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M.

Teixeira de Sousa

A (muito estranha) nova redacção do art. 560.º CPC

1. O DL 97/2019, de 26/7, introduziu uma série de alterações no CPC. Muitas


delas têm um puro carácter regulamentar, o que teria aconselhado a que não
fossem incluídas no CPC. O presente paper centra-se, porém, apenas na nova
redacção que é dada ao art. 560.º CPC, que é a seguinte:
Quando se trate de causa que não importe a constituição de mandatário, a
parte não esteja patrocinada e a petição inicial seja apresentada por uma
das formas previstas nas alíneas a) a c) do n.º 7 do artigo 144.º, o autor
pode apresentar outra petição ou juntar o documento a que se refere a
primeira parte do disposto na alínea f) do artigo 558.º, dentro dos 10 dias
subsequentes à recusa de recebimento ou de distribuição da petição, ou à
notificação da decisão judicial que a haja confirmado, considerando-se a
ação proposta na data em que a primeira petição foi apresentada em juízo.
A primeira coisa que importa referir é que este regime é aplicável à rejeição da
petição inicial (ou de qualquer requerimento inicial) pela secretaria (o que é
certamente raro), mas, dada a remissão que consta do art. 590.º, n.º 1, CPC para
o art. 560.º CPC, também é aplicável ao indeferimento liminar da petição inicial
pelo juiz (o que, sendo também raro, pode ser mais frequente). Recorde-se ainda
que o disposto no art. 560.º CPC é susceptível de ser aplicado a todas as
petições e requerimentos que iniciam incidentes da instância ou processos
declarativos propostos no âmbito do processo executivo, bem como em todos os
regimes processuais não civis nos quais o CPC tenha aplicação subsidiária.
Tudo considerado, não é nada despiciendo o âmbito de aplicação do art. 560.º
CPC.
Em relação à redacção anterior do art. 560.º CPC, a alteração é patente: agora,
depois da rejeição da petição inicial pela secretaria ou do indeferimento dessa
petição pelo juiz, só pode ser apresentada uma nova petição, com salvaguarda
dos efeitos que a petição rejeitada ou indeferida produziria, se esta não tiver sido
apresentada por mandatário judicial. Dito pela positiva: sempre que a petição
inicial seja subscrita por mandatário judicial, o disposto no art. 560.º CPC exclui
que a apresentação de uma nova petição inicial possa retroagir à data da
apresentação da petição rejeitada ou indeferida.
Contra esta conclusão talvez se pudesse objectar que a nova redacção do art.
560.º CPC não pretende excluir a apresentação (com salvaguarda dos ef eitos
da petição rejeitada ou indeferida) de uma nova petição inicial por mandatário,
mas antes incluir o autor não representado por advogado entre aqueles que o
podem fazer. Seria – se assim se pode dizer – uma interpretação caridosa da
nova redacção do preceito. O problema reside em que, salvo melhor opinião, o
art. 560.º CPC é o único preceito que regula a sanação da rejeição ou do
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indeferimento da petição inicial, pelo que a referência que nele é feita ao autor
não pode ser vista como acrescentado algo ou como confirmando algo,
simplesmente porque fora dele não existe no CPC mais nada sobre a matéria
(ou, pelo menos, não se conseguiu descortinar nada).
Acresce que, comparando a redacção ainda vigente (até 16/9) e a nova redacção
do art. 560.º CPC, é patente que esta nova redacção fornece mais informação
do que a anterior. Em termos lógicos, isto quer dizer que se aumentou a intensão
(ou seja, a informação que é transmitida) e se diminuiu a extensão (ou seja, a
aplicabilidade do que é transmitido). Um exemplo simples: a afirmação “está
quente de dia” tem uma maior intensão (porque tem mais informação) mas uma
menor extensão (porque tem um âmbito de aplicação mais reduzido) do que a
afirmação “está quente”. Portanto, a nova redacção do art. 560.º CPC é
necessariamente menos extensa do que a anterior redacção.
Ainda uma outra observação preliminar. Tem-se conhecimento de que, com
alguma imaginação e muita informalidade, em alguns tribunais se aceita que,
apesar de o sistema CITIUS não o prever, o autor, após a rejeição da primeira
petição inicial, possa apresentar, no mesmo processo, uma nova petição. Tudo
isto sucede, no entanto, fora do campo do art. 560.º CPC, sendo comprovação
disso mesmo a circunstância de o sistema CITIUS não aceitar a entrega de uma
nova petição inicial no mesmo processo.
2. a) É conhecida a vantagem da redacção ainda vigente (até 16/9) do art. 560.º
CPC. A mais conhecida talvez seja a de que, considerando-se a acção proposta
na data em que a primeira petição foi apresentada em juízo, a interrupção da
prescrição ocorre, nos termos do art. 323.º, n.º 2, CC, quando tenham decorrido
cinco dias após a apresentação da primeira petição inicial (a que foi rejeitada
pela secretaria ou indeferida pelo juiz). Uma outra vantagem prende-se com a
caducidade: a retroacção da entrega da segunda petição à data da entrega da
petição rejeitada ou indeferida pode evitar que o prazo de caducidade do direito
invocado em juízo se tenha, entretanto, completado.
De acordo com o novo regime, tudo isto parece deixar de acontecer se:
─ A petição inicial for apresentada por mandatário judicial (mesmo que o
patrocínio não seja obrigatório);
─ A petição inicial for apresentada pelo autor nos termos da (nova) al. d) do
n.º 7 do art. 144.º CPC, isto é, por via electrónica.
Este regime estabelecido para o autor parece levar a concluir que o legislador
entendeu que, sempre que a petição inicial seja apresentada por via electrónica
e ela venha a ser rejeitada pela secretaria ou indeferida pelo juiz, não se justifica
a possibilidade da apresentação de uma nova petição inicial com aproveitamento
dos efeitos que a petição rejeitada ou indeferida poderia ter produzido
(nomeadamente, a interrupção, real ou ficcionada, da prescrição). Afinal, é isto
que há de comum quando a petição inicial é apresentada por mandatário (que,
em princípio, tem de o fazer por via electrónica: art. 144.º, n.º 1 e 8, CPC) e
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quando a parte escolhe esta via para a entrega da petição inicial nos termos do
art. 144.º, n.º 7, al. d), CPC.
Esta duplicidade dos critérios que impedem a sanação da rejeição ou do
indeferimento da petição inicial torna o regime ainda mais confuso. Quando se
pensava ter descoberto a ratio do regime constante do novo art. 560.º CPC (a
não representação da parte por mandatário), eis que surge um outro critério (a
entrega da petição inicial por via electrónica) que, mesmo quando a parte não
esteja representada por advogado, também obsta à sanação da rejeição ou do
indeferimento liminar da petição inicial.
Seja como for, o problema está em compreender o que é que a representação
do autor por mandatário ou a entrega da petição inicial por via electrónica têm a
ver com a impossibilidade do aproveitamento dos efeitos que essa petição
poderia vir a produzir quando a mesma seja rejeitada pela secretaria ou
indeferida pelo juiz e o autor apresente, no prazo estabelecido no art. 560.º CPC,
uma nova petição. Afinal, por que razão a representação por mandatário ou a via
electrónica obstam a que se ficcione, em benefício do autor, que a segunda
petição foi entregue na data da apresentação da petição inicial rejeitada ou
indeferida?
Quanto à representação por mandatário, bem se pode dizer que a solução
razoável seria precisamente a contrária. Se, no limite, se pode compreender que
o autor que entregou ele próprio a petição inicial deva ficar responsável pelas
consequências da sua rejeição pela secretaria ou do seu indeferimento pelo juiz,
muito mais difícil é compreender que o autor não beneficie da sanação do vício
quando a petição inicial foi apresentada por um seu representante.
Destas duas situações, é claramente nesta última que se justifica uma maior
protecção do autor. Estranhamente, a nova redacção do art. 560.º CPC faz
precisamente o contrário: protege o autor dele próprio, mas não protege o autor
dos actos do seu mandatário.
Ainda quanto a esta matéria pode acrescentar-se que a circunstância de, depois
da rejeição da petição inicial apresentada por mandatário pela secretaria ou
depois do seu indeferimento pelo juiz, esse mandatário não poder apresentar
uma nova petição inicial com a garantia do aproveitamento dos efeitos que a
primeira podia produzir incrementa a litigiosidade entre o autor e o seu
mandatário no plano da responsabilidade profissional deste último. Trata-se de
indesejável efeito colateral da nova redacção do art. 560.º CPC.
Quanto à entrega da petição inicial por via electrónica, a maior perplexidade é
talvez a de perceber por que razão, num diploma destinado a concretizar a
“implementação da tramitação electrónica nos processos judiciais”, houve a
necessidade de excluir a sanação da rejeição ou do indeferimento liminar da
petição que tenha sido entregue por via electrónica pelo autor não representado
por mandatário. O que seria de esperar seria precisamente o contrário: num
diploma destinado a implementar a tramitação electrónica, o que se poderia
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aguardar seria que a utilização dessa via fosse incentivada, e não que a mesma
se traduza num prejuízo para o autor.
b) Uma observação quanto ao problema da prescrição.
Parece seguro que o regime da prescrição (nomeadamente, o disposto nos art.
323.º, n.º 1, e 327.º, n.º 3, CC) não permite, por si só, solucionar o problema da
sua interrupção através da entrega a petição inicial que vem a ser rejeitada ou
indeferida, porque desses preceitos resulta que a mera entrega desta petição
não é suficiente para que se possa entender que a prescrição se encontra
interrompida e que apenas a absolvição da instância ou a extinção do
compromisso arbitral (e não a rejeição ou o indeferimento da petição) obsta a
que a prescrição se complete. Portanto, é mesmo necessária uma solução
processual para que, em matéria de interrupção da prescrição, o autor
representado por mandatário que apresente uma nova petição inicial não seja
prejudicado com a rejeição ou o indeferimento da primeira petição.
Noutros termos: é preciso um preceito equivalente ao ainda vigente art. 560.º
CPC para que se possa ficcionar que a segunda petição inicial foi apresentada
na data da primeira petição e que a ficção da citação estabelecida no art. 323.º,
n.º 2, CC possa operar a partir da data da entrega dessa primeira petição.
c) Do exposto resulta uma muito discutível desigualdade entre autores que não
estão representados por advogados (que podem entregar uma nova petição
inicial, sem perda dos efeitos que a petição rejeitada ou indeferida poderia
produzir) e autores que estão representados por mandatários judiciais (que não
gozam de idêntico benefício). Supõe-se que ficou claro que não se encontram
razões para esta discriminação entre autores.
3. a) Passando a uma análise um pouco mais concreta do disposto no art. 560.º
CPC e das suas consequências, importa considerar o aspecto relacionado com
a falta de comprovação do prévio pagamento da taxa de justiça.
Neste ponto, há que começar por referir que o art. 145.º. n.º 1, CPC, quanto a
qualquer das partes, o art. 552.º, n.º 7 e 8, CPC, quanto ao autor, e o art. 570.º,
n.º 1, CPC, quanto ao réu, impõem que as partes comprovem o prévio
pagamento da taxa de justiça ou a concessão de apoio judiciário, na modalidade
de dispensa do mesmo. En passant, pode referir-se que não é claro o sentido do
disposto no art. 552.º, n.º 8, CPC, dado que este prevê que a petição inicial seja
apresentada por mandatário e o artigo para o qual remete – o art. 144.º, n.º 7,
CPC – se refere à hipótese em que a petição não seja entregue por mandatário.
No caso de a falta de comprovação do pagamento da taxa de justiça respeitar
ao autor, o art. 558.º, n.º 1, al. f), CPC impõe a rejeição da petição inicial. Como
decorre do disposto no art. 560.º CPC, o autor só pode sanar esta falta
aproveitando os efeitos que a entrega da petição inicial iria produzir se não
estiver representado por mandatário judicial. No caso de se verificar esta
representação, não está excluído, como é claro, que o mandatário possa
apresentar uma nova petição inicial acompanhado do comprovativo do
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pagamento da taxa de justiça, mas, nessa hipótese, não se ficciona (com as


consequências acima referidas) que esta nova petição deu entrada na data em
que a primeira foi entregue.
O regime é bastante diferente no caso de a falta do comprovativo do pagamento
da taxa de justiça afectar o réu. Nesta hipótese, sem impor nenhuma distinção
consoante o réu esteja a litigar em nome próprio ou esteja representado por
advogado, o art. 570.º, n.º 3, CPC estabelece que a secretaria deve notificar o
réu para efectuar o pagamento omitido com acréscimo de uma multa.
Quer isto dizer o seguinte:
─ O réu nunca perde a contestação, se vier a efectuar o pagamento da taxa
de justiça e da multa;
─ O autor representado por advogado vê rejeitada a sua petição inicial pela
secretaria e, se propuser uma nova petição inicial, não beneficia da
retroacção da propositura da acção ao momento da entrega da primeira
petição inicial.
Salvo melhor opinião, este regime não respeita o princípio da igualdade das
partes. Para o mesmo vício (a falta da comprovação do pagamento da taxa de
justiça), o regime aplicável ao réu (mesmo quando representado por advogado)
é muito mais favorável do que aquele que é aplicável ao autor representado por
mandatário.
A violação é mesmo flagrante se, como pode suceder, a contestação contiver
um pedido reconvencional formulado pelo réu contra o autor, ou seja, contiver
um pedido distinto do normal pedido de defesa formulado pelo réu contra o autor.
Enquanto o réu representado por advogado beneficia da possibilidade da
sanação da falta de comprovação do pagamento da taxa de justiça também
quanto ao pedido reconvencional, o autor representado por advogado não só
não pode sanar uma idêntica falta quanto à sua petição inicial, como ainda,
quando apresentar uma nova petição inicial, perde qualquer efeito que a primeira
petição poderia vir a produzir.
Imagine-se que o problema da falta da comprovação do pagamento da taxa de
justiça ocorre numa acção de reivindicação. Se o autor, representado por
advogado, não comprovar o pagamento da taxa de justiça, a petição inicial é
rejeitada e o vício não é sanável; em contrapartida, se o réu reconvinte,
igualmente representado por advogado, não comprovar esse pagamento, não
há nenhuma rejeição da contestação na qual é deduzido contra o autor o pedido
de reivindicação e o vício é sanável. Quer dizer: o mesmo direito, mas dois
tratamentos completamente distintos quanto à falta da comprovação do
pagamento da taxa de justiça.
As perplexidades neste ponto específico aumentam quando se verifica que, em
substância, o legislador manteve o regime que consta do art. 642.º CPC para a
falta do pagamento da taxa de justiça por qualquer dos recorrentes. Como se
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impõe, este preceito trata de forma igual a falta do pagamento da taxa de justiça
por qualquer dos recorrentes.
A pergunta que imediatamente se coloca é a seguinte: por que razão o legislador
criou, para a falta do comprovativo do pagamento da taxa de justiça na 1.ª
instância, um regime desigual para o autor e para o réu?
b) Fica assim sem se perceber as razões que levaram o legislador a desrespeitar
o princípio da igualdade das partes quando a falta do comprovativo da taxa de
justiça respeita à petição inicial do autor (a falta não é sanável se o autor estiver
representado por advogado) e à contestação do réu (a falta é sempre sanável,
mesmo quando o réu esteja representado por advogado).
4. a) Sob um ponto de vista teórico, seria possível (apesar de não ser nada
desejável) que os motivos que conduzem à rejeição ou ao indeferimento da
petição inicial nunca fossem sanáveis e que a apresentação de uma nova petição
inicial nunca retroagisse à data da apresentação da primeira. Também, sob o
mesmo ponto de vista, seria imaginável que os fundamentos que justificam a
rejeição ou o indeferimento da petição inicial fossem aplicáveis à contestação do
réu. Independentemente do seu mérito, qualquer destas soluções asseguraria a
igualdade entre todos os autores e entre autores e réus.
O que, salvo melhor opinião, não respeita o princípio da igualdade das partes é:
─ Admitir-se a sanação do fundamento da rejeição ou do indeferimento
liminar da petição inicial apenas quando o autor não esteja representado
por mandatário judicial; nesta hipótese, a discriminação verifica-se entre
autores que litigam em nome próprio (que beneficiam de um regime de
sanação) e autores representados por advogados (que não beneficiam de
um idêntico regime);
─ Admitir-se a sanação do fundamento da rejeição ou do indeferimento
liminar da petição inicial apenas quando o autor, não representado por
advogado, não a tenha entregue por via electrónica; nesta situação, a
discriminação ocorre entre autores não representados por advogado que
não tenham apresentado a petição inicial por via electrónica (que
beneficiam da sanação do vício) e autores que, também não estando
representados por advogado, tenham entregue a petição por essa via (que
não beneficiam dessa sanação);
─ Excluir-se a sanação do fundamento da rejeição ou do indeferimento
liminar da petição inicial, mas admitir-se a sanação de um idêntico vício
quando se verifique em relação à contestação (e a um possível pedido
reconvencional) do réu; nesta hipótese, a discriminação verifica-se entre
autores (que não beneficiam de um regime de sanação quando estiverem
representados por advogado) e réus (que beneficiam sempre desse
regime).
Apesar de se dever ser sempre muito cauteloso nos juízos de
inconstitucionalidade, as referidas situações de desigualdade entre as partes
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parecem ser muito dificilmente conciliáveis com a igualdade perante a lei imposta
pelo art. 13.º CRP. A verdade é que, sem uma razão substantiva ou material que
o sustente, os autores são discriminados entre si quanto à sanação do vício que
fundamenta a rejeição ou o indeferimento da petição inicial e os autores
representados por advogados são discriminados perante réus igualmente
representados por mandatários quanto às consequências da falta do
comprovativo do pagamento da taxa de justiça.
Sendo assim, apesar de todas as cautelas que são impostas em qualquer juízo
de inconstitucionalidade, parece que a nova redacção do art. 560.º CPC viola
mesmo o princípio da igualdade das partes e, portanto, a igualdade perante a lei.
O legislador impõe ao juiz, no art. 4.º CPC, o respeito do princípio da igualdade
das partes, mas, por razões que não se descortinam, não respeitou ele mesmo
esse princípio no regime que construiu no art. 560.º CPC.
b) O mais estranho em tudo isto é que, para que o princípio da igualdade das
partes não tivesse sido violado, bastaria que o legislador não tivesse mexido no
art. 560.º CPC. O legislador alterou o preceito e criou um problema onde antes
não havia problema nenhum.
Aliás, a alteração acaba também por originar uma incoerência sistemática.
Importa lembrar que alguma legislação específica prevê a sanação da rejeição
do requerimento inicial sem nenhuma exclusão quando a parte se encontre
representada por mandatário (art. 15.º-C, n.º 2, NRAU; art. 8.º, n.º 3, PEPEX). A
incoerência entre estes regimes (que passam agora a ter de ser considerados
regimes especiais) e o regime que consta do art. 560.º CPC (que passa a ser o
respectivo regime geral) é patente, sem que se consiga vislumbrar qualquer
justificação aceitável para esta diferença de regimes.
Por fim, cabe salientar que a evolução recente do processo civil português tem
sido orientada pela prevalência do fundo sobre a forma, procurando diminuir as
situações em que a acção termina com uma decisão de forma que impede a
apreciação do seu mérito. Ora, ao arrepio desta desejável tendência, a nova
redacção do art. 560.º CPC opta pela não sanação do vício em detrimento da
sua sanação e, eventualmente pela impossibilidade da tutela do direito por
motivos formais em detrimento da não impossibilidade dessa tutela. Neste
sentido, a nova redacção do art. 560.º CPC implica uma inesperada involução
no processo civil português
5. Três notas finais:
─ O DL 97/2019 ainda vai ser objecto de regulamentação através da
competente portaria; atendendo à hierarquia das fontes do direito, não se
vislumbra que os inconvenientes atribuídos à nova redacção do art. 560.º
CPC possam vir a ser resolvidos pela via regulamentar;
─ Considerada pelas várias perspectivas acima analisadas, a nova
redacção do art. 560.º CPC parece de tal forma difícil de compreender que,
com as cautelas que são sempre devidas, não se pode excluir que se esteja
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a descurar algum elemento relevante na análise do problema; certo é que


em vão se busca algum apoio no disposto nas novas redacções dos art.
132.º e 144.º CPC;
─ Pelas mesmas razões e com as mesmas cautelas, também não se pode
rejeitar que se trate de uma inoportuna divergência entre a versão do texto
original e o texto publicado que uma oportuna rectificação possa vir a
corrigir.

M. TEIXEIRA DE SOUSA

[Nota: versão actualizada às 9 h e 45 m]

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