa que,
eu tenho que saber relativamente a um determinado facto, quem é que tem obrigatoriedade de provar esse
facto, porque se a parte sobre quem recai essa obrigatoriedade de provar o facto, não o provar, então o juiz
vai decidir a questão exatamente em sentido contrário a essa parte sobre a qual recaiu o ónus da prova – art.
344º e 342º CC.

Érica Pereira
DPCD 60

342º – estabelece a regra quanto ao ónus da prova – o legislador sentiu a necessidade de dizer que, àquele
que invoca um facto constitutivo do seu direito cabe fazer-lhe a prova desse facto constitutivo/quem invoca
um facto impeditivo, modificativo ou extintivo desse direito tem obrigatoriamente que fazer a prova desse
facto – teoria da ação exceção – sob pena de, não o fazendo o ónus da prova funcionar como uma regra de
julgamento. O juiz vai decidir em sentido contrário à parte sobre quem recaia o ónus da prova.

Admissibilidade dos meios de prova:

Via de regra, pode ser admitido qualquer meio de prova tendente a provar a factualidade alegada pelas partes
no processo, essa é a regra. Só que, por vezes, temos limitações a esta regra – Limitações de ordem
substantiva, ex. na prova documental nos termos do artigo 875º, se estivermos perante a necessidade de
comprovar a celebração de um contrato de compra e venda de bens imoveis, ele só pode ser aprovado ou por
intermédio de escritura pública ou por intermédio de documento particular autenticado – isto trata-se de
uma limitação à prova, limitação essa de ordem substantiva.

Temos também limitações de ordem de adjetiva, ex. no artigo 495º, o legislador referiu que terão capacidade
para depor como testemunhas todos aqueles que tiverem aptidão mental para depor sobre os factos que
constituam objeto da prova – isto trata-se de uma limitação de ordem adjetiva. O artigo 496º diz que estão
impedidos de depor como testemunhas, os que nas causas que na causa possam depor como partes – isto
também é uma limitação de ordem adjetiva.

Ou seja, a regra que em princípio é admissível qualquer meio de prova, é afastada em certas circunstâncias.

Quais são então os meios de prova que vamos aqui abordar? – As presunções, a confissão, a prova
documental, prova pericial, a prova por inspeção, a prova testemunhal e a conduta processual das partes.

O que é uma presunção? Em que medida é que uma presunção pode ser útil para efeitos de prova? – Na
prática, traduz-se em pegar num facto conhecido para firmar um facto desconhecido.

Podemos ter as presunções ilidíveis que no âmbito de processos judiciais impedem que haja necessidade de
levar a cabo a prova de determinado facto.

A prova por confissão, nos termos legais do código civil é o reconhecimento de um facto que é desfavorável
ao próprio.

Podemos ter a confissão extrajudicial ou a confissão judicial. A confissão judicial, abre porta a uma discussão
que se tem relativamente a dois meios de prova, que são o depoimento de parte e as declarações de parte.

A nível de direito probatório material o artigo 352º ss CC, com particular enfoque no artigo 352º que contém
uma noção legal. O artigo 355º n1 que estabelece essa diferenciação quanto à confissão judicial ou
extrajudicial e os n2 e 4 que nos dão conta quando estamos perante uma ou outra. Nos termos do artigo
354º, encontramos determinadas situações em que não é admissível a confissão.

Série de regras que são relevantes a nível do direito probatório material.

A nível da confissão judicial, interessa sobretudo os artigos 452º ss CPC.

Quando falarmos em confissão judicial, automaticamente vamos pensar no depoimento de parte, porque o
meio jurídico processual apto ou adequado a obter a confissão judicial é o depoimento de parte.

O legislador fala na prova por confissão e declaração de parte e depois dentro da prova por confissão das
partes no artigo 452º estabelece como epigrafe depoimento de parte dizendo que para obter a confissão faço
através do depoimento de parte.

Érica Pereira
DPCD 61

Quem é que pode requerer o depoimento de parte? O próprio pode requerer o depoimento de parte? – Eu só
falo no depoimento de parte quando quero obter o reconhecimento a um facto desfavorável. Logo, não faz
sentido que eu esteja a requerer o meu próprio depoimento de parte. É o princípio da proibição da
autoincriminação.

Nessa circunstância vou requerer as declarações de parte.

Este depoimento de parte tem de ser obrigatoriamente requerido ou não? Certo é que ele pode ser requerido,
portanto, sendo um meio de prova havendo a necessidade de em sede de articulados se apresentar o
requerimento probatório. Portanto, chegámos à conclusão que é esse o momento adequado para se querer
depoimento de partes.

Este meio de prova só pode ser pedido pela parte contrária ou pelo comparte, nunca pelo próprio

No art. 452º ss – Possibilidade de produção de depoimento de partes sem ter sido requerido pelas partes? -
Sim, porque n1 do 452º estabelece a possibilidade de ser o próprio juiz a determinar a produção desse
depoimento de partes e, portanto, contrariamente ao que se passa relativamente a outros meios de prova e
já que vamos fazer aqui a confrontação com as declarações de parte. Relativamente ao depoimento de parte
pode ser determinado oficiosamente pelo tribunal, no caso das declarações de parte elas não podem ser
determinadas oficiosamente pelo tribunal.

Por outro lado, há a possibilidade de se requerer o depoimento parte através da parte contrária ou por parte
da parte contrária e dos compartes com base no artigo 453º n3.

Quando é a parte contrária a requerer esse depoimento de parte:

Quais são os requisitos que devem ser observados?

Art. 452º n2 – Em princípio, os factos sobre os quais vai recair o depoimento de parte têm que ser factos
pessoais e que comportem a confissão. Portanto, há uma obrigatoriedade de as partes ao abrigo do princípio
da cooperação determinarem quais são os factos sobre os quais vai recair aquele depoimento de partes.

Partindo do pressuposto que a parte que requereu o depoimento de parte no âmbito do seu articulado,
requereu-o sem indicar de forma discriminada os factos sobre os quais o mesmo iria incidir, logo a
consequência jurídica processual tem duas hipóteses:

1. Admissão do meio de prova ou indeferimento do meio de prova – Eu não indico de forma discriminada os
factos sobre os quais há de recair depoimento de partes, logo o meio de prova vai ser indeferido. Vai ser
indeferido quando o juiz tomar contacto pela primeira vez, em princípio com os articulados, na audiência
prévia (art. 590º ss). Também nessa fase, ele pode pronunciar-se quanto aos meios de prova que foram
requeridos pelas partes no âmbito dos articulados, deferindo-os ou indeferindo-os, admitindo-os ou não
os admitindo. Portanto, o facto de não haver indicação dos factos discriminados sobre os quais recai o
depoimento de parte é a não admissão do meio de prova;

2. Não indica de forma discriminada os factos logo – princípio da gestão processual – o juiz convida a parte
que requereu o depoimento de parte a indicar os factos sobre os quais irá recair o depoimento de parte,
mas só uma vez. Partindo do pressuposto que a parte persiste em não indicar de forma discriminada os
factos, então aí indefere o requerido depoimento de parte – art. 452º n2.

Quando é que o depoimento de parte tem lugar? – Na audiência final, via de regra, nos termos do art. 456º
n1.

604º – prestação dos depoimentos de parte como primeiro ato a levar-se a cabo no âmbito da audiência final

Érica Pereira
DPCD 62

Mas será que não se pode prestar um depoimento de parte sem ser na audiência final? – Podemos ter o
depoimento a ser prestado na audiência prévia, nos termos do art. 456º n3.

Quem é que vai prestar depoimento de parte em primeiro lugar....

.... caso haja sido requerido o depoimento de parte por ambas as partes? – relativamente à produção de
prova testemunhal começa-se normalmente pelas testemunhas do autor, logo podíamos pensar que o
primeiro a prestar depoimento parte seria o autor, não fora o facto de, uma vez que, este depoimento de
parte visa verdadeiramente é extrair a confissão, em princípio essa confissão de uma forma natural, extrair-
se-á mais rapidamente do réu do que do autor, logo nos termos do art. 458º n1 – quando ambas as partes
tenham de depor perante o tribunal depõe em primeiro lugar o réu e depois o autor.

O art. 459º n2 exige que os depoentes prestem juramento – “juro pela minha honra que hei de dizer toda a
verdade e só a verdade”. Depois de prestar esse juramento, vai iniciar o seu depoimento.

Quem é que vai colocar aqui as questões ao depoente? – Será o juiz, portanto, é outra especificidade do
depoimento de parte, nos termos do artigo 460º.

Os mandatários têm um papel de meros espectadores? Não podem intervir? – Podem pedir esclarecimentos
ao depoente, isso levanta outro problema que é saber se esses esclarecimentos podem ser pedidos
diretamente ou indiretamente através do juiz.

O artigo 462º n1 estabelece essa possibilidade de esclarecimentos ao depoente e depois depende de o juiz
aceitar esse pedido de esclarecimento de modo direto ou de modo indireto.

Declarações de parte

Não se pode perspetivar esse meio de prova como algo supletivo ou subsidiário, ou seja, se tiver a
oportunidade de levar cabo a prova designadamente por intermédio da prova testemunhal, não me vou
socorrer das declarações de parte para tentar afastar aquilo que foi produzido por intermédio da prova
testemunhal.

Então, em que circunstância é que devemos aqui ter esse meio de prova? – Apenas na circunstância em que
ele é o único meio de prova disponível para se lograr fazer a prova, sendo que isso acontece quando por
exemplo, não há produção de prova testemunhal ao alcance da parte. Porque nenhuma testemunha
presenciou os factos logo só através das próprias declarações é que a parte poderá lograr fazer a prova.

Quando é que este meio de prova pode ser requerido ou deve ser requerido? – via de regra, requere as
declarações de parte no requerimento probatório já pode ser requerida a declaração de partes. No entanto,
este meio de prova possibilita que haja um outro momento para o mesmo de ser requerido – até ao início das
alegações orais em primeira instância.

Partindo do princípio que o mandatário do autor depois de se levar a cabo a produção de toda a prova, chega
à conclusão que a prova não está a ser favorável. E requer as declarações de parte, só que nesta sessão em
que ele requer as declarações de parte, a parte não está presente – o julgamento desenrolou-se em cinco
sessões, quatro foram destinadas à produção de prova testemunhal, a parte compareceu a todas, mas na
quinta quando perguntou ao mandatário se precisava de ir no próximo dia, o mandatário disse que era o dia
destinado às alegações orais e que não era necessário comparecer.

Só que, entretanto, o mandatário deteta que seria adequado pedir as declarações de parte e fá-lo por
requerimento no âmbito da audiência final só que não há a presença da própria parte. Quis iuris?

Érica Pereira
DPCD 63

O juiz perante esta situação rejeita as declarações de parte, porque se aceitasse as declarações de parte, teria
que designar uma nova data para a sessão e faria com que os mandatários judiciais informassem aos seus
clientes para não comparecer na audiência, tendo direito a mais uma audiência. Para evitar essa
circunstância, a jurisprudência tem sido decidida nestes casos que se deve indeferir as declarações de parte.

Prova documental

As mensagens no WhatsApp ou outros meios sociais podem ser um documento, mas isso entra dentro de um
terreno designado prova digital.

Noção legal de documento no artigo 362º n1 CC

Relativamente a documentos escritos quais são as modalidades de documentos que temos? – documentos
particulares ou autênticos art. 363º n1.

Documentos a nível do processo, quando é que podem ser apresentados? – Na fase dos articulados, via regra.
Se eles visam comprovar os factos (as alegações de facto), essas alegações de facto constam dos articulados,
logo os documentos também devem de ser juntos com os articulados.

Mas podem ser apresentados à posteriori? Posso apresentar um documento no âmbito da audiência final?

Após o limite temporal previsto no número anterior, portanto, o legislador está a equacionar a possibilidade
de ser depois desses 20 dias – Art. 423º n1/2/3.

Nos termos do 423º n2 CC – podem ser apresentados até vinte dias antes da realização da audiência final, no
entanto, a parte vai ser condenada em multa, por regra, exceto se conseguir provar que não pode apresentar
o articulado. Depois têm a possibilidade de apresentar aqueles cuja apresentação não tenha sido possível até
àquele momento.

Quais são os documentos que eu posso apresentar na audiência final, sem correr o risco de ele ser indeferido?

• Aqueles que consiga provar que só tive acesso ou conhecimento da existência daquele documento em
momento posterior ao que supostamente deveria apresentar;

Ou então...

• O próprio documento ainda não existia no momento da alegação e só é produzido a posteriori.

Nos termos do n3 existe a possibilidade de apresentar documentos? – Nos termos do art. 425º, há
possibilidade de apresentar o documento inclusive na fase de recurso, desde que, se prove que a
apresentação não tinha sido possível até aquele momento.

O artigo 426º, estabelece que os pareceres de advogados, professores ou técnicos, podem ser juntos nos
tribunais de primeira instância em qualquer estado do processo.

No caso em concreto pode ser junto dos tribunais de primeira instância como pode ser junto, inclusive no
âmbito de um recurso. Nada impede que se junte um parecer no Tribunal da Relação, ou inclusive no
Supremo Tribunal de Justiça.

Estes pareceres são ou não documentos? – Sim, estão integrados dentro da parte respeitante à prova
documento.

Estes documentos obedecem ao art. 423º quanto ao momento de apresentação ou não? – Explicitamente não,
porque o legislador diz que os pareceres podem ser apresentados em qualquer estado do processo.

Érica Pereira
DPCD 64

Perante a apresentação de um parecer em audiência final o juiz vem dizer que a apresentação do documento
é extemporânea porque extravasa o artigo 423º.

Resultado – recurso de apelação e o tribunal da relação vem dizer que é prova documental, mas
quanto ao momento poderia ser apresentado em contexto de audiência final, não teria a parte de justificar
nada.

Aspetos relevantes relacionados com a prova documental:

1. Junção de pareceres aos autos – relativamente à junção no âmbito do recurso de apelação n2 do artigo
651º, segundo o qual esses pareceres poderão ser juntos até ao início do prazo para a elaboração do
projeto de acórdão. Relativamente ao recurso de revista n2 do artigo 680º que remete para o n2 do
art. 651º.

2. Estamos sempre a partir do pressuposto que a parte tem acesso ao documento, e, portanto, tendo acesso
ao documento já sabe quais são os momentos em que terá que proceder à junção desse mesmo
documento.

O problema por vezes ocorre com o seguinte aspeto....

.... por vezes o documento que a parte sabe que existe e que tem interesse em juntar aos autos para a prova
dos factos por si alegados está em poder da parte contrária ou então está em poder de terceiro. E nessa
circunstância, o código de processo civil estabelece determinadas regras relativamente a esses documentos
que estão em poder da parte contrária ou em poder de terceiro.

O artigo 429º e artigo 432º, com especial enfoque no 429º porque se vai extrair uma consequência jurídico
processual do facto de a parte contrária que tem o documento em sua posse e que deve proceder a essa
junção, não cumprindo com essa determinação por parte do tribunal de proceder à junção do documento, vai
sofrer a devida consequência – está previsto no artigo 430º que remete para o n2 do artigo 417º.

Partindo então do pressuposto que a parte contrária não procede a junção do documento, será condenada
em multa, sendo parte o tribunal vai apreciar livremente o valor da recusa para efeitos probatórios, sem
prejuízo da inversão do ónus da prova decorrente do preceituado no n2 do artigo 344º CC.

3. Há ou não cumprimento do princípio do contraditório? – Muito naturalmente a parte que seja


confrontada com a junção aos autos de um documento pode pronunciar-se quanto ao mesmo,
designadamente para lançar mão, por exemplo, de um incidente de impugnação, da genuinidade do
documento ou para arguir a falsidade desse documento.

Quando é que vai exercer esse contraditório? – Partindo do pressuposto que o documento foi junto com o
articulado inicial com a petição inicial muito naturalmente que o réu vai exercer o contraditório relativamente
a esse documento na contestação.

Partindo do pressuposto que o documento é junto com o último articulado, aí já se começam a levantar
alguns problemas, designadamente saber qual é o prazo que está disponível para se poder exercer esse
contraditório.

Existe um prazo supletivo que está previsto no artigo 149º e que é aplicável a este caso em concreto.

Portanto, nada sendo dito em sentido contrário, a parte contrária beneficia de um prazo de 10 dias para se
pronunciar quanto ao teor do documento.

Esse prazo de 10 dias, por vezes não é observado quando acontece a junção de documentos no decurso da
audiência final, porque se beneficiarmos de um prazo de 10 dias, tínhamos obrigatoriamente que estar a adiar
essa audiência final.

Érica Pereira
DPCD 65

Então, nessa circunstância a parte, caso seja possível (e na esmagadora maioria das vezes, o legislador e o juiz
consideram que é possível), tem que analisar o teor do documento na própria data da audiência final.

Só partindo do pressuposto que esse documento não é passível de uma análise rigorosa e detalhada na data
da audiência final é que poderá haver a concessão à parte contrária de um prazo para se pronunciar quanto
ao teor do documento e, consequentemente, haver um adiamento da audiência que se encontra em curso.

Prova pericial

Previsto no Código Civil nos artigos 388º e 389º (força probatória)

A prova pericial está relacionada com a necessidade de se fazer intervir nos autos um perito.

Mas porque é que esse perito tem de fazer a sua intervenção no âmbito do processo? – Porque, de acordo
com o artigo 388º é preciso ter determinados conhecimentos especiais que os julgadores (partes e
mandatários) não possuem, ou então, quando os factos relativos a pessoas não devam ser objeto de inspeção
judicial.

Quando são necessários esses conhecimentos especiais?

Ex: contratos de empreitada, incumprimentos, vícios de construção, defeitos, ações de investigação de


paternidade – há necessidade de fazer intervir a prova pericial.

A perícia pode ter que modalidades?

A regra é que a perícia seja singular, mas, em certos casos podemos ter a perícia colegial – art. 468º CPC

Quem paga estas perícias são as partes, isto depois entra em regra de custas e as partes vão proceder ao
pagamento dos onerários dos peritos.

Art. 475º – é preciso no final estabelecer os factos sobre os quais vai recair essa prova pericial e depois de
levar a cabo a dita perícia, os peritos têm que elaborar o relatório nos termos do art. 484º que poderá ser alvo
de reclamação por parte das partes com fundamento em eficiência, obscuridade ou contradição de acordo
com o art. 485º.

As partes ao serem confrontadas com esse relatório pericial e pelo facto desse relatório estar com uma
linguagem demasiado técnica, sentem a necessidade de pedir ao tribunal para que os peritos estejam
presentes na audiência final. Na prática, é pedir aos peritos para trocar a linguagem técnica para uma
linguagem mais acessível para se fazer ver ao tribunal qual a perícia que foi levada a cabo – art. 486º e 604º
n3 al. c) CPC.

Inspeção judicial

Artigos 390º e 391º do CC e nos termos do art. 490º ss CPC

A resposta dos peritos é fixada livremente pelo tribunal e esta força probatória também é comungada pela
prova por inspeção segundo o artigo 391º também o resultado da inspeção será livremente apreciado pelo
tribunal.

A prova por inspeção, de acordo com o artigo 390º, tem por fim a perceção direta de factos pelo Tribunal, ou
seja, aqui já não é o tribunal que sente a necessidade por carecer de determinados conhecimentos técnicos,
de chamar um perito para levar a cabo a sua função e elaborar o relatório, mas é o próprio tribunal que sente
a necessidade de constatar in loco com os seus próprios olhos, determinada situação.

Érica Pereira
DPCD 66

Na inspeção judicial, nos termos do artigo 490º, existe a possibilidade de haver uma inspeção judicial a
requerimento das partes ou uma inspeção determinada oficiosamente, portanto, isso também perpassa do
n1 do artigo 490º. E de acordo com o preceito seguinte, as partes serão notificadas do dia e hora da inspeção
e podem por si ou pelos seus advogados, prestar ao tribunal os esclarecimentos de que ele carecer, assim
como chamar a atenção para os factos que reputem interesse para a resolução da causa.

O resultado desta inspeção deverá materializar-se num documento, estamos neste caso em concreto a
referimos ao auto de inspeção onde irão ser registados todos os elementos úteis para o exame e decisão da
causa, podendo inclusive o juiz determinar que se tirem fotografias para serem juntas ao processo.

O CPC 2013 decidiu lançar mão das chamadas verificações não judiciais qualificadas que na prática têm de
diferença relativamente à prova por inspeção o facto de, ao invés de ser o magistrado judicial a levar a cabo
essa inspeção, ser uma pessoa (ex. funcionário judicial) incumbida pelo magistrado judicial de levar a cabo a
inspeção.

Prova testemunhal

Artigos 392º a 394º CC

Temos que destacar as situações que comportam prova testemunhal e as situações que excluem a
possibilidade de se levar a cabo a prova testemunhal.

Artigo 393º – estabelece uma espécie de confrontação entre a prova testemunhal e a prova documental,
podendo extrair a conclusão de que sempre que determinado facto tenha que ser provado por documento
não é passível de prova testemunhal.

O artigo 396º comprova que, quer a prova pericial, quer a prova por inspeção, quer a conduta processual das
partes, a prova testemunhal também é apreciada livremente pelo tribunal.

Relativamente ao código de processo civil artigos 495º e 526º

Desde logo o facto de a parte nunca poder ser testemunha – artigo 496º.

A respeito das relações de afinidade ou parentesco de testemunhas com partes – nessa circunstância o
legislador estabeleceu que se poderão recusar a depor como testemunhas, os ascendentes nas causas dos
descendentes, os adotantes nas dos adotados e vice-versa, o sogro, ou a sogra, nas causas do genro da nora e
vice-versa, qualquer dos cônjuges ou ex cônjuges nas causas em que seja parte o outro cônjuge ou ex-cônjuge
e quem conviver ou tiver convivido em União de facto em condições análogas à dos cônjuges com alguma das
partes – Estabelece-se no n2 do artigo 497º que o juiz deverá advertir estas pessoas da faculdade dizer se isto
de recusarem a depor.

E, portanto, permite-nos concluir que estas pessoas podem prestar o seu depoimento enquanto testemunha,
não há qualquer impedimento para as pessoas o fazer, o juiz só os adverte da possibilidade que tem de se
recusar a depor.

Se se recusarem a depor passa-se para a testemunha seguinte, se quiserem prestar o depoimento, o


depoimento vai ter que ser valorado da mesma maneira que é valorado o depoimento de outra pessoa.

Artigo 498º – as testemunhas deverão ser designadas no rol pelos nomes, profissões e moradas e por outras
circunstâncias necessárias para as identificar – esta norma contém aqui regra bastante importante, que é a
possibilidade de a parte desistir a todo o tempo da produção de prova testemunhal. Por exemplo,
contrariamente ao que se passa no âmbito da prova pericial, porque a partir do momento em que a prova
pericial é requerida, a parte não poderá desistir da mesma sem anuência da parte contrária (art. 474º CPC).

A parte é livre a qualquer momento de desistir da produção de prova. É livre de prescindir da testemunha.

Érica Pereira
DPCD 67

Muitas vezes, no dia aprazado para a audiência final e para a inquirição daquela testemunha em concreto, a
testemunha não comparece e, muitas vezes, o mandatário da parte que arrolou aquela testemunha é
colocado perante um dilema, saber se prescinde ou não da testemunha.

Se não prescindir da testemunha imediatamente a testemunha vai ser sujeita a uma cominação, que é
justificar o porquê da sua ausência e partindo do pressuposto que essa ausência não é considerada justificada
vai ter que pagar uma multa.

A testemunha pode ainda ter que comparecer numa nova data sobe custodia.

Para evitar isto, o mandatário pode prescindir daquela testemunha e não haverá qualquer problema, salvo se
o tribunal considerar que a testemunha é de tal modo fundamental que não pode ser prescindida – art. 498º
n2 e 526º.

Quanto ao momento do depoimento a regra consta no art. 500º – a regra é que as testemunhas prestem o
seu depoimento na audiência final.

Normalmente há uma incumbência das partes apresentarem as testemunhas que foram arroladas no âmbito
da audiência.

Se não tenho contacto com a testemunha devo requer ao tribunal que a testemunha seja notificada pelo
próprio tribunal para comparecer.

O art. 511º relativamente aos limites quanto ao número de testemunhas – dez testemunhos para a prova dos
fundamentos da ação e dez testemunhas para prova dos fundamentos de defesa. Cinco testemunhas quando
estamos perante ação até 5M€, quer pelo autor quer pelo réu, podendo haver um acréscimo relativamente às
situações de reconvenção.

O art.512º que estabelece que as primeiras testemunhas a depor serão as do autor e seguidamente as do réu.

O ao artigo 516º estabelece a necessidade de testemunha depor com precisão sobre a matéria dos temas da
prova, indicando a razão da ciência e quaisquer circunstâncias que possam justificar o conhecimento. Isto é
importante, porque através desta norma se afasta o chamado testemunho de “ouvi dizer”, ou seja, não posso
ter uma testemunha a relatar um depoimento indireto.

Temos que fazer alusão a dois incidentes relacionados com a prova a testemunhal, a contradita e a acareação.

® Temos uma situação de acareação quando, no âmbito de dois depoimentos que foram prestados, quer
esses depoimentos sejam de duas testemunhas, quer seja de uma testemunha, quer seja da parte, haja
uma contradição insanável entre os dois. E, portanto, se há essa contradição insanável, muito
provavelmente o tribunal vai ter interesse em colocar uma testemunha frente à outra para tentar extrair
qual delas é que estará de facto, a falar a verdade – artigo 523º

® Relativamente à contradita, é importante porque por vezes, a testemunha que tinha algo tão
clarividente em determinada altura passou a ser demasiadamente nebuloso. E isso, por vezes, indicia
que aquela testemunha foi ensaiada e por vezes a testemunha ou quem ensaiou esquece-se que
existem registos relativamente ao primeiro depoimento da testemunha – artigos 521º

Ex: é usual a testemunha ter prestado declarações no âmbito de um processo inquérito crime e, nesse caso,
há um registo desse depoimento no âmbito do inquérito.

Se no âmbito do processo cível a testemunha vai dizer o contrário daquilo que disse no âmbito do inquérito
crime, vamos lançar mão deste incidente da contradita juntando aos autos a certidão das declarações da
testemunha no âmbito do processo de inquérito.

Érica Pereira
DPCD 68

Qual é a intenção? – abalar a credibilidade daquela testemunha perante o tribunal.

Artigo 525º permite que as testemunhas venham a juntar aos autos despesas que tenham dito relacionadas
com a produção do seu depoimento.

Força probatória dos meios de prova:

E relativamente à força probatória dos meios de prova, podemos extrair uma regra que decorre de um artigo
previsto na última fase, designadamente na fase da sentença – art. 607º n5 – Segundo o qual o juiz aprecia
livremente as provas, segundo a sua prudente convicção acerca de cada fase. A regra no âmbito da prova é a
regra livre, o que significa que o tribunal, com base nas suas perceções acerca da prova que diante de si
decorreu, vai avaliar livremente todos esses meios de prova, atribuindo-lhes a credibilidade ou a falta de
credibilidade inerente.

Há uma testemunha que diz claramente que aquele facto ocorreu de uma determinada forma e há uma
testemunha que diz o contrário – não se utiliza a acareação, na maioria das vezes ela não conduz a nada e
porquê? Porque as testemunhas sabem perfeitamente que se admitirem que estavam a mentir deixam de ter
essa qualidade jurídico-processual de testemunha e passam a adquiri outra qualidade, que são arguidos num
processo-crime. Assim, é difícil que a testemunha admita que estava a mentir. Ou seja, o que normalmente
ocorre nas acareações é que as testemunhas mantêm a sua versão e o tribunal fica exatamente no mesmo.

Ficando o tribunal exatamente no mesmo o que é que o juiz vai fazer perante essa circunstância? – a
atribuição de credibilidade a uma testemunha ou falta dela, é algo incindicavel em sede de recurso.

A credibilidade é uma apreciação subjetiva e discricionária por parte do magistrado judicial, só o magistrado
judicial em primeira instância que está a analisar aquela prova é que está apto para dizer se na sua visão
enquanto técnico e ser humano aquela testemunha tem ou não credibilidade. Na prática, a livre apreciação
muitas vezes não é passível de ser afastada por parte das partes ou por parte dos seus mandatários porque
está relacionado com a valia que o tribunal atribuiu a cada um dos meios de prova.

A livre apreciação da prova é a regra, contudo, há circunstâncias em vez da livre apreciação da prova temos a
chamada prova legal ou tarifada.

Isto é, quando é a própria lei a dizer qual é a força probatória, qual é o valor jurídico que se deve retirar de
determinado meio de prova, e nesta circunstância, falamos da classificação da prova quanto ao chamado grau
de destrutibilidade da mesma.

E costumamos falar em três espécies de prova quanto à força probatória: a prova bastante, a prova plena e a
prova pleníssima.

Prova bastante – a única incumbência que temos é criar no espírito do legislador que uma dúvida que de facto
as coisas se passaram daquela forma. A partir do momento em que esta dúvida está instalada. Já se passa
para a parte que tem o ônus da prova, a incumbência de fazer a mesma, não o fazendo, o juiz decide contra a
parte.

Portanto, na prática, a prova bastante assenta na chamada contra prova.

Prova plena – é aquela que só pode ser afastada, não com este estado de dúvida criado no jugador, mas sim
ao contrário, através da prova do contrário.

Temos um meio de prova que é o das presunções iuris et iure que se faz a chamada prova pleníssima – ou
seja, não admite contraprova e não admite a prova do contrário, portanto, é absolutamente irrefutável, não
pode ser afastado.

Érica Pereira
DPCD 69

Relativamente à prova plena:

• Artigo 371º n1 do Código Civil relacionado com a prova por documento autêntico;
• Artigo 350º n2 do Código Civil relacionado com as presunções, mas desta feita com as ilidíveis;
• Artigo 358º n1 a propósito da confissão judicial escrita.

Audiência Final

Questão terminológica:

O facto de atualmente termos esta audiência designada deste modo, como audiência final, mas antes do CPC
DE 2013 tínhamos uma designação diferente, falava se de audiência de discussão e julgamento.

Lebre de Freitas - critica esta última designação, designadamente por ela pecar não só por defeito, mas
também por excesso.

Logo nas primeiras aulas falamos dos códigos que precederam o código de 2013 de estabelecer uma
separação relativamente à matéria de facto e à matéria de direito – e nesta altura falamos da:

• Discussão da matéria de facto;


• Julgamento da matéria de facto;
• Discussão da matéria de direito;
• Julgamento da matéria de direito;

Quando falamos de audiência discussão e julgamento estávamos a incluir estas 4 facetas.

Estávamos, portanto, a excluir da mesma a fase da instrução que como já vimos, pese embora a tenhamos
autonomizado acaba por ser uma fase que na sua esmagadora maioria tem o seu desenrolar na audiência
final. Ao falamos de audiência, discussão e julgamento não estávamos a atender a esse aspeto crucial da
produção de prova.

Pecava também por excesso na medida em que ao falar da discussão de matéria de direito e do julgamento
da matéria de direito em bom rigor já estávamos a jusante da própria audiência.

Porquê?

Relativamente á discussão da matéria de direito ela era feita por escrito no âmbito do processo ordinário,
quando já tinha sido concluída a audiência E relativamente ao julgamento da matéria de direito, em bom
rigor, trata-se da sentença.

E, portanto, na prática podemos dizer que o legislador recetivo destas críticas oriundas da doutrina acabou
por dar uma machadada final relativamente a esta designação, que como sabemos, ainda é uma expressão
que é muitas vezes utilizada. Pese embora devamos optar pela expressão audiência final – por razões que
acabamos de enunciar e por contraponha à audiência prévia que já tivemos a estudar.

A audiência final desenrola-se sob orientação de 3 princípios

® Princípio da imediação e oralidade – sobretudo na vertente da imediação

Falamos deste princípio quando falamos na possibilidade, de relativamente à matéria de facto, haver uma
impugnação da mesma junto do tribunal da relação. Quando os juízes desembargadores estão perante essa
matéria de facto, estão numa posição menos favorável relativamente aos colegas da primeira instância.

Érica Pereira
DPCD 70

Exatamente porque o princípio da imediação não é verificável no âmbito do recurso da relação e dessa
apreciação que os juízes de segunda instância fazem relativamente à matéria de facto.

Em que se manifesta?

Está relacionado com o contacto que as partes têm quer com o tribunal, quer com o contacto que também é
estabelecido entre o tribunal e por exemplo as testemunhas e por exemplo com os mandatários.

Na prática este princípio manifesta-se neste contacto direto entre todos os intervenientes processuais. Isto é
importante porque não havendo este contacto com os intervenientes processuais algumas coisas que podem
ser relevantes a nível da causa, podem não ser percecionadas por quem vai decidir essa causa,
designadamente por parte do julgador.

Daí que privilegiamos no âmbito desta audiência final o princípio da imediação – contacto direito e todos os
intervenientes processuais.

Por vezes, este princípio sai prejudicado.

Ex: Se tiver um depoimento testemunhal, pode ser prestado por escrito, o princípio da imediação pode ser
sacrificado – neste caso concreto, e provavelmente o magistrado judicial não terá acesso a determinados
sinais de que esse depoimento é credível ou não ou que poderá sacrificar o princípio da livre apreciação da
prova.

Artigo 605º do CPC – princípio da plenitude da assistência do juiz. O juiz que vai começar a audiência final vai
começar os atos de produção de prova terá de ser o mesmo juiz que vai findar esses mesmos atos de prova a
não ser que aconteça uma impossibilidade temporária (pode conduzir à interrupção da audiência) mas sim
uma impossibilidade definitiva (o legislador estabeleceu a possibilidade de se repetir toda a prova).

® Princípio da Publicidade

Remota ao iluminismo, já dessa altura que as audiências passaram a ser públicas, na prática isso traduz-se na
possibilidade que qualquer cidadão tem de assistir a uma audiência final/julgamento.

Daqui extrai-se a transparência a nível da aplicação da justiça – ou seja, o juiz que leva acabo uma audiência
com a sala fechada, em princípio estará a impedir que a comunidade, que na prática é a quem se dirige as
decisões judiciais, não possa sindicar das suas tarefas enquanto juiz – daí a importância das audiências
puderem ser sindicadas por terceiros inclusive para ver se de facto está a haver a chamada boa administração
da justiça.

Claro está que este princípio pode ter algumas restrições de índole legal:

• Ações sobre o estado das pessoas;


• Ações onde estão a ser alegados aspetos da sua vida privada;
• Necessidade de reproduzir um vídeo inerente a determinados aspetos que apenas dizem respeito
aquela família, o juiz pode restringir a publicidade.

Fora destas circunstâncias a regra é a da publicidade da audiência.

Artigo 606 nº1 do CPC

® Princípio da concentração ou da continuidade

Artigo 606 nº2 ss CPC

Ou seja, a audiência uma vez aberta é continua.

Érica Pereira
DPCD 71

O ideal seria que a audiência final fosse declarada aberta por parte do magistrado judicial e fosse concluída no
próprio dia – mas isso não é possível sobretudo quando temos necessidade de ouvir mais do que uma
testemunha – normalmente as audiências finais (dos processos comum de declaração) têm mais do que uma
sessão – também já sabemos quando essas sessões.

O facto de termos mais do que uma sessão não é sinónimo de descontinuidade, para efeitos legais quando há
necessidade de se levar a cabo outra sessão, temos só de tomar em conta o prazo de 30 dias, ou seja, tudo
aquilo que ocorre nos 30 dias imediatos ao encerramento de uma sessão, esta de acordo com a lei, a dar
cumprimento ao princípio da continuidade.

A partir do momento em que o juiz não tem condições para levar a cabo a audiência ou continuar essa
audiência dentro desse período de 30 dias, tem de justificar expressamente o porquê da audiência não ter a
sua continuidade dentro dos 30 dias.

Qual é a importância destes 30 dias?

Primeiro de tudo importa saber que é subjetivo, uma vez que tem a ver com a perceção e com a memória. – o
legislador estabelece que em princípio é razoável supor que num prazo de 30 dias o magistrado judicial ainda
se recorda da prova que foi levada a cabo diante de si.

Claro está que isto parte do princípio que:

1. O magistrado tem uma boa memoria;


2. Não foram assim tantas as diligências judicias que tiveram lugar durante este ato temporal, como é
óbvio, começando a multiplicar isto dezenas de processos não é viável o cálculo feito pelo legislador.

Na prática nós temos a necessidade de dar continuidade à audiência – de levar a cabo estas sessões dentro
deste prazo porque em princípio o magistrado terá as coisas mais presentes.

Esta audiência por imposição legal é sempre gravada.

Normalmente os magistrados vão para audiência com um caderno e vai tomando uma notas, é óbvio que não
deposita tudo na sua memória e mesmo que o fizesse teria a oportunidade de puxar o filme atrás, mas o
legislador quer as coisas estejam bem presentes para haver continuidade da audiência e para haver a
apreciação da prova de acordo com os mesmos critérios- daí a importância de ter de ser sempre o mesmo
julgador a apreciar a produção de prova.

Há quem diga que uma audiência final que, por ex, tenha produção de prova numa ou duas sessões que são
enviadas no prazo de uma semana e depois tem a sua continuidade noutras sessões que demoram os 30 dias
– viola o princípio do contraditório.

Porque normalmente ao nível da produção de prova, vamos ter a produção da prova do autor e depois do
réu.

E podemos dizer que aquilo que sucedeu há 30 dias ou mais já estará mais desvanecido do que aquilo que se
deu nestes dias relativamente à prova do réu e isso pode implicar uma violação do princípio de igualdade
entre as partes e também do contraditório.

Artigo 603º n1 – há determinadas circunstâncias que não vai permitir que se faça e estão relacionadas com o
impedimento do tribunal

Érica Pereira
DPCD 72

Voltando à audiência propriamente dita….

Esta audiência realiza-se sempre na data que está aprazada ou não?

A primeira sessão está marcada para Dia 1 de junho às 9h – as partes deslocam-se ao tribunal, a audiência
realizar-se-á obrigatoriamente?

Há determinadas circunstâncias que podem implicar a não realização da audiência – previstas no artigo 603º
nº1 do CPC.

1. Impedimento do tribunal

Ex: Covid, na véspera somos contactados pelo tribunal, quando o juiz dá cumprimento ao princípio da
cooperação e boa-fé porque muitas vezes não contacta.

Ex: falta de salas (impedimento de ordem estrutural), inundação, impedimento tecnológico.

2. Segunda ordem de razões que podem conduzir à não realização de audiências

Se faltar algum dos advogados (de acordo com uma determinada condição)

Artigo 151 nº1 do CPC– deverá ver com os mandatários se tem disponibilidade para comparecer em alguma
data\ ou algumas dessas datas– partindo do princípio de que isto não é feito podemos ter um caso em que o
advogado falta e que isso determinada o adiamento da audiência, por isso é que o 603º CPC estabelece o
“acordo prévio” – remissão que poderá ser feita para o artigo 151 nº1.

Uma outra situação – justo impedimento poderá acarretar a não realização da audiência final.

O Prof Lebre de Freitas enquadra dentro do justo impedimento a autonomia da prova documental.

Refere que do documento pode ser apresentado para além dos 20 dias em que se realiza a audiência final até
podia acontecer que fosse junto na própria data da audiência final – ora, se isso acontecer, e se a parte não
prescindir do prazo de análise ao documento, se eventualmente houver complexidade na apreciação desse
documento também pode ser um caso que implique o adiamento da audiência.

Artigo 603º n1 com exceção deste último que está previsto no artigo 423º n3 e 424º CPC.

O mandatário do autor e do reu se encontram no tribunal, já se conhecem e ambos querem adiar o


julgamento, podem? – adiamento por acordo, sim ou não? E se o juiz aceitar porque também de dá jeito?

Artigo 272º n4 CPC – possibilidade da suspensão da instância – os mandatários faziam isto dizendo que
estavam em vias de chegar acordo e por isso, solicitavam a suspensão da instância – como agora são 3 meses,
mas antes eram 6, esses 6 meses não tinham, entretanto, decorrido, estavam sempre nessa possibilidade de
adiar a audiência fruto da suspensão da instância.

O legislador reduziu esse período para metade e ainda profere que as partes podem suspender a instância
desde que isso não implique o adiamento da audiência.

No caso em apreço, o juiz não poderia entrar nesta concertação sugerida por porta dos mandatários judiciais
– audiência final realiza-se.

Primeiro ato levado a cabo no âmbito da audiência final

Chamadas as pessoas, regularmente convocadas o juiz leva a cabo a audiência.

Érica Pereira
DPCD 73

• Tentativa de conciliação – já conhecido fruto da audiência prévia a não ser que estejamos sob
processos que estejam na discussão de direitos que se subtraiam à livre disponibilidade – nestes
casos não há tentativa de conciliação.
• As partes vão transigir – faz-se um auto de conciliação e o processo finda.

Não havendo conciliação...

A audiência prossegue e levar-se-ão a cabo todos os atos previstos no n3 nas alíneas a) a e)

A alíneas a) a d) temos atos de instrução todos relacionados com a produção de prova- na alínea e) temos a
discussão entre os mandatários – que toma a designação de “alegações orais”, ou seja, finda a produção de
prova, o advogado do autor e o advogado do réu vão alegar num período de 1h (cada um deles) ou poderá ser
30 min em determinado tipo de ações – com a possibilidade de replicar em 30 min.

O que é que se faz com essas alegações?

Convencer o juiz da bondade da posição do seu cliente – tentar manipular o juiz, tentar fazer ver que aquela
decisão que se perspetiva e enuncia, e que ele ao longo da produção de prova, foi dada umas “achegas” que
está mais inclinado para aquela decisão, não faz sentido.

Aqui os magistrados vão convencer o magistrado da posição do seu cliente.

Concluídas as alegações – encerramento da audiência e o processo é concluso ao juiz para que ele profira a
decisão.

Sentença

® Primeiro aspeto

Fizemos apelo à sentença noutras partes da matéria designadamente na segunda fase da gestão inicial do
processo e na audiência prévia. Falamos da sentença para estabelecer uma diferenciação relativamente ao
despacho saneador sentença.

A sentença para estabelecer uma diferenciação relativamente ao despachado saneador sentença, porque
quer num caso quer no outro vamos ter uma decisão quanto ao aspeto jurídico da causa, só que no caso da
sentença, essa decisão ocorre depois da fase instrução e da audiência final, enquanto no caso do despachado
saneador sentença ele vai ocorre no âmbito da fase da gestão inicial do processo e da audiência prévia.

® Segundo aspeto

Já tivemos a oportunidade de dizer que quando normalmente quando fazíamos apelo a sentença, estávamos
sobretudo preocupados com aspeto da decisão de direito, e na prática a sentença era a decisão do aspeto
jurídico da causa. Atualmente, as coisas não são bem assim.

O prof Lebre de Freitas tese críticas relativamente à diferença entre audiência, discussão e julgamento e
audiência final, nós agora temos concentradas na sentença quer a decisão de direito, quer a decisão de facto.

Ou seja, aquela decisão de facto que se situava no âmbito da discussão de julgamento passou a ser transposta
para a fase da sentença. Portanto, o aspeto decisório envolver quer a matéria de facto e quer a matéria de
direito.

® Terceiro aspeto – prazo para prolação da sentença

Quanto ao prazo – art. 607º n1 – o juiz a partir que o processo vier concluso (ato de conclusão), vai ter um
prazo de 30 dias para proferir a sentença.

Érica Pereira
DPCD 74

Isto sem prejuízo, de na eventualidade de haver necessidade, por motivos de esclarecido sobre um
determinado aspeto o juiz pode ordenar a reabertura da sentença – n1 do artigo 607º CPC.

Estrutura da sentença

Pode ser dividida em três partes: relatório, fundamentação e decisão.

Relatório

Relativamente ao relatório é incluído a identificação das partes e objeto de litígio, enunciando de seguida as
questões que ao tribunal cabe solucionar, ou seja, o relatório está expressamente referido no art. 607°/n°2 do
CPC.

Relativamente ao despacho do artigo 596° CPC, normalmente está identificação do objeto de litígio era feita
apenas no âmbito da sentença, a partir do momento que temos o despacho do artigo. 596º CPC a
identificação do objeto de litígio já pode ter sido feita a montante no âmbito da segunda fase (gestão inicial
do processo e da audiência prévia).

Está parte do relatório funciona, na prática funciona como história do processo, o juiz vai identificando as
partes, vai dizer aquilo que as partes querem que o tribunal decida e depois pura e simplesmente irá fazer a
transição para a segunda parte, que é a parte da fundamentação e normalmente o juiz utiliza uma forma
sacramental “posto isto, cumpre apreciar e decidir”.

Se analisarmos uma sentença enquanto peça processual, sabemos que a transição da fase do relatório para a
fase da fundamentação ocorre a partir desta dita forma.

Fundamentação

A fase da fundamentação está prevista no art. 607º n3 CPC. Todo o processo civil, nomeadamente o processo
civil declarativo assenta sobre a necessidade da fundamentação e motivação, ou seja, o juiz para poder decidir
algo terá que dizer expressamente as partes, para que as partes consigam aferir se de facto está ou não a ser
observa a lei e o direito, dizendo quais são as razões pelo qual está a decidir daquele modo.

Entre os fundamentos, o juiz terá que mencionar os quais os fundamentos que lhe permite decidir a matéria
de facto de acordo com o que foi decidido, e por outro lado terá que apresentar os motivos e os fundamentos
de direito que lhe permite na última parte (decisão) optar por julgar a ação procedente ou improcedente.

Decisão final

Relativamente, quanto a decisão, a mesma está prevista no art. 607º n3 CPC sobretudo na parte final. O juiz
terminará de uma das seguintes formas:

A sentença poderá julgar em primeiro lugar julgar ação procedente por provada - quando isso acontece o juiz
vai apreciar o mérito da causa e considerar que toda a prova que foi carreada para os lagos por parte do autor
é suficiente para que ação obtenha provimento.

Ou...

A sentença pode julgar improcedente por não provada a causa - o autor não conseguiu carrear para os autos
prova suficiente da factualidade que invocava.

Em ambos casos temos uma decisão quanto ao mérito, mas ainda existe a hipótese do juiz ter uma decisão
quanto a aspetos processuais, portanto, decisões quanto a questão de forma.

Érica Pereira
DPCD 75

Podemos ter aqui, o conhecimento por parte do magistrado judicial de exceções dilatórias, referirmos que o
juiz no âmbito da segunda fase remeter para a fase final o conhecimento de uma determinada exceção
dilatória, se houvesse necessidade produzir provas.

Então, se isso tive ocorrido o juiz vai poder julgando a exceção dilatória culminar com uma decisão a
absolvição do réu da instância.

Mas podemos ter outras hipóteses, o juiz conhecer da exceção dilatória e não a considerar procedente e de
seguida conhecer do mérito da causa.

Na prática, podemos ter conhecimento quanto a questões processuais e questões de mérito.

Por outro lado, a sentença conheça de uma eventual litigância de má-fé que haja sido invocada pelas partes e
que conheça também inevitavelmente sob pena de haver um pedido de reforma quanto as custas, isto é, a
sentença terá sempre que dizer quem será o responsável das custas inerentes ao processo, prevista no
art.607º n6 e 527º e ss, sendo certo que entende-se no n2 do 527º que a parte que perder será condenada
nas custas.

Este segundo artigo foi analisado quando falamos sobre o princípio da boa-fé.

A sentença em obediência do princípio do dispositivo deve de acordo com o art.609° do CPC condenar os
precisos limites daquilo que foi pedido ao tribunal, sob pena de quando isso não ocorre estarmos perante
uma situação de nulidade da sentença, designadamente a situação que se encontra prevista na aliena d) do
art. 615º do CPC.

No entanto, entre as causas de nulidade de sentença estão previstas no n1 nas suas várias alíneas. O facto de
a sentença não conter a assinatura do juiz é causa de nulidade da sentença, pese embora, nos termos do
art.615º n2 essa omissão pode ser suprida oficiosamente, ou então a requerimento de qualquer das partes.

Também consta, a falta de especificação de fundamentos de factos e direitos que justificam a decisão, em
relação a segunda parte da fundamentação a consequência de não haver é a sua nulidade.

E por outro lado, a aposição entre fundamentos e decisão, ambiguidade ou escuridade é uma causa de
nulidade da sentença.

E nos termos da alínea d), quando o juiz deixe de pronunciar-se sobre questões que devesse apreciar ou
conheça de questões de que não podia tomar conhecimento, também é causa de nulidade de sentença.

Tudo que seja em excesso nos termos da alínea e) também gera a nulidade.

Efeitos da sentença

Efeitos esses que são extremamente importantes.

® Esgotamento do poder jurisdicional

Ou seja, salvo em algumas hipóteses como por exemplo a questão da retificação dos erros matérias do art.
614º ou nos termos do art.616° nos casos reformas da sentença. A partir do momento em que a decisão é
tomada, o juiz não vai poder voltar atrás. Isso acaba por ser uma manifestação do princípio da preclusão.

Existem dois efeitos que destaca: exequibilidade e o caso julgado.

Érica Pereira
DPCD 76

® Exequibilidade

Está relacionado com a consideração da sentença por motivo executivo, na prática a partir do momento em
que é proferido a sentença, em princípio no âmbito de uma ação declarativo de condenação, pese embora
haja doutrina que considera que, por exemplo uma ação declarativa constitutiva desde que tenha havido o
pedido indemnizatório e o tribunal condene esse pedido pode dar aso a uma execução.

Mas normalmente no âmbito das ações declarativas de condenação, normalmente quando há uma sentença
ela é título executivo, ou seja, pode ser dada à execução.

® Caso julgado

Quanto a formação do caso julgado temos que associar este efeito a noção do trânsito em julgado.

Quando consideramos que a sentença esta transitada em julgado ou passada em julgado? Quando é
insuscetível de reclamação ou de recursos ordinário, ou seja, em princípio a sentença só vai ser dada em
execução se da mesma não for interposta recurso.

Existem algumas situações que possibilita que a sentença seja dada em execução, se estivermos efeitos
meramente devolutivo e não efeitos suspensivos do recurso – iremos analisar esta parte quando em unidades
curriculares do terceiro anos.

Um efeito referido no art. 829º - A n4 CC, encontra um efeito automático da sentença que esteja relacionado
com a condenação no pagamento de determinada quantias pecuniárias.

Érica Pereira

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